IV-005 VAZÃO ECOLÓGICA A SER CONSIDERADA NO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DOS SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA
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- Dalila Botelho Madeira
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1 IV-005 VAZÃO ECOLÓGICA A SER CONSIDERADA NO LICENCIAMENTO AMBIENTAL DOS SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA Vinicius Braga Pelissari (1) Engenheiro Agrimensor pela Universidade Federal de Viçosa, MG. Mestre em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal do Espírito Santo. Robson Sarmento Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Espírito Santo. Espec., M.Sc., Ph.D. Rogério Luis Texeira Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo. Mestre em Oceanografia Biológica pela Fundação Universidade do Rio Grande, RS. Doutor em Biologia Marinha pelo Virginia Institute of Marine Science, Virginia, USA. Endereço (1) : Rua Luciano das Neves, Centro Vila Velha - ES - CEP: Brasil - Tel: (27) / vini@npd.ufes.br RESUMO A implantação de sistemas de abastecimento de água vem aumentando ano a ano devido ao crescimento populacional e econômico do País. Estes sistemas, devido ao grande volume de água derivado, reduzem a vazão dos rios a jusante de sua captação ocasionando diversos tipos de impactos, principalmente no que se refere ao habitat utilizado pelas espécies. Sendo assim, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), através da Resolução n 05 de junho de 1988, sujeita à licenciamento ambiental qualquer projeto cuja vazão de captação esteja 20% acima da vazão mínima no local da tomada d água e ou que modifiquem as condições físicas e bióticas dos corpos d água. No entanto, este critério adotado pelo CONAMA não garante necessariamente a proteção e/ou conservação das condições físicas e ecológicas dos rios, pois é baseado somente em registros históricos de vazão, o que vem tornando sua aplicação cada vez mais restritiva. Neste contexto, o presente trabalho vem relatar um estudo realizado no rio Timbuí, a jusante do sistema de abastecimento da cidade de Santa Teresa, no estado do Espírito Santo, com intuito de avaliar os impactos causados no habitat utilizado pelos peixes. Para tanto, utilizou-se uma metodologia que leva em consideração a aptidão das espécies face às diferentes características de habitat presentes no rio. Os resultados mostram que o habitat utilizado pela ictiofauna é extremamente sensível às variações de vazão do rio Timbuí. Contudo, verificou-se que o sistema de abastecimento de Santa Teresa não vem afetando o habitat do rio devido a vazão de captação ser muito pequena em comparação às vazões mínimas mensais e sobretudo com relação a série anual de vazão ecológica obtida para o rio. PALAVRAS-CHAVE: Vazão ecológica, Recursos Hídricos, Licenciamento Ambiental, Abastecimento de água. INTRODUÇÃO A implantação de sistemas de abastecimento de água vem aumentando a cada ano em face à crescente utilização das águas superficiais para os consumos doméstico e industrial. Esses aproveitamentos hidráulicos, apesar de seus indiscutíveis benefícios ao homem, alteram o regime hidrológico dos rios a jusante de onde são implantados, ocasionado diversos tipos de impactos, principalmente no que se refere ao habitat utilizado pela ictiofauna. Desta forma, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), através da Resolução n 05 de Junho de 1988, sujeita à licenciamento ambiental qualquer projeto cuja vazão de captação esteja 20% acima da vazão mínima no local da tomada d água e ou que modifiquem as condições físicas e bióticas dos corpos d água. ABES Trabalhos Técnicos 1
