MANEJO DE VESPAS E MARIMBONDOS EM AMBIENTE URBANO
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- Raquel Canejo Franca
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1 12 MANEJO DE VESPAS E MARIMBONDOS EM AMBIENTE URBANO Fábio Prezoto, Cleber Ribeiro Júnior, Simone Alves de Oliveira, Thiago Elisei O QUE SÃO VESPAS E MARIMBONDOS? AS VESPAS OU MARIMBONDOS SÃO INSETOS PERTEN- CENTES À ORDEM HYMENOPTERA, com cerca de espécies, que inclui ainda as abelhas ( spp.) e formigas ( spp.), classificadas de acordo com sua organização social em dois grupos: vespas solitárias e sociais. O grupo das vespas solitárias, com mais de 98% das espécies de vespas conhecidas, inclui os insetos parasitóides e/ou predadores de uma vasta gama de invertebrados, tais como lagartas, grilos, percevejos, pulgões, baratas e aranhas. O comportamento de carregar a presa deve provavelmente, ter originado da expressão anglo-saxônica wasp, que significa carregador de cadáver. No Brasil, esses insetos são denominados popularmente de marimbondos. As espécies de vespas sociais são mais facilmente reconhecidas pelas pessoas, principalmente pela presença de um ninho, denominado de caixa ou enxu e também pela suas dolorosas ferroadas. No mundo existem 974 espécies de vespas sociais, sendo que 552 (56,67% da diversidade total) encontram-se nas Américas e 319 (32,75%) no Brasil. Devido aos fatos descritos acima, vamos enfatizar neste capítulo, as características biológicas, comportamentais e o manejo de vespas sociais em ambiente urbano. COMO VIVEM AS VESPAS? As espécies de vespas sociais se caracterizam por indivíduos que vivem juntos e formam uma colônia, na qual observa-se uma diferenciação morfológica e comportamental entre os indivíduos, resultando na presença de castas especializadas na execução de diferentes tarefas. Pode-se reconhecer duas castas básicas de vespas sociais, as fêmeas maiores (reconhecidas pelo abdômen avantajado) são as rainhas, responsáveis pela postura dos ovos. Os demais indivíduos da colônia, com menor tamanho e que realizam tarefas como a manutenção do ninho, busca de alimentos e defesa da colônia contra inimigos, são denominadas de operárias. O desenvolvimento da colônia apresenta um ciclo bem definido, passando por fases distintas: Fundação: esta fase inicia-se com a construção do ninho e vai até o surgimento da primeira vespa filha. Desenvolvimento: inicia-se com o surgimento da primeira filha e se estende até o aparecimento das formas reprodutivas (novas rainhas). Esta fase é também conhecida como período de crescimento da colônia, pois pode durar vários meses e a colônia aumenta o seu tamanho várias vezes (tanto em estrutura física como populacional). Declínio: este período se caracteriza pela redução irreversível da população, principalmente de imaturos (= ovos, larvas e pupas). As atividades de ampliação do ninho cessam. Abandono: em um determinado momento ao longo da fase de declínio a colônia fica constituída apenas por indivíduos adultos, que acabam por abandoná-la, podendo se dispersar pela região para fundar novas colônias ou formar um agregado. Agregado: apresenta uma duração muito variável (de poucos dias a vários meses), sendo um evento facultativo dependente principalmente das condições
2 climáticas. Geralmente na época fria do ano é possível se observar este fenômeno. Algumas espécies de vespas sociais apresentam um comportamento semelhante as abelhas, conhecido como enxameagem. Nessas espécies, a dispersão ocorre através de intervalos regulares, no qual uma parte da população migra da colônia original, para o local onde será estabelecida a nova colônia. As espécies do gênero Polybia, por exemplo, podem apresentar colônias que permanecem ativas no ambiente por vários anos, podendo liberar enxames anualmente. Todas as fases de desenvolvimento descritas acima estão diretamente correlacionadas com a sazonalidade dos fatores climáticos que