Identidades de gênero em gênero discursivo: uma análise de discurso
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- Luiz Henrique Rodrigues Bicalho
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1 Identidades de gênero em gênero discursivo: uma análise de discurso 1) Lúcia Mosqueira de Oliveira Vieira (Doutora; UNICERP; 2) Maria Cecília de Lima (Doutora; Universidade Federal de Uberlândia (UFU); RESUMO Empregado em contextos escolares de ensino médio, nas aulas de Língua Portuguesa, os gêneros jornalísticos carregam discursos materializados em traços linguísticos, que colaboram com a constituição de identidades de gênero. Diante dessa constatação, o objetivo deste trabalho é o de procedermos a uma análise de discursos de gêneros jornalísticos, descortinando ideologias acerca das identidades de gênero. Para alcançarmos nossos objetivos, nos valemos do arcabouço teórico da Análise de Discurso Crítica (Fairclough, 1992, 2003) teoria e método, estudos sobre identidade de gênero (Lazar, 2005; Walsh, 2001), e os estudos sobre gênero discursivo (Christie, Martin, 1997; Meurer, Motta-Roth, 2002), bem como do arcabouço da Linguística Sistêmico-Funcional (Eggins, 2004). Nossa pesquisa apresenta como resultados que o assunto identidade de gênero não é trabalhado sistematicamente no contexto escolar, o que contribui para o não questionamento das identidades de gênero representadas em diversos gêneros. PALAVRAS-CHAVE: discurso, identidades, gênero ABSTRACT Used in school contexts for high school, in Portuguese classes, the journalistic genre carries discourses with linguistics traces that help with the formation of the genre identities. With this
2 fact, the purpose of this paper is to analyze the speeches of journalistic genres, showing the ideologies concerning the identities of the journalistic genre. To reach our goals we used the Critical Discourse Analysis Theory (Fairclough, 1992, 2003) theory and method, studies over genre identity (Lazar, 2005; Walsh 2001), and the studies over discourse genre (Christie, Martin, 1997; Motta-Roth, 2002), as well as the Systemic-Functional Linguistics discussions (Eggin, 2004). So far our research shows as results that the genre identity issue is not developed systemically in the school setting, which contributes to the no questioning of genre identities represented in the many genres. Key words: discourse, identities, genre. 1 INTRODUÇÃO O gênero discursivo representa uma determinada realidade, estabelece relações sociais e atribui certas identidades às pessoas, uma vez que se encontra socialmente situado, correspondendo a distintas maneiras de usar a linguagem para cumprir diversas tarefas culturalmente definidas (Bakhtin, 1997; Christie, Martin, 1997; Eggins, Martin, 2000; Meurer, Motta-Roth, 2002). Assim, por meio de um gênero discursivo jornalístico, é possível que identidades sejam constituídas por meio de discursos nele veiculados. Por isso, é de grande importância que na instituição escolar se trabalhe criticamente com os diversos gêneros discursivos. Importante também é que profissionais da educação comecem a atentar para o fato de que é na interação que as identidades são constituídas e; sendo também a escola local de interação, de constituição da cidadania e de identidades; cabe aos/às educadores/as também constituir seres humanos críticos e emancipados por meio do trabalho com os gêneros discursivos. Uma vez que nos gêneros discursivos temos a veiculação de ideologias 1, crenças, valores, identidades que podem ser reproduzidos, trabalhos de leitura crítica precisam ser realizados, veiculados e desenvolvidos em salas de aula para que alunos/as ressignifiquem o conteúdo de gêneros lidos e para que não aceitem como dadas as identidades de gênero neles 1 Segundo Gee (1990, p. 23), ideologia pode ser compreendida como uma teoria social (...) que envolve generalizações (crenças, afirmações) sobre a maneira pela qual bens e produtos são distribuídos na sociedade. Eagleton (1997, p. 15) enumera algumas das definições que encontramos sobre ideologia: a) processo de produção de significados, símbolos e valores na sociedade; b) corpo de idéias características de um determinado grupo ou classe social; c) uma ilusão social necessária; d) a união entre discurso e poder; e) o processo pelo qual a vida social é convertida em uma realidade natural.
