A Economia da desigualdade
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- Vinícius Estrada Rodrigues
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1 A Economia da Desigualdade PET-Economia UnB e Econsult 12 de junho de 2015
2 Agenda Autor Introdução do livro 1 2 Análise da desigualdade capital-salário 3 Análise da desigualdade das rendas do trabalho 4 Condições e instrumentos de redistribuição 5 Espaço para discussões
3 Agenda Autor Introdução do livro
4 Agenda Autor Introdução do livro Aos 18 anos, entrou na Escola Normal Superior de Paris, onde estudou matemática e economia Com 22 anos, conquistou o doutorado em filosofia com uma tese sobre redistribuição de riqueza Atualmente leciona na École d Économie parisiense É o autor de o aclamado O Capital no Século XXI
5 Agenda Autor Introdução do livro Desigualdade está no cerne dos conflitos políticos Direita: forças de mercado possibilitam melhora efetiva na renda Esquerda: somente lutas sociais e políticas são capazes de atenuar a miséria Se tem um consenso sobre os princípios de justiça social. O que difere entre as visões é a maneira mais eficaz de se atuar
6 Agenda Autor Introdução do livro O conflito direita/esquerda reflete acima de tudo a importância entre diferentes tipos de redistribuição e diferentes instrumentos de redistribuição. Devemos deixar o mercado operar livremente e nos contentar em distribuir a renda por meio de impostos e transferências fiscais, ou modificar estruturalmente a maneira como as forças de mercado produzem a desigualdade?
7 Agenda Autor Introdução do livro Objetivo do livro Portanto, só uma análise minuciosa dos mecanismos econômicos que produzem a desigualdade é capaz de definir a parcela de verdade dessas duas visões extremas da redistribuição e talvez contribuir para a instauração de uma redistribuição mais justa e eficiente.
8 Objetivo do capítulo Os diferentes tipos de renda A desigualdade dos salários A desigualdade das rendas A desigualdade no tempo e no espaço A evolução histórica da desigualdade Quais são as ordens de grandeza da desigualdade contemporânea? Como medi-las? Como comparar essas faixas com a desigualdade observada no tempo e no espaço?
9 Os diferentes tipos de renda A desigualdade dos salários A desigualdade das rendas A desigualdade no tempo e no espaço A evolução histórica da desigualdade
10 Os diferentes tipos de renda A desigualdade dos salários A desigualdade das rendas A desigualdade no tempo e no espaço A evolução histórica da desigualdade Cerca de dois terços da renda total constituídos por rendas ditas de atividade Rendas sociais representam mais de 30% do total da renda das famílias Rendas patrimoniais representam apenas 5% da renda total Subestimado
11 Os diferentes tipos de renda A desigualdade dos salários A desigualdade das rendas A desigualdade no tempo e no espaço A evolução histórica da desigualdade
12 Os diferentes tipos de renda A desigualdade dos salários A desigualdade das rendas A desigualdade no tempo e no espaço A evolução histórica da desigualdade Indicador prático: P90/P10 = 2.720/900 = 3,0 Indicador simples e intuitivo Está disponível de maneira relativamente confiável para muitos países e por isso foi bastante utilizada Total da massa salarial recebida pelos 10% mais bem pagos: 23,7% do total
13 Comparações Internacionais Os diferentes tipos de renda A desigualdade dos salários A desigualdade das rendas A desigualdade no tempo e no espaço A evolução histórica da desigualdade
14 Os diferentes tipos de renda A desigualdade dos salários A desigualdade das rendas A desigualdade no tempo e no espaço A evolução histórica da desigualdade A desigualdade P90/P10 é típica para todos os países? Considera somente assalariados em tempo integral, pois a precisão é importante Esse tipo de desigualdade se encontra em um intervalo que vai de 2-2,5 a 4,5, o que já é significativo para países em nível de desenvolvimento semelhantes
15 Os diferentes tipos de renda A desigualdade dos salários A desigualdade das rendas A desigualdade no tempo e no espaço A evolução histórica da desigualdade
16 Os diferentes tipos de renda A desigualdade dos salários A desigualdade das rendas A desigualdade no tempo e no espaço A evolução histórica da desigualdade Por que a desigualdade das rendas entre famílias é maior do que a dos salários entre assalariados? França: 5,3 ante 3,0 Rendas de atividades não assalariadas (em especial as patrimoniais) são repartidas de maneira muito mais desigual do que os salários 10% mais ricos recebem cerca de 50% das rendas patrimoniais totais