influenciam o ritmo biológico das espécies, no ambiente onde ocorrem. ONDE AS VESPAS CONSTROEM SEUS NINHOS? Ao longo do processo evolutivo, muitos seres vivos tiveram que aprender a conviver com a presença humana e as vespas são exemplos interessantes desta dinâmica. Os ambientes artificiais podem ser colonizados e explorados por várias espécies de vespas, sejam solitárias ou sociais. Nos dias atuais pode-se assistir a uma intensa redução e degradação dos ambientes naturais, o que sem dúvida promove uma série de alterações ecológicas e comportamentais de diversas espécies animais promovendo, muitas vezes, sua incorporação em um novo tipo de ambiente, o que acarreta modificações no equilíbrio natural existentes entre as diferentes populações. Em ambiente natural, os ninhos de vespas sociais podem ser encontrados em diversos tipos de substratos, como: folhas e galhos de plantas, cavidades rochosas e naturais (como cupinzeiros abandonados), dentre outros. No ambiente urbano, um estudo com a vespa social Polistes versicolor, revelou a preferência desta espécie em construir seus ninhos em habitações humanas, sendo a alvenaria o substrato que obteve maior representatividade (60%), seguido de metal (18,3%) (parafusos, tubos de ventilação e ar condicionado), madeira (15,5%), material sintético (4,2%), vidro (1%) e vegetação (1%). Acredita-se que esta preferência das vespas em construir seus ninhos em ambiente urbano esteja associada com sua estratégia de sobrevivência, pois nesse ambiente as vespas encontram um bom local para fixar seus ninhos protegendo-os de intempéries (sol, chuva, ventos) e inimigos naturais. Além disso, o ambiente urbano, por possuir uma menor diversidade do que o ambiente natural oferece uma menor pressão de competição entre as espécies que o ocupam. O QUE AS VESPAS COMEM? A alimentação das vespas é constituída basicamente por recursos ricos em carboidratos e proteínas. Esses alimentos são encontrados pelas vespas normalmente a uma distância de cerca de 100 a 300 metros do ninho original. Em áreas urbanas, principalmente em praças e jardins, é possível se deparar com diferentes espécies de vespas visitando plantas que compõem a paisagem, à procura de nectários florais e extra-florais. Esta fonte energética é largamente utilizada, pois é consumida tanto por vespas adultas quanto por indivíduos jovens. Realizando esta tarefa, as vespas contribuem para a polinização de diversas flores. Outro item que faz parte da dieta das vespas é a proteína, muito utilizada na alimentação das larvas em desenvolvimento. Para se ter uma idéia, uma única colônia de Polistes versicolor pode capturar mais de presas por ano para a alimentação dos imaturos. De acordo com algumas pesquisas, sabe-se que as lagartas de Lepidoptera representam cerca de 90% das presas capturadas pelas vespas. Entretanto sabese que outras espécies de insetos são utilizadas como fonte protéica, entre elas: moscas, percevejos, besouros, cupins e formigas, como demonstrado em um estudo recente, que identificou as presas capturadas por Polybia platycephala em ambiente urbano. COMO FAZER O MANEJO DAS COLÔNIAS? O processo de manejo de colônias de vespas sociais ocorre em duas situações bem distintas. Uma delas é quando se torna necessária a remoção/eliminação da colônia, devido a possibilidade de um acidente, 126
3 no segundo caso ocorre a transferência da colônia de vespas de uma área para outra, sem a destruição da colônia. A primeira etapa do processo, tanto na remoção como na transferência, envolve a captura da colônia, ao final da tarde, período no qual as vespas cessam suas atividades e permanecem em repouso no ninho. A captura é feita através do ensacamento da colônia, utilizando um saco plástico transparente e resistente. No caso da necessidade de eliminação da colônia, acrescenta-se um algodão embebido com éter no interior do saco plástico, o qual terá a função de anestesiar e matar as