3 representadas. Como a escola é um espaço formal de práticas e eventos de letramento (Baynham, 1995, Gee, 1990; Street, 1983, 1995, 1997) e se apresenta como locus de construção da cidadania, deve então levar alunos/as a terem condições de realizarem leituras críticas acerca do mundo social no qual vivem, entendendo que a leitura crítica é aquela que implica conscientização das ideologias (Thompson, 1995) presentes nos textos e que moldam o comportamento das pessoas. Por refletir sobre isso, nosso trabalho tem como objetivo proceder à análise de discurso crítica de gêneros discursivos jornalísticos que circulam em escolas de ensino médio, na cidade de Uberlândia MG, focalizando identidades de gênero. Para procedermos à análise, contaremos com as contribuições teóricas da Linguística Sistêmico-Funcional (Halliday, 1985), juntamente com a perspectiva da Análise de Discurso Crítica (Chouliaraki, Fairclough, 1999; Fairclough, 2003), estudo acerca de gêneros discursivos (Bakhtin, 1997; Eggins, Martin, 1996, Swales, 1990) e de diferentes estudos sobre gênero social (Graddol, Swann, 1992, Talbot, 1998; Walsh, 2001). Ao empregar o arcabouço da Linguística sistêmico-funcional (Halliday, 1985) para a análise de trechos do gênero discursivo jornalístico, focalizaremos na variável de registro campo (field), ligada às categorias gramaticais de transitividade e de vocabulário. Nossa análise se justifica pelo fato de entendermos que no contexto escolar o enfoque funcionalista da gramática está, ainda, ausente, o que nega aos/às alunos/as o acesso ao acontecimento discursivo em diferentes gêneros discursivos, nos quais são constituídas diferentes identidades. Assim, com nosso trabalho, podermos contribuir para o desenvolvimento da conscientização de indivíduos acerca de como a linguagem é poderosa para a constituição de identidades, em especial, as de gênero. Linguagem essa que Fairclough (1989, 2001, 2003) considera prática social e, por isso, possui papel preponderante na manutenção, ou mudança, das relações de poder, podendo contribuir, ou não, para a emancipação de indivíduos. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Análise de Discurso Crítica e a Linguística Sistêmico-Funcional A Análise de Discurso Crítica, considerando a linguagem como prática social e o contexto de uso da linguagem crucial para a construção de sentidos (Fairclough, 2001; Wodak, 2001), tem como objetivo investigar criticamente como as desigualdades são expressas, constituídas,
4 legitimadas pelo uso da linguagem (Wodak, 2001), questionando não só os textos escritos ou orais, mas qualquer semiose, onde temos materializações de escolhas linguísticas que refletem os processos sociais em que os seus/suas produtores/as estão inseridos/as, tornando possível identificar a(s) ideologia(s) subjacente(s) às relações de poder e sua conexão com a linguagem presente no discurso. Ao mostrar que a linguagem é socialmente construída, Fairclough (1992) aponta para a ação dos/as participantes no mundo em condições sócio-históricas particulares que estão refletidas em seus projetos políticos e nas relações de poder que operam. O autor relaciona a construção com a interação social, textos com outros textos e discurso com identidade. Desse modo, as abordagens de Fairclough (1992, 2001, 2003) e de Halliday (1985) são instrumentos para o estudo da linguagem em contextos específicos. Tais abordagens servem para que entendamos o relacionamento entre linguagem e identidade, e fazem vir à tona o papel que as instituições possuem na constituição de identidades e mostram como o poder é distribuído na sociedade e que as identidades não são como algo concluído, mas um processo moldado sóciohistoricamente pelas relações de poder que estão em jogo nas práticas discursivas estando sempre em construção. Ao se analisar as relações de poder desigual, faz-se necessário descrever e teorizar os processos e estruturas sociais que ocasionam a produção de textos e a produção de sentido na interação de indivíduos ou grupos com esses textos. Sendo assim, são importantes para uma Análise de Discurso Crítica os conceitos de poder, história e de ideologia (Thompson, 1995), que é tida como modos pelos quais significados são construídos e expressos por formas simbólicas de vários tipos. Thompson (1995), ainda aponta para os modos de ação da ideologia que naturalizam relações desiguais; entre elas, as de gênero. Ao contrário disso, tomando um viés não determinista, a Análise de Discurso Crítica acredita na relação dialética entre discurso e sociedade, acredita que, com a mudança discursiva, é possível promover a mudança social. O que complementado pela afirmação de Wodak (2001), de que a Análise de Discurso Crítica tem objetivos emancipatórios, o que se revela consonante com o objetivo central de nosso trabalho, a saber, descortinar acontecimentos discursivos para que, no contexto escolar, na leitura crítica de diversos gêneros, alunos(as) possam se conscientizar das ideologias subjacentes aos discursos, em especial, no que se refere a identidades de gênero. Para a prática da Análise de Discurso Crítica, Chouliaraki, Fairclough (1999) apresentam-nos um arcabouço teórico analítico, reunindo três tradições analíticas: a Linguística, a análise textual e linguística; a tradição microsociológica de considerar a prática social como alguma coisa que as pessoas produzem ativamente e entendem com base em procedimentos de senso-
