O mínimo existencial como núcleo da dignidade da pessoa humana: o direito à educação. Rafael Queiroz
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- Marina Domingues Barros
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1 O mínimo existencial como núcleo da dignidade da pessoa humana: o direito à educação. Rafael Queiroz
2 Segundo Ricardo Lobo Torres, o mínimo existencial não é um valor nem um princípio jurídico, mas o conteúdo essencial dos direitos fundamentais. [...] é regra, porque se aplica por subsunção, constitui direitos definitivos e não se sujeita a ponderação [...] [4]. É o núcleo básico e irredutível dos direitos fundamentais. (Teoria dos Direitos Fundamentais. Ed Renovar, 2ªed, 2002).
3 Atua em duas frentes (feições): A) Feição garantística impede agressão do direito, isto é, requer cedência de outros direitos ou de deveres (pagar imposto, p. ex.) para a garantia de meios que satisfaçam as mínimas condições de vivência digna da pessoa ou da sua família. - O mínimo existencial (garantia) vincula o Estado e o particular. B) Feição prestacional tem caráter de direito social, exigível frente ao Estado.
4 - A questão do mínimo existencial (realidade prestacional): quais direitos e em que amplitude?
5 Ingo Wolfgang Sarlet: - necessidade de reconhecimento de certos direitos subjetivos a prestações ligados aos recursos materiais mínimos para a existência de qualquer indivíduo.. - prestação de recursos materiais essenciais, devendo ser analisada a problemática do salário mínimo, da assistência social, da educação, do direito à previdência social e do direito à saúde.
6 Ricardo Lobo Torres: os direitos referentes ao mínimo existencial incidiriam sobre um conjunto de condições que seriam pressupostos para o exercício da liberdade. Luís Roberto Barroso: aponta a renda, a educação fundamental e saúde básica (além da necessidade do acesso a jurisdição, que seria o meio para exigência do mínimo caso violado. Abaixo disso é sobrevida e não vida digna. Ana Paula de Barcellos: o identifica como o núcleo sindicável da dignidade da pessoa humana, inclui como proposta para sua concretização os direitos à educação fundamental, à saúde básica, à assistência no caso de necessidade e ao acesso à Justiça, todos exigíveis judicialmente de forma direta.
7 2- O direito à educação como mínimo existencial Direito à educação (abrangência):
8 sentido amplo: formação e socialização do indivíduo (caráter político devido a sua importância na disseminação do saber, da cultura, da potencialização da cidadania, etc). - Base para a realização de outros direitos (instrumental). - Desenvolvimento de uma gama de direitos, ex: gozo dos direitos civis e políticos, o exercício da liberdade de expressão, acesso à informação, direitos sociais e econômicos, enfim, permitir o desempenho das virtualidades humanas. - Necessidade de afirmação dos DH (ideia de igualdade e dignidade):
9 2.1.2.Espaço escolar (formal): - a educação no espaço escolar.
10 - Desafios para que a educação seja compreendida com o DH e como meio de garantir uma participação plena na vida pública: 1) a questão do acesso e da permanência na escola; 2) a necessidade de constituição de um convívio que trate democraticamente dos constantes conflitos existentes dentro do próprio ambiente escolar;
11 3) a superação do preconceito e das crenças sobre a função social da escola (guardar os alunos para não permanecerem na rua (prevenir a criminalização) ou formação para o mercado de trabalho); 4) comprometimento dos governos e da administração pública em geral com os recursos destinados à educação (gestão, controle, fiscalização) destaco também o papel da sociedade; 5) erradicação dos demais conflitos e violações de direitos humanos impossibilitam a efetivação da educação (caráter indivisível e interdependente desses direitos). ex: alimentação, saúde, segurança, etc.
12 2.2 Sistema global: - Normativas internacionais quanto ao direito a educação.
