POTENCIALIDADES E DESAFIOS DA FEIRA AGROECOLÓGIGA: CINCO ANOS DO PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DA UNICENTRO

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1 POTENCIALIDADES E DESAFIOS DA FEIRA AGROECOLÓGIGA: CINCO ANOS DO PROJETO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DA UNICENTRO Área Temática: Meio Ambiente Jorge Luiz Favaro (Coordenador da Ação de Extensão) Jorge Luiz Favaro 1 José Luiz de Oliveira 2 Fernanda Keiko Ikuta 3 Cássia Inês Lourenzi Franco Rosa 4 Helcya Mime Ishiy Hulse 5 Nilo de Oliveira 6 Marquiana de Freitas Vilas Boas Gomes 7 Elaine Maria dos Santos 8 Deonisia Martinichen 9 Palavras chaves: Agroecologia, Feiras Livres, Extensão Universitária. Resumo: O objetivo deste trabalho foi avaliar as potencialidades e desafios da Feira Agroecológica, instituída na Universidade Estadual do Centro-Oeste em 2009 como projeto de extensão. Esta avaliação baseia-se na perspectiva da equipe executora do projeto (professores, estagiários, feirantes e parceiros), que toma como referência o período 2009/2014, ou seja, os 5 anos de funcionamento da Feira Agroecológica. A Feira tem a finalidade de contribuir na formação dos acadêmicos e da sociedade, para a prática cidadã e ambiental, por meio dos princípios teóricos e políticos agroecológicos, que norteiam e dão sentido ao projeto. A avaliação teve como base uma série de reuniões com os participantes do projeto, além de questionários pré-elaborados aplicados a 12 feirantes participantes da feira no Campus CEDETEG. A partir dos resultados, concluiu-se que a Feira Agroecológica, apesar de algumas dificuldades, tornou-se um espaço de expressão de vários segmentos sociais, no grande movimento de lutas dos povos contra a mercantilização da vida, comprometendo-se a construir uma nova sociedade. 1 Doutor. Docente do Departamento de Agronomia da UNICENTRO, campus Cedeteg. 2 Acadêmico do Curso de Agronomia da UNICENTRO, campus Cedeteg. 3 Doutora. Docente do Departamento de Geografia da UNICENTRO, campus de Irati. 4 Doutora. Docente do Departamento de Agronomia da UNICENTRO, campus Cedeteg. 5 Doutora. Docente do Departamento de Medicina Veterinária da UNICENTRO, campus Cedeteg. 6 Agente Universitário da UNICENTRO. 7 Doutora. Docente do Departamento de Geografia da UNICENTRO, campus Cedeteg. 8 Doutora. Docente do Departamento Administração da UNICENTRO, campus Santa Cruz. 9 Doutora. Docente Docente do Departamento de Agronomia da UNICENTRO, campus Cedeteg.

2 Introdução O presente texto tem como objetivo analisar as potencialidades e os desafios da Feira Agroecológica, um projeto de extensão universitária instituído em 2009 pela PROEC - Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Estadual do Centro-Oeste, UNICENTRO. A avaliação do referido projeto se baseia na perspectiva da equipe executora do projeto (professores, estagiários, feirantes e parceiros), que toma como referência o período 2009/2014, ou seja, os 5 anos de funcionamento da Feira Agroecológica. Com a finalidade de contribuir na formação dos acadêmicos e da sociedade, para a prática cidadã e ambiental, este projeto iniciou em 30 de abril de 2009, no Campus CEDETEG, pela iniciativa de um grupo de produtores familiares e consumidores. Logo em seguida teve a adesão de outros parceiros. Em outubro deste mesmo ano (2009), a pedido de funcionários e alunos, a feira foi expandida para o Campus Santa Cruz. E em 2014, o projeto iniciou-se no Campus de Irati. Hoje a feira nos três campi, conta com a participação de 25 feirantes (produtores familiares/camponeses/indígenas, artesãos familiares, e produtores dos ramos da agroindústria/alimentação), oito professores, seis alunos de graduação, dez instituições parceiras e um agente universitário. Agroecologia como um processo social e político Além da estrutura da feira descrita acima, cabe aqui apontar a contextualização e os princípios teóricos e políticos que norteiam e dão sentido ao projeto. Se, por um lado, o agronegócio e o conjunto do atual modelo agrícola, baseado na agricultura tecnificada e empresarial, voltada para a monocultura de exportação, tem causado uma série de conflitos sociais, econômicos e ambientais (desemprego, pobreza, poluição, doenças), por outro lado, a agroecologia praticada por pequenos produtores familiares/camponeses tem se apresentado como uma alternativa ao padrão agrícola e alimentar hegemônicos ao se pautar no respeito ambiental e social (preocupando-se com as implicações que ocorrem desde o produtor até o consumidor, isto é, tanto para o campo quanto para a cidade). Gliessman (2001) define a agroecologia como a aplicação dos conceitos e princípios ecológicos no manejo de agroecossistemas sustentáveis. Já Caporal e Costabeber (2002) a definem como uma agricultura menos agressiva ao meio ambiente com uma oferta de produtos limpos, isentos de resíduos químicos. Por sua vez, Marcos aponta que: A agroecologia é entendida como uma nova abordagem da agricultura, uma base científica que integra diversos aspectos agronômicos, ecológicos e socioeconômicos para a produção de alimentos, capaz de realizar a crítica da agricultura convencional e orientar o correto redesenho e manejo dos agroecossistemas em busca da autossustentabilidade (MARCOS, 2007, p. 3). Desta forma, a agroecologia hoje é reconhecida como uma agricultura que respeita o meio ambiente, o trabalhador do campo e o consumidor da cidade, com a utilização de práticas agrícolas sustentáveis e engajadas na luta contra o modelo agrícola modernizante e mercantilista que produz endividamento, dependência,