5 comum partilhados, e a tradição macro-sociológica de análise da prática social em relação às estruturas sociais (Chouliaraki, Fairclough, 1999) - ambas tradições de grande importância para o estudo da relação entre linguagem e poder. O quadro analítico da Análise de Discurso Crítica apresenta, segundo Chouliaraki, Fairclough (1999): 1) um problema social (atividade, reflexividade) 2) apresenta obstáculos que precisam ser resolvidos por meio da: a) análise da conjuntura b) análise da prática e do momento discursivo: i) práticas relevantes; ii) relação do discurso com outros momentos b ii a) discurso como parte da atividade, b ii b) discurso e reflexividade c) análise do discurso (a própria semiose): i) análise estrutural: a ordem do discurso ii) análise da interação c ii a) análise interdiscursiva c ii b) análise linguística e semiótica 3) função do problema na prática 4) identifica possíveis modos de vencer os problemas 5) reflexão crítica sobre a análise Em nosso trabalho, ater-nos-emos ao item desse arcabouço destinado à análise linguística e semiótica (c ii b), empregando para isso o arcabouço teórico proposto por Halliday (1985), e nele focalizaremos a transitividade e o vocabulário. Tendo como ideia básica que a língua constrói o contexto social e é por ele construída, a Linguística Sistêmico-Funcional é muito importante para a análise de texto. Ela é empregada na Análise de Discurso Crítica, por ser centrada na análise da linguagem do ponto de vista de como se dá a construção de significados na interação. Assim como Fairclough (1992, 2001, 2003), Halliday (1985) considera a linguagem como prática social, em que os participantes constroem significados, dependendo das circunstâncias históricas, culturais, sociais particulares em que estão envolvidos. De acordo com a Linguística Sistêmico-Funcional, as condições de produção, o contexto em que o texto - contexto de situação - é produzido, os participantes da interação nesse contexto e o modo como os participantes organizam o texto
6 para a comunicação irão influenciar as redes de significados que compõem os diferentes tipos de textos. Pelo fato de Halliday (1985) considerar que os significados se realizam em sociedade, em contextos específicos de comunicação, as variáveis de contexto a de situação e a de cultura - são importantes para a análise. O contexto de situação é ambiente imediato em que o texto está de fato funcionando e serve para explicar por que certas formas foram ditas ou escritas em uma ocasião particular e o que mais poderia ser dito ou escrito. Esse contexto, o de situação, é influenciado por outro mais amplo, mais global, que é o contexto de cultura. Uma vez que o sistema linguístico é construído sócio-historicamente, em determinados contextos, apenas certos significados são possíveis. Temos que os fatores que constituem o contexto de cultura determinam coletivamente a forma como o texto é interpretado em seu contexto de situação. Na Linguística Sistêmico-Funcional, investiga-se o uso efetivo da linguagem em relação à atividade social em jogo e à intenção dos interlocutores. Assim, a linguagem, o texto e o contexto são tidos como os responsáveis pela organização e desenvolvimento da experiência humana. Assim, nesse arcabouço teórico, são estudadas as formas lexicogramaticais em relação a suas funções sociais (Meurer, Motta-Roth, 2002). Ao se ter a linguagem em uso efetivo, temos que o contexto social pode causar impacto no texto, ou seja, dependendo da função de um texto, o mesmo pode ser mais ou menos formal, por exemplo, devido ao fato de ele ser oral ou escrito, bem como pelo grau de proximidade entre autor e leitor. A essa dimensão do contexto de situação, chamamos de variável de registro modo. Tal dimensão está relacionada à metafunção textual que está ligada diretamente à coerência, ela diz respeito ao estabelecimento das relações entre as frases e sua organização interna e ao seu significado, sendo este relacionado a categorias, tais como: tema/rema; dado/novo. Na linguagem dos textos, temos também ilustrados os papéis sociais. Essa dimensão do contexto, que corresponde aos papéis sociais, chamamos variável de registro tenor ou relações. Essa variável está diretamente ligada à metafunção interpessoal, que consiste na interação entre a expressão dos papéis sociais, no desenvolvimento da personalidade do falante e na expectativa do interlocutor. Tal metafunção também reflete como os participantes expressam suas visões de mundo, seus julgamentos, suas atitudes e as relações dos papéis sociais que estabelecem entre si e com o que está sendo dito. As categorias gramaticais de modo e pessoa são relevantes para análises realizadas por meio dessa metafunção.
7 Outra dimensão do contexto de situação está ligada à metafunção ideacional, relacionada ao contexto de situação campo (field). Ela diz respeito ao que está acontecendo, à natureza da ação social, serve à expressão do conteúdo. Os significados ideacionais estão ligados à categoria gramatical de transitividade. Por meio dessa categoria, cada oração é analisada pelo tipo de processo no qual estão integrados os participantes, a meta e as circunstâncias. Diferentemente de Halliday (1985), Fairclough (1992) distingue duas subfunções da metafunção interpessoal, a saber: a relacional o texto na constituição das relações - e a identitária o texto na constituição das identidades pessoais e sociais. Adotaremos a classificação de Halliday (1985). O que há em comum entre esses autores é que, para eles, todas as funções coexistem em um discurso e são importantes em uma análise de discurso porque nos permitem perceber a linguagem presente no texto como representante e constitutiva da realidade, das relações sociais e construtora de identidades sociais. Ainda têm em comum que as diferentes funções sociais de um texto determinam sua estrutura, que correspondem a diferentes maneiras de usar a linguagem para cumprir diferentes tarefas constituindo diferentes gêneros discursivos. 2.2 Gêneros Discursivos Discussão insistente desde Aristóteles (2004) em seus estudos sobre poética e retórica, o estudo dos gêneros vem se transformando desde a classificação de obras em líricas, épicas e dramáticas até o entendimento de que é necessária uma abordagem do texto que privilegie a interação. Abordagem essa que tem sido discutida por diferentes autores/as, tais como: Swales (1990), Bakhtin (1997), Fairclough (1992), Christie, Martin (1997), Eggins, Martin (2000). Swales (1990) afirma que um gênero linguístico compreende uma classe de eventos comunicativos, cujos membros compartilham um conjunto de propósitos também comunicativos bem definidos. Esses propósitos são conhecidos pelos membros da comunidade discursiva que é definida por esse autor como Um grupo de pessoas que compartilham propósitos comunicativos para alcançar objetivos comuns (1990, p. 24). Um gênero, para Swales (1990), no que se refere ao seu conteúdo e à sua forma, deve ter características e regularidades mais ou menos previsíveis e, além disso, um caráter funcional. Para ele, as características de um gênero não poderiam ser totalmente previsíveis, posto que se transformaria em um ritual. Ainda para esse autor, as manifestações do gênero linguístico, além dos propósitos comunicativos, mostram padrões de semelhança em termos de estrutura, estilo, conteúdo e público. Quando todos esses critérios forem satisfeitos, uma determinada
