Governança, Commons e Direitos de Propriedade Intelectual: uma análise em termos de Social Choice
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- Osvaldo Cunha Nunes
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1 Acorn-Redecom Conference 2011 Program Thursday, May 19th and Friday, May 20th Lima, Perú Governança, Commons e Direitos de Propriedade Intelectual: uma análise em termos de Social Choice Alain Herscovici ( alhersco.vix@terra.com.br) Grupo de Estudos em Economia da Cultura, da Informação, do Conhecimento e da Comunicação (GEECIC)/ UFES/CNPq
2 Introdução e problemática Tragédia dos commons versus tragédia dos anticommons? Quais são as formas de organização social da produção, do consumo e da propriedade viáveis durante determinado período histórico? Qual é o sistema de Direitos de Propriedade que corresponde às especificidades da economia digital e da economia do conhecimento? Qual é a modalidade de governança (ou de business model) adaptada a esses setores?
3 I) Tragédia dos commons, tragédia dos anticommons e DPI: uma primeira abordagem 1) A tragédia dos commons (Hardin, 1968): a manutenção ou a renovação do estoque é incompatível com uma apropriação privada deste estoque Ex: O lago e os peixes Os limites desta análise: dependem da natureza econômica dos bens e das modalidades de acesso aos recursos. O esgotamento do estoque se explica a partir da incompatibilidade entre a natureza privada do consumo e a ausência de controle no que diz respeito ao acesso ao estoque. 2) A tragédia dos anticommons (Heller et Eisenberger, 1998) se caracteriza pelo fato do Conhecimento ser o objeto de DPI privados múltiplos. Quando há vários detentores de DP, o custo necessário para adquirir o direito de utilizar determinada tecnologia é mais alto, em relação à situação na qual só há um detentor dos DP No caso da produção científica, a privatização das modalidades de acesso ao estoque de conhecimento pode limitar a taxa de crescimento de produção de descobertas e de inovações (Nelson, 2003)
4 Incompatibilidade entre o caráter publico desses bens, o caráter cumulativo da produção e as modalidades de apropriação ligadas a um sistema de DPI privado. 3) A economia digital Em relação ao consumo, os bens são não rivais e não exclusivos ( bens públicos puros (Samuelson, 1954)). Por definição,eles correspondem a um consumo coletivo, não individualizado A criação de valor se explica a partir da criação de redes, ou seja, de utilidade social (Hescovici, 2009). Um sistema de DPI privado não corresponde a esta dinâmica econômica; i) ele se relaciona com um consumo individualizado, a partir de um suporte material também individualizado. ii) Ele consiste em implementar um mecanismo de exclusão pelos preços iii) Esta exclusão é incompatível com a criação de utilidade social, ou seja, com as novas modalidades de criação de valor agregado (two sided markets, ou mercados intermediários (Herscovici, 1995) )
5 3) O sistema de DPI A tipologia estabelecida por Ostrom and Hess (2005) ressalta o fato que existem vários tipos de direitos de propriedade (o conceito de feixe de direitos) e que esses direitos se aplicam a diferentes níveis. Acesso: o direito de ter acesso a um estoque de bens ou de serviços e de poder utilizá-los. Contribuição: o direito de contribuir com a preservação/ampliação do estoque comum, no caso dos Scientific Commons ou dos programas livres, por exemplo. Extração: o direito de obter unidades ou produtos do estoque existente. Management/participação: o direito de modificar as regras vigentes no seio do clube, o que implica em modificar a natureza da governança. Exclusão: o direito de determinar quem pode utilizar os direitos anteriormente definidos. O sistema de preços constitui umas dessas modalidades Alienação: o direito de vender ou de alugar os direitos anteriormente definidos..
6 A passagem de um sistema de DP privado para um sistema comum consiste em ceder alguns desses direitos privados para criar um capital social (Hess, Ostrom, 2000) A natureza econômica dos bens e dos serviços depende de duas variáveis: as evoluções tecnológicas e o sistema de DP adotado. Um bem, em sí, não é público ou privado; é o sistema de DP, em função das evoluções tecnológicas, que lhe confere sua natureza econômica. Neste sentido, o sistema de DP tem que ser concebido como uma instituição. II) Bem estar social e viabilidade da governança 1) A função de bem-estar social Uw = f1 (qi, Nj, CT, Ex) O bem-estar social aumenta quando aumenta o nível do estoque e o consumo individual, o que é bastante óbvio. Os efeitos de uma intensificação dos mecanismos de exclusão são mais complexos, à medida que eles dependem da natureza dos bens que constituem o estoque: eles podem ser negativos ou positivos.
7 O sistema de DP se relaciona simultaneamente com as modalidades de acesso ao estoque e com as modalidades de consumo ressource system corresponde ao estoque, as ressource units às modalidades de consumo (Heller and Ostrom, 2005). Os custos de transação (CT): os custos de acesso ao mercado (Coase, 1937), ou os custos necessários á implementação concreta de uma transação, seja ela privada, pública ou coletiva : contratos, seguros, monitoramento do comportamento e estabelecimento de um sistema de DP, custos jurídicos no caso de conflito.
8 Proposição 1 Uma governança é viável quando os CT são compatíveis com o nível da produção dos bens e dos serviços, ou seja, quando a implementação da atividade não se traduz por uma queda do bem-estar. Proposição 2 O nível dos CT depende, de maneira inversamente proporcional, do grau de compatibilidade entre a natureza econômica dos bens e dos serviços, o sistema de DP vigente e as modalidades de apropriação social. Incompatibilidades importantes se traduzem por CT altos e, eventualmente, pela inviabilidade do modalidade de governança. EX a economia do setor musical, a privatização da produção científica.
9 Governança, Bem-Estar e Viabilidade Estoque Natureza Eco Consumo indiv. Bem estar Viabilidade CT (DP) (DP) comum divisíveis Apropriação privada comum indivisíveis Apropriação coletiva Contribuição Exter. de redes Congest privado divisíveis Apropriação privada + +/- +/-. 6 direta semi-comun indivisíveis Apropriação privada + +/- +/- 7 indireta (two sided markets)
10 Conclusão Esta linha de pesquisa corresponde a uma redefinição do objeto da Ciência Econômica: Uma série de avanços tecnológicos produziu uma abundância de certos fatores de produção: (a) os aumentos da produtividade do trabalho se traduziram por uma queda do valor dos bens, o que permite falar em abundância relativa (b) a digitalização da Informação e do Conhecimento, paralelamente com o desenvolvimento das redes eletrônicas, diminui substancialmente a escassez deste tipo de serviços. Consequentemente, o objeto da Ciência Econômica se modificou. Ele não se relaciona apenas com as condições de produção dos bens e dos serviços, nem com a alocação mais eficiente dos recursos, mas com as modalidades concretas de apropriação social dos bens e serviços produzidos, com a perenidade desta governança, ou seja, com os problemas de coordenação das diferentes atividades, e com sua viabilidade social e econômica. A economia não é apenas a ciência da escolha racional, mas uma ciência dos contratos e, consequentemente dos CT (Williamson, 2002)
11 No âmbito de tal perspectiva, trata-se de uma análise institucionalista, à medida que o mercado não é concebido como um mecanismo social autônomo, socialmente eficiente e desprovido de dimensão histórica. Os componentes institucionais, largo senso, cumprem um papel fundamental: permitem assegurar a regulação do sistema a partir das compatibilidades entre as lógicas de acumulação do capital e as diferentes formas institucionais, coordenar a atuação dos agentes e manter os custos de transação a um nível que seja compatível com o funcionamento do sistema.
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