Seminários Reuso de Água
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1 Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental PHA PHA2537 Água em Ambientes Urbanos Seminários Reuso de Água Reuso Direto de Água em Grandes Cidades José Ruiz Nieto Leonardo Cavalcante Araújo Luis Henrique Lancellotti Z. Pupin Pablo Jofra Vega William Brascher Prof. Dr. Kamel Zahed Filho Prof. Dr. José Rodolfo Scarati Martins Profª. Drª. Monica Ferreira do Amaral Porto Novembro 2015
2 Sumário 1. Introdução Desenvolvimento Reuso de água Aproveitamento de água de chuva Tratamentos Sistemas biológicos de tratamento Sistemas de separação por membranas Aplicações da água de reuso e de chuva Reuso de água em edificações Fontes alternativas de reuso Conclusão Bibliografia... 13
3 Reúso de Águas Reúso Direto de Águas em Grandes Cidades 1. Introdução Apesar de o Brasil apresentar abundância em recursos hídricos, a disponibilidade hídrica é escassa para grande parte da população. Além da distribuição desses recursos não ser uniforme, o avanço da urbanização com o adensamento de regiões como a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) elevou a demanda de forma concentrada no espaço geográfico. Soma-se ainda a degradação e inutilização das fontes de água mais próximas do território urbanizado pela poluição não controlada dos centros populacionais. Esses fatores levam à baixa disponibilidade de água por habitante e maior custo por metro cúbico de abastecimento, devido ao elevado esforço para captação e transporte da água de mananciais cada vez mais afastados dos locais de consumo. Neste cenário, a proposta do reuso da água utilizada nas grandes cidades tem grande relevância tanto para diminuir a demanda sobre o sistema de abastecimento quanto para reduzir a poluição decorrente da emissão de efluentes não tratados nos corpos d água. 2. Desenvolvimento 2.1 Reuso de água O conceito de reuso de água é bastante amplo, podendo se dar de diversas formas e com diferentes fins. Segundo o relatório final do Plano Diretor de Aproveitamento de Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista de 2013, dentre os usos urbano, industrial e agrícola, o primeiro é aquele que mais demanda recursos hídricos e os efluentes domésticos resultantes dos aglomerados urbanos possuem o maior potencial de reuso, através de seu tratamento e geração de água com qualidade satisfatória para fins industriais e de algumas formas de irrigação. Figura 1 - Projeções de demanda de água total na macrometrópole paulista (adaptado de DAEE, 2013) Além do reuso de efluentes tratados, existe a possibilidade de se realizar o reuso direto da água (em cascata). Neste, o efluente provindo de um processo de uma indústria, por exemplo, é diretamente introduzido como fonte em outro processo, desde que os padrões de qualidade sejam atendidos. É razoável que se avalie primeiramente se este tipo de reuso tem possibilidade de implantação antes de se recorrer ao reuso com tratamento, principalmente em processos com elevada geração de efluentes. 1
4 Figura 2 - Esquema de reuso em cascata (adaptado das Notas de Aula da disciplina PHA-2548) Para o planejamento do reuso de água, é preciso que se estabeleçam quais usos podem utilizar água não potável e se é necessário a permanência de uma ligação na fonte de abastecimento de água potável para eventual complemento. Também, necessita-se que se conheçam, para as atividades envolvidas, as características referentes à carga de contaminantes do efluente gerado e do efluente tratado, bem como os requisitos de qualidade da atividade que receberá a agua de reuso. Devem ser previstos estudos de balanço de massa e vazões e de implantação de linhas de recirculação. Segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo CETESB, os equipamentos e tubulações envolvidos na produção, transporte e utilização da água de reuso deverão ser exclusivos para esta atividade e completamente segregados da rede de água potável para que não haja possibilidade de mistura. São estabelecidos também padrões de qualidade para água de reuso provindas de ETE s produtoras, além de diversas observações em relação ao seu manuseio. 2.2 Aproveitamento de água de chuva Outra forma de se reduzir a demanda por recursos hídricos é o aproveitamento de água de chuva de maneira descentralizada, nos lotes, para fins menos nobres sem a necessidade de tratamentos complexos. O armazenamento das águas pluviais para uso posterior também é uma medida mitigadora em relação à solicitação do sistema de drenagem urbana. As águas iniciais coletadas da chuva possuem concentração maior de poluentes, pois carregam as impurezas acumuladas nas superfícies durante o período seco, a chamada poluição difusa. Dessa forma, deve ser previsto um sistema de descarte das águas iniciais da chuva, a ser emitida na rede de drenagem pluvial. 2
