NEUSA GONZAGA DE SANTANA PRESSLER

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1 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TRÓPICO ÚMIDO CURSO DE DOUTORADO EM PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO NEUSA GONZAGA DE SANTANA PRESSLER DISCURSOS E PRÁTICAS DE COMUNICAÇÃO DA COOPERAÇÃO TÉCNICA ALEMÃ RELATIVOS A PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS NA AMAZÔNIA Belém 2010

2 2 NEUSA GONZAGA DE SANTANA PRESSLER Discursos e práticas de comunicação da cooperação técnica alemã relativos a projetos socioambientais na Amazônia Tese de doutorado apresentada ao Curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido PPGDST do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos NAEA da Universidade Federal do Pará UFPA, para fins de obtenção de título de doutor em Ciências: Desenvolvimento Socioambiental. Orientadora: Profa. Dra. Rosa Elizabeth Acevedo Marin Belém 2010

3 3 Dados Internacionais de Catalogação de Publicação (CIP) (Biblioteca do NAEA/UFPa) Pressler, Neusa Gonzaga de Santana Discursos e práticas de comunicação da cooperação técnica alemã relativos a projetos socioambientais na Amazônia / Neusa Gonzaga de Santana Pressler; Orientadora, Rosa Elizabeth Acevedo Marin f.: il. ; 30 cm Tese (Doutorado) Universidade Federal do Pará, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido, Cooperação internacional Amazônia. 2. Comunicação internacional. 3. Desenvolvimento sustentável - Amazônia. 4. Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil. I. Acevedo Marin, Rosa Elizabeth. II. Título. CDD 21. ed

4 4 NEUSA GONZAGA DE SANTANA PRESSLER Discursos e práticas de comunicação da cooperação técnica alemã relativos a projetos socioambientais na Amazônia Tese aprovada como requisito para fins de obtenção de título de doutor em Ciências: Desenvolvimento Socioambiental, Curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido PPGDST do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos NAEA da Universidade Federal do Pará UFPA. Aprovado em: Banca Examinadora: Profa. Dra. Rosa Elizabeth Acevedo Marin NAEA Orientadora Profa Dra. Luciana Miranda da Costa Examinadora Externa Prof. Dr. Manoel José Sena Dutra Examinador Externo Profa. Dra. Edna Maria Ramos de Castro Examinadora NAEA Prof. Dr. Armin Mathis Examinador NAEA Profa. Dra. Maria Ataide Malcher Suplente: Resultado:

5 5 Ao Gunter pela coragem e com quem tenho orgulho de viver uma longa experiência. A Geneviève, A certeza de nossa continuidade.

6 6 AGRADECIMENTOS À Profa. Dra. Rosa E. Acevedo Marin, pela orientação na elaboração e conclusão desta tese. Por toda atenção e compreensão dispensadas durante esses anos e pela oportunidade de aprender sobre os negócios tradicionais dos povos da Amazônia. Ao Prof. Dr. João Pissarra Esteves, pela orientação na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Departamento de Ciências da Comunicação, durante o estágio da Bolsa Sandwich da CAPES (2007/2008). À Profa. Dra. Ans Kolk, da Amsterdam Business School, pelo envio de textos acadêmicos e em especial o livro Forests in internacional environment politics: Internacional Organizations, NGOs and the Brasilian Amazon. Ao Prof. Dr. Russell J. Dalton, da Political Science Department University of Califórnia, por enviar pesquisa de sua autoria sobre a história do movimento ambientalista na Europa, e especificamente a pesquisa inédita: A global network? transnational cooperation among environmental groups. Aos Professores Dr. Manfred Nischt e Dr. Berthold Zilly, do Lateinamerika-Institut da Freie Universität Berlin (LAI), que colaboraram neste estudo, discutindo sobre o tema e indicando bibliografia. Aos professores do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, em especial a Edna Castro e Armin Mathis, pelos conhecimentos transmitidos através das disciplinas ministradas no curso. A Manuel Dutra, docente do curso de Comunicação Social/UFPA, por sua participação na banca, quando da qualificação desse projeto, pelas críticas, sugestões, encaminhamento e direcionamento desta pesquisa. Ao colega Agenor Sarraf, pela cuidadosa revisão do texto e sugestões de leituras. Às amigas Camila do Valle, Luciana Miranda e Maria Ataíde, pela leitura preliminar, críticas, sugestões e direcionamento de bibliografias. A bolsista e amiga Anna Elisa Pedreira, pela revisão preliminar do texto, críticas e sugestões, cuja visão veio enriquecer a apresentação deste trabalho. As bibliotecárias Ruthane Saraiva da Silva e Rosângela Caldas Mourão do NAEA e Marlen Amaral da Universidade da Amazônia pela revisão final e colaboração técnica à normalização mediante as Normas de ABNT. Ao Prof. Reinhard Michael Arnegger pela orientação e leitura do Sistema alemão de cooperação internacional. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo apoio financeiro na concessão de bolsa de estudo no Brasil e no exterior, no âmbito do Programa de Doutorado no País com Estágio no Exterior PDEE (Sanduíche/Sandwich).

7 7 RESUMO A presente pesquisa analisou as práticas de comunicação institucional das organizações da cooperação técnica alemã para o desenvolvimento e identificou os discursos recorrentes na implementação de projetos ambientais na Amazônia, no âmbito do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7/ ) que envolveu trabalho de colaboração de amplitude local, nacional e global para capacitar associações, grupos locais e povos tradicionais. A Alemanha, principal doador do PPG7, foi o país que mais colaborou com programa, ao lado dos países do G-7 e da União Européia. A técnica da entrevista, relatórios do PPG7 ( ), atas de reuniões intergovernamentais, manuais da Agência ABC, relatórios de avaliação de projetos do Programa PPG7, relatórios do Internacional Advisory Group IAG, trabalhos acadêmicos, incluindo vários artigos técnicos de autores (consultores/ pesquisadores) serviram de instrumentos para a produção dos dados. A análise das fontes e dos dados concluiu que as iniciativas locais, implantadas pelos projetos socioambientais na Amazônia, apoiados pela cooperação técnica internacional, foram influenciadas por experiências sociopolíticas e por movimentos socioculturais. Os termos capital social, preservação ambiental, manejo sustentável e povos tradicionais, implícitos nos temas da agenda global, foram disseminados em diversos discursos e estão presentes na comunicação institucional dos projetos socioambientais. E, apesar da comunicação não resolver todos os problemas sociais e ambientais da Amazônia, se ela for praticada de forma responsável, contribuirá para a formação de opinião e para construção de uma sociedade mais justa, com participação social, com cidadania e com a exploração do meio ambiente de forma sustentável. Assim, a tese finaliza propondo uma revisão crítica das práticas de comunicação institucional das organizações e das relações internacionais entre diferentes países produtores de novas experiências de comunicação e de cooperação técnica para o desenvolvimento. Palavras-chave: Práticas de comunicação Institucional. Cooperação Técnica. Amazônia. Meio ambiente.

8 8 ABSTRACT The objective of this thesis is to analyze the communication practices of the organizations of the German technical cooperation for development and identify recurring discourses in the implementation of environmental projects in the Amazon about the Pilot Program to Conserve the Brazilian Rainforest (PPG7). The study object is the communication practices used in the implementation of institutional environmental projects by the German technical cooperation organizations, in particular the Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (German Agency for Technical Cooperation GTZ). The PPG7 involved a range of collaborative work locally, nationally and globally, based on training institutions, local groups and traditional peoples. To analyze this object, it was consulted PPG7 reports ( ), minutes of intergovernmental meetings, the ABC Agency manuals, the International Advisory Group reports - (IAG), academic papers on environmental projects, technical articles by authors (consultants) that participated in the implementation of environmental projects in the Amazon. As sources of information, beyond the data provided by the research, reports were searched along with several consultants who worked in the Amazon. This thesis describes, under the PPG7, how power relationships were established between the key social actors in international cooperation. The stated capital, empowerment, environmental conservation, sustainable management, traditional peoples, implicit themes of "global agenda" have become widespread in several speeches and are currently present in the relationships of institutional communication in various environmental projects. Thus, the thesis concludes, proposing that the critical review of reporting practices in organizations and international relations between different countries can produce new communication experiences and technical cooperation for development. Keywords: Institutional communication practices. Technical Cooperation. Amazon. Environment.

9 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Tabela 1 Valores de financiamento PPG Fotografia 1 Enfermeiras do Serviço Alemão de Cooperação Técnica e Social (DED) na Cooperativa de Pindorama (Alagoas) Fotografia 2 Paul-Gregor Fischenich e o diretor de Programas de Manejo de Recursos Naturais da instituição, Jens Ochtrop Fotografia 3 Ministra Heidemarie Wieczoreck-Zeul Figura 1 Contra-capa do Relatório Final PPG Figura 2 Cadernos de Cooperação Técnica Figura 3 Articulação política e social do PP-G Figura 4 PG7 construindo capital social Figura 5 CD anexo do Caderno de Cooperação Técnica vol. I, Figura 6 Cartaz distribuído pelo ProVárzea Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea, publicação IBAMA e MMA (s/d), distribuído no lançamento do Projeto Figura 7 Cartaz distribuído pelo ProVárzea Figura 8 Projeto PróVárzea iniciativas promissoras Figura 9 Revista Girau - publicação de divulgação do ProVárzea Figura 10 Cadernos de Cooperação Técnica 5/ Figura 11 Capa de livros publicado pela GTZ e GFA Quadro 1 Entrevistas trabalho de campo Quadro 2 Recursos visuais, auditivos e visuais versus auditivos Quadro 3 Carteiras de Projetos PPG Quadro 4 Publicações do PPG Quadro 5 Taxa de analfabetismo Quadro 6 Valores da Cooperação Alemã para o PPG

10 10 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS AA Auswärtiges Amt (Ministério Federal dos Negócios Estrangeiros) ABC Agência Brasileira de Cooperação ABONG Associação Brasileira de Organizações não Governamentais ADAP AIMT Agência de Desenvolvimento do Amapá Acordo Internacional de Baleias Tropicais AO Ajuda Oficial OCDE Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico AOD Assistência Oficial para o Desenvolvimento AWZ Ausschuß für wirtschaftliche Zusammenarbeit und Entwicklung (Comissão Parlamentar para Cooperação Econômica e Desenvolvimento) BEI Banco Europeu de Investimentos BID Banco Interamericano de Desenvolvimento BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento BM Banco Mundial BMZ Busdesministerium für wirtschaftliche Zusammenarbeit und Entwicklung (Ministério Federal para Cooperação Econômica e Desenvolvimento) CAAO Coordenação-Geral de Acompanhamento Administrativo e Organizacional CAD (DAC) Comitê de Assistência para o Desenvolvimento (Development Assistance Comittee) Comissão Europeia CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CCAFAP Conselho Centro americano para Forestas e Áreas Protegidas CE Comissão Europeia CDB Convenção sobre Diversidade Biológica CDG Carl Duisberg Gesellschaft (Sociedade Carl Duisberg) CDU União Democrata Alemã CMC Convenção Quadro de Mudanças Climáticas CIESPAL Centro Internacional de Estudos Avançados em Jornalismo para a América Latina CNAT Comissão Nacional de Assistência Técnica CNUCD Convenção das Nações Unidas para o Combate a Desertificação CONAMA Convenção Quadro de Mudanças Climáticas CONTAP Conselho de Cooperação Técnica da Aliança para o Progresso CQNUMC Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas CSU União Social Cristã CTI Cooperação técnica internacional CTPD Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento CTRB Cooperação Técnica Recebida Bilateral CTRM Cooperação Técnica Recebida Multilateral CNUMAD Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e

11 11 DCOPT DCT CDTM CDS DED DEG DFID DIE DSE ECOSOC EFEM EMBRAPA ESG EUA EZE FASE FES FIPAM FMI FNMA FUNAG FUNCEX GIZ G7 GEE GFA GTA GTZ HBS IBCG IAG IBAMA IBGE IIHA INCRA INESC INPA INPE desenvolvimento Divisão de Cooperação Técnica Departamento de Cooperação Científica, Técnica e Tecnológica Centro de Documentação do Terceiro Mundo França Comissão e Desenvolvimento Sustentável Deutscher Entwicklungsdienst (Serviço Alemão de Desenvolvimento) Deutsche Investitions- und Entwicklungsgesellschaft (Sociedade Alemã de Investimento e Desenvolvimento) Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido Deutsches Institut für Entwicklungspolitik (Instituto Alemão de Política de Desenvolvimento) Deutsche Stiftung für internationale Entwicklung (Fundação Alemã de Desenvolvimento Internacional) Economic and Social Council Fundo Francês para o Meio Ambiente Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Escola Superior de Guerra Estados Unidos da América Evangelische Zentralstelle für Entwicklungshilfe (Central Evangélica de Ajuda ao Desenvolvimento) Federação de Órgaos para Assistência Social e Educacional Friedrich-Ebert-Stifung (Fundação Friedrich Ebert) Formação de Especialistas em Desenvolvimento de Áreas Amazônicas Fundo Monetário Internacional Fundo Nacional do Meio Ambiente Fundação Alexandre de Gusmão Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit Grupo dos Presidentes dos EUA, Canadá, Japão, Alemanha, Inglaterra, França e Itália Gases do Efeito Estufa Consulting Group Grupo de Trabalho Amazônico Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (Agência Alemã para Cooperação Técnica) Fundação Heinrich Böll Instituto Brasileiro de Governança Corporativa International Advisory Group (Grupo de Assessoria Internacional) Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Instituto internacional de Pesquisas Científicas na Amazônia Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária Instituto de Estudos Socioeconômicos Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

12 12 INWENT Internationale Weiterbildung und Entwicklung (Capacitação Internacional e Desenvolvimento) IPAM Instituto de Pesquisas Ambientais IPEA IPF Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas Painel Intergovernamental sobre Florestas IPHAE Instituto de Pré-História, Antropologia e Ecologia IRD Institut de Recherche pour Le Développement ISA Instituto Socioambiental IUCN União Internacional para a Conservação da Natureza IUFRO The Global Network for Forest Science Cooperation IZEP Informationszentrum Entwicklungspolitik (Centro de Informação sobre Política de Desenvolvimento) JICA Japanese International Cooperation Agency (Agência Japonesa de Cooperação Internacional) KAS Konrad-Adenauer-Stiftung (Fundação Konrad Adenauer) KFW Kreditanstalt für Wiederaufbau (Banco de Reconstrução MADAM MDL Mangrove Dynamics and Management Mecanismo de Desenvolvimento Limpo MMA Ministério do Meio Ambiente MPEG Museu Paraense Emílio Goeldi MRE Ministério das Relações Exteriores MRN Mineração Rio do Norte NAEA Núcleo de Altos Estudos Amazônicos NUPEC Núcleo de Planejamento e Coordenação OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico ODA ODM Overseas Development Administration Objetivos de Desenvolvimento do Milênio OMC Organização Mundial do Comércio ONG Organização Não-Governamental ONU Organização das Nações Unidas OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte OTCA Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (antigo TCA Tratado de Cooperação Amazônica PAC Programa de Aceleração do Crescimento PD/A Projeto Demonstrativo A PDA Subprograma Projetos Demonstrativos PDPI Projeto Demonstrativo dos Povos Indígenas PDSA Programa de Desenvolvimento Sustentável do Amapá PDTU Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido PFC Projeto de Ferro Carajás PGAI/PA Projeto de Gestão Ambiental Integrada do Estado do Pará PGC Programa Grande Carajás PNCSA Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

13 13 POEMA PPPG7 PPTAL PROALCOOL PRODESQUE PROMANEJO PRONAF PRORENDA PROVÁRZEA RESEX FFFT RFA RFT SECTAM SEMA SEPLAN SIAMAZ SISNAMA SIVAM SPD SPRN SPVEA SUBIN SUFRAMA TCA TCC TNC UE UFPA UHT UNAMAZ UNCTAD UNFF UNICEF URSS USAID WWF Programa Pobreza e Meio Ambiente Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil Projeto Integrado de Proteção das Terras e Populações Indígenas da Amazônia Legal Programa Nacional do Álcool Projeto de Monitoramento e Controle de Desmatamento e Queimadas na Amazônia Projeto de Apoio ao Manejo Sustentável na Amazônia Programa Nacional de Agricultura Familiar Desenvolvimento da Pequena Produção Rural e Implantação do Centro de Capacitação Projeto de Manejo dos Recursos Naturais da Várzea Subprograma de Reservas Extrativistas Fundo Fiduciário das Florestas Tropicais República Federal Alemã Fundo Fiduciário das Florestas Tropicais Secretaria de Estado e Meio Ambiente em Belém Secretaria Estadual do Meio Ambiente Secretaria de Planejamento da Presidência da República Sistema de Informação da Amazônia Sistema Nacional de Meio Ambiente Sistema de Vigilância da Amazônia Partido Social Democrata Alemão Subprograma de Política de Recursos Naturais Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia Sub-Secretaria de Cooperação Econômica e Técnica Internacional Superintendência da Zona Franca de Manaus Tratado de Cooperação Amazônica Trabalho de Conclusão de Curso The Nature Conservancy União Europeia Universidade Federal do Pará Usina Hidrelétrica de Tucuruí Associação das Universidades Amazônicas Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento Fórum das Nações Unidas sobre Florestas Fundo das Nações Unidas para a Infância União Soviética United States Agency for International Development World Wildlife Fund (Fundo Mundial para a Vida Selvagem)

14 14 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO DISCURSOS E PRÁTICAS NO CAMPO DA COOPERAÇÃO OS ENUNCIADOS DA SOCIEDADE: OBJETO DE ESTUDO DA 39 ANÁLISE DO DISCURSO A TEORIA SOCIAL DO DISCURSO TRÊS FASES DA ANÁLISE DO DISCURSO FOUCAULT: PODER COMO PRÁTICA SOCIAL FOUCAULT: PODER COMO PRÁTICA SOCIAL PODER SIMBÓLICO E RELAÇÕES DE COMUNICAÇÃO ESTUDOS DE COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL NO BRASIL A PESQUISA DE COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL NO BRASIL SEGUINDO AS MUDANÇAS SOCIAIS A CONSTRUÇÃO DO CAMPO DISCURSIVO E SOCIAL DA 83 AMAZÔNIA O DISCURSO AMBIENTAL NA AMAZÔNIA INSTRUMENTOS LEGAIS INTERNACIONAIS E LEIS AMBIENTAIS A AMAZÔNIA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL AMAZÔNIA E A AGENDA GLOBAL A CONFIGURAÇÃO DOS AGENTES SOCIAIS: A AGÊNCIA BRASILEIRA ABC AS FASES DA COOPERAÇÃO TÉCNICA INTERNACIONAL NO BRASIL MOVIMENTO AMBIENTALISTA NA EUROPA O DESENVOLVIMENTO: ENTRE O DISCURSO E A PRÁTICA A DISCUSSÃO GLOBAL EM BUSCA DE UM CONCEITO PARA O DESENVOLVIMENTO PRINCIPAIS ATORES DOS MOVIMENTOS SOCIAIS AMBIENTALISTAS NA EUROPA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL E COOPERAÇAO TECNICAENQUANTO CAMPO DE PODER ELEMENTOS NO CAMPO DA COOPERAÇÃO TÉCNICA 166 INTERNACIONAL PRINCIPAIS AGENTES SOCIAIS DA COOPERAÇÃO ALEMÃ

15 15 DESDE A ORGANIZAÇÃO DO BMZ INSTITUIÇÕES DE PESQUISA ALEMÃ PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL DA COOPERAÇÃO TÉCNICA ALEMÃ NA 207 AMAZÔNIA A COMUNICAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES DIRECIONADAS PARA 218 AS QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS PRÁTICAS DE COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL, IMAGEM E 221 PODER DIVERGÊNCIA E CONFLITOS NO CAMPO AMBIENTAL DA 248 AMAZÔNIA CONSULTORIA TÉCNICA: CONVERGÊNCIAS, DIVERGÊNCIAS E 262 CONFLITOS DISSONÂNCIA NOS DISCURSOS E NA COMUNICAÇÃO DIFERENTES VISÕES E EXPERIÊNCIAS DISCURSOS DO PPTAL E A CRISE DE COMUNICAÇÃO DISCURSOS, CONTRADIÇÕES E CONSTRUÇÃO DE IMAGEM CONSIDERAÇÕES FINAIS CORPUS DE ANÁLISE REFERÊNCIAS APÊNDICES APÊNDICE A - Termo de Autorização APÊNDICE B - Termo de Autorização Traduzido APÊNDICE C Questionário APÊNDICE D - Questionário Pré-texte ANEXOS ANEXO A - Sistema Alemão de Assistência ao Desenvolvimento ANEXO B - Die Akteure der Entwicklungszusammenarbeit in Deutschland ANEXO C- Princípios de Conduta Íntegra conduta GTZ ANEXO D Referenciais Temporais do PPG

16 16 1 INTRODUÇÃO A presente tese tem por objetivo analisar as práticas de comunicação institucional das organizações da cooperação técnica alemã para o desenvolvimento, identificar os discursos recorrentes na implementação de projetos ambientais na Amazônia, no âmbito do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7) ( ). Mais do que isso trata de conhecer o campo da cooperação técnica internacional (CTI) uma das vertentes da Cooperação para o Desenvolvimento. Conhecer esse campo é penetrar nas relações Internacionais mediadas e supervisionadas pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), órgão do Ministério das Relações Exteriores (MRE). Essas relações nem sempre são harmônicas do ponto de vista da comunicação institucional, distorcem e, as vezes encobrem os objetivos reais da relação entre o Brasil e a CTI, o que prejudica a difusão de aspectos positivos dos beneficiários da parceria. Na definição da ABC, a CTI é uma intervenção temporária destinada a promover mudanças qualitativas e/ou estruturais em um dado contexto socioeconômico. Essa intervenção tem como escopo principal minimizar ou solucionar problemas específicos identificados em determinados contextos, para explorar oportunidades e novos paradigmas de desenvolvimento. Ainda com base ness definição e nos manuais do MRE, essas mudanças visam à capacitação para a formulação e expansão de políticas públicas e a diversificação da produção econômica do país, para melhorar os indicadores de desenvolvimento humano, por meio do uso sustentável dos recursos naturais (BRASIL, 2005, MRE). Essa pesquisa se insere neste contexto de relações sob a luz das propostas para a implementação de projetos socioambientais na Amazônia no âmbito dos objetivos do PPG7. A concepção do trabalho do PPG7, que envolveu diferentes consultorias de vários países, desenvolveu estratégias inovadoras de proteção e uso sustentável da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica para conter o desmatamento que atingiu níveis críticos, nos anos Este Programa que objetivou a preservação de florestas, realizou a capacitação de instituições envolvidas no processo e a implantação de projetos ambientais relacionados à melhoria da qualidade de vida das populações locais (povos da Amazônia). Conforme o protocolo institucional e de cooperação, o PPG7 foi considerado o maior programa de cooperação multilateral relacionado a uma temática ambiental de importância global e o maior programa mundial para a proteção de florestas tropicais e manejo de seus recursos em um único país (BRASIL, 2009b).

17 17 De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) (BRASIL, 2009b) e Alemanha (2003), o Programa investiu cerca de US$463,1 milhões em 26 projetos. Os recursos administrados pelo Fundo Fiduciário das Florestas Tropicais (RFT) e gerenciados pelo Banco Mundial, as doações dos países mais industrializados do mundo (G7), da Comissão Européia (CE), dos Países Baixos e de contrapartidas do governo brasileiro. No documento oficial explica-se que A contribuição internacional ocorreu por meio de cooperações financeiras e técnicas viabilizadas pela Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (Agência Alemã para Cooperação Técnica GTZ) e pelo Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido (DFID) (BRASIL, 2009b, p. 7). Observa-se que a Alemanha tornou-se líder nessa cooperação também por seu poder financeiro. A RFA é considerada pelo MMA (BRASIL, 2009b) o país com a maior participação em número de projetos ambientais e investimentos em cooperação técnica na Amazônia. Identificou-se nos projetos ambientais desenvolvidos na Amazônia a presença de várias organizações de cooperação alemã, não só a GTZ, mas Fundações Políticas, ambientais e religiosas que trabalham em prol do desenvolvimento e da democracia. A escolha do objeto de estudo desta pesquisa não é aleatória as organizações da cooperação técnica alemã para o desenvolvimento não foi aleatória: a) a Alemanha foi o principal país doador do PPG7; b) pela consultoria técnica para o desenvolvimento mais colaborou na efetivação deste Programa na Amazônia; c) pela primeira vez, estabeleceu-se no âmbito das relações internacionais um programa socioambiental amplo para uma região. Outra motivação e justificativa para essa escolha foi o meu envolvimento profissional pelo tema da cooperação Internacional. Primeiro, pelo serviço prestado à pesquisa e pelas consultorias ás organizações de cooperação, com enfoque na responsabilidade socioambiental. Segundo, por ser professora do curso de Comunicação Social da Universidade da Amazônia e orientadora de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e monografias. Como professora de Comunicação Social, fomento nos alunos dos cursos de Relações Públicas, Publicidade e Jornalismo uma percepção crítica acerca da visão empreendedora e integradora, predominante nas organizações de cooperação internacionais não governamentais e de instâncias do Estado, mas que não converge para a sustentabilidade socioambiental. Entre 1996 e 2003, visitei várias vezes o Projeto Desenvolvimento da Pequena Produção Rural e Implantação do Centro de Capacitação (PRORENDA) ( ), que objetivava identificar o manejo de produtos da floresta como exemplo de prática sustentável para a geração de renda. A proposta de elaborar um planejamento de comunicação com a

18 18 criação de logomarca e embalagens para a comercialização desses produtos, colocou-me em contato direto com as comunidades tradicionais e com um grupo de consultores do PRORENDA. Dessa maneira, em 1997, foi possível observar as dificuldades e os desafios enfrentados consultores e técnicos, no que se refere à burocracia e ao comprometimento dos diferentes agentes sociais (entidades de base, organizações públicas e ONGs). O trabalho dos consultores fundamentavam na experiência organizacional por meio da mediação e uso de diferentes práticas de comunicação institucional, reuniões, oficinas, workshops e elaboração de cartilhas. Na condição de mediadores promoveram novas práticas de manejo florestal e, desburocratização ao acesso de pequenos produtores às secretarias e ás cooperativas dos Estados da região Amazônica. Na condição de doutoranda do PDTU do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) Universidade Federal do Pará (UFPA) e como pesquisadora do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia (PNCSA), acompanhei a discussão da avaliação de alguns projetos (Subprograma Projetos Demonstrativos (PDA), Projeto Integrado de Proteção das Terras e Populações Indígenas da Amazônia Legal (PPTAL) e participei da e exposição Debulhar o açaí, em 2007, apresentada em várias associações de Belém e do exterior, França (Pau) e Áustria (Viena). Essa experiência com os povos e comunidades tradicionais, o contato com o Projeto PRORENDA e a leitura acerca dos projetos do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil - PPG7, especificamente PDA e SPRN ampliaram minha percepção sobre o que acontecia na Amazônia, em termos de projetos socioambientais e da cooperação internacional. O PDA, o SPRN e demais projetos e programas, se espalharam pela Amazônia e pela Mata Atlântica na tentativa de garantir os recursos naturais e valorizar conhecimentos e experiências das comunidades tradicionais, pequenos produtores, rurais extrativistas e diversas organizações na Amazônia e em quase todo o Brasil. A partir de 1990, no contexto das pesquisas de produtos da floresta (produtos florestais não madeireiros), emergia empreendedorismo no interior da economia globalizada, das reformas liberalizantes em políticas comerciais e de cooperação técnica entre órgãos internacionais e de regulação, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial (BM), Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

19 19 Cumprindo metas da agenda global, estas organizações internacionais estruturam um campo 1 de poder econômico e ideológico-político com o objetivo de capacitar os Estados dos países pobres ou emergentes para atuar no mercado ( econegócios ou ecobusiness, agroecologia, biotecnologia ). Seguindo, essa agenda as bases do encaminhamento para a execução do PPG7, entre vários objetivos, foi à capacitação de associações de grupos locais e dos povos tradicionais. Por meio de práticas de comunicação institucionais situavam-se várias organizações bilaterais (GTZ, DFID, JICA, EFEM, IRD, USAID) representando os principais países do G7 que além de doadores, contribuíram para incorporar os valores e princípios das organizações internacionais (OMC, FMI, UNCTAD, BM, PNUD, Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento- BIRD), no âmbito da implementação e execução do Programa. As principais organizações de desenvolvimento bilaterais atuantes na Amazônia são: (1) GTZ (2) DFID (3) United States Agency for International Development (USAID), (4) Japan International Cooperation Agency - (JICA), (5) Fundo Francês para o Meio Ambiente (EFEM) e Institut de Recherche pour le Développement (IRD) e (6) Embaixada dos Países Baixos, dentre outras. Em 2005, apresentei projeto de doutorado ao Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, intitulado Imagem versus Realidade: meio ambiente, mídia e desenvolvimento sustentável na Amazônia, a partir da década de 90 que definia como objetivo analisar a relação institucional dessas organizações da cooperação internacional, particularmente da República Federal Alemã (RFA) e sua relação com projetos relacionados aos negócios sustentáveis (mel, bijuterias) realizados por povos tradicionais da Amazônia, em especial, no Nordeste Paraense. Nessa proposta inicial se analisariam as iniciativas ambientais do PDA; do SPRN, Projeto Integrado de Proteção das Terras e Populações Indígenas da Amazônia Legal (PPTAL e outros) de maior impacto a fim de contribuir com uma discussão empírica e teórica dessa atuação. Em síntese, o objetivo era o projeto ambiental sobre produtos da floresta (econegócios), quer dizer, as iniciativas referentes aos produtos florestais não madeireiros sob a atuação da cooperação técnica alemã no âmbito do PPG7. Além disso, no decorrer da pesquisa evidenciou-se que o desenvolvimento dos produtos da floresta não era a principal meta dos projetos ambientais da cooperação técnica 1 O uso do conceito de campo nos termos de Bourdieu, será tratado com profundidade quando se referir ao instrumental teórico desta pesquisa. Do mesmo modo, essa metodologia será aplicada aos conceitos de habitus e poder simbólico.

20 20 da Alemanha e tampouco do programa PPG7. O objetivo deste foi conter o desmatamento na Amazônia e conservar a floresta. As iniciativas relacionadas aos produtos denominados sustentáveis foram decorrentes do desenvolvimento dos vários projetos socioambientais. Isso porque em todos os 26 projetos estavam implícitos os princípios de manejo sustentável que pressupõem a contenção do desmatamento. Ressalte-se também que os dados sobre negócios florestais são ainda um desafio, pois não é possível mensurá-los de forma clara e objetiva dada a informalidade deste mercado. Provavelmente, por essa razão, apesar da forte atuação da Cooperação Técnica Alemã, nessa área, os resultados dessas ações encontram-se de forma difusa nos relatórios de avaliações. Contribuiram também para essa percepção e mudança do foco do estudo, as entrevistas com membros do Grupo Internacional de Assessoramento (IAG) e a consulta aos documentos originais da fase preliminar do PPG7 em Berlin, os quais enfatizaram a preocupação com a elevada taxa de desmatamento avaliada pelas lideranças políticas dos países do G7 e a pressão da opinião pública mundial. De fato, foram estes os principais motivos para a elaboração de um plano diretor como o PPG7 com vistas a conter o desmatamento. Descartada essa proposta inicial, pensou-se em analisar a importância do papel institucional das organizações internacionais, mas o acesso e detalhamento dos balanços, assim como a amplitude financeira dos vários projetos no âmbito do PPG7 em virtude da sua dimensão estratégia revelou-se uma dificuldade. Mello (2002), Nistch (2002) e MMA (2004) interpretam que na execução do PPG7 optou por estratégias com desenho disperso, nos meios naturais e sociais, baseando-se na rede de organizações também dispersas pela região, isso não permitiu o levantamento de dados. Significa dizer que vários projetos foram introduzidos, monitorados e avaliados ao mesmo tempo, contando com o alto turn over das organizações bilaterais internacionais e dos consultores. Nesse desenho de gestão dispersa, a distribuição dos recursos foi feita de forma aleatória, pois a dispersão espacial foi entendida pelo Programa como a oportunidade de se obter diferentes modelos de iniciativas nas propostas dos agentes sociais e institucionais. Diante desse desenho original e amplo de atividades, houve a necessidade de modificar e adequar o foco e a análise do objeto dessa pesquisa. Diante dessa problemática, passou-se a identificar as práticas de comunicação institucional das organizações da cooperação técnica alemã para o desenvolvimento na implementação de projetos ambientais na Amazônia no âmbito do PPG7. Penetrando nessa idéia, a pesquisa mostrava que para implementar e executar os projetos a GTZ não trabalhava

21 21 sozinha, mas com várias organizações alemãs e com diversas parcerias com diferentes organismos internacionais - organizações governamentais, Organizações Não- Governamentais (ONGs) e a da sociedade civil. Nesse sentido, as interações e os discursos dessas organizações constituíam elementos e categorias muito importantes para o Programa, uma vez que, os agentes sociais institucionais mantiveram contato direto com as instituições brasileiras e com os agentes sociais locais (povos tradicionais da Amazônia) 2. Com o foco nesse objetivo, a análise preliminar indicou que mesmo em projetos de baixo impacto, as ações da consultoria não ficaram apenas nos discursos e nos relatórios anuais em balanços das organizações, construíram em redes de relações sociais e as experiências que compõem a história das organizações e dos consultores brasileiros e estrangeiros. Constatou que o governo brasileiro, utilizou das estratégias da política externa por meio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), foi buscar apoio na cooperação técnica internacional (CTI) para preservar a Amazônia. Assim, a iniciativa partiu do próprio governo brasileiro, ao contrário do que foi divulgado, a Amazônia está sendo internacionalizada, está perdendo governança, entre outros enunciados sentidos sobre esse tema 3. Esperava-se que, em termos de práticas de comunicação institucional, a GTZ mantivesse pelo menos uma estrutura mínima de relacionamento com o público de acordo com a política de comunicação 4 da matriz na RFA. Entretanto, ocorreu justamente o contrário, a sede do escritório no Brasil, tendo que implementar projetos com a complexidade do PPG7, não manteve e tampouco estruturou uma política de comunicação com profissionais responsáveis pela produção da informação e pelo atendimento aos diferentes públicos (agentes sociais). Somente em janeiro de 2010, na conclusão dessa pesquisa, o escritório da 2 O conceito e um debate atual sobre a categoria Povos Tradicionais encontram-se em: ACEVEDO MARIN; ALMEIDA, A definição operacional foi contemplada no decreto 6040 que institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e comunidades Tradicionais: Povos e Comunidades Tradicionais são grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, possuem formas próprias de organização social, ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para a sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição. (Art. 3 0 do Decreto N , de 7 de fevereiro de 2007). A conceituação de Almeida (2006, p. 65) complementa esta definição: Tradicional não é a história, tradicional é a forma como o grupo está estabelecendo sua relação com os meios de produção. Pode ocupar num mês, mas a terra é terra tradicional. Que senão só trabalharíamos com a ideia de população tradicional como imemorial ou vinculada a terras imemoriais e précolombianas [...] 3 Essa discussão pode ser lida em vários jornais, em especial na série publicada no Jornal a Folha de São Paulo e na Folha Online - Brasil, durante a semana de 16 a 23 de agosto de Política de comunicação defini-se como, estratégia básica de comunicação de uma empresa ou marca. Regras que devem ser seguidas no trabalho de planejamento, criação, produção e mídia de todas as ferramentas de comunicação institucional. (LUPETTI, 2000, p. 148). Ver mais detalhes sobre o conceito de Política de comunicação: (BUENO, 2009, pp ).

22 22 GTZ em Brasília passou a contar com um profissional de comunicação para atender todo o Brasil. Assim, constata-se a ausência de serviços de comunicação da GTZ, que não priorizou um planejamento de comunicação institucional para atender seus diferentes públicos durante a constituição do PPG7. A pergunta que norteará e orientará todo o desenvolvimento da tese é, por que a GTZ não planejou uma política de comunicação direcionada aos diferentes agentes sociais no âmbito do PPG7? Com essa reestruturação do objeto, a finalidade dessa pesquisa é analisar as práticas de comunicação das organizações da cooperação técnica alemã para o desenvolvimento e identificar os discursos recorrentes na implementação de projetos ambientais na Amazônia, no âmbito do PPG7 ( ). A hipótese que norteia a pesquisa é de que a GTZ não difundiu as estratégias de atuação na implementação dos projetos socioambientais na Amazônia poque se aproveitou da gestão dispersa do PPG7 e dos anos de engajamentos das várias parcerias ambientais no país. Essa pouca opacidade das informações esconderam-se suas reais ações intervencionistas gerando tensão nas relações de comunicação institucional em alguns projetos e instituições. A outra possibilidade, as ações ambientais da GTZ podem ser consideradas estratégias para ampliar a presença alemã no mercado da América Latina e, mais precisamente, no Brasil, no contexto competitivo e globalizado, tendo em vista os interesses nacionais nas negociações comerciais via relações internacionais entre Brasil e Alemanha. Então, as práticas de comunicação institucional estabelecidas são relações de poder que evidenciam as divergências entre as organizações da cooperação técnica alemã e os agentes sociais locais (populações tradicionais, consultores, instituições e lideranças). Tomando por base a política de comunicação da GTZ na Europa, a principal questão dessa pesquisa é por que no Brasil não foram mantidos os mesmos procedimentos e condutas de práticas de comunicação? A palavra comunicação, além da definição e da etimologia do termo encontrado em dicionários, traz vários conceitos e significações de diversos autores (HOHLFELD, 2001; MARQUES DE MELO, 2007; MATTELART, 2002). Existe a visão generalizada e simplificada que resume a comunicação como a necessidade básica do ser humano, do homem na sociedade. O significado do termo é amplo e se adequa conforme o interesse e discurso do emissor (ator social). Há ainda o conceito de que a comunicação é toda e qualquer conversação no espaço social. Ou melhor, o que há de propriamente conversacional e de troca (simbólica e de práticas interativas) nas diversas instâncias e situações da vida social (BRAGA, 2001, p. 15). Então, aqui é preciso questionar de que comunicação estamos

23 23 falando? Essa pesquisa recorre à explicação de Martino (2003, p. 16) para quem comunicação é compartilhar, transmitir, anunciar, trocar, reunir, ligar (por em contato). São expressões, variantes ou usos figurados de um sentido primordial e mais geral que exprime relação. Esta pesquisa, no sentido mais restrito, refere-se a essas práticas de comunicação institucional que envolve estudos voltados para as sistemáticas, processos, consequências, estruturações, modos de funcionamento das práticas (profissionais ou não) da comunicação na sociedade. Esse conceito de práticas de comunicação tem como base a reflexão sobre a institucionalização e reformulação dos estudos científicos de comunicação 5 no Brasil apresentado no Colóquio Brasil Itália de 31/08 a 02/09/1997 em Santos (SP) e publicado em Do ponto de vista social, para Bourdieu (2004, p. 104), a formalização é o que permite conferir às práticas, e sobretudo às práticas de comunicação e cooperação, essa constância que assegura a calculabilidade e a previsibilidade para além das variações individuais e das flutuações temporais. Assim, a relevância desse estudo consiste em identificar não só o sucesso e as lições aprendidas do PPG7, como apresentados nos relatórios Progresso do MMA (BRASIL, 2005) ou nas imagens dos anual rapport das organizações brasileiras e alemães, mas analisar a comunicação institucional com outro enfoque, cujo intuito é evidenciar os acordos, desacordos, conflitos, decepções, complexidade, desafios que constituem a experiência dos diferentes agentes sociais que compõem o campo das relações sociais de cooperação técnica alemã na Amazônia ( ). Para isso algumas questões encaminham a discussão teórica: 1. de que maneira o histórico e o engajamento das organizações da cooperação técnica alemã contribuíram para a difusão das práticas de comunicação institucional e manutenção da imagem da Alemanha como maior doador do PPG7 na Amazônia? 2. em que medida as práticas de comunicação das organizações da cooperação técnica alemã para o desenvolvimento que vigoraram na implementação dos 26 projetos 5 Nessa reformulação da pesquisa em Comunicação, além de incluir a perspectiva histórica sobre o mapeamento da produção científica da área houve a categorização do campo da comunicação em subáreas do conhecimento. Envolve ainda, algumas subáreas de estudo como: pesquisas sobre produção cultural, marketing, comunicação empresarial e assessoria de comunicação, comunicação rural, publicidade, jornalismo [...] e demais áreas que venham se estabelecer no espaço social (FAUSTO NETO, 2001, p. 104). Algumas sínteses dessas áreas são: Teoria epistemologia da comunicação, estudos dos meios, práticas de comunicação, estudos interpretativos e semióticos, estudos de recepção, sociabilidade, subjetividade e comunicação, comunicação e cultura entre outros estudos.

24 24 socioambientais na Amazônia, se adequaram aos interesses nacionais e aos discursos da agenda global e do mercado? 3. o que significou o modelo de sustentabilidade desenvolvido pela GTZ na implementação dos projetos socioambientais? 4. por que a GTZ, através do PPG7, que teve como objetivo o de construir uma imagem socialmente correta para a Alemanha, não trouxe resultados efetivos para as comunidades tradicionais em longo prazo. 5. como os consultores - representantes de instituições alemãs - articularam e estabeleceram suas práticas de comunicação institucional para as interações com a rede de agentes sociais na Amazônia? As respostas a estes questionamentos possibilitará argumentar sobre o porquê a GTZ tendo recursos humanos, financeiro e materiais optou por uma comunicação instrumental quando deveria ter em suas práticas a comunicação institucional dialógica e com princípios interativos.. Diante dessa problemática, foi preciso dialogar com um campo teórico interdisciplinar e debater as relações de cooperação técnica internacional sob o ponto de vista da comunicação institucional. A base teórica de reflexão interdisciplinar não obriga separações exatas entre os elementos de caráter qualitativo, tampouco uma rígida hierarquia entre as áreas de conhecimento científico ou mesmo entre os procedimentos metodológicos. Análises documentais, bibliográficas, entrevistas pessoais com diretores e consultores nas organizações de cooperação técnica alemã e em universidades e Institutos no Brasil e na Alemanha permitiu coligir um material teórico-empírico sobre o objeto. O referencial teórico-metodológico reúne autores e conceitos que permitiram maior entendimento dos discursos e da relação de poder dos grupos sociais pesquisados (organizações e consultores). Desse modo, utilizou-se a metodologia e a conceituação de estudiosos que formularam a história do pensamento comunicacional, (HOHLFELD, 2001; MARQUES DE MELO, 2003; MATTELART, 2002; BUENO, 2009) para analisar as práticas de comunicação organizacional. Na metodologia da análise do discurso social com elementos da semiologia, elaborados por Roland Barthes (1993), poder e discurso por Michel Foucault (1995) e poder simbólico de Bourdieu (1997) para identificar os discursos recorrentes nas relações comunicacionais da cooperação internacional na Amazônia.

25 25 A metodologia de Análise de Discurso da Escola Francesa permitiu que se adotassem conceitos fundamentais e estruturantes para operacionalizar a analise, entre eles, Polifonia, Dialogismo, Interação e Enunciação, de Bakhtin (2004); o conceito de Lugar da Fala, e relações de poder de Foucault (1995), entre outros. Nesta pesquisa para a compreensão da Análise de Discurso conceitua-se Discurso com apoio em Orlandi (2002), Fausto Neto (2004), Brandão (1996), Pêcheux (1988) e Maingueneau (1997). Para alguns autores, a Metodologia de Análise de Discurso é considerada uma técnica enquanto para outros é classificada como um método. Aqui a metodologia do discurso é utilizada como instrumental para analisar os discursos recorrentes, implícitos nas práticas de comunicação da cooperação técnica alemã. As fontes primárias que compuseram o corpus de análise foram: a) os documentos internos e externos produzidos pelas instituições envolvidas na implementação e execução do PPG7 e de suas respectivas práticas de comunicação institucional (avaliações de consultorias externas, atas de reuniões, relatórios); b) o material produzido pelos projetos, alguns produzidos pelo MMA e direcionado para o público externo (livretos, folders e publicações de divulgação dos projetos do PPG7 quando relacionado às ações da GTZ); c) o material de apoio institucional produzido e distribuído/veiculado para os diferentes públicos dos projetos (cartazes, outdoors, cartilhas, calendários, camisetas, bonés, e peças audiovisuais em vídeo); e d) as entrevistas realizadas com os agentes sociais envolvidos na implementação dos Projetos (consultores) nas esferas da produção e circulação das informações. Como fontes secundárias foram utilizadas matérias publicadas em jornais e revistas impressos e on line referentes à discussão principal da pesquisa, tais como, a divulgação de fatos e informações sobre a cooperação técnica alemã e a Amazônia, particularmente entre 1995 e 2009, período no qual foram realizadas as implementações dos projetos sociombientais previstos do PPG7. A pesquisa de campo, cujo programa de trabalho apresentado e executado com apoio na bolsa de estágio sanduíche de 1(um) ano na Europa, concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), permitiu desenvolver o levantamento de fontes secundarias e bibliograficas em vários locais (bibliotecas, arquivos, universidades, institutos e instituições públicas e privadas) de Portugal e Alemanha. A possibilidade de produzir conhecimento teórico como resultado dos contatos acadêmico-científicos foi o principal objetivo da proposta do estágio na Universidade Nova de Lisboa no Departamento da Ciência da Comunicação. Enquanto o estágio na Alemanha, especificamente em Berlin envolveu o trabalho de observação e entrevistas em principais

26 26 instituições que desenvolvem projetos ambientais na Amazônia. Com esses propósitos metodológicos, as fontes e locais de desenvolvimento da pesquisa na Europa foram estruturadas da seguinte maneira: Na Universidade Nova de Lisboa em Portugal Departamento da Ciência da Comunicação, a pesquisa consistiu na leitura das obras dos autores e pesquisadores portugueses da ciência da comunicação. Nesse sentido, o contato com esta bibliografia não apenas permitiu revisar uma discussão significativa sobre a questão dos estudos da comunicação organizacional contemporânea, como também selecionar um levantamento de obras comentadas, especialmente as de procedência portuguesa, cuja revisão resultou em uma relativa atualização do conhecimento sobre a temática mídia, organização, opinião pública, agenda setting, narrativas e discursos. Na Freie Universität Berlin no Lateinamerika-Institut, a permanência consistiu na atuação como pesquisadora visitante e na participação no Grupo de Estudo Prof. Dr. Manfred Nitsch. Nesse sentido, também foi realizada pesquisa no Departamento FB Geowissenschaften - Institut für Geographische Wissenschafte com o apoio metodológico para o trabalho de campo da Profa. Dra. Regine Schönenberg, consultora executiva de organizações de consultoria de cooperação internacional (GTZ). Ambos os departamentos da Freie Universität Berlin ofereceram apoio institucional para essa pesquisa. Dada a abrangência do projeto de tese e a ênfase nos agentes sociais da cooperação Técnica alemã o trabalho de campo foi realizado no Brasil e na Alemanha. A relação de entrevistas com os consultores da GTZ no Brasil, em especial o escritório em Belém (Pa) permitiu estabelecer contato com vários profissionais. No Brasil e na RFA as entrevistas eram formais e informais. Assim, foram contatados consultores e peritos alemães que estavam em exercício no Brasil e técnicos brasileiros vinculados aos diferentes projetos de cooperação técnica. Em termos de região na Amazônia foram feitas várias visitas onde eram worshops realizados pela GTZ em comunidades no Nordeste Paraense (Bragança e Ajuruteua) em que havia atuação da CTI. Na Alemanha, foi dada ênfase às entrevistas em organizações alemãs que desenvolvem projetos ambientais na Amazônia. Foram entrevistados pesquisadores, técnicos e executivos com experiência como consultores em projetos ambientais na Amazônia financiados pela cooperação alemã no âmbito do PPG7 ( ). Essa etapa da pesquisa desenvolveu-se nas conversas informais, entrevistas dirigidas e não dirigidas, registros fotográficos ou fotocopiado dos documentos disponibilizados pelo entrevistado. No apêndice há um modelo de questionários, do momento inicial dessa pesquisa, em Nada obstante,

27 27 os mesmos continuaram a ser aplicados nas etapas subseqüentes de investigação. Esses procedimentos foram realizados, praticamente, de maneira concomitante, uma vez que, as entrevistas e conversas estreitavam laços de confiança e permitiam, a observação direta, das práticas de comunicação do cotidiano do trabalho desses profissionais. Esse contato demandava períodos que variavam entre uma e uma hora e meia por entrevistado, pois era preciso considerar a pouca disponibilidade de tempo desse perfil de profissional. Em alguns casos, esse período se estendia mais, conforme a relevância e disponibilidade dos consultores, isso acontecia quando a instituição ou o próprio consultor disponibilizava documentos, livros e dados sobre sua atividade. Com esse objetivo foram realizadas as seguintes visitas institucionais e entrevistas: a) GTZ Entrevista com executivos (Eschborn/ Alemanha) - ( setembro, 2008); b) Fundação Heinrich Boell entrevistas com executivos e técnicos da no Rio e em Berlin (fevereiro, setembro e outubro 2008); c) Universidade Humboldt Entrevista com pesquisadores (setembro, 2008); d) GFA Consulting Group GmbH (Hamburg) Entrevistas com executivos que atuaram no Desenvolvimento da Pequena Produção Rural e Implantação do Centro de Capacitção - Prorenda ( ) na Amazônia (outubro, 2008); e) ASW (aktion Solidarische Welt), Berlin ( setembro, 2008); f) Freie Universität Pesquisadores que realizaram estágio e visitaram projetos ambientais na Amazônia ( setembro, outubros 2008). Em virtude do cargo de consultor envolver uma série de viagens e imprevistos foram realizadas 20 entrevistas, durante o segundo semestre longo de 2008 com profissionais que atuaram como cooperante, consultor 6 e perito na GTZ, DED, FHB e em 2009, com três membros do IAG. Além delas, mais três profissionais da CIFOR que, ao término do contrato de trabalho, também deram consultorias na GTZ. Dados disponibilizados no Quadro 1. 6 Exceto os coordenadores e diretores, os consultores entrevistados concluíram trabalhos no Brasil, alguns permanecem na Alemanha realizando trabalho de pesquisa e de docente nas universidades e institutos outros estão em Honduras, e prestam consultorias de curta duração na África e na Índia.

28 28 Quadro 1 Entrevistas trabalho de campo Instituição Entrevistados IAG 03 FHB 01 GTZ 09 CIM 01 DED 01 SW 01 GFA 01 CIFOR 02 Fundação Humbold 01 Fonte: Elaborado pela autora a partir das entrevistas formais realizada durante o trabalho de campo 2007/ A construção dos dados com enfoque nas práticas de comunicação institucional baseou-se em várias fontes explicitadas em cada capitulo, juntamente com os procedimentos teórico-metodológicos. O 1º capítulo discute as práticas de comunicação e a metodologia de análise do discurso, base para as análises apresentadas nos capítulos 4. Para isso, uma contextualização histórica dos estudos da semiologia, apresenta os principais autores e respectivos conceitos sobre a enunciação, o discurso e o campo discursivo e social. Dessa maneira, descreve-se o instrumental teórico utilizado na análise dos dados dessa tese. O 2º capítulo apresenta as principais organizações da Alemanha que, em função da sua trajetória histórica, elaboram estratégias de relações internacionais para promover o desenvolvimento naquele pais, e em países emergentes. Descreve a problemática do desenvolvimento e os desafios que ameaçam a humanidade. O 3º capítulo descreve criticamente a construção do campo discursivo e social sobre a Amazônia. Os enunciados e as condições de produção da construção de discursos que formam e direcionam os sentidos que se tem hoje sobre a Amazônia. Apresenta a percepção dos relatos dos viajantes à construção da imagem da Amazônia na Agenda Global. Ainda nesse capítulo, o campo ambiental da Amazônia com os novos agentes sociais no contexto da globalização, protagonista da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) em O 4 capítulo traz a análise dos dados, ou seja, verificar nas práticas de comunicação institucionais dos agentes institucionais (Ministério Meio Ambiente (MMA), Banco Mundial (BM), Busdesministerium für wirtschaftliche Zusammenarbeit und Entwicklung - Ministério Federal para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ), GTZ) os discursos recorrentes na implementação de projetos socioambientais na Amazônia. É a descrição sobre

29 29 o desenvolvimento dos projetos e do material de comunicação institucional das organizações de cooperação alemã. Essa análise é feita a partir das entrevistas, confrontando com os relatórios das organizações, os artigos e os documentos nos quais os consultores deixaram suas opiniões e críticas. O conteúdo discursivo é encontrado nos vários materiais produzidos cartazes, cartilhas e peças promocionais de eventos e nas 20 entrevistas dos agentes sociais das esferas da produção e difusão das informações. A maioria registrada na Alemanha, com agentes da cooperação Técnica. Por fim, as considerações finais apontam os principais resultados dos capítulos, tomando por base as organizações internacionais bilaterais e multilaterais, por meio da CTI, instrumentos de promoção do processo para o desenvolvimento e atuam num contexto globalizado, cujas propostas em nome do interesse nacional contribui para a construção e manutenção da imagem dos países. Dessa forma, foi interessante a caracterização da CTI como expressão de ação na promoção de mecanismo de desenvolvimento como uma das teorias de base norteadora da pesquisa. Nessa direção de pensamento, ao analisar os discursos por meio das práticas de comunicação institucional das organizações alemãs em projetos socioambientais na Amazônia foi possível concluir que só há possibilidade de inserção de um país se houver iniciativas com novas tecnologias e conhecimento juntamente com a difusão da informação para diminuir a dependência dos países em desenvolvimento.

30 30 2 DISCURSOS E PRÁTICAS NO CAMPO DA COOPERAÇÃO Nesta pesquisa, parte-se da hipótese de que a Cooperação Técnica Internacional é um campo de poder, com especificidades, regularidades e interseções com outros campos (BOURDIEU, 1998). Compreende diferentes instituições e agentes sociais nacionais, internacionais e transnacionais, aos quais representam força e intresse diferenciados com ou sem fins lucrativos nas diversas formas de capital. É também, um campo em que as instituições e agentes sociais ao mesmo tempo, complementam-se e concorrem em torno de várias formas de poder e, inclusive a parte do sistema de governança internacional-global. Esta cooperação produz e reproduz um discurso sobre suas práticas e parte delas orientam-se para a comunicação institucional relacionada aos projetos socioambientais executados na Amazonia ( ). O objetivo é identificar os discursos e os elementos conceituais para analisar as práticas de comunicação nas relações sociais da cooperação técnica alemã na implementação de projetos socioambientais na Amazônia. Por meio desses conceitos e instrumental teórico, pretende-se ainda refletir sobre os limites e pontos convergentes e divergentes dessa relação comunicacional institucional. O presente capítulo apresenta os referenciais teóricos de base para construção e reflexão sobre o objeto de estudo, iniciando pelos estudos dos Discursos e as teorias de análise do discurso. Para isso, será feita uma contextualização histórica dos estudos da Semiologia, de modo a apresentar seus principais autores e respectivos conceitos no que diz respeito à enunciação, ao discurso às práticas de comunicação institucional. A palavra Semiótica tem sua origem do grego semeiotiké ou "a arte dos sinais" e é conceituada como a ciência geral dos signos e da semiose que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas sígnicos, ou seja, tem como objeto os sistemas de significação. Como um signo é composto de dois planos complementares - a saber, a "forma" (ou "significante") e o "conteúdo" (ou "significado") logo a Semiótica é uma ciência dupla que busca relacionar a sintaxe (relativa à forma) à semântica (relativa ao conteúdo). Essa conceituação tem como objetivo estudar o processo de significação ou representação, na natureza e na cultura, do conceito ou da ideia. É considerada mais abrangente que a linguística, a qual se restringe apenas ao estudo dos signos linguísticos, ou seja, do sistema sígnico da linguagem verbal. Eco (1974) explica a ampliação do conceito: A semiótica ocupa-se com a forma do conteúdo não apenas porque ela constitui o universo dos significados trazidos pela forma da expressão, mas porque esse universo de significados deve ser, em certa medida, constituído homologamente à

31 31 forma da expressão. E isso também graças a uma razão muito precisa que reafirma a tendência imperialista da pesquisa semiótica: o universo do conteúdo não constitui apenas um universo de significados que preenchem as formas significantes que os veiculam. (ECO, 1974, p. XIV). Desse modo, "a semiótica tem por objeto o texto, isto é: procura descrever e explicar o que o texto diz e como ele faz para dizer o que diz (SANTAELLA, 2001). Desse sua origem, na mesma época que a filosofia e as demais disciplinas na Grécia, até a contemporaneidade tem se desenvolvido continuamente. Estudos mais aprofundados remetem a discussão da semiótica a pensadores como Platão e Santo Agostinho, dentre outros. Entretanto, somente há cerca de dois ou três décadas começaram a se manifestar aqueles que seriam considerados os teóricos da semiótica nos EUA, e com eles vieram um conceito mais amplo do estudo da semiologia na Europa. Contudo é com os trabalhos de Ferdinand de Saussure, a semiótica começa a adquirir autonomia e o reconhecimento de ciência. De acordo com Santaella (2001, p. 15), a semiótica é a mais jovem ciência a despontar no horizonte das ciências humanas e tem uma aparência não menos singular. A autora aponta como singularidade, o fato das três origens lançadas quase concomitantemente no tempo e distintas no espaço, já que uma nos Estados, outra na União Soviética e a terceira na Europa Ocidental. Para Santaella, esse surgimento em locais diferentes, temporalmente sincronizados evidencia a hipótese que há a proliferação histórica crescente das linguagens e códigos dos meios de difusão das mensagens a partir da revolução industrial. Descrevendo a conceituação da semiótica do ponto de vista histórico e procurando fazer uma distinção entre Semiologia e Linguística pode-se afirmar que, a Semiologia é a teoria geral dos sinais. Ela difere da Linguística por sua maior abrangência. Isto é: enquanto a Linguística é o estudo científico da linguagem humana, a Semiologia preocupa-se não apenas com toda a linguagem humana e verbal, mas também com todo e qualquer sistema de comunicação. Dessa maneira, a Linguística insere-se como uma parte da Semiologia. A Semiótica iniciou nos Estados Unidos com o filósofo Charles Sanders Peirce enquanto a Semiologia surgiu na Europa, com Saussure, e teve seu conceito ampliado com os estudos de Barthes nos anos O primeiro estudioso a fazer referência ao tema Semiótica é o filosofo, cientista e matemático americano, Charles Sanders Peirce ( ), para quem, homem significa tudo que o cerca numa concepção triádica (firstness, secondness e thirdness), e é nestes pilares que toda a sua teoria se baseia (PEIRCE, 2003, p. 9-18). Desse modo, em um artigo intitulado Sobre uma nova lista de categorias, Peirce, em 14 de maio de 1867, descreveu suas três categorias universais de toda a experiência e pensamento.

32 32 Nesse artigo, considerou tudo aquilo que se força sobre nós, impondo-se ao nosso reconhecimento, e sem confundir pensamento com pensamento racional, assim, Peirce (2003, p. 29) concluiu que tudo o que aparece à consciência, assim o faz numa gradação de três propriedades que correspondem aos três elementos formais de toda e qualquer experiência. Essas categorias foram denominadas: (1) Qualidade; (2) Relação; (3) Representação. Algum tempo depois, o termo Relação foi substituído por Reação e o termo Representação recebeu a denominação mais ampla de Mediação. Para fins científicos, Peirce preferiu fixar-se na terminologia de Primeiridade, Secundidade e Terceiridade 7. Depois dessa explicação, cabe agora questionar qual é a definição de signo? Como apontado por Santaella (2003), há várias definições de signos distribuídas pelos textos de Peirce, há conceitos mais objetivos e outros mais amplos, a autora elegeu o seguinte: um signo intenta representar, em parte pelo menos, um objeto que é, portanto, num certo sentido, a causa ou determinante do signo, mesmo se o signo representar seu objeto falsamente. Mas dizer que ele representa seu objeto implica que ele afete uma mente, de tal modo que, de certa maneira, determine naquela mente algo que é imediatamente devido ao objeto. Essa determinação da qual a causa imediata é o objeto, pode ser chamado o interpretante. (SANTAELLA, 2001, p. 58). O signo é uma coisa que representa outra, isto é: seu objeto, desse modo, só pode funcionar como símbolo se tiver esse poder de representar ou substituir outra coisa diferente dele. O signo não é o objeto, ele está apenas no lugar do objeto (SANTAELLA, 2001, p. 58). Vejamos o exemplo da palavra mesa: o esboço de uma mesa, a pintura de uma mesa ou mesmo o nosso olhar sobre ela, são todos signos sobre o objeto mesa. Entretanto, vale ressaltar que o signo só pode representar seu objeto para um intérprete. A noção de interpretante na visão de Santaella (2001, p. 58), não se refere ao intérprete do signo, mas a um processo relacional que se cria na mente do intérprete. Saindo do âmbito dos Estados Unidos e dos conceitos introduzidos por Peirce, o estudo dos signos ou a Semiologia na Europa ocidental foi estruturado a partir de influências da concepção estruturalista 8 e da lingüística; e sua evolução, da introdução de alguns conceitos da antropologia, psicologia, sociologia e, sobretudo, a filosofia. 7 Ver: (ECO, 1974). 8 A concepção estruturalista está baseada no Estruturalismo. O estruturalismo é: uma modalidade de pensar e um método de análise praticado nas ciências do século XX, especialmente nas áreas das humanidades. Metodologicamente, analisa sistemas em grande escala examinando as relações e as funções dos elementos que constituem tais sistemas, que são inúmeros, variando das línguas humanas e das práticas culturais aos contos folclóricos e aos textos literários. Partindo da Lingüistica e da Psicologia do principio do século XX, alcançou o seu apogeu na época da Antropologia Estrutural, ao redor dos anos de Seus representantes são: Estruturalismo europeu: Ferdinand de Saussure, Émile Benveniste, Claude Lévi-Strauss, Jacques Lacan, Michel Foucault, Jacques Derrida, Louis Althusser - Estruturalismo americano: Franz Boas, Leonard Bloomfield, Edward Sapir, Zellig Harris, Charles F. Hockett (DOSSE, 2003).