2 Esse critério adotado pelo CONAMA não garante necessariamente a proteção e/ou a conservação das condições físicas e bióticas dos rios, pois é baseado somente em registros históricos de vazão, o que vem tornando sua aplicação cada vez mais restrita. Vale ainda ressaltar que, no Brasil, nenhuma ênfase tem sido dada ao estudo da vazão ecológica no licenciamento dos sistemas de abastecimento de água. Tal procedimento não é compatível com o que é preconizado pelo desenvolvimento sustentável. Neste contexto, com intuito de avaliar os impactos causados no ecossistema aquático pela derivação de água, são comumente utilizadas metodologias para a determinação da vazão ecológica de rios. A importância da vazão ecológica diz respeito principalmente à proteção do habitat da vida aquática, como preconiza o Artigo 3 da Política Nacional de Recursos Hídricos, Lei n 9433 de janeiro de Este artigo descreve que a adequação dos recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do País constituem parte das diretrizes gerais para a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos. No trabalho determinou-se a vazão ecológica a manter no Rio Timbuí, a jusante do sistema de abastecimento de água da cidade de Santa Teresa, estado do Espírito Santo, com intuito de se verificar a alteração ocorrida no habitat utilizado pela ictiofauna devido a captação de água para abastecimento da Cidade. Para tanto, utilizou-se uma metodologia baseada na aptidão das espécies de peixe para as diferentes condições de habitat físico presentes no Rio ( Instream Flow Incremental Methodology IFIM ). Trata-se do primeiro trabalho realizado no País, no qual utiliza-se uma metodologia para a determinação da vazão ecológica de rios, que leva em consideração o ecossistema aquático, em particular a ictiofauna. Entende-se por vazão ecológica a vazão necessária a manter num corpo d água de forma a assegurar a manutenção e a conservação dos ecossistemas aquáticos naturais, dos aspectos da paisagem, e outros de interesse científico ou cultural (Alves, 1996). PRINCÍPIOS GERAIS DO IFIM O IFIM baseia-se no princípio de que a distribuição dos organismos lóticos, em particular os peixes, são determinadas entre outros fatores pelas características hidráulicas, estruturais e morfológicas do curso d água. Cada organismo tende a selecionar no curso de água as condições que lhe são mais adequadas, correspondendo a cada variável ambiental uma grau de preferência que é proporcional à aptidão do valor da variável para a espécie (Índices de de Habitat IAH). O IAH para uma ou mais espécies de peixe é a informação mais importante para a determinação da vazão ecológica de um rio (Alves, 1996). A variável de decisão gerada pelo IFIM é a área de habitat disponível para as espécies piscícolas, definida em função da vazão, na qual são estimadas as alterações na área de habitat físico disponível em face das alterações no regime hidrológico do curso d água. As principais variáveis de habitat físico utilizadas são a geomorfologia do leito, a profundidade e a velocidade do escoamento. Dentre as características geomorfológicas do leito, a composição granulométrica do material aluvionar (substrato) e a cobertura das margens e leito (vegetação submersa ou aérea), são as que mais se destacam (Bovee et al., 1997). O IFIM é composto por um sistema computacional, o qual tem por objetivo a simulação hidráulica e de habitat do trecho do rio em estudo. Este sistema computacional é conhecido como Physical Habitat Simulation System PHABSIM. ESTUDO DE CASO O estudo incidiu sobre o seguimento do Rio Timbuí, a jusante da captação do sistema de abastecimento de água da Cidade de Santa Teresa até a Estação Biológica de Santa Lúcia, no Estado do Espírito Santo. Segundo dados fornecidos pela Companhia Espirito Santense de Saneamento CESAN, a demanda de água necessária para abastecimento da Cidade em 2000 foi de 26 l/s. Esta demanda é continua ao longo dos meses e vem crescendo a uma taxa de 0 l/s por ano. 2 ABES Trabalhos Técnicos