8 ocorrência será vista como prototípica pela comunidade discursiva, contendo em si passos mais ou menos previsíveis são os passos prototípicos de Swales (1990) - que devem estar presentes para que o gênero possa se constituir enquanto tal. Manifestos em textos, os gêneros discursivos são entendidos por Bakhtin (1997) em um enfoque discursivo. Esse autor, que insiste no caráter social dos fatos de linguagem, considera o enunciado como o produto da interação social, sendo que cada palavra é definida como produto de trocas sociais, em um dado contexto que constitui as condições de vida de uma dada comunidade linguística. Sendo social, e ocorrendo em um dado contexto, os gêneros são diversos, as produções de linguagem são diversas e são tipos relativamente estáveis de enunciados sendo caracterizados pelos seus conteúdos temáticos, estilo e construção composicional dos quais se utilizam. Esses enunciados padronizados, relativamente estáveis, marcados por aspectos sociais, históricos e temporais de seu meio assim o são por refletirem as finalidades e condições específicas de cada instituição que, à medida que cresce também em sua complexidade, amplia o seu repertório de gêneros discursivos em uso. Por isso, embora pareça eternamente estável, o gênero discursivo assim não o é. Apesar das coerções que modelos nos impõem, devido ao nosso conhecimento do padrão do gênero eventualmente em questão, ele não é uma forma fixa, um todo acabado. Ele é heterogêneo, dialogal, intergenérico e, segundo Brandão (2000, p. 38), é instituição discursiva, forma codificada sócio-historicamente por uma determinada cultura e enquanto objeto material, isto é, enquanto materialidade linguística que se manifesta em diferentes formas de textualização. Bakhtin (1997, p. 281), devido à heterogeneidade dos gêneros do discurso e à consequente dificuldade de se encontrar e definir o caráter genérico de enunciado, propõe a distinção dos gêneros do discurso em dois tipos: os primários, também ditos simples, e os secundários, ditos complexos. Os primários seriam aqueles ligados à vida cotidiana como, por exemplo, diálogo cotidiano, carta. Já os secundários ou complexos o romance, o teatro, o discurso científico o discurso ideológico etc - aparecem em circunstância de uma comunicação cultural, mais complexa e relativamente mais evoluída, principalmente na escrita: artística, científica, sociopolítica. Essa divisão entre gêneros primários e secundários, proposta por Bakhtin (1997), é de vital importância, pois é na inter-relação entre os gêneros primários e o processo histórico de formação dos gêneros secundários, como o romance, que esclarece a natureza do enunciado e o problema da correlação entre língua, ideologia e visões de mundo.
9 Já Fairclough (1992) define gênero discursivo como uma série relativamente estável de convenções que é associada a um tipo de atividade ratificada socialmente, tal como um poema, um artigo científico. Para esse autor, um gênero implica não apenas um tipo de texto em particular, mas também processos particulares de produção, distribuição e consumo de textos. Por exemplo, artigos de jornais e poemas não são apenas tipicamente diferentes tipos de textos, mas eles também são produzidos de diferentes formas, um é produto coletivo, outro é produto individual, ambos têm diferentes tipos de distribuição e são consumidos diferentemente o último, incluindo diferentes modos de leitura e de interpretação. Por um lado, os gêneros recebem influência das funções, dos objetivos, das convenções e normas sociais que o precedem, fazendo surgir formas convencionalizadas que representam o momento social que o originou; por outro, cada indivíduo irá exercer influência na produção de textos, pois cada um tem sua história, cada um desempenha um papel em um determinado grupo social e estará, portanto, habituado a determinadas práticas discursivas. Entretanto, a forma e o significado atribuídos a seu texto são determinados tanto pelo discurso quanto pelo gênero discursivo. Assim, podemos dizer que o conceito de gênero tem uma estreita ligação com o conceito de texto e de discurso. Fairclough (2003) aponta para a necessidade de encontrar um padrão na análise de textos e interação, mas não de se pensar que eles sempre são organizados em termos de uma estrutura genérica clara, uma vez que, com tantas transformações sociais, os diversos gêneros, assim como as formas de ação e de interação, se transformam. E nessa transformação, novos gêneros vão surgindo até mesmo em decorrência da combinação de gêneros já existentes. Além disso, somente determinados gêneros são bem definidos no que diz respeito à finalidade e estrutura genérica, e esses tendem a ser especializados dentro dos sistemas sociais por ação estratégica (Habermas, 2000). Rothery, Stenglin (1997 in Christie, F., Martin, J. 1997), ao tratarem do gênero narrativa, afirmam que ele tem o importante papel de introduzir os membros de uma cultura em formas valorizadas de comportamento, além do papel de construir valores, conservar as sequências de atividades em ordem para manter a estabilidade da cultura, tendo também o potencial de mudá-la. Isso pode ser realizado, pelo fato de, para leitores/as jovens, ela jogar luz ao importante papel do indivíduo na cultura, papel esse desempenhado pela linguagem e pela identidade de gênero de cada participante de uma dada cultura. 2.3 Linguagem e Identidade de Gênero