33 33 Para Saussure (2004, p ), o signo distingue o mundo da representação do mundo real. Desse modo, os signos pertencentes ao mundo da representação e são compostos por significante, a parte física e audível do signo e pelo significado, a parte mental, o conceito. Assim, Saussure, divide os signos em motivados e arbitrários que possuem relações sintagmáticas, as de linguagem, as da fala, a relação fluida que no discurso, cada signo mantém associação como o signo que está antes e com o que está depois. Ainda na visão do autor o signo é arbitrário porque a arbitrariedade está no entrelaçado que une significado e significante. É, desse modo, que a correspondência entre esses dois elementos é convencionada, imposta e ditada. Não existe nenhuma relação racional ou lógica entre eles, conforme nos ensina Saussure. Nessa linha: o significante é imotivado, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço natural (SAUSSURE, 2004, p ). Sob essa conceituação, a linguagem é dotada de um lado individual e outro social e que, deve ser entendida como uma das dicotomias básica do estruturalismo: a língua e a fala. Assim, a linguagem é uma faculdade natural do homem. Desse modo, a língua é conceituada por Saussure (1969, p. 7) como um sistema de signos convencionado e dominado pelo corpo social para permitir ao indivíduo a aquisição passiva da linguagem, sem ter que criá-la ou modificá-la, ao passo que a fala sofre as influências de quem a executa pelo lado individual da linguagem. Ao analisar o signo, Saussure (2004, p ) considera suas qualidades contraditórias de imutabilidade e mutabilidade. A imutabilidade está relacionada diretamente à arbitrariedade do signo que impede qualquer constatação ou discussão. Isso porque, não há uma relação racional entre as suas partes, mas uma convenção somada à resistência coletiva à renovação linguística, em virtude da língua estar presa, na tradição e no social, faz o signo imutável. Na análise da mutabilidade do signo, o referido autor relaciona esse fato à força social e ao tempo. Com essa explicação, o autor, considera as qualidades contraditórias do signo, uma vez que atuam para assegurar a continuidade da língua, assim como promove suas modificações. Ao dividir a organização estrutural da língua em dois eixos denominados de Linguística Evolutiva ou Diacrônica, Saussure (2004, p ) se propõe a descrever os estados sucessivos da língua. Esse estudo tinha como base o uso do tempo e a linguística estática ou sincrônica, que se restringia ao estudo de estados estabelecidos na língua, sem preocupação com a sua constituição histórica. Assim, optou por direcionar seu método de estudo mais à linguística sincrônica que é evolutiva, em virtude da sua visão de que a

34 34 sincronia apresenta um objeto de estudo mais definido que a diacronia, utilizada pela Linguística moderna que na avaliação do autor produzia resultados imperfeitos. Embora, para Saussure, a semiologia era definida somente como comunicação, o relato dessa síntese sobre a língua do ponto de vista da lingüística, ele explicou aspectos relevantes da importância do autor por criar a designação e o objeto de estudo da Semiologia. A ampliação do conceito de Semiologia com um novo direcionamento foi feito por Roland Barthes ( ), autor da obra Elementos de Semiologia (1964). [...] a Semiologia tem como objeto qualquer sistema de signos, seja qual for a sua substância, sejam quais forem seus limites: as imagens, os sons, os gestos, os sons melancólicos, os objetos e os complexos dessas substâncias que se encontram nos ritos, protocolos e espetáculos se não constituem linguagens, são, pelos menos, sistemas de significação. (BARTHES, 1997, p. 11). A partir dessa conceituação, a Semiologia passou a ser uma ciência dedicada ao estudo da significação no meio social e não somente à comunicação, como definido por Saussure. Nessa nova maneira de conceituar, o mundo torna-se objeto da Semiologia a partir do momento que toma contato com o homem, pois, um simples objeto pode assumir significações diversas ao ser apropriado pela sociedade (BARTHES,1997, p ). Mas afinal, qual é a tarefa da Semiologia e em que esses novos conceitos de signos podem contribuir para a compreensão do funcionamento da linguagem na sociedade? Para Barthes a tarefa da Semiologia é exclusivamente descritiva, de leitura ou decifração da estrutura e do modo de funcionamento das significações. Ela não se ocupa em explicar seus porquês e as suas causas. E não só o signo ganha um novo sentido (BARTHES, 1997, p ). Emergem mudanças nas concepções de linguagem, a partir dos estudos de Barthes. Toda unidade ou síntese significativa, visual ou verbal, ou de outros tipos, será elemento de uma linguagem (BARTHES, 1997, ). Além disso, refuta os conceitos anteriores, afirmando que a Semiologia como parte da Linguística e não como definido por Saussure (BARTHES, 1997, p. 11). No referido estudo, Barthes ordenou os elementos fundamentais da Semiologia em quatro rubricas: (1) língua e fala, (2) significante e significado, (3) sistema ou paradigma e sintagma, (4) denotação e conotação (BARTHES, 1997, p. 14). Desse modo, a significação óbvia e de senso comum é a denotação. A conotação ocorre quando o signo se encontra com os sentimentos e emoções dos utilizadores e com os valores da sua cultura. Na fotografia, a denotação é o objeto fotografado, enquanto a conotação é a forma como o objeto foi fotografado. Para Barthes, a conotação é arbitrária e específica de uma cultura.

35 35 A língua é considerada o caso paradigmático de sistema de signos, no entanto, grande parte da pesquisa semiótica se concentrou na análise de diferentes domínios científicos e culturais como mitos, fotografia, cinema e propaganda. No contexto desse estudo, uma fotografia ou um ensaio fotográfico são interpretados como textos que comunicam significados, como derivação da interação ordenada de elementos portadores de sentido, os signos, que estão, eles mesmos, encaixados num sistema estruturado, de maneira parcialmente semelhante aos elementos portadores de significados em uma língua. É desse modo, que as fotos e imagens utilizadas nas práticas de comunicação institucional das organições alemãs foram analisadas, ou seja, interpretadas como elementos portadores de sentido que interagem com os diferentes agentes sociais (téncnicos, consultores, populações tradicionais) na Amazônia. Em se tratando de estudos da semiologia, Barthes usou a análise semiótica em revistas e propagandas, destacando o conteúdo político, aqui é o início da sua contribuiçao para a área de pesquisa em comunicação. Esse segmento foi muito analisado e constatou-se que o conteúdo político, as rubricas de denotação e conotação são predominantes nesse objeto de estudo. De forma resumida, as rubricas de denotação tratavam de percepções simples e superficial, enquanto a conotação, das mitologias como denominava os sistemas de código que nos são transmitidos e adotados como padrões. Conforme Barthes (1964, p ), esses conjuntos ideológicos eram às vezes absorvidos naturalmente sem perceber, o que possibilitava e tornava viável o uso da persuasão pelos veículos de comunicação. Assim, ao chamar a atenção para esses significados, de certo modo ocultos, que, consumimos por meio dos diferentes discursos, de forma quase imperceptível e despretensiosa, Barthes indica um dos objetivos dos seus estudos orientando-se ainda para analisar os discursos e o mito. Com esse estudo, o referido autor visava, por meio de críticas ideológicas da cultura de massa, chamar a atenção da sociedade para os perigos da alienação. O período de transição da Semiologia Estruturalista para a Pós-Estruturalista foi marcado pelos estudos do linguísta francês Émile Benveniste ( ) 9, que aponta as 9 Émile Benveniste ( ) foi um lingüista estruturalista francês, conhecido por seus estudos sobre as línguas indo-europeias e pela expansão do paradigma lingüístico estabelecido por Ferdinand de Saussure. Iniciou seus estudos na Sorbonne com Antoine Meillet, que fora aluno de Saussure. Lecionou na École Pratique des Hautes Études; mais tarde, trabalhou no Collège de France como professor de lingüística. Nesta época, já havia iniciado suas pesquisas sobre gramática comparada das línguas indo-europeias. Em 1961, fundou com Claude Lévi-Strauss e Pierre Gourou a revista de antropologia L'Homme. Permaneceu no Colège de France até 1969, quando se aposentou devido a problemas de saúde. No início de sua carreira, suas pesquisas eram conhecidas apenas num pequeno círculo acadêmico, por tratar-se de um trabalho altamente técnico e especializado. A publicação de sua principal obra, Problèmes de linguistique générale (Problemas de Lingüística Geral) fez com que tivesse um reconhecimento muito mais amplo. Os dois volumes de seu trabalho foram publicados em 1966 e 1974, respectivamente. Os livros apresentavam, além do rigor técnico, um estilo acessível

36 36 bases para o início de um novo momento da Semiologia, marcado por um despreendimento da análise estrutural, inaugurando os debates em torno do processo e do contexto da produção de sentido (BENVENISTE, 1995, p ). A obra Problemas de Linguística Geral II (1989), de autoria de Benveniste, é a principal contribuição para a introdução dos estudos sobre enunciação, melhor explicando, estudar os diferentes modos de construção do discurso. No âmbito da compreensão da construção dos discursos, essa nova proposta representa grande avanço, pois, até então, a Semiologia se detinha somente ao estudo do enunciado, ou seja, analisava apenas o conteúdo presente no texto. Essa discussão toma nova direção de estudos quando Benveniste conceitua enunciação como colocar em funcionamento a língua por um ato individual de utilização. [...] Este ato é o fator do locutor que mobiliza a língua por sua conta. A relação do locutor com a língua determina os caracteres linguísticos da enunciação. Deve-se considerá-lo como o fato do locutor, que toma a língua por instrumento, e nos caracteres linguísticos que marcam esta relação. (BENVENISTE, 1995, p. 82). Nessa conceituação, pode-se afirmar que a enunciação apóia-se no processo semântico da língua. Dessa maneira, compreende-se a transformação de sentido em palavras, isto é, um sentido ligado ao indivíduo e organizado sob a forma de discurso com o objetivo de transmitir uma mensagem, de comunicar (BENVENISTE, 1995, p 81-89). Benveniste contribui com o primeiro estudo que relaciona a fala ao indivíduo, ou seja, ao eu. Para Maingueneau (2000, p. 52) a enunciação é classicamente definida, após Benveniste, como a colocação em funcionamento da língua por um ato individual de atualização. No estudo, sobre o processo de enunciação, o autor observa ainda a oposição entre os termos discurso e língua ao afirmar que a língua só ganha existência no momento que é posta no social, isto é, no momento em que passa a ter forma de discurso: antes da enunciação, a língua não é senão possibilidade de língua (BENVENISTE, 1995 p. 83). Ainda sobre a análise do processo de enunciação, o autor aponta que o locutor tem claro em seu entendimento a imagem do receptor a quem o seu enunciado se destina. Dessa maneira, o locutor sempre estrutura seu discurso na tentativa de persuasão. Essa persuasão poderá não ser explícita, mas estará de certa forma, presente no enunciado (BENVENISTE, 1995 p. 86). Sob o ponto de vista dessas considerações, o autor considera que o homem se posiciona enquanto eu individual em oposição a tu e a ele. Adverte ainda que este é um comportamento instintivo que reflete sua necessidade de afirmação enquanto sujeito. Esse eu presente nos enunciados se altera a cada ato enunciativo por ação do contexto, sofrendo o que ao público leigo e consistiam de uma seleção de vários artigos escritos ao longo de mais de vinte e cinco anos de estudo (DOSSE, 1994).

37 37 o teórico denomina de atualização da experiência essencial. Observa e afirma que os indivíduos linguísticos nascem de uma enunciação (BENVENISTE, 1995, p. 86). Nessa direção de pensamento, compreende-se tanto quanto o eu presente nos enunciados nunca é o mesmo, um processo de enunciação jamais será possível de reprodução exata, pois os sujeitos se modificam e passam a produzir e reproduzir discursos diferentes sobre o mesmo tema. Esse aspecto pode ser observado nas práticas de comunicação institucional e nos procedimentos metodológicos da GTZ, em especial, na difusão do método do Planejamento de Projeto Orientado por Objetivos em que os folders e folhetos evidenciavam a participação e, na verdade, na prática, essa pesquisa mostra que esses sentidos serão reproduzidos de diferente forma. Desse mesmo modo, serão também evidenciados vários enunciados que contradiz da proposta da conduta da política de comunicação da GTZ. No material produzido pelas organizações a questão do sujeito da fala deixa evidente quem está falando, quem está proprondo, isto quer dizer que não há palavras de autoria neutra, como depois conceituado por Bakthin (2004). Esse aspecto fundamental e importante é identificado no estudo de Benveniste que evidencia o papel do sujeito na linguagem. Nesse item, sua análise se deteve na estrutura das relações de pessoas no verbo e na natureza dos pronomes. Assim, nessa análise o autor introduziu a questão da subjetividade que considera como capacidade do locutor de se apresentar como sujeito durante o ato da fala (BENVENISTE, 1995, p ). Retomar o papel do indivíduo como sujeito ativo na comunicação representou um avanço excepcional na Semiologia. Todavia, é necessário observar que essa subjetividade do sujeito somente é considerada por Benveniste nos casos em que o pronome pessoal é explicitado. Melhor explicando, para o autor o fundamento da subjetividade é determinado pelo estatuto linguístico da pessoa (eu, tu) (BENVENISTE, 1995, p. 253). O paradigma do estruturalismo foi predominante nas décadas de 1960, contrapondo as resistências do existencialismo e do marxismo. Na linguística, havia uma aparente unidade em torno das teorias saussureanas. Do funcionalismo de André Martinet às teorias behavioristas da comunicação, o pensamento de Saussure que se estende até o estruturalismo distribucional de Bloomfield (PÊCHEUX, 1999, p.10). É nesse contexto que, no final dos anos 60, o pensamento comunicacional se estrutura em trono das três principais correntes fundadoras (análise narrativa, mensagens visuais e técnicas de análise dos discursos) começa a chamar a atenção, primeiramente, na comunidade acadêmica e profissional nos Estados Unidos e, depois, em vários países da Europa Ocidental, assim adquirire autonomia e visibilidade diante das demais disciplinas. Sobre essa fase, (MIÈGE, p. 2000, p.45) sintetiza Os anos 60

38 38 constituem, portanto, uma reviravolta para o pensamento comunicacional que começa a se diversificar e ganhar em consistência teórica. 2.1 OS ENUNCIADOS DA SOCIEDADE: OBJETO DE ESTUDO DA ANÁLISE DO DISCURSO Na segunda metade dos 1960, havia alguns questionamentos que se faziam em torno das obras de Saussure, provocando discussões sobre a epistemologia da Linguística, visto que para ele, a língua se constituía como algo abstrato e homogêneo, e seu objeto de estudo se restringia apenas à própria língua. Na descrição de Charaudeau, A Análise do Discurso aparece no final dos anos Michel Pêcheux lança, em 1969, o livro Análise Automática do Discurso que, para a maioria dos estudiosos, representa a fundação dessa disciplina. Pela primeira vez na história, a totalidade dos enunciados de uma sociedade, apreendida na multiplicidade de seus gêneros, é convocada a se tornar objeto de estudo. (CHARAUDEAU, 2004, p. 46). Com o lançamento dessa obra, Pêcheux ( ) abre o espaço para o discurso como objeto de análise. Este elemento diferencia-se tanto da língua, quanto da fala. Não é a mesma coisa que transmissão de informação, nem é um simples ato do dizer. O discurso evoca uma exterioridade à linguagem a ideológica e o social, conclui (CHARAUDEAU, 2004, p. 46). De acordo com Dosse (1994, p. 73), Julia Kristeva 10, que estava na França desde o Natal de 1965 subverteria as perspectivas semiológicas estruturalistas 11. Ainda sob a descrição de Dosse (1994, p. 73), no ano de 1966, a escolha de Bakhtin por Kristeva não foi por acaso, havia a intenção de abrir um novo espaço na abordagem estruturalista. O intuito era introduzir no estruturalismo uma dinâmica histórica para sair do fechamento do texto e ampliar a qualidade dos textos literários. Assim, a intervenção de Kristeva ocorre em um 10 Julia Kristeva, nasceu em Sliven, Bulgaria, freqüentou uma escola francofona de padres dominicanos. Mais tarde ingressou na Universidade de Sofia e como pós-graduada obteve uma bolsa que lhe permitiu imigrar para França em Dezembro de 1965 aos 24 anos de idade. Continuou a sua formação em diversas universidades Francesas. É nesse momento que ocorre o encontro com Barthes e outros pensadores e estudiosos da linguagem. Vive na França desde essa data (1966). Kristeva se tornou influente na análise crítica internacional, cultural e teoria feminista, mas ganhou visibilidade após publicar o seu primeiro livro Semeiotikè, em Psicanalista, professora de lingüística na Universidade de Paris é autora de diversos livros acadêmicos. Sua linha de pensamento abrange várias disciplinas: filosofia, semiologia, teoria literária e psicologia. 11 Kristeva, recém chegada a Paris, assiste o seminário de Roland Barthes, onde realiza uma exposição decisiva para a mudança do paradigma estruturalista. Kristeva introduz no curso de Barthes a partir da obra de Mikhail Bakhtin 11, uma visão nova do pós-formalismo russo. Bakhtin era desconhecido na França, mas Kristeva introduziu seus textos traduzidos para o francês.

39 39 momento, especialmente, oportuno, pois o estruturalismo em evidência vai ser ultrapassado e extravasado de pluralidade, após Primeiramente, a exposição de Kristeva foi publicada em Critique, mas ganhou mais repercussão quando foi publicada no Sémitotiké recherche pour une sémanalyse em Esse momento de abertura culmina com as teses desconstrutivas de Derrida, a gramática de Chomsky e a teoria da enunciação de Benveniste, o que enfraqueceu os propósitos iniciais do estruturalismo do primeiro período. Os escritos de Bakhtin datam do fim da década de 1920, entretanto, sua obra se mantém atualizada e faz parte dos fundamentos da teoria textual e semiótica. É, atualmente, considerada de caráter interdisciplinar e, quando descoberta na década de 1970, abriu espaços para uma nova interpretação do signo, da linguagem, da comunicação e da ideologia, de base social e material. Ao buscar novos caminhos teóricos para a semiótica em Bakhtin houve a percepção de uma visão mais profunda em que se aplica o materialismo dialético ao campo da linguística de maneira original. Conforme Bakhtin (2004, p. 33), o signo não existe fora de um contexto social e diversos fatores como conteúdo ideológico, a entonação, a situação social contribuem para que o mesmo signo ganhe diversos significados para diferentes situações. Para o autor, o signo reflete e refrata a realidade que representa, pois traz em si cargas subjetivas em conflitos. Por causa desses conflitos causados pelos sujeitos no discurso, surgem os efeitos de polifonia (BAKHTIN, 2004, p. 17). A polifonia é um dos principais conceitos criados Bakhtin, que melhor explicado, consiste em um conjunto de vozes (sujeitos) presentes na enunciação, por vezes, arregimentadas intencionalmente pelo locutor e outras as quais ele não se dá conta. Com esse estudo e a criação desse termo, Bakhtin quebra com a ideia de que o discurso possui uma unicidade (BAKHTIN, 2004). A partir do estudo da polifonia cria-se um jogo constitutivo de redes discursivas, o qual Bakhtin denominou de Dialogismo. Para Bakhtin (2004, p. 4), dialogismo é: O modo de sistematização do conhecimento de ordenação das partes num todo e de construção de percepção e, por essa razão, se fundamenta não só como categoria estética, mas também como princípio filosófico que orienta um método de investigação. (BAKHTIN, 2004, p. 5). Esse conceito empregado quando o sujeito interage com outros discursos, se apossa e se posiciona para construir sua fala. Desse modo, mostra a relação em que o eu só pode existir em consequência do outro e em diálogo com o outro. É por meio do dialogismo que os

40 40 indivíduos se constituem como sujeitos, aqui está a importância da alteridade (BAKHTIN, 2004, p. 348). Bakhtin (2004) aborda as questões de grande relevância para o estudo da semiologia, como o discurso de outrem, discurso no qual a pessoa não participa do processo comunicacional e cuja menção é indefinida. O propósito do autor é dotar a teoria marxista de uma formulação coerente em relação à ideologia e à psicologia, superando em simultâneo o objetivismo abstrato ou positivista e o subjetivismo idealista (BAKHTIN, 2004, p. 14). Com essa pretensão, descobre no signo lingüístico um signo social e ideológico, que põe em relação à consciência individual com a interação social (BAKHTIN, 2004). Nessa formulação, o pensamento individual não cria ideologia, é a ideologia que cria pensamento individual. Assim afirma o autor: uma das tarefas mais essenciais e urgentes do marxismo é constituir uma psicologia verdadeiramente objetiva. No entanto, seus fundamentos não devem ser nem fisiológicos nem biológicos, mas sociológicos (BAKHTIN, 2004, p. 14). Bakhtin explica a dinâmica inter-relacional entre o discurso narrativo e o discurso citado que possui duas principais orientações, a primeira ocorre quando podemos perceber com mais clareza o discurso citado dentro do discurso narrativo, o que o autor denomina de Estilo Linear de citação de outrem; a segunda ocorre quando a língua encontra-se de maneira mais discreta, possibilitando que o emissor consiga infiltrar suas observações dentro do discurso de outrem, a isso, Bakhtin chama de Estilo Pictórico (BAKHTIN, 2004, p ). Com isso, enuncia que é através da língua que se ocorre os embates discursivos, é por isso que ela não pode existir por si só, pois a língua não existe por si mesma, mas somente em conjunção com a estrutura individual de uma enunciação concreta. É apenas através da enunciação que a língua toma contato com a comunicação, imbui-se do seu poder vital e torna-se uma realidade (BAKHTIN, 2004, p. 157). Não se pode entender a língua isoladamente, portanto, qualquer análise linguística deve incluir fatores extralinguísticos como contexto de fala, a relação do falante com o ouvinte, momento histórico e outras circunstâncias como o interesse e o poder. (BAKHTIN, 2004). Com essa concepção e os conceitos de polifonia e dialogismo estudados por Bakhtin, a Semiologia Pós-Estruturalista sistematizar os estudos e análises com novas propostas, cujo intuito é averiguar o discurso, composto de diversas vozes, em que o controle e a consciência escapam, em parte, do enunciador e se manifestam em cada ato enunciativo. Portanto, constatar que o locutor não é o único responsável pelas representações do discurso no contexto de uma prática social.

41 41 Feita a releitura do contexto histórico da Semiótica para examinar conceitos relacionados não só à linguística e à Semiologia como também averiguar a importância da enunciação para a construção do discurso na realidade social, emerge a questão afinal, o que significa a palavra discurso na contemporaneidade? Discurso é uma palavra com amplo sentido e com definições diversas. Não é pela ausência de conceito mas, ao contrário, pela ampla adequação em que ela pode ser empregada em virtude da diversidade de métodos de análise em que pode ser aplicada. Nesse sentido, Maingueneau (2000, p ) afirma: [...] o discurso não pode ser objeto de uma abordagem puramente linguística, mas o termo entra igualmente em uma série de oposições em que ele toma valores mais precisos. Assim, o autor define o conceito de discurso 12 e introduz uma série de possibilidades para a compreensão dessa palavra. Alguns autores conferem a amplitude e a adequação da palavra discurso às diferentes áreas do conhecimento. De acordo com Brandão, (1993), O reconhecimento da dualidade constitutiva da linguagem, isto é, do seu caráter ao mesmo tempo formal e atravessado por entradas subjetivas e sociais, provoca um deslocamento nos estudos linguísticos até então batizados pela problemática colocada pela oposição língua/fala que impôs uma linguística da língua. Estudiosos passam a buscar uma compreensão do fenômeno da linguagem não mais centrado apenas na língua, sistema ideologicamente neutro, mas num nível situado fora desse pólo da dicotomia saussureana. E essa instância da linguagem é o discurso. (BRANDÃO, 1993, p ). Ainda na visão sobre o conceito de dircurso, o efeito de sentido construído no processo de interlocução (opõe-se a uma concepção de língua como mera transmissão de informação). O discurso não é fechado em si mesmo e nem é do domínio exclusivo do locutor: aquilo que se diz significa em relação ao que não se diz, ao lugar social do qual se diz, para quem se diz, em relação a outros discursos. (ORLANDI, 1998). Maingueneau aponta distinções entre discurso e outras categorias de análise, Discurso/frase: o discurso constitui uma unidade linguística constituída, por sua vez, de uma sucessão de frases (...), discurso e enunciado. Além de seu caráter de unidade linguística (= de enunciado), o discurso forma uma unidade de comunicação associada a condições de produção determinadas, ou seja, depende de um gênero de discurso determinado. Debate televisionado, artigo de jornal, romance etc. (MAINGUENEAU, 2000, p ). Orlandi (1998), na definição da linguagem e o seu funcionamento, apresenta três tipos de discursos organizativos: (1) o polêmico, (2) o lúdico, (3) o autoritário. Gregolin (2003) compreende a análise do discurso de linha francesa como a materialização do processo enunciativo, cuja materialidade exibe a articulação da língua com a história. Assim, no 12 Ver em especial: (MAINGUENEAU, 2000).

42 42 discurso estão implícitas as manifestações ideológicas de ordem sócio-histórica enunciadas pelos diferentes sujeitos do discurso. Sob essa conceituação, Orlandi (2009) afirma cada interlocutor é parcial em si mesmo e só tem unidade no texto buscando sentido na interpretação, no espaço discursivo, na interação social. Ainda na visão de Orlandi (2009, p ), a Análise do Discurso não trabalha com a língua enquanto um sistema abstrato, mas com a língua no mundo, com maneiras de significar, com homens falando, considerando a produção de sentido enquanto parte de suas vidas, seja enquanto sujeitos, seja enquanto membros de uma determinada forma de sociedade. Sintetizando a contextualização histórica feita por Brandão (1993, p.19-20), a A Análise do Discurso originou-se na França, na década de 1960, com o intuito de suprir as lacunas da Análise de Conteúdo. Seu método, naquela época, foi aplicado de forma quantitativa na área das ciências sociais. Os estudos da análise de discurso, até os anos de 1970, baseavam-se na teoria linguística de Saussure. A abordagem tinha fundamento linguístico e examinava os elementos de relacionamento da linguagem. Desse modo, não focava o uso da linguagem, o falar, mas o sistema subjacente de linguagem (idioma) do qual qualquer expressão era interpretada como manifestação. Saussure argumentava que sinais linguísticos eram compostos por duas partes, um significante denominado de padrão sonoro da palavra, ou seja, sua projeção mental, como por exemplo, quando silenciosamente recitamos linhas de um poema para nós mesmos, ou seja, a realização física como parte do ato de falar. A segunda parte, a um significado, o que a palavra quer dizer. Dessa maneira, a fala não se relacionava ao seu contexto histórico. 2.2 A TEORIA SOCIAL DO DISCURSO A partir da década de 1970, a Análise do Discurso Francesa influênciada por Michel Foucault ( ) e Michel Pêcheux ( ) que articulam linguística e história. Posteriormente, essa teoria passou a ser caracterizada como Semiologia dos discursos sociais ou semiologia social. Essa fase culminou com a função das ideologias como características da reprodução dos sentidos via aparelho ideológico. Essa visão de ideologia desenvolvida por Althusser terá uma função importante na Análise do Discurso. O discurso passa a ser definido como praticas sociais determinadas por um contexto sócio-histórico e constitutivas de

43 43 contexto social. Nesse modo de conceituar proposto por Foucault, o discurso é entendido como um modo de ação ou uma forma em que as pessoas agem sobre o mundo e sobre os outros. Portanto, é a maneira de representar a crença e o conhecimento (PINTO, 2002, p. 26). A Escola Francesa de Análise do Discurso surge com a proposta de um novo objeto denominado Discurso. Surgiu com Michel Pêcheux ( ) na França, com sua tese "Analyse Automatique du Discours" em Trabalhava no laboratório de psicologia social e a ideia era produzir um espaço de reflexão que colocasse em questão a prática elitizada e isolada das Ciências Humanas daquela época. Para isso, sugere que as ciências se confrontem, particularmente a história, a psicanálise e a linguística. Este espaço de discussão e compreensão é chamado de entremeio, e o objeto estudado é o discurso. Desse modo, é no entremeio das disciplinas que se pode propor a reflexão discursiva. (MAINGUENEAU, 2000, p. 70). Por isso, a disciplina análise do discurso é considerada interdisciplinar. Na explicação de Pêcheux (1999), a síntese da nova disciplina: O nascimento da Análise do Discurso foi presidido por uma tríplice aliança. Uma teoria da História, para explicar os fenômenos das formações sociais; uma teoria da Linguística, para explicar os processos de enunciação; e uma Teoria do Sujeito, para explicar a subjetividade e a relação do sujeito com o simbólico. Como vimos, o discurso é um objeto de estudo que não tem fronteiras definidas. Ele é tridimensional - está na intersecção do lingüístico, do histórico e do ideológico. Por isso, foi inevitável para a Análise do Discurso romper com os postulados da linguística clássica, já que, se define como o estudo linguístico das condições de produção de um enunciado. (PÊCHEUX, 1999, p. 38). Nessa interdisciplinaridade, a análise de discurso francesa foi fundada por Michel Pêcheux e suas ideias iniciais serviram de base para que outros autores estudassem essa linha analítica de interpretação. Baseando-se no estudo do linguista Zellig Harris 13 e a reelaboração da teoria marxista sobre a ideologia feita por Althusser, ficou conhecida como Análise do Discurso Francesa (ADF) Com essas premissas, (Pêcheux, 1999) produziu textos relevantes sobre o tema, entre os quais se destaca Análise do discurso: três épocas, escrito em Nesse texto, Pêcheux apresenta uma concepção de discurso que pode ser descrita como conjunto de enuciados, cuja 13 Zellig Harris Sabbetai ( ), linguista americano, iniciou como estudante de línguas semíticas e ficou mais conhecido por seu trabalho em linguística estrutural e análise do discurso. Também contribuiu para a investigação em sublinguagem da gramática, a gramática do operador, e uma teoria da informação linguística. Harris via sua pesquisa não apenas como um exercício acadêmico, mas o trabalho com aplicação social. Considerava a linguagem como uma atividade essencialmente social, com base na comunicação entre as pessoas. Seus trabalhos sobre gramática e sublínguas ecoou essa crença, como suas teorias visto a forma gramatical e semântico conteúdo como essencialmente ligado, tanto transmitir significado em um contexto social. Fundou o Primeiro Departamento de Lingüística dos Estados Unidos em Seu Mais conhecido aluno nessa universidade foi Noam Chomsky, que posteriormente fundou uma teoria da Gramática Gerativa. (HARRIS, 1991).

44 44 interpretação de cada enunciado depende diretamente da formação discursiva em que esteja inserido. Este conceito foi introduzido por Foucault para designar conjuntos de enunciados relacionados a um mesmo sistema de regras, historicamente determinadas (MAINGUENAU, 2000, p.67). Dessa maneira, os mesmos enunciados podem ser interpretados de forma diferenciada se produzidos em formações discursivas diferentes e diversas, a partir de determiandas situações sociais. O espaço onde se articula poder e fala, porque quem fala, fala de algum lugar com o consentimento e direito reconhecido institucionalmente. O discurso pode ser entendido como o lugar de trabalho da produção de sentidos. É o sentido que não é da ordem do enunciado, ou seja, do dito e do conteúdo, contudo, da enunciação do não-dito o dos modos de dizer e assim sendo, não é aconselhável dizer sentido, mas efeito de sentido (FOUCAULT, 1995). A leitura da mensagem não produz imediatamente um único sentido, então Veron (1980) sugere campo de efeitos de sentidos. O enunciado é o produto da enunciação manifestado em textos por meio da linguagem verbal e não verbal. Os textos que recaem sob as análises discursivas são partes integrantes do contexto sócio-histórico. Assim, não é algo simplesmente instrumental e, também não são externos às pressões sociais. Desse modo, só se completa na fase de contextualização (LIMA, 2006). Em resumo, o discurso é uma prática social. As regras ou regularidades dessa prática, bem como as normas que dão conta de um certo número de enunciados. Dessa maneira, é a regra ou regularidade que coloca em ordem toda a formação discursiva de acordo com as demarcações históricas, culturais e ideológicas de cada campo discursivo. O termo campo discursivo, juntamente com universo discursivo e espaço discursivo foram introduzidos por Maingueneau e significa o universo discursivo, ou seja, o conjunto dos discursos que interagem em um dado momento, a análise do discurso segmenta campos discursivos, espaços onde um conjunto de formação discursivas estão em relação de concorrência no sentido amplo, delimitam-se reciprocamente: assim as diferentes correntes filosóficas ou as correntes políticas que se afrontam, explicitamente ou não, numa certa conjuntura. (MAINGUENEAU, 1984, p. 27 apud MAINGUENEAU, 2000, p. 19). Complementando essa conceituação, Charaudeau (2004, p. 91) afirma que a noção de campo discursivo introduzida por Maingueneau (1983) mantém relações com a teoria dos campos desenvolvida pelo sociólogo Pierre Bourdieu ( ). Desse modo, corrobora o princípio da preferência do interdiscurso sobre o discurso. A palavra campo é um termo utilizado por várias disciplinas das ciências humanas e sociais, também como conceituado por Charaudeau (2004, p. 90), designa as situações ou lugares empíricos onde o pesquisador vai

45 45 coletar os dados, construir seus corpora. Fala-se de disciplinas de campo por oposição às disciplinas especulativas. Considerando a importância desse conceito para essa tese, mais adiante será apresentada a teoria de campo de Bourdieu e a sua conceituação de mundo social, discurso e poder. É necessário ressaltar que, conforme essa citação, a prática discursiva não deve ser entendida como um sistema fechado, mas como um processo dialético que ocorre em um espaço ou campo de troca entre os sentidos que se deslocam de acordo com as lutas ideológicas travadas nesse espaço. Esta é a essência da ideia implícita na noção de intertextualidade ou polifonia de Bakhtin ou de interdiscursividade proposta por Foucault e Maingueneau. Com isso, esses autores, querem dizer, a autoria do discurso não é individual, mas social, embora de forma não revelada, carrega em si, marcas de outros discursos, complementares ou concorrentes que migram dentro e entre os diferentes campos (MAINGUENEAU, 2000, p. 14). Cabe aqui esclarecer que, segundo os autores (Foucault e Maingueneau), interdiscursividade é o conversar entre discursos, onde um age como resposta, ou se refere a outro discurso. Em resumo, pode-se chamar interdiscursividade um conjunto de discursos do mesmo campo discursivo ou de campos distintos de épocas diferentes [...]. (MAINGUENEAU, 2000, p. 87). Nessa pesquisa, essas marcas são evidenciadas notadamente quando muitos dos enunciados elaborados pelas organizações internacionais (ONU, PNUD, OCDE) presentes nas práticas de comunicação das organizações alemãs, em especial, as palavras que se tornaram slogan como: capital social, combate a pobreza, capacitação e todos os demais enunciados que compõem as metas dos Objetivos do Milênio. Gregolin (2003) adverte que as categorias intertextualidade e a interdiscursividade são bastante exploradas pela ACD, pois elas analisam as relações de um texto ou um discurso, considerando outros recorrentes. Nessa explicação, convêm lembrar que, o posicionamento de Bakhtin (2004) de que os textos respondem a textos anteriores e, também, antecipam textos posteriores. Ainda na visão da autora, interdiscurso é uma região de encontros e de confrontos de sentidos. A interpretação se alimenta exatamente, dessa contradição, ao mesmo tempo em que os discursos se confraternizam, eles se degladiam no campo social. (GREGOLIN, 2003, p. 52). No campo social da Amazônia, no âmbito do PPG7, no interdiscurso, essa pesquisa aponta para os discursos que se confraternizam quando as práticas de comunicação são aceitas e incorporadas pela cooperação técnica em relação aos objetivos porpostos pela consultoria técnica. Entretanto, quando essas não são da maneira sugeridas pelo consultores emerge o

46 46 conflito e os discursos se degladiam, como será mostrado nos confrontos da implementação do PPTAL. Nesse confronto, considerara-se os diferentes papeis sociais que todos os agentes sociais desempenham. Na caracterização de interdiscursividade proposta por Foucault e Maingueneau, surge a necessidade de melhor compreender a relação da polifonia com a heterogeneidade enunciativa. Isso porque a interação linguística não se dá apenas pela fala (modo literal), mas também pelas circunstâncias sociais e históricas, pelo conhecimento de mundo do interlocutor pela intenção do locutor e pelos papéis sociais que os interlocutores desempenham. A heterogeneidade é um termo utilizado na AD para explicitar a forma como diversas vozes cruzam o discurso do outro e se completam ou se contrapõem em sua execução. A heterogeneidade enunciativa se manifesta no texto em dois planos distintos, ambos conceituados por Bakhtin como polifonia e alguns autores, como os citados a seguir, optaram em denominar de intertextualidade. Segundo Maingueneau (2000, p. 78), um discurso quase nunca é homogêneo: mistura diversos tipos de sequências, passa do plano embreado ao plano não embreado, deixa transparecer de maneira bem variável a subjetividade do enunciador [...]. De acordo com Jakobson, a categoria embreador corresponde um dos quatro tipos possíveis de relação entre código e mensagem: (1) mensagem que remete a mensagem (discurso citado); (2) código que remete ao código (nomes próprios); (3) mensagem que remete ao código (embreadores); (4) código que remete à mensagem (autonímia). No caso do embreador, existe mensagem que remete ao código porque a significação geral de um embreador não pode ser definida fora de uma referência à mensagem. (JAKOBSON 1963, p. 178 apud MAINGUENEAU, 2000, p ). Complementado essa conceituação, Authier-Revuz diz que: A heterogeneidade pode ser mostrada ou constitutiva. A Heterogeneidade constitutiva: trata-se da formação do discurso constituído por várias vozes que fazem parte de todo um universo discursivo, o qual é formado por vozes da história e cultura (e também do inconsciente), em que o locutor não tem controle racional e em alguns momentos nem sequer consciência. A Heterogeneidade mostrada: é a forma pela qual o discurso torna-se detectável no decorrer de um texto. Ela nos revela a que vozes os discursos necessitam recorrer para se constituir, ao mesmo tempo em que possuem relação com estas em campos discursivos diferentes. Ela pode ser dividida em marcada e não-marcada. (AUTHIER-REVUZ, 1980, p. 174 apud MAINGUENEAU, 2000, p 78). Ainda, segundo a explicação, Authier-Revuz (1990, p. 174 apud MAINGUENEAU, 2000, p 78) a heterogeneidade aparece de modo único e pode ser identificada através do discurso direto ou indireto, aspas, itálico ou metadiscurso, enquanto a Heterogeneidade nãomarcada: é identificada através do discurso indireto livre, da ironia, da metáfora.

47 47 Confirmando as conceituações de Authier-Revuz (1990), sob o ponto de vista da AD, Pinto (2002, p. 27) afirma que todo texto é hibrido ou heterogêneo quanto a sua enunciação, no sentido de que ele é sempre um tecido de vozes ou citações cuja autoria fica marcada ou não, vindas de outros textos preexistentes, contemporâneos ou do passado. Com essas bases conceituais a AD evoluiu e hoje pode-se dizer que historicamente a ADF se desenvolveu em várias fases, como descritas por Pecheux. 2.3 TRÊS FASES DA ANÁLISE DO DISCURSO Desde a fundação da ADF houve várias modificações, por issso merecem destaque as três fases baseadas nas ideias de Pêcheux. Ilustrando essa afirmação, discute-se uma síntese de Gregolin (2003) sobre as três épocas da análise de discurso baseada nas ideias e no texto de Pêcheux (1999). De acordo com Gregolin (2003, p. 61), a primeira época da AD é denominada por Pêcheux (1999) e por Maldidier (2003) como aventura teórica e seu início é marcado com o livro Analyse Automatique Du Discourse (1969). O estudo refere-se a uma proposta teórico metodológica, em que predomina a releitura que ele faz de Saussure, pensando o objeto (a língua) em seu caráter social como base dos processos discursivos, nos quais estão envolvidos o sujeito e a história. Nessa concepção do objeto do discurso cruzamse Saussure relido por Pêcheux, Marx relido por Althusser e Freud relido por Lacan. (GREGOLIN, 2003, p. 61). Nessa época, pressupõe-se existir um conjunto de enunciados que compõem um discurso idêntico a si mesmo e diferentes de outros. Dessa forma, é como se o conteúdo de cada discurso fosse único e o que estivesse presente em um dado discurso estaria fora do outro. Nessa forma de análise, seria mais fácil identificar os elementos constitutivos de um discurso. Analisa-se o exemplo do discurso do psicólogo, que deve ser composto de enunciados relativos à mente, à saúde etc. Assim, a enunciação é apresentada da seguinte maneira: quem fala de fato não é o indivíduo (psicólogo), é sempre uma instituição, ou uma ideologia e o discurso se submete a regras específicas que ultrapassam a dimensão do indivíduo e da sua consciência. Nesse exemplo, há a identificação de um sujeito a uma formação discursiva, denominado originalmente por Althusser (1985) com a expressão o sujeito é assujeitado. A segunda época é embasada nos estudos de Foucault e expõe que o discurso uniforme e oriundo de uma única fonte não existe. Foucault, em suas obras, descreve vários tipos de discursos, como o da loucura e o da economia, e identifica a formação discursiva

48 48 como a dispersão de enunciados. Com base nessa descoberta, foi introduzida a noção de interdiscurso para denominar o exterior específico de uma formação discursiva. E entendida não como um espaço estrutural fechado, mas como elementos de outro lugar, de outras formações discursivas que se repetem nela. No discurso do psicólogo, encontram-se enunciados além dos referentes à mente e à saúde. E do mesmo modo, acontece com todas as outras formações discursivas. No final da segunda época, Pêcheux concluiu que é preciso poder explicar o conjunto complexo, desigual e contraditório das formações discursivas em jogo em numa situação dada, sob a dominação do conjunto das formações ideológicas, tal como a luta ideológica das classes (PÊCHEUX, 1988, p. 254 apud GREGOLIN, 2003, p. 64). Nesse período, como constata Gregolin (2003, p. 64), Pêcheux enfatizava o papel da luta ideológica de classes na produção dos sentidos. É nesse segundo momento que se recorta entre os anos 1975 a 1979, ressalta a autora, que ocorrem as maiores tensões entre Pêcheux e Foucault e isso coincide com uma crise teórica e política que ocorre no interior da análise do discurso e em torno dela na França. O período de 1980 a 1983, marca a terceira época, que Maldidier (1990) denomina de desconstrução dirigida. Essa fase, segundo o autor, ocorre dentro de uma crise irreversível das esquerdas francesas. Pêcheux, a partir de sua vinculação com o Partido Comunista afastase das posições dogmáticas anteriores para se aproximar das ideias e das propostas teóricas de Foucault 14. Nesse contexto, Pêcheux faz duras críticas à política e às posições decorrentes da luta na teoria. Portanto, são questionadas a interpretação, a estrutura e o acontecimento do discurso1. Nessa terceira fase, predomina a ideia básica que todo discurso é heterogêneo e constituído por uma diversidade de vozes. Em resumo, são discursos outros num mesmo discurso, o que também ficou conhecido como polifonia (Bakhtin). Nessa descrição, os estudos de Bakhtin, Foucault, Ducrot 15, entre outros, considerando que cada um trabalhou a seu modo científico e área de interesse acadêmico, ajudaram a indicar a polifonia como a principal característica dos discursos. A síntese, dos estudos dessa fase, 14 Nesse encontro há aproximação de historiadores Guilhaumau, Maldidier e especialmente J.J: Courtine, cujos trabalhos propõem uma síntese da análise do discurso e as teses de Foucault. Esse trabalho de Courtine (1981) publicado na Revista Languages 62 traz como prefácio o texto L etrange mirroir de l analyse du discours de autoria de Pêcheux (1981). Esse prefácio dá a ideia da crise teórica e política desse momento, em que Pêcheux aponta mudanças no rumo das pesquisas e termina esse prefácio afirmando: é chegada a hora de começar a partir os espelhos. (GREGOLIN, 2003). 15 Oswald Ducrot (1930) é um linguista Francês, professor e diretor de estudos na Sociales Ecole des Hautes Etudes en Sciences (EHESS), em Paris. É o autor de vários livros, sobre enunciação (DOSSE, 1994).

49 49 Os enunciados de cada discurso carregam a memória de outros discursos. A isso chama-se de memória discursiva, ou seja, como se os enunciados não tivessem origem e fossem em grande parte imemoriais, os sentidos, de certa forma carregam consequências dos discursos a que pertenceram. Assim, os enunciados carregam discursos outros do passado que estão presentes nos discursos atuais. (GREGOLIN, 2003, p. 66). Nada obstante, a AD na contemporânea se relacione à terceira e última fase, isso não significa dizer que a questão de fazer AD esteja definida, ou seja, consenso de uniformidades. A descrição histórica possibilitou conhecer um pouco das discussões teóricas e metodológicas, travadas pelos teóricos e pensadores, que as ideias ora convergiam ora divergiam, como o exemplo de Pêcheux e Foucault 16. Atualmente, a AD é a disciplina que busca aprofundar a articulação entre discurso e condições de produção, com base na interpretação de textos (MAINGUENEAU, 2000). Examina o discurso como um conjunto de enunciados, em que os princípios de regularidade estão contidos em uma mesma formação discursiva. Considerando as condições de produções, a contextualidade relaciona-se aos três níveis: 1. o contexto situacional imediato, 2. o contexto institucional e 3. o contexto sociocultural mais amplo, no interior dos quais acontece o evento comunicacional (PINTO, 2002, p. 22). Na questão das condições de produção, da regularidade e do contexto, a explicação de Pinto (2002, p. 22) é objetiva quando diz É na superfície dos textos que podem ser encontradas as pistas ou marcas deixadas pelos processos sociais de produção de sentidos que o analista vai interpretar. Ao fazer tal explicação o autor também ressalta a importância do papel do analista (pesquisador), O analista de discursos é uma espécie de detetive sociocultural. Sua prática é primordialmente, a de procurar e interpretar vestígios que permitem a contextualização em três níveis de contextos: o situacional imediato, o institucional e o sociocultural mais amplo no interior dos quais se deu o evento comunicacional. (PINTO, 2002, p. 22). As condições de produção são fundamentais para a construção de determinado discurso, por ela compreende-se porque se diz de uma maneira e não de outra. Os modos de dizer também envolvem disputas de poder, porque o ideológico é uma condição necessária de todo o discurso e, o responsável pela produção de qualquer sentido social. O discurso não é externo às pressões sociais, ao contrário, faz parte das práticas sociais, é parte integrante do contexto sócio-histórico. Desse modo, como prática social tem um papel fundamental na reprodução, manutenção e transformação das representações das pessoas nas relações e identidades na sociedade. Sob esse ponto de vista (PINTO, 2002, p. 24) 16 Ver detalhes do embate teórico entre Pêcheux e Foucault: (GREGOLIN, 2003).

50 50 adverte que, nos textos das pesquisas sociais, é necessário abordar os instrumentos linguísticos ou semiológicos adequados para não se considerar a unicidade do sujeito como óbvio, ou aceitar que se trata de um único responsável por todas as representações presentes em um determinado texto. Sob essa afirmação de Pinto (2002) é possível correlacionar com as pressões sociais que antecedem os movimentos ambientalistas europeu em que novos enunciados como sustentabilidade, preservação do meio ambiente passam a ser prática social. Alguns países, como a Alemaha, se engajaram nesse movimento social e constiuem o partido verde com novos discursos nesse campo. A polifonia, predominante na terceira fase da AD é um fenômeno da manifestação de vozes, presentes no mesmo texto, que falam de perspectivas ou pontos de vistas diferentes com os quais o locutor se identifica ou não. Conforme Bakhtin a polifonia, faz parte também do ato da enunciação e serve para mostrar que não existe enunciado puro, mas um confronto de vozes explícitas e implícitas no interior de um discurso, que pode se misturar de acordo com diversos tipos de sequências. Nessa maneira de analisar o discurso, transparece, de maneira bastante variável, a subjetividade do enunciador, fazendo dele o eu, responsável por aquilo que enuncia. A polifonia, assim, passa a existir quando se torna possível distinguir, em uma enunciação, tanto seus enunciadores quanto os seus locutores. Essas vozes, segundo Maingueneau (2000, p. 108), se cruzam e determinam o fenômeno da heterogeneidade, indica as falas dos outros discursos na infinita corrente da construção da linguagem. Analisando, as práticas de comunicação das organizações que participaram do PPG7 constata-se que na implementação e mediação houve a polifonia de diferentes enunciados e vários enunciadores. Ao consultar o catálogo de publicações do PPG7, editado pelo MMA e em 2009, no resumo dos principais projetos, em 17 anos, de atuação na Amazônia e Mata Atlântica, confere-se vários enunciados e enunciadores caraterizando uma prática polifônica (Brasil, 2009c). Os enunciados desenvolvimento, meio ambiente e desenvolvimento sustentável presentes em quase todas as publicações divulgadas no catálogo representam diferentes vozes, somadas a novos discursos em torno de interesses comuns. Portanto, os projetos socioambientais na Amazônia representam a hetereogeneidade do discurso. O catálogo faz parte de uma estratégia de comunicação que apresenta os resultados positivos por meio de slogans e signos. Apesar da heterogeneidade ser predominante, a hegemonia é mantida pelo discurso. Assim, o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, é o poder do qual nos queremos apoderar,

51 51 como afirmado por Foucault (1995, p. 10). Tomar a palavra jamais representa um gesto ingênuo, pois sempre está ligado a relações de poder. 2.4 RELAÇÃO PODER E DISCURSO NA CONCEPÇÃO DE BOURDIEU E FOUCAULT O sociólogo e filósofo francês Pierre Bourdieu é autor de uma ampla e importante teoria social resumida em uma rede conceitual, cujos elementos são: campo, habitus, tomada de decisão no campo, capital simbólico, capital social, capital econômico, poder simbólico, sentido prático, posições relativas e trajetórias. Com esses elementos, analisa a sociedade sob o ponto de vista dinâmico da prática social, Bourdieu, de acordo com (DOSSE, 1994, v. 1, p. 31), vai buscar na noção de habitus e também de trajetória, estratégia, poder e sentido prático uma mediação para reintroduzir o agente considerando as coerções sociais de sua ação. Assim considera que o sujeito tem autonomia relativa dependente da tomada de consciência e de sua posição em um campo social, portanto de forças. No final da década de 1970, esses elementos teóricos juntamente com o conceito de campo se destacam na obra de Pierre Bourdieu, conforme destaca Grillo. [...] Sua teorização cresce em importância. No livro Homo academicus de 1984, Bourdieu, ao analisar a crise na universidade francesa em 1968, define o campo como o lugar de uma luta para determinar as condições e os critérios de pertencimento e de hierarquia legítimos. Entretanto, é no livro sobre a formação do campo literário francês, publicado em 1992, que Bourdieu produz formulações mais desenvolvidas e explicita que o conceito de campo se coloca como alternativa tanto ao formalismo quanto ao marxismo. (GRILLO, 2008, p. 147). Nessa citação de Grillo (2008, p. 147) sobre a abrangência do escopo teórico de Bourdieu, os conceitos de campo e poder merecem distinção. A literatura acerca desses dois termos aponta que há vários conceitos sobre poder, para diferentes concepções filosóficas, mas este estudo tomou como base o conceito de poder de Bourdieu e Foucault porque possuem teorias abrangentes que permite analisar as relações do campo da cooperação técnica internacional na Amazônia. Esse é um campo de convergências e divergências idelógicas, onde o poder é exercido, muitas vezes, para influenciar outras pessoas a agirem juntos em favor de ideias e objetivos comuns. Esse é um campo como conceituado por esses autores, um campo de relações de forças mediadas pelos discursos convergentes e divergentes. Para discutir o conceito de poder, é necessário, primeiramente fazer uma releitura na base do pensamento do sociólogo francês Pierre Bourdieu, que considera essencial a apropriação dos diversos conceitos e teorias para construir um pensar sobre a relação social. Em virtude desse pensamento, em seus estudos, adota o método da comparação, eficiente para

52 52 a formulação teórica. Embora o autor utilize os termos, estrutura, estruturada e estruturante é um critico do Estruturalismo. Embora, Dosse (1994, p. 89) esclarece que, até o começo da década de 70, o horizonte teórico do trabalho de Bourdieu é o estruturalismo. Ele próprio situa com muita precisão a data de 1963 como o seu último trabalho de estruturalista feliz. Ainda na visão de Dosse, a perspectiva estruturalista não foi deixada totalmente, pois, em 1969, Bourdieu publica um artigo considerando as modalidades do método da sociologia e as condições de extensão do método estruturalista. Entre as inúmeras críticas de Bourdieu ao estruturalismo linguístico, uma das principais refere-se a Saussure e Chomsky e o equívoco destes teóricos no que diz respeito a dissociar a fala da língua (BOURDIEU, 2004, p. 3-15). Para quem, a língua é nomeada de modus operantum e sua gênese e transformações estão nas relações sociais diversas, no mesmo sentido que a fala, o modu operandi, nas relações de poder simbólico. Dessa maneira, na explicação do sociólog, [...] a palavra que serve para tudo encontrada no dicionário não tem nenhuma existência social: na prática ela só existe imersa em situações, a ponto de o núcleo de sentido, que se mantém relativamente invariável através da diversidade dos mercados, pode passar despercebido. (BOURDIEU, 1998, p. 25). A língua como modus operantum está vinculada ao poder e ao contexto históricosocial, isto é um elemento estruturante na sociedade. Para Bourdieu, a estrutura e estruturada são disposições interiorizadas no campo de validade durável, ou seja, nas instituições sociais. A estrutura estruturante corresponde às forças geradoras de práticas e representações, ou seja, aquilo que move a estrutura, que a modifica. São nessas condições, que as organizações assumem um papel histórico-social como estrutura e estruturante (BOURDIEU, 1998). Esse papel histórico-social como citado por BOURDIEU, 1998, ocorre à medida em que as agências de cooperação técnica internacional estruturam uma relação de poder no campo ambiental da Amazônia apresentando projetos mediados pela Agência ABC e aprovados pelo MMA que propõem novas práticas sociais objetivando novas relações sociais em torno do discurso da preservação ambiental. Para compreender os termos estrutura e estruturante é necessário primeiramente, discutir algumas definições do conceito de campo baseado nos pressupostos do autor. O conceito de campo, na teoria proposta por Pierre Bourdieu representa um espaço simbólico, no qual as lutas dos agentes determinam e legitimam as representações. É por meio do poder simbólico que se estabelece uma classificação dos signos, do que é adequado, do que pertence (ou não) a um código de valores. No campo da comunicação, por exemplo, a luta simbólica

53 53 determina o que é notícia ou o que pertence à mídia no âmbito da indústria da informação. Do mesmo modo, determina os valores e os rituais de consagração que o constituem, e como são delineadas dentro de cada estrutura. Considerado a maior contribuição de Bourdieu à Semiologia e ás ciências sociais,o poder simbólico: [...] é um poder da construção da realidade que tende a estabelecer uma ordem gnoseológica: o sentido imediato do mundo (e, em particular, do mundo social) supõe aquilo a que Durkheim chama o conformismo lógico, quer dizer, <<uma concepção homogênea do tempo, do espaço, do número, da causa, que tornam possível a concordância entre inteligências>> [...] Os símbolos são os instrumentos por excelência da <<integração social>>: enquanto instrumentos de conhecimento e de comunicação (cf. A análise durkheimiana da festa), eles tornaram possível o consensus acerca do sentido do mundo social que contribui fundamentalmente para a reprodução da ordem social: a integração <lógica> é a condição de integração <<moral>>. (BOURDIEU, 1998, p. 9-10) O poder simbólico impõe significações legítimas e pode ser resumido como o poder de construção da realidade, isto é, do sentido imediato do mundo social. No campo, local empírico de socialização, o conceito de habitus impõe significações legítimas. É, nesse contexto, que os símbolos afirmam-se, na noção de prática, como os instrumentos por excelência de integração social, tornando possível a reprodução da ordem estabelecida. A primeira concepção para essa compreensão é de que as oposições e as distinções são responsáveis pelo sentido dos atos e dos discursos, dentro de um sistema regido pelas instituições e seus agentes. A materialização de um campo social encontra-se nas instituições e nas atitudes dos agentes que fazem funcionar essas instituições ou que as contrariam. Sendo assim, um campo é definido como um sistema específico de relações objetivas que podem ser de aliança e/ou de conflito, de concorrência e/ou de cooperação, entre posições diferenciadas, socialmente definidas e instituídas, independentes da existência física dos agentes que as ocupam. (BOURDIEU, 1998, p. 133). O mundo social pode ser representado, segundo Bourdieu, como um espaço com várias dimensões, construído na base de princípios de diferenciação ou de distribuição. Estes princípios, constituídos pelo conjunto das propriedades, atuam no universo social, entende-se como um conjunto das diferentes espécies de poder ou de capital, ocorridas nos diferentes campos e que cabem ao detentor destas propriedades força ou poder neste universo (BOURDIEU, 1998). Em virtude das propriedades atuantes, o campo no qual se realizam pode ser descrito como campo de forças, identificado por Bourdieu como um conjunto de relações de força objetivas impostas a todos os que entrem nesse campo e irredutíveis às

54 54 intenções dos agentes individuais ou mesmo às interações diretas entre os agentes. (BOURDIEU, 1998, p. 134). Bourdieu (1998) observa também, que os agentes e grupos de agentes definem-se assim graças as suas posições relativas, neste espaço de relação, e as mudanças de lugar dentro desse espaço, se dão por meio do trabalho, esforço e tempo gasto. Sob esse ponto de vista, é interessante evidenciar o esforço e o tempo investidos pelas organizações alemãs para o desenvolvimento, desde os anos 1950, cuja experiência possibilitou, a partir dos anos 90, o domínio das questões ambientais contemporâneas, a renoção dos discursos, o deslocamento para o campo da preservação do meio ambiente, as propostas na agenda global e aprovação do PPG7 em 1992, efetivado em A relação entre os ocupantes das posições dominantes e os ocupantes das posições dominadas que se encontram no interior de cada um dos subespaços envolvidos em lutas de diferentes formas. Então, constata-se que o espaço social é um espaço multidimensional, composto por um conjunto aberto de campos, assim ora é independente ora dependente, quanto ao seu funcionamento e as suas transformações ao campo de produção econômica. Esse fato devido á hierarquia entre as espécies de capital e à ligação intensa deste campo com todos os demais fazem com que o campo econômico tenda a impor a sua estrutura aos outros campos. (BOURDIEU, 1998). Portanto, os campos intimidam a maneira de pensar e agir dos agentes, embora o mundo social seja, grande parte, aquilo que os agentes fazem, contudo, eles não têm probabilidades de desfazer e de refazer a não ser na base de um conhecimento realista daquilo que cada um é e daquilo que são capazes de fazer em função da posição ocupada. (BOURDIEU, 1998). A forma de que se reveste, em cada momento e em cada campo social, o conjunto das distribuições das diferentes espécies de capital (incorporado ou materializado), como instrumentos de apropriação do produto objetivado do trabalho social acumulado é o que define o estado das relações de força entre agentes objetivamente definidos pela sua posição. Esta posição determina os poderes atuais ou potenciais nos diferentes campos e as probabilidades de acesso aos ganhos específicos que eles ocasionam. O conhecimento da posição ocupada, neste espaço, comporta uma informação sobre as propriedades intrínsecas (condição) e relacionais (posição) dos agentes (BOURDIEU, 1998). Segundo Bourdieu, As relações de força, por sua vez, são institucionalizadas em estatutos sociais duradouros, socialmente reconhecidos ou juridicamente garantidos. Por isto, não é na vontade de uma pessoa ou grupo que se encontra a razão de ser de uma

55 55 instituição ou de uma medida administrativa e dos seus respectivos efeitos sociais, mas sim no campo de forças antagonistas ou complementares no qual, em função dos interesses associados às diferentes posições e dos hábitos dos seus ocupantes, se geram as vontades e no qual se define na e por meio da luta, a realidade das instituições e dos seus efeitos sociais, previstos e imprevistos. (BOURDIEU, 1998). A visão do mundo nas estruturas objetivas do mundo social e as relações de força estão sempre presentes nas consciências em forma de categorias de percepção dessas relações. Desta forma, as relações de força objetivas reproduzem nas visões do mundo social a permanência dessas relações. Bourdieu adverte: este sentido das realidades não implica, no entanto, em uma consciência de classe no sentido psicossociológico, isto é, uma representação explícita da posição ocupada na estrutura social e dos interesses coletivos que lhes são correlativos (BOURDIEU, 1998, p. 141). Para entender tal advertência é necessário rever a explicação do autor sobre a articulação das estruturas objetivas e estruturas incorporadas. Ao relacionar as estruturas objetivas e as incorporadas para analisar o percurso das ações, ou seja articular as condicionantes associadas ao espaço social onde se realiza a ação e o sistema de disposições daqueles que agem, o autor explica o envolvimento dos agentes sociais na representação de determinadas personagens sociais. No campo social, essas ações são identificadas com a de seus jogos sociais, bem como estratégias de poder que adotam a partir do conhecimento prático que possuem da posição social que ocupam. Com essa explicação teórica, o sense of one s place citado por Goffman (2006, p. 35) ganha uma compreensão sociológica mais ampla e objetiva no conceito teórico-sociológico de Bourdieu (BOURDIEU, 1998, p. 141). Nessa primeira discussão das relações de força e estratégias de poder conceituadas pelo autor é reiterada a importância do habitus, termo chave na linha conceitual de Bourdieu, mas qual a importância do habitus na análise do campo da relação social e do discurso social? O conceito de habitus está vinculado à longa história nas ciências humanas. A palavra é latina e traduz a noção grega hexis utilizada por Aristóteles para designar características do corpo e da alma adquiridas em um processo de aprendizagem. No final do século XIX, foi utilizada por Émile Durkheim ( ), no livro A evolução pedagógica (1995), adquirindo sentido semelhante, mas com a discussão mais ampliada. Durkheim faz uso do conceito para designar um estado geral dos indivíduos, estado interior e profundo, que orienta suas ações de forma durável (BOURDIEU, , p. 64; apud SETTON, 2002, p. 61). Na contemporaneidade, o termo ganha visibilidade no âmbito acadêmico e científico com os estudos de Pierre Bourdieu. Na definição do autor, habitus é um princípio 17 Ver sobre o termo com mais abrangência: (BOURDIEU, 2004).