3 Para a amostragem dos dados, definiu-se um trecho do rio que melhor representa as condições de habitat físico encontrados no seguimento como um todo (trecho representativo). Nesta escolha, os seguintes critérios foram considerados: declividade do talvegue; diversidade de substrato e cobertura; variabilidade na profundidade e velocidade do escoamento. O trecho representativo foi subdividido em células de condições homogêneas, cujas dimensões foram definidas pela distância entre seções transversais estabelecidas no local. A simulação da distribuição da profundidade e velocidade em cada célula foi feita recorrendo-se a um modelo hidráulico que utiliza, em específico, as equações de Manning e Bernoulli, contidos no PHABSIM. O substrato e a cobertura foram caracterizados em cada seção transversal assumindo-se que não variavam significativamente com a vazão (Tabela 1). Tabela 1:Caracterização do Substrato e Cobertura em cada seção representativa (Índice do Canal). Seção Transversal Representativa ME Células (m) MD Índice do Canal (IC) S1 2,0 2,5 1,5 S2 2,5 2,5 2,5 S3 2,5 4,5 2,5 2,5 S4 2,5 2,5 2,5 2,0 S5 2,5 2,5 2,0 S6 2,5 2,5 2,5 2,5 2,0 S7 2,0 2,5 2,0 2,0 S8 1,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 2,0 (finos c/ cobertura) 1,5 (finos s/ cobertura) 2,0 (cascalho c/ cobertura) 2,5 (cascalho s/ cobertura) 3,0 (calhaus c/ cobertura) 3,5 (calhaus s/ cobertura) 4,0 (matacão c/ cobertura) 4,5 (matacão s/ cobertura) 5,0 (leito rochoso c/ cobertura) 5,5 (leito rochoso s/ cobertura) S9 1,5 1,5 5,5 5,5 5,5 S10 5,0 5,5 5,5 5,5 Fonte: Pelissari, 2000 Os índices de aptidão de habitat (Figuras 1 a 3) foram elaborados para as seguintes espécies: Geophagus brasiliensis (Cará), Astyanax aff. taeniatus (Lambari) e Gymnotus carapo (Sarapó). As observações do habitat utilizado pelas espécies foram obtidas entre os meses de março e novembro de ABES Trabalhos Técnicos 3
4 Figura 1: Índices de aptidão pela profundidade das espécies: A) Geophagus brasiliensis; B) Astyanax aff. taeniatus e C) Gymnotus carapo ,50 0,75 0 1,25 A 0 5 0,50 0,75 0 1,25 B Profundidade (m) Profundidade (m) 1 C ,50 0,75 0 1,25 Profundidade (m) Fonte: Pelissari, 2000 Figura 2: Índices de aptidão pela velocidade das espécies: A) Geophagus brasiliensis; B) Astyanax aff. taeniatus e C) Gymnotus carapo. A B 0,1 0,3 0,5 0,1 0,3 0,5 Velocidade (m/s) Velocidade (m/s) C 0 0,1 0,3 0,5 Velocidade (m\s) Fonte: Pelissari, ABES Trabalhos Técnicos
5 Figura 3: Índices de aptidão pelo o canal das espécies: A) Geophagus brasiliensis; B) Astyanax aff. taeniatus e C) Gymnotus carapo. A B Índice Índice C Índice Fonte: Pelissari, 2000 As amostragens foram realizadas no sentido rio acima e de uma margem a outra até completar totalmente o trecho em estudo. Durante as observações, quando um peixe ou cardume era amostrado, identificava-se a espécie e o número de indivíduos presentes na amostra. Para cada local de amostragem as seguintes informações eram coletadas: a) profundidade do rio; b) velocidade da água e c) características do substrato e cobertura (conforme a tabela 1). A profundidade do rio era medida com uso de uma mira metálica graduada. A velocidade da água foi medida à 50% da profundidade total com uso de um molinete, sendo os peixes coletados através de peneira e tarrafa. A área de habitat físico disponível para as espécies selecionadas foi calculada a partir das características do habitat encontradas em cada seção transversal, juntamente com os índices de aptidão de habitat determinados para cada espécie. A aptidão do trecho em estudo, para cada espécie é dada pela Superfície Ponderada Utilizável (SPU) (Equação 2), a qual é baseada na do Índice de Composto (iac) para cada célula (Equação 1). A relação entre a SPU e a Vazão, para o trecho em estudo, são apresentadas abaixo nas Figuras 4 a 6. iac = equação (1) 1/ 3 q, i, s {( iahq, i, v ) s *( iahq, i, p ) s *( iahq, i, ic ) s} sendo: iac q,i,s = índice de aptidão composto da célula (i), na vazão (q) e espécie (s) iah q,i,v = índice de aptidão pela velocidade para a célula (i), na vazão (q) e espécie (s) iah q,i,p = índice de aptidão pela profundidade para a célula (i), na vazão (q) e espécie (s) iah q,i,ci = índice de aptidão do canal na célula (i), vazão (q) e espécie (s) ABES Trabalhos Técnicos 5
