Propriedades de textura das misturas binárias da gordura abdominal de frango com gordura de toucinho
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- Victor Gabriel Canário Vidal
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1 Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences vol. 37, n. 3, set./dez., 2001 Propriedades de textura das misturas binárias da gordura abdominal de frango com gordura de toucinho Ming Chih Chiu e Luiz Antonio Gioielli* * Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo *Correspondência: L. A. Gioielli Depto. de Tecnologia Bioquímico- Farmacêutica Faculdade de Ciências Farmacêuticas Universidade de São Paulo Av. Prof. Lineu Prestes, 580, Bloco São Paulo, SP, Brasil lagio@usp.br A ciência que estuda a deformação e o fluxo de materiais quando estes são submetidos à ação de forças é denominada reologia. As propriedades de textura estão associadas à deformação, à desintegração e ao fluxo de um material sob ação de uma determinada força. O conhecimento das propriedades reológicas de alimentos semi-sólidos é importante para o projeto do processo, no controle de qualidade e no desenvolvimento de novos produtos. O objetivo deste trabalho foi determinar a influência da temperatura nas propriedades de stress, firmeza e energia de penetração das misturas binárias da gordura abdominal de frango com gordura de toucinho, em diversas temperaturas. Também, foram verificadas as interações entre estas gorduras. O aumento da temperatura de análise causou diminuição dos valores de firmeza e de energia necessária para a penetração, em função da redução do conteúdo de gordura sólida e alterações na rede cristalina. Por aplicação de um modelo de regressão múltipla do tipo quadrático, verificou-se que, nas misturas entre gordura de frango e gordura de toucinho, ocorreu o efeito sinérgico da formação de compostos. Unitermos: Firmeza Stress Gordura abdominal de frango Gordura de toucinho Misturas binárias INTRODUÇÃO Quando determinados materiais, como por exemplo as gorduras, são submetidos à ação de forças, estes podem sofrer deformações e apresentar diferentes fluxos, os quais são estudados pela ciência denominada reologia (Hoffmann, 1989). A textura pode ser considerada como manifestação das propriedades reológicas do material, sendo considerada atributo importante dos alimentos, tendo em conta que afeta o processo, o armazenamento, a manipulação e a aceitação do produto pelo consumidor (Pomeranz, Meloan, 1984). O conhecimento das propriedades reológicas de alimentos semi-sólidos, como as margarinas, é importante para o projeto do processo, no controle de qualidade e no desenvolvimento de novos produtos (Segura, Herrera, Anon, 1995). Davey (1989) relatou que as medidas de penetração são amplamente utilizadas para a verificação das características de textura dos alimentos. Certos parâmetros, como a consistência e a espalhabilidade, importantes para a qualidade de produtos gordurosos, estão intimamente associados às propriedades de fluxo (Deman, Dobbs, Sherman, 1979; Stern, 1976). Os cristais de gordura formam rede tridimensional que fornece plasticidade ao material. Para que uma gordura seja plástica, ela deve consistir de uma fase sólida e uma líquida, ou seja, de mistura de cristais de gordura (sólida) e óleo (líquido), sendo que a relação entre as duas fases e o caráter cristalino da fase sólida determinam sua consistência e firmeza (Deman, Deman, Blackman, 1983; Deman, Beers, 1988).