17 Os diferentes tipos de renda A desigualdade dos salários A desigualdade das rendas A desigualdade no tempo e no espaço A evolução histórica da desigualdade A desigualdade de patrimônio não se explica só pela desigualdade das rendas presentes e passadas que permitem constituí-los, mas também, em grande medida, por comportamentos de poupança e acumulação Essas dificuldades específicas relacionadas ao patrimônio explicam por que a mensuração da desigualdade costuma limitar-se à desigualdade das rendas e dos salários Se considerarmos a quantidade de membros nas famílias e imposto sobre renda, a proporção P90/P10 cairia para 3,5-4
18 Comparações Internacionais Os diferentes tipos de renda A desigualdade dos salários A desigualdade das rendas A desigualdade no tempo e no espaço A evolução histórica da desigualdade
19 Os diferentes tipos de renda A desigualdade dos salários A desigualdade das rendas A desigualdade no tempo e no espaço A evolução histórica da desigualdade
20 Os diferentes tipos de renda A desigualdade dos salários A desigualdade das rendas A desigualdade no tempo e no espaço A evolução histórica da desigualdade Devemos ter cautela ao analisar tais dados De qualquer forma, os índices mostram alterações significativas Essa diferença P90/P10 é bem inferior se comparada a tempos passados e países mais pobres
21 Os diferentes tipos de renda A desigualdade dos salários A desigualdade das rendas A desigualdade no tempo e no espaço A evolução histórica da desigualdade
22 Os diferentes tipos de renda A desigualdade dos salários A desigualdade das rendas A desigualdade no tempo e no espaço A evolução histórica da desigualdade Marx e teóricos socialistas do século XIX Após a Segunda Guerra Mundial Diversas teorias surgiram, como a curva de Kuznets (1955) Pesquisas mais recentes apontam que a forte redução da desigualdade ao longo do século XIX não foi por conta de um processo natural Longe de ser o fim da história, a lei de Kuznets é produto de uma história singular e reversível
23 Os diferentes tipos de renda A desigualdade dos salários A desigualdade das rendas A desigualdade no tempo e no espaço A evolução histórica da desigualdade
24 Os diferentes tipos de renda A desigualdade dos salários A desigualdade das rendas A desigualdade no tempo e no espaço A evolução histórica da desigualdade Nos anos 1980 houve a constatação de que a desigualdade voltou a subir Embora só tenha aumentado de fato nos EUA, em todos os países a desigualdade salarial ao menos parou de cair Nos EUA, a desigualdade salarial cresceu cerca de 50% entre 1970 e 1990
25 Dos salários às rendas Os diferentes tipos de renda A desigualdade dos salários A desigualdade das rendas A desigualdade no tempo e no espaço A evolução histórica da desigualdade Os países em que a desigualdade de renda aumentou são os mesmos onde cresceu também a desigualdade dos salários Por exemplo, entre 1979 e 1986, a razão P90/P10 passou de 4,9 para 5,9 nos EUA e de 3,5 para 3,8 no Reino Unido. Por outro lado, os países nórdicos vivenciaram um aumento moderado de 2,8 para 2,9 na Noruega e de 2,5 para 2,7 na Suécia em todo lugar a desigualdade de rendas parou de decrescer nos anos
26 Os diferentes tipos de renda A desigualdade dos salários A desigualdade das rendas A desigualdade no tempo e no espaço A evolução histórica da desigualdade Porém, não podemos atribuir toda a culpa do aumento da desigualdade de renda ao aumento da desigualdade de salários Aumento da correlação das rendas entre membros de uma mesma família Além disso, e sobretudo, os países ocidentais conduziram de maneiras diferentes a progressividade de seus sistemas de tributações e transferências desde os anos 1970
27 Objetivos do capítulo A participação do capital na renda total Questão da desigualdade social tratada em termos de oposição entre capital e trabalho, lucros e salários, patrões e empregados Desigualdade é descrita como uma oposição entre aqueles que detêm o capital e recebem seus rendimentos e aqueles que não o detêm e devem contentar-se com a renda de seu trabalho
28 A participação do capital na renda total Mensurando a participação das rendas do capital e a participação das rendas do trabalho na renda total das empresas Redistribuição direta dos salários e lucros pagos pelas empresas Redistribuição fiscal que passa pelos impostos e pelas transferências, sem interferência direta na distribuição primária efetuada pelas empresas Preocupação em preservar a capacidade e o estímulo das empresas e dos proprietários do capital para investir e aumentar a capacidade futura de produção da economia
