1. Síntese do processado
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- Victoria Vasques Correia
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1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE SEARA O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, por seu Promotor de Justiça Substituto em exercício nesta Comarca, apresenta IMPUGNAÇÃO À CONTESTAÇÃO oferecida pelo ESTADO DE SANTA CATARINA na Ação Civil Pública nº Síntese do processado O Ministério Público do Estado de Santa Catarina propôs ação civil pública em face do Estado de Santa Catarina visando a obter provimento jurisdicional que o compelisse a fornecer os medicamentos Cebrilin, Daforin, Diovan, Tegretol, Naprix e Dipress ao idoso Raul Cerioli, que conta com atuais 72 anos de idade. Alega-se ter sofrido o idoso acidente de trânsito e, desde então, devido às seqüelas, tem necessitado utilizar os medicamentos referidos para minorar o sofrimento. Em contestação, alega o Estado de Santa Catarina a ilegitimidade do Ministério Público, por defender na ação civil pública apenas uma pessoa individualizada, sendo subterfúgio para a coletivização da demanda a inclusão de pedido relativo a todos os outros pacientes que se encontrarem na mesma situação. Alega que o idoso não é hipossuficiente, porque já propôs ação de indenização, por intermédio de advogado contratado, para a obtenção do ressarcimento dos danos causados pelo acidente. 1
2 Requer o Estado de Santa Catarina o chamamento ao processo da União e do Município, alegando a incompetência do juízo estadual. Tece comentários sobre a política de saúde do Estado e informa que, à exceção do medicamento Tegretol, nenhum dos outros está padronizado pela Secretaria de Estado da Saúde. Argumentou não poder o Poder Judiciário substituir o juízo de conveniência e oportunidade do Poder Executivo nas demandas por medicamentos e alegou que os medicamentos requeridos podem ser substituídos por outros medicamentos regularmente fornecidos. 3. Preliminares 3.1. Chamamento ao processo A primeira preliminar suscitada pelo Estado de Santa Catarina é a de que, por haver solidariedade entre União, Estados e Município na execução da política nacional de saúde, devem estes entes compor o pólo passivo da demanda. Para tanto, lança mão do instituto processual conhecido por chamamento ao processo. De fato, o chamamento ao processo está previsto no art. 77 do Código de Processo Civil, com a seguinte redação: É admissível o chamamento ao processo: III de todos os devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns deles, parcial ou totalmente, a dívida comum. Duas ordens de raciocínio levam, no entanto, ao indeferimento do chamamento. Em primeiro lugar, é entendimento pretoriano que para o chamamento ao processo é preciso unidade de causa e de responsabilidade. Dito de outro modo, se a responsabilidade da União decorre de uma causa (falta de competência para o fornecimento do medicamento) e a do Estado de outra causa (compra insuficiente de medicamento), suas responsabilidades diferem, de modo que a responsabilidade de cada ente também sofre diferenciações. 2
3 Embora longe do direito público, exemplo constantemente trazido pela doutrina para ilustrar o caso é o das dívidas cambiais, conforme ilustra Theotônio Negrão nas anotações que faz ao art. 77 do Código de Processo Civil. E Humberto Theodoro Júnior também ensina que a norma [art. 77 do CPC], no entanto, não se aplica aos coobrigados cambiários, porque, diversamente da solidariedade civil, não há entre os diversos vinculados à mesma cambial unidade de causa nem de responsabilidade 1. Outro raciocínio que leva a impedir o chamamento ao processo é o que decorre da interpretação do art. 21 da Lei da Ação Civil Pública, a Lei nº 7.347/85. Tal dispositivo diz que aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos ou individuais, no que for cabível, os dispositivos do Título III da Lei que instituiu o Código de Defesa do Consumidor. E, dentre os dispositivos do Título III estão o art. 88 e o art. 101, que contêm regras eminentemente facilitadoras da defesa dos direitos tutelados pela ação civil pública, como é o caso dos autos. A primeira delas, o art. 88, veda a denunciação da lide na ação de responsabilização pelo fato do produto ou do serviço; a segunda, o art. 101, II, veda chamar à lide o Instituto de Resseguros do Brasil e também a denunciação da lide. A princípio pode parecer que as regras não têm a menor aplicabilidade ao caso dos autos. No entanto, o que importa aqui é resgatar seu fundamento e, a partir dele, tratar hipóteses iguais da mesma forma. Pois bem. O fundamento que anima as duas regras acima não é outro que não a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência (Direito Básico do Consumidor, segundo art. 6º, VII, do CDC). 1 THEODORO Jr. Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 41ª ed. Rio de Janeiro : Forense, 2004, p
