FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA E QUALIDADE DE ENSINO: UM DESAFIO PARA OS MUNICÍPIOS
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- Ângela Marinho di Azevedo
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1 FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA E QUALIDADE DE ENSINO: UM DESAFIO PARA OS MUNICÍPIOS Luis Antonio Pereira Lima* RESUMO: No presente trabalho, faz-se uma abordagem acerca do financiamento da educação pública no Brasil, mais especificamente a educação básica, que, ao longo da história, tem sido um desafio para os Municípios principalmente aqueles de baixas arrecadações e integrantes de regiões menos desenvolvidas economicamente. PALAVRAS CHAVE: Educação básica; recursos financeiros. ABSTRACT: In this present labor to come an aproach about to public education's financing in Brazil, more specific the basic education, that at long in the our history to have was a challenge of the Brazilian's Town, principally that is under collection and number is region least economic development. KEY-WORDS: Basic education; financial resources. *Professor de Metodologia do Ensino da Geografia no Curso Normal Superior da FAMAM Faculdade Maria Milza.
2 56 O financiamento da educação pública no Brasil é uma preocupação que antecede ao período republicano, na Constituição de 1824, outorgada pelo imperador D. Pedro I já era prevista a educação pública e gratuita, mas o grande entrave do período foi a falta de indicação das fontes de recursos para atender tal fim. Ao suscitar tais discussões, não se faz aqui um histórico do financiamento da educação básica no País, mas busca-se indicar um ponto de partida para nossa reflexão e tecer algumas considerações sobre os mecanismos legais de que dispõe o poder público para fazer os investimentos na educação. Pois o desenvolvimento de um país está relacionado à qualidade da educação de sua população e nesse particular GADOTTI, diz que o desenvolvimento de uma nação está condicionado à qualidade social de sua educação. (2000) Os diversos momentos de discussão sobre financiamento de educação no Brasil sempre esbarraram em alguns questionamentos: a) Quais as fontes de financiamento? b) Quais modalidades devem ser atendidas? c) Quais as responsabilidades de cada Ente Federado? d) Quais as receitas e valores devem ser utilizados nas modalidades de suas responsabilidades? Estas indagações passam a ter respostas a partir da Constituição Federal de 1988 (C.F.) conhecida como Constituição cidadã no seu artigo 211 e regulamentada pela Emenda Constitucional (E.C.) nº 14 de 12 de setembro de 1996, quando define o papel e a área de atuação dos Estados, dos Municípios e da União no campo educacional: 1º A união organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios, financiará as instituições de ensino públicas federais e exercerá, em matéria educacional, função redistributiva e supletiva, de forma a garantir equalização de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante assistência técnica e financeira aos estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil. 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino fundamental e médio. A partir desse preceito legal que definiu as responsabilidades de cada ente federado, criaram-se também os mecanismos de financiamento garantindo percentuais mínimos que pudessem assegurar uma educação pública de qualidade. O artigo 60 do Ato das Disposições Transitórias Constitucionais define os
3 percentuais de no mínimo 60% (sessenta por cento) dos recursos previstos no Caput do artigo 212 da Constituição Federal a serem investidos pelos Municípios e pelos Estados na manutenção e no desenvolvimento do ensino fundamental, ou seja, 25% (vinte e cinco por cento) de suas arrecadações. A Emenda Constitucional nº 14 no parágrafo segundo do artigo 5º determina os percentuais para a criação do Fundo de desenvolvimento Manutenção e valorização do Magistério FUNDEF o qual será consolidado a partir da Lei Federal de 24 de dezembro de O Fundo será composto de 15% (quinze por cento) do total das seguintes receitas no âmbito de cada ente federado: FPM Fundo de Participação dos Municípios, FPE Fundo de Participação dos Estados, ICMS Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, IPIexp Imposto Sobre Produtos Industrializados, proporcional às exportações. Todo esse conjunto de preceitos legal tem como objetivo principal a garantia da equidade e universalização do ensino fundamental no País com um mínimo de qualidade social. Essa preocupação torna-se visível nas palavras do secretário de educação básica do MEC: O Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério FUNDEF tem como foco o Ensino fundamental público, como o mais representativo segmento da educação básica oferecida pelos Estados e Municípios Brasileiros. Seu objetivo é promover a universalização, a manutenção e a melhoria da qualitativa desse nível de ensino, particularmente no que tange à valorização dos profissionais do magistério em efetivo exercício. (FERNANDES 2004, p.05 in Manual do FUNDEF) É inegável as contribuições que o FUNDEF trouxe para a gestão educacional nos Estados e Municípios possibilitando um maior investimento no ensino fundamental, mas não se podem ocultar as dificuldades para estes últimos em alocar um maior aporte de recursos para o financiamento da educação infantil. Dificuldades estas que, em muitos casos, têm impedido a universalização desta modalidade gerando, assim, a impossibilidade do cumprimento de políticas públicas de atendimento às crianças de zero a seis anos. No atual momento de obstáculos de alocação de recursos, pelo qual passa a educação básica, é imprescindível a criação de outra forma de financiamento da educação pública na sua totalidade para qual a União garanta um maior aporte de recursos financeiros. O Projeto de Emenda Constitucional, que tramita no Congresso Nacional aprovado por unanimidade em dois turnos na Câmara dos Deputados para criação do FUNDEB Fundo Único Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica traz, nas entrelinhas, também características de atendimento parcial, uma vez que exclui do processo o atendimento às crianças de Zero a 3 anos. Por isso, é imperiosa uma reformulação do fundo único antes da aprovação final para universalizar de fato a educação básica em todas suas etapas. 57