29 A noção de substituição capital-trabalho A participação do capital na renda total Conclusões que se podem chegar caso seja possível variar as proporções de capital e trabalho utilizadas no processo de produção Marginalidade produtiva. Setor de serviços vs indústria Logo, a possibilidade de substituir capital por trabalho não se limita a uma oportunidade puramente tecnológica, mas mede também e sobretudo as oportunidades de transformação estrutural dos modos de produção e consumo Se existe tamanha elasticidade de substituição entre capital e trabalho, as empresas continuarão a contratar mais trabalhadores enquanto a produtividade marginal do trabalho for superior ao seu custo
30 A participação do capital na renda total Redistribuição direta ou redistribuição fiscal? Melhorar na mesma proporção as condições de vida dos trabalhadores sem diminuir o volume de emprego Aumentar as contribuições sociais pagas pelas empresas por cada trabalhador empregado equivale a aumentar o preço do trabalho Redistribuição fiscal: eficiente pois não aumenta o custo do trabalho das empresas É mais eficaz redistribuir por meio de transferências fiscais que permitam aos mais pobres pagar por preços elevados do que manipular o sistema de preços
31 A participação do capital na renda total A noção de elasticidade de substituição capital-trabalho Se a elasticidade de substituição capital-trabalho é baixa, uma vantagem da redistribuição direta é sua transparência e simplicidade. Nesse caso a produtividade marginal do capital e do trabalho tornamse rapidamente muito baixas assim que nos afastamos dos n trabalhadores por máquina.
32 A participação do capital na renda total A falta de coordenação entre os Estados explica em grande medida por que a tributação das rendas do capital foi bastante reduzida em todos os países europeus durante os anos Somente um federalismo fiscal, ou seja, uma taxação do capital em um nível geográfico e político mais amplo possível, permitiria implementar a redistribuição capital-trabalho ótima do ponto de vista da justiça social
33 A participação do capital na renda total
34 A participação do capital na renda total A participação dos salários no valor adicionado representa quase sempre em torno de dois terços do total Impossível detectar qualquer trend sistemático de aumento ou redução da participação dos salários ao longo do tempo Houve uma divisão lucros/salários praticamente constante ao longo de mais de 120 anos enquanto os salários eram multiplicados por mais de dez
35 Tigres Asiáticos A participação do capital na renda total Possuíam uma renda média similar a de outros países subdesenvolvidos em 1960 Investimentos elevados e mais ou menos igualitários em capital humano Liberalização econômica e abertura para os mercados externos Foco nas políticas igualitárias de formação que contribuíram para uma redistribuição eficiente
36 Crédito subsidiado A participação do capital na renda total Investir não consiste apenas em inserir o capital onde ele não está, há escolhas complexas em cada setor Dificuldades reais surgem sempre que um país risco quer transferir riqueza para um país pobre Maioria das experiências de crédito administrado voltado ao desenvolvimento não teve sucesso Bancos de desenvolvimento terminaram com rombos financeiros consideráveis sem que houvessem resultados evidentes sobre o investimento e a produção
37 Um flat tax sobre o capital? A participação do capital na renda total Historicamente, a instauração de um sistema tributário progressivo sobre as rendas e heranças contribuiu em larga medida para a redução da concentração do capital Seria possível a adoção de um imposto geral sobre a riqueza que permitisse financiar uma transferência fixa de riqueza, dado a um cidadão que atingisse a idade adulta, deixando todos livres para emprestar e investir onde lhes parecesse mais lucrativo Segundo Piketty não faltariam justificativas para uma taxação distributiva e transparente do capital e de sua remuneração, seja em termos de justiça social pura, seja para combater os efeitos negativos da imperfeição do mercado de capital
38 Desigualdade dos salários e desigualdade do capital humano As causas sociais da Desigualdade dos salários A maior parte das desigualdades de renda provém das próprias rendas do trabalho Medidas: tributação dos salários altos e transferências fiscais no caso dos salários baixos, políticas de educação e formação, salário mínimo, luta contra a discriminação por parte dos empregadores, grades salariais, papel dos sindicatos, etc Mas qual escolher?
