História de Vera Teresinha da Silva

Transcrição

1 História de Vera Teresinha da Silva Nascimento: 31 de julho de 1953 Falecimento: 3 de fevereiro de 2013 Em 1953, nascia em Santa Cruz do Sul, Vera Teresinha da Silva. Foi criada pela avó, pois seu pai teve um relacionamento com sua mae e depois de dar a luz, ela entregou a criança para ele. Mais tarde, seu pai se casou e então, por muito tempo, os netos de Vera acreditavam que a mulher do seu avô era, realmente, sua avó. Sua infância foi boa. Mesmo sendo deixada pela mãe cedo, recebeu uma ótima criação. Daniela Beatriz da Silva, filha de Vera, conta que a mãe sempre lembrava tudo com muito carinho. Brincalhona, as travessuras de criança continuaram presentes na vida dela por toda a vida, sendo quando ela mesma se divertia quando pequena ou nas vezes em que ela ensinava cada detalhe aos filhos e netos. O que ela mais gostava, no passado, era pular corda, sapata, jogar vôlei e contar histórias.

2 Estudou da primeira a oitava série, o que chamavam, na época, de ginasial. Era uma boa aluna. Só parou os estudos por ter engravidado, aos 18 anos, após conhecer seu amor, Flávio. Ali começava a constituição de uma grande família. Vera e o marido tiveram nove filhos: Flávia, Fabiano, Débora, Daniela, Vanessa, Flávio, Ismael, Roger e Natacha. Seu marido foi o grande e único amor de sua vida. Flávio era do quartel e Vera ainda estudava, em Santa Cruz do Sul, quando os dois se conheceram. No começo foi difícil, pois a avó de Vera não aceitava o namoro. Ele jogava futebol e, naquela época, a fama do jogador não era das melhores. Mas, o amor venceu. Os dois conseguiram convencer a família e se casaram. E, logo depois, Vera engravidou. O que foi um choque para todos. Vera era doméstica, mas antes de permanecer seus dias em casa, foi safrista nas empresas de fumo de Santa Cruz do Sul. Era colorada, mas não se importava com o resultado do jogo. Queria ser advogada, sempre falava que gostava. Mas, como casou nova, não persistiu nessa vontade. De acordo com a filha Daniela, naquela época, a mulher quando engravidava, precisava cuidar, exclusivamente, do lar. Era o grande sonho da minha mãe, mas ela colocou a família em primeiro lugar, explica. Para Daniela, a mãe era sincera, beirando a indiscrição. Ou as pessoas a amavam, ou a odiavam. Não existia meio termo. Gostava de caminhar pelo bairro, com todos os filhos. Jogava vôlei. Adorava comer lasanha e não gostava de cozinhar. Era seu marido que costumava preparar os pratos para a família. Trabalhou, por muitos anos, em

3 um projeto no Bairro Bom Jesus, chamado sopão. Um grupo de pessoas da comunidade dedicam os dias da semana para o preparo de alimentos para pessoas que não tinham o que comer. Lá, ela acabava sendo cozinheira, psicóloga, mãe e conselheira de muitos. Mesmo não gostando de cozinhar, Vera permaneceu no projeto por mais de cinco anos. Tinha poucos amigos, mas verdadeiros. Frequentavam sua casa e outros amigos eram de trabalho. Era fã do Roberto Carlos. No especial do rei, final de ano, tudo parava. Era o momento dela, de ficar nostálgica e lembrar o passado, conta. Daniela recorda de quando o seu avô, de criação, ficou muito doente. Vera ficou muito abalada, mesmo não sendo filha de verdade dele. Fez tudo que podia. Isso reflete que laços de sangue não querem dizer tudo. Com a convivência com as pessoas é possível se apegar, independente de ser de sangue, explica. Diva, na verdade, deu à luz a onze crianças, mas duas faleceram. Daniela enaltece que a mãe teve muito mais do que onze filhos de sangue. Teve ainda os filhos que adotou durante a vida. Sempre tinha espaço na família para mais uma pessoa. Para a filha, a casa de seus pais não era apenas de material, mas sim feita do calor humano. Vera nunca deixava de ajudar uma pessoa, mesmo com pouco, sempre arrumava uma solução. Como uma boa contadora de histórias, incentivava o hábito da leitura aos filhos e lhes passava tudo que sabia. Não tinha livros em casa, mas tinha boas memórias. Estas, eram contadas por Vera, fosse uma história real ou uma fábula. Daniela se lembra da mãe e dos irmãos, na antiga casa. Todos se deitavam e esperavam, com ansiedade, qual seria a historia daquela noite. O momento mais importante de sua vida foi também o mais doloroso. Quando ela começou a ver que a falta de cuidado com sua saúde estava colocando um limite x para ela viver, relembra Daniela. Por um bom tempo, Vera conseguiu ficar tranquila com sua saúde. Mas, teve um momento em que as coisas passaram a sair do controle. Passou a ter infartos, que desencadeou em várias coisas. Ela já era hipertensa e não tomava muitos cuidados. De acordo com a filha, ela queria era viver a vida e tomava remédios apenas quando se sentia mal. Se estava bem, deixava de lado. Uma infecção generalizada foi o motivo de seu falecimento. Há um ano de sua morte, ela fez uma cirurgia no coração e a família ainda suspeitava de câncer. Depois

4 disso, alguns problemas se agravaram, como a hipertensão e a diabete. Após tudo isso, Vera nunca mais foi a mesma, na visão dos filhos. Passou a comer muito pouco e a sentir uma forte dor abdominal. Parou com algumas brincadeiras e se tornou dependente das pessoas, algo que a incomodou muito. Afinal, sempre foi uma mulher forte, que tinha autonomia da própria vida. Foi internada no hospital três vezes, para depois vir a óbito. Morena, nem alta, nem baixa, forte e com olhar profundo. É assim que a filha Daniela se lembra da mãe. Se ainda estivesse aqui, Vera diria para as pessoas viverem a vida como se fosse o último dia. Procurar falar tudo que tem vontade, comer o que quiser, sem se preocupar. A filha lembra quando ela dizia: imagina se você cai dura aqui e não comeu o que tinha vontade? Tem que aproveitar. Vera acreditava que não adiantava dizer que se está com saudades. E sim, matar a saudade. Nada te impede. Pegue um ônibus e vá. Se não faz, é porque não quer. Vera deixou um legado de netos; Deivid, Nadieska, Jessica, Jonathan, Ruan, Alexandra, Cauã, Mateus, Gabrielle, Nícolas e Pedro Henrique. No momento, uma das suas filhas está gravida.

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