5 Figura 3 - Sistema de coleta e descarte da água inicial (adaptado das Notas de Aula da disciplina PHA-2548) A qualidade da água captada da chuva depende de fatores como as atividades desenvolvidas no entorno da área de captação, da superfície que é utilizada para a coleta e das estruturas de coleta e armazenagem. De acordo com a qualidade obtida e os requisitos para o uso pretendido, pode ser necessário o tratamento, que dependendo do caso pode ser a simples cloração para desinfecção no reservatório. Uma pesquisa realizada na USP obteve os seguintes parâmetros característicos da qualidade da água coletada de chuvas: Figura 4 - Parâmetros obtidos da análise da água coletada de chuvas (adaptado de ANA, 2005) De acordo com o Manual de Conservação e Reuso em Edificações (ANA, 2005), o dimensionamento 3
6 do sistema de aproveitamento de água pluvial deve incluir a identificação da área disponível para a coleta, vazão de água considerando índices pluviométricos da região, estimativa da demanda dos usos pretendidos e determinação do reservatório necessário levando em conta os períodos de seca. Porém, deve-se ressaltar que a utilização de água da chuva deve ser complementar ao sistema de fornecimento convencional, não sendo economicamente viável a utilização desta água durante todo o ano, uma vez que, para que fosse garantido o fornecimento de água pluvial durante períodos sem chuva, haveria a necessidade de reservatórios de elevadas dimensões. Recomenda-se a devida sinalização nos pontos de uso com avisos de que se trata de água não potável, para que se evite o consumo humano. 2.3 Tratamentos Para que o reuso direto de água nos grandes centros urbanos seja viável, antes de tudo, é necessário entender e reconhecer que há tecnologia disponível para tornar efluentes líquidos urbanos em água própria para qualquer uso requerido. Dentre os vários sistemas de tratamentos de efluentes existentes, este trabalho será focado em dois tipos específicos: sistemas biológicos de tratamento e sistemas de separação por membranas Sistemas biológicos de tratamento Como mostrado na figura abaixo, este tipo de tratamento envolve diversas etapas para que se diminuía a carga orgânica e separe os sólidos em suspensão presentes no efluente. Ao final do tratamento, para que seja garantida a ausência de microrganismos patogênicos, podem haver diversas maneiras de desinfeção da solução final, dentre elas (PHA 2411): lagoas de estabilização, cloração, ozonização, ultravioleta, filtração terciária, entre outras. Os processos de desinfecção mencionados acima muitas vezes dependem de dosagem para eficácia na inativação de microrganismos patógenos. Sendo assim, são processos sensíveis e pouco confiáveis em garantir a qualidade da água final tratada destinada ao consumo humano. Além da dosagem ser crítica, esses processos, como mencionado, não removem microrganismos patogênicos (vírus e bactérias), apenas os inativa, sendo outra característica desfavorável quando se analisa a tecnologia empregada para tratamento de efluentes para reuso direto. Essas são alguns dos motivos de se optar por outras tecnologias disponíveis para o tratamento destinado ao reuso do efluente. Resumindo-se e acrescentando alguns fatores que justificam sistemas de separação por membranas como forma de tratamento: Processo apenas inativa microrganismos patogênicos; Não remove compostos inorgânicos solúveis; Necessidade de grande área para implantação das diversas etapas constituintes do processo; Dificuldade de operação com vistoria continua na qualidade dos efluentes e produtos do tratamento; Dificuldade tratamento e deposição do lodo ativado; Elevado número de etapas aumenta o risco de problemas com perda de qualidade; Utilização de produtos químicos no processo de desinfeção. 4