10 No que diz respeito a gênero social o que caracteriza o masculino e o feminino temos que ele é um construto social elaborado no discurso e que está discursivamente ligado ao sexo: homens devem ser masculinos, mulheres devem ser femininas, com tudo que isso implica e, segundo Badinter (1993, p. 99), a identidade masculina está associada ao fato de possuir, tomar, penetrar, dominar e se afirmar, se necessário pela força. A identidade feminina, ao fato de ser possuída, dócil, passiva, submissa. Porém, tal divisa tão distinta tem sido transformada no contexto social no qual vivemos, bem como nos textos socialmente produzidos. Já Crawford (1995, apud Walsh, 2001) não percebe essa dicotomia como homogênea, e afirma que devemos evitar pensar em gênero com essa distinção. Para Graddol, Swann (1992), a identidade de gênero é constituída na interação entre linguagem e processos sociais e, uma vez que há relação entre linguagem e estrutura social, é possível que a relação homens e mulheres não seja necessariamente um processo assimétrico; é possível que se trate de um processo fragmentado, no qual as mulheres possam estar sendo, sim, controladas pelos homens, mas no qual também há espaço para a luta em busca de liberação e ainda espaço para que as mulheres exerçam poder. Seguindo esse raciocínio, o da relação entre linguagem e estrutura social, Magalhães (1995) discute as relações de gênero no Brasil, indicando uma tensão entre duas formas de coexistência em textos sobre mulheres: o discurso de controle e o discurso de liberação. O discurso de controle, segundo afirma a autora, diz respeito ao (bom) comportamento que se espera das mulheres, frequentemente tratadas como não-sujeitos, ou seja, seres indefesos e incapazes de ter opinião própria. Por outro lado, o discurso de liberação, bastante recente na história do Brasil, e normalmente associado à vida urbana, é uma espécie de reação contra o discurso de dominação do sexo masculino. Podemos perceber que as abordagens de linguagem, de acordo com a proposta de Halliday (1985), propiciam reflexões a respeito da identidade de gênero como um dos aspectos da vida social moldada pela linguagem. Da mesma forma, Fairclough (1992, 2001, 2003) relata a sua compreensão do relacionamento entre linguagem e identidade e integra o estudo da linguagem à sua discussão acerca o contexto de produção, mostrando que o texto é inseparavelmente ligado aos seus processos de produção e interpretação e esses aspectos, por sua vez, são inerentes ao contexto sócio-histórico em que os participantes do evento discursivo estão inseridos. Os estudos de Fairclough (1992, 2001, 2003) muito contribuíram para que fizéssemos uma correspondência entre valores, crenças e práticas, em contextos específicos, para moldar a
11 linguagem e para entender como o papel desse é relevante para manter e contestar esses valores, crenças e práticas dentro de contextos específicos de cultura. A contribuição de Fairclough (1992) para os estudos acerca do discurso e da identidade, e por extensão sobre identidade de gênero, deve-se às reflexões acerca da construção da identidade em um contexto de valores institucionais e culturais flutuantes. Para ele: o discurso contribui para o processo de mudança social em que as identidades sociais ou os eus associados a domínios e instituições específicas são redefinidos e reconstruídos. (p. 137);... a maioria, senão todas as dimensões analíticas separáveis de discurso têm algumas implicações diretas ou indiretas para a construção da identidade. (p. 167) e, por fim:... quando um discurso enfatiza a construção, a função de identidade da linguagem, este começa a assumir grande importância, pois as formas pelas quais as sociedades categorizam e constroem identidades para os seus membros é um aspecto fundamental de como elas atuam e de como relações de poder são expostas e exercidas, de como as sociedades são reproduzidas e mudadas. (p. 168) Dessa forma, Fairclough (1992) mostra em seus estudos como a linguagem é socialmente construída e certamente como ela tem se constituído a mais poderosa de todas as mídias semióticas para a construção social da realidade. Mostra, ainda, que os participantes agem no mundo em condições sócio-históricas particulares que estão refletidas sem seus projetos políticos e nas relações de poder em que operam. Ele relaciona construção social com interação social, textos com outros textos e discurso com identidade. 3 Análise A análise aqui apresentada foi realizada de acordo com a concepção da Análise de Discurso Crítica, proposta por Chouliaraki, Fairclough (1999), Fairclough (1992, 1991, 2003) em consonância com a Linguística Sistêmico Funcional (Halliday, 1985). Para a análise textual do gênero discursivo jornalístico, tomamos os padrões léxicogramaticais que compõem os textos investigados, no que se refere a uma das funções propostas por Halliday (1985): a ideacional. Tal metafunção, por se tratar da representação das idéias, da experiência humana, pode ajuda a revelar conhecimentos, gostos, preconceitos, valores, visão de mundo estilos de vida, modos de pensar e de agir subjacentes a escolhas léxico-gramaticais presentes na composição do texto prática discursiva importante na constituição de identidades de gênero. Por ser um dos recursos analíticos de textos ligado à função ideacional, a transitividade e o vocabulário serão os recursos analisados em nosso trabalho. Por meio dessas categorias analíticas, podemos interpretar aspectos ideológicos, socioculturais,
