Frutas Tropicais: Levantamento das Exportações Brasileiras
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- Paulo Custódio Andrade
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1 Frutas Tropicais: Levantamento das Exportações Brasileiras MÁRCIO VINICIUS SCHEIBLER Curso de Administração habilitação em Comércio Exterior FLAVI FERREIRA LISBOA FILHO Professora e orientadora da Faculdade Dom Alberto flavi.lisboa@faculdadedomalberto.com.br Resumo: O objetivo principal deste texto é analisar a evolução do comércio internacional de frutas tropicais do Brasil, mostrando como o produto é tratado desde o plantio até o seu consumo final. Quanto à metodologia, trata-se de uma pesquisa exploratória, que utiliza a pesquisa bibliográfica e baseia-se em dados quantitativos. Verificou-se a grande evolução dessa área nos últimos anos devido principalmente às ações do governo, que promoveu programas de incentivo às exportações de frutas tropicais e deixou uma imagem forte do Brasil no exterior. O grande problema que acaba impedindo que o Brasil exporte valores e volumes maiores é a falta de exploração de todo o potencial que o país proporciona para o cultivo de frutas. Palavras-Chave: Frutas Tropicais, Exportação, Brasil Abstract: The main objective of this text is to analyze the evolution of the international trade of tropical fruit in Brazil, showing how the product is dealt with, from the planting to the consumption. Regarding the objectives, it is an explanatory research which uses bibliographical research based on quantitative data. It has been observed a great evolution in this area over the last years due to governmental actions; the government has promoted programs of support to tropical fruit exports which has left a strong image of Brazil abroad. The biggest problem which ends up preventing Brazil from exporting higher amounts and volumes is not being able to exploit the full potential of the country s fruit cultivation. Key-words: Tropical fruit, Export, Brazil 1. Introdução Este trabalho pretende ampliar os horizontes de uma atividade com poucos anos de registro nos negócios internacionais. O mercado de exportação de frutas tropicais brasileiras está longe de ser explorado em toda a sua potencialidade, e mais distante ainda de ser esgotado. Pretende-se mostrar as peculiaridades dos mercados compradores e as medidas tomadas pelo Brasil para atendê-los, oferecendo, assim, contribuições para uma possível abertura ou expansão deste negócio. Serão analisados os números e enfatizadas as normas que facilitam ou restringem as negociações. Também serão mostrados os programas que visam aumentar a participação mundial do Brasil neste setor, assim como seus principais compradores e concorrentes. Foi uma pesquisa exploratória, bibliográfica/documental e quantitativa. Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 4(6):19-23,
2 2. Os Números da Fruticultura Brasileira A colheita anual brasileira de frutas tropicais é de aproximadamente 38 milhões de toneladas, o que coloca o país em terceiro lugar entre os maiores produtores mundiais. Os principais mercados compradores do produto brasileiro são a Europa, que absorve 70% das exportações, e o Mercosul, que importa 11% (PLANETA ORGANICO, 2004). Os grandes concorrentes do Brasil são a China e a Índia, seguido do México, Cuba e Estados Unidos. Estes três últimos concorrem na produção de sucos, mais especificamente. O primeiro passo para a exportação de frutas tropicais se deu em função da desvalorização cambial, influindo na competitividade por conta dos baixos preços exibidos pela produção brasileira. Devido a isso, o período do Plano Real foi marcado pelo crescimento das importações de frutas, passando de US$ 90 milhões em 1994 para US$ 262 milhões em 1998 (BRAZILIANFRUIT, 1999). Apesar da posição de destaque, a participação brasileira é de apenas 1,6% em divisas e 2% em volume sobre as exportações mundiais do setor (PLANETA ORGANICO, 2004). A produção brasileira de frutas tropicais bateu recordes em 2004, apesar das perdas provocadas por problemas climáticos: exportações de US$ 370 milhões (aumento de 10%), o que equivale a 850 mil toneladas (aumento de 5%) (ANU- ARIO BRASILEIRO DA FRUTICULTURA, 2005). O grande destaque foi a maçã, que rendeu US$ 20,582 milhões na comercialização