O TRAGA A VASILHA: SAGRADO OU PROFANO?
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- Manoela Canário Monsanto
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1 O TRAGA A VASILHA: SAGRADO OU PROFANO? Antônio Henrique da S. Araújo 1 Suelen de Aquino T. Marques 2 Resumo Este trabalho tem como objetivo analisar o surgimento de grupos contemporâneos de maracatu que, apesar de apresentarem traços de modernidade, têm uma ligação bastante forte com as raízes de matriz africana de Pernambuco. Verificamos que vem se perpetuando na cena cultural pernambucana, nos últimos anos, grupos independentes formados geralmente por amigos, sem vínculos financeiros, seja por algum tipo de patrocínio estatal ou privado, ou alguma conotação religiosa. Utilizamos como objeto de estudo o Traga a Vasilha, manifestação popular que ocorre sempre nas sextas-feiras, durante todo o ano, na Rua Mariz e Barros no bairro do Recife, e objetiva proporcionar diversão para quem gosta de maracatu de baque virado e não deseja esperar às proximidades do carnaval para praticar seus ensaios, já que os ensaios das nações de maracatu acontecem, geralmente, entre os meses de setembro e fevereiro. O grupo é formado, hoje em dia, por integrantes de diversas nações que se organizam para difundir seus conhecimentos com quem deseja participar, desmistificando a tradicional ideia de rivalidade entre as nações de maracatu. A partir da metodologia da história oral, foram realizadas entrevistas com participantes que estão no Traga a Vasilha desde sua criação e outros que ingressaram no grupo posteriormente. Esta pesquisa preenche uma lacuna na historiografia no que diz respeito a esse tipo de manifestação que vem difundindo tradições que estavam próximas de sua extinção. Palavras-chave: Cultura, Maracatu, Tradição, Organização Popular. Abstract This project has the objective of analizing the beginning of comtemporany groups of maracatu that, even tough they have something to do with modernity, they are very similar to the origin of Africans in Pernambuco. We have noticied that it has becoming more frequently in the local culture, in the last years, that independent groups are formed by friends, without 1 Aluno Graduando em história pela Universidade Católica de Pernambuco; antoniohenriques.a@hotmail.com. 2 Aluna Graduanda em história pela Universidade Católica de Pernambuco; suelendeaquino@hotmail.com. 702
2 financial interests, some private ou public instutictions help, or it may have some help related to religion. We have as an objective of "Traga a Vasilha", popular manifestations that always happen on Fridays, all year long, at Mariz Street and Bairro do Recife, and provide joy for the ones who like "maracatu de baque virado" and don't want to wait for next carnival to come so they participate of the pre-carnival, because the pre-carnival of maracatu's nation happen, frequently, between September and February. The group, nowadays, is formed by members of variety nations that organize themselves to present their knowledgment with the ones that also want to participate, desmitifying the traditional ideia of rivality between the maracatu's nation. Considering the methodology of oral history, some interviews had been realized with the members who are in the "Traga a Vasilha" since its criation and other had joined the group lately. This research fills in a very important task about the history of this manifestation that has been presenting traditions that were next to its exctition. Keywords: Culture, Maracatu, Tradition, Organization Popular. Introdução Buscamos nesta pesquisa compreender o surgimento de grupos contemporâneos de maracatu que mantêm ligação com as raízes de matriz africana em Pernambuco. Tomamos como objeto de estudo o Traga a Vasilha, grupo com mais de dez anos, que hoje é uma referência para muitos maracatuzeiros e maracatuzeiras de Pernambuco. Este grupo tem como principal objetivo aglutinar diversos batuqueiros das variadas nações de maracatu de Pernambuco, e com isso dissolver as rixas e incentivar quem busca aprender a tocar o maracatu, sempre de forma bem descontraída. Observamos uma nova onda migratória da classe média que busca ocupar um espaço dentro da cena cultural pernambucana, já que hoje manifestações populares como o maracatu, se encontram em expansão, sendo colocadas pela mídia como um produto exótico, um espetáculo. Em outros tempos esse tipo de manifestação era relegada há uma sub-cultura, ou seja, era vista como manifestação de pobre, preto e favelado dos morros do Recife, e hoje vem desenvolvendo um papel importante na cena cultural de Pernambuco, e até mesmo social já que muitos de seus antigos integrantes hoje já formam novos grupos. Ficou claro em nossa pesquisa que apesar de toda essa propagação, a adesão da classe média, e diminuição do preconceito em relação ao maracatu, não é estabelecido nesses novos grupos qualquer relação com o candomblé, característica 703