12 identificando como ações e atividades humanas são representadas no discurso que realidade está sendo tratada e quais identidades são constituídas. Ao se trabalhar com a categoria lexicogramatical de transitividade, sabemos que ela apresenta funções e papéis: processos representados por verbos, funções participantes e funções circunstanciais. Fairclough (2003) entende que há divisão na forma de representar os processos e, também, na representação dos participantes, que ele chama de atores sociais. Para ele, nem todo participante é ator social. Por exemplo: O carro bateu em Mary e O carro bateu na rocha. Nesses exemplos, tanto Mary quanto rocha são objetos ou participantes, mas somente Mary desempenha o papel de ator social. Nos exemplos que analisamos; cujo campo, tema, é o aborto; temos relações desiguais, o que será comprovado pela análise, e o modo o texto jornalístico é um grande veiculador de opiniões que contribui sobremaneira para a construção do senso comum, caso o/a leitor/a não tenha uma visão questionadora dos fatos abordados. Nesses exemplos, segundo a discussão de Fairclough (2003), os participantes presentes nos textos analisados ora são atores sociais, ora não o são, pois em alguns momentos, tomam certas iniciativas, em outros não. Notamos, porém, que mesmo sendo atores sociais, as identidades cunhadas para cada um dos participantes por meio dos processos nos quais se encontram envolvidas são diferentes, com o poder distribuído de forma desigual, estando a mulher em situação fragilizada. Os principais participantes presentes nos 6 (seis) textos analisados são: Igreja (arcebispo), Lei (médicos, delegados), Menina, Mãe da menina, Padrasto da menina. Para cada um desses participantes, temos processos a eles relacionados. Quando há referências à Igreja, representada pelo Arcebispo, temos, por exemplo, o emprego do processo material condenar 2, indicando que a igreja tem o poder de praticar tal ato condenar -, o que já não ocorre com os demais participantes, cuja voz, nem sempre aparece. Quando há referências à igreja, também há vários processos verbais 3 a ela relacionados, indicando a força, o poder de sua voz. O fato de a igreja afirmar, indica o poder a ela atribuído, pois essa ação por ela praticada nem sempre é questionada ou se o é, a ela ainda permanece com uma autoridade que não é atribuída a outros dois participantes que aparecem nos textos: à mãe da menina e menina, cujos nomes também não aparecem. Nesse caso, a 2 De acordo com a lei de Deus, a igreja condena todos os pecados. Homicídio é pecado. Quem comete não está excomungado, mas é um pecado grave. Roubar, assaltar e estuprar também são pecados, mas não tão graves como o aborto. (3) 3 Antes de pensar em excomunhão, era necessário e urgente salvar aquela vida inocente, disse o monsenhor Rino Fisichella. (1); já que as regras da Igreja Católica ordenam a exclusão automática.(1); Arcebispo afirma que aborto é mais grave que estupro. (3)
13 igreja afirma algo sobre o aborto que fora realizado na menina, e não praticado por ela, condenado também a sua mãe Pela igreja, o aborto é tido como crime e quem o praticou é excomungado: médicos, menina, mãe da menina. Já pela lei (médico e delegado), o aborto é representado como algo permitido em certas circunstâncias, inclusive para salvar vidas, o que é materializado com o emprego de processos relacionais 4 - aqueles ligados à representação de estados de identidade e de posse, identificando ou classificando atores sociais. A menina e da mãe da menina 5 não são condenadas, mas os processos a elas relacionados são processos cujos participantes não são ativos, ou seja, elas sofrem as ações dos processos (a menina recebeu alta; ela e a mãe foram levadas a um abrigo No que refere à mãe da menina, há o emprego de processos relacionais 6, indicando que a ela recebe julgamentos, atribuições, no caso, negativas, e não pratica ação nenhuma, o que indica que ela não é agente, não pratica ações, o que mostra a sua fragilidade. Ao nos referirmos aos participantes menina e mãe da menina, é importante notar que elas não são nomeadas e nem suas vozes são explicitadas. Isso pode indicar a falta de credibilidade de suas vozes, a falta de poder em julgar o ato que sofreram; a susceptibilidade de serem julgadas sem poderem argumentar sobre o julgamento a elas imputado. Não aparecem processos materiais ligados a esses participantes, podendo isso ser indicativo da falta de possibilidade de ação desses participantes. Quanto ao padrasto da menina, há vários processos relacionais ligados a ele, indicando também a sua rotulação. Mas o que chama a atenção é que um dos rótulos que recebe foi o de não ser excomungado 7, apesar do estupro cometido e pelo aparecimento de um processo verbal: confessou, indicando que, mesmo para se condenar frente à justiça, ele teve vez e voz, o que não aconteceu com a menina e com a mãe da menina. Para além das vozes aqui representadas ou não, temos ainda que os atores igreja e lei aqui têm suas vozes ouvidas e, mesmo a reportagem levando ao público o relato de um crime estupro cometido, o que prevalece nas reportagens é a luta de poder entre igreja e a justiça, a luta pela 4 O aborto é permitido por lei em vítimas de estupro até a 20ª semana de gestação e pode se feito conforme a avaliação médica, sem autorização judicial. (5) 5 A menina, que estava com quase quatro meses de gravidez e passou pelo aborto na quarta, recebeu ontem alta médica. (3); Ela e a mãe foram levadas a um abrigo. A menina vai continuar recebendo atendimento psicológico. (4) 6 Mãe da menina de 9 anos que abortou gêmeos depois de ter sido estuprada pelo padrasto foi indiciado quinta-feira, mas desconhece ação. (2); As duas filhas que eram abusadas sexualmente havia mais de três anos e a mãe estão sob tutela da Secretaria Especial da Mulher. (2); Mãe de menina que abortou é indiciada. Ela é acusada de negligência; para delegado, houve omissão em proteger filha de 9 anos que engravidou do padrasto. (4) 7 O padrasto, que confessou à polícia ter abusado da menina e da irmã por três anos, está preso. Não foi excomungado. (1);... onde o padrasto responde pelo estupro das duas meninas. Ele está preso desde o dia 27 de fevereiro em Pesqueiro, cidade vizinha.