2 384 M. C. Chiu, L. A. Gioielli As principais propriedades das gorduras, como a consistência, firmeza e plasticidade, dependem basicamente de fatores tais como o conteúdo de gordura sólida, método de resfriamento, tratamento térmico após o resfriamento (temperagem), tempo e grau de trabalho mecânico, tamanho e forma dos cristais (estrutura cristalina) e estado da emulsão (Andersen, Willians, 1965; Berger, Jewell, Pollitt, 1979; Deman, Beers, 1988; Nawar, 1985). Em emulsões como margarinas, a consistência é pouco influenciada pelos métodos de emulsificação do produto ou pelas variações nas proporções relativas de leite e gordura (Greenwell, 1981). As gorduras comportam-se como sólidos rígidos até que o stress da deformação exceda o yield value, quando começam a fluir como um líquido viscoso. O stress representa a força que produz ou tende a produzir deformações em um corpo e é medido pela força aplicada pela unidade de área (Deman, Beers, 1988). É possível classificar as gorduras desde muito macias, até muito duras, em função da propriedade subjetiva da espalhabilidade (Haighton, 1959). A espalhabilidade da manteiga e das margarinas é aspecto importante para a aceitação destes produtos pelo consumidor (Deman, Dobbs, Sherman, 1979). A espalhabilidade é a propriedade física resultante da dispersão dos cristais da gordura sólida no óleo líquido. Esta propriedade encontra-se altamente relacionada à dureza. A maioria dos métodos de determinação da espalhabilidade mede a resistência à deformação. A produção e o consumo de carne de aves têm aumentado consideravelmente ao redor do mundo, uma vez que esta fonte protéica tornou-se uma das mais baratas na atualidade e, certamente, a mais econômica entre as proteínas cárneas. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o Brasil se mantém como o segundo maior produtor mundial de carne de frango. A avicultura brasileira registrou crescimento surpreendente nos últimos anos, com a produção total de carne de frango chegando ao redor de 5,526 milhões de toneladas em 2000 (A.B.E.F, 2001). A gordura abdominal corresponde a aproximadamente 2 a 2,5% do peso total do frango abatido (Chiu, Gioielli, 2001; Buchalla, 1999; Perdigão, 2000). Devido à elevada produção de frango, a gordura abdominal desta ave normalmente é destinada à fabricação de ração animal (Chiu, Gioielli, 2001). Lee e Foglia (2000) e Chiu e Gioielli (2001) relataram que a gordura de frango contém aproximadamente 65% de ácidos graxos insaturados, caracterizando, portanto, uma gordura altamente insaturada, quando comparada ao sebo bovino. A gordura de toucinho é naturalmente dura, apresentando flavor natural e desejável. Conseqüentemente, não necessita hidrogenação ou desodorização para ser utilizada (Weiss, 1983; Dotson, 1992). Os objetivos do presente trabalho foram: a) determinar a influência da temperatura nas propriedades de stress, firmeza e energia de penetração das misturas binárias da gordura abdominal de frango com gordura de toucinho; b) verificar as interações ocorridas entre estas gorduras. MATERIAL E MÉTODOS Material Foram utilizadas gordura abdominal de frango e gordura de toucinho, obtidas do comércio local, que foram fundidas à temperatura de 100 ºC e filtradas em papel de filtro para a retirada de impurezas. As amostras foram preparadas por meio de misturas nas proporções mencionadas na Tabela 1, após fusão completa das gorduras individuais à temperatura de C, tendo sido novamente solidificadas e posteriormente armazenadas sob resfriamento (5 ºC). TABELA I - Planejamento experimental das misturas de gordura abdominal de frango com gordura de toucinho Proporção (%) Gordura abdominal Gordura de frango de toucinho Métodos Após a realização das misturas, as amostras de gorduras foram aquecidas à temperatura de o C em forno de microondas para completa fusão dos cristais, sendo acondicionadas em béqueres de 50 ml. O condicionamento foi efetuado por 24 horas em geladeira comum (5-8 o C) e, em seguida, por 24 horas em estufa com temperatura controlada. A análise de textura foi efetuada por meio de teste de penetração com cone de acrílico de ângulo 45º, em analisador de textura TA-XT2, da Stable Micro Systems,