3 primordial dos maracatus nação. O que não significa que alguns participantes, isoladamente, não sejam de dentro do candomblé. Verificamos que principalmente os participantes do traga a vasilha que são oriundos dos maracatus nação preservam sua identidade religiosa sem, no entanto, exercer suas atividades religiosas dentro do Traga a Vasilha. Por outro lado alguns participantes procuram o Traga a Vasilha justamente por não desejarem assumir compromissos religiosos, ou mesmo ter qualquer ligação com o candomblé, fato que não poderia ocorrer nos maracatus nação. 1. Origens do maracatu O debate sobre o surgimento do maracatu é intenso. Diversas hipóteses foram levantadas por inúmeros autores sem, no entanto chegar a um consenso. Guerra-Peixe 3 aponta o surgimento do maracatu a partir da instituição do rei do congo onde era feita a eleição de reis negros. O rei negro era eleito juntamente com sua rainha e toda sua corte em ato solene de coroação regido pelo pároco da comarca, ou do distrito paroquial, no dia de N. S do Rosário. Segundo o autor, as coroações aconteceram, provavelmente, desde o século XVII, sendo que a palavra maracatu aparece apenas em 1867 pelo padre Lino do Monte Carmelo Luna. 4 Dentro as instituição do rei do congo eram estabelecidas posições hierárquicas com patentes baseadas na hierarquia militar, cargos nobres e postos honoríficos, além de governadores de tribos e nações, dirigentes de grupos que constituíam outras partes das relações administrativas da instituição. 5 O rei exercia poder soberano sobre sua corte e tinha função de chefe administrativo da comunidade negra, fosse ele escravo ou liberto. No entanto a instituição do rei do congo foi com o passar do tempo sofrendo um declínio em relação ao seu poder e importância, chegando, em meados do século XIX, a ter sua representatividade quase extinta. Em contra partida existiam os autos de congo 6 que era uma festividade dos povos negros composta por elementos teatrais, música e dança. A peça encenada no auto de congo também trazia a figura de um rei e sua corte, que realizavam o espetáculo com falas, dançando e cantando músicas próprias do auto de congo, configurando as características de um folguedo bastante coeso. 3 GUERRA PEIXE, César. Maracatus do Recife. Rio de Janeiro, São Paulo: Irmãos Vitalle Editores, Ibdem, p Ibdem, p Ibdem, p
4 O auto de congo funcionou junto com a instituição já falida do rei do congo como complemento festivo. Posteriormente foi eliminada a parte teatral do autos de congo, centrando o folguedo apenas no cortejo, na musica e na dança, formatando o que seria, para Guerra- Peixe a gênese do maracatu. Uma outra possível origem do maracatu defendida por vários estudiosos, está no fato de existirem registro de coroação de reis do negros por associações de diversas naturezas como corporações de ofícios e grupos quilombolas, porém ocorrendo principalmente dentro da irmandade dos homens pretos. 7 Os reis de congo eleitos dentro das associações tinham um papel simbólico e político e tinham o seu titulo reconhecido pelas autoridades, exercendo um papel de mediação entre as autoridades e negros a eles subordinados expandindo seu poder para fora da igreja. 8 Diante a diversidade étnica dos africanos trazidos para Brasil observa-se que em diversas irmandades os negros agrupavam-se de acordo com uma origem comum ou afinidades culturais, formando novos grupos que posteriormente vieram a ser chamados nações, apesar de inicialmente os comerciantes portugueses identificarem os africanos por nações, baseados e sua procedência. 9 A identidade como nação é que define o que é hoje um maracatu tradicional de baque virado, os integrantes dos maracatus se organizam e exercem seus compromissos dentro do grupo por sentirem-se pertencentes aquela nação. Referente a designação dos maracatus como nação Julia Tsezanas afirma: Acredito que os maracatus sejam chamados nações devido a esta ligação histórica com as irmandades negras e Pernambuco e seus reinados festivos, já que estas estruturas associadas (irmandades e reinos negros) eram permeadas por distinções de identidades entre grupos chamados nações. 