7 Figura 5 - Processo de tratamento por lodo ativado (PHA 2548) Sistemas de separação por membranas Atualmente, há três fatores básicos que conduzem à necessidade de utilização de membranas separadoras (PHA 2548): Restrições legais: de lançamento de efluentes e de deposição de resíduos sólidos; Aumento de água e diminuição da oferta: gera busca pela reutilização direto de efluentes gerados como forma de diminuir as pressões sobre os mananciais nos grandes centros urbanos; Pressões de mercado: o aumento da difusão das tecnologias de membrana tornando-as mais baratas e competitivas com o sistema convencional utilizado além da entrada de setores privados no setor de tratamentos que gera uma análise mais minuciosa sobre custobenefício do sistema a ser utilizado. Verifica-se que diversos países no mundo estão contornando situações de escassez hídrica com sistemas de reuso direto de efluentes urbanos como é o caso dos Estados Unidos onde, no Texas, foi implantado em 2013 um sistema de tratamento de efluente baseado em microfiltração, osmose reversa, e desinfeção ultravioleta que fornece 20% de toda água consumida por 250 mil pessoas (MARTIN, 2014). Em São Paulo, tem-se um exemplo de reuso direto de efluente tratado para processos industriais. Localizado adjacente à Estação de Tratamento de Esgoto ABC, o Aquapolo Ambiental (empreendimento de propósito específico com 51% de participação da Odebrecht e 49% de participação da SABESP) utiliza parte do efluente tratado pela ETE ABC para, mediante tratamento adicional por ultrafiltração e/ou osmose reversa, abastecimento do Polo Petroquímico do Grande ABC. Quando da sua total implantação, este sistema chegará a livrar a utilização de 1 m³/s de água potável disponibilizada pela SABESP passando a utilizar o recurso produto do tratamento por membranas do Aquapolo (CARVALHO, 2012). Verifica-se que os fatores levantados anteriormente para expansão da utilização de membranas para 5
8 tratamentos de efluentes está condizente com os casos descritos: no Texas, a escassez do recurso levou a utilização da alternativa; em São Paulo, a participação privada, fruto da pressão de mercado, foi a propulsora do processo. Descrição da tecnologia Antes de conhecer a tecnologia é importante diferenciar filtração de separação por membranas: Filtração: consiste na separação de um ou mais componentes de uma fase líquida ou gasosa baseando na diferença de tamanho de partículas. Trata-se de uma barreira que barra a passagem de partículas maiores que seus poros, separando, assim, apenas partículas imiscíveis. Separação por membranas: processo pode separar partículas imiscíveis e sólidos dissolvidos em um solutos. Uma membrana é uma descontinuidade interposta entre duas fases pela qual o permeado atravessa (PHA 2548). Da corrente de alimentação de efluente são produzidas duas outras correntes: o permeado e o concentrado. Há basicamente quatro tipos de forças motrizes para a separação dos produtos: pressão hidráulica, concentração, corrente elétrica e potencial químico. A figura abaixo mostra os diversos tipos de tecnologias de membranas de separação, a força motriz de separação de cada uma e as características da corrente de efluente que não atravessam (concentrado) e que atravessam (permeado ou purificado) a membrana. Microfiltração Tabela 1 - Características dos tipos de membrana de separação (PHA 2548) Dentre as principais características deste tipo de membranas, pode-se citar: Remove sólidos em suspensão diminuindo, assim, a turbidez do efluente; Remove bactérias e vírus; Processo movido por pressão hidráulica. Ultrafiltração Sistema um pouco mais restritivo que a microfiltração, apresenta as seguintes características principais: Processo semelhante à microfiltração: remove sólidos em suspensão, bactérias e vírus; 6
9 Sistema de remoção baseado na massa molar dos solutos: remoção de solutos com massa molar entre a gmol. Nanofiltração Neste sistema tem-se a primeira restrição a nível de íons: Remoção até íons bivalentes, reduzindo, assim, a dureza de efluentes (útil para água de diversos processos industriais como a utilização em caldeiras); Necessita de pré-tratamento para remoção de bactérias heterotróficas para evitar a formação de biofilme na membrana. Osmose Reversa Processo largamente difundido devido à eficácia e abrangência de remoção: Remoção de todos os íons (até monovalentes); Permeado é caracterizado por ser praticamente água (com outros solventes quando presente); Não tolera sólidos em suspensão, havendo, portanto, a necessidade de pré-tratamento. Usualmente se adota uma microfiltração preliminar; A separação é feita por potencial químico: Outros processos A pervaporação, eletrodiálise e diálise são membranas de uso específico para separação de solutos específicos sendo mais utilizados em processos de tratamento de água para fins industriais. A pervaporação é um processo de separação que consegue a segregação de solventes misturados. A tabela abaixo mostra um comparativo entra a capacidade de remoção das membranas citadas. É interessante notar a baixa faixa de atuação do sistema comum de tratamento de água (Coagulação/Floculação e Filtração) sendo ineficiente para diversas faixas de contaminantes. Figura 6 - Técnicas de tratamento em função do contaminante (PHA 2548) 7