4 58 Com vigência prevista de 14 anos, ou seja, até 31/12/2019, FUNDEB Fundo Único Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica, será composto dos impostos e de transferências que atualmente integram o FUNDEF: FPE Fundo de Participação dos Estados, FPM - Fundo de Participação dos Municípios, ICMS Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, IPIexp Imposto Sobre Produtos Industrializados proporcional às exportações. E, LC 87/96 lei complementar, além do IPVA - imposto de propriedade de veículos automotores, ITCMD - imposto de transmissão de causas mortis e doações, ITR - imposto territorial rural e IRRF - imposto de renda retido na fonte. (Emenda Constitucional 053/2007). A proposta do governo é aumentar a vinculação dos recursos de 15% para 20%, devendo a contribuição dos Estados, Distrito Federal e Municípios ser progressiva, até alcançar no 4º ano 20% das receitas, sendo: 16,5% (1º ano), 17,5% (2º ano), 18,75% (3º ano) e 20% (4º ano) referentes às receitas que compõem o FUNDEF atualmente: FPM Fundo de Participação dos Municípios, FPE Fundo de Participação dos Estados, ICMS Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, IPIexp Imposto Sobre Produtos Industrializados proporcional às exportações, LC 87/96. 5% (1º ano), 10% (2º ano), 15% (3º ano) e 20% (4º ano), para as receitas: IPVA - imposto de propriedade de veículos automotores, ITCMD - imposto de transmissão de causas mortis e doações, ITR - imposto territorial rural e IRRF - imposto de renda retido na fonte. A previsão do Governo Federal é que no quarto ano de vigência do Fundo, os investimentos na educação básica atinjam os valores na ordem de 50 bilhões de Reais. No que diz respeito à sua participação no rateio das contribuições, é de apenas 4,5 bilhões (quatro bilhões e meio de Reais) ficando, desta forma, a cargo dos estados e municípios a responsabilidade de arcar com uma maior parcela no montante a ser aplicado, cerca de 45,5 bilhões (quarenta e cinco bilhões e meio de Reais), ou seja, 91%(noventa e um por cento) do total, enquanto a União participa com apenas 9% (nove por cento). Contudo, ao fazer uma comparação com a participação atual das esferas de governo nos aportes de recursos financeiros, percebe - se que houve um avanço muito pequeno por parte da União, saindo de 7% (sete por cento) para 9% (nove por cento), ou seja, um aumento de dois por cento considerando o montante do investimento enquanto estados e municípios têm cada vez mais a margem de consignação crescente no novo processo de financiamento da educação saindo de 15% (quinze por cento) para 20% (vinte por cento). Isto representa respectivamente 60% e 80% dos recursos previstos pela Constituição Federal para manutenção e desenvolvimento de educação no âmbito dos Estados e Municípios. Discutir, aqui, quem sai ganhando ou perdendo neste conflito, não é o propósito deste trabalho, mas suscitar algumas reflexões atinentes à responsabilidade social com a educação de cada esfera de governo. Por isso serão feitas algumas indagações, visto que a União possui uma dívida social com
5 os Estados e Municípios por conta do não cumprimento da legislação no repasse de recursos do FUNDEF, na ordem de quarenta bilhões de Reais. a) Nessa nova proposta de financiamento a educação básica terá uma melhor qualidade social? b) A dívida da União com os estados e municípios teve influência na baixa qualidade social da educação? c) O FUNDEF realmente promoveu a valorização dos profissionais de ensino fundamental? d) Existe alguma incompatibilidade de investimento na qualificação e remuneração do professor e a disponibilidade de recursos financeiros? Estas e outras questões revelam a complexidade do financiamento da educação no Brasil e apontam para outros desdobramentos analíticos. O financiamento da educação pública no Brasil, ainda precisa de outros mecanismos legais que garantam uma eqüidade na distribuição dos recursos financeiros entre estado, município e união. Contudo, a criação de fundos específicos consignando parte da receita dos entes federados, garantiu de certa maneira uma política de estado para universalização da educação pública no País, mas, ainda é necessário modernizar a estrutura legal para que o Governo Federal libere para os entes federados uma fatia maior do bolo que está retido em Brasília para manter programas que se constituem muitas vezes como política de governo e não como política de estado. 59 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Ministério da Educação. Pradime: programa de apoio aos dirigentes municipais de educação. Caderno de transparências. Secretaria de Educação Básica. Brasília, DF: Ministério da Educação, Manual de orientação do Fundef. Brasília, DF: Ministério da Educação Marcos Legais. Ministério da Educação/Fundescola. Brasília MONLEVADE, João A. e SILVA, M. Abadia. Quem Manda na Educação no Brasil? Brasília. Idéia, MONLEVADE, João A. Educação Pública no Brasil: Contos e Descontos. Brasília. Idéia, 2000.
6 60 PINTO, Antonio Luiz de Toledo. (ORG) e et all. Constituição da República Federativa do Brasil. 26ª edição. São Paulo. Saraiva, 2000.
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