13 a) DUDH (1948): (Preâmbulo/CONSIDERANDOS) A Assembléia Geral das Nações Unidas proclama a presente "Declaração Universal dos Direitos do Homem" como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação por promover o respeito a esses direitos e liberdades (...) * Educação em DH.
14 Art. XXVI. (DUDH): I) Todo o homem tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. II) A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais. A instrução a compreensão, a tolerância e amizade entre todas as nações e promoverá grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. III) (...)
15 b) Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966): (Decreto nº 591/1992). ARTIGO 13: 1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa à educação. Concordam em que a educação deverá visar ao pleno desenvolvimento da personalidade humana e do sentido de sua dignidade e fortalecer o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais. Concordam ainda em que a educação deverá capacitar todas as pessoas a participar efetivamente de uma sociedade livre, favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e entre todos os grupos raciais, étnicos ou religiosos e promover as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.
16 2. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem que, com o objetivo de assegurar o pleno exercício desse direito: a) A educação primaria deverá ser obrigatória e acessível gratuitamente a todos; b) A educação secundária em suas diferentes formas, inclusive a educação secundária técnica e profissional, deverá ser generalizada e torna-se acessível a todos, por todos os meios apropriados e, principalmente, pela implementação progressiva do ensino gratuito; c) A educação de nível superior deverá igualmente torna-se acessível a todos, com base na capacidade de cada um, por todos os meios apropriados e, principalmente, pela implementação progressiva do ensino gratuito; d) Dever-se-á fomentar e intensificar, na medida do possível, a educação de base para aquelas pessoas que não receberam educação primaria ou não concluíram o ciclo completo de educação primária; e) Será preciso prosseguir ativamente o desenvolvimento de uma rede escolar em todos os níveis de ensino, implementar-se um sistema adequado de bolsas de estudo e melhorar continuamente as condições materiais do corpo docente.
17 3. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a liberdade dos pais e, quando for o caso, dos tutores legais de escolher para seus filhos escolas distintas daquelas criadas pelas autoridades públicas, sempre que atendam aos padrões mínimos de ensino prescritos ou aprovados pelo Estado, e de fazer com que seus filhos venham a receber educação religiosa ou moral que esteja de acordo com suas próprias convicções. 4. Nenhuma das disposições do presente artigo poderá ser interpretada no sentido de restringir a liberdade de indivíduos e de entidades de criar e dirigir instituições de ensino, desde que respeitados os princípios enunciados no parágrafo 1 do presente artigo e que essas instituições observem os padrões mínimos prescritos pelo Estado.
18 c) Outros pactos internacionais: a) Convenção contra a Discriminação no Ensino de 1960 (Convenção relativa à luta contra Discriminação no campo do ensino UNESCO/ BR: Decreto nº /68) b) Convenção sobre os Direitos da Criança (1989): o Brasil e os demais países se comprometeram a preparar a criança para assumir uma vida responsável numa sociedade livre, com espírito de compreensão, paz, tolerância, igualdade de sexos e amizade entre todos os povos, entre outras determinações; c) Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência Decreto 6.949/2009: a primeira convenção internacional aprovada com status de emenda a Constituição Federal de 1988, portanto, os direitos, deveres e obrigações nelas contidos têm aplicação imediata e são superiores às leis ordinárias do país.
19 Plano local ou regional: a) Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem: Artigo XII. Toda pessoa tem direito à educação, que deve inspirar-se nos princípios de liberdade, moralidade e solidariedade humana. Tem, outrossim, direito a que, por meio dessa educação, lhe seja proporcionado o preparo para subsistir de uma maneira digna, para melhorar o seu nível de vida e para poder ser útil à sociedade. O direito à educação compreende o de igualdade de oportunidade em todos os casos, de acordo com os dons naturais, os méritos e o desejo de aproveitar os recursos que possam proporcionar a coletividade e o Estado. Toda pessoa tem o direito de que lhe seja ministrada gratuitamente, pelo menos, a instrução primária. Artigo XXXI. Toda pessoa tem o dever de adquirir, pelo menos, a instrução primária.