10 Já a partir das primeiras décadas do século XIX as irmandades foram perdendo seu poder político e social, tendo inclusive alguns títulos hierárquicos suprimidos pelas autoridades. Esse declínio no poder das irmandades coincide com o fato de as festas e batuques feitos pelos negros das nações começarem a serem identificados como maracatu. Essas ideias nos levam a um início do maracatu que diverge da teoria de Guerra-Peixe, pois sugere que a origem do maracatu está nessa junção entre a estrutura hierárquica herdada das irmandades e as danças e festas que eram feitas pelos negros. 7 SOUZA, Marina de Mello e. Reis Negros no Brasil Escravista: história das festas de coroação do Rei do Congo. Belo Horizonte: Editora UFMG, TSEZANAS, Julia Pittier. O maracatu de Baque Virado: história e dinâmica cultural. Dissertação de mestrado. São Paulo: USP-FFLC, maio de Ibdem, p Ibdem, p
5 2. O Traga a Vasilha 2.1 O surgimento do grupo O Traga a Vasilha iniciou suas atividades no ano 2000 com alguns integrantes do maracatu Estrela Brilhante do Recife que desejavam de um espaço para tocar e se divertir já que os ensaios do maracatu acontecem somente nos meses próximos ao carnaval. Tal era a descontração do grupo que inicialmente foi chamado de greia. Reunindo-se todas as sextas-feiras inicialmente, na Rua da Moeda, o Traga a Vasilha foi se tornando um ponto de encontro de pessoas que gostavam de maracatu e começaram a se juntar para assistir aos batuques do grupo. Com o passar dos ensaios, os integrantes do Estrela Brilhante decidiram convidar amigos e o público para participarem da brincadeira, configurando o que é hoje a ideia central do grupo que é de diversão e socialização do conhecimento sobre maracatu com quem quer que queira participar, unindo no grupo integrantes de diversas nações de maracatu e o público em geral. O grupo foi crescendo e várias pessoas passaram a levar seus instrumentos para tocar, ensinar e aprender, dando o nome ao grupo de Traga a Vasilha em alusão a um carro que vendia sorvete nos bairros populares do Recife. Devido a divergências com comerciantes da Rua da Moeda, os ensaios foram transferidos para a Rua Mariz e Barros onde permanece até hoje enchendo a esquina antes deserta de maracatuzeiros e maracatuzeiras. O Traga a Vasilha é um grupo pioneiro da nova onda de valorização do maracatu que teve inicio a partir da década de 90, levando a uma procura bastante grande das classes média e alta ávida por consumir cultura popular. 2.2 O sagrado e o profano no Traga a Vasilha Os maracatus nação estão completamente ligados as religiões afrobrasileiras. Muitas vezes as sedes dos maracatus são em casas religiosas, ou terreiros, sendo comum que a rainha seja mãe-de-santo ou iniciada, mas isso não é uma regra. As nações têm um orixá de maior devoção, e costumam dizer que é o orixá dono do maracatu. Existe uma preparação dos elementos sincréticos para que o grupo possa sair na rua, as chamadas obrigações. 706
6 As bonecas do maracatu chamadas calungas, representam ancestrais africanos e são consideradas sagradas 11. Existem rituais específicos para as calungas que devem ser feitos para que o maracatu possa sair à rua, e que acontecem nos dias próximos ao carnaval. Durante o resto do ano as calungas ficam guardadas no pegí (altar). Assim como as calungas, as damas do paço, que são as participantes que levam as bonecas durante o cortejo, também passam por uma preparação espiritual. Existe também uma preparação, ligada a religiosidade, dos instrumentos e dos músicos do maracatu. O músico responsável pela zabumba-marcante trás determinadas responsabilidades que vão além de uma boa execução do instrumento. É preciso que o músico passe por rituais de sagrações para poder assumir o posto. Dentro desse ritual o instrumento torna-se também sagrado e passa a não poder ser tocado por mãos profanas quando estiver a serviço dos cânticos e rituais sagrados. 