39 Questões que serão avaliadas por Piketty Desigualdade dos salários e desigualdade do capital humano As causas sociais da Desigualdade dos salários A Desigualdade de capital humano mensura automaticamente uma desigualdade irremediável e insuperável? Isso justifica as grandes desigualdades de condições de vida? Mas de onde vem a desigualdade do capital humano? Quais instrumentos de redistribuição eficiente permitem modificá-la?
40 Desigualdade dos salários e desigualdade do capital humano As causas sociais da Desigualdade dos salários O Alcance explicativo da teoria do capital humano O salário médio em 1990 era dez vezes superior ao que era em 1870 em países desenvolvidos: aumento de produtividade A longo prazo o aumento do poder de compra/salários não é consequência de uma queda da participação dos lucros Diferenças salariais de pessoas qualificadas e não qualificadas pode ser explicada por oferta e demanda
41 Desigualdade dos salários e desigualdade do capital humano As causas sociais da Desigualdade dos salários Parte substancial, cerca de 60%, do aumento total de desigualdade salarial se deu entre grupos de assalariados com as mesmas características, como nível de educação, tempo de experiência profissional e idade Contudo essa definição de capital humano e qualificação é extremamente imprecisa, pois não leva em consideração características individuais como a motivação, a capacidade de trabalho e a qualidade variável que existe de cada diploma de formação, por exemplo
42 Como redistribuir os salários? Desigualdade dos salários e desigualdade do capital humano As causas sociais da Desigualdade dos salários Supondo que a desigualdade dos salários pode ser explicada pela desigualdade de capital humano, quais seriam as implicações disso para a redistribuição? Digamos que seja impossível agir a curto prazo sobre a desigualdade de capital humano Logo a única atitude de fato possível seria redistribuir as rendas entre os indivíduos aos quais o mercado conduziria de maneira espontânea
43 Desigualdade dos salários e desigualdade do capital humano As causas sociais da Desigualdade dos salários Qual a melhor maneira de operar essa distribuição? Tributar os salários altos para financiar uma transferência fiscal para os salários baixos ou para diminuir seus impostos Redistribuição fiscal é superior Contudo essa medida é pouco aceita atualmente
44 Desigualdade dos salários e desigualdade do capital humano As causas sociais da Desigualdade dos salários Outro mecanismo capaz de produzir uma desigualdade ineficiente do capital humano é a discriminação no mercado de trabalho Qualquer origem social suscetível de gerar preconceitos negativos Imperfeição na análise de qualificações e motivações de candidatos a emprego por parte dos empregadores: testes, entrevistas ou currículos
45 Desigualdade dos salários e desigualdade do capital humano As causas sociais da Desigualdade dos salários Affirmative action versus transferências fiscais Lutar contra a discriminação dos empregadores em relação às minorias discriminadas Erosão Progressiva dos preconceitos negativos e dos desestímulos a ele associados Melhor exemplo: impressionante progressão da posição das mulheres no mercado de trabalho a partir de 1950
46 Desigualdade dos salários e desigualdade do capital humano As causas sociais da Desigualdade dos salários Não se pode explicar desigualdade salarial somente pela desigualdade de capital humano Atores como sindicatos, empregadores, etc. tentam manipular em proveito próprio a estrutura dos salários que seria fixada pelo mecanismo de concorrência da oferta e da demanda de capital humano Como isso modifica a problemática da distribuição das rendas de trabalho?
47 Desigualdade dos salários e desigualdade do capital humano As causas sociais da Desigualdade dos salários O papel dos sindicatos na formação dos salários Sindicatos dispõem de um poder de monopólio no processo de fixação dos salários Tendo monopólio sobre certo setor, um sindicato pode utilizar seu poder para exigir salários superiores, mesmo que isso reduza o nível de emprego Seja como for, o fato é que os recursos utilizados pelos sindicatos para aumentar o nível geral das rendas do trabalho e diminuir a desigualdade entre os assalariados não são instrumentos eficientes de redistribuição
48 Desigualdade dos salários e desigualdade do capital humano As causas sociais da Desigualdade dos salários Empresas utilizarão mais capital e menos trabalho, e mais trabalho qualificado e menos trabalho não qualificado Redistribuição fiscal é mais eficiente Seria então necessário reduzir o poder dos sindicatos na fixação dos níveis de salário?