3 Propriedades de textura das misturas binárias da gordura abdominal de frango controlado por microcomputador, utilizando-se o aplicativo Texture Expert versão Os testes foram conduzidos nas seguintes condições: Determinação da força em compressão; Distância: 10,0 mm; Velocidade: 2,0 mm/s; Tempo: 5s; Duplicata; Temperaturas de análise: 10, 15, e 20 ºC. Foram determinadas as propriedades de stress, firmeza e energia de penetração por meio dos resultados do analisador de textura TA-XT2. Para o cálculo do stress foi aplicada a equação descrita por Lucisano, Casiraghi e Pompei (1989): S = F / A = F. cos(β/2) / h 2.π. tan(β/2) em que: S = stress aplicado à amostra (N/cm 2 ); F = força real exercida (N); A = contato real entre a superfície do cone e a amostra (cm 2 ); F = força exercida para penetração na amostra (N); β = ângulo do cone ( o ); h = profundidade de penetração do cone (cm). Para as respostas analíticas foi aplicado um modelo matemático de regressão múltipla do tipo quadrático, por se tratar de experimento com misturas de dois componentes (Hare, 1974). Este modelo matemático está representado pela seguinte equação: y = β 1 x 1 + β 2 x 2 + β 12 x 1 x 2 em que: y = resposta; β = coeficientes gerados por regressão múltipla; x = proporção de cada componente. Foi utilizado o aplicativo Statgraphics versão 2.6, que permitiu a obtenção dos coeficientes para o modelo, além de apresentar seus níveis de significância, coeficientes de determinação e análise de variância. RESULTADOS E DISCUSSÃO O analisador de textura TA-XT2 é instrumento ideal para realizar medidas de força ou distância em compressão ou tensão, com alta sensibilidade, facilidade de operação, economia e flexibilidade até o limite de capacidade de 50 kg (Raven, Johnson, 1990). Nestas condições, quase todos os testes realizados pela Universal Testing Machine, fabricada pela Instron Corporation, podem ser efetuados pelo TA-XT2, exigindo técnicos menos especializados, com menor custo e com possibilidade de alterações mais rápidas de um teste para outro. Lannes e Gioielli (1995) mostraram que o analisador de textura TA-XT2 é mais sensível que o penetrômetro de cone, além de permitir que diversos parâmetros relacionados à textura sejam estudados. As Tabelas de II a VI apresentam as propriedades das amostras que podem ser obtidas com o analisador de textura TA-XT2, como firmeza, energia necessária para penetração e stress, às temperaturas de 10, 15 e 20 o C. A firmeza, expressada na unidade de N/mm, é representada pela inclinação da curva força-deformação, obtida no analisador, por meio do parâmetro denominado de gradiente, parâmetro este útil para verificar o efeito da temperatura, para diversos ciclos de temperatura, na forma cristalina, tamanho dos cristais e propriedades de textura de margarinas (Davey, 1989). Os resultados apresentados na Tabela II mostraram que a firmeza das amostras variou entre 0,150 e 0,244 N/mm a 10 ºC, entre 0,025 e 0,072 N/ mm a 15 ºC, e entre 0,007 e 0,041 a 20 ºC. Os resultados foram expressos em N/mm, para empregar as mesmas unidades do trabalho de Chawla e Deman (1994). Estes autores verificaram o efeito da temperagem por diversos ciclos de temperatura na forma cristalina, tamanho dos cristais e propriedades de textura de shortenings, visando estabilizar a estrutura cristalina e garantir mínimas alterações durante o armazenamento e transporte do produto. Simões e Gioielli (2000) analisaram três tipos de misturas binárias quanto à propriedade de firmeza, energia necessária para penetração e stress. As misturas analisadas eram compostas de gordura hidrogenada comercial (FATGILL PF38) com óleo de soja (Mistura 1), gordura hidrogenada comercial (FATGILL PF42) com óleo de soja (Mistura 2) e, FATGILL PF38 com FATGILL PF42 (Mistura 3). Foram obtidos os seguintes resultados de firmeza: 0,114 N/mm, 0,054 N/mm e 0,041 N/mm para a mistura 1; 0,552 N/mm, 0,470 N/mm e 0,286 N/mm para a mistura 2; 3,386 N/mm, 2,787 N/mm e 1,615 N/mm