12 No Traga a Vasilha podemos constatar que apesar da religiosidade arraigada do maracatu, e de alguns participantes do grupo serem ligados a religião afrobrasileira, o grupo não pratica nenhum rito sagrado ou religioso, não possuindo nenhum dos elementos anteriormente citados. Nota-se também, que não existe no traga a vasilha o cortejo dos maracatus nação, fato que ao primeiro olhar diferencia logo o traga a vasilha dos maracatus nação. Nas entrevistas verificamos que nunca existiu por parte dos criadores do grupo uma intenção de cunho religioso. O objetivo é tão somente a diversão, sem, no entanto, desrespeitar o lado religioso como nos falou Alexandre:... normalmente quando a gente toca nas nações de maracatu, a gente tem um lado religioso bem... digamos assim, a gente tem uma visão mais séria do lado religioso, mesmo que você não faça parte da religião, nem todo maracatu exige que você faça parte da religião. Aí o que acontece, quando a gente vem pro traga a vasilha na verdade é uma hora de descontração, porque quando a gente toca nos maracatus nação, a gente tem realmente aquela coisa da seriedade da religião, que aqui [no traga a vasilha] você pode simplesmente descontrair. Agora não é por causa dessa descontração que a gente perde o respeito Apesar da crescente procura do público em participar de grupos de maracatu, levando a ascensão uma manifestação antes marginalizada, nota-se ainda certo receio por parte dessas pessoas quanto ao lado religioso do maracatu. Mesmo vendo o maracatu como um brinquedo, 11 GUERRA PEIXE, César. Maracatus do Recife. Rio de Janeiro, São Paulo: Irmãos Vitale Editores, p Ibdem,. p Entrevista com Alexandre, participante do traga a Vasilha. Entrevistadores: Antônio Henrique e Suelen de Aquino. Outubro de
7 ou folguedo, apenas, tem-se ainda determinadas ressalvas em relação as crenças religiosas ligadas ao maracatu, criando verdadeiros tabus de origem religiosa. 14 Sobre o desinteresse das pessoas no lado religioso do maracatu, Walter França Filho afirma:... as pessoas que participam desses grupos percussivos não querem ter aquela responsabilidade, que têm as pessoas que participam de um maracatu nação. Que é muita, é bastante. Então pra elas...é a minha visão...elas não querem ter esse compromisso, eles querem a brincadeira, eles não querem a tradição. Querem a cultura, o que foi vendido como maracatu, como produto. Eu vejo dessa forma, eu vejo que é também importante porque se você não quer assumir uma responsabilidade de ser de um nação de maracatu, você pode brincar E quanto as pessoas que participam do Traga a Vasilha e fazem parte das religiões afrobrasileiras, ficou claro em seus depoimentos, o respeito e separação que é feita em relação a brincadeira no traga a vasilha e suas obrigações religiosas, que mesmo sendo coisas de uma mesma origem estão totalmente desassociadas como disse Andréa:... no candomblé, já fazem nove anos que eu sou do candomblé, existe uma divisão, nem tudo é espiritualidade. Tem a ver mas não necessariamente tem que estar com ela [a espiritualidade]. Então cada um tem sua religião, por exemplo, eu tô aqui mas eu sei o que eu tenho que respeitar. Então minha espiritualidade eu não posso misturar com as minhas coisas particulares. Então eu gostar de tocar, tudo bem, no terreiro eu toco também, eu canto no terreiro, eu danço, eu me manifesto. Então o que é dentro da religião a gente tem que guardar na religião, não misturar na rua Fica bem claro o espaço que a religiosidade tem dentro do Traga a Vasilha. Vê-se que isso depende da individualidade de cada participante, ficando totalmente livre qualquer escolha ou preferência religiosa, desde que se mantenha o respeito entre os participantes. O fato de não haver um núcleo de religiosidade dentro do traga a vasilha, talvez seja a maior caracterização desses novos grupos que costuma-se chamar de maracatu (entretanto que não corresponde a um maracatu sendo a denominação correta grupos percussivos) já que alguns desses grupos possuem cortejo e elementos visuais que correspondem a um maracatu nação, o que não é o caso do Traga a Vasilha que possui apenas a batucada. Conclusão 14 ELIADE, M. O Sagrado e o Profano: A essência das religiões. São Paulo, Martins Fontes, Entrevista com Walter França Filho, integrante do Maracatu Estrela Brilhante do Recife um dos criadores do Traga a vasilha. Entrevistadores: Antônio Henrique e Suelen de Aquino. Novembro de Entrevista com Andréa, participante do traga a Vasilha. Entrevistadores: Antônio Henrique e Suelen de Aquino. Outubro de