20 b) Protocolo à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais: Protocolo de El Salvador. 1. Toda pessoa tem direito à educação. 2. Os Estados Partes neste Protocolo convêm em que a educação deverá orientar-se para o pleno desenvolvimento da personalidade humana e do sentido de sua dignidade e deverá fortalecer o respeito pelos direitos humanos, pelo pluralismo ideológico, pelas liberdades fundamentais, pela justiça e pela paz. Convêm, também, em que a educação deve capacitar todas as pessoas para participar efetivamente de uma sociedade democrática e pluralista, conseguir uma subsistência digna, favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais, étnicos ou religiosos e promover as atividades em prol da manutenção da paz.
21 3. Os Estados Partes neste Protocolo reconhecem que, a fim de conseguir o pleno exercício do direito à educação: a. O ensino de primeiro grau deve ser obrigatório e acessível a todos gratuitamente; b. O ensino de segundo grau, em suas diferentes formas, inclusive o ensino técnico e profissional de segundo grau, deve ser generalizado e tornar-se acessível a todos, pelos meios que forem apropriados e, especialmente, pela implantação progressiva do ensino gratuito; c. O ensino superior deve tornar-se igualmente acessível a todos, de acordo com a capacidade de cada um, pelos meios que forem apropriados e, especialmente, pela implantação progressiva do ensino gratuito; d. Deve-se promover ou intensificar, na medida do possível, o ensino básico para as pessoas que não tiverem recebido ou terminado o ciclo completo de instrução do primeiro grau; e. Deverão ser estabelecidos programas de ensino diferenciado para os deficientes, a fim de proporcionar instrução especial e formação a pessoas com impedimentos físicos ou deficiência mental.
22 4. De acordo com a legislação interna dos Estados Partes, os pais terão direito a escolher o tipo de educação a ser dada aos seus filhos, desde que esteja de acordo com os princípios enunciados acima. 5. Nada do disposto neste Protocolo poderá ser interpretado como restrição da liberdade dos particulares e entidades de estabelecer e dirigir instituições de ensino, de acordo com a legislação interna dos Estados Partes.
23 Direito Interno (Brasil): a) Constituição da República Federativa do Brasil (1988): arts. 205 a Educação como Direito social: Direito fundamental.
24 - No segundo título da CF (Dos direitos e Garantias Fundamentais), no capítulo II (direitos sociais) a educação é declarada como direito social: Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
25 - A educação como direito fundamental deve ser encarada como cláusula pétrea (art. 60, 4, IV): - visão capaz de abranger direitos sociais e o direito à educação como inerentes ao valor da dignidade da pessoa humana e ao estabelecido como mínimo existencial: Art. 5º, 2º, CF: Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. - Não se nos afigura legítimo prestigiar o designativo de direitos formalmente fundamentais, o que, em um País de insignificante tradição democrática, abriria um perigoso espaço de valoração para aqueles que ainda não se desprenderam das amarras do passado. - Interpretação teleológico-sistemática do texto constitucional: busca estender e tornar efetivos os direitos ali consagrados, não restringilos e reduzir sua capacidade.
26 - Ordem social (título VIII): base primado do trabalho e objetivo bem-estar e justiça social (art. 193): direito a educação.
27 CAPÍTULO III DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO Seção I DA EDUCAÇÃO Art A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
28 - As obrigações do Estado em busca da concretização do direito à educação estão concentradas no art. 208 da Carta de 1988: Art O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009) II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
29 IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didáticoescolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. 2º - O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente. 3º - Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola.
30 - Receita mínima anual de cada ente da federação: a União dezoito por cento e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento. - O sistema atual atribuiu aos Municípios a atuação prioritária no ensino fundamental e infantil e aos Estados e ao Distrito Federal, também de forma prioritária, a manutenção do ensino fundamental e médio (inexiste qualquer óbice a que tais entes federativos atuem em outros níveis de educação).
Art O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
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