para a mistura 3, às temperaturas de 10, 15 e 20 ºC, respectivamente. Observa-se que os valores encontrados por estes autores, para a mistura 1, foram inferiores; para a mistura 2, levemente superiores e para a mistura 3 foram bastante superiores aos encontrados neste trabalho, considerando-se as mesmas temperaturas de análise. Estas diferenças foram devidas à diversidade na composição lipídica das misturas, às interações ocorridas nas mesmas e também aos diferentes conteúdos de gordura sólida das amostras analisadas. A gordura abdominal de frango apresenta rica composição em ácidos graxos, com predominância dos ácidos
4 386 M. C. Chiu, L. A. Gioielli palmítico (26,4%), oléico (37,5%) e linoléico (21,2%). A gordura de toucinho apresenta predominância dos ácidos palmítico (23,5%), esteárico (10,8%), oléico (47,1%) e linoléico (14,3%) (Chiu, Gioielli, 2001b). TABELA II - Firmeza das amostras a diversas temperaturas Firmeza (N/mm) Temperatura (ºC) ,198 0, ,206 0,050 0, ,244 0,072 0, ,194 0,061 0, ,183 0,065 0, ,150 0,067 0,041 A energia necessária para penetração do cone nas amostras foi calculada como a área sob a curva força-deformação. Os resultados apresentados na Tabela III mostraram que a energia das amostras variou entre 0,591 e 0,965 N.cm a 10 ºC, entre 0,112 e 0,301 N.cm a 15 ºC, e entre 0,055 e 0,190 N.cm a 20 ºC. Na verificação da propriedade de espalhabilidade pela análise sensorial de suspensões modelos de água e bentonita, Lucisano, Casiraghi e Pompei (1989) verificaram que suspensões com espalhabilidade considerada ideal pelos membros de uma equipe sensorial continham perto de 30% de bentonita e apresentaram energia necessária para penetração de um cone de 45º na faixa de 0,20-0,25 N.cm. Valores superiores ou inferiores para a concentração de bentonita e para a energia representaram produtos de menor espalhabilidade, por serem muitos sólidos ou muito fluidos, respectivamente. Portanto, considerando-se estes critérios, apenas a amostra 2 apresentou espalhabilidade ideal, à temperatura de 15 ºC. Simões e Gioielli (2000) obtiveram os seguintes resultados de energia necessária para penetração: 0,482 N.cm, 0,255 N.cm e 0,195 N.cm para a mistura 1; 2,161 N.cm, 1,984 N.cm e 1,181 N/mm para a mistura 2; 12,872 N.cm, 10,404 N.cm e 6,356 N.cm para a mistura 3, às temperaturas 10, 15 e 20 ºC, respectivamente. Observa-se que os valores encontrados por estes autores para a mistura 1 estiveram dentro da mesma faixa deste trabalho; para a mistura 2 foram levemente superiores e para a mistura 3 estiveram bastante superiores aos encontrados nesta pesquisa, considerando-se as mesmas temperaturas de análise. Aumentando-se a temperatura de análise nota-se que tanto os valores de firmeza quando os de energia necessária para a penetração diminuem, pois ocorre diminuição do conteúdo de gordura sólida e conseqüente alteração na rede cristalina das gorduras (Deman, Beers, 1998). TABELA III - Energia necessária para a penetração a diversas temperaturas Energia (N.cm) Temperatura (ºC) ,808 0, ,852 0,224 0, ,965 0,299 0, ,757 0,267 0, ,750 0,307 0, ,591 0,268 0,190 As Tabelas de IV a VI apresentam outro parâmetro que pode ser avaliado a partir dos resultados de penetração com o analisador de textura, ou seja, o stress aplicado às amostras na primeira compressão, para as temperaturas de 10, 15 e 20 o C. Como o analisador de textura permite obter a força exercida em qualquer ponto da penetração, foram escolhidos os valores de 0,2, 0,4, 0,6, 0,8 e 1,0 cm (limite máximo). Observa-se que com o aumento da profundidade de penetração, o stress diminui, porque a superfície de contato do cone com a amostra aumenta mais que a força que está sendo exercida. Como comparação, o stress aplicado às amostras de bentonita e água (Lucisano, Casiraghi, Pompei, 1989), utilizando cone de 45º, atingiu o valor máximo de cerca de 8 N/cm 2, para penetração de 0,8 cm. Nestas condições, os valores encontrados para as misturas binárias da gordura abdominal de frango com gordura de toucinho à temperatura de 10 ºC, variaram de 1,276 a TABELA IV - Stress das amostras a 10 o C em diversas profundidades de penetração do cone Stress (N/cm 2 ) Profundidade de penetração (cm) 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1 4,083 2,423 1,901 1,705 1, ,047 2,290 1,803 1,605 1, ,207 2,476 2,065 1,847 1, ,124 1,886 1,609 1,447 1, ,461 1,966 1,574 1,397 1, ,461 1,948 1,594 1,376 1,276