3 perda de terras e migração para o pequeno produtor familiar, além de envenenamento do produtor, da natureza e do consumidor. Para tanto, é preciso reconhecer os elementos naturais, as tecnologias apropriadas e os aspectos socioeconômicos como interdependentes entre si (SANTOS et al., 2012). Para Guzmán (2014), a agroecologia vai além da produção de alimentos limpos e livres de agrotóxicos, ela abrange outras dimensões como a socioeconômica, política, econômica e cultural. A dimensão socioeconômica implica no fato de que a agroeocologia existe fora do processo de produção. A Agroecologia não é só a produção de alimentos. É também a comercialização, a chegada até o consumidor. E todo esse processo é muito importante, porque é aí que reside o controle dos mercados alternativos que se estabelecem entre o produtor e o consumidor. Outro ponto importante é que esta perspectiva está ligada a uma economia mais solidária porque evita que uma pessoa explore as outras. Segundo Guzmán (2014), a agroecologia rompe com a lógica do lucro em que se gera excedente e que caracteriza o capitalismo, pois adota os mercados alternativos, tendo as feiras livres como uma das opções mais operacionalizadas. Feira Agroecológica da UNICENTRO: limites e possibilidades Diante destes conceitos e perspectivas multidisciplinares da agroecologia é que nos colocamos a refletir ainda sobre as potencialidades, limites e desafios específicos da Feira Agroecológica da UNICENTRO, que completa 5 anos em Antes de entramos diretamente na análise do estudo, achamos prudente caracterizar primeiramente como a feira está estruturada. A mesma é desenvolvida em quatro blocos de componentes: o primeiro é composto de agricultores que produzem produtos orgânicos, ou seja, hortaliças e frutas, alguns com sua propriedade certificada e outros em fase de certificação; o segundo bloco é composto por feirantes que confeccionam artesanatos (roupas, guarnições, cama, mesa e banho), brinquedos e acessórios (brincos, pulseiras colares etc.). Neste bloco se inclui os artesanatos indígenas; o terceiro bloco é desenvolvido pelos vendedores de alimentos artesanais (pães, biscoitos, queijos, bolos, tortas, pastéis, churros, sucos, café etc.). Neste último bloco também participam componentes do projeto de extensão: Universidade Aberta da Terceira Idade-UNATI; o quarto bloco é de responsabilidade dos envolvidos nos projetos de extensão universitária e dos bolsistas do projeto, e tem o caráter mais educativo, onde se observa a presença das barracas do sebo universitário e da barraca chamada de agroecológica onde se expõem livros e materiais bibliográficos sobre agroecologia. Outras atividades foram realizadas durante os 5 anos de existência do projeto, tais como visita a outras feiras de artesanatos, em outros municípios; cursos de capacitação como de panificação, processamento de frutas e hortaliças; palestras sobre o tema agroecologia; entre outras. A análise apresentada no item a seguir foi elaborada a partir de uma série de reuniões realizadas entre os meses de fevereiro e março de 2014, com professores, feirantes e parceiros de Guarapuava. Para complementar esse diagnóstico, foram