10 Escolha da tecnologia A decisão pela escolha da tecnologia a ser utilizada em um tratamento visando o reuso direto de efluentes para abastecimento público deve considerar os seguintes aspectos: Capacidade técnica dos envolvidos na decisão; Uso final da água: abastecimento, lavagem, resfriamento, geração de energia, matéria prima, etc. Dependendo da destinação final, padrões de qualidade específicos devem ser atendidos; Perigos associados ao efluente a ser tratado: presença de microrganismos patogênicos e presença de substâncias ou compostos químicos radioativos na sua composição; Disponibilidade tecnológica; Vazão prevista para ser atendida pelo sistema de reuso direto. Analisando estes aspectos a luz dos riscos envolvidos com a contaminação química e microbiológica do consumidor final e da degradação de máquinas e equipamentos nos quais serão utilizados a água de reuso, deve-se selecionar a alternativa que melhor se adeque econômica, qualitativa e quantitativamente à destinação final do produto. 2.4 Aplicações da água de reuso e de chuva As aplicações envolvem usos nos quais é possível a utilização de água não-potável, como: - Irrigação paisagística, como jardins, campos e áreas verdes em geral (exceto usos agrícola e florestal). - Lavagem de veículos como caminhões de lixo, trens e aviões. - Uso na construção civil, para concreto não estrutural, umectação para compactação de aterros, controle de poeira e lavagem de equipamentos. - Desobstrução de galerias pluviais e de rede de esgotos. - Lavagem de ruas. - Combate a incêndios. - Refrigeração em uso industrial - Descarga de sanitários - Sistemas de ar-condicionado Reuso de água em edificações As grandes cidades são caracterizadas por um grande número de edificações e, nestas edificações, pode-se enxergar uma grande oportunidade de reaproveitamento de água. Várias atividades desenvolvidas neste campo não exigem o uso de água potável, sendo possível a aplicação de água de reuso. Dentre estas atividades, estão: - refrigeração e sistema de ar condicionado - descarga em bacias sanitárias - lavagem de roupas - lavagem de veículos - lavagem de pisos, irrigação e regas de jardim - uso ornamental - construção civil Entretanto, esta água não-potável deve ainda cumprir alguns requisitos de qualidade, por exemplo: - não apresentar mau cheiro 8
11 - não ser abrasiva - não manchar superfícies - não deteriorar máquinas - não conter sais ou substâncias remanescentes após lavagem - livre de partículas sólidas - livre de algas - livre de metais - não propiciar infecções ou contaminações prejudiciais à saúde humana - não alterar as características de resistência dos materiais Sendo assim, a água para reuso em edificações é então dividida em 4 classes conforme seu padrão de qualidade: A) Água de Reuso Classe 01 Seus usos são: descargas de bacias sanitárias, lavagem de pisos, lavagem de roupas e de veículos e fins ornamentais. Deve-se tomar cuidados com a exposição desta água reciclada com à todos aqueles que tenham algum contato com este sistema de distribuição de água reciclada. Os padrões de qualidade mais levados em consideração nesta categoria são aqueles relacionados aos aspectos estéticos. A tabela seguinte mostra os parâmetros característicos para a água de reuso de Classe 01: Tabela 2 - Parâmetros característicos para água de reuso de Classe 01 B) Água de Reuso Classe 02 Este tipo de classe destina-se aos usos na fases da construção civil. Por exemplo: a lavagem de agregados, a compactação do solo, a preparação do concreto e ao controle de poeira. Para esta classe, os parâmetros à serem levados em conta são explicitados na tabela abaixo: 9