5 Propriedades de textura das misturas binárias da gordura abdominal de frango TABELA V - Stress das amostras a 15 o C em diversas profundidades de penetração do cone TABELA VI - Stress das amostras a 20 o C em diversas profundidades de penetração do cone Stress (N/cm 2 ) Profundidade de penetração (cm) 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1 1,225 0,417 0,270 0,179 0, ,686 0,643 0,473 0,412 0, ,740 0,865 0,651 0,548 0, ,598 0,728 0,556 0,474 0, ,988 0,927 0,653 0,536 0, ,544 0,825 0,617 0,529 0,493 Stress (N/cm 2 ) Profundidade de penetração (cm) 0,2 0,4 0,6 0,8 1, ,586 0,182 0,116 0,082 0, ,550 0,169 0,122 0,090 0, ,675 0,262 0,158 0,114 0, ,870 0,297 0,191 0,142 0, ,456 0,626 0,406 0,331 0,289 TABELA VII - Coeficientes calculados por regressão múltipla a partir dos resultados experimentais da firmeza e da energia de penetração das misturas binárias de gordura de frango com gordura de toucinho Resultados Coeficientes β 1 β 2 β 12 R 2 Firmeza a 10 o C 0,198 0,146 0,179 0, o C 0,028 0,063 0,835 0,990 Energia de Penetração a 10 o C 0,812 0,584 0,667 0, o C 0,122 0,264 0,400 0,994 4,207 N/cm 2 ; a 15 ºC variaram entre 0,167 a 1,988 N/cm 2 ; e a 20 ºC, entre 0,00 e 1,456 N/cm 2. Segundo Simões e Gioielli (2000), as misturas já mencionadas anteriormente mostraram os seguintes valores de stress : 0,827 a 2,793 N/cm 2 ; 0,396 a 1,945 N/cm 2 ; 0,304 a 1,618 N/cm 2 para a mistura 1; 4,010 a 9,418 N/cm 2 ; 3,424 a 8,224 N/cm 2 ; 2,083 a 5,605 N/cm 2 para a mistura 2; 24,620 a 30,566 N/cm 2 ; 20,273 a 34,688 N/cm 2 ; 11,746 a 22,361 N/cm 2 para a mistura 3; às temperaturas 10, 15 e 20ºC, respectivamente. A Tabela VII apresenta os coeficientes calculados por regressão múltipla a partir dos resultados experimentais da firmeza e da energia de penetração. Os coeficientes não significativos (p<0,05) foram eliminados. Os coeficientes relativos às interações foram positivos, caracterizando a chamada formação de compostos (Timms, 1984; Birker, Padley, 1987; Chiu, Gioielli, 2000; Chiu, Gioielli, 2001). Neste caso, a interação resulta em um empacotamento molecular favorável das cadeias de ácidos graxos, aumentando as propriedades de firmeza e energia de penetração, em relação às gorduras originais. Nas Tabelas II e III evidencia-se este tipo de interação para a amostra 3 (proporção de 60/40) às temperaturas de 10 e 15 ºC, pois a firmeza e a energia de penetração são maiores que as das gorduras originais. A formação de compostos ocorre em sistemas binários do tipo PPO/POP, StPO/POP, EPE/PEE e POP/OPO, em que P = palmítico, O = oléico, St = esteárico e E = elaídico. Essa interação ocorre em misturas de óleo de palma (com cerca de 30% de POP) e banha (com cerca de 50% de OPO). A mistura 1:1 de óleo de palma e banha contém 28% de sólidos a 22 o C, enquanto que os componentes individuais apresentam 20 e 22%, respectivamente. Esse efeito é responsável pela arenosidade em margarinas produzidas com estas misturas. Outro exemplo é verificado na mistura de uma fração de óleo de palma interesterificada (com cerca de 66% de PPO) com uma fração intermediária de óleo de palma (rica em POP) (D Agostini, Gioielli, Ferraz, 2000; Chiu, Gioielli, 2001). Viau e Gandemer (1991) afirmaram que a gordura de frango apresenta em sua composição principalmente triacilgliceróis do tipo: PO 2, POL, LO 2, O 3 e P 2 O, em que P = ácido palmítico, O = ácido oléico, L = ácido linoléico. O triacilglicerol do tipo P 2 O pode, portanto, ter levado à formação de compostos nas misturas entre gordura abdominal de frango com a gordura de toucinho. Para que a formação de compostos ocorra, são necessárias as seguintes condições: a) mistura de trialcilgliceróis monoinsaturados simétricos e assimétricos; b) trialcilgliceróis simétricos contendo somente um tipo de ácido graxo saturado; c) triacilgliceróis assimétricos contendo dois ácidos graxos saturados diferentes, desde que o ácido comum a ambos acilgliceróis esteja na posição sn-2. Quan-