4 Isso porque, como a experiência bem demonstra, qualquer processo em que haja denunciação da lide ou chamamento ao processo torna-se um verdadeiro entrave nos cartórios, pois exige múltiplas intimações, múltiplas movimentações e, via de conseqüência, atraso na prestação jurisdicional. Ora, fundadas as regras que vedam a denunciação da lide e o chamamento ao processo na facilitação da defesa dos hipossuficientes, e sendo a pessoa tutelada nesta ação nitidamente hipossuficiente, a conclusão não pode ser outra: a regra do art. 21 da Lei da Ação Civil Pública, mutatis mutandis, impede o chamamento ao processo. Aliás, não se diga que o chamamento é de alguma forma útil. Na verdade, é nitidamente protelatório, porque bem se sabe que os entes federados dispõem de mecanismos administrativos de ajuste de contas no orçamento justamente por se tratar de um sistema único de saúde. Não precisam, dessa forma, de decisão judicial ordenando a regressão. A jurisprudência catarinense tem negado o chamamento ao processo, como se pode ver dos seguintes precedentes: Agravo de Instrumento nº , de São José, relator Des. Francisco Oliveira Filho; Apelação Cível em Mandado de Segurança nº , de Criciúma, relator Des. Pedro Manoel Abreu Ilegitimidade do Ministério Público A segunda preliminar suscitada busca ver declarada a ilegitimidade do Ministério Público para a propositura de ação civil pública em favor de pessoa necessitada de medicamentos. No caso dos autos, no entanto, a contestação demonstra o desconhecimento do Estado da atual legislação de proteção aos direitos dos idosos. É que, conforme autoriza o Estatuto do Idoso, compete ao Ministério Público instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos direitos e interesses difusos ou coletivos, individuais indisponíveis e individuais homogêneos do 4
5 idoso e atuar como substituto processual do idoso em situação de risco (art. 74). Assim, mesmo que não se trate de demanda envolvendo direitos individuais indisponíveis ou individuais homogêneos, o Ministério Público é parte legítima para a ação, na qualidade de substituto processual, já que, evidentemente, pela omissão do Estado, o idoso está em risco (art. 43 do Estatuto). A preliminar, portanto, deve ser rejeitada Contra-cautela Alega o Estado de Santa Catarina ser necessária a imposição de contracautela, de modo a garantir que o medicamento não seja fornecido sem necessidade. Requer seja compelido o substituído a apresentar atestado médico da necessidade do medicamento a cada retirada. De fato, parcialmente este pedido do Estado deve ser deferido. Somente é legítimo o fornecimento de medicamento a quem dele necessitar. No entanto, a apresentação de atestado a cada retirada é por demais custosa ao substituído, de modo que a razoabilidade impõe que a cada três meses apresente o substituído ao secretário de saúde (ou quem o substituir no fornecimento do medicamento) atestado médico de que ainda deles necessita. Requer-se a intimação do substituído para ter ciência da contracautela Valor da multa fixada Argumenta-se também que a multa fixada para o caso de descumprimento injustificado da liminar é excessiva e acabará causando enriquecimento sem causa. Sem razão o Estado. 5
6 Como se sabe, a multa cominatória há de ser tal que incuta na parte temor suficiente para que a decisão não seja descumprida. Há, portanto, que ser severa. No caso dos autos, diante de descumprimentos ocorridos cotidianamente em processos que envolvam o fornecimento de medicamentos, sabiamente optou-se por fixar a multa no patamar de R$ 1.000,00 por dia de descumprimento, o que se demonstra plenamente adequado e proporcional à obrigação. A multa, por outro lado, será devida ao Fundo de Reconstituição de Bens Lesados e não ao substituído, de modo que não se pode falar em enriquecimento sem causa. 4. Mérito No mérito, verifica-se que o Estado de Santa Catarina alega que os medicamentos podem convenientemente ser substituídos por outros que indica. Nesta situação, não há outra via que não a incursão na fase probatória, na esteira do entendimento que vem sendo dado à questão pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina 2. Assim, antes da análise dos outros argumentos, é necessário o saneamento do feito, com a imposição da contra-cautela, a rejeição das preliminares e a fixação dos pontos controvertidos, determinando-se a realização de perícia, cujos honorários deverão ser antecipados pelo Estado de Santa Catarina. É o que requer o MINISTÉRIO PÚBLICO. Seara, 14 de julho de 2008 Eduardo Sens dos Santos Promotor de Justiça 2 Apelação Cível n , de Curitibanos, Relator: Des. Luiz Cézar Medeiros, 14 de fevereiro de
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