4 aplicados questionários pré-elaborados a 12 feirantes participantes da feira no Campus CEDETEG no mês de junho de Os resultados obtidos no estudo foram divididos, para fins didáticos, em três grupos: o primeiro é relativo aos pontos positivos ou potencialidades da feira; o segundo é composto pelos pontos negativos ou limites; e o terceiro são os desafios que, segundo os participantes do projeto, devem ser trabalhados daqui para frente. No decorrer dos 5 anos da feira foi possível levantar e elencar os seguintes pontos positivos ou potencialidades: 1) boa integração dos feirantes com a comunidade acadêmica; 2) boa participação do público interno da Universidade (professores, alunos, funcionários); 3) apoio da Universidade como um todo, sobretudo no que respeita a infraestrutura, funcionários para montagem e desmontagem das barracas, luz, lixeiras etc.; 4) oferta de produtos com qualidade e preços acessíveis; 5) opção de fonte de renda para os participantes; 6) divulgação da cultura de Guarapuava e região por meio dos artesanatos; 7) a formação técnica/humana aos participantes; 8) a formação complementar acadêmica dos alunos estagiários do projeto; 9) integração de projetos de extensão universitária desenvolvidos pela Universidade com ênfase aos projetos da Certificação Orgânica, e da UNATI - Universidade Aberta da Terceira Idade; 10) espaço de união e confraternização de alunos e professores de vários cursos; 11) referência para criação de novas feiras. Como pontos negativos/limites foram elencados os seguintes itens: 1) baixa participação do público externo, ou seja, da população em geral; 2) no decorrer do tempo houve a geração de subgrupos de interesse individualista, provocando conflitos/concorrência entre os participantes, contrariando os princípios agroecológicos da economia solidária, como também o posicionamento de alguns participantes que dificultaram a entrada de novos feirantes alegando concorrência e perda de renda, numa demonstração de desconsideração da ampliação dos produtos ofertados e das vantagens decorrentes ao consumidor; 3) reclamações constantes por parte de alguns feirantes em relação à estrutura/infra-estrutura da feira, assumindo uma postura que coloca a Universidade como única responsável pelo bom andamento da feira; 4) alguns professores e alunos (bolsistas e estagiários) se desestimulam e se retiram do projeto em decorrência dos conflitos/reclamações relatados; 5) ausência dos parceiros no decorrer do projeto; 6) dificuldade de implementar uma visão/caráter agroecológico aos produtos principalmente no que tange aos artesanatos e aos alimentos destinados ao consumo durante a feira (pastéis, bolos, tortas e etc.). Como sugestão de desafios a serem enfrentados pela equipe do projeto, foram levantados os seguintes pontos: 1) continuação de cursos de formação e aperfeiçoamento nas diversas áreas que contemplam os produtos vendidos, como também visitas em outras feiras para troca de conhecimento e experiências; 2) continuação das reuniões mensais feitas pela coordenação do projeto (professores envolvidos com os feirantes), pois para os participantes é a melhor forma de sanar as dificuldades como também serve de formação e capacitação; 3) criar

5 mecanismos e espaço que proporcionem o rompimento do individualismo concorrencial inerente à cultura capitalista, e consequentemente, criar condições para emergir uma cultura mais solidária dentro dos princípios da agroecologia. Considerações Finais Pelas avaliações realizadas, concluiu-se que o projeto Feira Agroecológica, dentro da Universidade Estadual do Centro Oeste, apesar de algumas dificuldades apresentadas acima, tem se tornado um espaço de expressão de vários segmentos sociais da agricultura familiar e camponesa, organizações da sociedade civil, técnicos, professores e acadêmicos que se inserem no grande movimento de lutas dos povos contra a mercantilização da vida, comprometendo-se a construir uma nova sociedade. Referências CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Agroecologia: enfoque científico e estratégico para apoiar o desenvolvimento rural sustentável. Porto Alegre. EMATER/RS-ASCAR, GLIESSMAN, S. R. O complexo ambiental. In: Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. 2. ed. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, GUZMAN, E. S. O Futuro está a nosso favor. In: Revista de Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável. Porto Alegre: EMATER/RS-ASCAR, v.7,n.1, jan/abr MARCOS, V. de. Agroecologia e campesinato: uma nova lógica para a agricultura do futuro. Agrária, n. 7. São Paulo, SANTOS, C. F.; ARAÚJO, I, T de.; MAIA, Z. M. G. Agroecologia e Sustentabilidade para o Espaço Rural. Anais do VI Encontro Nacional da ANPPAS. Belém, 2012.