PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de Guararapes, em que é agravante FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO, é agravado LUIZ HENRIQUE DE CARVALHO. ACORDAM, em 11ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores AROLDO VIOTTI (Presidente) e JARBAS GOMES. Luis Ganzerla RELATOR Assinatura Eletrônica São Paulo, 22 de setembro de 2015.

2 11ª CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO VOTO N.º AI AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº GUARARAPES AGRAVANTE: FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO AGRAVADO: LUIZ HENRIQUE DE CARVALHO PROVA PERICIAL Demandante beneficiário da gratuidade judiciária Salários periciais Responsabilidade do Estado pelo resgate Inteligência dos arts. 5.º, LXXIV, da CF e 3.º, V, da Lei n.º 1.060/50 Limites de valores - Deliberação nº 92 da Defensoria Pública do Estado de São Paulo Inaplicabilidade - Observância das peculiaridades do caso concreto - Decisão mantida Recurso não provido. O recorrido, Luiz Henrique de Carvalho, ajuizou ação dirigida a Fazenda Pública do Estado de São Paulo, com o intuito de obter a incorporação do recálculo da sexta parte e do adicional por tempo de serviço sobre seus vencimentos integrais, julgada procedente, em primeira instância, e mantida, em parte, por esta C. 11ª Câmara (fls. 10/22, 23/26 e 27/41). Na fase de liquidação, o C. Juízo de primeiro grau nomeou perito judicial e arbitrou os salários provisórios no montante de R$ 3.000,00, com determinação de expedição de ofício à Defensoria Agravo de Instrumento nº Guararapes - V AI - Página 2/8

3 Pública da Região para reserva de salários do expert, nos termos da tabela constante na Deliberação nº 92, de , do Conselho Superior da Defensoria Pública, com anotação de pagamento do valor restante ao final do processo, pelo vencido (fls. 8). Inconformada, recorre a Fazenda Pública do Estado de São Paulo, sob o fundamento de desnecessidade da perícia, ante a ausência de crédito em favor do exequente; subsidiariamente, busca a responsabilidade do acionante pelos salários periciais ou seu arbitramento de acordo com a Deliberação n.º 92, da Defensoria Pública. Pede o efeito suspensivo neste recurso (fls. 1/6). É o relatório, em acréscimo ao da r. decisão recorrida. Registre-se, a princípio, a distribuição dos autos a esta relatoria, em razão do afastamento autorizado do relator sorteado, por estar na Presidência do 185º Concurso de Provas e Títulos para ingresso na Magistratura do Estado de São Paulo (cfe. DJe de , p. 11). Na forma do art. 130 do Cód. Proc. Civil, o magistrado é o destinatário da prova, e somente a ele compete aferir a necessidade ou não de sua realização, com indeferimento das diligências inúteis ou meramente protelatórias. Nesse sentido v. aresto desta Corte, no AI nº /5-00, São João da Boa Vista (F. D. Aguaí), v e AI nº /0-00, São Paulo, rel. DES. RICARDO ANAFE, cuja ementa tem a seguinte passagem: O magistrado é o destinatário da prova, cumprindo a ele a apreciação dos pedidos de produção de prova à necessária instrução do processo, sendo-lhe facultado indeferir os pedidos que entenda inúteis ou Agravo de Instrumento nº Guararapes - V AI - Página 3/8

4 protelatórios, em seu âmago, podendo, inclusive, ordenar, ex officio, a produção da prova que entender de rigor (art. 130 do CPC). Não cabe à Corte ad quem, em apreciação de agravo, apreciar a retidão ou não da decisão que ordena ou nega produção de prova, até porque, por comando processual civil, a apreciação da prova pelo juiz é livre (art. 131 do CPC). In casu, trata-se o demandante de beneficiário da assistência judiciária gratuita, conforme pesquisa realizada no site desta Corte. Na forma dos arts. 19 e 33, do Cód. Proc. Civil, os salários periciais deverão ser custeados pela parte interessada na prova, salvo nos casos de gratuidade judiciária, requerimento do Ministério Público ou de ofício, pelo Magistrado. E este é exatamente o caso sub judice. O beneficiário da gratuidade judiciária é isento do pagamento dos salários do perito, na forma do art. 3.º, V, da Lei n.º 1.060/50, porém o perito não pode ser obrigado a trabalhar gratuitamente. Dispõe o art. 5.º, LXXIV, da Constituição Federal, o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos, sem referência ao Estado como parte processual e, sim como ente político responsável pelo atendimento das necessidades dos cidadãos. Esse o entendimento do Supremo Tribunal Federal, como se infere do RE n.º , MS, rel. MIN. NERI DA SILVEIRA, j , com o seguinte excerto: Agravo de Instrumento nº Guararapes - V AI - Página 4/8