de toneladas, produção esta quase que totalmente feita na região Sul do país (PLANETA ORGANICO, 2005). O problema é que temos um grande mercado consumidor interno e uma série de barreiras que acabam fazendo com que seja muito mais cômodo para o produtor vender apenas dentro do Brasil em vez de buscar compradores no exterior (PRADO apud TOLEDO, 2000, p.20). Em São Paulo, o destaque é para a produção de laranjas, que representa 75% da produção local de frutas 13,4 milhões de toneladas. Para se ter uma idéia, 45% da produção total de frutas do Brasil sai do território paulista. Temos que alavancar quem já tem volume de produção para investir no exterior e depois sim, descobrir novos sabores e produtos que podem ser vendidos no mercado externo. Algumas frutas tropicais usadas para a fabricação de sucos ainda não têm cultivo comercial, são espécies silvestres e por isso não podem garantir o abastecimento de empresas ou o atendimento a compromissos de grandes vendas (PRADO apud TOLEDO, 2005, p.21). Ainda em decorrência do clima em 2004, os preços das frutas também caíram. A manga, por exemplo, teve período muito curto de tempo para ser negociada com a Europa. Isso gerou uma superoferta e mexeu nos valores. O mercado de uva, porém, manteve-se estável, devido à demanda de fruta sem semente. Segundo Prado apud Toledo (2000), o Brasil não tem volume suficiente de frutas e isso acaba inviabilizando o crescimento das exportações de sucos. A seguir apresentam-se os Quadros 1 e 2 que indicam variáveis pertinentes a este estudo: Quadro 1 - Evolução das Exportações Brasileiras de Frutas entre 1998 e 2004 Ano Volume (mil toneladas) Receita (mil US$) Fonte: Secretaria de Comércio Exterior. 20 Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 4(6):19-23, 2006
3 Quadro 2 - Comparativo das Exportações de Frutas 2003/2004 Entraves nas Negociações e Programas de Incentivo Fruta Valor % Volume % Mil US$ Toneladas Mil US$ Toneladas Maçã 91,76 100, Manga -15,10-19, Melão 8,46-4, Uva -11,98-23, Banana -10,10-14, Mamão -9,07-9, Laranja 61,02 32, Limão 7,97 9, Tangerina 32,17-1, Abacaxi 112,87 93, Melancia 15,26-1, Figo 26 11, Abacate 75,96 72, Morango 39,65 44, Framboesa 22,24 11, Coco 72,32 9, Airela e mirtilo 239,11 179, Ameixa 2475,12 255, Kiwi 803,54 442, Pêra --11,85-48, Marmelo Groselha 473,68 313,64 1 0,91 0,19 0,22 Pêssego -81, ,45 0, Pomelo Fonte: Secretaria de Comércio Exterior O clima do Brasil permite a produção de todos os tipos de frutas tropicais e algumas delas proporcionam mais de uma safra por ano. Mas, para que essa perspectiva se realize é necessário superar uma série de dificuldades, entra elas a falta de uma política de defesa fitossanitária em âmbito nacional, a carência de infra-estrutura organizada para as frutas e o sistema tributário da produção, no que diz respeito a ICMS para movimentação entre estados brasileiros. Os grandes empecilhos às exportações brasileiras são as altas taxas alfandegárias e as exigências sanitárias. Um acordo bilateral de livre comércio seria a melhor alternativa para facilitar a expansão, assim como fez o Chile com a União Européia. O Brasil vem investindo em programas de sanidade e modernização do processo de produção. Um desses programas é o Sistema de Produção Integrada (PIF), que prevê cultivo de frutas de alta qualidade e sanidade, seguindo normas de sustentabilidade ambiental, segurança alimentar e viabilidade econômica, usando tecnologias não agressivas ao meio ambiente e ao homem. Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 4(6):19-23,
4 Segundo Planeta Orgânico (2005): A implantação do sistema PIF, no Brasil, tem apresentado resultados de destaque como: a) 40% da área total de produção de maçã em PIF; b) aumento de emprego e de renda na ordem de 3% (PIF Maçã); c) diminuição dos custos de produção na maçã (40% em fertilizantes e 25% em inseticidas); d) indicadores de redução do uso de agrotóxicos em outras espécies, em até 53% nos inseticidas, 78% nos fungicidas e 80% nos herbicidas; e) redução em pulverizações; f) diminuição de resíduos químicos nas frutas e g) melhoria do meio ambiente, da qualidade do produto consumido, da saúde do trabalhador rural e do consumidor final. Hoje, o setor da fruticultura emprega mais de cinco milhões de pessoas e ocupa uma área de 3,4 milhões