56 56 estruturador de ações, percepções e comportamentos que regem as ações cotidianas, dando a elas um caráter quase automático. Por essa definição, o habitus sendo um sistema de disposições estruturadas e estruturantes é durável e aplicável a diferentes situações, constituídas na prática e orientadas em seu sentido prático. O indivíduo passa a incorporar certos habitus ao primeiro contato com a família ou colegas de escola. Segundo Bourdieu: Os habitus são os princípios geradores de práticas distintas e distintivas o que come o operário e sobretudo a sua maneira de comer, o esporte que ele pratica e sua maneira de praticá-lo, as opiniões políticas que são as suas e sua maneira de exprimi-las, diferente sistematicamente do consumo ou das atividades correspondentes de um industrial, mas são também esquemas classificatórios, os princípios de hierarquização, os princípios de visão e divisão, os gostos diferentes. (BOURDIEU, 1998, p ). A formação profissional se constitui nas disposições para reproduzir espontaneamente, em pensamentos, palavras e ações, as relações sociais existentes no espaço profissional em que se pretende atuar ou já se atua, garantindo certa estabilidade da ordem estabelecida. Isso não significa dizer, no entanto, que toda concordância, constatada nos distintos universos profissionais, se deve ao habitus. A noção atribuida de habitus foi alvo de diversas críticas em virtude de estar diretamente condicionada às estruturas sociais, responsáveis pelas atitudes do indivíduo, pois, esse manifesta o seu comportamento baseado na relação de convívio em grupo (BARROS FILHO, 2003, p ). Em um dos seus pressupostos Bourdieu exemplifica, quando alega que os indivíduos criam diferenças entre o bem e o mau, entre o distinto e o vulgar etc, mas estes não são os mesmos. Assim, observa-se que, o mesmo comportamento ou o mesmo bem pode aparecer distinto para uns, pretensioso ou banal para outro e vulgar a um terceiro agente ( BOURDIEU, 1998). Quando as atitudes, ideias e valores são interiorizadas pelo indivíduo, este passa a agir da forma que lhe convém, de forma automática em situações semelhantes quando por ventura voltarem a se repetir. Essa incorporação progressiva das práticas faz com que elas percam a condição de práticas estruturadas e ganhem a de práticas naturais. Embora, pareçam práticas naturais, na verdade, nesse processo de perda do caráter arbitrário, o processo de aprendizagem se desmancha ou se dilui. Isso dá ilusão ou sensação de naturalidade da ação, isto é, desaparecem alguns aspectos da ação original em função das analogias com o destino. Mas há autores, a exemplo de Setton (2002), que esclarecem, O conceito de habitus é como um instrumento conceptual que auxilia pensar a relação, a mediação entre os condicionamentos sociais exteriores e a subjetividade dos sujeitos. Trata-se de um conceito que, embora seja visto como um sistema engendrado no passado e orientando para uma ação no presente, ainda é um sistema em constante reformulação. Habitus não é destino. Habitus é uma noção que auxilia

57 57 a pensar as características de uma identidade social, de uma experiência biográfica, um sistema de orientação ora consciente ora inconsciente. (SETTON, 2002, p. 61). A noção de habitus possibilitou a Bourdieu romper com os princípios teóricos estruturalistas e evitar o termo, da velha filosofia do sujeito. Retomando a velha noção aristotélica de hexis, convertida pela escolástica em habitus, eu desejava reagir contra o estruturalismo e a sua estranha filosofia da ação que, implícita na noção levi-straussiana de inconsciente, se exprimia com toda a clareza entre os althusserianos, com o seu agente reduzido ao papel de suporte Trager da estrutura; e fazia-o arrancando Panofsky à filosofia neo-kantiana das formas simbólicas em que ele ficara preso [...] (BOURDIEU, 1998, p. 61 apud SETTON, 2002, p ). Esse conjunto de disposições age como um princípio gerador e estruturador de práticas, como uma matriz, possibilitando a realização de tarefas e improvisações objetivamente reguladas e regulares, sem ser uma obediência (consciente) a regras estruturadas (SETTON, 2002, p. 66). Um dos efeitos do habitus é a produção de um senso comum e prático interiorizado pelo agente como uma causa instalada do significado do mundo, liberando-o das eventuais contradições. Considera-se assim que esse saber prático, ou seja, esse conhecimento voltado para a ação não exclui o cálculo, a reflexão consciente com base em efeitos presumidos e fins a alcançar, mas nem sempre esse cálculo é necessário. Situações consideradas semelhantes podem produzir no agente social uma reação espontânea, não refletida, originada a partir deste saber prático e permanentemente atualizado. Assim, a prática social é produzida a partir da relação entre a estrutura objetiva definidora das condições sociais de produção do habitus e as condições nas quais ele pode operar, ou seja, na conjuntura em que o agente social está inserido ou incluso. Dessa maneira, a noção de prática social em Bourdieu deve ser entendida como algo distinto da simples execução de normas sociais coletivas ou reflexos das estruturas sociais geradoras. Para Bourdieu, a prática é resultado de relações de poder, que impõem visões do mundo social (BOURDIEU, 1998, p. 118). Ao se dar essa ação como objeto, Bourdieu a inscreve numa lógica causal, em que a materialidade da conduta é inseparável das condições materiais que facultariam sua existência.

58 FOUCAULT: PODER COMO PRÁTICA SOCIAL De acordo com Dosse (1994, p ), o ambiente teórico, das décadas de 1960 e 1970, foi caracterizado por debates entre correntes teóricas que divergiam e,às vezes, convergiam (marxismo, funcionalismo, estruturalismo, existencialismo e a fenomenologia). Esses debates resultavam em várias disciplinas no próprio paradigma teórico, emergindo a pós-modernidade e também o pós-estruturalismo. Um dos principais objetos de estudo implícitos e problematizados nos debates e produções teóricas foram às relações de poder. Diante da persistência do capitalismo, a relação de poder precisava ser reinventada nas várias crises, e na face autoritária do socialismo. Nesse contexto, os pressupostos sobre liberdade e poder foram questionados em busca de uma renovação para esse termo. Nessa busca, tanto as concepções marxistas, dogmatizadas pelo eurocomunismo, quanto as categorias liberalburguesas foram questionadas e reavaliadas. Cabe ressaltar que nesse contexto, na obra de Michel Foucault, filósofo francês, com várias produções nesse período célebre pelas opções de vida, temas polêmicos eram abordados de modo anticonvencional. Apesar da crítica radical de Derrida e de outros, vindos da Escola Francesa da AD, especialmente de Pêcheux e outros relacionados às questões de formação discursiva, Foucault é considerado por vários autores o maior representante do pósestruturalismo. Michel Foucault não dedicou sua obra, exclusivamente, ao tema poder e as relações de poder. Em virtude do tema aparecer no conjunto de sua obra de forma fragmentada e, as vezes de forma esparsa, o conceito de poder foucaultiano foi objeto de críticas e interpretações, nem sempre corretas ou de acordo com sua linha de pensamento. Gregolin (2003, p. 43) pressupõe que uma das razões seja a ausência de sistematicidade e de linearidade que possivelmente explique essa suposta incorrência de univocidade nas interpretações sobre o tema. A outra razão seria a presença constante e simultânea das categorias do poder disciplinar e do biopoder na obra de Foucault. Com essa suposição faz-se necessário entender essas categorias analíticas do poder disciplinar e do biopoder por meio das leituras da análise genealógica do poder conceituada por Foucault. A análise genealógica do poder se complementa com o estudo do poder disciplinar e, mais tarde, com a análise do biopoder. Esses conceitos tiveram como ponto de partida os cursos que ministrou no Collège de France, nos anos de 1970 e na publicação da obra Vigiar e Punir (1975). O livro publicado, originalmente, em 1975, é considerado uma crítica para repensar o modo de fazer política social. Essa obra tem como enfoque várias análises sobre a

59 59 vigilância e a punição, em várias entidades estatais (escolas, hospitais, prisões). O autor buscou evidenciar os fatos por meio de apresentações de documentos históricos franceses. Na época, um tema polêmico, pois mostrava como surgiram, a partir do século XVII, técnicas de relações de poder, centradas no corpo dos indivíduos. Essas técnicas, de resultados duradouros e profundos no contexto micropolítico, consolidaram o Estado liberal do século XVII. A essas técnicas de poder Foucault denominou de disciplinas. Para Deleuze (2005, p.125), a disciplina é uma técnica, um mecanismo, um dispositivo de poder, são métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que asseguram e a sujeitam a constante de suas forças e lhe impõem uma relação natural de obrigação. Com essa conceituação, percebe-se que as disciplinas trabalham diretamente o corpo dos indivíduos, manipulam seus gestos e comportamentos, e assim, molda-o e adestra-o. Isso é realizado por meio do poder invisível, ou seja, possibilita ver tudo permanentemente sem ser visto, cujas bases dessa ação estão no modelo Panóptico de Bentham. Panóptico é um termo utilizado na obra Vigiar e Punir (1975) de Foucault, para conceituar e explicar a sociedade disciplinar. Esse termo designa um centro penitenciário ideal desenhado pelo filósofo Jeremy Bentham em Esse conceito de desenho possiblita a um vigilante observar todos os prisioneiros sem que estes possam pressupor ou saber se estão ou não sendo observados. Conforme o formato de Bentham, este seria um design com menores custos que o das prisões de sua época, visto que requer menos funcionários. Panóptico 18 é também utilizado em torre de observação localizada no pátio central de prisão, manicômio, hospital, escola e fábrica. O observador que estiver sobre esta torre pode observar todos os doentes do manicomio (loucos, funcionários, estudantes etc), tendo-os sob o controle da instituição. O poder disciplinar condiciona o indivíduo sujeitando-o a constante forças lhe impondo-lhe uma relação natural de obrigação. Ainda com relação ao Panóptico, Foucault propõe um conceito importante para essa compreensão, o dispositif (dispositivo), um sistema de relações estabelecido entre diferentes elementos como discursos, instituições, leis, proposições científicas e filosóficas. Deleuze (2005, p.125) afirma, que compreendo o termo dispositivo como um tipo de, devo 18 Originalmente, o termo foi citado por Barton, Ben F., y Marthalee S. Barton. "Modes of Power in Technical and Professional Visuals". Journal of Business and Technical Communication 7.1, Nos estudos contemporâneos sobre comunicação, mídia e cyber espaço o termo (Pan-ótico) ganhou novos enunciados ao ser citado pelos teóricos das novas tecnologias, Pierre Lévy e Dwight Howard Rheingold, para designar o possível controle exercido pelos novos meios de informação sobre seus usuários, em especial na internet. (DELEUZE, 2005) e (ESTEVES, 2007).

60 60 dizer de formação que tem como função principal em um dado momento histórico responder urgente a uma necessidade. O dispositivo tem, então, uma função estratégica dominante. Esse conceito tem suas aplicações na obra História da Sexualidade (1975). Nesse sentido, Foucault explícita o termo dispositivo para se referir a um conjunto de forças diferenciadas, de repressão e de escape, articulado pelo poder no campo da sexualidade, e em Vigiar e Punir (1975) em que o dispositivo será determinante nas relações estabelecidas por Foucault entre visibilidade e produção de subjetividade. Na explicação do autor é, nesse contexto de prisão, que o dispositivo promove o assujeitamento dos corpos e produz subjetividades dominantes de acordo com cada formação histórica. Então, é por meio do Panóptico, que Foucault mostra e identifica o modo de funcionamento das estratégias de poder. Dessa maneira, o autor explica a interiorização pelos indivíduos sob essa influência e também o modo de constituição dos saberes relacionados às normas estabelecidas. Em geral, pode-se afirmar que em Foucault, um dispositivo coloca em jogo elementos heterogêneos com função baseada na estratégia. Seus estudos são responsáveis pela difusão do conceito de dispositif em várias dimensões, relacionando o dispositivo sempre às estratégias de poder em diferentes momentos históricos. O dispositivo é, segundo Deleuze, um dos conceitos centrais da obra de Foucault e, por demais estudado de forma interdisciplinar por pesquisadores de diferentes campos das ciências sociais. Mais adiante será destacado, como uma concepção conceitual, a relação de poder e dos discursos presentes na implementação de projetos ambientais na Amazônia. Prosseguindo com a geneologia do poder e as aulas com maior aprofundamento sobre esse tema, o último capítulo da obra A Vontade de Saber (1976) orienta uma nova direção das análises genealógicas do poder, que mais tarde se complementariam com a publicação das obras: Em Defesa da Sociedade (1976), Segurança, Território e População ( ) e Nascimento da Biopolítica ( ). Tomando por base os conceitos discutidos nessas obras, por biopoder entende-se um poder que se aplica à vida dos indivíduos, ou seja, aos corpos e no que eles têm em comuma vida e o pertencimento. O termo biopolítica se refere aos novos objetos de saber a serviço do novo poder destinados ao controle da própria espécie. Esse novo corpo: corpo múltiplo, corpo com inúmeras cabeças, se não infinito pelo menos necessariamente numerável. E, para compreender e conhecer melhor esse corpo, é preciso não apenas descrevê-lo e quantificá-lo. Faz-se necessário, obter conhecimento sobre o nascimento e a morte, a morbidade, a longevidade, a criminalidade, etc. com o mesmo objetivo é necessário interagir esses dados quantitativos comparando-os e se possível, prevendo seu futuro por meio do estudo do passado. (FOUCAULT, 2006a, p.32).

61 61 Nessa visão do autor emerge, a produção de múltiplos saberes, como a demografia, a estatística e a medicina pública. Assim, os dois conjuntos de mecanismos se articulam e, dessa forma, ocupam esferas diferentes; na esfera do corpo, o poder disciplinar; na esfera da população, o biopoder. Esses dois mecanismos complementares atuam por meio de normas reguladoras. Na leitura da obra de Foucaul, infere-se que o poder não é uma coisa, como ele mesmo afirma, tampouco uma propriedade que pertence a alguém ou alguma classe. Nesse contexto de discussão, não existe, de um lado, aqueles que detêm o poder (dominantes) e, de outro, aqueles que a ele estão submetidos (dominados). Em resumo, apenas o Poder não existe. O que existe são práticas ou relações de poder. Nesse modo de conceituar, o poder não é um bem e nem um objeto, mas algo que se efetua, que tem sua funcionalidade dinâmica e em rede de relações, e que se exerce por conseguinte, deve ser compreendido antes de tudo, como uma estratégia ou uma tática. Vejamos como Foucault o conceitua na obra vigiar e punir (FOUCAULT, 2006a, p. 29): Ora, o estudo desta microfísica supõe que o poder nela exercido não seja concebido como uma propriedade, mas como uma estratégia, que seus efeitos de dominação não sejam atribuídos a uma apropriação, mas a disposições, a manobras, a táticas, a técnicas, a funcionamentos; que se desvende nele antes uma rede de relações sempre tensas, sempre em atividade, que um privilégio que se pudesse deter; que se seja dado como modelo antes a batalha perpétua que o contrato que faz uma cessão ou uma conquista que se apodera de um domínio. Temos, em suma, de admitir que esse poder se exerce mais do que se possui, que não é privilégio adquirido ou conservado da classe dominante, mas o efeito de conjunto de suas posições estratégicas efeito manifestado e às vezes reconduzido pela posição dos que são dominados. (FOUCAULT, 2006b, p. 29). Aqui Foucault evidencia uma espécie de funcionalidade do poder. Significa dizer que o poder funciona como uma máquina dinâmica, localizado em um lugar não especificado, e que se distribui por várias estruturas social. Trata-se de relações de poder, constituem um sistema de poder, a partir de instituições que mantêm uma ligação social e política entre si. Dessa forma, pode ser citado o aparato do poder público, meios de comunicação, fábricas, escolas, o poder está em toda parte na sociedade porque provem de vários campos. Isto, de certa forma, explica porque as próprias lutas contra o seu funcionamento não possam ser feitas de fora, do exterior, pois ninguém está livre de poder. É assim que, conforme já citado, o poder está em toda parte e se exerce com múltiplas relações de forças. Cabe aqui ressaltar um aspecto importante na obra de Foucault, a rejeição à ideia de poder inspirada no modelo econômico, do poder como mercadoria, como um bem que se possui. Outro aspecto importante da analítica do poder de Foucault é a adoção do modelo da

62 62 guerra à inteligibilidade das relações de poder. Sob essa visão, o poder é guerra, guerra prolongada por outros meios (GREGOLIN, 2003, p. 42). Melhor explicando, o poder é luta, enfrentamento, disputa, relação de forças, estratégia com objetivo de acumular vantagens e multiplicar benefícios. Essa relação de força e de luta é ressaltada por Gregolin (2003, p. 43), para quem, Foucault entende poder como uma prática social constituída historicamente. E na sua própria citação a seguir o próprio filosofo enuncia: Dizendo poder, não quero significar 'o poder', como um conjunto de instituições e aparelhos garantidores da sujeição dos cidadãos em um estado determinado. Também não entendo poder como um modo de sujeição que, por oposição à violência, tenha a forma de regra. Enfim, não o entendo como um sistema geral de dominação exercida por um elemento ou grupo sobre o outro e cujos efeitos, por derivações sucessivas, atravessem o corpo social inteiro. A análise em termos de poder não deve postular, como dados iniciais, a soberania do Estado, a forma da lei ou a unidade global de uma dominação; estas são apenas e, antes de mais nada, suas formas terminais. Parece-me que se deve compreender o poder, primeiro, como a multiplicidade de correlações de forças imanentes ao domínio onde se exercem e constitutivas de sua organização; o jogo que, através de lutas e afrontamentos incessantes as transforma, reforça, inverte; os apoios que tais correlações de força encontram umas nas outras, formando cadeias ou sistemas ou ao contrário, as defasagens e contradições que as isolam entre si; enfim, as estratégias em que se originam e cujo esboço geral ou cristalização institucional toma corpo nos aparelhos estatais, na formulação da lei, nas hegemonias sociais. (FOUCAULT, 2006b, 88-89) 19. Foucault procurou nas obras Vigiar e Punir de 1975 (estudo das instituições carcerárias) e em a Vontade de Saber (a partir do estudo da constituição da sexualidade) de 1976, mostrar que é um engano ou equivoco procurar qualificar o poder como fundamentalmente repressivo, que diz não, que castiga, que impõe limites, normas etc. Essa obra deixa claro a concepção negativa de poder, até então, caracterizada pelas teorias dos filósofos do século XVIII que o identificavam com o Estado como o principal provedor. Nessa visão, consideravam o Estado como o único aparelho repressivo, na medida em que seu modo de exercício sobre os cidadãos se daria essencialmente por meio de violência, de coerção, de opressão, da imposição de limites etc., a essa conceituação, Foucault acrescenta uma concepção positiva do poder, que objetiva compreender o poder livre de termos como dominação e repressão. Em Vigiar e Punir, Foucault é categórico, É preciso parar de sempre descrever os efeitos do poder em termos negativos: ele exclui, ele reprime ele recalca, ele censura, ele abstrai, ele mascara, ele esconde. De fato, o poder produz; ele produz real; produz domínios de objetos e rituais de verdade. O indivíduo e o conhecimento que dele se pode ter se originam nessa produção. (FOUCAULT, 2006b, p. 28). 19 Ver mais detalhes sobre essa citação: (FOUCAULT, 2006b. p. 29).

63 63 Com essa afirmação, o autor mostra que não se explica o poder quando se procura caracterizá-lo como essencialmente repressivo, mas que pode ser visto como produção de conhecimento. Opondo as conceituações anteriores, Foucault esclarece que, Temos que admitir que o poder produz saber (e não simplesmente favorecendo-o porque o serve ou aplicando-o porque é útil); que poder e saber estão diretamente implicados; que não há relação de poder sem a constituição correlata de um campo de saber, nem saber que não suponha e não constitua ao mesmo tempo relações de poder. Essas relações de poder-saber não devem ser analisadas a partir de um sujeito de conhecimento que seria ou não livre em relação ao sistema de poder; mas é preciso considerar ao contrário que o sujeito que conhece, os objetos a conhecer e as modalidades de conhecimento são outros tantos efeitos dessas implicações fundamentais do poder-saber e de suas transformações históricas. Resumindo, não é a atividade do conhecimento que produziria um saber, útil ou arredio ao poder, mas o poder-saber, os processos e as lutas que o atravessam e o constituem, que determinam as formas e os campos possíveis do conhecimento. (FOUCAULT, 2006b, 32). Na verdade, essa citação reporta-se às discussões que colocavam o poder somente ao nível do campo da economia e das alternativas e associavam o conceito à repressão ou à guerra, o que Foucault esboçou foi uma linha teórica com uma nova forma de pensar o poder. Ao fazer isso, o autor abandonou alguns postulados acerca dessa questão trazendo novos conceitos e visão sobre o poder (DELEUZE, 2005). O pensador rejeitava a ideia de que a dominação e o poder sejam originários de uma única fonte, como o Estado ou as classes dominantes, exercidos em várias direções e sentidos, no cotidiano, em escala múltipla como descrito em seu livro a Microfísica do Poder. Acreditava que esse exercício também não era necessariamente opressor, podendo estar a serviço, por exemplo, da criação e de outras circunstâncias sociais. Foucault via na dinâmica entre as diversas instituições e ideias uma teia complexa, em que não é possível falar do conhecimento como causa ou efeito de outros fenômenos. A fim de estudar essa complexidade social, o pensador criou o conceito de saber- poder, não há relação de poder que não seja acompanhada da criação de saber e vice-versa. Baseados nesse entendimento, podemos agir produtivamente contra aquilo que não queremos ser e ensaiar novas maneiras de organizar o mundo em que vivemos" (DELEUZE, 2005, p. 126). Deleuze (2005) e Dosse (1994) caracterizam o percurso das obras de Foucault em três fases momentos: (1) A da arqueologia do saber, marcada pela análise dos discursos ao longo do tempo, de acordo com as circunstâncias históricas, em busca de um saber que não foi sistematizado. (2) A da genealógica que corresponde a um conjunto de investigações das correlações de forças que permite a emergência de um discurso, com ênfase na passagem do que é interditado para o que se torna legítimo ou tolerado. E a (3) da ética que foco nas

64 64 práticas, por meio das quais, os seres humanos exercem a subjetivação, conceito que corresponde, aproximadamente, a um papel histórico. O objetivo dessa síntese, sobre a teoria de poder em Foucault e Bourdieu, foi entender como em sua forma de pensar esse tema pode suscitar outras visões especialmente em termos de conhecimento, experiência e poder nas práticas de comunicação institucional e relações sociais das organizações internacionais que aturam na Amazônia no âmbito do PPG PODER SIMBÓLICO E RELAÇÕES DE COMUNICAÇÃO O poder simbólico, conceito de Bourdieu que tem suas raízes na teoria durkheimiana, pode ser definido como o poder de construção da realidade, ou seja, do sentido imediato do mundo social, O sentido imediato do mundo (e, em particular, do mundo social) supõe aquilo a que Durkheim chama o conformismo lógico, quer dizer uma concepção homogênea do tempo, do espaço, do número, da causa, que torna possível a concordância entre as inteligências. Durkheim ou, depois dele, Radcliffe-Brown, que faz assentar a solidariedade social no fato de participar num sistema simbólico tem o mérito de designar explicitamente a função social (no sentido do estruturo-funcionalismo) do simbolismo, autêntica função política que não se reduz à função de comunicação dos estruturalistas. (BOURDIEU, 1998, p. 9). Para Bourdieu, os símbolos são os instrumentos por excelência da integração social, enquanto instrumentos de conhecimento e de comunicação, eles tornam possível o consensus acerca do sentido do mundo social que contribui fundamentalmente para a reprodução da ordem social: a integração lógica é a condição da integração moral (BOURDIEU, 1998). Os símbolos tratam da forma transformada de outras formas de poder (como o econômico, por exemplo), portanto, irreconhecível, ignorada como arbitrária. O poder simbólico, baseado no crédito de que aquele que está sujeito dá àquele que o exerce, o que só é possível porque aquele que está sujeito crê que ele existe, os símbolos são úteis para que seja possível o consenso acerca do mundo social e contribuem desta forma, para a reprodução da ordem social (BOURDIEU, 1998, p. 9). O poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo e, deste modo, a ação sobre o mundo.isto significa que o poder simbólico não reside nos sistemas simbólicos em forma de uma illocutionary force, mas que se define numa relação determinada, e por meio desta, entre os que o exercem e os que estão sujeitos, quer dizer, na própria estrutura do campo em que se produz e se reproduz a crença (BOURDIEU, 1998).

65 65 Para Bourdieu, a cultura dominante dissimula a função de divisão do trabalho e das classes sociais na função de comunicação: a cultura que une (intermediário de comunicação) é também a cultura que separa (instrumento de distinção) e que legitima as distinções compelindo todas as culturas (designadas como subculturas) a definirem-se pela sua distância em relação à cultura dominante (BOURDIEU, 1998, p. 18). Assim, as relações de comunicação são, portanto, relações de poder que dependem, na forma e no conteúdo, do poder material ou simbólico acumulado pelos agentes ou pelas instituições envolvidos nessas relações. (BOURDIEU, 1998, p. 11). Especificamente, aqui as denominadas organizações da cooperação técnica internacional desenvolvem uma serie de práticas e relações de comunicação institucional e se articulam como organização pública ou privada, representam um país, no exercício das atividades e, em alguns casos, trabalham com organizações sem fins lucrativos. 2.7 ESTUDOS DE COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL NO BRASIL A comunicação é considerada o elemento essencial no desenvolvimento da sociedade, a qual, dessa forma, deixa de ser fragmentada, assumindo assim, sua importância estratégica dentro das organizações públicas e privadas, constituindo um processo integrado que orienta o relacionamento das organizações empresariais ou entidades com todos os seus públicos de interesse. Ainda que essa integração não tenha alcançado seu nível máximo, fundamentalmente, a comunicação é de vital importância para o processo de tomada de decisões, de modo a ocupar, gradativamente, posição de destaque no organograma das organizações empresariais. Ela forma parte do saber poder das organizações de cooperação internacional. Na contemporaneidade, a comunicação está associada à imagem organizacional como um dos fatores de extrema importância para o processamento das funções de administração interna e de relacionamento das organizações com o meio externo. À medida que se materializa a necessidade de um relacionamento mais estreito e mais transparente entre as organizações e seus diversos públicos (agentes sociais), pode-se afirmar que a comunicação organizacional está presente, através de suas variadas estratégias 20 e ferramentas, nas ações 20 Quando relacionado com a comunicação institucional o termo estratégia é empregado conforme a conceituação de Foucault (1995): Na concepção foucaultiana de relação de poder supõe que estratégia é composta por uma rede de relações. A palavra estratégia é empregada em três sentidos: (1) Escolhas dos meios para atingir; (2) Maneira pela qual um jogador, em um determinado jogo, age em função do outro e, principalmente, em função do que ele acredita que será a ação dos demais; (3) Maneira pela qual tenta-se obter

66 66 sociais e relacionamentos desenvolvidos pelas organizações. A comunicação de organizações pública ou privada requer planejamento e ações direcionadas para cumprir seus objetivos econômicos, culturais e sociais. Mas, nem sempre as organizações por meio da comunicação institucional conseguem estabelecer, de forma bem elaborada, e responsável, uma relação social com a sociedade. No contexto do Brasil, possivelmente, os primeiros estudos de comunicação organizacional, de aspecto científico, datam dos anos 40 do século XX. A partir deles a comunicação passou a interessar aos pesquisadores como um estudo rico e importante para compreender a dinâmica das organizações empresariais. Sob essa perspectiva, faz se necessário assinalar alguns marcos históricos no âmbito científico da comunicação organizacional, no Brasil e na América Latina. A fim de criar um centro para o desenvolvimento do jornalismo na América Latina, a Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura (UNESCO) e o governo equatoriano, em parceria com à iniciativa da Universidade Central do Equador, cria, na cidade de Quito, o Centro Internacional de Estudos Avançados em Jornalismo para a América Latina (CIESPAL), em 09 de outubro de Na década de 70 ocorreu uma mudança no "termo" jornalismo, substituído por "comunicação" em resposta às necessidades crescentes de desenvolvimento e de novas abordagens de comunicação. Inicialmente, o CIESPAL foi muito criticado, como aponta Martino (2006), foi visto como um ponto de apoio da intervenção dos Estados Unidos no continente. Alguns pesquisadores afirmavam que se sentiam subordinados aos Estados Unidos. Na visão do autor, Christa Berger resume a singularidade daquele momento, É entre o final dos anos 60 e início dos 70 que se inaugura uma reflexão efetivamente latino-americana sobre a comunicação, pois as condições estruturais do subdesenvolvimento passam a ser consideradas e incorporadas na análise dos meios (BERGER, apud MARTINO, 2006). De acordo com Marques de Melo (1998, p. 18), nessa fase, observa-se o desenvolvimento acadêmico, na América Latina, com características marcantes da herança cultural luso-espanhola e sua relação com a história dos seus países, sempre marcados pela instabilidade política e econômica, a pobreza e o desenvolvimento mal planejado. Assim, na visão do autor, situadas a meio caminho entre o subdesenvolvimento acelerado e a modernização compulsiva, segundo Martin-Barbero (1989), vantagem sobre outro. Assim, de acordo com SILVEIRA (2005, p. 55) a palavra estratégia pode ser designada como o conjunto de procedimentos utilizados em um confronto para privar o adversário dos seus meios de combate para fazê-lo renunciar à luta, ou seja, aos meios destinados para obter a vitória. Ver mais detalhes sobre o termo: (FOUCAULT, 1995 apud SILVEIRA, 2005, p. 55).

67 67 as sociedades latino-americanas têm produzido gerações de pesquisadores em comunicação preocupados com problemas sociais e comprometidos com soluções políticas, sem comprometer o rigor científico de seus trabalhos.(martin- BARBERO, 1989, p. 158). Essa crítica citada por Barbero também presente nos estudos de Marques de Melo (1998, p. 130) e Martino (2006), resume o perfil da pesquisa de comunicação desenvolvida na América Latina pós CIESPAL. Entretanto, Marques de Melo (1998) afirma que o CIESPAL foi importante por criar um direcionamento acadêmico científico para a pesquisa de comunicação social. No final da década de 60, um grupo de sociólogos brasileiros, entre os quais Fernando Henrique Cardoso e Celso Furtado e o sociólogo chileno Enzo Falleto, fizeram uma oposição através de seus trabalhos no Cepal (Comissão Econômica para América Latina). A Teoria da Dependência, cuja discussão mostrava que os países industrializados formavam o centro de um modelo de exploração de países subdesenvolvidos localizados na periferia, criando um desequilíbrio permanente e uma relação de dependência de ambos os lados. Esses princípios passaram a influenciar os trabalhos acadêmicos de desenvolvimentistas de Juan Diaz Bordenave e Luis Ramiro Beltrán no campo da comunicação social. (MARQUES DE MELO, 1998, p. 130). Essa nova linha de pensamento fez com que os estudos de comunicação, até então, pautados na Escola Americana, passassem a ser orientados na visão da escola crítica, também influenciada pelas linhas estruturalistas e de semiologia, cujo principal autor era Roland Barthes, trazidas da França pelo argentino Eliséo Verón, em Desse modo, considerando a fase da ditadura em vários países da América Latina nos anos 70, a maioria desses autores passarm a trabalhar pela democratização, atuando em sindicatos e partidos políticos ou contribuiram na difusão da teoria da libertação - corrente teológica que englobou várias teologias e ideias cristãs desenvolvidas nos países emergentes ou nas periferias pobres dos países considerados Primeiro Mundo, a partir dos anos 70. Seus ideiais contribuiram com os pobres contra a pobreza pela sua libertação. Inicialmente, desenvolveu-se na América Latina, campo propício para exilados políticos e intelectuais como Armand Mattelart e outros que passaram a viver na América Latina. Exilado no Chile, o educador brasileiro Paulo Freire contestou o modelo proposto pela difusão de inovações e anunciou novos princípios para o desenvolvimento da comunicação alternativa. Assim, não é possível falar em pesquisa de comunicação no Brasil sem citar esse contexto introdutório dos estudos na America Latina. As ações e a comunicação comunitária praticadas, nesse contexto, por profissionais da comunicação e educadores promovem a comunicação popular, posto que a comunidade, o

68 68 grupo e o sindicato passaram aproduzir mensagens alternativas no sentido de mudança e, portanto, segundo Marques de Melo, tais mensagens surgem genuinamente, através de um processo auto-suficiente e democrático e que, portanto, têm valor de proposta política autêntica que nasce desde a base. (MARQUES DE MELO, 1989, p. 127). Tais práticas de comunicação comunitária, na América Latina, teriam facilitado o trabalho de promoção pela democracia das organizações alemães e americanas na década de 70 e coincide com a disputa de poder das agências bilateriais da (GTZ) e (USAID), no contexto da Guerra Fria. No Brasil, as organizações não se preocupavam em informar suas atividades. Era a prática do discurso retórico e persuasivo com autoridade. Segundo Curvello, [...] as primeiras influências a ser percebida nos estudos de comunicação organizacional relaciona-se com a doutrina tradicional da retórica, de perfil aristotélico, que dava particular ênfase ao estudo do discurso publicamente estruturado e formal, que parte de um orador para uma audiência, com o objetivo claro da persuasão. Desde então, a comunicação organizacional passou a ser marcada teórica e empiricamente por uma forte carga persuasiva, de tal forma que alguns autores se questionam sobre se o campo da comunicação organizacional não seria mesmo o campo da persuasão, mais do que o campo da informação. Outra forte característica dos estudos de comunicação organizacional é a vinculação com a Teoria das Relações Humanas, desenvolvida a partir das pesquisas coordenadas por Elton Mayo, em Harvard, e por Likert, em Michigan. Desde a declaração da psicóloga Mary Parker Follet de que a melhor maneira de se evitar o conflito no âmbito das organizações seria integrando os trabalhadores aos objetivos organizacionais, em oposição aos recursos da ocultação e da repressão, tão caros aos primeiros modelos administrativos, a interação entre organização e empregados e mesmo as formas de interação interpessoal e informal passaram a provocar o interesse de administradores e pesquisadores. Para se ter uma idéia da influência desses primeiros estudos, basta constatarmos que os conceitos mais recentes no campo da comunicação organizacional e mesmo das Relações Públicas trazem, sempre, essa preocupação com a integração entre organização e seus públicos. (CURVELLO, 2001, p. 31). A Teoria Crítica aplicada à comunicação organizacional vê a organização como um campo de conflito entre classes inconciliáveis: a burguesia detentora do capital e controladora das organizações produtivas e os trabalhadores pobres e afastados da propriedade do fruto de seu próprio trabalho (CURVELLO, 2001). Nesse modo de olhar, o pensamento marxista se faz presente na identificação das barreiras organizacionais, das contradições internas ao sistema e na crítica aos modelos opressivos. Então, o foco de análise, para os pesquisadores críticos, parte dos trabalhadores, de como interagem com as organizações e de como se relacionam entre si. Há uma tendência de se ver a comunicação desde seu lado instrumental e de suas funções mediadoras, atuando na intenção de criar uma espécie de falsa consciência entre administradores e empregados. Nessa fase, havia uma separação física e intelectual, entre os profissionais de comunicação e outros setores da organização. Esse modo de ver a

69 69 comunicação organizacional era muito comum nos antigos folhetos e panfletos do passado, em que a comunicação organizacional se limitava apenas aos house-organ e murais de aviso, como já citado por Bueno (2002). Entretanto algumas contribuições críticas podem ser citadas, como, o GT Comunicação Organizacional da INTERCOM, presente nessa área de estudo desde 1992, contribuindo para fortalecer esse campo da pesquisa comunicacional no país, ao mesmo tempo em que foi delimitando um novo perfil para a pesquisa na área. Merece destaque as contribuições de Kunsch (1997 e 1998) e Scrofernecker (2000), Ferrari (1990), Bueno (2002). Entre as mudanças e estruturações históricas, a comunicação organizacional emerge como um processo transacional e vai levar em conta a presença do feedback como uma sinalização de como a emissão foi percebida e reconstruída pelo receptor. Na avaliação de Curvello (2001, p. 120), a estratégia e o dialogo chegam nos anos 90. [...] a visão do controle estratégico, de forte influência na pesquisa desenvolvida no Brasil na última década do século XX, atribui um papel de estrategista aos condutores da comunicação. A medida da competência do comunicador organizacional estaria diretamente associada à sua capacidade em selecionar adequadamente as estratégias para a realização dos objetivos organizacionais. (CURVELLO, 2001, p. 120). Apresenta-se, então a importância do profissional de comunicação social nas organizações empresariais dos anos 90, estudado e proposto por Kunsch (1997), Bueno (2003) e Nassar (2003). Sob o ponto de vista da nova visão da comunicação integrada, preconizada por Gruning no exterior e Kunsh no Brasil - cuja ênfase é o trabalho integrado das três áreas de comunicação, jornalismo, publicidade e relações públicas -, após a transformação estrutural e conjuntural da forma de trabalhar a Comunicação organizacional, no contexto da globalização, surge a tecnologia e a virtualização da era da informação, que impulsionaram essa área tornando-a mais interativa. Do ponto de vista da teoria da comunicação organizacional, as mudanças trazidas pelas novas tecnologias representam um resgate do receptor como ser ativo no processo comunicativo. O modelo teórico da mensagem que parte de um emissor a um receptor em situação de inferioridade cai por terra. A nova era da interatividade transfere ao antigo receptor o poder de conduzir o processo comunicativo. Ele passa a definir o que quer ler, ouvir, ver ou saber. Antes, essa definição era prerrogativa do administrador e do profissional de comunicação a seu serviço. Hoje, administrador e profissional de comunicação só tem de apontar os rumos e oferecer o acesso. O novo modelo, se é possível ainda prescrever modelos, descreve a comunicação como processo de intercâmbio de mensagens entre comunicador/comunicador. (CURVELLO, 2001, p. 20). Para as organizações, a integração das atividades de comunicação passa a ser uma das estratégias importante para fortalecer o conceito institucional, mercadológico e corporativo junto a toda sociedade. Nesse sentido, é preciso estruturar uma comunicação globalizante

70 70 para compreender o ritmo acelerado das mudanças sociais, no Brasil e no mundo. Para Kunsch (1997, p.116), uma comunicação parcial e fragmentada nunca conseguirá isso. Nesse processo de intercâmbio profissional, intelectual e de pesquisa cientifica merece destaque algumas instituições 21 que, como parte desse contexto histórico, contribuíram para a atual fase da comunicação empresarial. Essa descrição, ainda que breve tentou explicar os desafios e tendências por quais tem passado a pesquisa em Comunicação organizacional / e ou empresarial como citado por alguns autores. A comunicação empresarial, enquanto conceito abrangente, tem menos de 25 anos no Brasil. Na década de 1970, as empresas e associações, evidentemente, já se comunicavam: muitas delas editavam house-organs de prestígio; a publicidade brasileira, embora não tivesse, talvez, a expressão e o reconhecimento internacional de que desfruta nos dias atuais, era, como sempre foi, criativa; e havia trabalhos competentes de relacionamento com a mídia. Mas seria prematuro imaginar que tivesse verdadeiramente uma Comunicação Empresarial, no sentido amplo com que é conceituada hoje em dia. Na verdade, a expressão Comunicação Empresarial era 21 Em Latinoamericana existem varias associações que suscitam este intercambio, a saber Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), fundada em 8 de outubro de 1967, é uma sociedade civil, sem fins lucrativos e tem por objetivo discutir e promover a perspectiva local e global da Comunicação Empresarial e Organizacional. Com esse objetivo, promove a comunicação como função administrativa, política, cultural e simbólica de gestão estratégica das organizações e de fortalecimento da cidadania. Ao longo dos anos tronou-se a maior referência brasileira em comunicação empresarial, realiza cursos e congressos, edita a Revista de Comunicação Empresarial e livros. Mantêm um site com material institucional, artigos, notícias e informações com edições online de sua revista. Promove anualmente, o prêmio Aberj de Comunicação Empresarial. COMPÓS - Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação - foi fundada em 16 junho de 1991, a partir da iniciativa de alguns pesquisadores e representantes dos cursos de Pós-Graduação: PUC-SP, UFBA, UFRJ, UnB, UNICAMP, UMESP. O objetivo da COMPÓS é o fortalecimento e qualificação da Pós-Graduação em Comunicação. Visa também a integração e intercâmbio entre os Programas existentes e presta apoio à implantação de novos Programas. Mantêm diálogo com instituições nacionais e internacionais para estimular à participação da comunidade acadêmica em Comunicação nas políticas do país. Assim, defende o aperfeiçoamento profissional e o desenvolvimento teórico, cultural, científico e tecnológico no campo da Comunicação. A Sociedade Brasileira de estudos interdisciplinares de comunicação (Intercom), é a mais importante entidade da área de Comunicação, fundada em 1977 e que reúne centenas de associados, entre professores, pesquisadores, profissionais e estudantes. Realiza um evento anual - o Congresso Intercom -, em setembro, onde são apresentados, além do programa oficial, trabalhos sobre os mais diversos temas, além de simpósios regionais e outros eventos. Publica, além de livros temáticos e coletâneas, uma revista importante - a Revista Brasileira de Ciências da Comunicação (RBCC). Mantém o Centro de Documentação em Comunicação de Países de Língua Portuguesa (Portcom). Ela organiza os pesquisadores em Núcleos de Pesquisa (cerca de 20 atualmente). Um dos núcleos abrange exatamente as Relações Públicas e a Comunicação Organizacional, o qual foi utilizado como fonte de pesquisa científica para embasamento teórico dessa pesquisa. A Asociación Latinoamericana de Investigadores de Comunicación (Alaic) é a entidade que congrega a comunidade científica Latino-Americana especializada na pesquisa da comunicação. Com esse objetivo, procura incrementar a melhora de suas atividades. Promove e defende o estabelecimento e desenvolvimento das condições necessárias para a liberdade de pesquisa, o reconhecimento, a proteção legal e justa remuneração para os pesquisadores de América Latina que atuam na área da comunicação, dentre outras atividades no âmbito da pesquisa de comunicação na América Latina.com organizações regionais, nacionais e internacionais. Atualmente, em decorrência da globalização e do acesso à internet há vários sites que dispõem de publicações e artigos científicos sobre comunicação corporativa. Por ser uma área em constante transformação e interação com a pesquisa e com o público, a informação é o ponto de partida para o seu desenvolvimento e interação como propõe Curvello (2001) e Bueno (2002). Ver nos respectivos sites mais dados e serviços prestados por essas associações: Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje): (ABERJE, 2009); Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação- COMPÓS: (COMPOS, 2009); Sociedade Brasileira de estudos interdisciplinares de comunicação (Intercom): (INTERCOM, 2009; Asociación Latinoamenricana de investigadores de comunicación (ALAIC): (ALAIC, 2009).

71 71 desconhecida naquela época. A Aberje, hoje denominada Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, a mais importante entidade da área em nosso país, tinha outra designação, alias compatível com a sigla que a define: Associação Brasileira de Editores de Revistas e Jornais de Empresas. (BUENO, 2002, p. 03). Para Marques de Melo (2005, p 4), geralmente, o termo pesquisa em comunicação tem significado específico no Brasil, pesquisa quantitativa, de circulação ou audiência. Pelo fato das pesquisas predominantes no Brasil eram direcionadas a conhecer a penetração dos veículos de comunicação de massa juntos a populações urbanas e isso permitia determinar índices de circulação de revistas, jornais e audiências de programas de rádio televisao. Dessa maneira, não era dimensionado a pesquisa em comunicação, constumava-se fazer uma delimitação conceitual amplo, o estudo de todos os meios, e assim metodologicamente considerava-se técnicas quantitativas e qualitativas. Assi, no entender de (MARQUES DE MELO, 2005, p. 4), [...] a Pesquisa em Comunicação compreende, portanto, o estudo científico dos elementos que integram o processo comunicativo, a análise de todos os fenômenos relacionados ou gerados pela transmissão de informações, sejam dirigidos a uma única pessoa, a um grupo ou a um vasto público. É o estudo do comunicador, suas intenções, sua organização, sua estrutura operacional, sua história, suas normas éticas ou jurídicas, suas técnicas produtivas. É o estudo da mensagem e do canal, seu conteúdo, suas formas, sua simbologia, suas técnicas de difusão. [...] É, enfim, o estudo dos efeitos produzidos junto ao receptor, a partir das intenções do comunicador. Conceituada dessa forma por MARQUES DE MELO (2005, p. 4), a pesquisa em comunicação, assume a natureza do campo interdisciplinar de estudos, envolvendo não somente as investigações linguísticas, jornalísticas e educacacionais, mas também as pesquisas das ciências da informação, englobando as iniciativas e práticas de outras áreas das ciências humanas, história, antropológia, sociologia, psicologia etc. Na visão de Curvello (2001) Torquato (2002) e Bueno (2002), a comunicação empresarial se valeu de metodologias científicas, desenvolvimentos de pesquisas, conceitos, e acima de tudo da busca incessante pela satisfação dos diferentes públicos, transformando-se no caminho estratégico para a construção da imagem e da identidade corporativa. Sob essa ótica, as organizações empresariais, com as transformações das últimas décadas, vivem em constante mutação e à procura de seu aperfeiçoamento num cenário empresarial de maior competitividade, dia após dia. Como consequência, atualmente a comunicação organizacional, moldada por pressões externas, modifica a vida de seus diferentes públicos (agentes sociais), inclusive as comunidades com a das quais se relaciona.

72 A PESQUISA DE COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL NO BRASIL: AS MUDANÇAS SOCIAIS Os estudos desenvolvidos sobre comunicação organizacional, de acordo com Curvello (2001), Bueno (2002) são relativamente recentes no Brasil. Para Bueno (2002), faz aproximadamente 30 anos, que a maioria das pesquisas e produção científica era voltava-se para a área de Relações Públicas ou para estudos de Jornalismo Empresarial 22. Um dos primeiros estudos brasileiros a se referir à comunicação organizacional como um campo de pesquisa lógica e conceitualmente estruturado foi o que originou a dissertação de mestrado de Meneleu Almeida, na qual o autor faz uma ampla revisão dos estudos de comunicação organizacional de origem norte-americana e desenvolve uma proposta de intervenção racional. A área de Relações Públicas e o jornalismo com enfoque empresarial permeariam todos os estudos desenvolvidos durante a década de 80 e início da década de 90, do século XX. É nessa fase que emerge os estudos desenvolvidos por pesquisadores como Simões, Peruzzo, Kunsch, entre outros, no espaço das Relações Públicas, e Torquato do Rego, Bueno e Chaparro, na área de jornalismo empresarial. Por esses caminhos, a pesquisa foi-se consolidando academicamente. Período marcado pela predominância dos estudos brasileiros, a forte conexão com a origem profissional dos pesquisadores. Os estudos eram originados de análises múltiplas e variadas, mas apontavam para importância da comunicação nas organizações e do tratamento profissional dos problemas evidenciados. Nos estudos desse período, há uma forte evidência em regularizar a área de comunicação como espaço de atuação e intervenção profissional, especialmente junto a administradores e empresas (CURVELLO, 2001). Foram esses modelos estruturais que conduziram para o conceito de comunicação integrada, como resultante da atuação sinérgica entre as diversas subáreas da comunicação; um dos conceitos mais influentes e importantes, desenvolvido e aperfeiçoado principalmente por Torquato do Rego (2002) e Kunsch (1997). Ela pressupõe uma junção da comunicação institucional, da comunicação mercadológica e da comunicação interna, que formam o composto da comunicação organizacional. Este deve formar um conjunto harmonioso, apesar das diferenças e das especificidades de cada setor e dos respectivos subsetores. A soma de todas as atividades redundará na eficácia da comunicação nas organizações. (KUNSCH, 1997, p. 115). No resumo de Curvello (2001, p. 114) que concorda com Bueno (2002), 22 Os principais pesquisadores dessa fase inaugural foram Cândido Teobaldo de Souza Andrade - que em 1962 publicou o primeiro livro de Relações Públicas no País e Francisco Gaudêncio Torquato do Rego, que defendeu sua tese de doutorado sobre jornalismo empresarial em 1972, na Universidade de São Paulo.

73 73 Esse conceito, que se configura como um modelo de gestão da comunicação, surge como uma resposta racional e viável às lutas surdas entre os profissionais de comunicação pela hegemonia da atuação nas organizações, que acabava também se refletindo na pesquisa e na reflexão acadêmica. Na visão dos autores, as imposições de um mercado em mutação constante exigiriam uma atuação conjunta e eficaz dos profissionais, de forma a oferecer às organizações instrumentos que realmente pudessem atender à demanda social por informação. O modelo da comunicação integrada, apoiado por instituições como a Associação Brasileira de Comunicação Empresaria (ABERJE) e pelo sucesso da atuação comunicacional e institucional de empresas como Rhodia, Volkswagen, entre outras, acabou se consolidando como um padrão nas grandes organizações. Hoje, a maioria das estruturas de comunicação nas organizações brasileiras encontra-se sob uma mesma arquitetura, sob um mesmo comando, buscando a integração de processos e atividades, e apoiando as ações estratégicas. (CURVELLO, 2001, p. 114). Esses são os modelos e os conceitos que passam a desempenhar um papel importante na legitimação da área de comunicação organizacional nas esferas profissional e administrativa das organizações empresariais. Entretanto, o desafio continua, quando se refere à legitimação acadêmica da área da comunicação organizacional. A legitimação acontece com o desenvolvimento da pesquisa e da reflexão teórica com a produção de artigos, textos, teses e livros. Segundo alguns pesquisadores essa produção ainda é escassa. Nos anos 90, os estudos de comunicação organizacional receberam novas abordagens, novos enfoques teóricos e metodológicos, e conquistaram, definitivamente, a interdisciplinaridade. Novos temas e conceitos foram agregados ao repertório da área, como culturas organizacionais, impactos tecnológicos, ergonomia, linguagem, imagem, identidade, discurso, semiótica, relações com consumidores, marketing social e institucional, ética, criatividade, qualidade total, entre outros. Nessa direção, ampliaram-se as pesquisas, juntamente com novos enfoques. Esses novos enfoques e a inovação da produção acadêmica pode ser creditada ao Grupo de Trabalho Comunicação Organizacional, em especial de 1992 a 2000, durante os encontros da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom). Com base na produção acadêmica e sob a visão de Curvello (2001) foi possível perceber uma gradativa introdução de estudos voltados para outros tipos de organização 23, antes com a nomenclatura de comunicação sindical e da comunicação comunitária, uma ampliação do horizonte organizacional abordado pelos pesquisadores da comunicação, além da superação da confusão entre os termos organização e empresa. 23 Com essas novas abordagens há o surgimento de especialista nas discussões do campo da comunicação institucional como Cleusa Maria Andrade Scroferneker, Maria Aparecida Ferrari, Fábio França, Sidinéia Gomes Freitas, Ivone de Lourdes Oliveira, entre outros, ainda é precipitado afirmar que há uma escola brasileira de estudos de comunicação organizacional. Esses modelos teóricos e metodológicos continuam, na sua grande maioria, sendo importados - como o modelo da excelência difundido por Grunig, que direciona a estratégia e harmonia nas relações com os públicos (CURVELLO, 2001).

74 74 No caso desta pesquisa, analisam-se as práticas de comunicação institucional elaboradas pela GTZ na implementação de projetos socioambientais na Amazônia ( ). Assim, o enfoque está direcionado ao trabalho das três áreas de comunicação social. Então, optou-se em utilizar a nomenclatura profissionais de comunicação social, isso porque, a pesquisa está centrada nas práticas de comunicação institucional da GTZ. Pressupõe-se que essa organização utilizou conhecimento e estrutura das três áreas da comunicação social (relações públicas 24, jornalismo e publicidade) em suas ações estratégicas para se comunicar com diferentes públicos (agentes sociais) na Amazônia. Outras acepções e leitura do conceito de Comunicação integrada podem conflitar ou complementar a compreensão tradicional do termo. No entanto, para efeito desse estudo elegeu-se a teoria discutida por Kusnch e complementada por Casali (2002), cujo conceito de comunicação integrada melhor se ajusta ao objetivo deste estudo. Na concepção de Casali (2002), complementando o conceito de Kusnch, [...] Em diferentes níveis de complexidade as organizações necessitam de eficazes instrumentos de comunicação para realizar suas atividades. Seja via , teleconferência, netmeeting, listas de discussão, e tantos outros instrumentos disponibilizados para comunicação em tempo real que são utilizados em ambientes organizacionais e educacionais. Este novo aparato tecnológico permite a organizações com unidades dispersas fisicamente a possibilidade de integrar suas atividades como se estivessem todas reunidas em um só espaço, mesmo que este seja virtual. Pensar na comunicação via voz, imagens, texto ou transmissão de dados, em um novo ambiente tecnológico que possibilita comunicação em tempo real, também é falar de comunicação integrada, uma vez que cria-se uma integração organizacional, nunca antes imaginada, que facilita o processo de tomada de decisão e aumenta significativamente a produtividade das empresas. (CASALI, 2002, p.10). Essa ampliação do conceito de comunicação integrada conceituada por CASALI (2002) possibilita uma melhor análise das organizações aqui estudadas. A fim de delimitar nossa categoria de análise, torna-se importante conceituar e caracterizar as atividades de publicidade e propaganda. Desse modo, descrevem-se as diferentes formas de práticas de comunicação e em que aspecto elas podem colaborar para comunicação, divulgação e 24 De acordo com o Conselho Federal de Relações Públicas, relações públicas é uma função administrativa que avalia as atitudes públicas, identifica as diretrizes e a conduta individual ou da organização na busca do interesse público, e planeja e executa um programa de ação para conquistar a compreensão e a aceitação públicas. Pela lei brasileira, o profissional de Relações Públicas, precisa ser formado em curso superior, ter registro no Conselho da categoria e pode exercer sua atividade como profissional liberal, assalariado ou de magistério nas entidades de direito público ou privado. É especialista na aplicação de técnicas de política social destinada à intercomunicação de indivíduos, instituições ou coletividades. As funções e atividades de Relações Públicas estão expressas na Lei n o , de 11/12/1967, o decreto-lei n o. 860, de 11/9/1969, e os decretos n o s , de 26/9/1968, e , de 4/5/1971, todos de âmbito federal, compõem a legislação que regulamenta a profissão de Relações Públicas e seu exercício (SINPRORP, 2009).

75 75 construção da sua imagem através das ações sociais praticadas pelas empresas estudadas. Portanto, para tal averiguação, é necessário analisar as denominações de práticas de publicidade e propaganda, para que assim o conceito se torne claro quanto ao uso dessas palavras na apresentação desse estudo. As organizações, a exemplo do governo, utilizam mais a publicidade e propaganda que as demais ferramentas das práticas de comunicação. Assim, longe de produzir com consenso entre os teóricos do assunto, o conceito tem divergência nas diferentes áreas das práticas de comunicação, jornalismo, publicidade e relações públicas, em que segundo Sampaio (1999, p. 25), na língua inglesa, são usados três termos, podendo analisá-los para melhor entender a propaganda em seus diferentes aspectos e conceitos, Publicty; Informação disseminada editorialmente através de jornal, revista rádio, Televisão, cinema ou outros meios de comunicação público com o objetivo de divulgar informações sobre pessoas, empresas, produtos, entidades, idéias eventos etc. sem que para isso o anunciante pague pelo espaço ou divulgado na divulgação da informação. Advertising: Anúncio comercial, propaganda que visa divulgar e promover o consumo de bens (mercadorias e serviços); assim como a propaganda dita de utilidade pública, que objetiva promover comportamentos e ações comunitariamente úteis (não sujar as ruas, respeitar as leis de trânsito, doar dinheiro ou objetos para obras de caridade etc). Propaganda: Propaganda de caráter político, religioso ou ideológico, que tem como objetivo disseminar idéias dessa natureza. (SAMPAIO, 1999, p. 25). No Brasil, a tradução em português resultou nos termos propaganda e publicidade e são usados indistintamente. Segundo diferentes autores, (PINHO, 2003; SAMPAIO, 1999; GRACIOSO, 1995), a diferenciação se dá no uso das adjetivações como: propaganda política, propaganda ou publicidade comercial, propaganda de utilidade pública, publicidade editorial etc. Em síntese, a propaganda é a informação com objetivo específico que tem por princípio criar um elo entre o emissor que pretende promover algum serviço ou produto e o receptor (consumidor). É a comunicação de uma mensagem. A propaganda é utilizada de forma, às vezes diferenciada pelas três atividades da Comunicação organizacional, jornalismo, publicidade e relações públicas. Assim, nesse estudo, os termos publicidade e propaganda são usados sem apresentarem diferentes significados, ao indicar uma ação de marketing e comunicação ou uma divulgação paga pelas organizações (anunciante) ou mesmo a obtenção de mídia espontânea, por meio de releases ou assessorias de comunicação. Do mesmo modo, é importante caracterizar a comunicação utilizada pelas organizações. A comunicação possibilita às organizações a codificação e decodificação de

76 76 mensagens ambientais, mantendo-as em sistemas abertos, em constante relação com os demais sistemas e sub-sistemas ambientais em um processo ativo, com flexibilidade à mudanças. Atualmente, o ambiente organizacional é caracterizado por mudanças contínuas daí a necessidade de mudança nos modelos tradicionais da prática em comunicação organizacional. Esse modo de conceituar a comunicação organizacional de forma dialógica 25 como um sistema aberto em constante interação com o meio ambiente, é um dos conceitos que melhor se adequa a essa pesquisa. Isso porque durante o trabalho de entrevistar consultores notou-se o uso da estratégia de comunicação instrumental e dirigida 26 que prevaleceu sobre a dialógica. A literatura acerca dessas práticas de comunicação, recomenda a não utilizar apenas a comunicação instrumental quando a organização objetiva transformações sociais e práticas da cidadania. O ideal e adequado é estruturar uma comunicação na perspectiva dialógica com interação. Isso porque, não se pode pensar que a Comunicação é somente divulgação. Deve se pensar no poder compartilhado, incentivar o diálogo e buscar a transparência para informar os fatos. Na conceituação de Oliveira (2007), o campo da comunicação passa por várias reflexões teóricas que emergem como componente relacional do processo. Isso possibilita mudança no paradigma comunicacional, que desloca de uma relação estruturada e fixa e atinge outra, mais dinâmica e aberta, em que é preciso considerar o emissor e receptor como interlocutor e acrescenta a influência do contexto, além de reconhecer a importância da mensagem e do meio. Esses questionamentos se apresentam de forma evidente na comunicação organizacional, a partir da segunda metade da década de 90, levando as organizações a se reconhecerem como parte do processo de interlocução com os atores sociais como agentes comunicativos. A necessidade dessa reestruturação leva as organizações a pensar seus processos comunicacionais de maneira planejada, a partir de um eixo onde 25 Bakhtin (2004, p. 17) propõe uma visão dialógica da linguagem, como fenômeno social e histórico, portanto, ideológico. O autor percebe a comunicação na reciprocidade do diálogo. Nessa percepção de Bakhtin (2004), o sujeito dividi o espaço discursivo com outro. Isso porque na sua teoria sobre a polifonia, o discurso de alguém está impregnado de palavras de outrem, sendo o dialogismo a característica essencial da linguagem e a condição fundamental para o sentido do discurso. Nos pressupostos de Bakhtin, ser cidadão remete a noção de participação discursiva. Assim, o discurso dialógico é a condição imprescindível para o desenvolvimento dos agentes sociais para o exercício da cidadania, uma vez que contempla o outro, igualmente sujeito de ação na construção da realidade e da experiência. 26 Entende-se por comunicação dirigida quando se têm por finalidade transmitir ou conduzir informações para estabelecer comunicação limitada, orientada e freqüente com um número selecionado de pessoas homogêneas e conhecidas (ANDRADE, 1993, p 175).

77 77 estratégias de interação com a sociedade se estabeleçam de forma alinhada e direcionadas às suas políticas e práticas de gestão. Essa estruturação do processo de comunicação organizacional com base no modelo de interação comunicacional dialógica pressupõe, segundo Oliveira (2007, p.34), o entendimento, pela organização, de que ela integra a sociedade e é um dos seus agentes sociais. Portanto, precisa interagir continuadamente com eles. Essa é uma decisão política e impõe o desafio de consideração do ponto de vista dos diferentes atores envolvidos e de aberturada organização para um processo de permanente interlocução e negociação. (OLIVEIRA, 2007, p. 35). Essa concepção estratégica da comunicação organizacional pressupõe a ampliação do seu papel e de sua função para conquistar espaço gerencial, de modo a auxiliar as organizações a promover e revitalizar seus processos de interação e interlocução com os agentes sociais, articulados com suas políticas e objetivos estratégicos. Na conceituação de Sociedade em Rede discutida por Castells (1999), como nas explicações de Oliveira (2007, p. 24), as tecnologias de informação começaram a ser inseridas no ambiente organizacional brasileiro a partir da década de 90, promovendo um reordenamento nas relações de produção e de trabalho, o que exigiu novos conhecimentos e comportamentos dos trabalhadores, ocasionando novas formas e paradigmas comunicacionais. Diante desse paradigma, segundo Bueno (2002, p. 14), nos anos de 1990, o conceito de Comunicação Empresarial se refinou : ela passou a ser estratégica para as organizações, o que significa que se vinculava estritamente ao negócio, passando, também, a ser comandada por profissionais com uma visão abrangente, seja da comunicação, seja do mercado em que a empresa ou entidade se insere. Atualmente, encontra-se na linha de frente, situada em posição de destaque no organograma, provendo conhecimentos e estratégias para que as empresas e entidades não apenas superem os conflitos existentes, mas atuam, preventivamente, impedindo que eles se manifestem. Nessa nova conjuntura social, as organizações devem refletir, em sua comunicação, aquilo que ela realmente é, fugindo da tentação equivocada de se posicionar como aquilo que gostaria de ser. Nesse item Bueno (2002) adverte: Simular, por exemplo, ser protetora do meio ambiente, quando o agride sem dó; alardear sua função social, quando, na prática remunera mal os seus funcionários, atende, precariamente, os seus clientes e discrimina as minorias no momento de recrutar novos colaboradores. (BUENO, 2003, p. 28). Bueno (2002) ressalta, ainda que:

78 78 a transparência é a arma das organizações modernas, pois estabelece uma relação de confiança com os seus públicos; deve, portanto, ser a tônica de seu esforço de comunicação. Não praticá-la significa desrespeitar os públicos com quem se relaciona o que leva, mesmo em curto prazo, a abalos, que podem ser fatais, em sua reputação. (BUENO, 2002, p. 32). Na visão de Oliveira (2007) como de Bueno (2002), na sociedade da informação, não se pode escamotear a verdade, sob pena de comprometer, definitivamente, a imagem. Cada vez mais, a opinião pública penaliza mais as organizações que escondem os erros, do que aquelas que os assumem e tomam medidas concretas para superá-los, porque, afinal das contas, as falhas acontecem muitas vezes a revelia do esforço das organizações. Diante da exigência de uma postura dinâmica e ética das organizações, torna-se importante compreender a complexidade dos processos comunicacionais para introduzir a prática de um tratamento dialógico na relação organização e agentes sociais. No exterior, a comunicação nas organizações é marcada por duas fases, a primeira nos anos 50 e segunda nos anos 60. Essas duas fases tratavam, respectivamente, da valorização do produto e da valorização da imagem da empresa. Desse modo, esse foi o início da comunicação que mais tarde assumiu um posicionamento estratégico dentro das Instituições. No âmbito dessa modalidade de comunicação empresarial, não só o produto se fazia importante quanto a propaganda de quem o fabricava e de quais formas eram produzidos. A integração dos objetos passou a ser potencializada e descrita por meio da publicidade, fazendo uma forte ligação entre a imagem do produto e a imagem da organização e ou instituição. No contexto internacional, pode-se dizer que duas décadas marcaram a evolução da comunicação organizacional, a década de 1950, que praticamente se concentrou no produto, deixando a imagem das organizações para segundo plano; e a década de 1960, considerada a era da imagem pelo publicitário americano David Ogilvy, um especialista da publicidade moderna, autor da expressão: Um anúncio é um instrumento de marca a longo prazo (TORQUATO DO REGO, 2002, p. 3). Foi desse modo, que a linguagem publicitária se realinhou à comunicação das organizações e Torquato do Rego (2002) contextualiza essa fase, Percebia-se que os consumidores exigiam não apenas informações a respeito do produto, mas também uma idéia da organização, não lhes interessando apenas saber se o relógio adquirido era bom. Ele queria saber quem fabricava o relógio. Consolidava-se o sistema híbrido entre imagem de produto e imagem de organização. A imagem institucional cobria a imagem dos produtos e vice-versa. Nas décadas de 1970 e 1980, a comunicação já assumia a escala de posicionamento estratégico nas organizações. (TORQUATO DO REGO, 2002, p. 03).