vespas adultas. No momento da separação do ninho do substrato onde está aderido, deve se utilizar uma lâmina, para facilitar a retirada. Algumas espécies de vespas fixam seu ninho ao substrato, através de um pedúnculo fino e resistente. Se houver interesse em transferir o ninho, é importante que esta estrutura não seja danificada, pois será utilizada para a futura fixação. Em outras espécies de vespas, a parede do ninho se une diretamente ao substrato. Nestes casos, quando possível, a remoção da colônia deve ser realizada juntamente com a porção do substrato onde o ninho esta aderido, isto se o intuito for a transferência da colônia e não seu extermínio. Estes ninhos não serão aderidos novamente a um novo substrato, mas sim acondicionados em abrigos artificiais. Um exemplo do manejo de colônias de vespas para abrigos artificiais é sua transferência para agrossistemas, visando a utilização no controle biológico de pragas de culturas de interesse econômico. Para a eliminação, as vespas ensacadas devem permanecer por um longo período em contato com o agente fixador, no caso o éter, o que irá garantir o efeito nocivo da substância sobre os indivíduos. No caso da transferência, a próxima etapa é a separação das vespas do ninho, pois assim será possível estabelecer o ninho em uma nova área, o que exigirá a manipulação do mesmo. Feito isso, o saco com as vespas adultas é estendido ao redor do ninho, permitindo que os insetos encontrem novamente seu ninho. Como esta atividade deve ser feita no início da noite, a retirada do saco plástico pode ser feita no dia seguinte, logo nas primeiras horas da manhã. No processo de remoção ou transferência de colônias de vespas é sempre indispensável o uso de equipamentos de segurança, como roupas protetoras utilizadas na apicultura e o conhecimento do comportamento das vespas sociais, o que aumenta o sucesso da operação e reduz o risco de acidentes. É importante lembrar que hoje existem várias empresas no mercado que realizam a remoção de ninhos de vespas em ambiente urbano, este trabalho deve ser realizado por um biólogo ou por técnicos devidamente treinados. No caso dos ninhos de vespas solitárias, a remoção pode ser feita de maneira mais rápida e simples, pois estas vespas não permanecem no ninho, basta raspar o ninho do local onde ele está fixado com auxílio de uma espátula. QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DAS VESPAS SOCIAIS PRESENTES EM AMBIENTE URBANO? Associação com o homem As vespas têm preferência por construir seus ninhos em edificações humanas, pois são ambientes protegidos que oferecem boas condições para o desenvolvimento das colônias. No ambiente urbano, os ninhos pequenos (com poucos centímetros), podem ser encontrados em locais discretos, como beirais de janelas, batentes de portas e frestas em paredes. Já ninhos maiores (com algumas dezenas de centímetros) são normalmente construídos em beirais de telhados e em estruturas metálicas, normalmente locais elevados, o que evita a ação humana direta sobre os ninhos. Dispersão no ambiente urbano A construção dos novos ninhos é realizada a uma pequena distância da colônia original, geralmente de 10 a 100 metros. Essa dispersão depende da oferta de locais para construção, o que pode fazer com que alguns ambientes concentrem mais ninhos do que outros. Duração das colônias No ambiente urbano, a duração das colônias de vespas tende a ser maior do que no ambiente natural, devido à estabilidade, proteção e oferta de recursos ali disponível. Entretanto, esta longevidade esta condicionada à ação humana (depredação e remoção 127