6 SPU = iac ) *( a ) equação (2) sendo: q, s ( q, i i, q SPU q,s = superfície ponderada utilizável, para o trecho representativo na vazão (q) e espécie (s) a i,q = área superficial para célula (i) na vazão (q) SPU (m 2 /m) 0,3 0,1 0,5 1,5 2,0 2,5 Vazão (m 3 /s) Figura 4: Superfície ponderada utilizável (SPU) em função da vazão para Geophagus brasiliensis. SPU (m 2 /m) 0,3 0,1 0,5 1,5 2,0 2,5 Vazão (m 3 /s) Figura 5: Superfície ponderada utilizável (SPU) em função da vazão para Astyanax aff. Taeniatus. 6 ABES Trabalhos Técnicos
7 SPU (m 2 /m) 0,5 0,3 0,1 0,5 1,5 2,0 2,5 Vazão (m 3 /s) Figura 6: Superfície ponderada utilizável (SPU) em função da vazão para Gymnotus carapo. As figuras 7 e 8 apresentam, respectivamente, a série temporal de habitat mensal e uma comparação entre a SPU determinada para todas as espécies juntamente com a área superficial do trecho em estudo para as vazões de interesse. SPU (m 2 /m) 0,5 0,3 0,1 Geophagus brasiliensis Astyanax aff. taeniatus Gymnotus carapo Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Figura 7: Série temporal de habitat mensal para as espécies em estudo ABES Trabalhos Técnicos 7
8 2,5 2 (m 2 /m) 1,5 1 0,5 Área superficial total SPU - Geophagus brasiliensis SPU - Astyanax aff. taeniatus SPU - Gymnotus carapo 0 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 Vazão (m 3 /s) Figura 8: Comparação entre as SPUs determinadas para as espécies e a área superficial total do trecho em estudo. DETERMINAÇÃO DA VAZÃO ECOLÓGICA A determinação do valor da vazão ecológica é feita através da relação entre a vazão e a SPU. Existem diversas técnicas para a obtenção deste valor, as que mais se destacam são: i) técnica baseada no ponto de inflexão da curva superfície ponderada utilizável (SPU) em função da vazão e ii) técnica baseada na matriz de otimização. Neste trabalho optou-se por utilizar a matriz de otimização, devido a uma ligeira dificuldade na determinação do ponto de inflexão da curva Vazão X SPU. A matriz de otimização envolve a definição de uma vazão para cada mês do ano que minimize a redução da área de habitat disponível. A aplicação desta técnica consiste na construção de uma matriz para cada mês, na qual as colunas se referem às vazões e as linhas às espécies consideradas no presente estudo (Tabelas 2 e 3). As vazões são selecionadas considerando-se a curva de duração de vazões, sendo de um modo geral selecionadas as vazões cuja probabilidade de serem excedidas é superior a 50% e inferior a 95%, ou várias percentagens da vazão média anual. A partir dos IAHs elaborado para as espécies, determina-se para as vazões selecionadas a SPU, cujos valores são colocados na matriz (Bovee, 1982, citado por Alves, 1993). Analisando cada coluna (correspondente a um valor de vazão) é selecionado o valor mínimo da SPU ou calcula-se o seu valor médio, registrando-o na última linha da matriz. O maior valor desta linha corresponde à vazão que maximiza a área de habitat disponível. A partir dos valores mensais de vazão recomendados pela matriz, elabora-se um hidrograma anual, que corresponde ao cenário mais favorável, dado que as vazões selecionadas são aquelas que permitem uma minimização da perda de habitat. Com base nos resultados obtidos através das matrizes de otimização mensal, foi elaborada a seguinte proposta para a vazão ecológica a manter ao longo do ano no trecho em estudo (Tabela 4). 8 ABES Trabalhos Técnicos