14 razão. Para isso, a menina que sofreu estupro, sua mãe e seu padrasto aparecem como participantes não ativos de processos que contribuem para elucidar suas identidades como passivos, sem voz, sem ação, uma vez que não há processos materiais ligados a esses participantes. Com essa análise, que não é conclusiva, demonstramos o quanto há ideologias veiculadas em gêneros jornalísticos, o que contribui para a constituição de identidades de gênero. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio da análise da transitividade, podemos analisar o que está sendo dito e como o/a autor/a representa fatos da realidade, certamente baseando-se em valores, princípios que fazem parte de sua visão de mundo, ou de seus padrões ideológicos. Temos a representação de uma prática o aborto que contribui para eludicar identidades de gêneros e relações que se pautam no poder. As identidades não são essenciais, e podemos notar que ao analisar identidades de mulheres, não podemos rotulá-las de submissas ou não, como se todas fossem iguais. Pois, além da categoria de gênero, outras como raça/etnia e classe contribuem para a constituição de suas identidades. Ao trabalharmos com a Análise de Discurso Crítica, a Linguística Sistêmico-Funcional, teorias sobre Gêneros Discursivos, bem como com Gênero Social, estaremos contribuindo para que, sob o ponto de vista da Linguística, as questões referentes a gênero sejam repensadas, por exemplo, ao trabalharmos com o desvelar dos estereótipos constituídos em diversos gêneros discursivos Para esse Fairclough (2001), a escolha das palavras empregadas em um texto não é de natureza puramente individual, - uma vez que a cada palavra ou expressão dita, corresponde a outra ou outras que foram silenciadas, e essa escolha não é inocente, trazendo no seu bojo a construção da realidade de uma época, de uma sociedade, e de um contexto no qual suas identidades construídas, também por meio da transitividade, do vocabulário, da palavra que, com sua discursividade, produz efeitos de sentido, - e a relação das palavras com os significados é de muitos-para-um e não de um-para-muitos, em ambas as direções: as palavras têm vários significados (Fairclough, 2001) sendo o significado das mesmas constituídos no interior de processos sociais e culturais muito amplos. O que pode ser descortinado por meio de análise das metafunções (Halliday, 1985) presentes nos textos. Em conformidade com a discussão de Wodak (2001), temos elucidada na análise como as desigualdades são expressas, constituídas, legitimadas pelo uso da linguagem. Os processos
15 expressos no gênero possuem valor semântico diferentes, desiguais para os participantes envolvidos no fato, legitimando o poder (igreja e justiça) para uns e silenciando outros (menina, mãe da menina). Conforme a discussão de Fairclough (1992), as ações dos participantes estão cerceadas por condições sócio-históricas que ainda dês/legitimam certas práticas, dentre elas o aborto, o que é reforçado por algumas instituições (igreja) que ainda mantêm o poder desigualmente distribuído na sociedade. Tudo isso contribui para a constituição de identidades de gêneros que, mesmo não sendo essenciais, ainda, no caso dos textos analisados, não apresentam - ou não é permitido mostrar resistência ao status quo. Essa possível não resistência é corroborada pelo modo como o texto é organizado, no caso pela jornalista, que pode constribuir para que certos significados sejam veiculado e outros não, contribuindo para a construção de visões de mundo, julgamentos e valores. Em todos os textos analisados, o foco parece estar voltado para o aborto e para quem o praticou. Não fora questionadas ai as identidades de gênero que, segundo Badinter (1993, p. 99) a identidade masculina está associada ao fato de possuir, tomar, penetrar, dominar e se afirmar, se necessário pela força. A identidade feminina, ao fato de ser possuída, dócil, passiva, submissa. Isso corrobora com a discussão de Magalhães (1995), que afirma ser preponderante no Brasil o discurso de controle, contribuindo para a construção de identidades de mulheres como seres indefesos e incapazes de opinião própria. O questionamento dos discursos sobre gênero social deve ser questionado no contexto escolar, o que contribuirá para a formação de cidadãos/as críticos/as uma das funções da escola. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARISTÓTELES. Arte poética. São Paulo: Martin Claret, AZEVEDO, A. O cortiço. São Paulo: FTD, BADINTER, E. XY: sobre a identidade masculina. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, BAYNHAM, M. Literacy practices. Londres: Longman, 1995 BRANDÃO, N. H. (coord.). Gêneros do discurso nas escola. São Paulo: Cortez, CHOULIARAKI, L.; FAIRCOUGH, N. Discourse in late modernity. Edimburgo: Edinburg University Press, 1999.
16 CHRISTIE, F.; MARTIN, J. (eds.). Genre and institutions: social process in the workplace and school. Londres e Nova York: Continuum, EAGLETON, T. Ideologia. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista: Boitempo, FAIRCLOUGH, N. Analysing discourse: textual analysis for social research. Londres e Nova York: Routledge, FAIRCLOUGH, N. Critical discourse analysis as a method in social scientific research. In: WODAK, R.; MEYER, M. Methods of critical discourse analysis. Londres: Sage Publications, FAIRCLOUGH, N. Discourse and social change. Cambridge: Polity Press, FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. Coord. Trad. I. Magalhães. Brasília: Editora Universidade de Brasília, FAIRCLOUGH, N. Language and power. Londres, Longman, GEE, J. Social linguistics and literacies: ideology in discourses. Hampshire: The Falmer Press, 1990 GRADDOL, D.; SWANN, J. Gender voices. Oxford: Blackwell Publishers, HABERMAS, J. O discurso filosófico da modernidade. São Paulo: Martins Fontes, HALLIDAY, M. A. K. An introduction to functional grammar. Londres: Edward Arnold, Learning how to mean: explorations in the development of language. Londres: Edward Arnold, HARVEY, D. A condição pós-moderna. 11. ed. São Paulo: Loyola, MAGALHÃES, Maria Izabel Santos. A critical discourse analysis of gender relations in Brazil. Journal of Pragmatics, 23: 1995, pp MEURER, J. L.; MOTTA-ROTH, D. (orgs.). Gêneros textuais e práticas discursivas: subsídios para o ensino de linguagem. Bauru, SP: EDUSC, ROTHERY, J.; STENGLIN, M. Entertaining and instructing: exploring experience through story. In: CHRISTIE, F.; MARTIN, J. (eds.). Genre and institutions: social process in the workplace and school. Londres e Nova York: Continuum, STREET, V. B. (ed.). Croos-cultural approaches to literacy. Cambridge: Cambridge University Press, STREET, V. B. Literacy in theory and practice. Cambridge: Cambridge University Press, STREET, V. B. Social literacies. Londres e Nova York: Longman, 1995.