4 dos ninhos), o que pode interferir diretamente na duração das mesmas. Oferta de alimentos As vespas necessitam de carboidratos e proteína, para o seu desenvolvimento. E no ambiente urbano existe disponibilidade de ambos. Nas praças e jardins, por exemplo, as vespas encontram as flores, de onde retiram o néctar e os insetos herbívoros que constituem suas presas. Esses comportamentos têm a função de ameaçar o perturbador e evitar um ataque propriamente dito. É bom lembrar que nas áreas urbanas, as vespas não representam uma ameaça à população. Muitas das espécies encontradas nas cidades não são agressivas, e a maioria dos acidentes ocorre em razão da perturbação ocasionada pelo próprio homem. Quando a necessidade da remoção for inevitável, aconselha-se a utilização de serviços especializados, oferecidos por empresas particulares e por pessoas especializadas no assunto. Agressividade As espécies de vespas presentes no ambiente urbano apresentam uma agressividade menor se comparadas as que vivem em ambiente natural. Contudo, são capazes de ferroar e sempre vão defender seus ninhos de qualquer ameaça. COMO EVITAR OS ATAQUES DAS VESPAS? As vespas são mais conhecidas pela sua habilidade em se defender do que pela sua importância ecológica. Contudo, o ataque das vespas sempre ocorre em resposta a uma perturbação sofrida. Um dos acidentes mais comuns com vespas sociais é o fato das pessoas esbarrarem nos ninhos, e na tentativa de protegê-los, as vespas atacam as pessoas nas proximidades. Algumas espécies de vespas possuem ninhos populosos com milhares de indivíduos e nesses casos, um ataque pode envolver centenas a milhares de vespas, o que pode ser fatal, dependendo da sensibilidade da pessoa. O ataque não ocorre ao acaso, é necessário que a pessoa esteja muito próxima das colônias, tenha tentado tocá-la e ainda deixar que seu odor e/ou respiração sejam dirigidos ao ninho. Todos esses fatores podem estimular o ataque das vespas. É possível, no entanto, evitar tais acidentes. Com treinamento e atenção pode-se aprender a técnica de remoção dos ninhos e ainda, utilizar o comportamento das vespas para compreender se estas estão agressivas ou calmas. As vespas sempre avisam antes de um ataque, exibindo alguns sinais como: vibrar as asas, levantar a região da cabeça, bater o abdômen sobre o substrato, dentre outros. POR QUE PRESERVAR AS VESPAS? As vespas sociais são um recurso valioso da biodiversidade, devido às interações ecológicas que apresentam e pelo potencial como agentes de controle biológico, ainda pouco explorado. Estudos devem ser conduzidos, de modo a ampliar os conhecimentos sobre a ecologia, biologia e comportamento desse grupo e assim diminuir a impressão negativa que sempre é associada às vespas por causa das ferroadas. Além disso, deve-se ampliar a divulgação de que esses insetos são benéficos e estão mais para nossos amigos que para nossos inimigos. LITERATURA RECOMENDADA Carpenter, J.M. & Marques, O.M Contribuição ao estudo dos vespídeos do Brasil. Cruz das Almas-BA, UFB. Publicações Digitais, vol.2. Evans, H.E. & West-Eberhard, M.J The wasps. Ann. Arbor: Univ. of Michigan. 265p. Giannotti, E.; Prezoto, F. & Machado, V.L.L Foraging activity of Polistes lanio lanio (Fabr.) (Hymenoptera; Vespidae). An. Soc. Entomol. Brasil, 24(3): Nascimento F.S., Tannure-Nascimento, I.C. & Zucchi, R Vespas sociais brasileiras. Ciência Hoje, 34(202): Prezoto, F. & Machado, V.L.L Transferência de colônias de vespas (Polistes simillimus Zikán, 1951) (Hymenoptera, Vespidae) para abrigos artificiais e sua manutenção em uma cultura de Zea mays. Revta bras. Ent., 43(3/4): Prezoto, F Vespas (a importância das vespas como agentes no controle biológico de pragas). Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento, 2(9): Richards, O.W The social wasps of the Americas excluding the Vespinae. London: British Museum. 580p. 128
5 Ross, K.G. & Mathews, R.W The social biology of wasps. New York: Cornell University Press. 678p.- Turillazzi, S. & West-Eberhard,M. J. Natural history and evolution of paperwasps.new York, Oxford University Press, 1993 West-Ebehard, M.J The social biology of Polistine wasps. Misc. Publ. Mus. Zool. Univ. Mich., 140:
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