79 79 A valorização e o desenvolvimento da comunicação organizacional aprofundam-se no desenvolvimento público da identidade, pela criação das imagens institucionais e pela integração interna com os Recursos Humanos. Novas formas de execução e planejamento surgem, em prol da comunicação, a comunicação externa por meio das Relações Públicas e a Comunicação Interna por meio dos Recursos Humanos juntamente com profissionais de Comunicação. Assim, ainda na visão Torquato do Rego, (2002), O mercado brasileiro começava a oferecer boas perspectivas. De um lado, sentia-se a necessidade de as empresas desenvolverem publicamente a identidade, na tentativa de criar imagens compatíveis e adequadas ao surto de modernização do momento. De outro, impunha-se a meta de integração interna, tradicionalmente perseguida pelos programas do setor de Recursos Humanos, mas não necessariamente com a eficiência que o mercado e a sobrevivência da empresa requeriam. (TORQUATO DO REGO, 2002, p. 03). A partir destes dois aspectos, houve a necessidade de opções capazes de estruturar a comunicação nas organizações e, nesse contexto, emerge a questão, comunicação organizacional ou empresarial? Para Alguns autores, a exemplo de Kunsch, é apenas uma questão de terminologia. Não há distinção entre comunicação empresarial e comunicação organizacional. A diferença é desta para com as relações públicas, uma importante variante do relacionamento humano, visivelmente voltada a operações especiais de nível, de contatos lobísticos e outras funções subjetivas de largo espectro diretamente ligadas às presidências das organizações. (KUNSCH, 1997, p. 86). Ainda com a intenção de esclarecer que não há diferenças entre comunicação organizacional ou empresarial, autora ressalta sob o ponto de vista dos profissionais que atuam nesse campo, Tudo isso são nomes que se dão. Relações públicas, publicidade, propaganda e jornalismo são técnicas que se utilizam em prol de um negócio chamado comunicação. (KUNSCH, 1997, p. 86). Comunicação organizacional ou empresarial para Bueno (2006, p. 29) é, um conjunto de planos, ações, políticas e produtos planejados por uma organização com o fim de atar um relacionamento contínuo com os stakeholders. Quando falamos em Comunicação Institucional, tratamos de uma idéia política defendida pela organização, não uma simples propaganda ou publicidade de certo produto, mas sim uma exposição de um ponto de vista; de uma posição política. A comunicação institucional está intrinsecamente ligada aos aspectos corporativos institucionais que explicitam o lado público das organizações e constróem uma personalidade organizacional como proposta básica e influência político-social na sociedade onde está inserta. (KUNSCH, 1997, p. 164). A comunicação se apresenta de forma variada, com intuito de alcançar os objetivos estratégicos das empresas, assim como, executar todas as metas e planos estratégicos. Kunsch

80 80 (2003) cita o conceito de organização 27 definido por (CHIAVENATO, 2004, p. 84) como unidade ou entidade social, na qual as pessoas interagem entre si para alcançar objetivos específicos. Como parte do processo administrativo, organização para Chiavenato (2004), tem a função de organizar a locação de recursos e de profissionais. Para Kunch, a comunicação institucional contribui para as execuções de metas e planos das organizações por que, A Comunicação Institucional, trata de uma idéia política defendida pela organização, não uma simples propaganda ou publicidade de certo produto, mas sim uma exposição de um ponto de vista; de uma posição política. A comunicação institucional está intrinsecamente ligada aos aspectos corporativos institucionais que explicitam ao lado público das organizações, constrói uma personalidade creditiva organizacional e tem como proposta básica e influência político-social na sociedade onde está inserida. (KUNSCH, 1997, p. 164). Ao longo dos anos, as organizações foram adquirindo conhecimento e experiência, passando a se sentir como parte da sociedade, desse modo, com algumas dificuldades e conflitos, efetivaram sua participação na democracia. Utilizando a comunicação, passaram a fazer análises e difusão de políticas baseadas nas mudanças sociais, promovendo a participação ativa com a sociedade, difundindo informações, envolvendo e interagindo com a opinião pública para garantir uma boa imagem corporativa. Atualmente, a sociedade civil organizada em quase todas as partes do mundo procura fazer valer, seus interesses e pontos de vista junto aos Poderes Públicos. Afinal de contas, é a sociedade, que transfere a eles, porta-vozes de funções públicas, o seu poder. E as organizações, tanto privadas quanto públicas, finalmente se descobrem como integrantes da sociedade, como entes sociais que também precisam ter voz na democracia. Dessa maneira, encontram na comunicação institucional a ferramenta para se comunicar com a sociedade, dando informações exigidas pelos cidadãos e para atuar de forma dialógica, escuta e interage permanentemente com seus diferentes públicos (agentes sociais) (TORQUATO DO REGO, 2002, p. 34). Nesse contexto, o profissional de comunicação social é um agente social importante para as organizações contemporânea, pois seu trabalho consiste em promover essa interação de forma dialógica. O seu trabalho é juntamente com os vários setores da organização, elaborar uma comunicação adequada às necessidades da organização. Assim, por meio da 27 Para Chiavenato (2004), a organização é definida como: entidade social na qual as pessoas interagem entre si para alcançar objetivos específicos. Neste sentido, a palavra organização significa um empreendimento humano moldado intencionalmente para atingir determinados objetivos. As empresas constituem um exemplo de organização social. Organização como função administrativa e parte do processo administrativo (como previsão, comando, coordenação e controle). Neste sentido, organização significa o ato de organizar, estruturar e alocar os recursos, definir os órgãos incumbidos de sua administração e estabelecer as atribuições e relações entre eles. (CHIAVENATO, 2004, p. 82).

81 81 criação de uma política de comunicação específica elaborada para a organização traça todo o planejamento e atuação perante os diferentes públicos. Mas afinal o que é política de comunicação e para que serve? A Política de comunicação são regras determinadas pela organização que devem ser seguidas no trabalho de comunicação. Tem como objetivo contribuir para o cumprimento da missão institucional da Empresa. É o instrumento orientador e normativo concebido para sistematizar as ações de comunicação da Empresa, maximizando seu desempenho. Esta Política pressupõe a criação e manutenção de fluxos de comunicação que facilitem a interação entre a Organização e seus distintos públicos de interesse, num processo de influência recíproca. Segundo Nassar (2003), a Política de Comunicação organizacional deve estar em sintonia com os objetivos estratégicos e com a cultura organizacional da Organização e deve ser assumida por todos indistintamente, em particular por quem exerce atividades de comunicação na Empresa ou participa do processo de tomada de decisões. Os preceitos estabelecidos na Política de Comunicação Empresarial dão suporte ao desenvolvimento de planos anuais ou plurianuais de comunicação e se desdobram em procedimentos que definem posturas das Unidades da Organização e dos seus profissionais. Esses preceitos auxiliam também, na implementação de ações de comunicação e na criação de produtos ou programas que objetivem fortalecer a imagem da organização, contribuindo para a sustentabilidade institucional. O documento básico da política de Comunicação 28 é estruturado com base na necessidade, no tamanho e de acordo com o planejamento global da organização. abrange os conceitos, os objetivos, os valores, as diretrizes e os pontos básicos da Comunicação Empresarial, bem como estabelece o conjunto dos públicos de interesse da organização. Além disso, apresenta detalhadamente uma série de procedimentos a serem observados no exercício das atividades de comunicação (relações públicas, jornalismo e publicidade). Por fim, define as estratégias para sua implementação, apresenta a estrutura ideal para o gerenciamento da Política de Comunicação organizacional enumerando os mecanismos básicos de atuação. A execução e gerenciamento da política de comunicação que define as práticas de comunicação institucional adotada pela organização. Sendo as práticas 28 Sobre política de comunicação institucional ver conceito com mais abrangência: Política de Comunicação Corporativa, org. Laboratório Integrado de Marketing e Cultura. Escola de Comunicação e Artes ECA Universidade de São Paulo. São Paulo: Com-Arte, Ver também: política de comunicação da Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (EMBRAPA, 2002) e (BUENO, 2009, pp ).

82 82 de comunicação institucional das organizações alemãs o objeto de estudo dessa pesquisa foi necessário essa descrição histórica da comunicação organizacional no Brasil e no exterior. Por fim, após esse detalhamento de conceitos acerca da comunicação institucional, espera-se que esse instrumental teórico, possibilite analisar os dados da pesquisa e em especial, buscar respostas nas práticas de comunicação das organizações alemãs que atuaram na Amazônia no âmbito do PPG7.

83 83 3 A CONSTRUÇÃO DO CAMPO DISCURSIVO E SOCIAL DA AMAZÔNIA Este capítulo se propõe a descrever a construção do campo discursivo e social sobre a Amazônia que, invariavelmente enfatiza, a dimensão ambiental, pois é nele que se inspira e desenvolve a cooperação internacional. O histórico do campo discursivo compreende os enunciados e a construção de discursos que formam ou direcionam os sentidos que se tem sobre a Amazônia. Por sua vez, o aspecto ambiental sempre foi predominante, dominado por adjetivações (abundância, exuberância, riqueza) que se constituem em esquemas interpretativos eivados por visões preconcebidas. Assim, pode se afirmar que desde os relatos dos viajantes até o pronunciamento presidencial a imagem sobre o meio ambiente tem dado sentido e direcionado o discurso sobre a Amazônia. Estes discursos, ações, agentes e suas práticas possuem uma relação de anterioridade e também de simultaneidade com a participação da cooperação técnica alemã para o desenvolvimento no contexto da agenda global. Mais recentemente, este campo discursivo e social vem sendo atualizado por enunciados como desmatamento, degradação ambiental, zoneamento econômico e ecológico, mudanças climáticas, preservação e papel da Amazônia no equilíbrio do planeta. Com maior ênfase, situa-se a Amazônia no contexto nacional sob o ponto de vista da evolução dos discursos construídos, a partir dos anos 1950 até o momento, quando esta se torna locus privilegiado e propício para a CNUMAD. Com essa premissa, procura-se mostrar a complexidade desse campo composto por diversos agentes sociais nacionais e internacionais com diferentes interesses, muitas vezes conflitantes. A palavra Amazônia é permeada de significados, valores e sentidos que vão além de seu espaço geográfico nos diferentes discursos. Em virtude desse sentido amplo, é necessário relacionar os conceitos de práticas discursivas 29 e de interdiscursividade para logo analisar como essas práticas de conjuntos discursivos foram construídas sobre a palavra Amazônia. As práticas discursivas, segundo Maingueneau (2000, p. 18) supõem um conjunto de regras anônimas, históricas e sempre determinadas no tempo e no espaço que possibilitam compreender o espaço de interdiscursividade dos campos (político, econômico, ambiental e 29 O termo prática discursiva é geralmente utilizado como variante de formação discursiva para destacar que o discurso é uma formação social. Isto é, em uma perspectiva de inspiração marxista ou em uma perspectiva pragmática. Nessa pesquisa, a prática discursiva é utilizada como conceituado por Foucault: um conjunto de regras anônimas, históricas sempre determinada no tempo e no espaço que definiram, numa dada época, e para uma área social, econômica, geográfica ou linguística dada as condições de exercício da função enunciativa (FOUCAULT, 1995, p. 153). Assim, o discurso é o lugar onde se materializam as disputas pelo poder e as ideologias (FOUCAULT, 1995, p. 15).

84 84 midiático) que construiu os diferentes significados e sentidos da Amazônia. Um deles foi consagrado em 1955 quando foi criada a Amazônia Legal, enunciado administrativo político e jurídico concebido na ordem e racionalidade do planejamento do Estado 30. Nessa direção, faz-se necessário recorrer e descrever a trajetória dos diferentes enunciados presentes em projetos de desenvolvimento ao longo do tempo e com base na história contemporânea. Nos estudos sobre os diferentes discursos midiáticos da Amazônia, Bueno (2002) e Dutra (2003) apontam que, historicamente, tem predominado um imaginário relacionado à temática ambiental. Esse imaginário simbólico relatado por viajantes europeus, de acordo com Gondim (2007), coincide com os discursos contemporâneos que apresentam a Amazônia como exótica, terra incógnita, Eldorado, paraíso e natureza intocada, dentre outras enunciações. Nesta representação, os diferentes campos (político, econômico, ambiental e comunicacional) acabam por convergir em seus interesses na temática ambiental. De forma resumida, a descrição histórica desta pesquisa converge para o ponto de vista sobre a relação entre a comunicação e o desenvolvimento, tal como apontam Gondim (2007), Dutra (2003), Bueno (2002). Desse modo, apresenta-se a interdiscursividade sobre a Amazônia pelos diferentes campos, em especial, após os anos 1950 até a implementação dos projetos socioambientais no âmbito do PPG7. A partir de 1950, em decorrência de contexto econômico e social, o governo enunciara por meio do campo político e econômico, discursos centrados a partir de planos de governo para o desenvolvimento e a segurança, colocando em convergência o campo político e econômico. Uma variante desses discursos foi construída no âmbito da Teoria da Dependência, cujas premissas eram o desenvolvimentismo e a segurança, em que estava implícito conter o avanço dos partidos comunistas na America Latina e no mundo. 30 A Amazônia Legal é uma área que engloba nove estados brasileiros pertencentes à Bacia amazônica e que conseqüentemente, possuem em seu território trechos da Floresta Amazônica. O governo brasileiro, com o intuito de melhor planejar o desenvolvimento social e econômico da região amazônica, instituiu o conceito de Amazônia Legal. Para isso tomou como base análises estruturais e conjunturais, reunindo regiões com problemas econômicos, políticos e sociais. Desse modo, a atual área de abrangência da Amazônia Legal corresponde à totalidade dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte do estado do Maranhão (a Oeste do meridiano de 44º de longitude Oeste), perfazendo uma superfície de aproximadamente km² correspondente a cerca de 61% do território brasileiro. A legislação e criação da Amazônia Legal ocorreu em 1955, por meio da Lei 1.806, de 6 de janeiro de 1953, (criação da SPVEA). Com essa Lei foram incorporados à Amazônia Brasileira, o Estado do Maranhão (Oeste do meridiano 44º), o estado de Goiás (norte do paralelo 13º de latitude sul - atualmente Estado de Tocantins) e Mato Grosso (Norte do paralelo 16º latitude Sul). Depois desse dispositivo legal, a Amazônia Brasileira passou a ser chamada de Amazônia Legal. Portanto, o termo e delimitação da Amazônia Legal foi consequência da necessidade do governo de planejar e promover o desenvolvimento da região. Em síntese, os fatores para a criação desse termo foram baseados na necessidade de planejamento político e não no determinismo geográfico (IBGE, 2009).

85 85 A construção do campo ambiental da Amazônia para introduzir a descrição da participação da cooperação técnica alemã para o desenvolvimento é antecedida da contextualização dos debates sobre as relações internacionais e a política externa brasileira que abrangeria duas fases. No primeiro momento, marcado pela estratégia da política externa com o uso da imagem da Amazônia em 1960/ 1970, ao qual o Brasil se apresenta como um país aberto as Relações internacionais; um segundo, quando foi realizada a CNUMAD (1992), o Brasil, pressionado pelos G- 7, passa a implementar novas práticas de preservação das florestas por meio de acordos internacionais, especificamente, no âmbito das propostas do PPG7. Os planos de desenvolvimento para a Amazônia deveriam se compatibilizar com o crescimento industrial dos anos 1950, proporcionado pelo Plano de Metas e pela superação da fase cíclica recessiva do início da década de 1960 que, segundo essa imposição, favoreceria a implementação de uma nova ordem econômica no Brasil, tendo como característica a gradativa incorporação das regiões periféricas para suprir as demandas por matérias primas ou bens minerais dos mercados nacionais e internacionais. Antes do Plano de Metas, durante o governo de Getúlio Vargas, foi criada em 1953, a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA) 31, com objetivo de promover o desenvolvimento da produção agropecuária e a integração da Região à economia nacional, uma vez que, essa parte do país era considerada isolada e subdesenvolvida em comparação com a região Sul do país, como ficou exposto nos diversos pronunciamentos e planos (BRUM, 2003). Passados alguns anos de atuação da SPVEA, a literatura sobre o assunto mostra que o plano ficou apenas nos discursos e na promessa de programar o desenvolvimento na região amazônica. Desse modo, a sigla SPVEA que até então era motivo de vários discursos calorosos para os políticos e símbolo da perspectiva do desenvolvimento para os diferentes povos da Amazônia, acabou tendo sua imagem corroída pelas críticas e por discursos que ressaltavam a diferença com a proposta inicial. Com essa pretensão, foi criada a Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) em 1967, sob a intensa propaganda dos militares exaltando o progresso e o desenvolvimento da Amazônia. Entretanto, esta não deu o retorno social esperado, pois se trata de uma área livre de impostos alfandegários para os produtos importados. Nesse espaço, 31 Ver detalhes dos objetivos da SPVEA no Decreto nº , de 9 de outubro de 1953 e no Decreto nº , de 4 de agosto de 1966 que altera o Regulamento da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia: (BENCHIMOL,1999).

86 86 se estabeleceram diversas fábricas montadoras de produtos eletroeletrônicos, cujos componentes são, em grande maioria, importados. As montadoras dos insumos eletrônicos criaram um mercado de trabalho e são responsáveis por uma parte importante do emprego industrial da Região Amazônica. Desse modo, a Zona Franca de Manaus estimulou o crescimento da capital do Estado do Amazonas, concentrando a produção nacional de produtos eletroeletrônicos em seu Distrito Industrial. Esse foi um atrativo para boa parte da população do Estado que, a partir de então, passou a se aglomerar na periferia de Manaus. Entretanto, como apontado por vários autores (CASTRO, 1999; HÉBETTE, 2004), o desenvolvimento da infraestrutura urbana não acompanhou as necessidades e a velocidade do crescimento da cidade. Na prática houve grande concessão e incentivo para que subsidiárias estrangeiras como a Tec Toy, Nippon, Honda, Orient, Kawasaki, entre outras, se instalassem em Manaus para se beneficiar da força de trabalho de baixo custo. A esse problema soma-se a desestruturação da economia local e tradicional desde que, o extrativismo vegetal foi substituído por atividades econômicas modernas, entregues as grandes empresas e a grandes grupos econômicos nacionais e internacionais. Há a quebra da identidade sócio-cultural nessas mudanças de hábitos e costumes dos povos da Amazônia. (ACEVEDO MARIN, 2010, p. 14). Hébette (2004) e Castro (1999) apontam que ocorreu a exploração desordenada dos recursos naturais e, consequentemente, o impacto ambiental. Uma discussão mais ampla sobre esse enfrentamento desigual relacionados ao planejamento dos negócios na Amazônia é citado por Almeida: A Fundação Getúlio Vargas desenvolveu, por solicitação da SUFRAMA, um estudo sobre as potencialidades econômicas da Amazônia Ocidental e enfatizou os seguintes produtos de marcado amplo: amido de mandioca, palmito de pupunha, frutas tropicais (notadamente açaí e cupuaçu), extração de safrol da pimenta-longa, madeira serrada (pré-beneficiada), madeira laminada e compensada, piscicultura, castanha do Brasil e turismo ecológico. Os prognósticos de diferentes instituições assinalam que antes de 2010 a madeira tropical se transformará na principal commodity da Amazônia brasileira [...] O foco da política industrial na região tende a mudar, deslocando os projetos agropecuários e redimensionando a indústria de extração mineral (ALMEIDA, 2008, p. 127). Na mesma linha de discussão de Almeida (2008), ACEVEDO MARIN (2010) afirma que os setores do extrativismo são prejudicados com mudanças na economia moderna, por outro lado extratores tradicionais, como seringueiros ou coletores de açaí, estão mobilizando processos identitários. Seguindo o planejamento do regime militar, a Operação Amazônia (1965/1967) representou um amplo programa de políticas públicas, cujo objetivo maior era moldar a região conforme os interesses do novo padrão de acumulação de capital, orientado pela aliança entre

87 87 o Estado, o capital multinacional e o capital nacional privado. Fazendo parte dessa estratégia de integração da Amazônia implantam-se os denominados Grandes Projetos 32, gigantescas construções que mobilizam capitais e trabalhadores, além de terem um caráter de enclave. Possuem forte integração ao sistema produtivo em escala planetária e são construídos núcleos urbanos ao redor das vilas construídas para abrigar os trabalhadores diretamente a eles ligados. Com a implantação dos Grandes Projetos 33 e a divulgação das reservas minerais, o Brasil e a Amazônia viveram a fase desenvolvimentista e estavam constantemente presentes na mídia nacional, apresentando à nação e ao mercado externo as diversas ações do governo e acordos internacionais. Dessa forma, torna-se importante analisar em que condições foram implantadas e divulgadas as mensagens relativas a esses empreendimentos. Para realizar acordos que gerassem negócios, foi preciso construir uma boa imagem institucional do Brasil, em nível nacional e internacional, sendo assim, a Amazônia era apresentada com o objetivo de mostrar grandeza, riqueza mineral em abundância e, com isso, a possibilidade do país se transformar em grande potência mundial (FICO, 1997). Esse foi um momento propício para ampliar e orientar as relações internacionais e teve como resultados inúmeros acordos de cooperação internacional que resultaram em vários projetos entre os quais o Projeto Carajás 34. O Projeto Carajás oficialmente conhecido como Programa Grande Carajás (PGC), projeto de exploração mineral, implantado entre 1979 e 1986, situa-se em rica área mineral do país. Sua amplitude geográfica abrange 900 mil km², em uma área que corresponde a um décimo do território brasileiro. Essa extensão se estende por vários estados, uma vez que, é cortada pelos rios Xingu, Tocantins e Araguaia e engloba terras do Sudoeste do Pará, Norte de Tocantins e Oeste do Maranhão. Foi criado pela Companhia Vale do Rio Doce (naquela época 32 Em referência á realização de Grandes Projetos, os principais empreendimentos produtivos que se instalaram na região amazônica são: a Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHT), sobre o rio Tocantins; o da Mineração Rio do Norte (MRN), de exploração de bauxita metalúrgica, a Noroeste do Estado, no município de Oriximiná; o da Albrás e Alunorte de produção de alumínio e alumina, respectivamente, localizados nas proximidades de Belém, no município de Barcarena; o Projeto de Ferro Carajás (PFC), no Sudeste do Estado, no município de Parauapebas (HALL, 1991). 33 Há vários trabalhos que analisam criticamente os projetos de desenvolvimento na Amazônia, em especial ver mais detalhes sobre a história e conflitos ambientais, no caso mais recente da BR 163 em: (1) Castro, (2) Torres, (3) Scholz, (4) Venturieri, A empresa norte-americana United States Steel, representada por um geólogo, vinha pesquisando o subsolo amazônico desde o início dos anos 1949 à procura de minério de manganês e foi quem descobriu a reserva de minério de ferro de Carajás, em Após vários conflitos a U.S. Steel passou a deter 70,1% da mina, o restante ficando para a Vale do Rio Doce. A Companhia Vale do Rio Doce foi criada pelo Governo Federal Brasileiro como organização estatal em Em 1997 foi privatizada e a partir de 2007 sua política de comunicação adotou a estratégia de utilizar apenas o nome Vale para divulgação institucional da marca, conforme apresentado no site da empresa (VALE, 2009).

88 88 empresa estatal brasileira), durante o governo Figueiredo, quando Eliezer Batista era presidente da então Vale do Rio Doce. Apesar do excelente resultado para as empresas dos países envolvidos no projeto, para as comunidades tradicionais restou o desemprego, a poluição das águas 35, dos rios próximos às áreas de garimpo, utilizados para separar o ouro e outros metais das impurezas. Essa prática tem ocorrido por parte de várias empresas que operavam na região 36. Os planos de desenvolvimento industrial brasileiro foram concebidos em uma fase que representa um marco na história do capitalismo internacional. As dificuldades de sustentação do modelo Fordista e a afirmação do Toyotismo obrigaram os países do terceiro mundo a definirem estratégias defensivas para alcançarem alguma melhora em suas condições econômicas e sociais. Por falta de tecnologia adequada e por representar um mercado incipiente (em relação às demandas internacionais), o Brasil, por meio da sua política externa, optou pela associação ao grande capital internacional, para realizar a exploração de suas riquezas minerais estratégias, o que resultou no fortalecimento da Companhia Vale do Rio Doce que detém a concessão para a exploração das jazidas de ferro e bauxita localizadas no Estado do Pará. Essa fase, do ponto de vista econômico, é denominada de "milagre econômico" ( ) ocorre uma ampla disponibilidade de recursos internacionais com o aumento dos investimentos estrangeiros no Brasil. Nesse período, houve um aumento significativo dos investimentos alemães que contribuíram diretamente para a estruturação comercial e industrial do Brasil. Segundo Lohbauer (2000, p. 52), o Brasil, depois da Segunda Guerra Mundial, e em particular no começo dos anos 1970, se tornaria o Eldorado dos investidores alemães. Essa afirmação de Lohbauer é baseada na seguinte constatação, Mais de dois terços dos investimentos alemães na América do Sul vieram para o Brasil. O país recebeu mais que o dobro do capital privado foi investido pelos alemães em todos os países asiáticos em desenvolvimento, e mais do que foi direcionado à totalidade dos países africanos (LOHBAUER, 2000, p. 52). Nota-se que, nesses investimentos, está implícito o interesse nacional 37 do Brasil e da Alemanha, uma vez que os acordos favorecem aos dois países. O Brasil tinha como meta desenvolver suas indústrias, construir estradas e hidrelétricas (Ilha Solteira e outras que 35 Ver detalhes sobre o impacto ambiental em: (HALL, 1991). 36 Ver sobre o impacto dos Grandes Projetos na Amazônia e as populações tradicionais em: Acevedo Marin e Castro, (2006). Ver também: (DIEGUES, 1994). 37 É possível observar que nesse período o papel das organizações alemãs e brasileiras assessoradas por incentivos de seus respectivos países eram o desenvolvimento econômico e o intercâmbio de informações. Nesse sentido Lohbauer (2000, p. 53), aponta para dois fluxos de investimentos da Alemanha no Brasil: nos períodos de e a partir de 1967 com grande impulso em 1971, no governo Médici.

89 89 vieram depois dessa) e assim como apontado por (FICO, 1997, p. 51), desenvolver o capital e os anseios de consumo da classe média. Além da instalação das indústrias automobilísticas e dos produtos da indústria pesada, a Alemanha também precisava encontrar países em desenvolvimento para instalar suas indústrias químicas farmacêuticas. Esse é um momento propício para os dois países, pois os interesses nacionais e os discursos convergem em um mesmo sentido, conforme Lohbauer (2000, p. 53), o presidente Medici decretou o desenvolvimento da indústria pesada promovendo um evento em março e abril de 1971 no pavilhão do Ibirapuera, com o título A Alemanha e sua indústria. Esta foi a maior feira industrial alemã já registrada no exterior (LOHBAUER, 2000, p. 52). A feira contou com 574 expositores nacionais e 1300 expositores visitantes da RFA. O balanço desse evento foi a visita de 330 mil pessoas. Em 1974, o ministério da economia da Alemanha em Bonn registrava uma transferência de capital para o Brasil de 2,3 bilhões de marcos. Assim, as indústrias de ambos os países se desenvolveram. Com esses acordos provenientes das relações externas, o período da propaganda e ações de intervenção e promoção da imagem da Amazônia como ideal de grandeza e riqueza, era institucionalizado no Brasil e no exterior. Essas ações são mais acentuadas a partir da perspectiva de atuação do regime militar no país nos anos de 1964 a Durante esse período, os militares se valeram desses acordos e de um sistema de comunicação que coordenava as campanhas de propaganda para promover a imagem do governo federal e justificar suas ações perante a nação e a opinião pública nacional e internacional. Foram 21 anos de regime militar autoritário, grandes projetos espalhados pelo Brasil, em especial pela Amazônia, acordos para conter o comunismo e intensas campanhas de propaganda. Nestas últimas estava implícito o conceito de propaganda ideológica, que difere da propaganda comum, sendo bem mais complexo, uma vez que se volta para a formação de ideias e convicções dos indivíduos, agindo no sentido de conduzir o comportamento social (GARCIA, 1982). Pode-se afirmar que a eficácia desse tipo de propaganda - apoiando-se em Garcia (1982) reside no fato das mensagens serem emitidas através da difusão, atingindo rapidamente o maior número de pessoas possível. O uso da propaganda ideológica, juntamente com o estabelecimento da comunicação de massa e do desenvolvimento da indústria cultural, possibilitou a instalação da sociedade de consumo de massa no Brasil. Juntamente com o consumo de massa construíram-se os discursos e as propagandas

90 90 ideológicas e progressistas. pra frente Brasil, ninguém segura esse país, entre outros slogans. A propaganda era otimista, mas os resultados foram negativos, uma vez que o impacto ambiental dos projetos relacionados ao desenvolvimento e à reforma agrária dessa fase desenvolvimentista, dos anos 1960/1970, deu à Amazônia a imagem desfavorável no centro da discussão ambiental construindo novos discursos na agenda internacional dos anos Estes se alinhavam na política externa 38 entendendo por tal uma das atividades da diplomacia do Ministério das Relações Exteriores e consta entre seus objetivos de trabalho diplomático, a cooperação internacional (científica, técnica e financeira) que exerce um papel importante no âmbito cultural, social e econômico do país. Nesse contexto, é preciso compreender que se trata de um campo de interesse de vários agentes sociais na agenda internacional. O conceito de política externa para Oliveira é assim resumido, Um conjunto de atividades políticas, mediante as quais cada Estado promove seus interesses perante os outros estados. E Russel amplia esse conceito considerando a política externa como área particular de ação política dos governos abrangendo três dimensões analiticamente inseparáveis (1) político-diplomático, (2) militarestratégica e (3) econômica - que se projeta no âmbito externo ante a uma ampla gama de atores e instituições governamentais e não governamentais, tanto no plano bilateral como no multilateral 39. (OLIVERIRA, 2005, p. 5). Ainda na conceituação de Oliveira (2005, p 15), a política externa pode ser considerada como um processo dinâmico no qual as diferentes variáveis se encontram em constante reavaliação. Essas variáveis levam em conta prioridades e utilizam os seguintes indicadores: [...] Análise da realidade interna e externa, análise da compatibilização das realidades internas com externas, processo de tomada de decisão, ação e avaliação da política externa (OLIVEIRA, 2005, p.14). Assim, existem diferentes enfoques a respeito do processo decisório que vão desde a consideração da tomada de decisões, como uma ação abstrata, entre as possíveis alternativas, até aos enfoques que o têm como um processo gradual com opções e compromissos entre os grupos de interesse e pressões burocráticas. (OLIVERIRA, 2005, p.16). 38 Sobre o conceito de política externa, suas questões e processo consultar (ALTEMANI, 2005). 39 É conceituado como acordos bilaterais quando estão envolvidas apenas duas partes, podendo ser firmados entre Estados ou entre um Estado e uma Organização Internacional, sob os mais variados temas como questão ambiental, segurança internacional etc. Nos acordos multilaterais é quando são firmados por três ou mais sujeitos do Direito Internacional. Devido às muitas partes envolvidas no acordo, este só entrará em vigor a partir da ratificação pelos Estados. No âmbito da OMC, os Acordos Multilaterais são aqueles que têm como característica principal à obrigatoriedade de adesão por todos os seus membros, contendo regras de observância obrigatória, como a do Tratamento Nacional e da Nação mais favorecida (NYE JUNIOR., 2009, p. 353).

91 91 Por essa conceituação e tomando por base os processos explicitados por Altemani (2005) esse é um campo de poder, no qual ocorrem acordos, desacordos, conflitos em uma relação de força e poder em constante renovação de discursos. Por meio dessas relações, a Alemanha e o Brasil firmaram, em 30 de novembro de 1963, o primeiro acordo básico de cooperação técnica. A partir dessa data, essa cooperação foi se moldando aos interesses nacionais de ambos, uma vez que, um depende do outro, como se verá no decorrer dessa descrição histórica da CTI. A política externa brasileira pode ser caracterizada por diversas fases, anos 1960 e 1970 foi predominante a Teoria da Dependência. De acordo com Nye (2009, p. 352) é uma teoria popular nas décadas de 1960 e 1970, segundo a qual, países ricos no centro do sistema internacional impediram o progresso ou o desenvolvimento dos países periféricos. Segundo o autor, essa teoria perdeu a credibilidade, uma vez que, países como Coréia do Sul e Cingapura, em 1980 e 1990 se desenvolveram rapidamente. Mas, foi desse modo que o país conseguiu seguir essa tendência mundial de desenvolvimento e segurança que a exemplo dos Estados Unidos e da America Latina coibiam aos movimentos de contracultura no período da Guerra Fria 40. Mesmo com a prática da repressão aos movimentos sociais e culturais, o Brasil precisava manter uma boa imagem perante a opinião pública internacional. Para tanto, os militares por meio da política externa deram início a acordos que gerassem negócios internacionais, construíssem uma boa imagem do Brasil em nível nacional e internacional (FICO, 1997). Foi nesse contexto mundial, por meio das relações externas, que os Estados Unidos 41 e a Alemanha estreitaram o relacionamento com a América Latina, em especial com Brasil e 40 A guerra fria é a denominação ao conflito político-ideológico entre os Estados Unidos (EUA), defensores do capitalismo, e a União Soviética (URSS), defensora de uma forma de socialismo. Foi o período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, compreendendo o período entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a desestruturação política e extinção da União Soviética (1991). Este conflito iniciou quando as duas potências tentaram influenciar outros países acerca de seus sistemas políticos, econômicos e militares. É conceituada como o termo "querra fria" porque não houve qualquer combate físico, ainda que o mundo todo temesse a vinda de um novo combate mundial, por se tratarem de duas potências com grande arsenal de armas nucleares (OLIVEIRA; LESSA, 2006). 41 Essa relação é em virtude dos governos do passado, como por exemplo, Juscelino Kubitschek que no plano internacional, procurou estreitar as relações entre o Brasil e os Estados Unidos da América por acreditar que essa estratégia ajudaria na implementação de sua política econômica industrial e na preservação da democracia brasileira. Dessa maneira, em seu governo, formulou a Operação Pan-americana, iniciativa diplomática em que solicitava apoio dos Estados Unidos ao desenvolvimento da América do Sul, como forma de evitar que o continente americano fosse assolado pelo fantasma do comunismo. Ver mais detalhes da política internacional adotada no período de Juscelino Kubitschek. (MORAES NETO, 2005).

92 92 Argentina, se aproximando dos grandes projetos implantados na Amazônia e do capital internacional. Nesses acordos, também estavam a contenção da ideologia comunista, exposta em diversos documentos. A contextualização desses projetos, sob o ponto de vista da comunicação social e da imagem na propaganda, daquela época, ressaltava a comunicação de política pública utilizada pelo governo daquele período ( ). Seus propósitos, assim como o interesse pelo capital internacional, estavam explicitos nas relações externas do Brasil. Lohbauer (2000, p. 42) comenta a pauta das relações externas entre a Alemanha e o Brasil durante a visita de Willi Brandt ao Brasil em 1968, que promoveu a parceria ampliada. A pauta foi resumida nos termos seguintes, [...] no final de 1968, ocorre a primeira visita de um ministro do Exterior alemão ao Brasil. Willi Brandt foi recebido pelo presidente Costa e Silva no primeiro dia de sua estada no Rio de Janeiro. Brandt também foi recebido pelo ministro das relações exterior, Magalhães Pinto. Entre os temas do encontro estavam as relações entre Leste e Oeste (em especial sobre os então recentes acontecimentos na Tchecoslováquia, posteriormente denominados Primavera de Praga ), a política externa alemã, as posições dos dois países diante do Tratado de Não-Proliferação de Armas Atômicas (TNP), possibilidades de cooperação entre o Brasil e ARFA na utilização pacífica da energia nuclear, as pendências entre os países industrializados e os países em desenvolvimento, bem como as relações entre Europa Ocidental e a América Latina. (LOHBAUER, 2000, p ). Em em 9 de junho de 1969, o Ministro de Relações Exteriores, Magalhães Pinto, fez uma viagem à Alemanha e a intenção principal de visita era a assinatura do tratado de cooperação científica que abriria possibilidade de diferentes formas de cooperação (LOHBAUER 2000, p. 48). As áreas mais importantes dessa cooperação não se limitaram somente à pesquisa atômica para fins pacíficos, mas à prospecção de urano, pesquisa espacial, oceanográfica entre outras, como discutidas e apresentadas mais adiante. Com essas pesquisas, a criação de bancos de dados e intercâmbio de informações serviriam de base para as próximas cooperações e acordos. No contexto de repressão mundial, os meios militares no Brasil se ampliaram sob a concepção da Doutrina de Segurança Nacional e de desenvolvimento, difundida através da Escola Superior de Guerra (ESG). Assim, o enunciado segurança estava implícito no desenvolvimento econômico elemento fundamental no processo político daquela época, conforme a visão de Brum (2003, p. 302): Os militares tinham especial entusiasmo pelo desenvolvimento econômico acelerado, porque viam nele um fator importante para a segurança nacional. Na prática, substituíam a ordem e progresso da bandeira por

93 93 segurança e desenvolvimento. É desse modo, que naquela época, o enunciado segurança passa a ser um discurso polifônico no exterior e no Brasil. Nessa estratégia de intercâmbio de informações e desenvolvimento, cujo objetivo, também estava implícito o discurso segurança, não por acaso, tinha-se como meta conter os protestos e descontentamentos dos movimentos sociais que estavam ocorrendo em grande parte do mundo. A reprodução interdiscursiva dos anos 1970 esboçava, nesses protestos, o descontentamento mundial, em especial entre os jovens e intelectuais. No Brasil, o movimento de contracultura dos anos 1960, nos Estados Unidos e Europa, ganhou força somente nos anos O movimento foi reprimido de diferentes maneiras em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Mais adiante poderá ser observado que ao desenvolver o Brasil e a Amazônia, as estradas e os grandes projetos minerais e povoamento da Amazônia, com projetos como o PIN, cujo slogan era povoar para nao entregar estavam envoltos as questões de segurança e controle. Apesar de toda repressão, os discursos atravessavam muros e países. Desse modo, os discursos dos anos 1970, nas universidades brasileiras, eram recorrentes o uso, que chegava até ser exagerado, dos termos: alienação dialética, contradição e conscientização. Eram os termos marxistas que predominavam no pensamento universitário e alguns grupos formadores de opinião. Esses termos eram quase que obrigatórios em debates, aulas, palestras, e materializados em monografias e teses, sobretudo do pensamento denominado de esquerda. Esses discursos eram considerados progressistas, uma vez que, rejeitavam os reacionários e, com isso provocavam os alienados. No convívio social, como apontado por quando não queria considerar bem alguém, naquela época, dizia-se que aquela pessoa é uma alienada. O oposto, ou seja, ser de esquerda recebia a nomenclatura de progressista. (DREIFUSS, 1981, p. 228). Os simpatizantes do regime militar rotulavam quase todos os opositores de subversivos. Eram vários enunciados que produziam diversos sentidos. Eram discursos e ideologias que circulavam em torno e a margem do regime vigente no país, uma vez que qualquer tipo de movimento era reprimido. 3.1 O DISCURSO AMBIENTAL NA AMAZÔNIA Ao realizar uma leitura dos discursos construídos sobre a Amazônia, evidencia-se que o interesse científico e econômico da região amazônica não vem somente da fase da CTI, que envolveu os acordos do PPG7. Para compreender esses interesses sobre a região, necessita-se caracterizar com eficiência a potencialidade, a preservação e as questões sociais da Amazônia,

94 94 seja na área ambiental, seja na de estratégia política e militar. Um conhecimento prévio sobre essas propostas é fundamental em virtude do interesse global. É interessante, nesse sentido, ressaltar que em termos de interesse científico, desde a década de 40, havia intenção de se implantar um centro de pesquisa na Amazônia de caráter global, cogitado preliminarmente pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). De acordo com Domingues e Petitjean (2000, p. 271) 42 [...] em junho de 1946, na primeira reunião da UNESCO, a delegação brasileira apresentou o projeto de um Instituto internacional de Pesquisas Científicas na Amazônica: (IIHA), de autoria do bioquímico brasileiro Paulo de Berredo Carneiro. O objetivo do instituto era desenvolver pesquisa para conhecer a natureza tropical em todas as suas dimensões: botânica, física, zoologia, agrícola, dentre outras áreas científicas. Desse modo, desde essa época, as organizações internacionais, a exemplo da UNESCO, ambicionavam conhecer e explorar a região. Essa ideia gerou discussões nos centros acadêmicos e em especial no Congresso Brasileiro, que, em nome do nacionalismo nacional, na sua maioria, manifestou-se contrário. Na proposta desse Centro de Pesquisa, os países de fronteiras seriam englobados, além da Inglaterra e França, em virtude de suas coloniais, junto com EUA e Itália, que desde a fase inicial participaria com a cooperação financeira e tecnológica. Assim, seria fundado o Instituto Internacional da Hileia Amazônica (IIHA). Em função da manifestação contrária brasileira, por estar a Amazônia 80% em território nacional, o projeto não prosperou. Desse modo, é necessário buscar uma compreensão mais detalhada daquele momento em que houve uma discussão maior em torno deste, em contexto nacional e internacional, assim como os benefícios para os agentes sociais diretamente envolvidos em sua repercussão positiva e negativa no Congresso Nacional. Apesar do IIHA não ter se consolidado em virtude da articulação e manobra do Parlamento Brasileiro, o Projeto tramitou no Congresso Nacional por aproximadamente 40 anos. Nesse sentido, é interessante uma breve análise do projeto e posicionamentos favoráveis e contrários que este sofreu durante a tramitação por parte dos parlamentares. Ainda na descrição de Domingues e Petitjean (2000, p. 288) A Amazônia era vista por Paulo Carneiro como um imenso laboratório da natureza tropical que dependia da ação conjunta de cientistas de vários países e diferentes disciplinas para fazer frente ao aumento crescente da população mundial. 42 (DOMINGUES, 2009).

95 95 Entretanto, essa iniciativa foi rejeitada, pois ia contra os projetos desenvolvimentistas daquele momento, cujo interesse nacional era a industrialização e os acordos internacionais, mas pautado nos negócios. No Brasil, o Instituto Internacional da Hileia Amazônica foi interpretado como politicamente como uma intervenção à soberania do país e cientificamente como uma intervenção nos projetos econômicos definidos para a região. O projeto do ILHA, com base na teoria da evolução foi um projeto de ecologia para a Amazônia, extensivo a todas as regiões tropicais do mundo, mas no Brasil, foi rejeitado por nacionalista de toda a ordem, passando para história como um projeto fracassado. (DOMINGUES; PETITJEAN, 2000, p. 290). Discutir sobre o interesse da Hileia como a cooperação internacional é percorrer o papel do Estado, na criação de mecanismo ideológico para construção de um Estado Soberano. O Congresso Nacional levado pelo ímpeto de nacionalismo e anti-imperialismo discursaram contra a possibilidade de implantação do instituto internacional na Amazônia. Acreditavam que com isso, a Floresta Amazônica estariam à mercê de nações estrangeiras que buscavam explorar riquezas da floresta de forma ilícita. Ainda segundo (PETITJEAN, 2000, p. 291), temiam que o caráter de instituto de pesquisa internacional tornasse um manto de respeitabilidade que abrigaria profissional estrangeiro com imunidade política. Desta forma, o projeto não vingou, foi arquivado definitivamente no ano de 1984, na Câmara dos Deputados. Muitos parlamentares incentivaram a difusão da ideia do roubo da Amazônia, propagada pelos jornais chamando a atenção da opinião e também das instituições de defesa (Exército, Aeronáutica e Marinha). Em 1952, subordinado ao Conselho Nacional de Pesquisas, com a finalidade de fornecer um conhecimento profundo sobre a região da Amazônia Brasileira, foi implantado o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), no governo de Getúlio Vargas. O governo populista de Getúlio buscava os ideais nacionalistas para seu projeto. No caso da Amazônia não foi diferente. Com o INPA pressupunha-se que a Amazônia ficaria livre de cogitações sobre o Instituto Internacional da Hileia. Uma ação mostra que em alguns casos, em nome do interesse nacional não são contemplados todos os agentes sociais e ainda se impõem opiniões e se decidi o caminho da história em nome de todos (ANDERSEN, 2008). Retornando a descrição do campo discursivo sobre Amazônia, os anos 1980 são marcados pelo discurso do desenvolvimento e da segurança, mas será o ecológico que começa a predominar no imaginário do emissor e do receptor (agentes sociais), local, nacional e global. É também nessa fase, que segundo Drouleurs (2004), há dois clichês sobre a imagem da Amazônia : a Amazônia está queimando e os índios estão desaparecendo. como nos anos 1950, os índios têm sido temática recorrente e estão presentes nos discursos

96 96 de forma exótica. Esses dois clichês aparecem com diferentes enunciados e com os mais variados sentidos chamando a atenção da opinião pública que colocará a Amazônia no centro do debate ambiental internacional. Durante a década de 1980, um grande número de agricultores chegou a Rondônia disposto a se fixar na Amazônia, aproveitando os incentivos para a colonização oferecidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Da estratégia de ocupação regional resultaram também intensos conflitos sociais e ecológicos. Com a expansão da pecuária, da exploração florestal e da mineração, verificou-se um desmatamento a uma taxa muito elevada. Estimativas do total desmatado na década de 1980 são conflitivas e vão de 12% (equivalentes a km²), 8,2% (equivalentes a km²) até 5,1% (equivalentes a km²), conforme divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e publicado no Jornal O Estado de São Paulo, em 4 agosto Além desses dados, de acordo com os dados do livro Riqueza Volátil (MATHIS, BRITO, BRUSEKE, 1997), a crise econômica brasileira dos anos 1980 e o fracasso da colonização para a fixação do homem na região, fizeram o governo federal apoiar a atividade do garimpo na Amazônia até o fim dos governos militares. Em 1990, havia 400 mil garimpeiros na Amazônia em 2000 garimpos. Assim, por trás da ilegalidade e da promessa de riqueza econômica, essa atividade provoca grande impacto social e ambiental na Amazônia. Além do impacto negativo em decorrência do garimpo e da depredação da relação homem e natureza e qualidade de vida, outras experiências no campo energético contribuiram para arranhar a imagem do Brasil perante a opinião pública mundial. Na década de 1970, houve a tentativa de investir no campo ambiental e energético. De acordo com Ribeiro (2002, p. 12), no Brasil há várias iniciativas aplicadas desde a década de 1970 que podem ser relacionadas à diminuição das emissões de gases de efeito estufa. O Programa Nacional do Álcool (PROALCOOL) de 1975, é uma delas. Ainda, segundo Ribeiro (2002), na década de 1970, o Brasil era um dos países dependente da importação de petróleo e sofreu impactos profundos na atividade econômica com a crise do petróleo. O país procurou uma saída para essa crise com o PROALCOOL, planejado para gerar energia alternativa ao petróleo. Para isso, baseou-se em uma cultura tradicional no país, a cana-de-açúcar, matéria-prima que processa o etanol. Essa inovação do Brasil, no campo energético e ambiental, recebeu diversas críticas, como as apontadas por Ribeiro: A principal foi a substituição da produção alimentícia por cana-de-açúcar para gerar álcool combustível. Houve um aumento no preço dos alimentos, que depois foi absorvida. Outras graves consequências foram a expulsão de pequenos e médios

97 97 agricultores de suas terras, já que a cana-de-açúcar deve ocupar grandes áreas para ser rentável. Além disso, em vários estados da Federação observa-se ainda hoje a monocultura canavieira em vastas áreas, representando perda de diversidade biológica e, também, de diversidade agrícola. Também se acusavam os produtores de gerar problemas ambientais, em especial pelo despejo do vinhoto, subproduto do processo de geração do álcool, em corpos d'água. Outra grave acusação é a poluição gerada pela queima da plantação após a colheita para preparar o terreno para nova safra. Diversos municípios vizinhos, outrora com ar de qualidade, passaram a enfrentar sazonalmente dificuldades decorrentes do ar contaminado por partículas em suspensão, o que agravou o quadro da saúde de idosos e crianças, principalmente. (RIBEIRO, 2002, p.15). Essa análise de Ribeiro revela que, não por acaso, no final dos anos 1980, a imagem do Brasil mostrava-se desfavorável perante a opinião pública internacional. A política fiscal econômica do país promovia práticas que estavam em desacordo com as novas tendências dos movimentos ambientalistas mundiais (agricultura inadequada, caso do PROALCOOL, construção de estradas sem estudo de impacto ambiental, hidrelétricas desalojando povos tradicionais, desmatamento de floresta). De conformidade com (REDWOOD III, 2003) e também apontadas nos documentos do Banco Mundial, a política fiscal e econômica brasileira contribuía para aumentar as taxas de desmatamento. Faziam parte dessas políticas os incentivos fiscais para investimentos, em particular para a produção agropecuária; o crédito subsidiado e a garantia de preços para produção agro-pecuária; os programas de infraestrutura e desenvolvimento regional (rodovias e mineração com financiamento público); a política de colonização (assentamentos e regularização fundiária); a política fiscal econômica; a regulação do setor mineral. Ainda, no final da década de 1980, a constituição de 1988, pensada pelos constituintes como ponto de partida da modernização política e social no Brasil, propiciou a abertura da gestão pública e da participação dos movimentos sociais. Após 24 anos do período de ditadura, em que o grande consenso era tirar o país do subdesenvolvimento e integrá-lo ao grupo dos países modernos e industrializados, o objetivo da Constituição de 1988, era construir um Brasil moderno e democrático. Assim, após a promulgação da Constituição inicia-se a reestruturação de uma república federativa formada pela união de Estados, municípios e do Distrito Federal, tendo como poderes das unidades que compõem a federação, o legislativo, o executivo e o judiciário. No ponto de vista teórico, o novo sistema federativo trouxe um equilíbrio entre os poderes e também entre os federativos.

98 98 A Constituição brasileira de foi a que mais sofreu emendas: 62 emendas e mais 6 emendas de revisão. Na votação e na elaboração, vários partidos assinaram a Constituição, contudo, houve resistência de alguns, como o PT que negava essa Constituição, pois acreditava que ela era contra a Reforma Agrária porque mantinha ainda a linha de pensamento da estrutura militar. Apesar dos protestos e das ressalvas, o diretório do partido assinou o texto constitucional. Entretanto, no sistema político brasileiro, a exemplo da Constituição Federal e das Constituições Estaduais, são constantemente modificadas e novas emendas são incorporadas. Essas alterações constantes demonstram a instabilidade do sistema político nacional. Cabe ressaltar que o sistema político da Amazônia se insere nesse contexto de instabilidade de regras que conformam o sistema político nacional. De acordo com Mathis e Farias Filho, Somente 183, dos 449 municípios da região norte, têm mais de quarenta anos de existência, no entanto quase a metade (44%) dos municípios foi constituída após Assim sendo, o norte se destacou dentro do contexto nacional como uma região cujo espaço político institucional pode ser considerado ainda em formação. (MATHIS; FARIAS FILHO, 2005, P. 63). Embora tivesse proporcionado certa mobilidade política, no qual os novos agentes sociais dos movimentos sociais foram os principais protagonistas dessa fase, houve ainda muitas críticas sobre a Constituição de 1988, no que tange a distribuição e gestão das verbas públicas e a falta de reformulação institucional, uma vez que havia incapacidade dos pequenos municípios gerarem receitas em suas territorialidades, em especial, dependiam das transferências de verbas de outras unidades subnacionais. Mesmo estando em formação é importante destacar o aspecto da mobilidade de atuação dos estados e municípios na atuação política no âmbito sub-nacional, até então centralizado, que facilitou o planejamento regional. Segundo Bandeira (1999), ao mesmo tempo, em que há mobilidade social no âmbito local e nacional, os estados subnacionais precisam se organizar para articular verbas e ações no que refere aos projetos sociais e ambientais. Nesse contexto, como apontado por Mathis e Farias Filho (2005, p. 64), a Amazônia tem espaço político institucional ainda em formação, em virtude disso, os discursos predominantes, nesse período, eram o planejamento regional com destaque para busca de autonomia para as ações locais. 43 A atual Constituição Federal do Brasil, denominada de Constituição Cidadã, foi promulgada no dia 5 de outubro de A Constituição é a lei maior, a Carta Magna, que organiza o Estado brasileiro. Nessa Constituição Federal do Brasil foram definidos os direitos dos cidadãos, individuais, coletivos, sociais ou políticos; e dessa maneira são estabelecidos limites para o poder dos governantes. Com o fim do Regime Militar, em todos os segmentos da sociedade era unânime a necessidade de uma nova Carta, uma vez que, a anterior havia sido promulgada em 1967, no período de plena Ditadura Militar, sobretudo, por ter sido modificada várias vezes com emendas arbitrarias como o AI-5. (BRASIL, 1988).

99 99 Nas palavras de Becker (2004, p.145), geógrafa com forte vinculação às estruturas do Estado e consultora do IAG a regionalização passa a ser um instrumento básico que aliado ao conhecimento da nova cartografia da Amazônia será fator determinante para a definição, planejamento e implementação de políticas de desenvolvimento adequadas às diferentes regiões. Apesar dessa autonomia no âmbito subnacional e da estratégia de instrumentos de planejamento como apontado por Becker (2004), isso não excluiu o clientelismo, a relação de poder e os conflitos institucionais entre municípios e as localidades onde foram implantados alguns projetos socioambientais (PDA; Projeto de Manejo dos Recursos Naturais da Várzea- ProVárzea, Projeto Demonstrativo dos Povos Indígenas (PDPI, SPRN, PPTAL), ao todo 26 no âmbito do PPG7, como discutidos mais adiante. Juntamente com a valorização da região, emerge o planejamento estratégico como ferramenta de gestão aplicada em organizações há algumas décadas. Visto como panacéia para solucionar problemas de todos os males das organizações, a utilização do planejamento estratégico no setor público é recente Pfeiffer (2002, p. 123) afirma que o planejamento estratégico para municípios é mais recente ainda. Nos Estados Unidos, isto ocorreu já a partir da década de 70, e na Europa a partir da década de 80. No Brasil observa-se essa tendência nos anos 90, embora de forma muito esporádica. Embora Pfeiffer (2002, p. 123) enfatize o caráter esporádico, é preciso destacar também a importância dessa fase, uma vez que a região Amazônica, justamente nesse momento, vivenciou experiências de diferentes agentes sociais. Representando instituições da cooperação internacional no âmbito do PPG7 chegaram à Amazônia consultores que mediavam, articulavam e interagiragiram com cooperativas, conselhos, entidades de base e exercitavam juntamente com técnicos brasileiros essa experiência da Europa na implantação de projetos socioambientais, como citado por Pfeiffer (2002). E isso, foi possível em virtude da abertura para a redemocratização e a constituição de Confirmando essa explicação e concordando com Bandeira (1999, p. 65), Brose 44 constata que, A nova constituição de 1988 ampliou de forma sem precedente o campo disponível para a ativa interação entre os representantes da Sociedade Civil e do Estado, dando origem a um sem número de conselhos de gestão, conselhos setoriais, fóruns e colegiados de todo o tipo nas três esferas do governo. Trata-se sem sombra de dúvida de um grande avanço na ampliação dos espaços públicos para possibilitar o diálogo, o conflito e processos compartilhados de tomada de decisão, mais a práxis tem demonstrado as sérias limitações impostas no cotidiano aos conselhos de gestão. (BROSE, 2002, p. 147). 44 Markus Brose foi consultor em metodologia participativa e desenvolvimento local da GTZ junto a Secretaria de Planejamento do Rio Grande do Sul. (TRUSEN; PINHEIRO, 2002).

100 100 Por que é importante compreender o planejamento estratégico e o papel da Constituição de 1988 no final dos anos 1980? Além da explicação de Brose (2002) e de Pfeiffer (2002) é justamente na construção desse campo de liberdade de ações e interações estratégicas, no âmbito subnacionais aliada às propostas contidas nos documentos da Agenda 21 nacional 45 e local, que contribuiu para as futuras práticas das articulações para implementação de projetos socioambientais inclusos no PPG7 na Amazônia nos meados de Em decorrência dessa descrição que, no final dos anos 1980, que Desenvolvimento Local e a Sustentabilidade tornaram-se enunciados presentes nos discursos das agendas nacional e local sobre a Amazônia e recorrentes nas propostas dos projetos socioambientais para a região Amazônia. Esses espaços públicos para possibilitar o diálogo, o conflito e processos compartilhados de tomada de decisão, como citado por Brose (2002, p. 147), juntamente com os novos movimentos sociais vão ao encontro dos ideais das organizações de cooperação internacional na Amazônia, sobretudo da cooperação técnica alemã para o desenvolvimento. É em decorrência dessas circunstâncias sócio-políticas que a cooperação técnica alemã para o desenvolvimento encontrou um campo propicio, ainda que em fase de organização, para introduzir iniciativas ambientais com o intuito de conter o desmatamento e reduzir a pobreza. A construção de espaços públicos visando aos diálogos que apresentaram as propostas sociais e ambientais de políticas publicas, não foi por acaso. Nos anos 1990, as tentativas de implantação de sistemáticas de avaliação de desempenho no âmbito da Administração Pública Federal foram vinculadas ao paradigma da Nova Gestão Pública ou Gerenciamento com Eficiência que passou a discutir e a ocupar um campo quase que hegemônico no mundo, representando algo que poderia ser conceituado como pensamento único na área da gestão pública 46. Aos princípios e discursos associados à governança da Amazônia somam-se a outros recorrentes nos anos de 1990, o desmatamento, a pobreza e o capital social A Agenda 21 (1992) traz uma nova visão de mundo. Esse documento histórico baseia-se na contenção e no equilíbrio, na prevenção e na precaução, e no princípio da responsabilidade partilhada. Entretanto, as incompreensões e o desconhecimento foram graves, tendo em vista a complexidade do documento assinado em 1992 e o caráter exaustivo de seus quarenta capítulos, tendo como pano de fundo um novo conceito de planejamento participativo, matricial, estratégico e descentralizado. A Agenda 21 institucionalizou também uma nova divisão de atribuições, baseada na parceria ativa visando à realização de objetivos comuns partilhados. (HOMA, 2003, p. 196). 46 Com base na obra: Osborne (1998), resumo dos princípios e opiniões sobre a falta de eficiência do governo. Nessa obra o autor cita exemplos da falta de eficiência do governo nos Estados Unidos, analisa e critica as escolas públicas afirmando que são as piores do mundo desenvolvido. Do mesmo modo, o sistema de assistência média está descontrolado, os tribunais e prisões estão superlotados e diversos criminosos não podem cumprir

101 101 Na década de 1990, quando o assunto foi Amazônia, o desmatamento foi o enunciado que mereceu atenção. De acordo com Bueno (2002), nessa fase, revistas de circulação nacional como a Revista Veja, intensificaram suas reportagens em forma de denúncias contra o tesouro ecológico se autoproclamando fiscais da Amazônia (VEJA, 2000, p. 9 apud BUENO (2002). Desmatamento, proteção e preservar a região foram as palavraschave da prática discursiva sobre a Amazônia no contexto globalizado. Entretanto, como adverte Bueno (2002, p. 138), as imagens ilustrativas dos textos das mídias impressas contradizem essa prática discursiva preservacionista (toras jogadas na mata, transporte manual de madeira e a natureza da Amazônia frágil podendo ser desmatada e destruída). A citação a seguir, ilustra essa afirmação, A Amazônia de hoje é identificada como uma região ameaçada pelas queimadas e por políticas duvidosas que põem em risco os ecossistemas locais e a biodiversidade do planeta. No passado, esteve relacionada, essencialmente, à natureza majestática que desafiava cientistas, viajantes e curiosos. Durante o século XIX e princípio do século XX, ela foi associada à produção de borracha extraída dos seringais nativos. A entrada em cena da borracha de cultivo proveniente do Sudeste asiático, no começo de nosso século, teve um impacto arrasador para a economia da região. As custas de cinco vidas para cada tonelada produzida, a borracha representava então a expressiva parcela de um sexto da renda nacional. A população local estava estimada em 1/25 da população nacional, e o trabalho era quase tão escasso quanto o capital. (DEAN, 1989, p. 70). Havia conflitos agrários e sociais. Dois acontecimentos negativos para a imagem política e social do Brasil no exterior contribuíram para o debate e precipitaram a elaboração do acordo sobre um plano diretor para a proteção das florestas. O primeiro foi o assassinato do líder sindical Chico Mendes em 1988, e, o segundo, as taxas aceleradas de desmatamento da floresta Amazônica. Era possível medir o desmatamento? Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009), as taxas de desmatamento tinham sido medidas e esses números provocaram alarme em nível nacional e internacional. Foram divulgados os resultados de km 2 para o período de , de km 2 entre e de km 2 penas etc. Com essa critica, Osborne (1998) mostrou que o governo americano está longe de oferecer eficiência, uma vez que, ainda centralizava muitas operações que já poderiam estar nas mãos da comunidade. O autor tenta contribuir para a redução desses problemas e sugere alternativas resumidas em dez princípios que poderão servir de base para um novo modelo de governo com eficiência. 47 Um dos primeiros teóricos a utilizar o termo capital social nos círculos acadêmicos foi Lyda Judson Hanifan, em Seguindo uma ordem cronológica, Pierre Bourdieu (1980), James Coleman (1988), Robert Putnam (1993) e Sen (2000), são referências na elaboração do conceito de capital social na contemporaneidade. Nesse sentido, a primeira análise contemporânea sistemátizada sobre o capital social foi de Bourdieu e tem como enfoque as estratégias de reprodução ou a mudança de posição na estrutura social. Dessa maneira, dos três autores é o único a incluir, na estrutura de análise do capital social, a noção de conflito. Ver mais referências sobre capital social em: Sen (2000. p O autor, além de citar Coleman (1990) e Putman (1993), Sen (2000, p. 345) apresenta outros autores que ampliam a discussão de capital social na visão de Coleman, Putman.