12 Tabela 3 - Parâmetros básicos para água de reuso de Classe 02 C) Água de Reuso Classe 03 Esta classe destina-se à irrigação de áreas verdes e regas de jardim. A saúde pública, a vegetação e a estética são os principais condicionantes à classificação da água como água de reuso de classe 03, permitindo o seu uso na irrigação de áreas verdes. Deve-se prezar principalmente pela saúde e segurança do homem, do ambiente e de demais seresvivos, tendo-se em conta o contato ocasional da interação homem-meio e mesmo o contato dos seresvivos com o meio. Dado esta preocupação primária, nesta classe de água de reuso, os parâmetros de qualidade da água levados em conta buscam limitar as concentrações de contaminantes biológicos e químicos existentes. A aplicação desta classe também leva D) Água de Reuso Classe 04 Tabela 4 - Parâmetros básicos para água de reuso de Classe 03 Esta classe destina-se ao uso em aparelhos de refrigeração e de ar condicionado, mais especificamente: nas torres de resfriamento deste sistemas. Conforme pode-se ver na tabela abaixo, os aspectos importantes à serem levados em conta sobre a qualidade da água são os indicadores de qualidade que permitem uma boa operação da torre de resfriamento do sistema. 10
13 Tabela 5 - Variáveis de qualidade de água recomendados para o uso em torres de resfriamento Fontes alternativas de reuso Há ainda a possibilidade da utilização de fontes alternativas de água para reuso ou aproveitamento, isto é, fontes que não estão sob concessão do governo ou não estão sujeitas à cobrança pelo uso ou fontes de água com composição diferente da água potável fornecida pelas concessionárias. Entretanto, deve-se tomar bastante cuidado com estas alternativas, uma vez que elas podem causar algum impacto ambiental ao ambiente ou mesmo impacto social negativo, quando ultrapassadas as barreiras de responsabilidade social. Também deve-se atentar ao risco de cobrança pelo uso da água e também ao risco de sanções devido ao uso inadequado. Alguns deste tipos mais comuns são mencionados abaixo: A) Água Cinza Esta alternativa se trata do efluente doméstico exceto o da bacia sanitária e o da pia da cozinha. Este tipo de água de reuso pode conter contaminantes de diversos tipos. Durante a análise deste efluentes, verifica-se em geral: Elevada DBO, ou seja, um elevado teor de matéria orgânica, que pode causar odor e/ou sabor; Elevada concentração de nitrato; Elevado teor de fósforo; Elevado teor de surfactantes, provocando a criação de espuma e de odor consequentemente; Elevada turbidez, devido à presença de sólidos em suspensão. Entretanto, aspectos socioculturais ou econômicos influenciam na composição da água cinza, logo as composições de diferentes fontes de água cinza podem variar entre si. Também é importante salientar a necessidade da criação de uma rede hidráulica destinada à água cinza completamente separada da rede da concessionária. 11
14 B) Água Pluvial Esta é uma prática muito comum, principalmente em regiões áridas e semiáridas, que também deve ser submetida à uma gestão de qualidade e quantidade. Através do controle da qualidade da água de chuva, deve-se verificar a necessidade da aplicação de um sistema de tratamento específico levandose em conta à sua destinação, sempre tendo-se em conta que o seu uso não deve comprometer a saúde do indivíduo e nem a vida útil do sistema envolvido. Em uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo para caracterizar os principais parâmetros da qualidade da água de chuva, foi constatado principalmente a seguinte tendência: propriedades de água mole; ph entre 5,8 e 7,6; DBO 5,20 : menor que 10; presença de coliformes fecais em mais de 98% das amostras realizadas; presença de bactérias. Deve-se salientar também que o dimensionamento do sistema de aproveitamento de água pluvial deve levar em conta os seguintes parâmetros: existência de área disponível para coleta; vazão de água, considerando o índice pluviométrico médio da região; um estudo de demanda para o uso previsto; dimensionamento da reserva de água, considerando os períodos admissíveis de seca. C) Água de Drenagem de Terrenos Esta alternativa de água de reuso encontra-se nas situações de empreendimentos que fazem uso do rebaixamento do nível do lençol freático no solo da obra para o desenvolvimento da obra. Esta é uma situação comum e a prática de reuso desta água é recomendada quando respeitadas algumas condições, como: o rebaixamento é estritamente necessário para o avanço da obra, esta água não é fonte de poços artesianos, esta água seria lançada na drenagem pública se não fosse coletada para o reuso e a coleta desta água não promove danos aos ecossistemas do entorno ou à alimentação de corpos d água da região. A água de drenagem apresenta em geral boa qualidade, no entanto, ela pode se encontrar contaminada por conta de vazamentos ou rupturas na rede pública, contaminação do terreno por conta de