17 SWALES, J. M. Genre analysis: english in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, SWANN, J. Girls, boys and language. Nova York: Cambridge University Press, TALBOT, M. Language and gender. Cambridge: Polity Press, THOMPSON, J. B. ideologia e cultura moderna: teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. Petrópolis, RJ: Vozes, TODOROV, T. As estruturas narrativas. 4 ed. São Paulo: Perspectiva, WALSH, C. Gender and discourse: language and power in politics, the church and organisations. Londres: Longman, WODAK, R.; MEYER, M. Methods of critical discourse analysis. Londres: Sage Publications, REFERÊNCIA DOS ARTIGOS ANALISADOS 1) MÉDICO não merecia a excomunhão, diz Vaticano. Folha de S. Paulo, São Paulo, 16 mar Cotidiano, p. C3. 2) MULHER será julgada por crime de omissão. Estado de Minas, Belo Horizonte, 19 mar Nacional, p ) BAPTISTA, R.; ODILLA, F. Arcebispo afirma que aborto é mais grave que estupro. Folha de S.Paulo. São Paulo, 7 mar Cotidiano, p. C1. 4) BAPTISTA, R. Mãe de menina que abortou é indiciada. Folha de S. Paulo. São Paulo, 28 mar Cotidiano, p. C3. 5) BAPTISTA, R. Igreja excomunga mãe e médicos após o aborto. Folha de S.Paulo, 6 mar Cotidiano, p. C3. 6) ABORTO e excomunhão. Folha de S. Paulo, São Paulo, 7 mar Opinião, p. A2. ANEXO Participante/s Igreja Processo/s a)arcebispo defende médicos e mãe da garota de 9 anos submetida a aborto após estupro (1) b) Antes de pensar em excomunhão, era necessário e urgente salvar aquela vida inocente, disse o monsenhor Rino Fisichella. (1) c) A nota do arcebispo, que preside a Pontifícia Academia para a Vida, causou surpresa, já que as regras da Igreja Católica ordenam a exclusão automática.(1) d) Arcebispo afirma que aborto é mais grave que estupro. (3) e) De acordo com a lei de Deus, a igreja condena todos os pecados. Homicídio é pecado. Quem comete não está excomungado, mas é um pecado grave. Roubar, assaltar e estuprar
18 Lei (médicos, delegados) Menina também são pecados, mas não tão graves como o aborto. (3) f) De acordo com o religioso, o aborto é um crime previsto nas leis de Deus e quem o induziu está automaticamente excluído da comunhão com a Igreja... (5) g) Deve ser por causa dessa assombrosa linha de raciocínio que o bispo se eximiu de aplicar a mesma sanção ao estuprador. (6) h) Entre milhares de casos, dom José elegeu um de enorme relevo para distribuir a excomunhão. O bispo é o mesmo que, no ano passado, tentou impedir, na Justiça, a distribuição de pílulas do dia seguinte pela rede pública de saúde de Pernambuco. (6) a) Médico não merecia a excomunhão, diz Vaticano (1) b) Na quinta-feira, o delegado Antônio Dutra, titular da cidade de alagoinha, município no agreste pernambucano onde o crime ocorreu, divulgou a conclusão do inquérito sobre o caso. (2) c) O aborto é permitido por lei em vítimas de estupro até a 20ª semana de gestação e pode se feito conforme a avaliação médica, sem autorização judicial. (5) d) O ministro Temporão fez duras críticas à Igreja e ao arcebispo... (5) e) Temporão defendeu o aborto realizado. (5) f) Além disso, a Justiça tem autorizado a intervenção em caso de malformação fetal que inviabilize a vida extra-uterina. (6) g) A equipe médica cumpriu com sua obrigação profissional e ética, amparada ainda em norma técnica do Ministério da Saúde que deixou de exigir registro de ocorrência policial como condição para fazer o aborto. a) A menina, que estava com quase quatro meses de gravidez e passou pelo aborto na quarta, recebeu ontem alta médica. (3) b) Ela e a mãe foram levadas a um abrigo. A menina vai continuar recebendo atendimento psicológico. (4) c) A garota, por ser menor de idade, não foi excomungada. (5) Mãe da menina a) Mãe da menina de 9 anos que abortou gêmeos depois de ter sido estuprada pelo padrasto foi indiciado quinta-feira, mas desconhece ação. (2) b) As duas filhas que eram abusadas sexualmente havia mais de três anos e a mãe estão sob tutela da Secretaria Especial da Mulher. (2) c) Mãe de menina que abortou é indiciada. Ela é acusada de negligência; para delegado, houve omissão em proteger filha de 9 anos que engravidou do padrasto. (4) Padrasto da a) O padrasto, que confessou à polícia ter abusado da menina e da irmã por três anos, menina está preso. Não foi excomungado. (1) b)... onde o padrasto responde pelo estupor das duas meninas. Ele está preso desde o dia 27 de fevereiro em Pesqueiro, cidade vizinha.
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