49 Desigualdade dos salários e desigualdade do capital humano As causas sociais da Desigualdade dos salários Sindicatos: Substitutos da redistribuição fiscal? Reduzir o poder dos sindicatos e impor uma redistribuição fiscal eficiente operada pelo Estado Haveria discordâncias em tal redistribuição Razão de ser dos sindicatos: quando consideram que o Estado não está desempenhando seu papel de redistribuidor, eles o substituem, com os meios de luta social e da redistribuição direta de que dispõem
50 Sindicatos: fator de eficiência econômica? Desigualdade dos salários e desigualdade do capital humano As causas sociais da Desigualdade dos salários Estimular os potenciais funcionários a adquirir mais capital humano específico sem temer ser expropriados pelos empregadores Intervenções públicas capazes de corrigir a ineficácia do mercado na esfera da formação profissional
51 Salários de eficiência e salários justos Desigualdade dos salários e desigualdade do capital humano As causas sociais da Desigualdade dos salários Oferecer a um funcionário uma remuneração superior à do mercado pode ter a função de motivá-lo mais, pois ele saberá então que perderá alguma coisa se for demitido Isso gera diferenças de salários que não são explicáveis por diferenças de capital humano Portanto a variável motivacional é outra que não pode ser quantificada ou observada apropriadamente pelos economistas
52 Objetivo do capítulo A redistribuição pura As redistribuições eficientes Nos dois capítulos anteriores buscamos mostrar como é essencial a compreensão dos mecanismos socioeconômicos que produzem as desigualdades, a fim de agora identificarmos os instrumentos de redistribuição apropriados.
53 A redistribuição pura As redistribuições eficientes É a redistribuição fiscal, por meio de tributações e transferências, que permite corrigir a desigualdade das rendas produzida pela desigualdade das dotações iniciais e pelas forças de mercado Redistribuição fiscal das rendas de trabalho e não a redistribuição das rendas do capital
54 A redistribuição pura As redistribuições eficientes As taxas médias e marginais da redistribuição Como mensurar a redistribuição fiscal de fato operada pelos Estados contemporâneos? As mensurações deixam bastante a desejar, visto que não nos dizem nada sobre como tais tributações são distribuídas Recorrer então à taxa média efetiva e a taxa marginal efetiva de tributação e transferência
55 A redistribuição pura As redistribuições eficientes Taxa média efetiva: associada a determinado nível de renda, é definida como a soma de todas as tributações e transferências, expressa em porcentagem da renda bruta, isto é, da renda total antes de qualquer imposto ou transferência Taxa marginal efetiva de tributação e transferência entre dois níveis de renda quaisquer é definida como a soma de todas as tributações e transferências suplementares que um indivíduo deverá pagar ou receber se passar de um nível de renda para outro
56 A redistribuição pura As redistribuições eficientes A redistribuição atual não promove nenhuma redistribuição monetária significativa entre os trabalhadores ativos países com baixa desigualdade de renda são os mesmos onde há baixa desigualdade de salário e vice-versa Além das despesas tradicionais (justiça, defesa, estradas, etc.), essa tributação globalmente proporcional serve para financiar as transferências para os desempregados, despesas com educação e, sobretudo, as aposentadorias e despesas com saúde
57 A curva em U das taxas marginais A redistribuição pura As redistribuições eficientes
58 A redistribuição pura As redistribuições eficientes Taxas marginais serem igualmente elevadas para os salários menores se explica pelo fato de que a passagem de um salário nulo para um salário baixo é acompanhada não só de tributações elevadas sobre o salário obtido, mas também da perda de transferências sociais reservadas àqueles que não tem renda de trabalho
59 A redistribuição pura As redistribuições eficientes Essa curva em U das taxas marginais efetivas, com os picos mais elevados na primeira parte da curva, é a segunda grande característica da redistribuição fiscal contemporânea Também nesse caso, trata-se de uma característica comum a todos os países ocidentais: reservar as transferências sociais àqueles não possuem renda de atividade e excluir delas os salários baixos é a maneira menos dispendiosa, ao menos aparentemente, de lutar contra a pobreza