102 102 entre Esses dados fizeram com que vários segmentos ambientalistas da sociedade nacional e internacional, a mídia e alguns governos se mobilizassem em prol da defesa e da proteção das florestas. A repercussão negativa desses dois fatos e, em especial, as condições em que ocorreu o assassinato do sindicalista Chico Mendes 48 no Brasil, o motivou uma série de manifestações dos direitos humanos nos Estados Unidos e na Europa. Houve mobilizações envolvendo passeatas e discursos em parlamentos exigindo os direitos das populações indígenas e dos povos tradicionais das florestas, além da contenção do desmatamento. Dessa maneira, a floresta Amazônica sendo objeto das críticas, pressionado pela opinião pública, sobretudo a internacional, e pelos países do G7, o Brasil foi obrigado a criar novas perspectivas e políticas públicas ambientais para amenizar e mudar sua imagem no que se refere à preservação de floresta tropical. A agenda Social dos anos 1990 e a Cooperação Internacional foram propícias para temas globais sob o gerenciamento da ONU, como organização internacional mediadora que impõe seu papel perante os interesses nacionais dos países membros. Assim, a década de 1990, ficou conhecida como a década das conferências que, além de reivindicar o direito das minorias, contribuiu para a formação e consolidação dos novos temas globais na agenda internacional (NYE, 2009). De acordo com Castells (1999), nesse cenário internacional, o tema meio ambiente produziu o alinhamento em redes de interesses, de tal forma que o meio ambiente possibilitou globalizar identidades, afinidades e interesses nacionais e sub-nacionais para além das categorias tradicionais como etnias, nações em diferentes hemisférios e, com isso, tornou comum as preocupações como o direito humano, o bem-estar e com bens comuns como florestas, água e ar. Esses objetivos nacionais colocados na agenda global predominaram nas discussões globais e culminaram com a CNUMAD, em 1992, quando a Amazônia foi o principal protagonista da conferência. A CNUMAD, realizada entre 3 e 14 de junho de 1992 no Rio de Janeiro, contribuiu para a elaboração de documentos (Carta da Terra, Agenda e Agenda Local, Convenção 48 Com o assassinato de Chico Mendes que simbolizou o esforço para conter o desmatamento a atenção internacional dos meios de comunicação foi voltada para este objetivo. A atuação do sindicalista tinha reforçado sentimentos que influenciaram as entidades internacionais surgidas antes de 1983, notadamente algumas ONGs Europeias. Assim, com a pressão da opinião pública internacional, o Brasil teve que tomar novos direcionamentos para a questão ambiental relacionados à governança de suas florestas. 49 A Agenda 21 (1992) traz uma nova visão de mundo. Esse documento histórico baseia-se na contenção e no equilíbrio, na prevenção e na precaução, e no princípio da responsabilidade partilhada. Entretanto, as incompreensões e o desconhecimento foram graves, tendo em vista a complexidade do documento assinado em

103 103 Quadro de Mudanças Climáticas-CMC, PPG7) 50. Nas palavras de Bursztyn (2006), a mobilização foi grande e, para isso, a mídia desempenhou papel crucial. Em muito pouco tempo, os temas da agenda de discussões já eram do conhecimento geral, embora, evidentemente, sem aprofundamentos (BURSZTYN, 2006, p. 60). Apesar da ausência de maior aprofundamento, como citado por Bursztyn, a partir da Conferência de 1992, uma série de arranjos e protocolos foram negociados. 3.2 INSTRUMENTOS LEGAIS INTERNACIONAIS E LEIS AMBIENTAIS Em virtude dos vários protocolos negociados, em especial, o lançamento da Agenda 21, primeiro documento de compromisso internacional, direcionado com base nos princípios de sustentabilidade ambiental, se constituiram instrumentos e arranjos internacionais sobre conservação das florestas tropicais, juntamente com a criação de políticas públicas ambientais que favorecer a construção de um novo campo ambiental na Amazônia. Desse campo emergiram novos enunciados que se incorporaram nos discursos já construídos. Esses arranjos, citando apenas os principais que surgiram após 1992 e importantes para essa tese, podem ser resumidos em instrumentos Legais Internacionais, Acordos e Processos Voluntários Internacionais e Instrumentos Legais Regionais 51, sendo estes: a) Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (CQNUMC) Rio de Janeiro ; b) Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) assinada no Rio de Janeiro, 15 de junho de 1992; 1992 e o caráter exaustivo de seus quarenta capítulos, tendo como pano de fundo um novo conceito de planejamento participativo, matricial, estratégico e descentralizado. A Agenda 21 institucionalizou também uma nova divisão de atribuições, baseada na parceria ativa visando à realização de objetivos comuns partilhados. (HOMA, 2003, p. 196). 50 O Programa Piloto foi proposto na reunião do Grupo dos Sete países industrializados (G-7), em Houston, Texas (EUA), em Em dezembro de 1991 foi aprovado pelo G-7 e pela Comissão Europeia. Durante a Eco- 92, o programa foi oficialmente lançado no Brasil. A sua execução compete ao governo brasileiro que, por meio do Ministério do Meio Ambiente, coordena o Programa. Conta ainda com o intermédio do Ministério da Justiça e do Ministério da Ciência e Tecnologia, com a participação do Banco Mundial, da Comunidade Europeia e dos países membros do Grupo dos Sete. O PPG-7 foi instituído pelo Decreto n 0 563, em junho de 1992, e modificado pelo Decreto nº 2.119, em janeiro de Os primeiros projetos foram aprovados em 1994 e tiveram sua implementação iniciada em (BRASIL, 2009). 51 O levantamento desses arranjos e instrumentos foram pesquisados na biblioteca da Secretaria de Estado e Meio Ambiente em Belém (SECTAM). Discussão mais detalhada sobre os arranjos e instrumentos internacionais para Florestas Tropicais podem ser consultados em: (MELLO, 2002; ABDALA, 2007).

104 104 c) Convenção das Nações Unidas para o Combate a Desertificação naqueles Países que Experimentam Graves Secas e ou Desertificação, particulamente na África (CNUCD) 17 de junho de 2006; d) Acordo Internacional de Baleias Tropicais (AIMT) Genebra, 18 novembro de 1983; Genebra 26/01/1994. II-Instrumentos, Acordos e Processos Voluntários Internacionais a) Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) setembro de 2000, em Nova Iorque; b) Fórum das Nações Unidas sobre Florestas (UNFF) Criado em 2000 pelo Conselho Econômico das Nações Unidas. III-Instrumentos Legais Regionais a) Conselho Centro Americano para Forestas e Áreas Protegidas (CCAFAP) Conferência de Estocolmo, 1972 b) Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) 03 de julho de 1978 Brasília. Com esses arranjos e instrumentos internacionais para conservação e manejo de florestas, as novas iniciativas ambientais e as novas alterações da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, no final dos anos 1990, se configura um novo contexto, em que as organizações não-governamentais, focadas somente em seus projetos e em pequenos grupos, passaram a constituir redes de solidariedade estabelecendo uma organização espacial organizada. Estas redes incorporaram diversos segmentos da organização civil, envolvendo associações ambientalistas e sociais, cooperativas, sindicatos e representações de comunidade tradicionais. Emergiu um novo campo para as ações e interações dos movimentos sociais e ambientais na Amazônia. Com essas ações participativas e a pressão da opinião púbica e dos movimentos sociais, em clima de redemocratização do país, o Estado brasileiro, no final dos anos 1990, desenvolveu experiências e avançou na constituição de um conjunto de leis que visavam à proteção do meio ambiente e à regulação de alguns crimes ambientais, como resumido a seguir. 1. Patrimônio Cultural (Decreto Lei 25, de 30/11/1937) 2. Fauna Silvestre (Lei de 03/01/1967)

105 Atividades Nucleares (Lei de 17/10/1977) 4. Florestas (Lei 4771 de 15/09/1965) 5. Parcelamento do solo urbano (Lei de 19/12/1979) 6. Zoneamento Industrial nas Áreas Críticas de Poluição (Lei 6.803, de 02/07/1980) 7. Área de Proteção Ambiental (Lei 6.902, de 27/04/1981) 8. Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938, 1981) 9. Ação Civil Pública (Lei de 24/07/1985) 10. Gerenciamento Costeiro (Lei 7661, de 16/05/1988) 11. IBAMA (Lei 7.735, de 22/02/1989) - Lei que criou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), incorporando a Secretaria Especial do Meio Ambiente (que era subordinada ao Ministério do Interior) e as agências federais na área de pesca, desenvolvimento florestal e borracha. 12. Agrotóxicos (Lei de 11/07/1989) 13. Exploração Mineral (Lei de 18/07/1989) 14. Política Agrícola (Lei de 17/01/1991) 15. Engenharia Genética (Lei de 05/01/1995) 16. Recursos Hídricos (Lei de 08/01/1997) 17. Crimes Ambientais (Lei 9.605, de 12/02/1998) Essa lista resume as principais Leis ambientais e evidencia que o Brasil não tem problema quanto à existência de Leis. Entretanto, cabe aqui abordar e discutir criticamente alguns dos avanços e limites da questão ambiental brasileira no âmbito das políticas públicas, assim como a eficiência dos instrumentos e mecanismos criados. Elaborados com base em fundamentos preservacionistas e de controle, a maioria desses mecanismos permanece setorial, ainda que alguns deles englobassem de forma parcial outros setores da política pública nacional. Os instrumentos desta política foram alterados e aperfeiçoados em função de demandas sociais e do avanço da abertura democrática no país em meados de A análise desta relação de Leis inclui um período aproximado de 20 anos e focaliza algumas das últimas ações governamentais realizadas em decorrência da Conferência do Rio, em junho de 1992, adotadas como uma estratégia destinada a evidenciar e fazer constar na agenda global, uma atitude em ações e transformações não apenas em seus discursos, mas também em seus objetivos políticos.

106 106 É preciso também, enfatizar a evolução dos instrumentos da política ambiental voltados para a proteção e gestão da região e as suas contradições face a outros programas governamentais que continuaram existindo, com objetivos relacionados às questões de segurança e soberania nacionais. As restrições e denúncias ambientalistas foram incorporadas no âmbito da estrutura governamental federal. Aqui pode ser citada a Agenda 21 e a Agenda Local. No âmbito estadual, os estados reelaboraram e de certo modo incorporaram normas e procedimentos da Agenda 21 e da Agenda Local na Lei Ambiental dos Estados. Essas mudanças podem ser constatadas nas leis: Lei Ambiental n , de 22 de agosto de 1996, do Estado do Amazonas e Lei Ambiental n , de 09 de maio de 1995 do Estado do Para 52. Em termos de estratégia de divulgação, a Lei do Estado do Pará foi impressa e distribuída por várias organizações da cooperação Brasil e Alemanha. Assim se criou o Programa Nossa Natureza, com objetivos e coordenação militares (embora com participação técnica de outros setores governamentais, inclusive o de meio ambiente) transformado no exemplo de investimento governamental para a ocupação da Amazônia, sem provocar os índices elevados de desmatamento. Um programa desenvolvido com a utilização da propaganda, em grande escala, anunciando a transformação das atitudes e planos governamentais. Foi, no âmbito deste Programa, que se reiniciou a discussão do ordenamento territorial da Amazônia, e se ampliaram as demandas e a formatação do zoneamento ecológicoeconômico. Tema constantemente em debate, muitas vezes, visto como solução para os graves problemas ambientais decorrentes da ocupação recente da Região e como o alicerce para os políticos fundamentarem tecnicamente suas decisões. Um dos marcos significativos da política ambiental brasileira é a lei 6938/812 - (1981), por sua abrangência e por introduzir a variável ambiental em outros setores da economia. Aprovada em pleno período militar, essa legislação alterava os papéis dos poderes públicos, descentralizando as decisões e ampliando a participação na formulação das políticas, assim como sua execução para os níveis estaduais e municipais, mantendo na União os papéis de coordenação, articulação e de fomento. A proposição do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e seu órgão consultivo e deliberativo, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) era não 52 Ver sobre a abrangência da Lei Ambiental do Estado do Pará: Para, lei ambiental do Estado do Pará: Lei n , 09 de maio de 1995, publicado no Diário Oficial Estado do Pará em 11/05/1995. (PARÁ, 1995): A SECTAM distribuiu o conteúdo completo da Lei em dois formatos: impresso e virtual.

107 107 apenas a técnica, mas, sobretudo a política, por assegurar a participação de representantes da sociedade organizada nas decisões e por contar com a cooperação inter-institucional, oferecendo, com esse procedimento, maior capilaridade e consistência à política ambiental. Os dez princípios daquela lei objetivavam assegurar as condições de desenvolvimento sócio-econômico, garantindo a preservação, a melhoria da qualidade ambiental e a participação da sociedade. O objetivo maior tratava da compatibilização do desenvolvimento econômico e social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico, ou seja, refletia as discussões internacionais sobre o ecodesenvolvimento. A contemporaneidade da lei é um ponto a ser destacado, pois embora tenha sido aprovada em um contexto nacional no qual questões de ecologia e proteção de ecossistemas eram relegadas ao segundo plano, seus princípios já demonstravam compreensão acerca das diversidades locais, bem como da necessidade de envolvimento de todos os níveis de governo e de todos os segmentos da sociedade. Por isso, também já apontava que a política ambiental não poderia ser apenas uma política setorial compensatória, pois seus princípios deveriam ser incorporados pelas diversas outras políticas públicas. Essas Leis foram aos poucos sendo incorporadas na sociedade visando novas práticas para o tratamento com o meio ambiente. O IBAMA iniciou um debate com a sociedade, no que se refere à aplicação da Lei de Crimes Ambientais ou Lei da Natureza - Lei n /98. Com esse objetivo, promoveu, no dia em que a Lei entrava em vigor - 30 de março de 1998, um seminário em todos os estados brasileiros apresentando na integra a Lei n , de 12 de fevereiro de , a seguir uma síntese dos principais artigos e capítulos retirados da referida Lei: (1) Fabricar, vender, transportar ou soltar balões, pelo risco de causar incêndios em florestas e áreas urbanas, sujeita o infrator à prisão e multa, (3) O desmatamento não autorizado passou a ser crime, além de ficar sujeito a pesadas multas, (4) A comercialização, o transporte e o armazenamento de produtos e subprodutos florestais eram punidos como contravenção; (5) Comprar, vender, transportar, armazenar madeira, lenha ou carvão, sem licença da autoridade competente, sujeita o infrator a até 01 (um) ano de prisão e multa, (6)Funcionário de órgão ambiental que fizer afirmação falsa ou enganosa, omitir a verdade, (7)sonegar informações ou dados em procedimentos de autorização ou licenciamento ambiental, pode pegar até 03 (três) anos de cadeia. (8) As multas, na maioria, eram fixadas através de instrumentos normativos passíveis de contestação judicial. (9) A fixação e aplicação de multas têm a força da lei. A multa administrativa varia de R$ 50 a R$ 50 milhões, (10) A Cooperação Internacional para a Preservação do Meio Ambiente, consta no Art. 77. Resguardados a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes, o Governo brasileiro prestará, no que concerne ao meio ambiente, a necessária cooperação a outro país [...]. (BRASIL, 1998). 53 Lei n , de 12 de fevereiro de 1998 que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências Ver na integra com todos os artigos e capítulos em: (IBAMA, 2009).

108 108 Com essa descrição, constata-se a abrangência da Lei Ambiental, porém, na visão do IBAMA As Leis Ambientais Brasileiras são consideradas bastantes avançadas e bem elaboradas, no que se refere ao objeto proposto, o problema está na aplicação destas, que por fatores dos mais diversos, inviabiliza e torna falha a sua execução. Assim, apesar do país apresentar uma das mais modernas legislações ambientais do mundo, a questão é, que a maior parte, ainda não é cumprida de maneira correta e adequada. A primeira iniciativa seria conhecer mais detalhadamente estas leis e seus respectivos documentos. De fato, o objetivo principal do Brasil na CNUMAD (1992) foi buscar meios de conciliar o desenvolvimento sócio-econômico com a conservação e proteção dos ecossistemas da Terra e, com isso, como aqui descrito, proporcionou a criação de estratégia e instrumentos para a preservação ambiental global. A descrição histórica da construção desse campo ambiental foi apresentar a estruturação desse novo momento, em que os novos enunciados decorrentes da CNUMAD (1992) e da implementação do PPG7 ( ) motivaram e propiciaram novos acordos para a CTI e o resultado dessas ações irão se somaram aos antigos discursos na interdiscursividade sobre a Amazônia descritos e discutidos a seguir. 3.3 A AMAZÔNIA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL A CNUMAD (1992), realizada no Rio de Janeiro, gerou vários documentos, entre os quais, o PPG7. Passados alguns anos, o PPG reconfigurou os esforços na Amazônia para fomentar as ligações local, nacional e global focalizadas no aprendizado socioambiental, e difundiu os princípios, as técnicas, alternativas de sistemas produtivos e o manejo florestal. Além disso, por meio de cooperação baseada em experiências, promoveram-se lideranças e trabalhos desenvolvidos por equipe técnica (nacional e internacional). Mesmo com esse resultado, o processo de implementação foi difícil e divergente no que se refere ao início do Programa. No âmbito das negociações, havia duas visões: a do Governo brasileiro e a do Banco Mundial (MELLO, 2002; ABDALA, 2007). Na época, as posições de ambos pareciam como divergentes. Os relatórios preparados pelo Banco Mundial, que serviram de subsídios aos doadores, ressaltavam os aspectos limitantes, os problemas relacionados às queimadas florestais e a contribuição às mudanças climáticas decorrente do desmatamento e isso não favorecia a imagem do Brasil perante a opinião pública global. O Governo Brasileiro não negava esses problemas de ordem política e ambiental, mas apresentava resultados, de certa forma positivos, relacionados às políticas

109 109 ambientais e medidas institucionais, como a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), em âmbito federal (1973), à qual foi atribuída a responsabilidade da conservação do meio ambiente. Com a apresentação dessas iniciativas, se dava mostrar resposta e ações para minimizar às pressões internacionais e nacionais e as críticas que faziam alarde sobre as estatísticas do desmatamento na Amazônia. Mesmo assim, houve forte pressão da opinião pública sobre a gestão ambiental do Brasil no que se refere à floresta. A citação a seguir resume o clima e a tensão daquele momento. A forte pressão reunindo imprensa e ONG, nacionais e internacionais no final dos anos 1980 sobre os elevados índices de desmatamento divulgados pelo INPE, criando inclusive restrições de mercado a produtos brasileiros, notadamente a madeira amazônica, obrigou a adoção de uma medida de impacto para provar que o governo se preocupava com o meio ambiente: a convocação de uma comissão interministerial para a elaboração de um programa que orientasse suas ações na Amazônia. (MELLO, 2002, p. 65). Nesse contexto de pressão da opinião pública, na Conferência do Rio (1992) houve necessidade de apresentar uma boa imagem do Brasil e delimitar o futuro espaço de atuação contando com a influência externa. A estratégia foi eficaz, pois o foco da conferência foram para as emissões de gases estufa na atmosfera e as responsabilidades dos países desenvolvidos. Desse modo, como meio de regulação, defenderam o princípio de o país pagar de acordo com a produção de poluentes. Assim, a questão da floresta inseria-se no âmbito da soberania dos Estados e nas políticas de gestão dos recursos naturais. Essa constatação sobre a imagem do Brasil também é confirmada pelos estudos de Ans Kolks (1996). De acordo com Kolks (1996), nas campanhas internacionais, as organizações não governamentais levaram conhecimento ao resto do mundo acerca do desflorestamento e do destino da população local. Isto teve repercussões domésticas substancias: construiu uma sensibilidade de longa data sobre à Amazônia e as acusações de internacionalização da região. Aos países tropicais foram exigidas políticas ambientais, principalmente por causa dos crescentes índices de desmatamento, decorrentes do modelo de desenvolvimento adotado nos anos 60. Na visão de Kolks (1996), no caso do Brasil, a atenção se focalizou na destruição da floresta úmida, que cobre aproximadamente um terço do total da área da floresta úmida no mundo, na incomparável biodiversidade deste ecossistema original, e no destino de povos e comunidades tradicionais. Além do desmatamento agravado com a ameaça de aquecimento global, os cientistas começaram a preocupar-se com as questões climáticas. O interesse internacional sobre os povos da floresta úmida aumentou com o conhecimento da situação difícil das vítimas, especialmente dos índios e seringueiros.

110 110 Ao atribuir ao Banco Mundial a gestão financeira do Programa, os doadores adotaram um modelo institucional que reforçava posicionamentos contrários aos interesses nacionais. A experiência do trabalho conjunto permitiu que o enfoque proposto pelos doadores encontrasse, naquele momento, elementos mais positivos e direcionados para a introdução de algumas estratégias para mudanças institucionais com lógicas ambientais. A pressão da opinião pública não deu trégua, mas as discussões para implementação do PPG7 tomaram outros discursos e sentidos. Durante os anos 1990, nesse campo de discussão, houve evolução político institucional da sociedade no âmbito regional e nacional para as questões ambientais. De acordo com MMA (BRASIL, 2001, p. 12), nessa evolução político institucional alguns governos estaduais passaram a contar com programas de desenvolvimento sustentável; alguns parlamentares foram eleitos pelo perfil e compromissos com a visão das questões ambientais; surgiram novos segmentos econômicos envolvidos com negócios alternativos ao desmatamento; critérios ambientais incorporaram-se à demanda social por reforma agrária; a participação e movimento sociais incentivaram as articulações com outras esferas de governo promovendo soluções econômicas sustentáveis, e a pressão da opinião pública internacional e nacional foi renovada em relação à imagem e discursos sobre a Amazônia. Desse modo, suprimiram-se os antigos discursos incorporando novos enunciados no novo contexto local, nacional e internacional com base nos arranjos internacionais para conservação e manejo de florestas e posteriormente baseados nos documentos firmados para a implementação do PPG7 na Amazônia. Em meados dos anos 1990, os enunciados, a imagem e a ação de novos agentes sociais organizados reivindicam participação nas decisões e ações desenvolvidas pelo poder público, nas novas iniciativas ambientais, propostas pelo governo brasileiro e pela cooperação internacional em um ambiente globalizado. Assim, o PPG7 foi considerado pelas instituições participantes, uma inovação, em comparação aos programas desenvolvidos na Amazônia, em décadas passadas, isso refletirá a nova evolução política e social e em novos acordos da CTI e, sobretudo, com a alemã. 3.4 AMAZÔNIA E A AGENDA GLOBAL Com essa descrição da trajetória histórica dos discursos, entendendo que instrumentos legais constituem peças discursivas foi possível evidenciar que a imagem da Amazônia esteve sempre vinculada à temática ambiental. Desde os relatos dos viajantes europeus do século

111 111 XVI aos dias atuais, no âmbito do mercado globalizado, o meio ambiente e a diversidade são os enunciados mais recorrentes a imagem e nos diferentes discursos sobre a Amazônia na contemporaneidade. A diversidade natural e sociocultural construíu no imaginário simbólico apresentando a Amazônia exótica, terra incógnita, Eldorado, paraíso ou inferno e natureza intocada, dentre outras enunciações. Sob esse ponto de vista, a Amazônia destaca-se pela natural grandiosidade, pela degradação ambiental e pela desigualdade social, menos referida por meio de estudos científicos, pois predomina o discurso impressionista, presença constante da mídia local, da nacional e da global. Desta forma, proporcionou maior repercussão à Amazônia, em especial, a partir da década de 1990, em que o desenvolvimento sustentável se firmou como tema das políticas econômicas globalizadas. Como já discutido anteriormente, vários fatores contribuíram para essa visibilidade, entre os quais a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - 92, a Agenda 21 e a implementação do PPG7 - Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil em 1995 (COSTA, 2006; HOMMA, 2003). A preservação da biodiversidade tornou-se a meta global, nacional e regional e os meios de comunicação passaram a divulgar as questões relacionadas ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável, para sensibilizar a opinião pública em torno da discussão sobre a preservação do meio ambiente. Foi durante os anos de 1990, em decorrência dessa discussão pública, que emergiu a campanha internacional pela defesa da Amazônia. Alguns países acusaram o desflorestamento da Amazônia de acabar com o último pulmão do planeta, cujas implicações poderiam ser desastrosas para diferentes regiões do mundo. (DUTRA, 2003). A produção de notícias e a circulação sobre o tema Amazônia nos diferentes espaços geográficos possibilitaram a visibilidade dos agentes sociais em esfera global, tendo desse modo, forte influência sobre a opinião pública dominante. A publicização da temática ambiental chamou a atenção da opinião pública com essas exposições na mídia. Afinal, esta apresenta diferentes sentidos sobre a temática ambiental e trouxe o assunto para o debate público. A partir da CNUMAD (1992), o debate liderado por ONGs internacionais e instituições de vários países, especialmente da Europa. ganha repercusão porque traduz os ideais sobre desenvolvimento sustentável noção hegemonizada e contestada e a preocupação com a preservação do meio ambiente. Isso resulta na pressão internacional sobre o Brasil com relação ao planejamento ambiental na Amazônia. A mídia do mundo

112 112 inteiro usa diferentes enunciados referente à Amazônia, tornando-se senso comum associar à Amazônia a sua grandiosidade e a sua biodiversidade (FERNANDES, 2006). Após esse momento, constata-se a construção de um campo ambiental trasnacionalizado na Amazônia. De acordo com Viola (1999) e Fernandes (2006), na década de 1990, a Amazônia deixou de ser um tema limitado às questões de fronteira política e segurança nacional, passou a ser um complexo espaço multidimensional modelado por poderes e ações de agentes sociais transnacionais. Durante essa década, a Amazônia alcançou importância na agenda da política mundial. Nesse sentido, por meio das negociações da política externa brasileira, há a contrução de um campo propício para as negociações sobre projetos ambientais. A Floresta Amazônica transformou-se em um símbolo no campo ambiental ocidental. Com essa imagem, constituiu um dos vetores principais da cooperação técnico-científica no cenário da globalização ecológica. Segundo Fernandes (2006, p ) isso não foi por acaso, no imaginário ecológico internacional e nos centros urbanizados do país, a existência da Amazônia está vinculada à imagem simbólica da floresta. Fernandes enfatiza que, A região tem sido alvo de esforço multilateral, envolvendo a participação de vários países, instituições financeiras e segmentos da sociedade civil mundial, tendo em vista o desafio da gestão coletiva das crises ecológicas globais. Sob esse ponto de vista, é preciso considerar o Fundo para o Meio Ambiente Global (Global Environment Facility- GEF), o Experimento de Grande Escala Biosfera-Atmosfera The Large Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in Amazônia (LBA ) o Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil - The Pilot Program to Conserve the Brazilian Rain Forest (PPG-7), dentre outros, além do envolvimento de Universidades e Centros de pesquisa com o objetivo de obter recursos humanos e tecnológicos para promover o desenvolvimento sustentável na Amazônia. Pode-se também acrescentar a mobilização de movimentos ativistas transnacionais, como o Greenpeace, WWF (World Wildlife Fund), Conservation International, FOE (Friends of the Earth) dentre um número significativo de ONGs e redes da sociedade civil. (FERNANDES, 2006, p ). Na parceria compartilhada para área da floresta, alguns membros como o PCF dispõem de assistência técnica e assessoria científica globalizada. Vários membros como o Banco Mundial, a OIMT, o GEF e a FAO provêm de recursos diretos para projetos florestais. Há também membros que buscam incentivos por meio de programas de trabalho e outras estratégias como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) 54 do Protocolo de Quioto, 54 O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) refere-se a um dos mecanismos de flexibilização criados no contexto das discussões e acordos do Protocolo de Quioto, cujo objetivo é auxiliar o processo de redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE) ou de captura de carbono (ou sequestro de carbono) por parte dos países industrializados, que fazem parte do anexo I. Nesse acordo, os países em desenvolvimento podem implementar projetos que contribuam para a sustentábilidade que apresentam uma redução ou captura de emissões de gases causadores do efeito estufa, obtendo como resultado as Reduções Certificadas de Emissões

113 113 o programa de biodiversidade florestal da CDB e a estratégia global da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação. O TCA, assinado em 1978, revitalizado pela criação da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), a Associação das Universidades Amazônicas (UNAMAZ), fundada em 1987 e a implantação do Sistema de Informação da Amazônia (SIAMAZ), em Essas instituições juntamente com um número significativo de ONGs e redes da sociedade civil nacional e internacional possibilitaram a interação, trocas de experiências e avanços institucionais entre os países da Pan-Amazônia. Essas relações institucionais resumem a atual configuração de diferentes interesses, experiências e discursos no campo ambiental da Amazônia. Ancorado nessa imagem, a partir da década de 1990, o Brasil é apresentado e visto como referência para a cooperação internacional pelas inúmeras vantagens que emergem de sua biodiversidade. Desse modo, a Amazônia torna-se um extenso espaço para investimentos e implementação de programas, projetos e pesquisas voltados para a preservação do meio ambiente e experiências sustentáveis. Assim, passa a configurar-se no campo da globalização e da política ambiental, como conceituado por Viola (1999): [ ] Entende-se por globalização da política ambiental as seguintes dimensões principais: 1- a transnacionalização em graus diversos dos atores nacionais da política ambiental nacional (agencias governamentais, empresas, ONGs) combinado com o aumento da presença de atores plenamente transnacionais (ONGs transnacionais, corporações transnacionais, bancos multilaterais, agencias da ONU, comunidade cientifica) produzindo a formação de clivagens e alinhamentos transnacionalizados. (VIOLA, 1999, p. 84) 55. A partir do boom na mídia da implementação do PPG7, em 1995, juntamente com a pressão internacional, houve a formação de clivagens e alinhamentos transnacionalizados dos agentes sociais nacionais e internacionais. Com a globalização da política ambiental, como citado por (VIOLA, 1999), a Amazônia passa a contar com a colaboração técnica e científica de fundos de cooperação internacionais que chegam à região propondo desenvolver projetos ambientais (GTZ, GFA, DFID, EFEM, USAID). De acordo com o MMA (BRASIL, 2009, p. 12) 56, a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, celebrada no Rio de Janeiro em 1992, o debate internacional sobre florestas alcançou importante papel na agenda internacional. As questões relacionadas ao manejo sustentável dos recursos florestais teve um tratamento (RCEs, ou na sigla em inglês, CERs). Desse modo, os RCEs emitidos pelo Conselho Executivo do MDL, podem ser negociados no mercado global. Ver mais detalhes sobre Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), (BRASIL, 2010). 55 Ver mais detalhes da conceituação sobre a globalização e a transnacionalização na Amazônia: (VIOLA, 1999). 56 Ver mais detalhes sobre esses acordos (BRASIL, 2005).

114 114 abrangente e passou a ser requisito importante nas negociações internacionais. A partir de então, alguns documentos e eventos relacionadas às questões de florestas contribuíram de sobremaneira para isso. Os Princípios sobre Florestas, na Agenda 21, e no Fórum das Nações Unidas sobre Florestas (UNFF) 57, criado pela Resolução 2000/35, do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC), ainda, segundo o Ministério do Meio Ambiente (WUNDER, 2009), o mandato foi prorrogado até 2015 pela Resolução 2006/49 do ECOSOC. Desde 1992, o Brasil participa das discussões sobre florestas no plano multilateral e defende os sistemas florestais (tropicais, boreais e temperados) e no tratamento (econômico, comercial, social, cultural e ambiental) o manejo sustentável dos recursos florestais. A discussão sobre florestas é abrangente, uma vez que, o assunto é relevante e, em especial no que se refere à conservação e uso sustentável da biodiversidade, a promoção do desenvolvimento sustentável e a proteção dos recursos hídricos dentre outros tópicos inclusos nesse debate. Outras questões importantes inclusas ainda nesse item e discutidas por meio dos arranjos internacionais pelas organizações e programas (UNFF, FAO, Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), IUFRO) é a repartição justa e eqüitativa dos benefícios resultantes da utilização de recursos genéticos e a valorização de conhecimentos tradicionais. De acordo com o MMA (BRASIL, 2009b, p. 11), as organizações e os arranjos internacionais para conservação e manejo de florestas estão estruturados de forma institucional da seguinte maneira: [...] conta com a Collaborative Partnership on Forests (CPF), criada em 2001, que congrega importantes instituições internacionais como a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o Banco Mundial, o Centro Internacional de Pesquisa Florestal (CIFOR), a Organização Internacional de Madeiras Tropicais (OIMT), a União Internacional de Instituições de Pesquisa Florestal (IUFRO), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o Centro Mundial Agroflorestal (ICRAF), União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), além dos Secretariados da Convenção de Diversidade Biológica (CDB), do Foro das Nações Unidas sobre Florestas (UNFF), e da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). O CPF 57 O UNFF é o foro multilateral de cunho universal inteiramente dedicado à concentração de posições e interesses sobre o assunto. O Foro integra o novo arranjo internacional sobre florestas e foi criado com vistas a dar continuidade aos processos do Painel Intergovernamental sobre Florestas (IPF), de 1995 a 1997, e do Fórum Intergovernamental sobre Florestas (IFF), de 1997 a O objetivo do UNFF é a promoção do manejo, a conservação e o desenvolvimento sustentável de todos os tipos de florestas, bem como fortalecer o compromisso político na área. A 7ª Sessão da UNFF realizou-se em abril de 2007 e aprovou Programa Plurianual de Trabalho, bem como Instrumento Juridicamente Não Vinculante Sobre o Manejo Sustentável de Todos os Tipos de Florestas, os quais nortearão as atividades do Foro até (BRASIL, 2010).

115 115 tem como meta apoiar o trabalho do UNFF e de seus países membros na promoção da cooperação internacional sobre o tema. (BRASIL, 2009b, p. 11). Em decorrência desses arranjos institucionais, a maioria dos projetos socioambientais na Amazônia, inclusive no âmbito do PPG7, está inserida em programas do governo e da sociedade brasileira, em parceria com países e instituições internacionais, que afirmam ter como finalidade desenvolver estratégias para a promover o desenvolvimento sustentável e a preservação das florestas tropicais (BRASIL, 2009). Com essa finalidade recursos financeiros, maiormente da Alemanha, foram canalizados pela cooperação internacional como mostra a Tabela 1 que indica os valores da participação da cooperação internacional no PPG7 por países. Em 2002 a participação financeira da Alemanha é quase três vezes maior que a da União Europeia. Origem Tabela 1 Valores de financiamento PPG7 Rain Forest Trust Fund Contratado US$ Projetos Fonte: Banco Mundial (2004) Prometido US$ Total US$ Alemanha 19,35 87,60 64,31 171,27 União Europeia 14,05 43,52 6,77 64,34 Reino Unido 2,32 20,27 0,73 23,32 Estados Unidos Paises Baixos 6,25 3,95 9,15 19,35 4,88 0,48 4,26 9,63 Japão 6,80 0,45 7,25 Itália 3,85 3,85 França 1,41 1,41 Canadá 0,74 0,74 Brasil - governo Brasil - municipais 28,75 10,86 39,61 5,00 5,00 Total 58,25 191,44 96,08 345,77

116 116 A cooperação ambiental entre a União Europeia e o Brasil centraliza-se em projetos destinados a promover o desenvolvimento sustentável e a preservação das florestas tropicais do país, especialmente através do Programa Piloto para Conservação das Florestas Tropicais Brasileiras, o PPG7. O volume global de recursos repassados pela União Europeia a esses projetos atinge um total superior a 100 milhões (US$ 90 milhões) 58. (EIB, 2009). O slogan passa a ser Promover o desenvolvimento sustentável e a preservação da floresta presente nos discursos de diferentes mídias e no material promocional das Agências de Cooperação Internacional, ONGs e organizações que implementaram, a partir de 1992, os projetos socioambientais na Amazônia. Sob essa descrição, a leitura bibliográfica aponta que, além das instituições internacionais que aportaram na Amazônia durante os anos de implementação do PPG7, há vários agentes sociais com diferentes interesses, notadamente, nos setores de energia, construção de estradas, agricultura. Há uma infinidade de empreendimentos e projetos atuando nessa área, mas destacam-se os mais recentes e polêmicos, os grandes projetos de usinas hidrelétricas, Santo Antonio e Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia, Belo Monte e outras que constam no planejamneto do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC). Desde 2002, posições criticas e diferenciadas a estas são debatidas nos eventos que mobilizam agentes sociais, movimentos e organizações da sociedade civil nos Fórum Social Pan- Amazônico. A obra Populações tradicionais Questões de terra na Pan-Amazonia organizado por Rosa Acevedo Marin e Wagner Berno Almeida (ACEVEDO MARIN, 2006), traz informações relevantes sobre esse dilema na Amazônia. O governo federal iniciou a construção de três hidrelétricas gigantes na Amazônia. Duas delas, a de Santo Antônio e a de Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia, constam do PAC. No planejamento do governo, as construções no Rio Madeira começariam em 2008, de modo que Jirau entrasse em operação em 2011 e Santo Antônio em Com capacidade somada de megawatts, as duas usinas poderiam atender sozinhas ao consumo do estado do Rio de Janeiro. A terceira hidrelétrica, a de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará, proporcionaria ainda mais energia, megawatts, e também está no PAC. A Revista Veja, edição 2002, de 4 de abril de 2007, informa que a construção dessas hidrelétricas é feita com tecnologia 58 Ver projetos financiados pelo European Investiment Bank - Banco Europeu de Investimentos (BEI) em: (EIB, 2009). Criado em 1958 com o objetivo de promover a integração econômica e o desenvolvimento sustentável das Comunidades Europeias, o Banco Europeu de Investimentos é uma instituição de crédito sem fins lucrativos. Atua por meio de do financiamento de projetos de investimento é uma instituição cujo capital é detido pelos quinze Estados Membros da União Europeia. O BEI tem a função de implementar a colaboração financeira de acordos com países terceiros, concluídos no âmbito das políticas de cooperação e ajuda ao desenvolvimento das Comunidades Europeias. Neste âmbito, o Banco atua através do financiamento de projetos viáveis do setor público e privado que promovam o desenvolvimento sustentável do país beneficiário, nomeadamente através da promoção de joint-ventures entre operadores locais e empresas da União Europeia.

117 117 menos agressiva ao ambiente, novas usinas na Amazônia evitarão repetir os desastres de Balbina e Tucuruí (TEIXEIRA, 2007) 59. De acordo com Almeida (2009), a construção das três usinas previstas para a Amazônia desafia questões ambientais, sociais e econômicas. Belo Monte, no Pará, foi projetada ao lado de florestas com grande biodiversidade e proxima dez tribos indígenas e as usinas do Rio Madeira próximas de áreas preservadas e de terras indígenas e distante dos centros de consumo. Há vários estudos com evidências comprobatórias que, os povos tradicionais, ribeirinhos, extrativistas e quilombolas residentes na região amazônica não são contemplados com os benefícios da energia ali gerada 60. Nesse campo ambiental, de commodities e de negócios globais como as hidrelétricas, a mineração, o cultivo de soja e outros, há convergências e divergências de interesses nacionais e subnacionais de diferentes agentes sociais. Nesse campo, encontram-se os negócios sustentáveis (econegócios) e a agricultura e negócios de subsistência dos povos tradicionais e os projetos socioambientais implementados pelo Governo, organizações da sociedade civil organizada e a cooperação internacional, Alemanha, EUA, Inglaterra, dentre outros países que buscam acordos comerciais, científicos e ambientais na Amazônia. Esse confronto de interesses antagônicos, em alguns casos, tem provocado conflitos e implicações políticas, sociais e ambientais com os projetos que pretendem se desenvolver de forma sustentável. Nessa convergência e divergência de interesses foi estruturado o trabalho da consultoria técnica alemã com objetivos de implementar projetos ambientais sustentáveis na Amazônia. Alguns países, por meios das suas agências bilataterais, como é o caso da Alemanha com a organização GTZ que atuava em projetos sociais na Amazônia desde 1987 (PRORENDA ) 61 vai ampliar sua atuação na Amazônia e na Mata Atlântica brasileira a partir do início da implementação do PPG7. Desse modo, no âmbito do PPG7, a partir de 1995, esses projetos ganharam visibilidade e novos parceiros, pois foram ampliados para projetos socioambientais com objetivos baseados em metas globalizadas, incorporando os temas com enunciados do desenvolvimento do milênio propostos no ano 2000 pela ONU com base nos já citados 59 Para uma leitura critica sobre o Projeto da AHE Belo Monte consultar: Movimento Xingu Vivo para Sempre. Ver também: SANTOS, Sônia Maria Simões Barbosa Magalhães, HERNANDEZ, Francisco del Moral (Org.). Painel de Especialistas: Análise Crítica do Estudo de Impacto Ambiental do Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte Ver, mais detalhes sobre o impacto desses projetos nas populações tradicionais, criticas e debate sobre essas questões em: (ALMEIDA, 2009). 61 Ver mais dados sobre o Projeto PRORENDA e a cooperação técnica Brasil Alemanha em: (MIRANDA, 2004).

118 118 arranjos internacionais para a preservação das florestas tropicais. Nesse momento, essas ações passam a ser mediadas também pelas relações exteriores por meio de acordos e contratos com a ABC, que juntamente com outros agentes sociais trasnacionais, passam a fazer parte do campo ambiental da Amazônia no que se refere a projetos sociambientais e CTI. O papel institucional da ABC nessa nova conjuntura política em que a prioridade das relações internacionais passa ser a questão ambiental, assim como as diferentes fases da cooperação técnica no Brasil será descrita a seguir. 3.5 A CONFIGURAÇÃO DOS AGENTES SOCIAIS: A AGÊNCIA BRASILEIRA ABC A implementação do PPG7 na Amazônia ( ), conforme MMA (BRASIL, 2009, p, 11) resultou no desenvolvimento de abordagens e iniciativas inovadoras de cooperação internacional, direcionadas a problemas ambientais globais em uma estrutura institucional complexa, envolveu vários agentes sociais em acordo multilaterais. Nesse contexto, para melhor compreender essa estrutura da cooperação internacional na Amazônia, nesse momento é necessário descrever o papel e a importância dos principais agentes sociais envolvidos. Na descrição dos principais agentes sociais começamos por um dos mais importantes, a ABC, cujo trabalho envolve a concepção, apresentação, mediação e monitoramento dos projetos de CTI. Desse modo, a discussão a seguir, não só descreve seu papel na concepção e mediação dos projetos de cooperação internacional, como relata o contexto político e social, em que se deu a sua criação e estruturação do seu trabalho no contexto da CTI. Com as mudanças e transformações sociais introduzidas no pós-guerra, entre 1945 e 1949, houve a inserção da CTI no sistema internacional. No início das ações da CTI, a palavra-chave era ajuda para a reconstrução da Europa com forte enfoque para o desenvolvimento. Entretanto, nesse campo, as duas superpotências Estados Unidos e União Soviética, tinham a estratégia da montagem de seus sistemas de aliança (Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN e Pacto de Varsóvia) e a manutenção política das zonas de influência estruturada entre norte e sul. Desse modo, a CTI emerge em um contexto estratégico de relação de poder e, por essa razão, não tinha um único objetivo, mas interesses e metas distintas. Assim, suas atividades, por décadas, tinham objetivos dispersos, a merce do campo político.

119 119 As premissas iniciais da CTI estavam embasadas em três elementos: 1. transferência não-comercial de técnicas e conhecimentos; 2. desnível quanto ao desenvolvimento alcançado por prestador e receptor; 3. estudos e pesquisas, execução de projetos em conjunto, envolvendo peritos, material bibliográfico, equipamentos e formação (treinamento) de pessoal. De acordo com Cervo (1994, p.4), a CTI foi formalmente instituída, de acordo com esse conceito original, pela Resolução nº 200 de 1948 da Assembléia Geral das Nações Unidas. Nessa fase, a ONU lançava seu programa multilateral e, em 1949, os Estados Unidos apresentou o Primeiro Programa de Cooperação Técnica Bilateral para os países subdesenvolvidos (então o termo em voga). O referido autor, observa que, com isso se pretendia reforçar o aspecto conceitual de ajuda ou assistência, com a possibilidade de utilizar a CTI para fins econômicos ou ideológicos, em detrimento da cooperação entre as partes. A ambivalência entre a ajuda para aliviar efeitos da pobreza e a capacitação para o desenvolvimento persistiu pelos anos cinqüenta, prevalecendo o primeiro sobre o segundo significado na cooperação técnica que se implementava. (CERVO, 1994, p. 6). É desse modo que os Estados Unidos e depois vários países da Europa, em especial a Alemanha passaram a se organizar politicamente para atuar na CTI. Em síntese, para esses países, a CTI passa ser o espaço oportuno para juntamente com a ajuda construir uma imagem positiva, ampliar acordos comerciais e promover visões ideológicas. A cooperação técnica para o desenvolvimento da Alemanha teve início em 1952, na reconstrução do pós-segunda guerra. O intuito era estabelecer uma política de relações internacionais, mas para isso, o país desenvolveu uma nova estrutura política e econômica e ampliou suas relações comerciais, além das fronteiras da Europa e da América do Norte. Seguindo a tendência da política externa mundial, o Governo Brasileiro, em 1950, teve a primeira iniciativa de implementar um Sistema de CTI, quando criou a Comissão Nacional de Assistência Técnica (CNAT) - composta por representantes governamentais: da Secretaria de Planejamento, do Ministério das Relações Exteriores e de ministérios setoriais. O principal objetivo desta Comissão era estabelecer a prioridade dos pleitos de instituições brasileiras solicitantes de ajuda técnica do exterior, fornecida por países industrializados com os quais o Brasil mantinha acordos específicos de transferência de tecnologia sob a forma de cooperação (BRASIL, 2009). A CNAT desenvolvia estudos relativos à participação do Brasil em programas de assistência técnica das Nações Unidas e também da Organização dos Estados Americanos.

120 120 Em 1969, o sistema institucional foi reformulado, centralizando as competências básicas de CTI (negociação externa, planejamento, coordenação, fomento e acompanhamento) na Secretaria de Planejamento da Presidência da República (SEPLAN) e no Ministério das Relações Exteriores (MRE), órgãos centrais responsáveis pela sua gestão. A partir deste momento, identificou-se um volume crescente de programas e projetos de cooperação oficial entre o Brasil, o beneficiário, e países e organismos internacionais, inclusive, organizações estrangeiras não governamentais, doadores. Sendo assim, visou-se necessário, devido ao expressivo volume de recursos externos postos à disposição das instituições brasileiras de ensino e de pesquisa, fortalecer o Sistema e adequar a demanda às diretrizes e prioridades definidas nos Planos Nacionais de Desenvolvimento. Nos anos 1970, o Brasil gozava da imagem de um país em desenvolvimento e tinha os meios de comunicação de massa e a opinião pública favorecendo as negociações externas no contexto do regime da ditadura. Assim, nos anos 1980 havia grande demanda para a cooperação. No entanto, a exemplo de Cervo (1994), alguns autores (Oliveira, 2005; Sarfati, 2005) esclarecem que nos anos 1980 houve uma tendência para a crise e observou-se que isso foi quanto aos fins e quanto ao desempenho da CTI no Brasil. Contribui para essa fase, o fato do Brasil ter avançado muito no domínio do conhecimento técnico e, com isso, dispensou a transferência de prestação de serviços do exterior. Desse modo, buscava-se o avanço tecnológico, e isso não era doado pelas nações mais avançadas, exigia habilidade e negociação. Além disso, em 1980, o Brasil estava modificando e estruturando seu perfil em termos de cooperação internacional, desse modo, passava de receptor de assistência do Norte a prestador de assistência aos países em desenvolvimento (emergentes). Nessa nova estruturação, essa cooperação seguia o exemplo da experiência dos países do Norte, e assim conseguiu fortalecer seus interesses externos. A partir de 1984, já se delineava a necessidade de outra reformulação dos mecanismos de gestão do Sistema, com o propósito de garantir melhor desempenho gerencial, que apresentava um duplo comando, a Divisão de Cooperação Técnica do Itamaraty e a Sub- Secretaria de Cooperação Econômica e Técnica Internacional (SUBIN). Enquanto a SUBIN desempenhava as funções técnicas, tais como, prospecção, análise, avaliação e acompanhamento de projetos - a Divisão era encarregada dos aspectos políticos da cooperação técnica. Essas funções fundiram-se com a extinção da SUBIN e da Divisão de Cooperação Técnica e com a criação da ABC no âmbito do MRE, representou um avanço no sentido de

121 121 dotar o país de uma Agência especializada em CTI, unificando assim as funções técnica as de política externa. Desse modo, até 1987 ainda não existia no Brasil um sistema autônomo e específico para CTI, pois todos os órgãos que dela se ocupavam também exerciam outras modalidades de cooperação internacional, a cooperação científica, financeira, econômica, comercial, empresarial, tecnológica e acadêmica, dentre outras. Assim, o sistema brasileiro de CTI constituiu-se em um órgão central de planejamento, gestão e controle em uma fase em que o desempenho das atividades prestadas pelo sistema já estava em decadência. (CERVO, 1994). Em 1987, foi criada a Agência Brasileira de Cooperação, por meio do Decreto Nº , como parte integrante da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), vinculada ao MRE. A ABC tinha por finalidade, no âmbito do Sistema de CTI, operar em programas de cooperação técnica em todas as áreas do conhecimento, entre o Brasil e outros países e organismos internacionais, nos termos da política externa brasileira. Desde 1989, a ABC exerce suas atividades em três instâncias: 1. Cooperação Técnica Recebida Bilateral (CTRB), 2. Cooperação Técnica Recebida Multilateral (CTRM) e 3. Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD). Embasada nessas três instâncias, a agência se propõe, (1) orientar as instituições nacionais sobre as oportunidades existentes no âmbito dos vários acordos de Cooperação Técnica Internacional (CTI) firmados pelo Brasil; (2) apoiar as instituições na formulação dos projetos; (3) coordenar, na condição de órgão oficial responsável pela Cooperação Técnica Internacional (CTI), a negociação entre as instituições cooperantes e solicitantes. (BRASIL, 2009a). Com base nessas três instâncias, monitora a execução dos projetos e divulga informações sobre o seu desenvolvimento e sobre os resultados obtidos. Avalia o alcance e a repercussão de cada projeto de cooperação encerrados à luz dos objetivos propostos. Assim, intensifica e estreita os laços políticos e econômicos do Brasil, por meio da transferência de tecnologias e de soluções criativas, baseadas na experiência. nacional de desenvolvimento, para países da América Latina, Caribe, África, Leste Europeu, Ásia e Oriente Médio. (BRASIL, 2009a). A ABC enfrentou algumas dificuldades em suas tarefas, somadas a problemas de rotatividade em seu quadro de pessoal e à falta de conhecimento técnico, e principalmente no acompanhamento e na avaliação dos projetos implantados. Observa-se também que técnicos experientes nas negociações de cooperação transferia-se para a área de cooperação prestada, indiciando o fortalecimento do papel brasileiro como prestador de cooperação técnica. Apesar dos esforços feitos com as reformulações, ainda persistia a necessidade de alguns ajustes adicionais no modelo institucional adotado. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) foi um importante parceiro para a construção da Agência,

122 122 apoiando na estruturação e na implementação de projetos, entre outros. O objetivo maior dessa cooperação foi o de fortalecer a Agência recém criada pelo Governo brasileiro, obedecendo a uma visão de longo prazo de dotar o País de autonomia na área, sem descuidar de obter resultados concretos no curto e médio prazos. De acordo com Cervo (1994), a criação da ABC ocorreu em um momento de mudanças na orientação dada à cooperação para o desenvolvimento pelos organismos internacionais. No final dos anos 1980, as Nações Unidas realizavam estudos para estimular o controle, por parte dos países em desenvolvimento, dos programas de cooperação técnica implementados pelos organismos que integravam seu sistema. Até então, existia a chamada "Execução Direta", aquela efetuada pelos próprios organismos internacionais, cooperantes, que detinham a responsabilidade tanto da gestão administrativo-financeira, como da condução técnica dos projetos nos países beneficiados. Cervo (1994) aponta que para mudar essa situação, a Assembleia das Nações Unidas aprovou resolução, em 1989, recomendou a implementação de política de "Execução de Governo", mais tarde consolidada na expressão "Execução Nacional de Projetos", com o objetivo de promover maior domínio e responsabilidade dos países em desenvolvimento sobre os programas de cooperação técnica implementados em parceria com organismos integrantes do sistema das Nações Unidas. Para o referido autor, nas décadas de 1960 a 1990, o trabalho da cooperação técnica era com ênfase ao crescimento econômico, no modelo predominante daquele período. Em 1992, seus objetivos ampliaram-se à administração dos projetos desenvolvidos com organismos internacionais e a ABC passou a desenvolver sua ação em coordenação com o Departamento de Cooperação Científica, Técnica e Tecnológica do Ministério das Relações Exteriores. Também nessa fase são incorporados acordos de cooperação técnica envolvendo temas como o meio ambiente, igualdade de gênero, entre outros. Em resumo, nessa fase, a agência atua entre três instâncias: 1.Cooperação Técnica Recebida Bilateral (CTRB), a 2. Cooperação Técnica Recebida Multilateral (CTRM) e a 3. Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD). Alicerçada nessas três instâncias, a agência se propõe vários tipos de trabalho de assessoramento no âmbito da cooperação internacional técnica como: orientar as instituições nacionais sobre as oportunidades existentes no âmbito dos vários acordos de CTI firmados pelo Brasil; apoiar as instituições na formulação dos projetos; coordenar, na condição de órgão oficial responsável pela CTI, a negociação entre as instituições cooperantes e solicitantes, dentre outras

123 123 atividades. A ABC exerce um papel importante por ser um dos órgãos intervenientes nos acordos assinados que envolvam a CTI. No ano de 1996, a ABC integrada à Secretaria-Geral do Ministério das Relações Exteriores, por meio do Decreto n /96, passou a ser um órgão da Administração Direta, com a finalidade de coordenar, negociar, aprovar, acompanhar e avaliar, em âmbito nacional, a cooperação para o desenvolvimento em todas as áreas do conhecimento, recebida de outros países e organismos internacionais e entre o Brasil e países em desenvolvimento. (CERVO, 1994). E desde a constituição do sistema interministerial, a cooperação técnica no Brasil sofreu poucas alterações em sua concepção enquanto aporte ao desenvolvimento científico e tecnológico. O foco brasileiro direcionava-se à transferência de tecnologia em setores de infraestrutura econômica, ao passo que muitos doadores, desde os anos 1970, disponibilizavam seus recursos para projetos sociais nos países mais pobres. A falta de recursos externos concernentes com os objetivos brasileiros, aliada à falta de estabelecimento de diretrizes claras para a cooperação técnica nos planos de desenvolvimento e aos gargalos gerados pelo clientelismo, levou a uma aceitação da oferta estrangeira sem uma análise dos custos de oportunidade e pouco acompanhamento dos resultados. Na fase de transição, que originou a ABC, buscou-se revitalizar a cooperação técnica recebida, por meio do estabelecimento de programas setoriais com cada fonte externa, para evitar a duplicação de recursos em uma mesma área (BRASIL, 2009, p.02). Apesar de ainda dominante o interesse brasileiro pela transferência de tecnologia para a indústria, alguns setores como o desenvolvimento comunitário, saúde, educação, saneamento e proteção ambiental estavam fortalecidos. Exemplo representativo da convergência dos interesses internos e externos foram às negociações com a Alemanha em 1986, que sugeriram ao governo brasileiro concentrar seus esforços conjuntos, em quatro áreas, relacionadas ao desenvolvimento municipal, ao desenvolvimento rural, à proteção ao meio ambiente e ao treinamento profissional. A cooperação Brasil-Alemanha contribuiu significativamente com a cooperação técnica no Brasil, uma vez que esse relacionamento direcionou o desenvolvimento de novas concepções sobre essa atividade. Nesse aspecto, não só mostrou o papel da CTI, como também a troca de experiência, a influência e o know how exercido pelo país-doador na configuração dos objetivos e instrumentos de implantação de iniciativas de desenvolvimento local em alguns estados brasileiros e posteriomente, em 1987, na Amazônia na implatação do Programa PRORENDA.

124 124 Nas décadas de 1960 a 1990, a CTI teve a função de disseminar os efeitos sociais do desenvolvimento, tendo em vista que o modelo de desenvolvimento adotado pelo Brasil havia dado ênfase ao crescimento econômico em detrimento dos aspectos sociais, como apontado por Cervo (1994) e afirmado por Miranda (2004), somente no final da década de 1980 esse papel foi claramente elaborado em um programa de maior amplitude, no âmbito das relações Brasil-Alemanha. Esse dado ratificado pelos resultados dessa pesquisa na Alemanha e no Brasil, mas em virtude da data ( ) da pesquisa de Cervo (1994), não era possível mensurar resultados sobre a experiência das relações Brasil-Alemanha na Amazônia. Após o final dos anos 1980, e em especial em meados dos anos 1990, as relações Brasil-Alemanha ficaram mais estreitas no âmbito do meio ambiente em consequências de acordos internacionais relacionados à Amazônia e às regiões de Mata Atlântica no Brasil. O que se observou, em entrevista com alguns consultores brasileiros e peritos alemães (MMA, GTZ, GFA) no período de fevereiro de 2008, foram apenas alguns enunciados que convergiam para o argumento: Nos não formulamos projetos, a concepção, a formulação e as necessidades são elaboradas pela ABC 62 (Informação verbal). Na execução da implementação dos projetos ambientais na Amazônia consta uma série de conflitos institucionais de ambos os países (Alemanha e Brasil). Embora, haja a evidência de conflitos institucionais e ideológicos, a experiência e a amplitude do PPG7 exigiu esforços sobremaneira da cooperação técnica de vários países que necessitaram ampliar seu raio de ação para atingir o campo social e ambiental na Amazônia Legal. Além dessas descrições de atividades, destaca-se a cooperação triangular, no qual o Brasil atua como intermediador na implementação de projetos entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Conforme conceituação da ABC, Triangulação é a modalidade de Cooperação Técnica na qual dois países implementam ações conjuntas com o objetivo de prover capacitação profissional, fortalecimento institucional e intercâmbio técnico para um terceiro. O Brasil, à medida que alcança gradações mais altas nos fóruns internacionais, aparece como nação central para este tipo de política de cooperação. O país possui um número expressivo de instituições de excelência em diversas áreas do conhecimento, mantém com os demais países em desenvolvimento laços culturais de amizade e apresenta um histórico de superação dos problemas comuns às nações do chamado terceiro mundo. (BRASIL, 2009a, p. 8). Com essa estratégia, o Brasil tem atraído vários parceiros para as ações de triangulação: o Japão, considerado pela ABC, o maior parceiro, representado pela Japan International Cooperation Agency (JICA); a Inglaterra, com o Department for International 62 Entrevista concedida em 28 de fevereiro de 2008, durante evento realizado em Berlim, Klima und Wandel in Amazonien Clima e mudanças na Amazônia.

125 125 Development (DFID) e a Alemanha, por meio da Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (GTZ), objeto de estudo dessa pesquisa (BRASIL, 2009). Vale ressaltar que o (DFID) teve participação efetiva juntamente com a GTZ no contexto do PPG7 na Amazônia, discutido mais adiante. Observa-se que a CTI por meio da ABC, ampliou suas atividades em várias áreas seguindo as tendências da agenda nacional e global. Nas últimas décadas, a CTI do Brasil se revestiu de experiência e direcionou seus esforços para apoiar o desenvolvimento. Grosso modo, os fatores internos que resultaram no êxito da CTI do Brasil foram o desenvolvimento de um sistema nacional eficiente, cuja racionalidade se ocupou da cooperação e da elevada capacidade de atração exercida sobre os agentes sociais externos. Comparados ao início das atividades da ABC, os resultados, considerados relevantes para o desenvolvimento brasileiro, conseguiu atingir as condições básicas de vida da população por meio de alguns projetos. A conclusão de Cervo (1994) converge para esta observaçao, com acrescimos criticos, baseada em resultados da pesquisa e organização de um banco de dados, envolvendo a ação de 333 agências nacionais e estrangeiras e a execução de projetos. Esses números dizrm respeito à quase totalidade do que representou a experiência brasileira de CTI dos anos 1960 aos anos Na conclusão de Cervo, O Brasil procurou e teve êxito até certo limite em extrair da inteligência internacional conhecimentos e tecnologias avançadas. Mas o objetivo de repassá-los aos agentes sociais não foi alcançado como convinha. Um volume significativo de conhecimentos socialmente úteis permaneceu enclausurado em relatórios não divulgados. Assim mesmo, a experiência brasileira de cooperação técnica produziu efeitos sociais de grande alcance, em razão da multiplicidade de projetos através de cujas ações atingiam-se numerosos grupos de produtores e consumidores. (CERVO, 1994, p.6 grifos nossos). É a constatação da realidade das instituições públicas e, às vezes, organizações privadas com dificuldade de difundir e distribuir a informação. A conclusão do autor aponta para a problemática da difusão e intercâmbio da informação, que via de regra, não é planejada ou inserida nos projetos de cooperação e o mesmo pode ser observado nos diversos campos, inclusive no ambiental no contexto da Amazônia. Essa deficiência comunicacional também foi identificada por consultores do IAG quando visitaram algumas comunidades na Amazônia. Constataram que muitas desconheciam que faziam parte de determinado projeto socioambiental. Do mesmo modo, desconhecem as dificuldades e os problemas relacionados ao desmatamento e às mudanças climáticas, como verificadas pelos estudos de Brondizio (2008, p. 1803). Segundo esse estudo, a falta de

126 126 informação limita a capacidade de pequenos agricultores da Amazônia em se adaptar às mudanças climáticas 63. Essa conclusão abrange a Amazônia no período aqui estudado ( ) e reflete justamente a pouca, ou quase nenhuma comunicação estabelecida, não só entre as instituições da cooperação técnica, como também em relação às comunidades tradicionais envolvidas nos projetos socioambientais, que em alguns casos nem sabem da existência da ABC, mesmo aquelas beneficiadas pelos acordos e pela mediação da CTI. Cabe destacar ainda, que esses dados apontado por Cervo (1994) e Brondizio (2008) não vem do campo da comunicação social e tampouco da própria CTI, mas de diferentes campos das ciências sociais, respectivamente das relações internacionais e da antropologia. Portanto, a conclusão dos estudos dos dois autores (CERVO, 1994; BRONDIZIO, 2008) resumem a complexidade da distribuição desigual da informação, não só na Amazônia, mas em toda a sociedade brasileira. Na visão de Ribeiro (2002, p 20), o campo ambiental é composto por cinco segmentos de diferentes agentes sociais: agências governamentais, órgãos ou instâncias do Estado brasileiro; as agências multilaterais e bilaterais de financiamento e cooperação, nesse contexto destaca-se o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Organização das Nações Unidas; o capital privado, ou seja, o agrupamento de empresários conscientes da produção responsável e não predatória aos recursos naturais; ONGs nacionais e internacionais e, as populações locais que participam nos processos de desenvolver projetos ambientais, representadas por mediadores e/ou movimentos sociais. No que se refere às ONGs, essa descrição de Ribeiro (2002, p 20) pode ser constada na ata da 5º Reunião dos Participantes do PPG-7, na Declaração de Organizações Não- Governamentais realizada em Brasília, na data de 28 de outubro de Além dos principais agentes sociais, citado pelo autor, o programa PPG7, em 1999, já contava com um número expressivo de agentes sociais e ONGs, sendo estes: 1. Amigos da Terra - Programa Amazônia 2. Amigos da Terra Brasil 3. APREMAVI (Associação de Preservação do Meio Ambiente do Alto Vale do Itajaí) 63 A análise foi feita pelos pesquisadores Eduardo Brondizio e Emilio Moran, em artigo publicado na revista Philosophical Transactions B, da Royal Society, em edição dedicada à Amazônia. Human dimensions of climate change E. S. Brondizio & E. F. Moran (2008, p ), versão online.