8 Buscamos com essa pesquisa adentrar e expandir o leque de conhecimento sobre o maracatu e suas ramificações, que são os chamados de grupos percussivos que tocam maracatu. Hoje esses grupos tomaram dimensões globais, já que muitos deles estão espalhados por diversos países principalmente na Europa. Pelo Brasil observamos que este processo de inserção da cultura do maracatu dá-se principalmente através desses grupos de percussão, que o divulgam em outros estados brasileiros onde não se encontra grupos semelhantes aos de maracatu nação de Pernambuco. Existem outros grupos com características muito próximas do maracatu, mas que se originaram de outras manifestações e heranças deixadas pelos seus antepassados vindos da África. É principalmente em Pernambuco que essa manifestação vai se propagar, tendo sua apoteose no período do reinado de momo, onde se materializam todas as expectativas dos participantes pela chegada dessa época, para mostrar os seus trabalhos que são arduamente ensaiados, em forma de cânticos e toadas e na alegria de quem segue atrás dos grupos. É nesse contexto que esses grupos vêm tendo um papel importantíssimo. Eles conseguem unir o contemporâneo e arcaico, brancos e negros, ricos e pobres em uma só entonação, movidos pelo prazer de tocar o maracatu. Alguns mais conservadores não aceitam o trabalho dos grupos percussivos, afirmando que esses grupos distorcem as raízes do maracatu, por não conhecer a fundo a manifestação. Mas o fato é que com esses grupos, o maracatu foi mais longe e vem ganhando espaço na mídia. Devido a isso muitos maracatus tradicionais quando saem a rua trazem uma nova roupagem de suas apresentações sem perder a sua originalidade ou sua especificidade que o caracteriza, seja no seu baque com suas toadas ou em suas alegorias, tudo para agradar e atrair o novo público, adaptando-se a nova realidade. Verificamos que não é possível determinar as origens exatas do maracatu, portanto, não se pode estabelecer o que é tradicional e o que não é. Entretanto, podemos dizer que grupos como o Traga a Vasilha não são maracatus e sim grupos percussivos, ou grupos parafolcloricos, que tocam maracatu, pois não trazem em sua formação questões religiosas, ou sincréticas que fundamentam o que se define como nação de maracatu. Apesar das divergentes opiniões sobre a importância e papel desses grupos, não é possível estabelecer se são benéficos ou prejudiciais as nações de maracatu, visto que ao mesmo tempo que esses grupos destoam do que se diz tradicional do maracatu, eles movimentam a verba cultural, trazem público e reavivam costumes e tradições que antes eram marginalizadas e esquecidas. 709
9 Manifestações como essa são importantíssima para a manutenção e vitalidade de nossa memória cultural, preservando e continuando nossas tradições, perpetuando ao longo do tempo, o que estava próximo de sua extinção. Referências GUERRA PEIXE, César. Maracatus do Recife. Rio de Janeiro, São Paulo: Irmãos Vitale Editores, TSEZANAS, Julia Pittier. O maracatu de Baque Virado: história e dinâmica cultural. Dissertação de mestrado. São Paulo: USP-FFLC, maio de SOUZA, Marina de Mello e. Reis Negros no Brasil Escravista: história das festas de coroação do Rei do Congo. Belo Horizonte: Editora UFMG, ELIADE, M. O Sagrado e o Profano: A essência das religiões. São Paulo, Martins Fontes, FERREIRA, Marieta de Moraes. História do tempo presente: desafios. Cultura Vozes, Petrópolis, v.94, nº 3, p , maio/jun, FERREIRA, Ascenço. O maracatu, in É de Tororó, Rio de Janeiro, Livraria Editora Casa do Estudante do Brasil, Pernambuco. Museu do Estado. Coleção culto afro-brasileiro um testemunho do xangô pernambucano. Recife, REAL, Katarina. Eudes o rei do maracatu. Recife: Massagana, Outras fontes Entrevistas Entrevista com Walter França Filho, integrante do Maracatu Estrela Brilhante do Recife um dos criadores do Traga a vasilha. Entrevistadores: Antônio Henrique e Suelen de Aquino. Novembro de
10 Entrevista com Ulisses, integrante do Maracatu Estrela Brilhante do Recife um dos criadores do Traga a vasilha. Entrevistadores: Antônio Henrique e Suelen de Aquino. Outubro de Entrevista com Daniel, Ogã e participante do Traga a Vasilha. Entrevistadores: Antônio Henrique e Suelen de Aquino. Outubro de Entrevista com Andréa, participante do Traga a Vasilha. Entrevistadores: Antônio Henrique e Suelen de Aquino. Outubro de Entrevista com Alexandre, participante do Traga a Vasilha. Entrevistadores: Antônio Henrique e Suelen de Aquino. Outubro de
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INTRODUÇÃO. 1 A terminologia tradicional, registrada por Guerra-Peixe, para definir os maracatus-nação é utilizada neste
9 INTRODUÇÃO O tema Maracatu Nação, uma corte sagrada afro-brasileira: um estudo sobre a transição religiosa na trajetória da figura do Rei do Congo, em Pernambuco, tem como pressuposto o trânsito e a
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