60 Earned Income Tax Credit americano A redistribuição pura As redistribuições eficientes Admite-se que os efeitos desestimulantes da redistribuição sejam de fato mais agudos para as rendas baixas do que para as rendas elevadas A curva em U das taxas marginais efetivas tradicionalmente utilizada para concentrar a redistribuição nos mais pobres talvez não seja a estratégia mais eficiente: ao reduzir as tributações sobre os baixos salários e transferindo-as para as zonas de salários médios e altos seria possível fazer uma transferência mais elevada A experiência do EITC sugere então que um achatamento da primeira parte da curva em U talvez seja um objeto prioritário mais importante do que a redução das taxas marginais aplicáveis às rendas elevadas discutidas no debate político
61 A redistribuição pura As redistribuições eficientes Redistribuição fiscal contra o desemprego? Efeitos positivos do EITC sobre o nível de emprego Armadilhas de salários baixos, devido ao fato de que o custo para o empregador aumentava muito depressa se ele tentasse elevar o salário líquido auferido pelo assalariado
62 Imposto negativo A redistribuição pura As redistribuições eficientes Imposto negativo seria nada menos do que um subsídio pessoal nesse sentido Seria destinado a substituir toda a redistribuição fiscal existente por meio da tributação de todas as rendas de atividade a uma taxa marginal única, assim financiando a transferência, que é paga simultaneamente à tributação de eventuais rendas de atividade
63 Renda de cidadania A redistribuição pura As redistribuições eficientes Uma proposta radical de reforma da redistribuição fiscal dos anos 1960 e 1970 Trata-se de pagar a cada individuo adulto uma transferência universal, isto é, uma mesma transferência monetária mensal, quaisquer que sejam sua renda e seu status no mercado de trabalho Renda básica, distribuída a todos, estaria diretamente integrada a tal sistema de imposto negativo
64 A redistribuição pura As redistribuições eficientes Segundo Piketty seria mais interessante permitir aos baixos salários conservar parte da renda mínima ou ainda reduzir as tributações sobre esses salários menores, deslocando essa carga para as rendas médias e elevadas Pode combater a armadilha de pobreza e seu ciclo vicioso
65 A redistribuição pura As redistribuições eficientes Em diversas situações, a desigualdade exige uma ação coletiva de redistribuição não só por ir contra o nosso senso de justiça social, como por representar um imenso desperdício de recursos humanos que poderiam ser mais bem utilizados em benefícios de todos.
66 A redistribuição pura As redistribuições eficientes É necessário corrigir ineficácias de distribuição ao mesmo tempo em que se redistribui a renda As políticas de educação e formação, sob diversas formas, também constituem um instrumento poderoso de redistribuição eficiente, permitindo modificar estruturalmente a desigualdade das rendas do trabalho Intervenções diretas sobre o mercado de trabalho e o da educação
67 Redistribuição e seguros sociais A redistribuição pura As redistribuições eficientes Imperfeição do mercado de crédito: só se empresta aos ricos Problemas de informação e motivação que estão na origem do racionamento de crédito, o mercado é incapaz de fornecer corretamente os seguros sociais fundamentais, justificando assim os sistemas públicos e obrigatórios de proteção social Fenômeno de antisseleção, busca por clientes de baixo risco e rejeição de clientes de alto risco
68 A redistribuição pura As redistribuições eficientes Seguros sociais: um instrumento de redistribuição fiscal? Estando a questão da desigualdade intimamente relacionada às condições de vida das populações mais carentes, os seguros sociais são sim uma forma de se buscar a redução da desigualdade Desigualdade quanto à aposentadoria é relativa às desigualdades quanto às expectativas de vida: em geral, os salários baixos têm expectativas de vida bem menores que os salários elevados, recebendo assim sua aposentadoria por um período mais curto Em outras palavras, as aposentadorias promovem uma redistribuição às avessas: em média, uma parte significativa das contribuições dos operários financia a aposentadoria dos altos executivos
69 Redistribuição e demanda A redistribuição pura As redistribuições eficientes Afirma que um aumento de salários pode permitir fortalecer a demanda de bens e serviços na economia e assim aquecer a atividade e o nível de emprego Redistribuição de poder de compra, seria um choque salarial Seus fundamentos conceituais e empíricos são um tanto frágeis Os outros componentes dessas políticas de crescimento, como, por exemplo, o aumento da dívida pública, não raro provocam um efeito redistributivo também duvidoso
70 A redistribuição pura As redistribuições eficientes Finalização Não sendo possível pôr fim ou erradicar a desigualdade irreal, algumas medidas devidamente aplicadas permitiriam ao menos atenuar de maneira infalível a desigualdade bem real das condições de vida.
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