História de Juninho (Luis Carlos Batista Jr.)

Transcrição

1 História de Juninho (Luis Carlos Batista Jr.) Nascimento: 15 de outubro de 1973 Falecimento: 4 de janeiro de 1996 Uma criança partir parece errado. Não é natural. Quando acontece, muitos se questionam o propósito da vida. No caso de Juninho, ele também foi cedo demais. Porém, deixou ensinamentos e sua marca aqui na terra. Aliás, não só na terra, como também no coração de todos que o conheceram. De todos que ouviram sua vozinha, de todos que tiveram a chance de vê-lo sorrir e brincar. Luis Carlos Batista Junior, o Juninho, nasceu dia 15 de outubro de 1993, no hospital Santa Cruz do Sul, com mais de três quilos e duzentas gramas. Era uma criança linda, fruta do envolvimento de Luis Carlos Batista e Biana Ferreira. Os dois tiveram um caso e ela engravidou. Eles não tinham ideia de que o destino tinha reservado uma criança para suas vidas, que mudaria a vida de muitas pessoas.

2 Carlos e Biana conheceramse no rio, quando os jovens se reuniam para tomar banho. Depois que eles se envolveram e a garota engravidou, ele chegou para a mãe e contou que havia engravidado uma menina. Uma noite ele a levou em sua casa. Era uma garota muito bonita. Mas, ele avisou que ele iria assumir a criança, mas não ia continuar com ela. A família de Carlos sempre ajudou os dois. Deram o enxoval e muito carinho. Todos sabiam que embora não fosse nada planejado, aquela criança tinha vindo por algum propósito. Quem nos conta essa história é a avó paterna da criança Leontina da Rosa Batista e a tia madrinha Loreci Batista Klafke. Quando Juninho veio ao mundo, eles foram lhe visitar. Lá, ao olharem para ele, já se apaixonaram. Era uma criança linda e forte. Sua mãe sempre o levava na casa de Leontina para os dois se verem. Juninho, aos poucos, foi apresentando sintomas que começou a preocupar toda a família. Começou a apresentar febre e com três meses de idade precisaram o levar para o hospital, onde a médica pediu sua internação. A família estava angustiada e ao mesmo tempo forte, pois fariam de tudo para que ele ficasse bem. Lá, ele ficou três semanas. Colocaram sangue nele, pois diagnosticaram um problema no baço e a doença talassemia. A talassemia, segundo Drauzio Varella, também conhecida como anemia do Mediterrâneo, é uma doença hereditária trazida para o Brasil pelos habitantes dos países banhados pelo mar Mediterrâneo (portugueses, espanhóis, italianos, gregos,

3 egípcios, libaneses). Sua principal característica é a produção anômala de hemoglobina, uma proteína do sangue responsável pelo transporte de oxigênio para todos os tecidos do organismo. Os sintomas estão diretamente relacionados com a gravidade da doença. Os mais comuns são: Cansaço e fraqueza; Palidez e icterícia; Atraso no crescimento; Abdômen desenvolvido; Aumento do baço; Alterações ósseas. Com isso, o levaram par Porto Alegre, onde permaneceu três meses internados. Mas, os sintomas de Juninho iam além da doença. Os médicos não conseguiam diagnosticar ao certo o que ele tinha. O doutor Eduardo de Santa Cruz do Sul entrou com uma ação pela Unimed para que o garoto pudesse ser tratado na cidade, pois ficar na capital era complicado para toda a família. O mistério da doença de Juninho confundiu Eduardo também, que dizia se tratar de uma incógnita para o ramo da medicina. Afinal, os exames foram para os Estados Unidos e Canadá e nunca descobriram nada. Embora se tratando em Santa Cruz do Sul, todo mês o garoto precisava voltar para Porto Alegre e fazer exames. Algumas vezes a família conseguia pelo SUS, mas em muitas era tudo particular. Enquanto o pequeno Juninho tinha a força de gente grande, os adultos da família precisavam resistir e não ficarem frágeis como criança. Até porque, uma médica havia desenganado todos, contando que ele não resistiria nem mais dois meses.

4 A realidade estava escancarada. Mas, a família precisava aproveitar o tempo que ainda tinha com ele. Juninho era uma criança engraçada, que falava bastante. Ele nunca chegou a caminhar, mas brincava bastante de motoquinha e bola, quando alguém segurava sua mão e lhe auxiliava para chutar. Era também muito amoroso. Colocava as mãos nos cabelos loiros da priminha Rafaele e dizia: ah, Fafeli. No dia do aniversário da Rafaele, ele só queria ficar com a avó e dançou bastante em seu colo. Faltava pouco para ele partir e a família imagina que ele queria aproveitar e ficar pertinho dela, pois sempre a amou. Os dois ficavam muito tempo juntos e ele ficava no colo de Leontina até quando ela estava fazendo o serviço da casa. Quando ela ia pegar uma coisa no armário ela pedia para ele ajuda-la a levantar e então ele a puxava pela cabeça. Afilhado de Loreci e Rogério e Roseli e Luciano, Juninho era vaidoso e ficava todo risonho quando as médicas elogiavam suas sandálias. Neto de Lourdes Ferreira, ele gostava de conversar e rir. Adorava o momento de tomar banho e colocar as roupinhas. A família lembra-se de tudo como se fosse ontem. Fizeram de tudo por ele. Leontina o levou para Porto Alegre e ele não queria, pois passou tanto tempo hospitalizado que ficava com medo de ver hospital e roupas brancas. Afinal, ele sabia que naquele local ele tinha sofrido muito com tanto exame, soro e vacinas. Ele aguentou o que um adulto não aguentava passar. Faleceu dia 4 de fevereiro de 1996 e mudou a vida da família. Eles passaram a valorizar ainda mais a existência. Juninho trouxe felicidade, embora o sofrimento de o ver doente. Viveu pouco, mas com certeza foi muito amado.

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