5 Às fls. 104/110, o ilustre Relator na Corte a quo bem citou a controvérsia, à luz do art. 5º, LXXIV, da Constituição, eis que a assistência judiciária a ser prestada aos necessitados é abrangente, também, dos honorários de perito (Lei nº 1060/51, art. 3º, V). A assistência judiciária há de ser integral e gratuita. Não seria possível concluir que não há obrigação à cobertura desse ônus, tão-só, porque não prevista no orçamento de certo exercício. As providências são da administração estadual no sentido de vir a atender a essa despesa, de base constitucional e de tão acentuada importância social. A espécie fundamental posta nos autos concerne, efetivamente, à extensão da assistência judiciária, ut art. 5º, LXXIV, da Lei Maior, regra auto-aplicável. No ponto, o acórdão decidiu, de forma adequada, em termos a emprestar ampla eficácia á regra fundamental em foco, garantidora do acesso à justiça dos necessitados, que hão de receber do Estado amparo em ordem ao pleno exercício de seus direitos e à sua defesa, ut art. 5º, XXXV da Constituição. E esta C. Corte também não discrepa deste entendimento: AGRAVO DE INSTRUMENTO - VERBAS TRABALHISTAS ADICIONAL DE INSALUBRIDADE - PROVA PERICIAL - CUSTEIO - Decisão do Juízo "a quo" que determinou a realização de prova pericial para aferir a existência de periculosidade ou insalubridade na atividade exercida pela autora, impondo à requerida o ônus de arcar com os honorários do perito - O pagamento dos honorários compete à agravada e não à agravante, em conformidade ao quanto disposto no art. 33, do CPC - Considerando que à agravada foi concedido o benefício da gratuidade processual, o ônus não deve recair para a Municipalidade - honorários devem ser custeados pela Defensoria Pública, entidade responsável por administrar o Fundo de Assistência Judiciária, criado pela Lei Estadual nº 4.476/84 e regulamentado pelo Decreto Estadual /85 - existência de Deliberação nº 92/2008 do Conselho Superior da Defensoria Pública que dispôs sobre o pagamento, pelo FAJ, de peritos que atuem nos feitos de natureza cível em que partes são Agravo de Instrumento nº Guararapes - V AI - Página 5/8

6 beneficiárias da gratuidade judicial - Precedentes do TJSP Decisão reformada. Recurso provido. (AI n.º , Rio Claro, rel. DES. PAULO BARCELLOS GATTI, j ); Agravo de Instrumento interposto contra decisão que, em ação de rito Ordinário proposta contra a ora agravante e outra, determinou à Municipalidade arcasse com as despesas de perícia determinada em saneador, e de interesse da autora. Recurso da Municipalidade buscando a reforma da decisão. Admissibilidade. Não é possível cometer à parte contrária o ônus de antecipar as despesas com produção de prova de interesse da outra parte. Inviabilidade. Demanda em que não há a inversão do ônus probante. Recurso provido. (AI n.º , Campinas, rel. DES. AROLDO VIOTTI, j ); AGRAVO DE INSTRUMENTO - Ação Ordinária Prova pericial - Autor beneficiário da justiça gratuita - Inversão do ônus ao réu - Incabível - Necessidade de perícia técnica - Incumbência que não pode ser conferida ao beneficiário - Perícia a ser realizada nos termos do Provimento PGE nº 32 de e Resolução Conjunta PGE - DPG de Recurso provido. (AI n.º , Rio Claro, rel. DES. MARCELO L THEODÓSIO, j ). Nessa mesma linha, AI n.º /9-00, Taubaté, DM AI, j e AI n.º , Santos, DM AI, j , ambos desta relatoria. Apesar do Comunicado nº 1.010/2008 da Corregedoria Geral de Justiça de São Paulo indicar que os salários periciais custeados pelo Fundo de Assistência Judiciária (FAJ) devem observar a Deliberação nº 92/2008 do Conselho Superior da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, o benefício da Agravo de Instrumento nº Guararapes - V AI - Página 6/8

7 gratuidade judiciária é extremamente amplo e amparado pela legalidade e, assim, afastam entraves técnicos, financeiros e operacionais e carreiam ao Estado o dever de suportá-los. Desta forma, atos internos não podem restringir a aplicação da lei, a qual assegura o benefício da gratuidade judiciária integral aqueles sem condições de arcar com os custos de um processo judicial. Eventuais disposições, distinções ou restrições, para serem aplicadas, deverão constar em lei, bem como respeitar os ditames constitucionais que envolvem o tema. A respeito, v. aresto do STJ, no AgRg no REsp nº , rel. MIN. HUMBERTO MARTINS, j , com a seguinte ementa: A jurisprudência majoritária desta Corte comunga do entendimento de que o ônus de arcar com honorários periciais, na hipótese em que a sucumbência recai sobre o beneficiário da assistência judiciária, deve ser imputado ao estado, que tem o dever constitucional de prestar assistência judiciária aos hipossuficientes. O caso é, assim, de não provimento do recurso interposto pela Fazenda Pública do Estado de São Paulo, em relação aos autos da ação ajuizada por Luiz Henrique de Carvalho (ref. proc. n.º º Ofício de Guararapes, SP), mantida a r. decisão recorrida, por seus próprios e jurídicos fundamentos. Consigne-se, para fins de prequestionamento, inexistir ofensa aos artigos de lei mencionados, pois debatidos, analisados e decididos, prescindíveis as referências numéricas expressas (cfe. STF, RE SP, rel. MIN. MARCO AURÉLIO, j ; STJ, Agravo de Instrumento nº Guararapes - V AI - Página 7/8

8 Edcl no RMS /SP, j , rel. MIN. FELIX FISCHER e AgRg no REsp SP, rel. MIN. ADILSON VIEIRA MACABU, j ). As inconformidades, na Câmara, em razão deste julgado estarão sujeitas ao julgamento virtual e eventual discordância deverá ser indicada por ocasião das interposições. Comunique-se o resultado deste julgamento, com urgência, ao MM. Juízo a quo, via ou outra forma de igual celeridade. LUIS GANZERLA RELATOR (assinatura eletrônica) Agravo de Instrumento nº Guararapes - V AI - Página 8/8