6 388 M. C. Chiu, L. A. Gioielli do estas condições ocorrem, as cadeias de ácidos graxos empacotam formando três ácidos idênticos lado a lado (Timms, 1984). De acordo com D Agostini, Gioielli e Ferraz (2000), as interações que ocorrem entre os triacilgliceróis nas misturas binárias e ternárias de óleos e gorduras são os principais fatores que influenciam o comportamento de gorduras quanto à sua fusão e cristalização. O nível de significância encontrado para os modelos foi > 99%. Pela Tabela VII, pode ser observado que a variação das respostas (R 2 = 0,990 a 0,996) pode ser explicada pelas regressões múltiplas, indicando excelente ajuste do modelo aos dados experimentais. CONCLUSÕES A firmeza e a energia de penetração das misturas binárias dependeram da gordura abdominal de frango e da gordura de toucinho. Foi observado efeito sinérgico, caracterizando a chamada formação de compostos entre misturas de gorduras. As gorduras analisadas podem ser adequadas para a elaboração de bases gordurosas cremosas para emprego em panificação e pastelaria. ABSTRACT Texture properties of binary mixtures from abdominal chicken fat and lard Rheology is the science which deals with the deformation and flow of materials when forces are applied to them. Textural properties are related to the deformation, disintegration, and the flow of a material under force. Knowledge of the rheological properties of semisolid foods is important in process design, quality control, and development of new products. The aim of this study was to determine the temperature influence on the rheological properties of stress, firmness, and penetration energy of binary mixtures of two animal fats (abdominal chicken fat and lard), at different temperatures. The increase of the analysis temperature leads to the reduction on the values of firmness and penetration energy, as a function of the solid fat content and the alteration on the crystal network. The results of mixtures between abdominal chicken fat and lard showed a synergic effect of compounds formation. UNITERMS: Firmness. Stress. Abdominal chicken fat. Lard. Binary mixtures. AGRADECIMENTOS À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FAPESP, à Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq, pelo auxílio financeiro e pelas bolsas concedidas aos autores. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSEN, A. J. C. WILLIAMS, P.N. Margarine. 2.ed. Oxford: Pergamon Press, p ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS EXPORTADORES DE FRANGO (A.B.E.F.). Estatísticas: produção mensal brasileira de aves, histórico do consumo brasileiro de carne de frango, exportações mensais brasileiras de frango. Disponível em: Acesso em: 27 de abr BERGER, K.G., JEWELL, G.G., POLLITT, R.J.M. Oils and fats. In: VAUGHAN, J.G., eds. Food microscopy. London: Academic Press, p BIRKER, P.J.M.W.L., PADLEY, F.B. Physical properties of fats and oils. In: HAMILTON, R.J., BHATI, A., eds. Recent advances in chemistry and technology of fats and oils. London: Elsevier, p BUCHALLA, L.M. Frango Sertanejo. Guapiaçu, [Comunicação Pessoal]. CHAWLA, P., DEMAN, J.M. Effect of temperature cycling on the crystalline form, size and textural properties of shortening fats. J. Texture Stud., v.25, n.2, p , CHIU, M.C., GIOIELLI, L.A. Conteúdo de gordura sólida da gordura abdominal de frango, de suas estearinas e de suas misturas binárias com toucinho. Ciênc. Tecnol. Aliment., (no prelo). CHIU, M. C., GIOIELLI, L. A. Propriedades físico-químicas das misturas de gordura abdominal de frango, suas estearinas e gordura de toucinho. Rev. Bras. Ciênc. Farm., v.36, supl.1, p.41, D AGOSTINI, D., FERRAZ, R.C., GIOIELLI, L.A. Consistência de misturas binárias e ternárias de gorduras de palma, palmiste e triacilgliceróis de cadeia média. Rev. Bras. Ciênc. Farm., v.36, n.1, p , 2000.
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