9 Tabela 2: Matriz de otimização mensal para o cálculo da vazão ecológica, janeiro a junho. JANEIRO VAZÃO - % em relação à vazão média mensal Geophagus brasiliensis 0,335 0, ,392 0,365 0,341 0, ,184 0,161 Astyanax aff. taeniatus 0,320 0, ,392 0,361 0, ,193 0,180 Gymnotus carapo 70 0, ,593 0,544 0, ,382 0, Média na coluna 0, ,394 0, ,199 Máximo das médias SPU: 87 Vazão Ecológica: 09 m 3 /s FEVEREIRO VAZÃO - % em relação à vazão média mensal Geophagus brasiliensis 0,313 0,350 0, ,392 0,374 0,357 0,329 0, Astyanax aff. taeniatus 91 0, ,379 0,348 0, Gymnotus carapo 31 0,500 0, ,574 0, ,379 0,319 Média na coluna 0,345 0, ,381 0, Máximo das médias SPU: 93 Vazão Ecológica: 11 m 3 /s MARÇO VAZÃO - % em relação à vazão média mensal Geophagus brasiliensis 0,321 0,363 0, ,384 0,360 0,344 0, ,191 Astyanax aff. taeniatus 0,301 0, ,395 0,360 0, ,194 Gymnotus carapo 45 0,522 0, ,586 0,552 0, ,390 0, Média na coluna 0, ,393 0,353 0, Máximo das médias SPU: 93 Vazão Ecológica: 73 m 3 /s ABRIL VAZÃO - % em relação à vazão média mensal Geophagus brasiliensis 99 0,338 0, ,390 0,376 0,356 0,334 0, Astyanax aff. taeniatus 74 0,323 0, ,386 0,354 0, Gymnotus carapo , ,573 0, ,387 Média na coluna 0,327 0, ,387 0,350 0,302 Máximo das médias SPU: 93 Vazão Ecológica: 79 m 3 /s MAIO VAZÃO - % em relação à vazão média mensal Geophagus brasiliensis 89 0,327 0,369 0, ,399 0,388 0,370 0,354 0,330 0, Astyanax aff. taeniatus 62 0,309 0, ,381 0,354 0,308 Gymnotus carapo 0, , ,599 0,571 0, Média na coluna 0,314 0, ,387 0,342 Máximo das médias SPU: 92 Vazão Ecológica: 0,398 m 3 /s JUNHO VAZÃO - % em relação à vazão média mensal Geophagus brasiliensis 86 0,324 0,367 0, ,390 0,374 0,358 0,336 0, Astyanax aff. taeniatus 59 0,306 0, ,388 0,362 0,320 Gymnotus carapo 0, , ,576 0,539 0, Média na coluna 0,311 0, ,395 0,354 Máximo das médias SPU: 93 Vazão Ecológica: 0,504 m 3 /s ABES Trabalhos Técnicos 9
10 Tabela 3: Matriz de otimização mensal para o cálculo da vazão ecológica, julho a dezembro. JULHO VAZÃO - % em relação à vazão média mensal Geophagus brasiliensis 86 0,326 0,368 0, ,389 0,373 0,357 0,334 0, Astyanax aff. taeniatus 60 0,307 0, ,385 0,359 0,316 Gymnotus carapo 0, , ,574 0,537 0, Média na coluna 0,312 0, ,392 0,349 Máximo das médias SPU: 92 Vazão Ecológica: 0,514 m 3 /s AGOSTO VAZÃO - % em relação à vazão média mensal Geophagus brasiliensis 0,355 0,319 0,360 0, ,396 0,381 0,365 0,348 0,326 0,300 Astyanax aff. taeniatus , ,399 0,377 0,340 Gymnotus carapo 0, ,517 0, ,593 0,561 0, Média na coluna 0,328 0, ,374 Máximo das médias SPU: 93 Vazão Ecológica: 54 m 3 /s SETEMBRO VAZÃO - % em relação à vazão média mensal Geophagus brasiliensis 81 0,319 0,360 0, ,396 0,381 0,365 0,348 0,326 0,300 Astyanax aff. taeniatus , ,399 0,377 0,340 Gymnotus carapo 0, ,517 0, ,593 0,561 0, Média na coluna 0,304 0, ,374 Máximo das médias SPU: 93 Vazão Ecológica: 54 m 3 /s OUTUBRO VAZÃO - % em relação à vazão média mensal Geophagus brasiliensis 96 0,334 0, ,393 0,381 0,362 0,343 0, Astyanax aff. taeniatus 70 0,318 0, ,394 0,364 0, Gymnotus carapo , ,585 0,549 0, Média na coluna 0,323 0, ,397 0,364 0,316 Máximo das médias SPU: 93 Vazão Ecológica: 48 m 3 /s NOVEMBRO VAZÃO - % em relação à vazão média mensal Geophagus brasiliensis 0,327 0,369 0,399 0,399 0,377 0,355 0,331 0, ,179 Astyanax aff. taeniatus 0,309 0, ,382 0, ,190 Gymnotus carapo 55 0, ,572 0, ,364 0, Média na coluna 0, ,373 0, Máximo das médias SPU: 92 Vazão Ecológica: 0,525 m 3 /s DEZEMBRO VAZÃO - % em relação à vazão média mensal Geophagus brasiliensis 0,337 0, ,390 0,360 0,336 0, ,181 0,157 Astyanax aff. taeniatus 0,322 0, ,387 0,356 0, ,191 0,177 Gymnotus carapo 74 0, ,586 0,539 0, ,374 0, Média na coluna 0, ,389 0, ,196 Máximo das médias SPU: 85 Vazão Ecológica: 31 m 3 /s 10 ABES Trabalhos Técnicos
11 Tabela 4: Proposta para a vazão ecológica a manter no rio Timbuí, com base na matriz de otimização mensal - IFIM Meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Vazão Ecológica (m 3 /s) , , , % Qmédia Mensal DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Este estudo evidenciou que as espécies estudadas fazem utilização similar do habitat do rio, no que se refere a profundidade, velocidade, substrato e cobertura (Figuras 1 a 3). É observado uma maior aptidão para velocidades baixas, com tendência a zero, e para profundidades médias, em torno de 0,70m. Com relação ao índice do canal, a aptidão das espécies recaiu à substratos finos com ampla utilização de cobertura. A aptidão por algum tipo de cobertura está relacionada com a necessidade das espécies em se proteger das altas velocidades