de hectares. Para cada US$ 10 mil investidos em fruticultura, é possível abrir três empregos diretos e dois indiretos. Em São Paulo, o governo trabalha no sentido de estimular a expansão do setor através de subvenção ao prêmio do seguro anual. Estão disponíveis R$ 20 milhões para agricultores com renda bruta anual de até R$ 185 mil, que cultivem uma das 26 culturas do projeto (FUNDAÇÃO INDAIATU- BANA DE EDUCAÇÃO E CULTURA, 2004). A implantação do sistema de produção integrada de maçã aliada à pressão do mercado externo, fez com que outras cadeias fossem estimuladas a utilizar também esse sistema, que privilegia a sustentabilidade ambiental e a segurança alimentar. A produção integrada na fruticultura proporciona uma atividade mais intensa em termos de mão-de-obra do que a cultura de grãos. Esse fator tem atraído uma quantidade maior de famílias de agricultores, que representaram 32,54% das vendas do agronegócio em 2003 (PLANETA ORGANICO, 2005). 3. Medidas para Alavancar a Competitividade Algumas medidas devem ser implantadas para aumentar a competitividade brasileira no setor de frutas tropicais no mercado mundial. Entre elas, destacam-se: a revisão da política tributária, crédito especial para o setor, programas de incentivo do setor produtivo e do consumo de alimentos orgânicos, apoio de investimento em tecnologia para todos os elos da cadeia produtiva, maior presença política externa, definição de estratégias comerciais e maior integração entre os diversos elos. Outros aspectos também devem ser considerados, como, por exemplo, a embalagem, que pode reduzir ou elevar o preço de exportação do produto. O importador pode exigir uma embalagem diferente daquela utilizada normalmente pela empresa, seja no peso, material, rótulo, etc. Um modelo de produção integrada está sendo usado pelas maiores empresas do Vale do São Francisco com a finalidade de atender às exigências do mercado internacional. A EMBRAPA iniciou um trabalho para dotar de infra-estrutura tecnológica todas as etapas do processo produtivo, desde a obtenção de mudas até a pós-colheita. O foco principal é a diminuição do uso de defensivos agrícolas na produção de frutas. A manga é um exemplo do crescente volume de investimento na área: a perspectiva dos técnicos é de que em quatro anos o Brasil disponha de toneladas/ano para a exportação, quantidade essa que é garantia de fornecimento para o mercado europeu, japonês e americano. São necessárias melhorias na infra-estrutura de transportes e na produção agrícola, onde os custos são mais elevados em comparação com os principais concorrentes. Terminais com sucodutos já existem no Brasil e substituem o transporte em tambores. O tratamento dado às principais patologias das frutas, como o cancro cítrico, o amarelinho e a presença de larvas da mosca-da-fruta, tem propiciado um incremento da competitividade do Brasil neste setor. 4. Considerações Finais É difícil entrar num ramo que apresenta tantas barreiras nas negociações, mas ao mesmo tempo dispõe de uma infinidade de opções. Um país de proporções continentais como o Brasil ainda enfrenta rejeições por parte de outros países devido à falta de uma estrutura adequada que 22 Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 4(6):19-23, 2006
5 possa colocar os produtos nacionais (frutas tropicais) num patamar que realmente lhe são reservados. Programas são apresentados, soluções são propostas, mas algo ainda deixa o Brasil em um nível abaixo de outros países que não possuem o REFERÊNCIAS ANUARIO BRASILEIRO DA FRUTICULTURA. Santa Cruz do Sul: Gazeta, BRAZILIANFRUIT. Disponível em: < Acesso em: 19 abr CASTRO, José Augusto de. Exportação: aspectos práticos e operacionais. São Paulo: Aduaneiras, mesmo potencial. É de esperar que as políticas de incentivo às exportações dêem resultado, mas sobretudo é preciso a união de toda a cadeia produtiva para que o produto brasileiro mostre toda a sua qualidade no exterior. FUNDAÇÃO INDAIATUBANA DE EDUCAÇÃO E CUL- TURA. Disponível em: < Acesso em: 19 abr PLANETA ORGÂNICO. Disponível em: < Acesso em: 19 abr TOLEDO, Laura. Néctar tropical. Exportar e gerência: a revista da pequena empresa exportadora. Brasília, número 18, março, Rev. de Negócios Internacionais, Piracicaba, 4(6):19-23,
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