127 EDF (Environment Defense Fund) 5. EWGA (European Working Group on Amazônia) 6. Fundação SOS Mata Atlântica 7. GAMBÁ (Grupo Ambientalista da Bahia) 8. Greenpeace 9. GTA (Grupo de Trabalho Amazônico) 10. IDA (Instituto de Desenvolvimento Ambiental) 11. INESC (Instituto de Estudos Socio-Econômicos) 12. ISA (Instituto Socioambiental) 13. ISPN (Instituto Sociedade, População e Natureza) 14. Rede Alemã de Florestas Tropicais do Brasil 15. Rede Mata Atlântica 16. SASOP (Serviço de Assessoria às Organizações Populares Rurais) 17. WWF (Fundo Mundial para a Natureza) A participação de agentes sociais na Amazônia estaria relacionada não só ao acordo firmado no PPG7, como também aos acordos da ABC, acordos bilaterais para o desenvolvimento. Com a participação da Alemanha como principal doador do programa e a contribuição de demais países, completa-se o rol de agentes sociais internacionais em prol de novas ações ambientais na Amazônia. Assim, as ações implícitas na implementação de projetos socioambientais na Amazônia fazem parte das diferentes fases da cooperação técnica internacional do Brasil. 3.6 AS FASES DA COOPERAÇÃO TÉCNICA INTERNACIONAL NO BRASIL Para introduzir a discussão sobre a CTI e seus principais agentes sociais e objetivos no âmbito do PPG7, é necessário primeiramente conceituar o papel e o objetivo das agências de cooperação internacional e das organizações não-governamentais. Essa questão, às vezes, não é tão clara e refere-se à diferença entre agência de cooperação internacional e ONGs. Na verdade, a agência é uma organização pública ou privada que representa um país, no exercício das atividades e, em alguns casos trabalha com organizações sem fins lucrativos. Nessa

128 128 conceituação podem ser citados quatro exemplos de agências 64 : (1) Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (United States Agency for International Development - USAID 65, (1961), (2) Department for International Development - DFDI e a (3) Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit GmbH- GTZ (1974) e Institut de Recherche pour Le Développement IRD. Embora não seja objetivo desse estudo, cabe ressaltar alguns aspectos histórico sobre o DFDI e o IRD. Em 1965, no Livro Branco, base para o Reino Unido, constava o dever moral de desenvolvimento e o interesse de longo prazo do país. O seu trabalho era realizado pelo Overseas Development Administration (ODA), um setor dos Negócios Estrangeiros e da Commonwealth. No ano de 1970, ODA é dissolvida e o Department for International Development (DFID), com a imagem que se tem hoje, foi criado em maio 1997 como um departamento do governo, chefiado por um ministro. As atividades do IRD remontam a 1944, quando era ORSTOM, Office de la Recherche Scientifique et Technique d'outre-mer. Em 1998, ORSTOM é renomeado de Institut de Recherche pour le Développement IRD. Trata-se de um instituto público francês de pesquisa de desenvolvimento que trabalha para o desenvolvimento dos países do Sul reportando-se aos Ministérios responsáveis pela investigação e desenvolvimento no exterior. O IRD conta com colaboração de universidades, centros de pesquisa e outras instituições da França e, em cooperação científica e técnica, com instituições dos quase 30 países com os quais colabora (universidades, instituições nacionais e internacionais de pesquisa, órgãos governamentais, ONGs, empresas privadas). Segundo dados institucionais do IRD, sua especialidade é remover, por longos períodos de 2 a 6 anos ou em missões de 3 a 9 meses seu pessoal científico para as instituições estrangeiras com as quais coopera (IRD, 2010). No PPG7, a França desenvolveu vários projetos de parcerias por meio da atuação do EFEM - Fundo Francês para o Meio Ambiente (BRASIL, 2009b). No Brasil, as agências internacionais e ONGS têm atuações demarcadas que abrangem as décadas de 1960 a 1970 e, como já mencionado, todas as que atuam no Brasil tem contrato 64 Essas quatro agências e o Fundo Francês para o Meio Ambiente (EFEM) atuam em projetos ambientais na Amazônia seja em colaboração científica ou técnica. Ver história e dados institucionais sobre Agências de Cooperação internacional para o desenvolvimento nas respectivas páginas das respectivas organizações: (DFID, 2010; GTZ, 2010; IRD, 2010; USAID, 2010). 65 A Agency for International Development, cuja sigla é USAID, foi criada em 1961 a partir de uma decisão do senado americano, o Foreign Assistence em setembro de A partir dessa data, os tradicionais programas de assistência externa dos Estados Unidos foram separados em militares e não militares. Em 3 de novembro de 1961 a AID foi criada por um decreto do Presidente John F. Kennedy. A GTZ teve sua fundação no mesmo ano e ambas a partir dessa data passam a atuar na América Latina. Ver mais detalhes sobre a comunicação institucional da USAID e da GTZ em seus respectivos sites.

129 129 e autorização da ABC por meio do Ministério das Relações Exteriores. Essa atuação, segundo Pantaleón (2002, p. 238), pode ser dividida em três períodos. As primeiras organizações foram predominantemente religiosas e suas ações baseadas na militância política voluntária, humanitária, a segunda a redemocratização e a terecira e a capacitação. Nesse primeiro período, as relações internacionais eram baseadas nos motivos religiosos, políticos e filantrópicos. A citação de Landim ilustra a citação de Pantaleón (2002) e as características do trabalho daquele período, Como esquecer a surpresa do primeiro contato, na casa das freiras no interior do Pará, com aquela gente de Igreja que lá vivia há tempos, com uma linguagem diferente na ação política, que me parecia de um humanismo profundo, dedicando-se à organização, no dia a dia, pelas bases, do movimento de lavradores, lá no meio do mato, num contato direto e que eu imaginava culturalmente mais totalizante com cada trabalhador? Essa ação quotidiana, solidificada por laços sociais tradicionais, me impressionou. A situação dos pequenos agricultores, suas formas de economia e organização social, a sua pobreza e estado de ameaça, o sindicalismo rural começando a se reerguer [...]. (LANDIM, 1992, p. 12). Na descrição de Landim (1992) está o relato do trabalho dos mediadores, cujo papel era a educação de base e o sindicalismo inspirados na Teologia da Libertação. Era o incentivo aos movimentos sociais que buscavam seus direitos por meio da organização sindical. O estudo de Landim A Invenção das Ongs (1992) argumenta que a partir da década de 1980, no Brasil, desenvolve-se a conscientização da necessidade de encontrar formas de parcerias entre o Estado e as organizações da sociedade civil na busca de soluções para as desigualdades sociais do país. Contudo, Buclet (2003) e Landim (1992) afirmam que as ONGs surgiram, no Brasil, desde a época do Brasil colônia, porém, esta classificação de ONG está relacionada a trabalhos filantrópicos desenvolvidos pela Igreja e em nada se parece com as definições encontradas nos princípios das ONGs atuais. No Brasil, as ONGs se organizam de forma mais expressiva após a década de 1970 (MOURA 1994 apud GOHN, 2005). O trabalho das ONGs são cada vez mais respeitado. O Banco Mundial, por exemplo, desde a década de 1980, tem dispensado atenções às ONGs de forma especial por acreditar que elas tenham um trabalho mais eficiente que as agências governamentais. É do Banco Mundial a seguinte definição de ONGs: grupos e instituições que são inteiramente ou largamente independentes do governo e caracterizadas principalmente por objetivos humanitários ou cooperativos, em vez de comerciais. (GOHN, 2005, p.18). A Lei da Anistia em 1979, caracteriza o início do segundo período. Há fatos importantes que maracaram a fase da redemocratização, sobretudo, o processo da Constituinte. De 1985 a 1988, viveu-se um período fértil de emergência de novos agentes

130 130 sociais com a exigência do reconhecimento de novos direitos. Foi na edificação da democracia, com falhas persistiram as desigualdades econômicas e regionais. Isso quer dizer, desigualdades em todos os campos sociais e em especial de gênero e de etnias. A necessidade de democratizar o acesso à informação e à comunicação. Sob esse ponto de vista, a mídia no Brasil esteve e está concentrada sob o controle de alguns grupos e modela a opinião pública conforme seus interesses. A fase da lei de Anistia ficou marcada pelas imagens do retorno ao país de vários brasileiros que por motivos políticos, a se exilarem. A volta dos exilados trouxe novos ideais de redemocratização, no âmbito político e social. Muitos deles se filiaram em novos partidos políticos e outros se engajaram nos movimentos sociais em prol da redemocratizacão e das diretas já. Os movimentos sociais com base nos movimentos sociais da Europa e construção de sindicatos impulsionou a redemocratização no país, juntamente com a promulgação da Constituição de No terceiro período, o mais importante para essa pesquisa, evidencia-se a participação de acadêmicos, sociedade civil e Estado na transformação das ongs. Essa fase também coincide com o direcionamento das relações internacionais por meio das agências multilaterais, BID, PNUD e BM, dentre outros. No desenvolvimento desse trabalho, no campo social criaram-se instituições como a ABONG (1991), compromitidas com setores populares. Nessa terceira fase, as agências de cooperação promovem ajuda jurídica e reintegração dos direitos. As agências internacionais juntamente com as ONGs deixam o trabalho de caráter filantrópico e objetivam desenvolver o capital social e o empreendedorismo com sustentabilidade socioambiental seguindo programas das agências multilaterais (BID, PNUD e BM). Uma das principais vantagens dessa terceira fase foi a amplitude de trabalho com as premissas do empreededorismo no contexto globlizado. A discussão crítica acerca das ONGs é sobre a questão a sua constituição, são públicas ou privadas, visto que a teoria do surgimento de um terceiro setor é bem aceita de forma geral pelo Banco Mundial e demais organizações internacionais (ONU, OMC, OTCA). Para Gohn, muitas ONGs foram criadas com objetivo de utilizar-se dos benefícios da razão social, sem fins lucrativos, como expressa a seguir, Nos anos 1990 as ONGs ganham grande representatividade na sociedade: várias instituições de pesquisa e intervenção na realidade (por meio da elaboração de planos, projetos, campanhas etc., como o CEDEC e o CEDES em São Paulo, e o IBASE no Rio) passam a se definir também como ONG. O denominador comum das ONGs parece ser a sua razão social de fins não lucrativos. (GOHN, 2005, p. 55).

131 131 De acordo com o Banco Mundial, as ONGs podem ser divididas em quatro áreas de atuação: assistência e bem-estar, desenvolvimento de recursos humanos, capacitação e militância política, e políticas de amparo ou de proteção. Esta divisão não é muito eficaz quando se fala em América Latina, visto que as categorias de capacitação e militância política se fundem com políticas de amparo ou proteção, pois as ONGs de defesa dos direitos humanos e do meio ambiente também desenvolvem militância política. Nas décadas de 1980 e 1990, as ONGs passam a trabalhar com projetos específicos, devido a ajuda recebida de outras entidades ou ONGs, o que faz delas dependentes dos recursos disponíveis, entretanto, na contra mão, faz também com que as Ongs se preocupem com seus produtos e com qualidade de trabalho. Dentre as ONGs brasileiras mais importantes estão as cidadãs, embora as filantrópicas sejam mais numerosas. Para Gohn (2005, p. 35), as ONGs são consideradas formas modernas de participação na sociedade brasileira: moderna, porque se organizam em torno dos chamados direitos sociais modernos; direito à qualidade de vida, à felicidade, à nãodiscriminação, à preservação do meio ambiente etc. Com esse objetivo buscam combinar os valores individuais com valores coletivos, a racionalidade individual (dada pelos desejos e aspirações das pessoas) com a racionalidade científica (dada pelos estudos e análises técnicas dos problemas em questão). São consideradas modernas por se constituírem em espaços coletivos de participação da sociedade civil, a partir de interesses de grupos determinados, tendo como referência movimentos e organizações sociais. As Organizações Não-Governamentais podem se apresentar sob a forma de quaisquer dos organismos existentes, ostentando qualquer dos vários títulos conferidos a esses organismos (filantrópica, Oscip e organização social, entre outros). Este termo foi importado da Europa, cuja origem está na nomenclatura do sistema de representação das Nações Unidas. De acordo com a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), não há no direito brasileiro qualquer designação de ONG. No código civil ou em outra lei, a sigla Ong, não será encontrada. Não há uma espécie de sociedade denominada ONG no Brasil, mas um reconhecimento, de cunho cultural, político e sociológico que está em vigor no mundo 66. A relevância dessa discussão para essa pesquisa está no fato de que as ONGs recebem apoio financeiro internacional e fazem parcerias com instituições do poder público e privado. Dessa maneira, tornam-se porta-vozes de uma ordem internacional globalizada. Nas 66 É importante informar que essa definição foi retirada de fontes secundárias, especialmente em sites de organizações parceiras de ONGs, uma vez que não foi possível o acesso a documentos jurídicos sobre o termo Ver: (SEBRAE, 2009).

132 132 assessorias e doações da ONGs são também incorporados os discursos de geração de renda, negócios sustentáveis. Com essa perspectiva ideológica constroem-se slogans com intensa polifonia e articulação, num campo de disputa com diferentes relações de forças e poder. E, assim, torna-se interessante compreender por meio do campo do terceiro setor e das ONGs a disputa de poder e de visibilidade no âmbito dos discursos das agências de cooperação internacional e sua atução na Amazônia. Na década de 1990, em especial depois de 1995, conforme MMA (BRASIL, 2009b), as ONGs e as agências de cooperação internacional passam a atuar conjuntamente com o poder público na implementação de projetos socioambientais na Amazônia, no âmbito do PPG7, visando, por meio da capacitação, promover o desenvolvimento de diferentes agentes sociais (organizações públicas e privadas e comunidades) para a contenção do desmatamento. A exemplo do PNUD, a palavra capacitação utilizada em quase todos os projetos é emblemática e no relatório final do PPG7 publicado pelo MMA (BRASIL, 2009b), de 60 páginas esse enunciado aparece 38 vezes. Assim torna-se um termo recorrente no âmbito do PPG7 e nas ações implementadas pelas agências internacionais na Amazônia. No contexto, histórico do PNUD como do PPG7 esse enunciado passa a ser um discurso polifônico preconizado por várias vozes. (BAKHTIN, 2004). Após esta descrição do campo discursivo e social da Amazônia o passo seguinte é rever a literatura no campo da CTI para depois apresentar as principais organizações da cooperação técnica alemã para o desenvolvimento que atuaram nos projetos socioambientais na Amazônia. O objetivo é mostrar por meio da evolução histórica das práticas de comunicação institucionais, a base para os futuros discursos que serão construídos no âmbito do PPG7.

133 133 4 MOVIMENTO AMBIENTALISTA NA EUROPA Com o propósito de compreender a atuação da cooperação técnica alemã na Amazônia e, particularmente, analisar as ações dos diferentes agentes sociais é importante, contextualizar a experiência desses ao longo da história dos primeiros movimentos ambientais na Europa. Essa discussão sobre o campo ambiental dos movimentos sociais europeus permite compreender as bases do pensamento sobre ecologia e meio ambiente dos agentes sociais (consultores, cooperantes, peritos) das organizações que chegaram à Amazônia com o objetivo de implantar projetos socioambientais. A abordagem do campo ambiental e dos movimentos sociais e Europeus se faz necessária em virtude da cooperação técnica alemã emergir desse contexto social, ou seja, da evolução das estratégias e das práticas de implementação de projetos desenvolvimento sociais em países emergentes, depois como porta-vozes da preservação do meio ambiente no contexto globalizado. Dessa maneira, esta discussão enfoca os principais aspectos históricos, políticos, econômicos e sociais da Europa, em especial da Alemanha. Apresenta a discussão e a importância dos meios de comunicação de massa e a opinião pública para difusão das ações dos movimentos ecologistas e ambientalistas, organizações das fundações políticas, partidos políticos e, em especial, o surgimento dos Verdes na Europa. Nessa descrição, verifica-se como e por que os movimentos sociais e ambientais da Europa, após a realização da CNUMAD (1992), se envolveram em questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável da Amazônia, que culminou com a implementação do PPG7, em 1995 na Amazônia. A produção científica e a acadêmica das questões ambientais emergiu dos movimentos de contestação social, do início dos anos Essa contestação teve como principal enfoque a escassez dos recursos naturais e o desenvolvimentismo industrial. A sociologia clássica (Durkheim, Marx, Weber) abordada a questão de forma simplificada e sem aprofundamento. Na visão de Tavolaro (2001, p. 134), há duas explicações para o fato dos sociólogos não dedicarem estudos mais detalhados à questão ambiental. A primeira diz respeito às falhas do determinismo geográfico e biológico e ao conservadorismo para a compreensão das mudanças e conflitos sociais. A segunda refere-se ao pensamento predominante que, em meados do século XX, enfocava a sociologia da modernização. Embora estudos críticos fossem direcionados ao paradigma desenvolvimentista, com base na discussão marxista, a reflexão predominante estava influenciada por questões do humanismo. Tavolaro (2001), por meio das pesquisas de Keith Thomas (1996) e Dalton (1994), destaca que, no período de , em virtude das transformações do modo da vida rural

134 134 para urbano, na Inglaterra, ocorreram mudanças no comportamento do homem em relação à natureza. Plantas e animais passam a ser adotados como valores inestimáveis. Thomas descreve o desconforto na vida moderna e a rejeição à nova realidade, predominantemente urbana e industrial. Em meados do século XIX, setores das sociedades europeia e norteamericana a se organizam para proteção de uma natureza, até então indefesa. Sob essa descrição, Dalton (1994) diz que, o período de , representa a primeira grande onda de ação ambiental na Europa Ocidental, cidadãos em diversas nações formavam grupos voluntários para proteger a vida selvagem, proteger áreas naturais com significado nacional e conservar a natureza (2001, p. 26). Segundo Dalton (1994), algumas das legislações e normas regularizadoras do uso da terra na Europa ainda estão embasadas nas propostas desse período. A urbanização e o crescimento industrial transformaram o ambiente e provocaram a destruição da vida selvagem e dos espaços naturais e a poluição do meio ambiente (DALTON, 1994). Assim como Keith Thomas, Dalton ressalta a importância do avanço das ciências naturais, cujo desenvolvimento dos estudos no século XIX impulsionou, de acordo com esses autores, a preocupação com os problemas ambientais. Neste período, botânicos e biólogos estudavam, analisavam e catalogavam o ambiente natural. Nesse sentido, documentavam a perda de habitats e espécies, e vinculavam esses problemas à industrialização (DALTON, 1994, p. 28). Foi nessa direção que, as ciências naturais se desenvolveram na Europa durante a última metade do século XIX. Em decorrência do desenvolvimento desses estudos houve o crescimento de membros nas sociedades de história natural. Isso proporcionou uma base popular para ação ambiental (TAVOLARO, 2001, p. 135). Iniciativas semelhantes registram-se no Brasil ainda em 1821, com o intuito de preservação da Mata Atlântica Diegues (1994) aponta estas iniciativas: É interessante observar que José Bonifácio, já em 1821, sugeria a criação de um setor administrativo especialmente responsável pela conservação das florestas uma vez que várias áreas da Mata Atlântica, principalmente no nordeste, tinham sido destruídas para a construção de barcos. [...] André Rebouças, que lutou pelos primeiros parques nacionais, se posicionou abertamente contra os desmatamentos e pelo uso de técnicas modernas no trato da terra (DIEGUES, 1994, p. 102). André Pinto Rebouças ( ) foi um dos mais ativos militantes do movimento abolicionista brasileiro e um dos fundadores da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Seu curriculum é extenso: escreveu inúmeros artigos no jornal Gazeta da Tarde, estimulou a criação de uma Sociedade Abolicionista na Escola Politécnica, onde lecionou em 1883, e redigiu com José do Patrocínio, o Manifesto da Confederação Abolicionista. Contribuiu para redigir os estatutos da Central Emancipadora. Era formado em Engenharia pela Escola Central do Exército em 1860, no Rio de Janeiro. Na Europa, especializou-se em fundações e obras portuárias e foi uma das autoridades brasileiras em engenharia ferroviária e hidráulica. De 1865 a 1866, serviu como engenheiro na Guerra do Paraguai. Foi criador das empresas Docas do Rio de Janeiro, Maranhão, Recife e Bahia. Escreveu diversos artigos de cunho técnico, relacionados aos diversos ramos da engenharia. Ver mais sobre esse assunto: CARVALHO, 1998).

135 135 A discussão ambiental na Europa, recuperada nos estudos de Dalton (1994), ressalta que Chateaubriand e Victor Hugo refletiam a tradição rural e pastoral de Jean-Jacques Rousseau, apresentando e idealizando uma visão de natureza. Na Grã-Bretanha, vitorianos entendiam a vida selvagem e a proteção da natureza com uma forma humana elevada. No final do século XIX, na Alemanha, predominava o sentimento romântico no interior da sociedade. A juventude das classes urbanas mais abastadas realizava expedições e passeios nos finais de semana para gozar as belezas da natureza. Essa descrição mostra que a valorização da natureza, particularmente, na Alemanha, está vinculada as suas experiências do passado. Na visão de Dalton (1994) é, nesse contexto, que o movimento ambientalista ganha impulso no continente europeu. Assim, na Grã-Bretanha, surge a primeira campanha pela proteção da vida selvagem. Em 1867, fundaram a Society for the Protection of Seabirds, inclusive com inserção no jornal Time, de Londres. Os protestos dessa Associação resultaram em uma lei de proteção de aves, em Dalton (1994, p. 28) sugere que, os residentes de Yorkshire insistiram nessa ação por razões altruístas para evitar danos desnecessários à vida selvagem e para proteger aves marinhas de uma possível extinção. Nesse movimento em defesa da preservação da natureza e da vida selvagem, surgem a Dutch Association for Bird Protection e a German Federation for Bird Protection, ambas em Nesse mesmo período foi fundada a Irish Society for Bird Protection. A pesquisa de Dalton apontou que esses grupos e organizações ganharam aceitação pública. Desse modo, a Dutch Association contava com seis mil membros em 1902; e quarenta e um mil, em A Dinamarca teve sua primeira legislação para proteção dos pássaros em Logo após esse fato, estabeleceu-se a Danish Ormithological Society. Por fim, na França, em 1912, é fundada a League for Bird Protection. De acordo com a Dutch Association for Bird Protection (2009), durante a sua história, a sociedade tem visto um forte crescimento na participação, Durante sua história, a sociedade tem visto um forte crescimento na participação: de cerca de em 1875, ela havia dobrado por volta de 1900, e em 1920, era grande o suficiente para que ele teve de contratar pessoal permanente. O crescimento continuou após a Segunda Guerra Mundial e durante a década de 1970, consciente ambientalmente, a adesão subiu de para A meados da década de 1990 viu um outro salto no número de membros, chegando a em 2009 e cerca de 53 colaboradores permanentes (VBN, 2009). Na comunicação Institucional da associação diz que: A Sociedade Holandesa para a Proteção dos Animais Nederlandse Vereniging tot Bescherming van Dieren ou De Dierenbescherming é uma organização voluntária de proteção dos animais. Atualmente, a

136 136 Nederlandse usa lobby, proteção jurídica e investe em campanhas, programas e publicações para proteger os pássaros e seu habitats. Com os resultados das campanhas e a atenção da opinião pública, houve o envolvimento da política e financiamento para empreender ações ambientalistas de preservação. Na visão de Dalton (1994), essas organizações não se limitaram apenas à proteção da vida selvagem natureza intocada. Na Grã-Bretanha houve a iniciativa de proteção a espaços abertos de terras comuns. Em decorrência disso, em 1895, houve a formação do National Trust, que se tornou a Holding Company, uma organização para cidadãos que desejavam doar terras para serem protegidas. Na virada do século, cidadãos franceses e belgas passam a se interessar pela preservação da natureza e fundam, respectivamente, a Societé pour la Protection des Paysages e a Societé Nationale pour la Protection de Sites (DALTON, 1994 p. 34). Em 1911, os ambientalistas fundaram a Danish Association for Natural Conservation, que em 1925, se transformou na organização de conservação da natureza e de promoção da educação pública referente a questões de conservação (TAVOLARO, 2001 p. 136). Nessa descrição da formação das associações ambientalistas, na Europa do final do século XIX, evidencia-se que, em momentos de incertezas e ameaças ambientais, emergiram os sentimentos de aceitação, de pessimismo e de engajamento (GIDDENS, 1991, p. 83). As incertezas, os riscos, juntamente com a ineficácia da criação de um quadro normativo para as soluções cotidianas, rompem com os laços das concepções tradicionais da sociedade. Há a quebra dos valores normativos tradicionais que não respondem mais aos problemas da ordem cotidiana e tampouco conseguem atender ás expectativas da sociedade. Com a quebra de expectativas, as sociedades modernas organizam esferas próprias de reprodução cultural e social com objetivo de integração e construção de identidade. Nesse momento, há um espaço para os grupos criarem organizações que atendam essas expectativas. Na mesma linha de reflexão, Tavolaro (2001) assinala os motivos para o surgimento de associações ambientalistas, Há que se considerar, pois outros aspectos que não aqueles relacionados a riscos e perigos na análise da emergência e dinâmica das associações ambientalistas. [...] É, sem dúvida, perigoso transportar o temeroso olhar contemporâneo para tentar relativizar o grau de insegurança gerado pelas transformações econômicas e avanços tecnológico-científicos no século XIX. De qualquer maneira, isso traz a sugestão de que um aspecto mais central para o surgimento de organizações preocupadas em proteger a natureza no século XIX era o desconforto criado, num primeiro momento, pelo rompimento dos laços sociais tradicionais e, num momento posterior, pelo processo de desintegração social que se fazia sentir. (TAVOLARO, 2001, p. 137). Esse era o objeto de estudo da tese de Tavolaro (2001), que examina os movimentos sociais conceituados por Giddens e Tourraine e discute a problemática da sociabilidade das

137 137 organizações ambientalistas que se constituíram a partir de meados do século XX. Para o autor, ocorre um estágio avançado da modernidade e o sistema econômico transborda suas ações em outras esferas socais. Desse modo, os agentes sociais sentem a emergência de buscar identidades sociais e culturais correspondentes às suas expectativas na sociedade moderna. Assim, após a primeira onda do movimento ambientalista ( ), há um longo período sem conflitos até a fase do pós-guerra dos anos 1950 (DALTON, 1994). Sobre o ressurgimento dos movimentos ambientalistas após a segunda guerra, Dalton ressalta que os movimentos conservacionistas na Holanda, França e Bélgica e Grã-Bretanha eram motivados pelo impacto da destruição da guerra sobre o meio ambiente e a necessidade de um planejamento ambiental para a reconstrução dos referidos países. (DALTON, 1994, p. 34). Desse modo, a reconstrução de alguns países da Europa no pós-segunda guerra estava baseada nos ideais da ecologia do bem-estar humano, como também é apontado por Diegues (1994, p ). O autor denomina de novo ambientalismo o período do final dos anos 50 e início dos anos Essa fase é caracterizada pela maturidade da primeira geração que cresceu juntamente com as amplas discussões sobre a qualidade ambiental no pós-guerra (DALTON, 1994, p. 35). Não obstante as preocupações dos cientistas e dos órgãos internacionais e da visão do novo ambientalismo, como descreve Dalton (1994), a economia mundial continuava a crescer a todo o vapor, com pouca ou quase nenhuma consideração pelo meio ambiente. Informações da Câmara Brasil-Alemanha afirmam que no período a produção industrial global cresceu a uma taxa anual de 6,8%. Neste período, a expansão global é liderada pelo Japão, cujo crescimento industrial alcança 12,7% ao ano durante quase 30 anos ( ). (ROSE, 2009, p. 2). Nesse contexto de crescimento econômico, os anos de 1945 a 1962 tornaram-se decisivos para tratar as questões ambientais no âmbito internacional. Nessa época, houve centenas de testes nucleares e, ao longo do tempo, constatou-se que estes testes eram prejudiciais ao meio ambiente. O livro Silent Spring (Primavera Silenciosa), lançado em 1962, de autoria de Rachel Carson 68 mostrou como o DDT 69 penetrava na cadeia alimentar e 68 Rachel Louise Carson ( ), bióloga marinha norte-americana, especialista em preservação ambiental. Formada no Pennsylvania College for Women e Johns Hopkins University, ensinou zoologia na University of Maryland ( ). Autora de livros sobre temas ecológicos, foi bióloga no U.S. Bureau of Fisheries. Seus livros sobre o mar, Under the Sea Wind (1941) e The Sea Around Us (1951), lhe deram o National Book Award em não ficção (1952), e The Edge the Sea (1955), são reverenciados por sua linguagem e por sua informação científica. (DOBSON 1994, p. 36).

138 138 acumulava-se nos tecidos gordurosos dos animais, inclusive do homem. O livro era polêmico, pois não só expunha os perigos do DDT, como também questionava eloquentemente a confiança da humanidade no progresso e desenvolvimento tecnológico. Em resumo, trazia uma denúncia os impactos causados à fauna, aos seres humanos e à natureza. Dessa maneira, o livro contribuiu para abertura de espaço de discussão para o movimento ambientalista, que seguiu de forma mais contundente. Rachel Carson foi uma das pioneiras da conscientização de que os homens e os animais estão em interação com o meio em que convivem. Após a leitura do livro Primavera Silenciosa, a visão sobre o uso de pesticidas foi ampliada e a conscientização do público e dos usuários contribuiu para exigir mais critérios e responsabilidade das indústrias e do Estado na manipulação desse segmento de produto. Essa iniciativa pioneira e os novos rumos do movimento ambientalista são interpretados por Castells (2009), Embora houvesse pionerismo de grande coragem e influência, como Alice Hamilton 70 e Rachel Carson nos Estados Unidos, foi somente no final dos anos 60 que, nos Estados Unidos, Alemanha e Europa Ocidental surgiu um movimento ambientalista de massas, entre as classes populares e com base na opinião pública, que então se espalhou rapidamente para os quatro cantos do mundo. Por que isso aconteceu? Por que as ideias ecológicas repentinamente se alastraram como fogo nas pradarias ressequidas da insensatez do planeta? Proponho a hipótese de que existe uma relação direta entre os temas abordados pelo movimento ambientalista e as principais dimensões da nova estrutura social, a sociedade em rede que passou a se formar dos anos 70 em diante [...]. (CASTELLS, 2009, p. 154). A citação de Castells insiste no poder da opinião pública e a amplitude das discussões do movimento disseminado no contexto global. Por essa amplitude, o autor afirma que, o movimento que surgiu a partir do final dos anos 1960 na maior parte do mundo, principalmente nos Estados Unidos e norte da Europa é multifacetado, uma vez que se encontra, em grande medida, no cerne de uma reversão drástica das formas pelas quais passamos a pensar na relação entre economia, sociedade e natureza e essa nova visão está propiciando o desenvolvimento de uma nova cultura. (CASTELLS, 2009, p. 142). 69 Paul Hermann Müller ( ), Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina 1948, criador do DDT. Ganhou o Prêmio Nobel por salvar da malária as tropas americanas que lutaram na segunda guerra mundial, combatendo o mosquito com sua invenção. Por conseguinte, o produto passou a ser utilizado em diversas culturas agrícolas, como um pesticida eficaz no combate às pragas. (DOBSON 1994, p. 38). 70 Alice Hamilton ( ) teve longa carreira investigando riscos dos trabalhadores expostos a materiais tóxicos. Esses estudos lhe renderam respeito dos próprios empresários, cujos negócios ela estudou e criticou. Durante seu extenso trabalho, Hamilton alcançou papel de destaque por chamar a atenção do governo e da indústria para os efeitos tóxicos da anilina, mercúrio, chumbo tetraetila, monóxido de carbono, rádio (em mostradores de relógio, entre outros usos), benzeno, produtos químicos presente nas pilhas de armazenamento, e dissulfeto de carbono e gases de sulfeto de hidrogênio utilizado na fabricação de viscose. (DOBSON 1994, p. 39).

139 139 De acordo com Castells (2009), e anteriormente constatado por Dalton (1994) 71, nessa fase ocorre uma nova onda ambiental capaz de atrair vários setores da sociedade que vivenciavam novos problemas ambientais nas democracias avançadas e com direcionamento industrial. Alguns desses problemas foram chuva ácida (1975), experiências nucleares (1984), risco tecnológico 72, escassez de recursos e queda da qualidade de vida, dentre outros. Desse modo, no cerne das avançadas sociedades industriais da Europa, manifestaram-se o descontentamento e a crítica ao excesso de consumo e práticas sociais e culturais. Para Dalton (1994), é nesse momento, em virtude do crescimento econômico acelerado, que surgiu um novo ambientalismo com nova consciência e proposta ecológica. Essas propostas constituem um desafio aos paradigmas sociais vigentes nas sociedades industriais avançadas e desse descontentamento emergiram as duras críticas aos métodos políticos democráticos do ocidente. Nos anos 1970, quase três décadas de crescimento ininterrupto e acelerado, a economia mundial começou a observar oscilações e instabilidades que se sucederam, em nível alarmante de insegurança. A percepção dessas instabilidades acabou sendo mais prejudicial aos países em desenvolvimento (emergentes), ou seja, àqueles que, a exemplo do Brasil, ainda não tinham atingido um estágio de desenvolvimento econômico em que as suas populações pudessem ter todas as necessidades mínimas atendidas. Não seria exagero afirmar que, dados os acontecimentos, o capitalismo passou a vivenciar uma nova fase a partir do início dos anos 70, podendo ser considerados marcos introdutórios dessa nova fase o colapso do regime de Bretton Woods e a crise de oferta do petróleo ( ), principal commodity energética das economias desenvolvidas. (CARVALHO, 2003). É, no início dos anos 1970, que entra em colapso quase todo o sistema de produção e prática de consumo que, até então, em especial nos países industrializados, ignoravam os impactos de suas atividades ao meio ambiente. Os meios de comunicação de massa, como citado por Castells (2009), em especial a imprensa e a televisão, corroboravam com a crítica 71 Em meados dos anos 1990, Dalton (1994), ressalta o crescimento das associações preservacionistas na Europa Ocidental ambientalista e seus inúmeros membros, que proliferam a partir dessa fase. A Royal Society for Protection of Birds, na década de 1950, contava com 10 mil membros, passando a 30 mil no final de 1960, 200 mil em 1975 e mais de 400 mil em Ver mais detalhes sobre números das associações em: Dalton (1994). 72 Duarte cita alguns resultados de estudos que representaram o temor gerado por catástrofes tecnológicas ocorridas nas décadas de 1970/ O autor resumiu da seguinte maneira: 06/1974, em Flixborough, Reino Unido; 11/1975, em Beek, Holanda; 08/1979, Three Mile Island, USA; 04/1984, Chernobil, URSS; 11/1984, Cidade do México, México; 12/1984, em Bopal, Índia. Duarte ressalta que o acidente de Bopal merece comentário particular: O acidente provocou a morte imediata de pessoas, sendo considerada a pior catástrofe tecnológica de todos os tempos. [...] Em 1986, o governo da Índia havia registrado mais de óbitos e, em 1994, o número de mortos chegava a Além dos óbitos, o serviço de assistência social do governo tem o registro de pelo menos casos de invalidez permanente. (DUARTE, 2005, p. 245).

140 140 dos cientistas e movimentos ambientalistas, informam que os países industrializados, grandes geradores de resíduos de todos os tipos, estão às voltas com imensas quantidades de lixo doméstico e industrial, poluição dos rios e extensas áreas de solo contaminadas por produtos industriais tóxicos. A opinião pública reage, a exemplo do que aconteceu no final do século XIX. A incerteza e o risco fazem com que novos grupos se organizem para constituir organizações de pressão e, logo em seguida, na Europa e nos Estados Unidos são criadas as primeiras ONGs (organizações não-governamentais) que atuam na proteção do meio ambiente: WWF (1961), Friends of the Earth (1969) e Greenpeace (1971), entre outras. Com as ONGs, entram em cena novos agentes sociais (sociedade civil organizada) considerados grupos de pressão. Suas ações, como serão descritas mais adiante, influenciaram a opinião pública abrindo espaço para discutir, informar e protestar sobre as ações ambientais em escala global. Com essa estratégia de chamar a atenção da opinião pública, os governos e as indústrias, pressionados por uma população informada se tornaram gradativamente mais consciente; em consequência criam-se legislações e órgãos ambientais para ordenar e controlar os impactos ambientais provocados pelas atividades econômicas. Aos poucos iniciaram os programas de recuperação de lagos, rios, florestas e de reciclagem que introduziram a coleta seletiva incentivando o reaproveitamento e a substituição de materiais. Na Europa, a Alemanha é um dos países que melhor se adequou aos programas de reciclagem e coleta seletiva, não por acaso, pois a relação desse país com a natureza tem raízes históricas. Desde os anos 1960, momentos de efervescência cultural e crítica ao modo de vida vigente, como Nascimento & Vianna escrevem, O século XX, em seus três primeiros quartos, foi essencialmente um período de expansão: da população, da produção, dos mercados, do consumo de matériasprimas, dos conflitos e dos conhecimentos. Parecia não haver limites. Contrariamente ao que ocorrera no século XIX, houve uma fantástica incorporação de grupos sociais ao mercado, implicando maior consumo e aceleração dos ciclos (de fontes energéticas, tecnologias, produção de resíduos). Num olhar retrospectivo, era de se esperar que novos alertas surgissem. (NASCIMENTO; VIANA, 2006, p. 9). Nesse contexto social dos anos 60, Teisserenc (2002) afirma que emerge a sociologia da ação, da intervenção social, que responde as mudanças econômica e social provocando ações das políticas públicas nacionais e internacionais. Ainda segundo o autor, há a participação efetiva da sociologia que passa a beneficiar dos resultados da utilização de programas de desenvolvimento, estudos de diagnósticos, estratégias e análises realizados por escritórios e centros de pesquisas universitárias que contribui para renovar a sociologia da ação. (TEISSERENC, 2002, p. 88). Assim, novos valores e mudança de comportamento social delinearam a configuração das organizações ambientalistas na Europa nos anos 1980 e 1990, tocados por este alerta, na

141 141 Europa, em especial na Alemanha, os agentes sociais promovem mobilizações voltadas para seus diferentes interesses, inseridos em vários grupos e movimentos (ambientais, partidos políticos, direitos humanos, direitos femininos). O resultado dessas mobilizações foram a formação de organizações (ONGs) e as fundações que visavam fortalecer e difundir suas propostas e interesses. Não obtendo resposta ou ações eficazes por parte do Estado, cada grupo de agentes sociais se organizou, envolto em discursos e em defesa de uma causa (política, ambiental, entre as principais). Alguns momentos, de convergência e de divergência ideológicas e práticas de organizações, partidos políticos e organizações não governamentais, que, em virtude do afastamento do Estado para causas emergentes, acabam consolidando o seu papel de mediadoras e, às vezes, executoras de ações que o estado não consegue mais atender. Nessa configuração, o quadro político da Alemanha, assim como o contexto político e social da Europa, contribuiu para ampliar a compreensão acerca da formação das organizações e fundações políticas. Essas organizações de diferentes perfis institucionais fazem muita pressão e ganham visibilidade para arregimentar grande parte do público. Nesse momento, deixam de lado as diferenças ideológicas e vão à luta pela causa. A mobilização em pressões para causas políticas e sociais, a defesa da Amazônia na CNUMAD, em 1992, e a própria formação do partido Verde na Europa, se enquadraram nesse processo político institucional. A partir desta abordagem sobre a história dos primeiros movimentos ambientalistas, é importante analisar as discussões e propostas do movimento ambientalista após os anos 1970, em especial o encadeamento dos debates que culminou com a CNUMAD, em A construção desse campo ambiental, pós anos 70, e a formação do partido verde contribuíram com os enunciados da cooperação para o desenvolvimento da Alemanha se apresente no contexto global como defensora de novas práticas ambientais. A proposta do PPG7 apresentada pela Alemanha ao governo brasileiro em 1989 é um exemplo dessas novas práticas.

142 O DESENVOLVIMENTO: ENTRE O DISCURSO E A PRÁTICA A discussão do termo desenvolvimento é ampla e complexa. Por isso, é necessário construir um percurso teórico a fim de contribuir com as análises dessa pesquisa. Segundo perspectivas da cooperação para o desenvolvimento apresenta-se a seguir a discussão dos autores na reflexão sobre o Estado, a Sociedade e o Desenvolvimento e, com ênfase na cooperação para o desenvolvimento proposto pela cooperação técnica alemã. Apesar do objeto de estudo ser a implementação dos projetos socioambientais na Amazônia, o enunciado desenvolvimento apresentou-se durante essa pesquisa um termo recorrente, de forma explicita ou implícita, em quase todas as práticas de comunicação institucional das organizações alemãs. Na contemporaneidade, o desenvolvimento é um tema recorrente na literatura econômica, social e política. Isso é comprovado pelos diversos autores que dedicaram suas obras à compreensão de seus determinantes, das suas consequências sociais e das diferentes trajetórias históricas para definir um país desenvolvido. Adam Smith ( ), David Ricardo ( ) e Marx ( ), Economistas Clássicos, dedicaram parte de suas obras ao estudo do crescimento e desenvolvimento econômicos. Adam Smith identifica os fatores de formação da riqueza nacional e explica a operacionalização do mercado e o aumento do tamanho dos mercados para diminuir os custos (efeito escala) e permitir a produção com lucro. Desse modo, o desenvolvimento acontece com o aumento da proporção dos trabalhadores produtivos em relação ao desemprego e à elevada renda média do conjunto da população. Posteriormente, pode-se destacar Schumpeter ( ) que diferenciou crescimento de desenvolvimento, tomando como referência a análise do impacto tecnológico e a inovação. Nessa análise, o autor explica que o desenvolvimento é provocado pelas inovações adotadas pelo empresário empreendedor por meio do crédito, dentre outros autores. Por essa definição, pode-se identificar autores, pensadores e teóricos desse tema em quase todas as escolas de pensamento das ciências sociais. Devido a diversidade de definições, existem várias interpretações do processo histórico sobre desenvolvimento e crescimento econômico. Várias leituras e interpretações do processo histórico de desenvolvimento e crescimento econômico e, por conseguinte, infinidades de sugestões de políticas sociais para promovê-los. Pela abrangência do escopo teórico da pesquisa não foi possível citar todos os autores que conceituam o desenvolvimento, mas alguns que servem de embasamento dessa pesquisa. Para isso, faz-se necessário, primeiramente, delinear o pensamento teórico e a linha de

143 143 pesquisa dos diferentes autores, cujo enfoque recai no estado, na sociedade e no desenvolvimento. De acordo com Mathis (2001), o estudo sobre desenvolvimento surge com David Ricardo ( ) com a obra Principles of political Economy and taxation em Friedrich List ( ) contribuiu com o estudo da unificação econômica e política da Alemanha para a eliminação alfandegária internas e criação de taxas para proteção da jovem industria. Com esse objetivo, List analisou a intervenção do estado na economia para a manutenção de um equilíbrio entre agricultura, comércio e indústria. Ainda na citação de Mathis (2001), a Escola Alemã também se preocupou com a questão do desenvolvimento considerando o estudo de seus expoentes Wilhelmam Rosher ( ), Karl Knies ( ), Karl Bücher ( ) e Gustav Schmoller ( ). Para esses autores, assim como para Mathis (2001) as leis econômica não têm validade universal, elas devem ser relativas e variáveis. Nesse sentido, o estudo do pensamento sobre desenvolvimento merece mais destaque a partir de Seu marco histórico foi a II guerra mundial e a industrialização. Essa referência histórica coincide com a reestruturação econômica da Alemanha que, após a II guerra, encontrou na cooperação para o desenvolvimento, estratégias para o seu próprio crescimento e desenvolvimento econômico. Além dessa descrição histórica as sugestões propostas por Rostow 73 (1974) por meio das 5 (cinco) etapas. Também, evidenciou-se que o desenvolvimento econômico vá além do que se pressupõe, especialmente, quando busca uma repartição igualitária, no fim do processo de produção dos bens produzidos, por todos os participantes da atividade econômica, de tal forma que, as necessidades dos atores sociais envolvidos sejam satisfeitas no contexto social nacional e local. Assim, tendo como base o modelo de desigualdade econômica na Amazônia e no Brasil, constatou-se que, mesmo nos países desenvolvidos, esse processo de crescimento e desenvolvimento não é tão simples como parece ser. Com base nesse entendimento, é necessário analisar autores que a exemplo da explicação de Sztompka (1998), encaram com certo desencanto a modernidade e esse desenvolvimento subentendido na sociedade moderna. Na obra A Sociologia da Mudança Social o autor afirma que, Existe uma crença, na tecnologia, na ciência, com um Estado eficiente e um capitalismo produtivo salvaguardando o progresso permanente e a expansão ilimitada da humanidade. Mas logo, torna-se óbvio que a modernidade traz efeitos ambivalente: benefícios, prejudiciais, às vezes absolutamente trágicos. (SZTOMPKA, 1998, p. 145). 73 A obra de Walt Whitman Rostow (1961), The stages of economic growth com o sub-título um manifesto nãocomunista foi traduzida em vários idiomas e discutida em vários países.

144 144 A partir dessa afirmação, observa-se nas leituras das obras de Souza Santos (2002), Giddens, Evans (1993), Rosestein Rodan (1969), Mathis, (2006) e Hurtienne (2006), dentre outros, a crítica para a complexidade da modernidade no que diz respeito ao desenvolvimento e o papel do estado, concordando com Sztompka (1998). Com essa explicação e ainda sob a visão desses autores e consenso dos debates, constatou-se que durante muito tempo, usou-se os conceitos de crescimento e desenvolvimento com o mesmo sentido. Acreditava-se que o crescimento promovia o desenvolvimento. Contudo, a análise da evolução econômica da América Latina, Ásia e África comprova empiricamente que este processo nem sempre ocorre. Na verdade, ocorreu o aumento da atividade econômica com a manutenção de baixos índices de bem-estar social. Na citação Sztompka (1998), assim como nos debates, destacou-se o trabalho da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), cujos principais expoentes foram André Gunder Frank, Raul Prebisch e Celso Furtado, dentre outros. Foi a primeira vez que economistas dirigiram e teorizaram seus estudos sobre o Subdesenvolvimento da América Latina e das perspectivas destes países. Celso Furtado não foi somente um acadêmico, parte de sua vida foi dedicada à academia e à pesquisa, contudo atuou também junto a CEPAL, órgão da Organização das Nações Unidas, e exerceu cargos importantes no Governo Federal do Brasil, tendo sido idealizador e dirigente da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE). Nesse campo, também é importante ressaltar a contribuição de Sir William Arthur Lewis 74 ( ) que, em 1954, destacou a dualidade dos países em desenvolvimento, onde há dois setores econômicos claramente diferenciados: o rural e o urbano. Sua principal teoria, denominada de economia dupla, é o processo de desenvolvimento nos países menos desenvolvidos com excesso de trabalho durante as décadas de 1960 e 1970, como é o caso da Amazônia, no contexto do Brasil. De acordo com Lewis (1969), há ilimitada oferta de trabalho nos países onde a população é numerosa em relação ao capital e recursos naturais, que setores da economia em que a produtividade marginal do trabalho é ínfima, nula ou mesmo negativa. Em países 74 Sir William Arthur Lewis ( ) - Premio Nobel de economia em investigação pioneira no desenvolvimento econômico, com atenção especial aos problemas dos países em desenvolvimento. Economista, nascido em Saint Lucian, nas Antilhas (Reino Unido). Lewis publicou The Theory of Economic Growth, em 1955, nessa obra procurou "apresentar um quadro apropriado para o desenvolvimento econômico", impulsionado por uma combinação de "curiosidade e da necessidade prática". Seu principal estudo foi sobre a dualidade dos países em desenvolvimento, onde há dois setores econômicos claramente diferenciados o rural e o urbano. Modelo de dois setores de Lewis economia dupla é a principal teoria do processo de desenvolvimento nos países considerados menos desenvolvidos, que tinham excesso de trabalho, durante as décadas de 1960 e (BLANCHARD, 2001).

145 145 pobres, o crescimento é lento, porque setor capitalista é pequeno ou inexistente, assim não há fonte de investimento nem poupança. Países com renda per-capita média têm crescimento alto, porque o setor industrial está crescendo e puxando a força de trabalho do setor de subsistência (agricultura). Enquanto, países com renda alta, o crescimento é mais lento, porque os ganhos de tirar trabalhadores dos setores de subsistência já estão quase esgotados. A obra de Economic Development with Unlimited Supplies of Labour (Escola de Manchester) de autoria de William Arthur Lewis publicado em 1954 foi o mais influente artigo de desenvolvimento da economia. Neste trabalho, Lewis 75 (1969) combina uma análise da experiência histórica dos países desenvolvidos com as idéias centrais dos economistas clássicos e produz uma visão ampla do processo de desenvolvimento. De acordo com Sen (2000), na obra The Theory of Economic Growth (1955, p. 9-10), W. A. Lewis, afirma que o objetivo do desenvolvimento é aumentar o conjunto das escolhas humanas. Contudo, depois de apresentar esse argumento motivacional, Lewis, decidiu, por fim, concentrar sua análise simplesmente no crescimento do produto per-capita, com a justificativa de que isso dá ao homem maior controle do seu meio e, assim aumenta a sua liberdade. (LEWIS apud SEN, 2000, p.329). Nas sociedades e, em especial, as situadas em países emergentes, como o Brasil, um circulo se repete, ou seja, ocorre desenvolvimento da atividade econômica, mas com baixos índices de bem estar social e com o desafio de acumular riquezas o mais rápido possível. Esse caminho para o desenvolvimento inviabiliza o bem-estar coerente e justo. É preciso recorrer a outra definição embasada nos princípios da igualdade e da liberdade como definido por de William Arthur Lewis e, posteriormente, por Amartya Sen 76. No livro Desenvolvimento como liberdade partindo da Teoria de Adam Smith, citada pelo autor no prefácio (SEN, 2000, p.15), apresenta duas visões antagônicas do desenvolvimento, encontradas entre os economistas e a opinião pública. A economia do desenvolvimento" surgiu nos anos 1950 como um ramo de estudo da economia, sempre preocupado com os meios para promover o crescimento da renda per capita. Com esses 75 Autor de vários livros entre os quais, Os Princípios do Planejamento Econômico (1949), The Theory of Economic Growth (1955), Planejamento do Desenvolvimento (1966), Tropical de Desenvolvimento (1971) e Crescimento e Flutuações (1978). 76 Amartya Kumar Sen é Economista indiano ( Shantiniketan, em Bengala Ocidental). Prêmio Nobel de Economia de 1998, seus trabalhos teóricos contribuem para uma nova compreensão dos conceitos sobre miséria, fome, pobreza e bem-estar social. Professor de economia nas seguintes universidades: Calcutta ( ), Cambridge ( ), Delhi ( ), Oxford ( ) e Harvard ( ). Entre o 1997 e 2004 foi Presidente do Trinity College da Universidade de Cambridge e desde aquele ano é professor, novamente, de Harvard. Suas principais publicações são: 2000 Desenvolvimento como liberdade, Development as Freedom, Oxford, Oxford University Press, Ethics and Economics, Oxford, Basil Blackwell, Food Economics and Entitlements, Helsinki, Wider Working Papel, Poverty and Famines : An Essay Entitlements and Deprivation, Oxford, Clarendon Press, Choice, Welfare and Measurement, Oxford, Basil Blackwell. (SEN, 2000).

146 146 princípios, acreditava-se numa relação diretamente proporcional entre renda, consumo e satisfação. Por meio de suas obras, em especial (Pobres e Famintos: Um Ensaio sobre Direito e Privação 1981, Desenvolvimento como Liberdade 2000), Sen contesta essa crença aparentemente reducionista. Merece destaque a critica contida na obra mais conhecida do autor, de 1981, Pobres e Famintos: Um Ensaio sobre Direito e Privação. Nessa obra, ao analisar as catástrofes na Índia, em Bangladesh, na Etiópia e no Saara africano, Sen (1981, p.28) evidencia que até quando o suprimento de alimentos não é significativamente inferior que o de anos anteriores pode ocorrer privação e fome. Nessa direção de análise, conclui, que que a escassez de comida não constitui a principal causa da fome, como acreditam os acadêmicos, e sim a falta de organização governamental para produzir e distribuir os alimentos. Por meio desse estudo e das obras citadas, Sen (2000) construiu sua visão diferenciada dos economistas contemporâneos, apoiado na convicção de que a promoção do bem-estar pode resultar na liberdade do cidadão, meio para exercício da cidadania e do desenvolvimento. Para Sen (2000, p.16), a definição de desenvolvimento, o aumento da capacidade de os indivíduos fazerem escolhas. É esta visão do desenvolvimento que o faz exigir uma definição positiva de liberdade: liberdade, para o autor, não é apenas a ausência de restrições, o direito abstrato de ir, vir, comprar e vender. A liberdade e o desenvolvimento não podem ser pensados fora das condições concretas de seu exercício. Desse modo, diferenciando do que foi exposto até o momento a expansão da liberdade humana seria o principal fim para o caminho do desenvolvimento. Assim, nesse modo de conceituar, [...] o objetivo do desenvolvimento relaciona-se à avaliação das liberdades reais desfrutadas pelas pessoas. As capacidades individuais dependem crucialmente, entre outras coisas, de disposições econômicas, sociais e políticas. Ao se instituírem disposições institucionais apropriadas, os papéis instrumentais de tipos distintos de liberdade precisam ser levados em conta, indo-se muito além da importância fundamental da liberdade global dos indivíduos (SEN, 2000, p. 71). Essa teoria e a prática do conceito de desenvolvimento proposta por Sen (2000), é inovadora e mais abrangente por mostrar que a qualidade de nossas vidas deve ser medida por nossa liberdade e não por nossa riqueza. Por meio de uma análise ética e política o autor aborda problemas econômicos em que o desenvolvimento é um problema de expansão das liberdades reais que as pessoas desfrutam por meio dos direitos básicos e da oportunidade. O que conseguimos aprender com essa análise teórica sobre o conceito do desenvolvimento? Esse estudo precisa ser analisado sob três grandes segmentos: atores sociais, estado e sociedade moderna. Desse modo, pode-se compor um instrumental teórico no que diz respeito ao papel dos atores sociais (agentes) no contexto da sociedade moderna.

147 147 Além disso, é preciso perceber e analisar o desenvolvimento sob o ponto de vista da visão interdisciplinar. Atualmente, o desenvolvimento relaciona-se, não só, com o segmento econômico, mas com várias áreas e segmentos da sociedade: estado, meio ambiente, sociologia, antropologia, políticas públicas, dentre outras. É dessa maneira que esse enunciado juntamente com a participação é um termo recorrente nas ações da cooperação técnica alemã para o desenvolvimento em todos os lugares de sua atuação em todo o mundo. Nesse contexto, mais abrangente do enunciado desenvolvimento, teve origem em 1948 a Organização para a Cooperação Econômica (OECE), liderada por Robert Marjolin da França, para ajudar a administrar o Plano Marshall para a reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial. Posteriormente, a sua filiação foi estendida a estados não-europeus. Em 1961, foi reformulada para a Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Convenção sobre a Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento. A Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico é uma organização internacional de 31 países que trabalham com os princípios da democracia representativa e da economia de livre mercado. Os membros da OCDE são economias de alta renda com um alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Nesse contexto, emerge um processo histórico que viabilizou os fluxos de recursos internacionais para a administração em territórios estrangeiros inicialmente por meio do desenvolvimento de projetos políticos e sociais que desencadeou na formatação de práticas de administração pública de Estados Nacionais no pós- Segunda Guerra, como política de cooperação técnica para o desenvolvimento. Em especial, mais evidente, a partir dos anos sessenta. Nesse período, as instituições públicas americana e alemã, destinadas a promover intervenção em territórios estrangeiros mplementaram procedimentos e normas administrativos regulares e com profissionais especializados, caracterizando uma política oficial de cooperação para o desenvolvimento. A exemplo da cooperação técnica alemã, o campo de debate sobre o conceito de desenvolvimento tem atraído pesquisadores de outras áreas preocupados com os impactos ambientais e sociais da industrialização e urbanização, com as perspectivas de superação das desigualdades sociais e regionais, com a sustentabilidade do processo de crescimento e desenvolvimento. Entretanto, constatou-se que não existe uma definição universal sobre desenvolvimento, contudo há uma corrente de economista com fundamentação mais teórica que considera crescimento como sinônimo de desenvolvimento. Nessa linha de pensamento enquadram-se os modelos de crescimento de tradição neoclássica; Meade e Solow e os de inspiração mais keynesiana: Harrod, Domar e Kaldor.

148 148 Embora com raízes ortodoxas pertencentes, a segunda corrente de economista, Lewis (1969), Hirschman (1974), Myrdal (1968) e Nurkse (1957) análisara e elaboraram modelos mais próximos da realidade econômicas subdesenvolvidas, atualmente, denominadas de economias emergentes. Nesse modo de analisar a economia em que o desenvolvimento está associado ao crescimento, um país é desenvolvido, porque cresce menos que os desenvolvidos Rostow (1974), ano. Para esses autores, esses países possuem terra e mão-de-obra, mas não utilizam totalmente os fatores de produção de que dispõem, por isso a economia amplia abaixo de suas potencialidades. Ocorre exatamente esse exemplo na região Amazônica em virtude de sua complexidade social e econômica. Com base nessa associação do desenvolvimento como sinônimo de crescimento, surgiram soluções reducionista de modelos que enfatizaram somente a acumulação de capital. Isso coloca todos os países em uma mesma problemática econômica e social. Desse modo, o enquadramento genérico da economia, a distribuição da renda ocorre diretamente entre os proprietários dos fatores de produção. Essa experiência tem mostrado que o desenvolvimento não pode ser confundido com crescimento, porque os frutos da ampliação econômica nem sempre beneficiam toda população. Assim, por essa abordagem que consiste em estudos contemporâneos e interdisciplinares, certamente, as diferentes linhas de pensamento teórico discutidas aqui, não explicam a dualidade da situação do Brasil, em especial, a disparidade econômica e social da Amazônia. Com essa perspectiva é importante analisar o estudo das possibilidades de implementação de políticas públicas, na Amazônia que requerem a inclusão do desenvolvimento sustentável que em linhas gerais, pressupõe iniciativas políticas e sociais que agreguem um valor na região, gerando renda crescente e integrando a população ao ambiente produtivo por meio da qualificação da mão-de-obra local e da formação de competência para a produção de capital humano e social, mesmo distante do modelo proposto pelo BM e pela cooperação internacional. Essa discussão além de sintetizar a compreensão sobre o termo desenvolvimento propõe suscitar que a Amazônia por sua diversidade, localização geográfica e agentes sociais tem aspecto singular. Desse modo, essa pesquisa refuta a idéia de comparação com outras regiões e também não sugere políticas públicas ou programas sociais para a região, mas indaga e propõe reflexões baseada nos autores e na cooperação técnica para o desenvolvimento. Na verdade, ao rever os princípios da teoria do desenvolvimento, essa discussão suscitou mais pistas e indagações que respostas. Assim, é importante ressaltar que

149 149 esse debate sobre o estudo do desenvolvimento é um caminho aberto para reflexão, tão complexo e com vários enunciados como a Amazônia por sua multiplicidade social e cultural. No Brasil, o lócus das práticas e de onde emerge os discursos e práticas acerca do tema desenvolvimento é em Brasília. É na capital do país que estão localizados os organismos e as agências internacionais mais importantes do Brasil e do exterior. Em Brasília, situam as embaixadas dos países com os quais o Brasil tem relações diplomáticas e a maioria das representações de organismos internacionais no Brasil, como a ONU e a Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura UNESCO, a Organização dos Estados Americanos - OEA, o BID, o Banco Mundial, a Comissão Econômica para América Latina e Caribe - CEPAL, a Organização Mundial de Saúde OMS, a Organização Internacional do Trabalho - OIT, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD e os escritórios das principais instituições que executam a política de cooperação para o desenvolvimento como do governo americano a USAID, da Alemanha a GTZ, o Banco KfW e todas as embaixada que mantêm relações diplomáticas com o Brasil. Então, cooperação para o desenvolvimento é um tema com práticas institucionalizadas no âmbito local e global. Observa-se que, nessas práticas de comunicação institucional das organizações alemãs, as imagens de solidariedade e de bondade representam uma parceria de harmonia na cooperação para o desenvolvimento nos países emergentes, seja na foto das Enfermeiras do Serviço Alemão de Cooperação Técnica e Social (DED) na Cooperativa de Pindorama em Pindorama (Alagoas) em, 1962, ou na visita do coordenador do Programa para a Proteção e Gestão Sustentável das florestas Tropicais do GTZ, Paul-Gregor Fischenich e do diretor de Programas de Manejo de Recursos Naturais do KfW, Jens Ochtrop nos seringais do Acre, em Assim, nessas visitas estratégicas, conceituadas como práticas de comunicação aproximativa, sempre é reafirmada a posição da cooperação da Alemanha. Na visita de junho de 2009, a Alemanha mantém ajuda a programas na Amazônia. E ainda, Não se atua de forma solta na Amazônia. A cooperação governamental bilateral é o nosso objetivo. (JENS OCHTROP, apud CRUZ, 2009).