do escoamento e dos diversos predadores ali existentes. As Figuras 4 a 6 mostram que também houve uma similaridade na variação da SPU com a vazão para todas as espécies em estudo. Observou-se um aumento acentuado na SPU com a vazão até cerca de 0,326m 3 /s, verificando-se, a partir deste, um decréscimo suave e linear da SPU, tendendo a zero caso a vazão seja muito elevada. Os valores máximos de SPU encontrados para o Geophagus brasiliensis, Astyanax aff. taeniatus e Gymnotus carapo foram respectivamente: 06 m 2 /m (Q = 0,375 m 3 /s), 44 m 2 /m (Q = 0,562 m 3 /s) e 30 m 2 /m (Q = 0,562 m 3 /s). Como pode ser observado os valores máximos para a SPU foram obtidos em vazões muito baixas. Este resultado prende-se a maior aptidão das espécies para velocidades baixas e profundidades médias, explicando, assim, a variação anual da SPU, em que os valores mais baixos verificam-se nos meses mais chuvosos e os valores mais altos são verificados durante o período de estiagem, sendo indicativo de baixo valor para a vazão ecológica (Figura 7). A Figura 8 mostra que o trecho em estudo proporciona uma melhor condição de microhabitat físico para a espécie Gymnotus carapo com relação as outras espécies estudadas, ou seja, o rio possui uma combinação de velocidade, profundidade, cobertura e substrato que são mais favoráveis a espécie mencionada. Isto não pode ser traduzido numa maior quantidade de indivíduos dessa espécie dentro da Reserva, uma vez que o Gymnotus carapo é uma espécie sedentária, péssimo nadador, que depende do refúgio na vegetação marginal para se proteger dos predadores (Traíra). Outros fatores, tais como, alimentação e qualidade de água também influenciam na presença ou não de uma espécie num corpo d água. É também indicado pela Figura 8 que a SPU para qualquer espécie é sempre menor do que 50% da área superficial do trecho em estudo, indicando que o trecho representativo oferece condições apenas razoáveis de microhabitat físico para as espécies estudadas. O tipo de curvas obtido é importante, já que permite prever situações de estresse e de degradação do habitat em face a vazões elevadas. No geral, os resultados obtidos mostram que todas as espécies são potencialmente afetadas, de forma similar, pela alteração do regime hidrológico do rio. A Tabela 5 compara o valor da vazão ecológica encontrado com as vazões mínimas média mensal, bem como as demandas de água para a Cidade de Santa Teresa em 2000 e ABES Trabalhos Técnicos 11
12 Tabela 5: Comparação entre a vazão ecológica para cada mês do ano e a vazão mínima média mensal. Série histórica de vazões de 39 anos fornecida pela ANEEL. Meses Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Vazão Ecológica , , , Vazão Mínima Mensal 1,465 1,246 1, ,965 0, , ,110 1,292 % da Vazão Mínima Mensal Demanda d água Demanda d água Os valores obtidos para a vazão ecológica encontram-se entre 42% e 60% em relação as vazões mínimas média mensal. No período de estiagem, junho a outubro, a relação é sempre superior a 55%, o que torna o período das secas como sendo um período crítico para a derivação de grandes quantidades de água, sem que haja prejuízo ao habitat utilizado pelas espécies, pois a diferença entre a vazão ecológica e a vazão mínima média mensal é pequena. Com relação a demanda de água para a Cidade de Santa Teresa em 2000 e para um horizonte de 20 anos, verificou-se que as mesmas, por serem muito pequenas, não acarretam maiores impactos no habitat, atendendo os valores obtidos para a vazão ecológica (Tabela 5). Entretanto, se forem demandadas vazões superiores a 0,300m 3 /s começará a haver perda na qualidade de habitat, principalmente nos meses mais secos do ano. CONCLUSÕES É necessária a permanência de uma quantidade de água nos rios, vazão ecológica, após os sistemas de abastecimento de água, como preconiza a Política Nacional de Recursos Hídricos, para suprir as necessidades da comunidade aquática. A vazão ecológica média obtida para o Rio Timbuí, a jusante do sistema de