descarte de resíduos sólidos na proximidade ou da presença de combustíveis de postos de abastecimento, por exemplo. D) Águas Subterrâneas Esta exploração é permitida, mas também regulamentada, com o intuito de preservar a quantidade e a qualidade destes corpos d água, uma vez que eles são de fundamental importância para o ciclo hidrológico da região onde ele se encontra. Neste caso de reuso de água, o edifício é classificado como um «produtor de água e isto gera diversas consequências para este edifício, como o estabelecimento de um plano de gestão e monitoramento da qualidade e da quantidade de água, o respeito de uma legislação própria à este status e também o estabelecimento de um tratamento adequado à água quando necessário. Logo, os aspectos citados anteriormente podem encarecer a adoção desta alternativa. Apesar do custo de perfuração não ter uma grande importância neste processo, o custo sobre o uso desta alternativa e os custos para estar em conformidade com a legislação podem até tornar esta opção não-rentável. E) Captação Direta Em geral, um tratamento adequado da água deve ser adotado para viabilizar esta utilização. Também 12
15 esta exploração deve ser pautada na preservação do meio ambiente e da saúde humana. Por isso, existe uma legislação que regulamenta este uso e, como a exploração de águas subterrâneas, estas leis pode acarretar na inviabilidade econômica deste tipo de exploração, uma vez que elas encarecem bastante este processo. F) Água de Reuso da Concessionária Esta alternativa se trata da água proveniente do tratamento de esgotos realizados pela concessionária. Trata-se então de uma alternativa mais econômica devido ao custo reduzido desta oferta de água e seu uso é recomendado para fins onde não é necessário a utilização de água potável, por exemplo, o uso em empreendimentos ou o uso em ambientes externos. O uso de equipamentos de segurança individual são recomendados neste caso. 3. Conclusão Dado que as grandes cidades são grandes consumidoras de água e que a escassez desta água é um problema cada vez mais comum em suas realidades, o uso sustentável dos recursos hídricos ganha cada vez mais importância neste contexto. Alternativas em busca de melhorar o aproveitamento da água são necessárias. Não somente com a tomada de medidas estruturais, mas também com a adoção de medidas não-estruturais. É necessário o combate ao desperdício e ao consumo exagerado. O reuso direto da água em grandes cidades se mostra então como uma boa alternativa de gestão sustentável da água nestes ambientes. Face à este grande consumidor representado por uma grande cidade, o reuso permite uma redução da pressão sobre os recursos hídricos. Entretanto, é necessário um adequado planejamento da aplicação deste reuso, uma boa política de gestão e às vezes até mesmo a implementação de um tratamento específico às águas antes da reutilização. De qualquer forma, quando bem implementado, este reuso pode permitir um grande avanço na sustentabilidade das cidades. Dentre aos ganhos que ele pode gerar, pode-se citar: a redução da poluição dos recursos d água, a geração de uma fonte confiável de abastecimento de água a longo prazo, um bom gerenciamento de água em períodos de seca e de conservação dos corpos hídricos. Logo, não se deve menosprezar o potencial desta prática de gestão de recursos hídricos. Sem dúvidas, esta prática representa o futuro, com a preservação dos corpos hídricos para as gerações futuras e também a agregação de mais qualidade de vida às populações urbanas. 4. Bibliografia Agência Nacional de Águas (ANA) e Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). Conservação e Reuso da Água em Edificações. São Paulo, Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE). Plano Diretor de Aproveitamento de Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista Relatório Final Volume I. São Paulo, 2013 CARVALHO, C. Água de reuso. Revista Infraestrutura Urbana, Ed. PINI, 23 de novembro de 2012 Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Minuta de Resolução SES/SMA/SERHS. São Paulo, MARTIN, L. Texas Leads The Way With The First Direct Potable Reuse Facilities In U.S. Water Online. Disponível em < Acesso em: 26/10/2015 PHA 2548 Uso Racional e Reuso da Água. Notas de Aula da disciplina. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo 13
16 PHA 2411 Saneamento I. Notas de Aula da disciplina. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo 14
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