150 150 Fotografia 1 - Enfermeiras do Serviço Alemão de Cooperação Técnica e Social (DED) na Cooperativa de Pindorama em Pindorama (Alagoas) Fonte: (ALEMANHA, 2003, p. 18) Fotografia 2 - Paul-Gregor Fischenich e o diretor de Programas de Manejo de Recursos Naturais da instituição, Jens Ochtrop. Fonte: Agência Amazônia de Notícia, 07 de junho de Feitas essas considerações sobre o conceito do termo desenvolvimento e a participação da Alemanha, questiona-se, em que essa cooperação técnica alemã para o desenvolvimento difere dos acordos de cooperação internacional, do PPG7. Essa é uma das principais questões que se tenta responder no próximo capítulo. 4.2 A DISCUSSÃO GLOBAL EM BUSCA DE UM CONCEITO PARA O DESENVOLVIMENTO Na percepção ambiental das décadas de 50 e 60 do século XX, se críticava a depredação descontrolada da natureza e do consumo exacerbado dos recursos naturais. Esta conscientização foi conceituada por Bursztyn (2004) como o despertar ambiental e ocorreu

151 151 no período compreendido entre 1950 e Sob esse novo modo de pensar o meio ambiente, surgiram iniciativas para reverter e conter a acelerada ameaça de uma catástrofe global. O resultado significativo dessa tendência de consciência ambiental foi a formação de um comitê constituído por humanista, cientistas, industriais, sociedade civil para debater os dilemas e o futuro do homem no planeta. Desse encontro nasceu o Clube de Roma em O resultado das discussões gerou um documento denominado Limites do Crescimento, com o objetivo de demonstrar a inviabilidade do modelo de crescimento industrial vigente. Nesse documento, há indicativo das tendências de crescimento da população mundial, da produção de alimentos, da industrialização, da poluição e consumo de recursos naturais. O estudo se baseava em cinco fatores que se não desaceleravam pelo menos limitavam aquele tipo de crescimento: 1. população, 2. recursos naturais, 3. produção agrícola, 4. produção industrial e 5. poluição. Os próprios autores a época considerava esse documento simplificado, porque não daria conta da complexidade do modelo de desenvolvimento ambiental. As propostas do Clube de Roma eram boas e não foram em vão, mas os problemas ambientais se agravaram e, por conseguinte, a ONU promoveu a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e os Direitos Humanos em Estocolmo, no ano de Pela primeira vez, a comunidade internacional se reuniu para discutir o meio ambiente em seus aspectos globais e as interações deste com as necessidades de desenvolvimento das diversas nações. Nesse contexto, foi importante e favoreceu os debates de Estocolmo a publicação do livro Small is Beautiful: a Study of Economics as if People Mattered, em 1973, de autoria de E. F. Schumacher 78. Essa publicação não discutia apenas a crise do capitalismo, mas 77 O ano de 1968 é o ano das rupturas, a síntese de (BURSZTYN, p. 2004), resumi o descontentamento daquele período: O ano de 1968 é sempre evocado como marco de rupturas. O mundo vivia o apogeu de um longo período de prosperidade econômica, que os acadêmicos chamaram de os 30 anos gloriosos, iniciados logo após a Segunda Guerra Mundial e encerrados abruptamente com a crise do petróleo, em meados da década de A tônica de 1968 era a ruptura com padrões comportamentais atrasados, que não mais condiziam com os novos tempos. A pílula anticoncepcional trazia as mulheres para a arena da participação na sociedade e lançava a liberdade sexual como tema da ordem do dia. A Guerra do Vietnam evidenciava a estupidez das agressões internacionais e do uso de jovens conscritos como bucha de canhão. Nos EUA, em particular, os negros se levantavam contra a ancestral discriminação que sofriam. O conservadorismo das instituições educacionais já não condizia com a expectativa dos jovens universitários, que repetiam o refrão de Che Guevara: sejamos razoáveis: exijamos o impossível (BURSZTYN, p. 2004, 12). 78 O autor Ernst Fritz Schumacher (data- 1977) é reconhecido internacionalmente como o autor de Small is Beautiful. Schumacher, alemão de nascimento, estudou na Inglaterra dos anos 30 e tornou-se cidadão inglês após ter sido impedido pelos nazistas de retornar à Alemanha. Ele travou contato com Keynes e foi seu discípulo, escreveu artigos em parceria com renomados economistas do seu tempo, principalmente Kalecki, e, após a II Guerra Mundial, colaborou na reconstrução da Alemanha, assumiu, posteriormente, a direção do British Coal Board, que foi uma experiência fundamental para a sua participação no planejamento da economia britânica (SCHUMACHER, 1999)

152 152 vários aspectos que necessitavam ser revistos para uma retomada do desenvolvimento econômico sob outras bases, mais sustentáveis. Nessa perspectiva de mudança, ressalta Leff (2001) é necessária a construção efetiva de uma nova teoria econômica, que considere a atitude e o comportamento dos agentes, considerando não apenas o aspecto econômico, mas também os aspectos político e social. O relatório "Nosso Futuro Comum", posteriormente conhecido como o "Relatório Brundtland", em homenagem à presidente da Comissão que elaborou o documento, a então primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, foi lançado em O relatório lança pela primeira vez o conceito de desenvolvimento sustentável, especificando um desenvolvimento que atenda as necessidades das gerações atuais sem comprometer os recursos necessários as gerações futuras. Em síntese, o relatório também fazia uma série de recomendações a serem implementadas pelos países rumo ao desenvolvimento sustentável, como, a limitação do crescimento populacional; a garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) em longo prazo; a preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; a diminuição do consumo de energia e o desenvolvimento de tecnologias com uso de fontes energéticas renováveis; o controle da urbanização desordenada;o atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, moradia); o uso de novos materiais na construção; a reciclagem de materiais; o consumo racional de água e de alimentos, entre outros direcionamentos. De acordo com (CARVALHO, 2003, p. 27), foi baseado no Relatório Brundtland que organizações como a Câmara Internacional de Comércio (ICC) e o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD fundado em 1995) incorporaram a questão do desenvolvimento sustentável, exercendo grande influência na atuação dos grandes grupos econômicos de atuação global. A questão ambiental começava a fazer parte do planejamento estratégico das grandes empresas e seria só uma questão de tempo, até que qualquer empresário incluísse a "política verde" em seus negócios. A partir desse momento, o desenvolvimento sustentável passou a ser a base de todas as reuniões e orientação de políticas ambientais. No entanto, o processo de alteração das novas práticas ambientais é lento, uma vez que, requer mudanças estruturantes econômica e cultural. A amplitude da palavra desenvolvimento sustentável, após o Relatório Brundtland, foi adicionada a uma série de sugestões e conclusões que originaram a agenda 21 e posteriormente, a Conferência das Nações Unidas para o ambiente e Rio 92. A delimitação temporal dessa pesquisa é a partir dessa data quando se formaliza Desenvolvimento em

153 153 CNUMAD em Essa reunião também ficou conhecida como a proposta do PPG7 implementado efetivamente na Amazônia, em Conforme as práticas observadas e análise crítica de Castells, (2009), Dalton, (1994) e Coleman (1998), a America do Norte e o Norte da Europa contribuiram com mais ênfase para a amplitude da discussão e das mobilizações no âmbito global. Embora, concorde com tal afirmação, essa pesquisa a exemplo da citação de Castell (2009, p. 149), sustenta a tese, de que na Alemanha e América do Norte encontram-se os movimentos ambientalistas mais desenvolvidos do mundo, além disso, o objeto de estudo dessa pesquisa é a cooperação técnica alemã no âmbito do PPG7 no período Vale ressaltar que os ideais do movimento ambientalista foi fonte de inspiração de algumas contra-culturas 79 originadas dos movimentos dos anos 1960 e Então, no que se refere às ações conceituadas como movimentos sociais, a partir do final dos anos 1960, e as práticas e discussões ambientalista (CNUMAD) no âmbito global e na Europa, e particularmente na Alemanha, é interessante nesse momento, aprofundar a relevância do contexto da formação do partido verde alemão e das fundações políticas democráticas, tendo em vista que essas organizações estão no cerne desse movimento. Assim a descriçao a seguir revisita o interior dessas organizações. 4.3 PRINCIPAIS ATORES DOS MOVIMENTOS SOCIAIS AMBIENTALISTAS NA EUROPA Com o propósito de facilitar a visualização da estruturação da política e do engajamento de CTI na Amazônia ( ) 80 é necessário iniciar a discussão, mesmo que resumida, pela ordem hierárquica dos principais atores sociais. Então, começamos por um dos mais importantes, a União Europeia 81, locus dos planejamento para o desenvolvimento. O início da União Europeia remonta sua origem à Comunidade do Carvão e do Aço, a partir de 1951, e após um processo de integração econômico-político, criou-se, com o Tratado 79 O termo contra-cultura nessa pesquisa é entendido como definido por Manuel Castell A tentativa deliberada de viver segundo normas diversas e, até certo ponto, contraditórias em relação às institucionalmente reconhecidas pela sociedade, e de se opor a essas instituições com base em princípios e crenças alternativas (CASTELLS, 2009, p. 147). 80 Ver dealhes sobre a cooperação e o investimento em Desenvolvimento Sustentável na América Latina em: e relacionado a Amazônia e o no Brasil no âmbito do PPG7 em: Guia sobre a Cooperação União Europeia América Latina, A União Europeia (UE), anteriormente designada por Comunidade Económica Europeia (CEE) e Comunidade Europeia (CE), é uma união supranacional econômica e política de 27 Estados-membros, estabelecida após a assinatura do Tratado de Maastricht, em 7 de Fevereiro de 1992, pelos doze primeiros países da antiga CEE, uma das três Comunidades Europeias. (GUILLEMETTE; HERRERO VILLA, 2007).

154 154 de Roma, a Comunidade Europeia, em A Alemanha assume a Presidência do Conselho das Comunidades Europeias em junho de Entretanto, somente em 1992, com o Tratado de Maastricht, alcançou a integração econômico-político-monetária que se denominou União Europeia 82. Com a criação da Comunidade Econômica Europeia (CEE) em (1992) surgiram novas instituições como a Comissão Europeia, o Conselho Europeu, o Parlamento Europeu, o Tribunal da Justiça Europeia e outras organizações. O processo de integração da Europa está ainda em construção e sua expansão depende do consenso dos membros. Esse despertar pela consciência ambiental coincide com o período de integração econômico-político-monetária da Europa. E, é nesse contexto de integração econômicopolítico-monetária e do despertar ambiental (BURSZTYN, 2004) que, nos anos de 1970, 1980 e 1990, emerge a formação de grupos e organizações (Partidos políticos, fundações e ONGs) em prol da democracia e da preservação do meio ambiente. Essa sociedade civil organizada em grupos de diferentes organizações, em alguns momentos das últimas décadas, sensibilizaram a opinião pública e promoveram a mobilização em defesa da preservação da Amazônia. A partir do contexto de integração econômica-político-monetária da União Europeia nos anos de 1970, se consolidou a formação do partido verde na Europa. Desse modo, nasceu o Partido dos Valores fundado na Nova Zelândia, em 1972 considerado o primeiro partido ecologista do mundo. Fundado por um grupo ambientalista (United Tasmania Group). Esse partido disputou a eleição de 1972 com as propostas do crescimento econômico e índice populacional zero, direitos de cidadania para homossexuais, reformas nas leis de aborto e lançou o primeiro manifesto ecologista do mundo, denominado de Blueprint for New Zealand (Alternative Future). A proposta crescimento econômico e populacional zero constava na publicação do livro O importante é ser pequeno (Small is Beautiful) de Ernst Fritz Schumacker (1977). No Reino Unido em 1973, foi fundado o primeiro partido verde da Europa, o PEOPLE. Em 1980, na Bélgica, se estabelece o Ecolo. O primeiro partido verde a conquistar cadeiras num parlamento nacional, melhor explicando, consegue 5 em passa a ser 82 Os países fundares da União Europeia: Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo, Países Baixos e depois por ordem cronológicas houve a adesão dos demais Países; 1973, Dinamarca, Irlanda, Reino Unido; 1981, Grécia; 1986, Portugal; 1995, Aústria, Finlândia, Suécia; 2004, Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia, República Checa; 2007, Bulgária e Roménia. A União Europeia é composta atualmente de 27 Estados membros, a saber: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chipre, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, França, Finlândia, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Romênia e Suécia. Ver: (GUILLEMETTE; HERRERO VILLA, 2007).

155 155 um ano histórico, pois a versão flamenca do partido, o Agalev, conquistou mais de 50 cadeiras nos parlamentos locais. No final da década de 1970, ambientalistas e pacifistas alemães se organizaram politicamente sob o nome Die Grünen (Os Verdes). Em 13 de janeiro de 1980, com base em uma coalizão de movimentos populares, o Partido Verde alemão foi oficialmente estabelecido. Trouxe no seu programa eleitoral uma contundente oposição à poluição industrial, ao uso da energia nuclear e à estratégia militarista da OTAN. Em 1982, sofreu sua primeira dissidência, quando o grupo mais conservador do partido saiu para formar o Partido Ecológico Democrático. As divergências do grupo dissidente diziam respeito, principalmente, a uma diferenciação no formato de atuação majoritária do partido, em que a desobediência civil e o protesto tinham papel de destaque. Para Castells (2009, p.151), mesmo considerando a eficácia da propagação pela causa ambientalista na Alemanha, mais que qualquer outro movimento europeu, não pode ser considerado a rigor um movimento apenas ambientalista. Segundo o autor, a força que movia a formação do partido foram as iniciativas do cidadão do final dos anos Essas inicitivas organizadas estavam baseadas nas mobilizações pela paz e contra as armas nucleares. Desse modo, conseguiram reunir veteranos dos movimentos os anos 1960 e feministas que por meio dessas ações, se descobriam espelhando-se justamente na revolução sexual promovida pelos revolucionários dos anos A exemplo de Castells, (2009, p. 151), Offe (1984, 34) também aponta a participação da classe média de formação superior preocupada com a questão da paz, da energia nuclear e do meio ambiente (destruição das florestas, waldesterben), logo com as condições atuais do planeta, a liberdade individual e a democracia de base popular. Então, não foi por acaso que, nessa fase, surgiam os primeiros partidos verdes na Europa. O Partido Verde da Alemanha Ocidental, Die Grüene (Os Verdes) considerado como a "mãe dos Partidos Verdes" no mundo, foi o primeiro a obter uma grande bancada de parlamentares em um dos países protagonistas da economia mundial. Não foi o primeiro a ser fundado, tampouco o primeiro a conquistar cadeiras em parlamentos, mas conseguiu visibilidade e destaque na mídia ao mobilizar opinião pública em prol de suas causas ideológicas. Com essa estratégia de arregimentar a opinião pública, os verdes conseguiram repercussão internacional na eleição de 1983, quando conquistaram 28 cadeiras no Bundestag (parlamento alemão), obtendo quase um milhão de votos. Com a mistura de ativismo social e trabalho parlamentar, os Verdes alemães influenciaram a multiplicação de partidos verdes em quase todo o mundo (DER SPIGEL, 1990, p.12).

156 156 Na eleição de 1983, o partido conquistou os necessários 5% dos votos para entrar no Bundestag 83, a câmara baixa do parlamento alemão, com um programa radical, que incluía a retirada da então Alemanha Ocidental da OTAN e a desmobilização do exército alemão. Em entrevista à imprensa, o líder do partido, no Estado de Hesse, declarou reconhecer que esses objetivos dificilmente seriam alcançados, uma vez que não tinha ilusão de que o partido um dia fosse chegar ao poder, mas achava que os Verdes poderiam criar uma consciência social de que é necessário introduzir reformas importantes no modelo alemão. [...] A conservação do meio ambiente não pode ficar isolada de um contexto maior.os jornais e revistas como a Spigel divulgavam a preocupação dos empresários alemães com o crescimento eleitoral dos Verdes, com a inclusão no debate público da questão nuclear e com o conseqüente retardamento do programa nuclear alemão. Dois momentos distintos ocorreram na história dos partidos verdes no mundo. O primeiro compreende o período de 1972 a 1991, com a derrota dos verdes alemães nas eleições parlamentares. O segundo, vai de 1991 até os dias atuais (TREIN, 2000). O primeiro momento, há exemplos de outros movimentos, é caracterizado por um profundo sentimento de mudança radical da sociedade e da construção de partidos com organização horizontal e sem líderes. Além disso, tinham como proposta mudar os modos de produção. No segundo, há uma perspectiva de que a realidade havia atropelado as ilusões e porque foi mais importante gerenciar a crise ambiental por meio de mecanismos governamentais e controle do que ficar vinculado a uma ecologia ideológica sem resultado prático para a efetiva transformação da proteção ecológica. Nsse momento, o controle dos meios de produção submete-se a uma lógica de proteção e preservação dos recursos naturais. Nota-se nos discursos do primeiro e do segundo momento, a discussão ambiental no âmbito global. A proposta radical da primeira fase pode ser vista nos ideais da reunião do Clube de Roma (1968) e, na segunda fase, as preparações para as ações e discursos que culminaram com a (CNUMAD). A partir do fim da primeira fase, por volta de 1991, cresceu o campo de disputa entre correntes distintas pela construção dos significados do verde perante o partido, a sociedade e a opinião pública. As discussões emergem, a partir das derrotas eleitorais e a conseqüente perda de influência nas esferas de poder institucional, significam o início de uma revisão de princípios fundadores e uma ampliação da perspectiva de construir alianças com outros atores políticos, algo inaceitável, até então, por grande parte dos verdes. É interessante notar que mesmo tendo a mesma ideologia, interesses e discursos, o partido 83 A exigência mínima para obter lugar no parlamento é 5%. (ALEMANHA, 2009).

157 157 verde não pode ser considerado um partido com idéias homogêneas. A história no interior dos partidos verde é permeada por ações, ideais e conflitos, cujo perfil parece ser baseado em posturas idealistas, pragmáticas e reformistas. (CASTELLS, 2009, p.144). A postura com discursos "idealistas" é fiel aos programas originais do ecologismo e não admite rever temas considerados caros ao movimento, como por exemplo, as liberdades individuais, a democracia direta, tão pouco a flexibilização da oposição à categorias como "mercado ou sociedade de consumo, desenvolvimentismo em nome de resultados eleitorais mais expressivos ou postos governamentais. Com esses ideais, são críticos da economia de mercado e defedem as organizações descentralizadas, sem estruturas de poder para as tomadas de decisões. Os pragmáticos podem ser caracterizados pela postura predominantemente conservadora em questões comportamentais, como as políticas para homossexuais, a legalização do aborto e das drogas. Com essa visão, defendem estratégias políticas mais pragmáticas, objetivando resultados eleitorais expressivos e a participação do partido em governos, em cargos públicos. O perfil reformistas refere-se aos ecologistas que flexibilizam questões consideradas clássicas, por reconhecer a necessidade de adequação no discurso político na composição de alianças eleitorais objetivando uma maior inserção dos verdes nos governos e parlamentos. Assim, partem do pressuposto que não podem abandonar bandeiras em prol do ambientalismo. São defensores de uma economia de mercado voltada para o desenvolvimento sustentável, compreendido como uma articulação entre justiça social, crescimento econômico e preservação da natureza. (DOBSON, 1995, p. 167) Com esse perfil, pode-se citar o exemplo de Joschka Fischer 84, militante marxista que na década de 1970, foi um dos fundadores do partido verde alemão e compôs a histórica bancada parlamentar de No ano de 1984, desferiu palavras agressivas ao vicepresidente do Parlamento: com todo respeito, Sr. Presidente, mas você é um babaca. Esse fato provocou um escândalo e a mídia divulgou diferentes reportagens durante quase todo o ano. De acordo com (WOLFF, 1994), além das questões comportamentais, nos últimos anos, os maiores pontos de conflito entre as correntes têm sido em relação à revisão de 84 Segundo a Revista Spiegel, esse fato não impediu que se tornasse dirigente partidário e o principal líder dos verdes e um dos principais nomes da oposição aos democratas-cristãos. Considerado carismático e com discurso bem articulado, foi o principal defensor e formulador da aliança verde-vermelha que governou o país entre 1998 e 2005 e defendeu a flexibilização de temas tradicionalmente identificados com os verdes em nome da coalizão.

158 158 propostas tradicionais do movimento, como o pacifismo radical e a oposição ao establishment. Trata-se de uma relação de força e poder no contexto social e político da Alemanha e do mundo. No caso dos alemães, a prática política de cada partido e os próprios partidos eram influenciados pelos fundadores e dirigentes. Ainda assim, os verdes renovam os discursos e constroem seus programas e práticas de acordo com a inclinação política majoritária de seus dirigentes para um ou outro dos três "tipos" de ecologistas aqui descritos. A coalizão Verdes/Aliança em 1990 ficou com 7.3% dos votos nacionais, conquistando 49 cadeiras. Depois de uma pequena queda na sua porcentagem, em 1998, (6,7% - 47 parlamentares, entre eles Hans-Christian Ströbele, voltando ao parlamento), os Verdes aderiram à coalizão com a Social-Democracia e Joschka Fischer virou vice-chanceler e Ministro das Relações Externas, além de outros dois ministros verdes. De acordo com Castells (2009, p.153), em 1990 o Partido Verde Alemão recuperou o fôlego ingressou novamente no parlamento e conquistou importantes postos nos governos regionais e locais, especialmente, em Berlin, Frankfurt, Bremen, Hamburg Entretanto, o autor adverti, não era mais o mesmo partido, ou seja, havia se transformado num partido político e tampouco detinha o monopólio de defensor da causa ambiental, pois os social- democratas e os liberais tornaram mais receptivos, logo passaram a ser mais receptivos as idéias e demandas propsotas pelos movimentos sociais Além disso, a Alemanha nos anos 1990, era um pais diferentes dos anos Na visão de (CASTELLS, 2009, p.139) não havia mais o perigo da guerra, mas a forte tendência para a decadência econômica. Alguns fatores contribuiram para essa constatação, o desemprego em massa, a reconfiguração do Estado do bem estar social, a reunificação da alemanha, entre outras. Para os eleitores verdes essas questões se tornaram mais graves que a revolução cultural proposta nos anos anteriores. Nessa relação de poder com derrotas seguidas de vitória, o partido verde alemão, após perder suas cadeiras no Bundestag em 1991, sofreu profundas mudanças lideradas por reformistas. Com isso, revendo e/ou flexibilizando algumas questões tidas como polêmicas, participou de todo o governo social-democrata de Gerhard Schöereder, com o líder ecologista Joshcka Fischer no cargo de Ministro das Relações Exteriores. Naturalmente, com muitas críticas dos idealistas (conhecidos como fundis na Alemanha fieis aos princípios básicos da democracia popular e da ecologia ) versus realos ( líderes prágmaticos que tentavam difundir as idéias do partido por meio de instituições.

159 159 Com a trágica morte de Petra Kelly 85 em 1992, outros sentidos direcionaram os ideiais de jovens militantes para outros encaminhamentos e a essa altura o Partido verde Alemão quase no final do século XX estava consolidado, não só como partido verde, mas também como partido político (CASTELL, 2009). Assim desde 1994, o partido acumulou uma série de resultados eleitorais expressivos em eleições locais. Saber ecológico, justiça social, democracia participativa, não-violência, sustentabilidade e pluralidade permaneceram como os cinco pilares básicos do programa global dos verdes, aprovados por consenso. As divergências mais acirradas ocorreram no debate sobre economia e segurança (TREIN, 2000, p. 335). Nota-se nesses pilares básicos as mesmas propostas e discursos dos objetivos do milênio e também implícitos nos projetos socioambientais implantados na Amazônia ( ). Sobre essa diversidade de ideologias, ações coletivas, políticas e discursos controversos, (CASTELLS, 1999, p. 143) afirma que, é justamente essa dissonância entre teoria e prática que caracteriza o ambientalismo como uma nova forma de movimento social, descentralizado, multiforme, orientado à formação de redes e de alto grau de penetração. Por essa conceituação de Castells, em que medida as organizações que trabalharam com a cooperação internacional para o desenvolvimento na Alemanha, a partir dos anos 1990, aderiram as concepções dos movimentos ambientalista? e como esses discursos estão incorporados nos projetos socioambientais na Amazônia após 1995? houve dissonância entre teoria e prática nas ações implemetadas pelos verdes e pelas demais organizaçoes alemães na tentativa de conter o desmatamento na Amazônia? Não se tem de forma mensurável uma resposta para esses questionamentos, mas o que se observou nessa descrição histórica e nas práticas de comunicação institucional na formação do campo ambiental e, em especial, após a constituição do Partido Verde Alemao, não só possibilitou a manutenção da imagem da Alemanha como também mostrou por meio da estratégia da agenda Setting sua postura como defensora e porta-voz da preservação do meio ambiente no âmbito global. 85 Karin Petra Kelly ( ) foi uma política, fundamental na fundação do Partido Verde alemão, a primeira conquistar a opinião pública e destaque no mundo inteiro. Ela viveu e estudou nos Estados Unidos, até seu retorno à Alemanha Ocidental em No ano de 1972 se envolve na Associação Alemã de iniciativas dos cidadãos de Proteção Ambiental. Em 1975 Kelly é um dos oradores na primeira manifestação contra o "fastbreeding" reator nuclear em Kalkar. O Foundation foi fundado em 1997 como parte do Fundação Heinrich Böll. Desde 1998, a fundação apresentou a Petra Kelly Prize para os Direitos Humanos, Ecologia e Não-Violência. Fonte: Heinrich-Böll-Stiftung (2008). A Heinrich-Böll-Stiftung em Berlin mantem o acervo com livros e toda a história da vida política de Petra Kellly. Nesses arquivos há por volta livros e publicações em todas as áreas de seu engajamento político. São 1500 artigos, comunicados de imprensa e outros textos são listados separadamente. Dados sobre Kelly pode também ser encontrados em: (HBS, 2009).

160 COOPERAÇÃO INTERNACIONAL E COOPERAÇAO TECNICA ENQUANTO CAMPO DE PODER O campo de poder construído, exercido e legitimado pela cooperação técnica e a cooperação internacional foi examinado sob o ponto de vista das relações internacionais e apresentado sob diferentes visões por autores como (KEOHANE, NYE, 2001; MARKOVITCH, 1994). Na visão de Nye (2009), a Cooperação Internacional é o mecanismo pelo qual um país ou uma instituição promove o intercâmbio de experiências, conhecimento técnico, científico, tecnológico e cultural. A cooperação requer que ações de indivíduos ou de organizações sejam trazidas e colocadas com alguma conformidade por um processo de negociação que é normalmente interpretado como um processo coordenado por ações políticas. Assim, a cooperação acontece quando os agentes sociais ajustam seus interesses, objetivos e comportamentos a preferências de outros por meio de processo de coordenação política. A Cooperação pode ser técnica, tecnológica ou financeira. Ainda, na visão de Keohane e Nye (2001), a cooperação intergovernamental acontece quando as políticas adotadas e mantidas por um governo são percebidas por outros governos como facilitadoras para atingir os seus próprios objetivos de governo, como resultado do processo de coordenação de políticas. Por esse motivo, os agentes sociais adaptam suas políticas internas e externas aos objetivos dos outros. Assim, desacordos freqüentes são comuns e induzem as tentativas de ajustar as políticas. Para os referidos autores, quando essas tentativas de ajustes encontram resistências, surgem os conflitos políticas e divergências na comunicação e na relação. Sob esse ponto de vista, principalmente por meio de processos de negociação e barganhas, os agentes sociais ajustam suas políticas para adaptar ao acordo vigente. Após essa etapa, cada governo continuar olhando seus próprios interesses. [...] Portanto, a cooperação nunca é uma situação isenta de conflitos; ao contrário, a cooperação é repleta de conflitos e tentativas de superá-las. Se nesse processo de tentativa de superação de conflitos, cada vez mais se caminhar em direção a um acordo, mais se estará cooperando [...] (SARFATI, 2007, p. 128). A Cooperação Internacional é o mecanismo pelo qual um país ou uma instituição promove o intercâmbio de experiências e de conhecimento técnico, científico, tecnológico e cultural, mediante a implementação de programas e projetos com outros países ou organismos

161 161 internacionais. A Cooperação pode ser técnica, tecnológica ou financeira (NYE, 2009; MARCOVITCH, 1994, p ) e conforme destaca o autor destaca Constitui um mecanismo auxiliar da política externa, uma vez que proporciona a integração internacional, a colaboração nos campos científico e tecnológico para a realização de operações internacionais lastreadas na competitividade que formam recursos humanos orientados para as prioridades do desenvolvimento. (MARCOVITCH, 1994, p. 51). O Brasil, em virtude da prioridade da política externa do país de fortalecer sua presença no cenário internacional, como citado Marcovitch (1994), e pelo fato de não ser mais considerado internacionalmente um país receptor de fundos e ajuda humanitária, tem buscado como já citado, sob a coordenação da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), explorar e aproveitar as várias propostas da CTI, o que pode ser observado, especialmente, nas negociações relacionadas ao meio ambiente, como os acordos firmados no PPG7 para a Amazônia. Sob o ponto de vista da conceituação do termo cooperação internacional, faz-se necessário, neste momento, esclarecer a distinção entre ajuda humanitária e cooperação para o desenvolvimento. Desse modo, compreende-se como ajuda humanitária, a ação entre dois países que objetivam aliviar os efeitos imediatos de catástrofes naturais (como terremotos, secas, tsunamis) e humanas (conflitos violentos políticos, sociais e decorrentes de guerras). Geralmente, se trata de contribuição de pouca duração, cujo término se dá quando é constatado o alívio ou superação da situação adversa. Ressalta-se que, atualmente, em termos de cooperação para o desenvolvimento, toda a ajuda exterior da CE gira em torno da redução da pobreza no mundo expressada através dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (GUILLEMETTE; HERRERO VILLA, 2007, p. 27). Ainda sob a definição de Guillemette e Herrero Villa (2007, p. 17) e da Organização Europeia de Cooperação Econômica (OCDE), a cooperação para o Desenvolvimento ou Cooperação Internacional para o Desenvolvimento significa o esforço levado à estratégia de ações conjuntamente por países desenvolvidos e países em desenvolvimento, com a finalidade de combater as dificuldades econômicas e sociais do país receptor de forma sustentável e duradoura 86. Ao se referir à cooperação para o desenvolvimento é preciso relacionar e fazer um aprofundamento na discussão da fase de reconstrução da segunda guerra 86 Ver mais detalhes sobre a abrangência do conceito e história sobre o tema em: Guillemette e Herreiro Villa (2007).

162 162 mundial, do Plano Marshall, assim como acerca do papel das instituições internacionais 87, como a OCDE, ONU e as agências de cooperação para o Desenvolvimento internacional (GTZ, USAID, DFDI). Com a finalidade de ajudar a reconstruir a Europa devastada pela Segunda Guerra Mundial, O Plano Marshall pode ser interpretado como o primeiro projeto específico de Cooperação para o Desenvolvimento entre estados soberanos. Este marcou o início da Cooperação para o Desenvolvimento na Europa e nos EUA. Nesse sentido, coordenou as atividades associadas aos fluxos monetários e foram criadas várias instituições que se tornaram agentes sociais determinantes no campo da Cooperação para o Desenvolvimento, como a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (inicialmente denominada OECE). Naquele período, era predominante o pensamento sobre o crescimento e desenvolvimento com base nas teorias de crescimento econômico keynesianas e as teorias de modernização. Estas teorias tinham como premissas a noção de que o estado devia intervir no desenvolvimento de um país, criando e determinando as condições para que o capital produzido no país contribuisse para o desenvolvimento. Como já descrito, na história do desenvolvimento do Brasil e da Amazônia, nessa fase, constata-se que esse desenvolvimento consiste na transição de uma cultura tradicional para uma cultura moderna ou industrializada. Por essa lógica, havendo capital, o estado regulariza a situação e prover as condições para que a acumulação de capital permita a transição para uma sociedade moderna. É sob o ponto de vista dessa lógica capitalista, que nas primeiras décadas da Cooperação para o Desenvolvimento, com o fim da Segunda Guerra Mundial, inicia-se um vasto processo de descolonização, durante o qual várias colônias de potências europeias ganharam independência. Nesse sentido, intensificou-se a Cooperação para o Desenvolvimento, das antigas potências colonizadoras com as suas ex-colônias. Desse modo, vários países da Europa passaram a cooperar com as ex-colônias. No contexto da Guerra Fria, a seleção dos países que apoiam, ex-colonizador-colônia, fez-se notadamente por considerações geo-estratégicas e sob o âmbito da rivalidade entre os blocos ocidentais e soviéticos, para evitar que os países receptores da ajuda não passassem para o lado comunista. 87 A organização internacional é uma associação voluntária de sujeitos de direito internacional (geralmente Estados), constituída mediante ato internacional (quase sempre tratado), de caráter permanente, dotada de regulamento e órgãos de direção próprios. O objetivo é atingir os interesses comuns determinados por seus membros constituintes. De acordo com Seitenfus (2005, p.12), são consideradas organização internacional Organização das Nações Unidas (ONU), Organização Mundial do Comércio (OMC), União Europeia (UE), União Internacional de Telecomunicações (UIT).

163 163 Conforme as teorias keynesianas de crescimento e as teorias de modernização, a finalidade era ajudar as economias injetando capital nos estados recém-formados, esperando desta forma, o sucesso como o encontrado na reconstrução da Europa. Entretanto, essa expectativa durou pouco, uma vez que, historicamente, se constata, a exemplo do Brasil e demais países emergentes, a pouca modernização dos países subdesenvolvidos. Desse modo, passou-se a apoiar projetos de industrialização, construindo-se infraestruturas modernas nos países subdesenvolvidos, desde hospitais, indústria, agricultura, educação, e, no caso do Brasil, estradas Transamazônica, BR-163; hidrelétricas etc. Esta abordagem ficou denominada como paradigma dos projetos setoriais, pois consistiu em apoiar diretamente projetos de alguns setores econômicos e sociais na sociedade. Com a crise do petróleo decorreu a crise da dívida, uma vez que com os projetos setoriais e a modernização da infraestrutura, os países em desenvolvimento não só se tornaram dependentes do petróleo para garantir o funcionamento de sua economia, como também contraíram imensas dívidas para viabilizar muitos projetos complexos, como o Brasil na década de 1970, com os grandes Projetos e acordos de contrato de risco. A crise do petróleo provocou a recessão nos EUA e na Europa nesse mesmo período, como consequência, as taxas de juros aumentaram. Os países em desenvolvimento viram-se confrontados com vários problemas: o preço para as suas importações de petróleo subiu, os países desenvolvidos diminuíram os fundos para a Cooperação, o mercado internacional importou menos matéria-prima oriunda dos países em desenvolvimento, e, pagamento de taxas de juros muito mais altas do que aquelas vigentes inicialmente. Assim, os países em desenvolvimento caíram em crise financeira, conhecida como a crise da dívida. Este acontecimento evidenciou a fraqueza do pensamento dominante sobre o desenvolvimento, com ele o estado criava as condições para o desenvolvimento, demonstrando a dependência deste de acontecimentos externos e, assim, sai de cena o pensamento keynesiano juntamente com o ideal de poder absoluto do estado como único provedor do desenvolvimento (PEREIRA, 1995). A OCDE foi criada em 30 de Setembro de 1961, sucedendo a Organização para a Cooperação Econômica Europeia, de Também é denominada "Grupo dos Ricos", porque os 30 países participantes produzem juntos mais da metade de toda a riqueza do mundo. Desse modo, a OCDE influencia a política econômica e social de seus membros. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômicos (OCDE) é uma organização internacional de

164 países membros que aceitam os princípios da democracia representativa e da economia de livre mercado. Assim, a OCDE, Agrupa as economias mais desenvolvidas do mundo, pois os membros da OCDE são considerados de altas rendas com um alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) considerados países desenvolvidos. Teve origem em 1948 como Organização para a Cooperação Econômica (OECE), liderada por Robert Marjolin, da França, para ajudar a administrar o Plano Marshall para a reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial. Posteriormente, a sua filiação foi estendida a estados nãoeuropeus. Em 1961, foi reformada para a Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Convenção sobre a Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento. (OCDE, 2009; GUILLEMETTE; HERRERO VILLA, 2007, p ). A sede da OCDE é no Château de la Muette, em Paris, França, e seu objetivo de trabalho pode assim ser resumido: desenvolver o emprego, elevar o nível de vida, manter a estabilidade financeira, ajudar os outros países a desenvolverem as suas economias, apoio a um crescimento econômico duradouro, contribuir para o crescimento do comércio mundial. Também incorporou e adequou esses itens ao objetivo do milênio. A fim de contribuir para o desenvolvimento da economia mundial, o foco da OCDE tem progressivamente se ampliado, com a proposta de incluir um número crescente de outros países, além de seus 31 membros. Atualmente, compartilha seus conhecimentos e experiências acumulados com mais de 70 países em desenvolvimento e economias de mercado emergentes. Com esses objetivos, a OCDE também partilha os seus conhecimentos, experiências e troca de ideias com mais de 100 outros países e economias, como no caso da América Latina, especialmente o Brasil, dentre outros (OCDE, 2009; GUILLEMETTE;HERRERO VILLA, 2007, p. 21). Sendo assim, constata-se que desde o final da II Guerra Mundial, este tipo de cooperação internacional tem uma presença destacada; desempenha um papel central na promoção da assistência para o desenvolvimento e, mais recentemente, também para contornar as consequências negativas e indesejadas do desenvolvimento. As organizações instituídas com o mandato primário de promoção de ações de cooperação internacional, em diversos países nas várias regiões do mundo, têm também um papel fundamental na definição e estruturação das funções e inter-relação entre os diversos agentes sociais e instituições estratégicas engajadas em processos de desenvolvimento. Países como os Estados Unidos, Grã-Bretanha e Alemanha fundam suas respectivas agências, nesse período. Para entender o universo das Agências de Cooperação Internacional para o desenvolvimento, é necessário saber que basicamente existem quatro tipos mais relevantes: 1)

165 165 Agências de Cooperação Multilateral (AM), 2) Agências Financeiras de Cooperação Multilateral (AFM), 3) Agência de Cooperação Bilateral e 4) Agências de Cooperação Não- Governamental (ANG). (BARROS, 2006, p.24). As Agências de Cooperação Internacional, de modos diferenciados e até mesmo conflitantes, promovem determinados sentidos de crise, modelo de assistência, de desenvolvimento e projetos de sociedade, combinando empréstimo, doações, condicionalidades e referenciais normativos e programáticos para os países beneficiários. Essas Agências são responsáveis também, em maior ou menor grau, segundo os diferentes tipos, por políticas ou estratégias que, associadas a grandes fluxos de capital financeiro e técnico, orientam e apóiam planos e ações de inúmeros países, de modo a influenciar os processos sociais, econômicos, culturais, ambientais, políticos, institucionais, em âmbito nacional e subnacional. Ao mesmo tempo, em âmbitos nacional e transnacional, as Agências de Cooperação Internacional, por meio de uma complexa imbricação das redes de governança global, também contribuem para a maior igualdade ou desigualdade, para inclusão e/ ou exclusão de países, setores de países e grupos sociais, nos processos de desenvolvimento e globalização. A partir do final da década de 1980 e começo de 1990, organizações multilaterais, como agências de cooperação internacional para o desenvolvimento inclusive as que são instituições financeiras reconhecem, em maior ou menor concentração com outros tipos de agências no campo da cooperação, Organização da Sociedade Civil Organizada (OSCs) junto aos setores público e privado, em âmbito local, nacional, internacional e transnacional, bem como as iniciativas em que as OSCs agem com maior autonomia, por meio de suas próprias redes. Agora que se tem a compreensão sobre o que é a Cooperação Internacional será possível a seguir examinar como se articula a CTI para o desenvolvimento. 4.5 ELEMENTOS NO CAMPO DA COOPERAÇÃO TÉCNICA INTERNACIONAL A cooperação técnica para o desenvolvimento da Alemanha formou-se em 1952, durante a reconstrução da pós-segunda guerra. Com o objetivo de estabelecer uma política de relações internacionais, o país desenvolveu uma nova estrutura e prática para ampliar suas relações comerciais. Dessa maneira, mantém relações para além das fronteiras da Europa e da América do Norte, auxiliando países na África, Ásia e América Latina em seu processo de desenvolvimento. Com essa estratégia, por meio de apoio financeiro, assistência técnica e formação de recursos humanos, a RFA abriu portas para novos mercados e construiu

166 166 condições econômicas para o consumo de suas máquinas e produtos com imagem de qualidade agregada pelas regiões auxiliadas. Nessa ação, foi construída a imagem que hoje se tem da Alemanha como nação e de seus produtos com valor agregado. Após os anos de reconstrução (OLIVEIRA, 2000, p ), mas na essência da nova prática de relações econômicas estava implícito uma forte racionalidade política internacional de rejeição do papel mundial à Alemanha Oriental. No cerne da Doutrina Hallstein ( ), a RFA, capitalista, apenas estabelecia acordos de cooperação com os Estados que não mantivessem relações com a República Democrática Alemã (RDA), socialista. Igualmente, mas diferente de outras potências Europeias, que concentravam esforços de relações econômicas nas suas ex-colônias, a Alemanha com seu breve histórico de colonização optou por uma política de desenvolvimento que distribuia seus recursos por vários países em todos os continentes (BANDEIRA, 1994, p. 19). Nessa estratégia estava implícita a construção de uma nova imagem política e econômica para a RFA. Isso porque, ao mesmo tempo em que servia para ampliar as relações políticas abaladas durante a Segunda Guerra Mundial também reconquistava novos mercados para a exportação de seus bens e serviços. Nessa fase, o Brasil mantinha boas relações com Alemanha, porém, precisou adequar as relações exteriores à Doutrina Hallstein, pois corria o risco de sofrer embargo comercial e ferir os princípio da doutrina. É importante informar que a Alemanha também mantém relações de ajuda para o desenvolvimento com suas ex-colônias. A principal justificativa perante a opinião pública é a obrigação moral pelo genocídio praticado pelas tropas alemãs. Essa motivação é decorrente da presença de alemães que ocuparam as regiões durante a colonização (BANDEIRA, 2000, p. 135; TREIN, 2000, p. 326). A construção dessa nova imagem por meio da cooperação alemã para o desenvolvimento inicia a partir de 1952, no Programa de Expansão da Assistência Técnica para o Desenvolvimento Econômico dos Países Subdesenvolvidos, instituído pelas Nações Unidas, em Esse programa iniciou em 1956 e o de empréstimos em Até essa data, a política de desenvolvimento era administrada em diferentes setores. Existiam 231 órgãos dispersos por quinze ministérios. Inaugurado em 14 de novembro de 1961, o (BMZ) concentra, coordena e administra a assistência internacional. No (BMZ) estão concentrados projetos específicos de treinamento vocacional nas atividades artesanais, industriais e comerciais. Durante essa atuação de relações comerciais, observou-se o problema do contingente de pobreza no Hemisfério Sul. Essa evidência motivou o interesse solidário de instituições ligadas às Igrejas protestantes e católicas, fundações políticas e outras organizações privadas,

167 167 que iniciaram trabalhos filantrópicos e de cunho social nas bases da pirâmide social e, para no futuro, construiriam uma rede de relações de comunicação e experiência com grupos sociais excluídos das políticas públicas do governo. No início da década de 1970, preocupação em escala mundial com o crescimento da pobreza e da fome, especialmente nos países da África, faz com que a opinião pública formada por organizações oficiais e pela sociedade civil questionasse as diretrizes e medidas tomadas pelo governo. Na década de 1960, a assistência oficial desembolsada pela Alemanha estava concentrada na Ásia em decorrência dos recursos despendidos em grandes projetos de capital (construção de represas, hidrelétricas e usinas siderúrgicas), no Paquistão e na Índia, além das indenizações pagas a Israel. A primeira concepção de política de desenvolvimento que estabelecia como prioridade a redução do desemprego nos países pobres, por meio do incentivo a projetos intensivos no uso de mão-de-obra na agricultura, infraestrutura e indústria, foi criada em Essa visão estabelecia uma conexão com as discussões no contexto das Organizações das Nações Unidas e do Banco Mundial. Essa concepção ia ao encontro das estratégias de distribuição do crescimento econômico relacionadas à satisfação de necessidades básicas e melhorias nas condições de vida dos pobres, propostas pela ONU e BM. Nesse momento, além da abordagem de ação por meio de programas e temas relacionados às questões econômicas mundiais, passaram também a ser elaboradas características regionais particulares considerados projetos isolados. Durante as décadas de 1970, 1980 e 1990, esse novo critério de planejamento para a cooperação do desenvolvimento impulsionou o crescimento do volume de recursos destinados à África, que passa a ocupar o primeiro lugar na lista de receptores da assistência oficial alemã para o desenvolvimento. Essa ajuda não foi por acaso. Na visão dos europeus, nos países da Ásia e África havia ausência de democracia e crise social e econômica. Então a RFA priorizou os países da Ásia e África para conter o avanço do comunismo nessas regiões. Conforme Bandeira (1994) em seu estudo O milagre alemão e o desenvolvimento do Brasil, em agosto de 1960, Heinrich von Brentano, Ministro dos Negócios Estrangeiros da RFA,fez visita diplomática ao Brasil, que segundo Bandeira (1994), representou a oportunidade para que o governo de Juscelino Kubitschek apresentasse a proposta de ampliar incentivo à cooperação técnica com o Brasil, que até aquele momento recebera apenas doação de equipamentos e máquinas para implementar a agricultura. O Brasil precisava sensibilizar a Alemanha e, para isso, baseou-se em três aspectos. O primeiro, relacionado aos impostos internos cobrados sobre o café brasileiro exportado,

168 168 relacionados ao programa de assistência técnica alemão, serviço especialmente voltado para países asiáticos e africanos. Por isso, o Brasil não recebia nenhum benefício. O segundo, nessa fase, as grandes indústrias alemãs tinham grandes investimentos no Brasil; era perceptível a predisposição de cooperação técnica entre os governos. O terceiro aspecto, a ascensão do regime comunista de Fidel Castro, em Cuba, que representava uma ameaça ao capitalismo. Os conflitos de classes e o desenvolvimento dos movimentos de greve nas cidades e a violência pelas ocupações de terra no campo, aumentavam no Brasil. Para conter esses problemas, o país precisava contar com aliados para contribuir com a assistência para o desenvolvimento. A cooperação técnica Brasil-Alemanha emergiu sobre a influência dos campos político e econômico, mas, nos anos seguintes, se consolidou com as relações de experiência que resultaram em profissionalismo e constituiram uma rede de capital social especializado em consultoria técnica e científica, como ficou evidente na atuação das organizações alemãs no Brasil e, em especial, na Amazônia. Esses profissionais estarão inseridos em várias organizações alemãs de cooperação técnica, científica e financeira ( ) (TREIN, 2000). Entretanto, nota-se nos primeiros projetos bilaterais e também, mais tarde, na Amazônia, a carência de informação (acesso à comunicação) e de um planejamento mais sistemático por parte do governo brasileiro. Bandeira (1994, p ) aponta, ainda que as iniciativas de cooperação partiam dos indivíduos com algum vínculo com a Alemanha, às vezes, a origem dos antepassados, do que sugerido pelo governo federal. Dessa maneira, é compreensível que esse pode ser um dos motivos da Região Sul do Brasil, com forte presença de colônias alemãs, realize a maioria das cooperações técnicas e no futuro detenha um número considerável de empresas de origem alemã, de 1961 a 1986 (BANDEIRA, 1994, p ). As relações Brasil e Alemanha foram fortalecidas por vários acordos e parcerias. 88 Entretanto, após essa fase, merece destaque o primeiro acordo básico de cooperação técnica para o desenvolvimento entre a RFA e o Brasil, firmado em 30 de novembro de 1963, que ampliou a cooperação com outros agentes sociais bilaterais como: fundações políticas, instituições eclesiásticas e, posteriormente, as organizações não governamentais, com enfoque para a cooperação técnica. Esse acordo deu a base para futuras parcerias e interações no segmento do meio ambiente. No que se refere ao meio ambiente, e especialmente à Amazônia, a visita do chanceler Kohl, em outubro de 1991, marcou uma nova fase para a cooperação Brasil e Alemanha. 88 Ver especialmente: (LOHBAUER, 2000), o autor descreve em detalhes e data as várias fases da parceria do Brasil e Alemanha, de 1964 a Ver também: (ALEMANHA, 2003).

169 169 Depois da reunificação, foi a primeira visita à América Latina, desde a última visita de Helmut Schmidt, em De acordo com Lohbauer (2000, p. 130), a visita de Kohl a América Latina foi uma expressão da tentativa da RFA de encontrar para si um novo papel após a Guerra Fria. O resultado foi a confirmação do compromisso a longo prazo com o Brasil e promessa de intensificação mais a cooperação, em especial no campo ambiental. Nesse sentido, também mostrou a preocupação com o problema da dívida, o rearmamento, o comércio de drogas, pobreza, dentre outros problemas sociais latino-americanos. O interesse e o propósito da visita de Kohl são objetivos, nas palavras de Lohbauer (2000, p. 132) Por ocasião da visita ao Brasil em 1991, a economia deste país atravessava grave recessão. Dois temas iriam marcar o discurso do chanceler e iniciar um novo tempo nas relações bilaterais: a ecologia e o comércio. A partir do acordo de 1991, o engajamento dos alemães no que se refere ao Brasil estava relacionado ao meio ambiente e especialmente à Amazônia. O interesse pelo meio ambiente não representava uma novidade, considerando que foi na RFA que o movimento político e ecológico organizado se transformou no primeiro partido verde, atual Die Grüunen Bündnis. Assim, o interesse ecológico foi priorizado e esse interesse não ficava apenas nos discursos, mas também nos relatórios e nas políticas de cooperação, como apontado por Lohbauer (2000): No relatório pode-se identificar uma mudança na divisão dos recursos que a RFA destinava às regiões do mundo desde Enquanto até 1988 recursos para a preservação de florestas eram destinadas principalmente para a África, em 1990 a América Latina iguala-se à África e as florestas do Brasil passam a ser as maiores beneficiadas Lohbauer (LOHBAUER, 2000, p. 133). Essa constatação evidencia a trajetória da construção do campo ambiental no Brasil, cujo ator principal foi a Amazônia permeada por seus diferentes discursos. Dessa fase inicial das negociações até a implementação do PPG7 houve conflitos, acordos e desacordos contemplando os interesses. Como conceituado pela teoria da integração, com relação ao Brasil e a Alemanha, ambos ajustaram seus interesses ao novo contexto da proposta política ambiental. A partir desses acordos, parâmetro para a implantação do PPG7 em 1995, uma nova postura em relação ao tratamento das florestas brasileiras, com atenção redobrada às ações ambientais na região amazônica. Com isso, o poder esteve nas interações da execução dos projetos socioambientais condicionados às instituições do Brasil e da Alemanha (BMZ, GTZ, MAM). Essas interações, articuladas ao contexto regional, com objetivos globais, marcaram a

170 170 postura do Brasil em relação ao tratamento dos problemas florestais, nos moldes das discussões da Eco 92 no contexto global. Diante disso, a globalização representou uma mudança significativa no alcance espacial da ação e da organização social, que se tornam [...] atividades e relações que se materializam em escala interregional ou intercontinental (CASTELLS, 1996, p. 132). Nesse campo ambiental, os problemas políticos nem sempre foram encaminhados ou resolvidos sem a cooperação com outras nações e agentes não-estatais. Nesse momento, o cenário global proporcionou um campo propício à cooperação internacional que, por meio da política externa, intensificou as relações intergovernamentais. Para a execução dos acordos ambientais no âmbito global, com base na discussão de Castells (1996, p. 102), o contexto globalizado gerou novos arranjos territoriais, ainda que alguns informais, baseados não mais nas fronteiras, mas nas inter-relações que demandaram do Estado novas funções e novas formas de articulação com outras nações, instituições e agentes sociais não-governamentais. Essa conceituação é evidenciada na interação das organizações brasileiras e as fundações políticas alemãs que com a GTZ e o MMA atuaram na Amazônia para cooperar com a implementação do PPG7 ( ). Essas organizações, juntamente com SEMA, FETAGRI, FASE, ONGs e diferentes povos da Amazônia, a partir de meados dos anos 1990, participaram das primeiras ações ambientais no contexto das propostas do planejamento do PPG PRINCIPAIS AGENTES SOCIAIS DA COOPERAÇÃO ALEMÃ DESDE A ORGANIZAÇÃO DO BMZ Em 1950, a RFA aprovou um conjunto de ações construtivas para os países do sul, e desde 1952 atua em atividades de cooperação internacional. Esse período coincidiu com a reconstrução do país depois da segunda guerra. Nesse momento, a RFA fez uma contribuição financeira para o "Programa de Assistência Geral das Nações Unidas" e em 1956, criou um fundo de 50 milhões DM à cooperação internacional para o desenvolvimento. A princípio, a responsabilidade pelas atividades de desenvolvimento da RFA era distribuída pelos vários ministérios e departamentos existentes. Entretanto, à medida que a cooperação para o desenvolvimento crescia, juntamente com a complexidade da área de trabalho, o governo federal, em 1961, criou um ministério independente. Assim, em 14 de novembro de 1961, foi criado o BMZ (Ministério para a Cooperação Econômica

171 171 Bundesministerium für wirtschaftliche Zusammenarbeit und Entwicklung) (BMZ, 2009). Também é nesse dia que Walter Scheel tornou-se o primeiro Ministro Federal da Cooperação Econômica. Contudo, só com a transferência da responsabilidade para a cooperação financeira com os países parceiros e organizações internacionais (1972), o BMZ poderia fazer um desenvolvimento verdadeiramente independente (BMZ, 2009). De 1952 a 1970, ou seja, durante as duas primeiras décadas de atuação do BMZ, o trabalho promoveu o crescimento econômico com os países parceiros e melhorou a qualidade de vida nos países em desenvolvimento, pois deu acesso à saúde adequada, à educação e à participação nos processos políticos. As práticas de comunicação das organizações alemães nos países parceiros eram centradas na comunicação aproximativas, ou seja, a ênfase nas reuniões, nos eventos promovendo por meio da política de desenvolvimento alemã a participação política e social. Assim, até a década de 1970, além de atividades democraticas e o fomento econômico, as atividades tinham como meta a melhoria da qualidade de vida da população dos países onde a cooperação era desenvolvida. Desse modo, programas de saúde e educação passaram também a ser desenvolvidos pelas organizações alemãs (BMZ, 2008, p. 6). Nos anos 1970 e 1980 da Guerra Fria, a América Latina foi muito questionada, notadamente pela ausência de democracia e de canais de influência dos diferentes grupos sociais organizados. A estratégia de desenvolvimento baseava-se no protecionismo e no mercado interno, aplicada com alguns resultados por alguns países como o Brasil. Essa estratégia política, econômica e social entrou em choque e em contradição com a nova realidade internacional marcada pela interdependência. Além disso, a desarticulação política entre esses países enfraquecia suas posições nos foros internacionais (SARAIVA, 2007, p. 119). Tendo em vista esse enfraquecimento político da América Latina, a política compos a pauta da agenda de desenvolvimento do BMZ, cujo objetivo era construir uma imagem democrática por meio da promoção da democracia na Alemanha e nos países cooperantes. Desse modo, acompanhando a tendência dos movimentos sociais, em meados de 1970, iníciou o papel das mulheres na agenda da cooperação para o desenvolvimento, ao mesmo tempo em que a crise do petróleo (1973) e a economia mundial aumentavam cada vez mais as diferenças entre países ricos e pobres. A assessoria e suporte para os países mais pobres do mundo tornaram-se cada vez mais importantes e aumentaram gradativamente. No âmbito mundial, várias crises econômicas (petróleo, em 1973, abertura de mercados e a desregulação e liberalismo econômico, em 1980), problemas relacionados a

172 172 preços de mercadorias, a disseminação da AIDS, aumento do comércio de drogas, degradação ambiental e o endividamento de muitos países em desenvolvimento, emergiu a necessidade de repensar novas metas e objetivos no trabalho do desenvolvimento. Desse modo, o BMZ muda as estratégias institucionais juntamente com os discursos, e deixa de impor metas fixas aos países parceiros. Isso decorre da crescente percepção de que o desenvolvimento dos países mais pobres depende das mudanças nos países industrializados (BMZ, 2009). Conforme a teoria da integração, nos anos 1980, e notadamente após o fim da Guerra Fria, o sistema internacional baseado na lógica da bipolaridade desintegrou-se e uma nova ordem mundial foi construída. Foi uma mudança estrutural que trouxe uma série de incertezas quanto ao modo como esse novo sistema reencontraria seu equilíbrio. Nessa nova lógica havia dúvidas quanto às regras que regulamentariam a relação entre os Estados. Entretanto, desde o início, alguns aspectos ficaram claros, com o fim da bipolaridade, as organizações internacionais ganharam maior importância e visibilidade, do mesmo modo, as iniciativas de cooperação entre os países. Nesse contexto, os processos de integração regional e cooperação ganharam importância e visibilidade, especialmente na Europa. Nessa fase, as relações entre os Estados passaram a ser influenciadas pelo fenômeno da globalização (SARAIVA, 2007). O BMZ ao ampliar seu trabalho com foco no desenvolvimento também ia ao encontro das necessidades e interesses dos países parceiros, uma vez que neste cenário globalizado, o Estado-nação ganhou novos contornos e os conceitos de soberania e legitimidade adquiriram novos significados, pois o Estado perdeu a capacidade de responder isoladamente aos desafios do sistema internacional, inclusive de prover bens e serviços à sua população sem contar com a cooperação internacional. Essa conceituação pode ser aplicada ao caso da América Latina, em especial no Brasil. Os objetivos do BMZ podem ser resumidos da seguinte forma: Ao lado do MRE, a Alemanha tem uma outra pasta voltada exclusivamente para a sua presença internacional. Trata-se do Bundesministerium für Wirtschaftliche Zusammenarbeit - Ministério Federal para a Cooperação Econômica conhecido pela sigla BMZ. O BMZ tem sua ação voltada para a cooperação econômica com vistas ao desenvolvimento. Isto significa dizer que seu alvo principal não são os países industrializados, mas sim os países de menor desenvolvimento relativo. (TREIN, 2000, p. 5). Em 1990, com o final da Alemanha dividida em Leste-Oeste e com a queda do muro de Berlim (1989) emergiu a necessidade de mudanças e o trabalho para a cooperação do desenvolvimento precisava ser repensado. A política da Alemanha reunificada contava com o trabalho de integração política do ex-ddr. Na abordagem intergovernamentalista, que se baseiava em uma visão realista da política internacional, a integração é mais ampla do que a cooperação internacional porque pode resultar em novas entidades políticas, ou ainda em uma

173 173 mudança nas últimas (BANDEIRA, 1994). A integração regional, por conseguinte, não se restringiu somente à esfera governamental ou à cooperação intergovernamental, também atingiu a sociedade como um todo, gerando interações entre grupos de interesse e representantes das sociedades que fogissem ao controle estatal. A cooperação pode ser uma estratégia contextualizada e ser abandonada de acordo com a conveniência e interesse, enquanto a integração regional é menos flexível; ao abandoná-la, podem ocorrer resistências e altos custos para os governos. A integração só pode ser descartada quando o processo atinge um determinado patamar de interação entre as sociedades envolvidas, notadamente quando sua estrutura institucional ganha autonomia e legitimidade. Esse tipo de integração passou a vigorar com a reunificação da Alemanha. Cabe destacar que as atuais diretrizes da Política de Desenvolvimento do Governo Federal Alemão têm sua origem num decreto do Conselho de Ministros de 19 de março de A concepção de política de desenvolvimento, na versão de outubro de 1996, o BMZ adaptou a política de desenvolvimento alemã às alterações ocorridas nos temas internacionais. Também, duas outras edições de textos de formulação de uma política de desenvolvimento foram organizadas, integradas e publicadas com algumas alterações. Em junho de 1993, o documento foi reeditado e, em outubro de 1996, o BMZ adaptou-se às condições gerais da agenda global. Dessa maneira, formulou uma proposta própria, a Concepção da Política de Desenvolvimento. (BMZ, 2009, p. 10). Conforme documentos oficiais, a política de cooperação para o desenvolvimento constitui uma tarefa da sociedade como um todo e incorporou todas as organizações privadas e públicas nos países industrializados e nos países em vias de desenvolvimento (Alemanha, 2003). Os documentos apontam essa políticacomo uma estratégia baseada nos princípios da ética, humanidade, política, assim como em interesses próprios dos participantes. Em 1998, com a ministra federal do desenvolvimento Heidemarie Wieczorek-Zeul, o BMZ ampliaram suas práticas de comunicação e mantêm a imagem institucional com campanhas articuladas com revistas e vários meios de comunicação impressos e online, local e global. Assim, não somente a imagem institucional, mas a ministra convoca os contribuintes (cidadões alemães) para cooperar com o desenvolvimento.

174 174 Fotografia 3- Ministra Heidemarie Wieczoreck-Zeul Fonte: BMZ, (2009) A resposta para a convocação da ministra veio de várias organizações da Alemanha, merece destaque Thomas Wülfing, Cônsul Geral da RFA no Recife, [...] com uma população de quase 50 milhões, o Nordeste do Brasil perfaz praticamente cinco vezes o território da República Federal da Alemanha. É uma região com grande potencial de desenvolvimento em todas as áreas, inclusive na área social. Por isso, a cooperação para o desenvolvimento assume um papel prioritário em nosso trabalho [...]. (ALEMANHA, 2003). O ministro federal Dirk Niebel, entrevistado sobre objetivos, pontos centrais e novos enfoques da cooperação alemã para o desenvolvimento, afirma que: A Alemanha escolhe muito bem seus parceiros de cooperação. Os critérios mais importantes são a orientação de desenvolvimento do governo em questão, o modo de gestão governamental do governo parceiro, os objetivos ecológicos e políticos, o respeito aos direitos humanos, a importância da contribuição alemã em comparação a outros doadores bilaterais e multilaterais, aspectos regionais e uniões sólidas. A República Federal da Alemanha coopera atualmente com 57 países parceiros. Alguns países são fomentados com base em programas temáticos e regionais, como, por exemplo, no combate a HIV-AIDS, na proteção do clima e das florestas e na prevenção de crises [...]. (SCHAYAN, 2010) 89. Contribuindo com essa percepção, eventos como a CNUMAD-1992 e a Conferência sobre População e Desenvolvimento realizada no Cairo em 1994, ampliaram a compreensão global dos desafios mundiais e reforçaram os principais enunciados da política de cooperação de desenvolvimentos dos países doadores. Nesse período, novos princípios políticos foram estabelecidos e incorporados à cooperação. Assim, surgiram novas exigências, entre as quais observar os países parceiros na questão dos direitos humanos e princípios democráticos, e especialmente a sua situação social em relação aos pobres (BMZ, 2009, p. 8). Esses eventos 89 Entrevista concedida a Janet Schayan, 2010, publicado na Revista Magazine-Deutschland.