abastecimento de água da cidade de Santa Teresa foi de 92 m 3 /s. Verificou-se que a demanda de água necessária à cidade não afeta a qualidade do habitat presente no rio por ser muito reduzida, mesmo para um horizonte de 20 anos. A vazão a ser deixada a jusante dos sistemas de abastecimento como determina a legislação vigente, considerando somente o aspecto quantitativo, tem sido muitas vezes fator impeditivo à implantação de novos empreendimentos no seu processo de licenciamento ambiental. O critério adotado pelo CONAMA não significa necessariamente a vazão requerida pelo ecossistema aquático, portanto, a escolha definitiva dessa vazão deve também ser apoiada na vazão requerida pelas espécies, contudo, esse procedimento não vem sendo observado no Brasil. Concluiu-se que a metodologia utilizada neste trabalho se afigura como a mais interessante e defensável para o País. Porém, a curto prazo, sua ampla aplicação esbarra no estado atual dos conhecimentos sobre a biologia das comunidades piscícolas dos rios brasileiros, especificamente com relação a aptidão das espécies em face as diversas características que compõe o microhabitat físico dos rios. No entanto, se forem realizados estudos a respeito dos índices de aptidão de habitat, como neste trabalho, o IFIM, torna-se uma ferramenta potencialmente aplicável fornecendo diversas informações que podem ser utilizadas no gerenciamento de um corpo d água. 12 ABES Trabalhos Técnicos
13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ALVES, M. E. Uma proposta de caudal ecológico para a barragem de Alqueva. In: Congresso da Água, 3., SILUBESA, 7., 1996, Lisboa, Portugal. Anais... Lisboa, 1996, v.3, p BERNARDO, J. M. Definição de caudais ecológicos em cursos de água de regime mediterrâneo? Algumas reflexões de um biólogo. In: Congresso da Água, 3., SILUBESA, 7., 1996, Lisboa, Portugal. Anais... Portugal, 1996, v.3, p BITTENCOURT, A. Determinação de caudais ecológicos em estuários. Uma aplicação preliminar ao estuário do Guadiana. In: Congresso da Água, 3., SILUBESA, 7., 1996, Lisboa, Portugal. Anais... Portugal, 1996, v.3, p BOVEE, K. D. Stream habitat analysis using the instream flow incremental methodology. U.S. Geological Survey, Biological Resources Division, Information and Technological Report (Interim Version), 1997, p BRASIL. Decreto-lei n , de 10 de julho de Decreta o Código de Águas. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, 24 de julho de Decreto-lei n , de 8 de janeiro de Estabelece a Política Nacional de Recursos Hídricos. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, 8 de janeiro de ESPÍRITO SANTO. Decreto-lei n N, de 13 de julho de Estabelece critérios para autorização e licenciamento ambiental na construção de barragens, represas e reservatórios. Diário Oficial, 1 de agosto de NASCIMENTO A. S. et al. Avaliação preliminar do critério de outorga adotado no estado de Minas Gerais. In: Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, 13., 1999, Belo Horizonte, MG. Livro de Resumos... BH: Associação Brasileira de Recursos Hídricos, 1999, p PELISSARI, V. B., SARMENTO, R., TEIXEIRA, R. L., Índices de preferência de habitat para peixes na determinação da vazão residual do Rio Timbuí. In: Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, 13., 1999, Belo Horizonte, MG. Livro de Resumos... BH: Associação Brasileira de Recursos Hídricos, 1999, p PELISSARI, V. B. Vazão ecológica de rios: Estudo de caso: Rio timbuí, Santa Teresa, ES. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental). Departamento de Hidráulica e Saneamento, Centro Tecnológico, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, 2000, p SARMENTO, R., PELISSARI, V. B., Determinação da vazão residual dos rios: Estado da arte. In: Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, 13., 1999, Belo Horizonte, MG. Livro de Resumos... BH: Associação Brasileira de Recursos Hídricos, 1999, p.153. ABES Trabalhos Técnicos 13
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