175 175 vem reforçar os dicursos em torno do enunciado desenvolvimento e cooperação. Dessa maneira, manteriam os princípios propostos pelo BMZ em Em síntese, entre 1970 e 2000, a conjuntura política e econômica aliada ao movimento ambientalista a agenda internacional da cooperação para o desenvolvimento. Então, novos objetivos e metas foram introduzidos, novas questões como gênero, meio ambiente, AIDS, diálogo político e fortalecimento do setor privado (LOHBAUER, 2000, p. 317). De acordo com Pantaleón (2002), houve um redirecionamento na concepção da cooperação, que o autor dividiu em três momentos: 1) ajuda humanitária, 2) redemocratização e 3) capacitação. Esta está relacionada à implantação de projetos ambientais na Amazônia, quando as organizações desenvolveriam capital social nos anos 1990, em especial no âmbito do PPG7. Foi também nessa fase que os países desenvolvidos estabeleceram os objetivos e as metas para os países assistidos. Os países da cooperação internacional denominarm os países assistidos de parceiros (BMZ, ). Nesse sentido, o Brasil também passa utilizar o termo parceria, como conceituado pela ABC, O conceito de "parceria para o desenvolvimento", adotado pelo Brasil, consolida a ideia de a relação de cooperação para acarretar, a ambos os lados, o compartilhamento de esforços e benefícios. As iniciativas propostas são avaliadas à luz do impacto e do alcance sobre as comunidades receptoras. Esse procedimento implica aprimorar mecanismos de negociação, avaliação e gestão dos projetos, a fim de enquadrá-los às prioridades nacionais. (BRASIL, 2009b). A evolução do uso desse enunciado também pode ser observado na contra-capa do relatório final do PPG7 em 2009, em que o Brasil se impõe e troca o termo financiadores por parcerias. Figura 1 Contra-capa do Relatório Final PPG7. Fonte: MMA (BRASIL, 2009) Com o advento da CNUMAD em 1992, diferentes objetivos orientaram a política de desenvolvimento do governo alemão. Entre os principais, o combate à pobreza, o apoio e o

176 176 respeito aos direitos humanos, o apoio aos princípios democráticos; a promoção da equiparação de direitos entre as mulheres e os homens por meio de projetos socioambientais; a contribuição para a solução pacífica dos conflitos; a proteção do meio ambiente e a exploração sustentável dos recursos naturais; o incentivo ao desenvolvimento sustentável e econômico dos países parceiros, etc. (ALEMANHA, 2003, p. 236). No ano de 1998, o BMZ foi designado o responsável pela liderança do Governo Federal para o desenvolvimento da União Europeia. Em setembro de 2000, em Nova York, reuniram-se os representantes de 189 países os líderes da maioria deles, tratou-se da maior reunião das Nações Unidas em Nova York até o momento, tendo isto ocorrido conjuntamente com a Conferência do Milênio. Como resultado dessa reunião houve a aprovação da chamada Declaração do Milênio, da qual, mais tarde, derivaram oito objetivos do desenvolvimento internacional: 1. Erradicar a extrema pobreza e a fome 2. Atingir o ensino básico universal 3. Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres 4. Reduzir a mortalidade na infância 5. Melhorar a saúde materna 6. Combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças 7. Garantir a sustentabilidade ambiental 8. Estabelecer uma Parceria Mundial para o Desenvolvimento A prioridade para as ações do desenvolvimento na Conferência do Milênio veio confirmou a ênfase com que a Alemanha trabalha o tema pobreza. Assim, na política de cooperação para o desenvolvimento da República Federal da Alemanha ressalta-se que, [...] como os recursos são limitados, para se otimizar a sua utilização, é necessário canalizá-los para aquelas áreas onde se constatam deficiências fatais para o desenvolvimento. Tendo isso em mente, o Programa alemão de cooperação para o desenvolvimento definiu três prioridades: combate a pobreza, preservação do meio ambiente e dos recursos naturais, educação e formação profissional. (ALEMANHA, 2003). Após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, outro enunciado se incorporarou a agenda global, a segurança. Então, segundo afirmação do BMZ (2009, p. 4): para a comunidade internacional é necessário juntar forças alcançar estes objetivos até Essas metas, transformadas em discursos, permearam todas as ações do BMZ, GTZ, fundações Políticas alemãs e estão implícitos nos projetos socioambientais na Amazônia ( ). Com referência às ações

177 177 na Amazônia, nesse período, pode-se afirmar que há três tipos de agentes sociais internacionais: os Estados (países participantes do PPG7), efetivamente os agentes sociais internacionais; as Organizações Intergovernamentais, formadas pelos Estados; e as forças transnacionais, representantes da sociedade civil, podendo ter fins lucrativos, como as organizações multinacionais ou não, como no caso das Organizações Não-Governamentais (ONGs). No ano de 2005, o montante global do orçamento do governo Federal Alemão destinado ao desenvolvimento atingiu 3,86 mil milhões de euros. Juntamente com outros Estados-Membros da UE. A RFA assumiu o compromisso de aumentar esta parcela de 0,51% prevista para o ano de 2010 e 0,7 % até o ano de Por meio desse plano de escalas, a União Europeia colocou, a partir de 2010, recursos adicionais no valor de 20 milhões de euros à disposição do desenvolvimento. Para a realização do trabalho da BMZ, a cooperação com as organizações é realizada por meio de organizações estatais e não estatais. Então, somando as ações das organizações estatais, há uma variedade de ONGs que trabalham na cooperação para o desenvolvimento. São organizações de ajuda humanitária das igrejas, fundações políticas e outras instituições de base que trocam ideias e somam experiências e se mobilizam para um trabalho conjunto de cooperação. A BMZ apoia o trabalho dessas organizações com aproximadamente 10% do seu orçamento total (BMZ, 2009, p ) 90. Para a divulgação das ações de cooperação realizadas no exterior com imagens que conseguem sensibilizar o contribuinte há uma série de meios de comunicação que trabalham com esse propósito, merece destaque a Revista Magazine-Deutschland, publicada em 11 línguas é distribuída em 180 países. Do editorial às reportagens informa os temas atuais da Alemanha e da Europa e ainda, em edições regionais, os desenvolvimentos bilaterais entre a Alemanha e outras regiões do mundo. Quase 1,5 milhão de pessoas do mundo lêem a revista publicada pela editora Frankfurter Societäts-Medien GmbH, Frankfurt do Meno, em cooperação com o Ministério das Relações Exteriores em Berlim. Essa revista é considerada um veiculo de comunicação pública. O termo comunicação governamental, às vezes, confundido com a comunicação pública, por alguns autores como sinônimos. A comunicação pública, no contexto brasileiro, no entanto, é mais recente e tem sua origem na noção de comunicação governamental, a partir da década de 80 com a redemocratização do país. Segundo Heloiza Matos, a comunicação governamental [...] abrange o processo de difusão de mensagens e rotinas da comunicação 90 Ver mais detalhes e dados sobre o orçamento e verbas destinadas para cooperação do desenvolvimento em: (BMZ, 2009).

178 178 social de agentes administrativos, explicitados ou não em suportes legais que regulamentam as comunicações internas e externas do serviço publico. (MATOS, 1996, p.2). A comunicação governamental se caracteriza pela relação entre Estado e Sociedade e tem a tarefa primordial levar à opinião pública fatos de significação ocorridos na esfera governamental, como afirma Gaudêncio Torquato (2002, p. 44). A comunicação pública, tem relação com a interação e o com o fluxo de informações ligados à temas de interesse coletivo, que é segundo Duarte (2005), O campo da comunicação pública inclui tudo que diga respeito ao aparato estatal, às ações governamentais, partidos políticos, terceiro setor e, em certas circunstâncias, às ações privadas. (DUARTE, 2005, p. 3). Esse conceito é reforçado por (MATOS, 1996, p.6) ao afirmar que A comunicação pública deve ser pensada como um processo político de interação, no qual prevalecem a expressão, a interpretação e o diálogo construídos em uma esfera pública inclusiva e participativa. Ainda na conceituação de Matos (1996), tanto a categoria de comunicação governamental, como a comunicação pública estão inseridas dentro de uma categoria maior: a comunicação política, que envolve todas as relações entre Estado e Sociedade, mediatizadas ou não, independente do sistema político. A comunicação governamental no Brasil se consolidou na primeira metade do século XX quando a industrialização brasileira tomou impulso. O governo de Vargas nas décadas de 30 e 40 foi importante para o salto da industrialização do país, que, de acordo com o consenso da época foi o caminho mais curto para o desenvolvimento nacional. Entretanto sua, atuação foi marcada para uma postura fortemente centralizadora e intervencionista do Estado para conciliar interesses da burocracia oficial, dos empresários e sindicatos operários. Na Alemanha, o departamento de imprensa e informação do governo federal (BPA) foi intermediário entre o governo e a opinião pública. Ao contrário de outros países, o portavoz do governo, sempre um hóspede da Conferência Federal de imprensa, fornecia aos jornalistas informações sobre a política do governo federal. O porta- voz do governo é chamado à conferência, e não ao contrário ressalta (ALEMANHA, 2000, p. 413) 91. Ainda na descrição de Alemanha (2000, p. 413), O BPA ainda desenpenha a função de informar o presidente e o governo federal e o parlamento sobre a imagem da Alemanha e aopinião pública nacional e estrangeira. Além da utilização ilimitada de dez emissoras estaduais de rádio e televisão, uma emissora de direito federal, a emissora Zweites Deutsches Fernsehen (ZDF) (Segundo Canal de Televisão). 91 O conteúdo do livro também pode ser acessado em: Após os anos 90 a intenet tem sido um meio importante para as organizações alemãs divulgar seus valores e missões.

179 179 Para a BMZ (2009), o desenvolvimento de hoje é essencialmente uma ferramenta que pode fazer, em conjunto com outras políticas do governo federal, o quadro global para um mundo mais justo. Assim, é entendida, implementada como uma política estrutural e de paz. Com essa afirmação, considera importantes passos a inclusão do BMZ Federal no Conselho de Segurança, o Estado de testes de desenvolvimento de novas propostas legislativas e assim trabalha com todos os departamentos com ações e metas previstas e aprovados para Para reforçar as ações da cooperação para o desenvolvimento e também contribuir com a manutenção da imagem da Alemanha perante a opinião pública nacional e estrangeira, o BMZ utiliza volume considerável de verba em vários meios de comunicação pública como a Revista Magazine-Deutschland e outros meios como rádio, tv, web entre outros. Em um país em que predomina a democracia, há espaços para a crítica, por isso os meios de comunicação criticavam o governo, a igreja, as ONGS e sensibilizaram a opinião pública em torno do debate sobre a política de cooperação para o desenvolvimento das organizações alemãs. Foi possível identificar algumas publicações com esse um debate critico como a revista Entwicklungs Politik Zeitschrift das organizações eclesiais, na qual há várias avaliações críticas questionando o trabalho da cooperação para o desenvolvimento. Atualmente, as bases da Política de desenvolvimento alemão têm como referência o acordo de coalizão dos partidos políticos FDP, CDU e CSU, de outubro de 2009, elaborado pelo governo federal para as metas internacionais de desenvolvimento, procura, de forma sustentável, priorizar a pobreza e as deficiências estruturais, nos princípios da Declaração do Milênio das Nações Unidas. Na composição dos elementos da política de desenvolvimento alemão, eforça-se a boa governança, participação e auto-forças dos países em desenvolvimento, considerados setores-chave ; o desenvolvimento no acordo de coligação, nas áreas da boa governança, educação, formação, saúde, desenvolvimento rural, clima, ambiente e proteção dos recursos e da cooperação econômica definida. Assim, a Alemanha continua a cooperar no contexto europeu e internacional da divisão do trabalho com um número limitado de países parceiros. Para isso, com o forte envolvimento das igrejas, as fundações e as ONGs na cooperação para o desenvolvimento alemão, esse acordo de coligação também prevê uma cooperação com o setor privado alemão. Na arquitetura da cooperação internacional para o desenvolvimento, o Governo Federal para uma reforma fundamental da política de desenvolvimento, com mais coerência, na complementaridade, subsidiariedade e uma divisão coerente do atual trabalho. Com relação a financiamento, apesar da crise financeira, mantém-se, aumento progressivo para 0,7% da

180 180 declaração de rendimento nacional bruto. Para as possibilidades de concepção do planejamento Alemão, o acordo de coligação pode ser encontrado no capítulo sobre a Entwicklungsszusammenarbeit (Desenvolvimento). Após essa narração da história da BMZ, surgem algumas questões: Por que a Alemanha, em vez de um departamento, construiu um ministério para o desenvolvimento? quais os reais interesses da Alemanha em criar um ministério com a amplitude do BMZ? Vários são os motivos que conduziram a Alemanha à criação de um Ministério para a Cooperação Internacional. O primeiro foi uma forma de retribuir a ajuda recebida pela Alemanha, via Plano Marshall, para a reconstrução do país (BANDEIRA, 2000; SEITENFUS, 2005). Esses autores afirmam que o governo de Washington (1951) pressionou o governo de Bonn a disponibilizar recursos para ajudar a manutenção das tropas. Em contra partida, a Alemanha ofereceu outra proposta, isto é, colaborar com os esforços americanos no combate ao comunismo por meio da estruturação de uma política internacional de desenvolvimento. Foi assim que a criação de um Ministério para a Cooperação Internacional, responsável por desenvolver essa política, foi interessante e eficaz, uma vez que, em 1961, a eleição geral obteve vitória com base na coalizão entre os partidos CDU e FDP. Com base nesse resultado político da Alemanha, era necessário conceder ao FDP alguma pasta no ministério. Por conseguinte, ao se criar o BMZ, foi atribuído a Walter Scheel, do FDP, o posto de Ministro e esse seria, segundo Trein (2000), o segundo motivo. Outra possível resposta para a criação do Ministério está implícita na limitação da atuação da política externa alemã. Esse motivo pode ser resumido por vários aspectos, tomando por referência o cenário político internacional da década de 1960: (1) a Alemanha estava com sua autonomia controlada, pois ainda estava ocupada; (2) a nova agenda política mundial em 1960 estava com o poder dividido entre Estados Unidos e União Soviética, como referenciado por Dreifuss (1981). Nesse contexto político, a União Soviética tinha como meta implantou o socialismo em outros países para expandir a igualdade social, ao passo que os Estados Unidos tentavam influenciou outros países com o sistema capitalista, que se baseava na democracia e no desenvolvimento da economia de mercado. Foi uma acirrada luta ideológica política e econômica travada entre norte-americanos e soviéticos. Durante esse período, se um governo socialista era implantado em algum país em desenvolvimento, o governo norte-americano entendia isso como uma ameaça a seus interesses. E se um movimento popular combatesse uma ditadura militar assessorada pelos

181 181 EUA, logo receberia apoio soviético. Para Aron (2002), a Guerra Fria foi um período em que a guerra era improvável, e a paz, impossível. Com essa frase o pensador e jornalista francês definiu o período em que a opinião pública mundial acompanhou o conturbado relacionamento entre os Estados Unidos e a União Soviética. Era um clima de guerra sem armas, em que imperava a ideologia política e a expansão econômica para garantir a boa imagem perante a opinião pública mundial. Em termos de imagem e divulgação na mídia, essa fase coincide com a expansão da televisão como meio de comunicação de massa que divulgava, as imagens das visitas diplomáticas de chefes e secretários de estados Americanos e soviéticos e de cooperação em países em desenvolvimento que precisavam de ajuda humanitária, econômica e social. Na conquista pela construção de imagem política favorável, os EUA, em 1960, tinham 20 embaixadas na África e aproximadamente 40 postos diplomáticos e consulares em diferentes partes do continente 92. O resultado dessas relações internacionais foram intercâmbios, assim, no final do ano de 1960, mais de 200 jovens norte-americanos, negros em sua maioria, passaram o verão na África para compreender os assuntos africanos e suas necessidades (SARAIVA, 2007). A essência ideológica e os resultados do intercâmbio e da cooperação para o desenvolvimento, nessa fase podem ser resumidos da seguinte maneira: [...] a concessão de bolsas de estudo para jovens do continente africano, a ajuda financeira, a distribuição de alimentos, o recurso à ONU para despolitizar as ajudas á África, assistência técnica, a cooperação educacional, o estabelecimento de um fundo das Nações Unidas para o Congo, a ajuda militar a alguns países para salvaguardar de sua presença, a criação da Associação Internacional de Desenvolvimento (AID), um fundo de ajuda ao desenvolvimento do Banco Mundial, tudo isso fez parte do pacote político norte-americano para a África. A ideia era afastar os soviéticos do continente. (SARAIVA, 2007, p. 224). Dessa maneira, as estratégias criadas para atuar por meio da cooperação internacional e não pelas estruturas institucionais das relações internacionais, ou seja, pelos canais de comunicação da diplomacia proporcionaram à Alemanha ampliar seus contatos internacionais e marcar sua presença sem estar presa às pressões e limitações impostas na época pelos Estados Unidos e União Soviética. Um ministério independente, sem a necessidade de integração intergovernamental, o BMZ reforçava e ampliava a autonomia da atuação da cooperação internacional. Além disso, a Alemanha, em função da II Guerra Mundial, com imagem internacional desgastada e manchada perante a opinião pública mundial, ao promover atividades cooperação internacional para o desenvolvimento não só contribuiu para a construção de uma 92 Ver detalhes sobre a Guerra Fria e as estratégias de relações internacionais, inclusive a o intercâmbio em: (SARAIVA, 2007).

182 182 nova imagem, como também ampliou a percepção do país para os negócios, além de aumentar a auto-estima do cidadão alemão com práticas democráticas e colaboração aos menos favorecidos. O Ministério Federal da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento (BMZ) responde por quase toda a ajuda bilateral alemã e isso, a exemplo dos americanos, ampliou o seu raio de ação em vários continentes. Além de elaborar as concepções e diretrizes, assim como os conceitos fundamentais da política do Governo alemão para o desenvolvimento, estabelece as estratégias de longo prazo de cooperação para o desenvolvimento e define as regras para colocar em prática esse planejamento (BMZ, 2009, p. 10). Apesar do orçamento do BMZ representar mais de metade da APD total alemã, ele não implementa programas de ajuda (colaboração) diretamente, mas passa fundos para as agências de implementação do Governo (GTZ, KFW), ONGs e agências multilaterais. Essa análise é importante, uma vez que, possibilita identificar aspectos importantes na formulação e execução da política externa da RFA. Dessa maneira, participam das atividades do BMZ não só os funcionários subordinados à estrutura técnica e administrativa, mas a colaboração e consultoria de várias outras instituições, com vínculos a outros ministérios do governo federal, institutos dos governos, gestores de recursos públicos, agentes financeiros, institutos universitários, organizações não-governamentais e às vezes organizações religiosas. Essa constatação é confirmada pela explicação de Trein (2000), Esta multiplicidade de possíveis participações produz não só um efeito de descentralização como amplia consideravelmente as áreas de atuação do Ministério, lhe dando mais eficiência e eficácia na execução dos projetos que consubstanciam sua atuação política. (TREIN, 2000, p. 330). De acordo com Trein (2000), é tradição das universidades manter institutos e grupos de trabalhos de pesquisas e docência sobre relações externas e estudos de casos sobre um país ou determinada região. Desse modo, nas estruturas das universidades alemãs, é comum encontrar estudos sobre diferentes estudos sobre aspectos econômicos, linguísticos, históricos e antropológicos de países estrangeiros, por isso os pesquisadores das universidades, às vezes, são chamados pelos órgãos do governo federal a opinar sobre política externa e relações bilaterais. Nesse sentido, Trein (2000, p. 334) adverte que essa interação não quer dizer que, os pesquisadores decidem ou opinam diretamente sobre política externa, mas possibilita ouvir para contabilizar os profissionais/ pesquisadores e especialistas disponíveisno país. Na visão de Trein (2000) e Wolf, (1994) constado pela pesquisa bibliográfica e de campo na Alemanha, observou-se que para representar seus interesses específicos, os

183 183 pesquisadores sobre a América Latina na Alemanha criaram a Arbeitsgemeinschaft Deutsche Lateinamerika Forsclung (ADLAF) Associação Alemã de Pesquisa sobre América Latina. Essa organização congrega mais de trinta institutos e mais de 250 membros individuais. Ainda segundo Trein (2000, p. 335): Suas reuniões se constituem hoje numa referência para o conhecimento da América Latina na Alemanha. Os referidos autores citam o Ibero-Amerika Verein e.v - Associação Ibero- Americana - que mantém a Deutsch-Lateinamerikanische Wirtschatsvereinigung für Lateinamerika, Spanien und Portugal - Associação Alemã-Latino-Americana para a América Latina, Espanha e Portugal. Trata-se de uma associação empresarial que fomenta as relações econômicas, sociais e culturais entre a República Federal da Alemanha e os países ibero-americanos e congrega mais de 250 empresas e mais de 120 membros individuais (TREIN, 2000), cabe dai a importância dos segmentos econômicos dessas empresas nas pesquisas e nas de sugestões para o Governo Federal Alemão. Constatou-se na literatura de autores que estudam a relação Brasil-Alemanha, Wolf (1994), Trein (2000), Lohbauer (2000) e na pesquisa de campo no Brasil e na Alemanha, que quando se trata de pesquisa científica e técnica e de formular recomendações para o governo federal alemão, não há separação entre os especialistas e os pesquisadores das universidades e institutos. Essa tese não afirma que há homogeneidade de posturas profissionais e opiniões entre pesquisadores técnicos ou científicos e tampouco que não há crises e concorrências pessoais próprias de ambiente de trabalho. O que a pesquisa evidenciou é que, apesar do mercado de trabalho ser competitivo entre pesquisadores, consultores e peritos que prestam serviços de cooperação técnica alemã, quando a atividade requer a apresentação em público, o importante é a postura institucional. Possivelmente, essa atitude faz parte do perfil de profissional que presta serviços de consultoria e assessoria em várias organizações alemãs a curto ou longo prazo. Além disso, nas reuniões, todos os segmentos têm voz. A reunião de 28 e 29 de junho de 1999, no Rio de Janeiro, citada por Trein (2000, p. 336) e os vários eventos realizados na Amazônia como o Weltsozialforum Fórum Mundial Belém/ Pará de 2009, são exemplos dessa evidência. Em alguns congressos e eventos há participação das fundações e grupos de especialistas sobre América Latina, e pesquisadores, técnicos e peritos como descrito por Trein (2000, p. 336) e nas entrevistas e visitas no trabalho de campo na Europa (2007/ 2008). A introdução do convite das organizações alemãs para a participação do Fórum Social Mundial descreve, há a imagem que os pesquisadores alemãs têm da Amazônia e mostra a amplitude das atividades dessas instituições e seus parceiros,

184 184 O oitavo Fórum Social Mundial também tem como lema Um mundo diferente é possível. Considerando a crise financeira mundial, as mudanças climáticas e as ameaças aos povos indígenas, a busca de um mundo diferente é mais do que nunca oportuna e necessária. A escolha de Belém, capital do Estado do Pará, no delta do rio Amazonas, como anfitriã do Fórum Social de 2009, pode ser considerado um importante indicador. Isto porque uma boa parte das discussões sobre mudanças climáticas, comércio de direitos de emissões, segurança alimentar, biodiversidade, agro-combustíveis, mono cultivos, proteção ao meio ambiente ou desmatamento são intimamente ligadas à região amazônica. Neste Fórum Social Mundial participam novamente numerosas organizações não-governamentais, sindicatos, organizações religiosas e fundações da Alemanha. O lema do Fórum Social Mundial nos induz a assumir um compromisso e promover a cooperação, na busca de alternativas à globalização neoliberal, na Alemanha e no mundo. Neste impresso, apresentamos a programação dos eventos que as organizações alemãs e os seus parceiros estão organizando em forma conjunta, nos quais esperamos ter o prazer de contar com sua importante participação (Weltsozialforum, Fórum Social Mundial, REICHEL, J.; BRAUN, H.; ROESKE, K. p. 3) É possível nessa introdução identificar enunciados recorrentes como povos indígenas, desmatamento e clima, citados e inclusos nas atividades das organizações alemãs (GTZ, DED, DIE, DAAD) e nos projetos socioambientais na Amazônia. A questão de segurança e a política internacional passou a ser prioridade para o Governo Federal Alemão, a partir de 2001, com os ataques suicidas nos Estados Unidos. Dessa forma, as instituições produtoras de análises com relativa autonomia cooperaram em uma relação estreita com o poder executivo federal, a saber: Deutsches Institut für entwicklungspolitiks - Instituto Alemão para a Política do Desenvolvimento e o Forschungsinsttut für internationale Politick und Sicherheit Instituto de Pesquisa para a Política Internacional e a Segurança. A Alemanha zela pela construção e manutenção de sua imagem no âmbito interno e externo para isso conta com organizações que desempenham essa função, como o Presse und Informationsamt der bundesregierung secretaria de informação e impressa do Governo Federal, que possui um departamento na América Latina, e a Statistisches Bundesamt Allgemeine Auslandsstatistik Serviço Federal de Estatistícas Estatísticas do Estrangeiro de acordo com Trein (2000), ambos desempenham uma importante função de assessoria ao governo federal. Essas organizações atuam diretamente com a política externa do Gabinete do Primeiro- Ministro Bundeskansler (TREIN, 2000, p. 9). Ainda com o objetivo da construção da imagem e com atuação no âmbito do Gabinete do Primeiro - Ministro Bundeskansler a Inter Nationes a agência de informação sobre a Alemanha, atua especificamente com assuntos culturais, seu trabalho cria as bases e apóia a política de construção, manutenção e divulgação da imagem positiva da República Federal no exterior (WOLF, 1994; TREIN, 2000).

185 185 Para a América Latina e Caribe, há quase vinte instituições universitárias, entre eles, Instituto Latino Americano da Universidade Livre de Berlin, Instituto Ibero Americano de Pesquisa da Universidade de Hamburgo, Os alemães desenvolveram na prática e na teoria o que chamam de a gesellschftiche Aussenpolitik, ou política externa societária. Paralelamente à política externa oficial do governo, a maioria das grandes instituições alemãs também conduzem relações próprias com o estrangeiro. Normalmente, buscam relacionar-se com instituições similares de outros países, criando ou reforçando assim malhas de relações transnacionais. (OLIVEIRA, 2000, p. 91). A multiplicidade de relacionamentos externos e eficácia são os objetivos da consultoria técnica alemã em torno dos países emergentes. Nesse sentido, os relatórios e os artigos publicados pelo DIE relatam as consultorias técnicas e apoio aos países emergentes. Na Amazônia ( ), a prática da política externa societária alemã constituiu um capitulo especial, porque envolveu diversos agentes sociais transnacionais em trabalho de consultoria técnica de metodologia compartilhada em busca de iniciativas que resultassem em práticas sustentáveis. Uma vez que, na implementação de projetos socioambientais (PDA, PPTAL, SPRN) não havia a segurança ou a garantia de impacto positivo de imediato. Conforme dados do BMZ (2009) e descrição de Trein (2000, p. 329) e Wolf (1994) existem 18 organizações ligadas ao governo alemão (BMZ, 2008/2009, p.12), o KFW (Kreditanstalt für Wiederaufbau) e o GTZ (Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit), que atuam sob a responsabilidade direta do Ministério Federal para Cooperação e Desenvolvimento, e a cooperação financeira governamental é, exclusivamente administrada pela agência KfW, que contribui para o desenvolvimento dos bancos locais, cooperativas de crédito e fomento financeiro a pequenas e médias empresas. Das 18 organizações ligadas ao governo alemão (BMZ, 2008/2009, p. 14, TREIN, 2000, p. 329), a pesquisa ressalta e descreve mais detalhadamente a GTZ (Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit) por se tratar de um agente social importante na implementação de projetos ambientais na Amazônia ( ) e, em seguida as demais organizações alemãs que atuam na área de desenvolvimento e política. A Agência de Cooperação Técnica Alemã GTZ (Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit) pertence ao Governo Federal Alemão com presença mundial no campo da Cooperação para o Desenvolvimento. Trabalha para o desenvolvimento político, econômico, ecológico e social dos países em desenvolvimento e, consequentemente, para melhorar as condições de vida e as perspectivas da população. Por meio de seus serviços, apóiam processos complexos de desenvolvimento e reformas, assim contribuindo para o

186 186 desenvolvimento sustentável 93 do mundo. É uma empresa de direito privado fundada em 1975 responsável pela implementação da contribuição alemã, por delegação do Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ). A GTZ 94 foca sua atuação na assistência técnica e no desenvolvimento de capacidades, por meio de consultores, assessores residentes, formação e fornecimento de equipamento. O valor total dos contratos com a GTZ,em 2006 foi de EUR 1 mil milhões, 70% dos quais eram provenientes do BMZ ou de outros ministérios federais. A GTZ implementa cerca de 25% da APD bilateral alemã. A GTZ encontra-se no processo de descentralização para o terreno, quer de autoridade quer de recursos, embora a maior parte das decisões de programação, atualmente ainda sejam tomadas na sede. É uma organização de utilidade pública, emprega pessoas em mais de 130 países da África, Ásia, América Latina e em processo de reformas da Europa Oriental e nos novos Estado Independentes. Do seu quadro de funcionários, cerca de 8500 pessoas são membros do pessoal local ( pessoal nacional ). A GTZ atua com representação de agências próprias em 63 países. Aproximadamente 1000 pessoas trabalham na Central em Eschborn, próximo a Frankfurt, am Main. (ALEMANHA, 2003, p. 160 ) 95. GTZ foi a principal organização alemã na execução e implementação dos projetos ambientais na Amazônia no âmbito do PPG7. Suas ações envolveram várias etapas do programa, embora na Amazônia desde 1973, foi com a implementação do PPG7, em 1995 que sua atuação ampliou e congregou vários agentes sociais nacionais e internacionais para trabalhar na região. O KfW que faz parte do grupo KfW Bankengruppe (KFW, 2007) principal agência de implementação da ajuda alemã para a cooperação financeira, representou cerca de 16% da APD total e 25% dos fundos bilaterais do BMZ em Observa-se na historia do KFW, o enfoque para empréstimos baseados em projetos para infraestruturas, mas, atualmente, tem responsabilidade por um montante significativo de recursos em forma de doações e por vários instrumentos, incluindo apoio ao orçamento. O KFW aumentou o número dos seus quadros nos países parceiros e opera com 46 escritórios, mesmo que a maior parte das decisões de programação, no momento, ainda seja tomada na sede. A Alemanha também concede apoio 93 A Agência de Cooperação Técnica Alemã (GTZ), assim como a Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID) utilizaram os discursos do conceito do desenvolvimento sustentável para justificar a importância dos seus acordos e programas no âmbito do PPG-7. Esse discurso também estará presente em quase todos os demais projetos realizados em parceria no Brasil. Ver Também a atuação da (USAID) no Brasil com a utilização desse discurso em: (DIVARDIN, 2008). 94 Ver mais detalhes sobre a história e objetivos: (GTZ, 2009) 95 Ver (GTZ, 2009).

187 187 ao setor privado por meio de Companhia Alemã de Investimento e Desenvolvimento (DEG), uma subsidiária do KFW Entwicklungsbank (Banco de Desenvolvimento), que fornece capital a longo prazo a empresas privadas em países em desenvolvimento. O KFW- Gruppe - DEG é uma empresa do grupo KFW um dos maiores institutos europeus de financiamento de longo prazo. Desde 1963, financia e estrutura investimentos de empresas privadas no Brasil. Em seu portfólio de 163 milhões de euros, no momento, o Brasil é o mais importante país para o DEG (Alemanha, 2003, p. 156). O DEG direciona seus investimentos em projetos rentáveis e sustentáveis em vários setores, a) Financiamento de projetos e empreendimentos para empresas brasileiras; b) Financiamento de pequenos e médios projetos privados de infraestrutura citam como exemplo um parque eólico no nordeste do Brasil; c) Cooperação com instituições financeiras privadas. Disponibiliza recursos de refinanciamento de longo prazo para repasse a pequenas e médias empresas. O DEG 96 também se engaja em programas de microcrédito como Crediamigo, do Banco do Nordeste. que disponibiliza créditos de pequena monta. Segundo, dados do DEG, mais da metade das tomadoras desse segmento de crédito são mulheres. Acompanhamento a empresas estrangeiras, particularmente alemãs, soluções financeiras de acordo com as necessidades de cada empresa. Nesse item também oferece parcerias público-privadas (PPP) ao financiar medidas de preparação e acompanhamento de investimentos. A Amazon Paper (uma iniciativa de negócio sustentável do Programa POEMA na região Amazônica) faz parte do Programa PPP. Somando as formas clássicas de financiamento, a DEG oferece financiamento denominado de Mezzaninfinanzierung, ou seja, a mistura de elementos de empréstimo e participação, na forma individual (Alemanha, 2003, p. 156) 97. Fora o perímetro urbano, o DEG financia empresas privadas grande maioria, são exportadoras. Para o DEG o aumentar a exportação é um dos objetivos do Governo Brasileiro para diminuir o déficit comercial do país. Complementando esse quadro de organizações para cooperação internacional para o desenvolvimento, há destaque para o Instituto Alemão de Desenvolvimento (DIE) e o Serviço Alemão de Desenvolvimento (DED). O primeiro é uma espécie de think tank que 96 Ver: (DEG, 2009). 97 No âmbito do desenvolvimento até o ano de 2003 o DEG investiu 300 milhões de euros em mais de 100 projetos no Brasil. O DED (Serviço Alemão de Cooperação Técnica e Social) deixou a região Nordeste em 2009 para focar seu trabalho apenas na Amazônia. O escritório de representação na Amazônia está situado em Belém/PA.

188 188 ampara por meio de pesquisas científicas as instituições públicas alemãs, além de fornecer treinamento para a formação de quadros profissionais. O campo de atuação do segundo relaciona-se à cooperação humanitária, por meio de seus peritos e técnicos voluntários. Criado em 1963, o Deutscher Entwicklungsdiens (DED) é o serviço de pessoal para o desenvolvimento com sede em Bonn 98. A partir dessa data, aproximadamente, 13 assistentes de desenvolvimento e mais de técnicos locais promoveram ações para a melhoria e qualidade de vida de pessoas, na África, Ásia e América Latina. Em 2003, 1000 técnicos estavam em ação em 45 países. O DED é um dos o mais importantes serviços europeus de envio de pessoal. (ALEMANHA, 2003, p. 148). Assim, o DED gera serviços para os quadros da cooperação alemã. Quase é uma empresa sem fins lucrativos, de responsabilidade limitada em conjunto com o BMZ. O DED é financiado pelo orçamento federal e também oferece os seus serviços a clientes internacionais. O DED não trabalha com projetos próprios, reponde a demandas de organizações ou instituições estatais de países associados, a saber: a) Fomento econômico e do mercado; b) Fomento da democracia e administração municipal; c) Desenvolvimento agrário e proteção aos recursos naturais; d) Administração civil de conflitos e fomento da paz; e) Saúde; f) Trabalho de formação e publicação na área de políticas de desenvolvimento. 99 A atuação do DED, no Brasil iniciou em 1966 quando vieram os primeiros assistentes de desenvolvimento. Em 2003, cerca de 30 assistentes de desenvolvimento trabalharam em dois programas regionais na Amazônia e no nordeste do Brasil. O DED-Brasil 100 coopera com mais de 90 organizações brasileiras, especialmente com ONGs que se comprometem com o desenvolvimento sustentável e com a redução da exclusão social. (ALEMANHA, 2003, p ). Ainda no âmbito dos recursos humanos, ressalta-se o papel do CIM Centro de Migração Internacional e Desenvolvimento. Trata-se de um programa de peritos integrados de curta duração, de instituições estatais e privadas brasileiras de pessoal experiente alemão e/ ou europeu. Assim, no contexto da cooperação internacional estão contribuindo para reduzir a mão-de-obra qualificada nacional. Há um ponto importante nessa atividade dos consultores 98 Ver: (DED, 2009). 99 (ALEMANHA, 2003, p. 148). 100 Ver (DED, 2009)

189 189 do CIM, a condição básica dessa iniciativa é a certeza de que a atuação do perito contribuirá para o desenvolvimento do país parceiro. Geralmente, o consultor é um pessoal experiente e egresso do mercado de trabalho europeu contratado por empregadores nacionais e remunerado conforme os padrões salariais brasileiros. Os profissionais (peritos, consultores e técnicos) recebem do Governo Federal Alemão, por meio do CIM, adicionais ao salário local e ao seguro social, além da ajuda de custo. No ano de 2003, havia 12 peritos integrados trabalhando no Brasil, nas áreas prioritárias indicadas pelo Ministério Federal Alemão da Cooperação Econômica e Desenvolvimento BMZ, especialmente, em regiões de proteção do meio ambiente, como a Amazônia. Eles atuaram em todos os projetos ambientais, no contexto do PPG7, em especial no PPTAL, pela complexidade da demarcação de áreas indígenas, no trabalho compartilhado com líderes indígenas, sociólogos e antropólogos brasileiros e peritos 101 do CIM. Esse número de peritos teve amento significativo durante a implantação do PPG7 na Amazônia. (Alemanha, 2003, p. 144). O trabalho da cooperação internacional para o desenvolvimento exige agilidade e movimento (ações) direcionados à eficácia. Nesse sentido, o Instituto Alemão de Desenvolvimento (DIE) - Deutsche Institut für Entwicklungspolitik (DIE) cumpre esse papel, uma vez, que é responsabilidade do Estado produzir conhecimento para promover a cooperação por meio de uma comunicação para todos os agentes acadêmicos, econômicos e sociais. É, desse modo, que, na contemporaneidade, a comunicação responsabiliza-se ainda pela garantia dos valores, da identidade e da reputação das organizações aos seus diferentes públicos. Nesse contexto, a comunicação estratégica essencial no desenvolvimento da sociedade, e porque constitue-se em um um espaço integrado que orienta o relacionamento das organizações ou entidades com todos os seus públicos de interesse. No âmbito da cooperação internacional para o desenvolvimento, o Die foi estabelecido para a criação desse espaço com o intuito de divulgar e convergir estudos e pesquisas, no que fiz respeito ao desenvolvimento. Essa atividade é realizada por meio de relatórios, papers, carta e comunicações relacionados às problemáticas e os resultados do trabalho dos consultores nos países assistidos (emergentes). 101 Nas entrevistas no Brasil e na Alemanha (2007 /2008), como na análise curricular dos consultores, notou-se uma certa mobilidade na atuação desses profissionais, em momentos alternados prestam serviços para o CIM, GTZ, DED entre outras organizações alemãs (pública e privada).

190 190 O DIE é o canal de comunicação adequado e democrático, pois permite, no interior do sistema de cooperação técnica e científica, a ocorrência de uma retro-alimentação (feedback) positiva ou negativa. A produção do conhecimento por meio do trabalho de consultoria,é compartilhada com diferentes públicos, com possibilidade de respostas adequadas às pressões e às demandas tanto do plano interno, como no plano externo, no âmbito da cooperação internacional. Instituto Alemão de Desenvolvimento (DIE) - Deutsche Institut für Entwicklungspolitik (DIE) é um dos institutos de investigação do mundo e de reflexão sobre questões de desenvolvimento global e da política de desenvolvimento internacional (DIE, 2009). O perfil de seu trabalho é científico e emerge da interação da pesquisa, consultoria e treinamento de recursos humanos. Para o Die, isso cria a ligação entre a teoria e a prática da política de desenvolvimento. As atividades do DIE são desenvolvidas em cooperação com o BMZ e outros ministérios (Auswärtiges Amt- Ministério Federal dos Negócios Estrangeiros (AA), BMU, e BMWi BMBF) e instituições especializadas (como o KFW, GTZ, DAAD. InWEnt) e as propostas de desenvolvimento da cooperação. O objetivo da organização é desenvolver possíveis abordagens para uma discussão coerente entre os departamentos e os países da cooperação com a Alemanha (TREIN, 2000, ). O DIE foi fundado em 02 de março de 1964, em Berlim. Era propriedade da República Federal da Alemanha e do Estado de Berlim. Atualmente sua sede é em Bonn. O objetivo do instituto é previsto no contrato de parceria. Ele oferece programas de treinamento de pósgraduação para os profissionais da cooperação para o desenvolvimento. As atividades de investigação e consultoria são secundárias, elas são executadas "na medida em que sejam necessárias para fins de formação em investigação". Desde 1971, anualmente, duas posições são disponibilizadas para visitante (pesquisadores) de países em desenvolvimento. Em 1990, quase 10% das candidaturas para a 26 th programa de treinamento são da RDA, quatro foram escolhidas como participantes. Aproximadamente 100 funcionários trabalham no Instituto de Desenvolvimento Alemão / Deutsches Institut für Entwicklungspolitik (DIE), dois terços dos funcionários estão envolvidos com estudos e pesquisa. Outros funcionários estão distribuídos nas áreas de Administração Geral, Projeto de Coordenação dos departamentos, gestão executiva, biblioteca, documentação e publicações, bem como a Comunicação Social e Departamento de Relações Públicas. O departamento de comunicação, assim como a biblioteca merecem ênfase nesse instituto, justamente por seu importante papel na articulação, interação e manutenção da

191 191 imagem do instituto e na distribuição e atualização ao acervo. Esse acervo 102 constitui um ponto importante de discussão para essa pesquisa, pois nos artigos e papers relacionados ao período do PPG7 ( ) que, constam do catálogo do DIE, há vários estudos sobre o trabalho compartilhado na Amazônia. É nesse instituto que se concentra os relatos, discursos e narrativas dos consultores que pensam e discutem a Cooperação Internacional Alemã para o desenvolvimento. Os estudos e relatórios sobre Amazônia das pesquisadoras e consultoras (SCHOLZ; SCHONEMBERG, 2007) 103, (WENTZEL, 2004) são publicados por meio do DIE e referências no estudo sobre Amazônia no âmbito do PPG7 e da cooperação internacional alemã para o desenvolvimento em diferentes países. Portanto, me apropriando das palavras do DIE: resumir a história do DIE 104 é descrever mais de 40 anos de Pesquisa, Consultoria e Formação para a Cooperação e Desenvolvimento Alemão (DIE, 2009). Ao mesmo tempo em que essas publicações exprimem as visões críticas das experiências no exterior por meio de profissionais de formação técnica e intelectual serve também de parâmetro para outros estudos. O DAAD - Deutscher Akademischer Austausch Dienst - Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico 105, fundado em 1950, uma associação sem fins lucrativos e uma das mais importantes organizações de intercâmbio da Europa. Com sede principal em Bonn e um escritório em Berlim, sua composição engloba 231 membros de Instituições de Ensino Superior e 127 grêmios estudantis da Alemanha. Com essa amplitude, contribui, anualmente, com cerca de alemães e estrangeiros por meio de mais de 200 programas de bolsas. No exterior possui 13 escritórios e 35 centros de informação. Promove as relações internacionais das instituições de ensino superior com o exterior. Trata-se de uma organização mediadora da política exterior da cultura, da política universitária e científica, bem como da cooperação para o desenvolvimento no âmbito da educação superior. Dessa maneira, oferece diversos programas de bolsas de estudo e de apoio à pesquisa para estudantes de graduação e 102 Esse Instituto possui em seu acervo digitalizado vários estudos e pesquisas em forma de relatórios, papers e comunicações que discutem sobre diferentes aspectos da ciência política na América Latina e nos países emergentes. Mais detalhes sobre as publicações podem ser consultadas em seu catálogo digitalizado com obras recentes. Ver: Die (2009). 103 Há várias publicações das referidas autores, destaco um dos principais para essa pesquisa. Sobre as relações institucionais no contexto do PPG7 ver em especial: Scholz, Imme / Schönenberg, Regine. The pilot programme to conserve the Brazilian in: Tilman Altenburg (Editor). Experiences of German Development Cooperation Rainforests. 2007, p A pesquisadora Imme Scholz foi consultora na área do meio ambiente e do desenvolvimento, como consultora da GTZ no Subprograma de Política de Recursos Naturais (SPRN)do PPG-7 no período de Como resultado da experiência na Amazônia, a referida autora defendeu tese em 1999, com o título: A capacidade de inovação ambiental da indústria de madeiras tropicais na Amazônia brasileira. 104 Ver mais sobre a história do DIE, suas publicações e acervo em: (DIE, 2010). 105 Ver a comunicação institucional com proposta de cooperação científica e Tecnlogica no Brasil e na Alemanha: (DAAD, 2009).

192 192 pós-graduação, professores e pesquisadores universitários. Dessa forma, mantém a boa imagem da Alemanha no mundo. No Brasil, tem atividades de cooperação científica com Agências Federais de Fomento, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) 106 e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) 107. A GTZ executa atividades de forma coordenada com o KfW, e em relação à Amazônia, algumas vezes, com o PPG7, em virtude da amplitude do programa, houve esforço e convergência de conhecimento técnico de várias organizações (CIM, DED, DIE). Como apontado pela (BMZ, 2009), além dessas duas grandes empresas públicas (GTZ, KFW), existe uma série de organizações que atuam na capacitação de recursos humanos para o trabalho em projetos de cooperação e conjuntamente organizam as informações sobre a política de desenvolvimento. A Sociedade Carl Duisberg (CDG) e a Fundação Alemã para o Desenvolvimento Internacional (DSE), em outubro de 2002, se fundiram em uma única organização, a InWEnt, sigla alemã para Capacitação Internacional e Desenvolvimento InWEnt (Fortalecimento de Capacidades Internacional, Alemanha) 108. Essa organização opera com os recursos humanos e programas de desenvolvimento organizacional por meio da educação, do intercâmbio e do diálogo para cerca de pessoas por ano. A InWEnt desenvolve suas atividade de cooperação com parceiros em países em desenvolvimento, Estados em transição e nações industrializadas (INWENT, 2008). Trata-se de uma empresa global de desenvolvimento de recursos humanos, formação e diálogo.. A Inwent atua na América Latina e com relação a sua experiência de cooperação, afirma que, [...] a pesar de todos os progressos da, especialmente em países como Brasil e México ainda estão vivos 40 por cento dos latino-americanos vivem abaixo da linha da pobreza. Além disso, o fardo do crescimento econômico na América Central e do Sul são os principais recursos ambientais, tais como a floresta amazônica que é cortada para baixo, entre outros, para o aumento da procura de terras agrícolas para o cultivo de soja e criação de gado. O desmatamento das florestas tropicais, mas tem um impacto direto sobre o clima em outras partes da terra. Política de desenvolvimento alemão apoia os seus parceiros na América Latina, portanto, sem deixar de incentivar o desenvolvimento da democracia e boa governança, combate à pobreza, nomeadamente através sustentável e socialmente sustentável, crescimento econômico e, ao mesmo tempo manter a proteção dos recursos naturais num ápice. (INVENT, 2008, p. 6-8). 106 Ver detalhes sobre acordo da Capes com DAAD em: (CAPES, 2010). 107 Idem (CNPQ, 2010). 108 Ver mais informações sobre a InWEnt - Internationale Weiterbildung und Entwicklung GmbH em: (INWENT, 2008).

193 193 Em seus últimos relatórios anuais (2008, 2007, 2006 e 2005) há pouca referência ao Brasil, em especial em 2007, pois apesar de descrever a situação do desmatamento na Amazônia. No contexto da sociabilidade e dos associativismos, na Alemanha, há destaque à Deutscher Genossenschaft und Raiffeisenverband e Confederação nacional do setor cooperativo da agricultura, poupança e crédito, indústria, comercio e serviços de pequeno porte, instituições, federações e associações cooperativas regionais e nacionais empresas cooperativas especializadas, poque eleva o nível do sistema cooperativo alemão, em função de suas atividades, [...] Realiza auditorias nas instituições de nível nacional e regional; Como cúpula nacional a DGRV é responsável por todos os assuntos relativos a organização, por exemplo, problemas de política econômica, jurídica e fiscal comuns a todos os ramos cooperativos. Assessora e apóia organização cooperativa alemã de auditória, lei e regulamentação cooperativas, capacitação de pessoal, educação e organização comercial. Mantém contato com outras organizações e instituições (nacional e internacional). Ainda no seu campo de atuação, participa em atividades de desenvolvimento cooperativo nacional e internacional. (ALEMANHA, 2003, p. 158). Na RFA, as cooperativas tem destaque social, uma vez que contribuem de modo, significante, para o desenvolvimento da economia geral do país e, em particular, para o fortalecimento do segemento rural. Atualmente, 5915 cooperativas locais com o apoio dos centros regionais e nacionais e por um sistema de federações, parte integrante do sistema econômico alemão (ALEMANHA, 2003, p. 159) 109. Com base na responsabilidade Global, o Programa de Ação 2015 (BMZ, 2008/2009) abrange políticas que objetivam reduzir a pobreza numa resposta à Declaração do Milênio da ONU. Nele, o termo pobreza relaciona-se à privação, à vulnerabilidade, à injustiça e à falta de perspectivas e rendimentos. A lista dos países receptores e os requisitos para a requisição de ajuda e cooperação constam detalhadamente no site da BMZ (2009). No processo de mediação nos acordos Brasil e Alemanha um agente importante são a Câmaras de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (HKA) que atuam no país desde O foco do trabalho é a mediação entre as macroeconomias da Alemanha e do Brasil. Os serviços são prestados por meio das matrizes em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre e escritórios nas cidades de Belém, Blumenau, Brasília, Fortaleza, Goiânia e Vitória. Segundo dados da 109 As cooperativas possuem uma longa e bem sucedida tradição que remonta ao século XIX. Seus pais e fundadores, Friedrich Wilhelm Raiffeisen e Hermann Schuze Delitzsch, ajudaram a criar as primeiras cooperativas há 140 anos. Desde então, como organizações locais de auto-ajuda agricultores e pequenos artesões, as cooperativas individuais chegaram a constituir, em nível regional e nacional, num complexo sistema de cooperativas, sobretudo nestes três setores: agricultura, bancos, pequena indústria/ comércio e serviços. (ALEMANHA, 2003, p. 159).

194 194 AHK, aproximadamente empresas são associadas às Câmaras. Não apenas empresas de capital e know-how alemães, mas empresas brasileiras ligadas ao comércio exterior e organizações e instituições radicadas na Alemanha. Na visão da AHK, A proximidade com empresas, órgãos públicos e associações no Brasil e na Alemanha faz com que as Câmaras possam prestar serviços valiosos, que facilitam o acesso aos mercados brasileiro e sulamericano, bem como ao alemão e europeu respectivamente. A ampla oferta e o maciço uso de seus serviços consolidaram o significado fundamental das Câmaras em prol das relações econômicas entre os dois continentes (AHK, 2009). Ainda na visão da AHK, na economia brasileira, o Sudeste e o Sul é muito importe, por abrigar 59 % da população nacional, geram 76 % do Produto Interno Bruto - PIB e 78 % dos produtos industrializados do país. Também são as regiões preferidas das empresas alemãs que investiram cerca de US$ 19 bilhões no Brasil. Quase todas as empresas de origem alemã instaladas no país radicaram-se nas regiões Sul e Sudeste. A orientação é bilateral e as Câmaras Brasil-Alemanha atuam no interesse da economia de ambos os países. Com esses princípios, contribuem para as relações econômicas que promove e fomentam a área técnica-científica, visando o bem-estar da população dos países parceiros. Por atuar na área técnica-científica seu trabalho é amplo e atingi vários sementos da sociedade e em especial o ambiental, com profissional especializado para atender as demandas e responder de forma institucional sobre os projetos ambientais de interesse da RFA 110. Então, ao analisar os discursos e práticas de comunicação institucional da cooperação técnica observou-se pelos relatórios e entrevistas, que as ações do PPG7, de certa forma, também tinham relações com a Câmara Brasil Alemanha. Essa organização tem um papel importante na interação entre os campos econômicos, científicos e sociais, pois promove a interação do campo econômico com os demais campos da sociedade. De acordo com a Câmara Brasil-Alemanha, a contribuição alemã ao setor ambiental no Brasil é dividida em 3 principais segmentos: 1) a cooperação entre os governos 2) a cooperação no setor privado c) a cooperação acadêmica. O termo contribuição para essa pesquisa é entendida como cooperação, resumida a seguir. Na cooperação entre os governos a República Federal Alemã é considerada um dos parceiros mais importantes do Brasil em programas de proteção ambiental (ROSE, 2009). 110 Ver mais detalhes das atividades no segmento de projetos ambientais da AHK: (AHK, 2009)

195 195 Portanto, quase todas as organizações aqui mencionadas enviaram profissionais (especialista em desenvolvimento) para conjuntamente atuar no programa ambiental, PPG7 ( ) e também cumprir parte da meta do mílênio. A metodologia compartilhada, objetiva a proter a floresta na Amazônia, utilizando meio de inovação sustentáveis. Sistema 4.7 INSTITUIÇÕES DE PESQUISA ALEMÃ O campo das instituições de pesquisa é amplo, há diversos institutos alemãs universitários independentes com trabalho de documentação e de pesquisa de cunho mais crítico sobre conflito entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento. Para essa pesquisa, há interesse nas instituições voltadas à América Latina. No nível universitário, o destaque é para o Lateinamerika-Institut da Freie Universität Berlin (LAI) (Instituto Latino Americano), da Universidade Livre de Berlim, que reúne uma série de pesquisadores de renome internacional, e se constitui em um dos mais conceituados institutos alemãs neste campo. Fundado em 1970, o instituto se dedica às atividades de pesquisa nas áreas de Ciências Políticas, Sociologia, Ciências Econômicas, História, Línguas e Literatura. Desde sua fundação, esse Instituto desenvolve projetos interdisciplinares de pesquisas, financiados em parte também por meio extra- universitário, entre eles, Crise econômica mundial, diferenciação da periferia e oportunidades de desenvolvimento para países semiindustrializados. Neste Projeto, os estudos comparativos entre a situação de países latinoamericanos, (Argentina, México e o Brasil) com os países tigres asiáticos, objetivam avaliar, criticamente, os processos vigentes de aprofundamento da integração destes países ao mercado mundial. No ano de fundação desta instiuição, 1970, coincide com a efervescência das discussões políticas e sociais, na Europa e América Latina. Dois anos do movimento estudantil de 1968, no Brasil, protestos em quase toda Europa e ditaduras na maioria dos países da America Latina, inclusive no Brasil ( ), por isso, até hoje, abre espaço para debates e interlocuções a respeito das questões políticas e sociais da America Latina e da Europa. Em virtude de ser um instituto interdisciplinar dedicado à pesquisa e ao ensino, dos consultores (GTZ, PRORENDA, GFA, HBS) entrevistados, exceção de (engenheiros agrônomos), todos passaram pelo LAI, para cursar disciplinas, fazer cursos de rápida duração, assistir a palestras etc. Chamou também atenção nas narrativas dos ex-alunos, atualmente

196 196 pesquisadores, phds e especialistas, o carinho e gratidão pelo instituto, que deu a eles a oportunidade do primeiro contato com os assuntos de países emergentes, particularmente o Brasil e a Amazônia. A Faculdade de Sociologia da Universidade de Bielefeld, concentra sua atuação nas áreaade Sociologia do Desenvolvimento, por isso as intensas atividades de pesquisa sobre o Brasil, em especial sobre temática urbana e cultura afro-brasileira. Entre as organizações que pesquisam a região Amazônica, destacam-se a Faculdade de Sociologia da Universidade de Kassel, e o Instituto de Geografia da Universidade de Tübingen, além do Lateinamerika- Institut da Freie Universität Berlin (LAI). A Associação Alemã de Pesquisas sobre a América Latina congrega a maior parte dos pesquisadores alemães, nesta área, e promove a interação entre os membros, realizando congresso anual. No nível não-universitário, destaca-se o Instituto de Estudos Ibero-Americanos de Hamburgo, fundado em 1962, financiado por fundos federais, estaduais e da própria cidade de Hamburgo, por dedicar-se à análise geral de problemas da evolução sócioeconômica atual da América Latina, e por ser referência aos setores públicos e privados alemães na tomada de decisões relativas aos países latino-americanos. Outro destaque nesta área é o Instituto Ibero-Americano, localizado em Berlim, fundado em 1930, hoje o maior centro de documentação da Europa, pelo domínio dos campos de saber referentes à Espanha, a Portugal e à América Latina, com um vasto acervo bibliográfico, mais de volumes. O Instituto de Brasiliologia fica na cidade de Mettingen e é ligado aos franciscanos do Brasil. Este instituto presta uma contribuição importante por meio do trabalho de pesquisa e principalmente pela documentação, sobre a realidade brasileira. Além de publicar livros especializados em temas brasileiros, o Instituto edita anualmente um calendário de bolso contendo uma coletânea de dados sócioeconômicos sobre o Brasil e o chamado Serviço de Recortes, uma seleção mensal de artigos publicados nos principais jornais brasileiros. Essa cooperação relacionada à divulgação histórica e cultural tem proporcionado aos dois países (Brasil e Alemanha) excelente oportunidade de positivar suas imagens. No contexto da construção da imagem positiva, muitas vezes a dificuldade com a diversidade cultural e com a língua é um dos empecilhos, em especial, se tratando da língua alemã. Desse modo, é uma organização que promove a cultura, por meio das artes, da literatura e da diversidade cultural. O Goethe-Institut do Instituto Cultural da RFA desempenha essa atividade em todo o mundo, inclusive o conhecimento da língua facilita o acesso às informações sobre a vida política, social e cultural Alemã.

197 197 A rede de Institutos e Centros Goethe, associações culturais, salas de leitura, assim como os centros de exames e de aprendizagem possibilitam a política cultural e educacional no exterior. Simultaneamente, estabelecem cooperações com instituições culturais privadas e públicas, com municípios, com os estados federais e com organismos econômicos internacionais e que promovem viagens e estágios de curta duração entre jovens em todo o mundo. Assim, os profissionais dessa instituição aliam experiência e ideias dos parceiros na Alemanha ou no exterior à competência profissional, desenvolvendo uma colaboração com base no diálogo contínuo para a cooperação. Com essa estratégia, assumem a função de prestadores de serviços e de parceiros de todos aqueles que se ocupam ativamente com a língua e cultura alemã. No Brasil e no exterior, o Goethe-Institut, além de divulgar a cultura e o ensino da língua alemã, também presta assessoria no ensino da Língua alemã para profissionais técnicos e executivos que trabalham em empresas alemãs. Entre essas empresas pode-se citar, Mercedes-Benz, Siemens, Bayer e a Câmara Brasil Alemanha. O Goethe-Institut trabalha de forma autônoma e politicamente independente, enfrentamos os desafios político-culturais da globalização e desenvolvemos conceitos inovadores para um mundo mais humano, graças à compreensão mútua, e no qual a variedade cultural é considerada um enriquecimento. Essa é mais uma organização alemã que por meio do exercício das atividades culturais também contribui para a manutenção da imagem da Alemanha (GOETHE, 2009) 111. Além das instituições e organizações mencionadas, outras, como a Deutsche Welle Akademie promove por meio do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, através das suas representações em diferentes países (Embaixada e Consulados Gerais) 112 viagens temáticas e programa para jovens jornalistas. Certamente, por reconhecer o poder da mídia na formação da opinião pública, a partir de 2003, o programa Viagens temáticas e programa para jovens jornalistas a DW-Akademie oferece uma formação extra em jornalismo. Nesse curso, são abordadas técnicas de apresentação jornalística no rádio, na internet e na televisão, e temas importantes para as etapas de produção, como história da mídia, investigação, entrevista, moderação, elaboração de texto, direito de imprensa, entre outros. O aperfeiçoamento de competências é complementado por meio de palestras, seminários e viagens. O programa tem duração de No Brasil o Goethe Institut está presente nas principais capitais do Brasil, no estado do Pará, em Belém é representado pela Casa de Estudos Germânicos (CEG) com instalações na Universidade Federal do Pará. Ver detalhes das atividades do Goethe Institut em: Goethe (2009) 112 Ver detalhes do programa Viagens temáticas e programa para jovens jornalistas em: (ALEMANHA, 2009).

198 198 meses e é realizado na cidade de Bonn. Além da oportunidade, os candidatos aprovados receberão mensalmente uma bolsa de mais de euros no primeiro semestre, valor que sofrerá reajuste até o final do curso (ALEMANHA, 2009). Para a formação da opinião pública, nesse programa, a Alemanha é clara em relação aos seus objetivos e interesses: O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, através de suas representações no Brasil (Embaixada e Consulados Gerais) seleciona jornalistas brasileiros, periodicamente, para participar de visitas temáticas à Alemanha. O objetivo é mostrar a estes profissionais, e outros importantes formadores de opinião, aspectos pouco conhecidos da Alemanha, nos setores mais diversos, como cultura, economia, esporte, política, etc. Também fazemos regularmente convites a jornalistas quando da realização de grandes eventos de relevância internacional, como o Festival de Cinema de Berlim, a CeBIT, entre outros. (TREIN, 2000, p.17). E, ainda [...] Os candidatos deverão ser falantes nativos em uma das línguas desejadas pela DW-Akademie, como amárico, árabe, dari, inglês, francês, hausa, kisuaheli, português, paschtu, russo e urdo, possuir conhecimentos de alemão de nível 3, e ter graduação ou diploma equivalente em jornalismo (ALEMANHA, 2009). Evidencia-se aqui além da construção da imagem por meio da formação da opinião pública também a busca de consenso via hegemonia dos discursos, pois essa estratégia visa ao aumento do número de falantes que compreendem e interpretam os mesmos signos. Mas afinal, o que é opinião pública e qual a sua relação com o público formador de opinião? Por que é tão importante para Alemanha construir sua imagem por meio dos formadores de opiniões? Partindo do que está sendo apresentado sobre a construção da imagem das instituições alemãs e considerando que as estratégias da comunicação institucional mantêm bom relacionamento com seus diferentes públicos, cabe aqui uma discussão sobre alguns agentes importantes no processo de formação da expressão da opinião pública: os formadores de opinião, que expressam seus pontos de vista publicamente, atendendo a determinados interesses. Entretanto é necessário diferenciar os pequenos formadores de opinião (que pode ser o líder comunitário de um bairro) dos formadores de opinião de massa 113 (que falam e escrevem para milhares de pessoas). Neste ponto, destaca-se a importância do mass media (meios de comunicação de massa) na formação e expressão da opinião pública, porque é a partir deles que opiniões e atitudes (ações) tomam maior amplitude e visibilidade. Contudo, é certo que, na formação da opinião, geralmente prevalece a influência das classes mais favorecidas economicamente sobre as menos favorecidas (ESTEVES, 2007, p. 38). 113 Esteves (2007, p. 95) ressalta que: Os lideres de opinião não são necessariamente os indivíduos socialmente proeminentes ou mais endinheirados; tampouco são os dirigentes da vida cívica, da comunidade; pelo contrário, encontramo-los em todos os grupos ocupacionais.

199 199 É dentro desta conjuntura que se discute a formação da opinião pública, especificamente na conceituação de Augras (1980, p. 45), para quem a opinião é um fenômeno social em que se confunde o plano individual, como atitude, e o plano coletivo, como entidade mítica, transformando-se em sentimento do povo. Para a autora, a diferença entre opinião, se relaciona ao sistema de crenças e ideologias do indivíduo; e a atitude, constante em determinado sentido. Em resumo, só há opinião por que há fatos e acontecimentos, nesse sentido, a opinião é de natureza comunicativa, interpessoal e social. Na formação da opinião individual, os meios de comunicação divulgam os fatos a respeito dos quais os cidadãos desenvolvam juízos de valor. Os grupos de pressão dirigem-se às pessoas para orientar a opinião pública, de um acontecimento num determinado sentido, Segundo Augras (1980, p. 48), o acontecimento influencia a opinião porque trabalha como informação. Quaisquer que sejam as funções do acontecimento podemos resumi-las da seguinte maneira: o acontecimento influencia a opinião porque funciona como informação. Essa definição permite integrar qualquer tipo de influência de qualquer acontecimento. (AUGRAS, 1980, p. 46). Por essa descrição, a opinião tem sua origem nos grupos, mas mesmo assim ainda não se caracteriza como opinião pública, porque esses grupos sóo se transformam em públicos depois que as as opiniões se organizam em torno dos debates, que estimulam a discussão, a informação, a reflexão, a crítica em busca de uma atitude comum. Esse agir comunicativo relaciona-se com os hábitos, com os comportamentos e transformam-se em opinião quando adquire um caráter verbal e simbólico na esfera pública. Afinal o que é a opinião pública? Há várias discussões com diferentes vertentes sobre formadores de opinião: de um lado, os que são contra a identificação da opinião pública com o resultado de pesquisas, eles alegam que os números nivelam opiniões que tem peso diferentes (BOURDIEU, 1998). Do outro lado, os que são a favor, dessa itentificação, eles consideram a opinião diferente do conhecimento, portanto, ela reflete mais as crenças do que as atitudes racionais. (CHAMPAGNE, 1996, p. 28). Esta constatação, se sustenta em três pontos-chaves: 1. a origem, 2. a expressão pública da opinião e 3. a relevância do tema gerador da opinião. A opinião pública se origina do debate público, ou seja, de um processo de discussão coletiva, implícito. A relevância do tema gerador da opinião deve ser capaz de provocar uma discussão, suficientemente, conhecida para gerar um fenômeno de opinião pública, mas: por mais relevante que seja o tema, sempre existirão opiniões diferenciadas, o que implica sempre na possibilidade de haver mais de um tipo de Opinião Pública.

200 200 Para este trabalho, interessa a visão de opinião pública citada por Augras (1980), em cuja concepção a matéria-prima dessa opinião é o acontecimento, ou seja, ela existe enquanto fato que gera informação. Nessa visão de gerar acontecimentos e fatos que se desenvolver a comunicação organizacional no cerne das organizações empresariais, na contemporaneidade. Não basta apenas informar ou gerar acontecimento, é preciso ampliar o espaço público para diversas modalidades de interação. Para isso, as organizações utilizam várias estratégias de comunicação e de marketing criando fatos relacionados ao cotidiano organizacional. Nessa direção de pensamento, Esteves amplia esse conceito quando afirma que, Um discurso esclarecedor sobre a opinião pública não poderá aspirar à formulação de um conceito absolutamente transparente inconciliável, de fato, quer com os registros de sua realidade atual, quer com as suas múltiplas formas assumidas ao longo destes últimos séculos. A partir da elucidação possível serão definidas de modo mais plausível, simplesmente, pela possibilidade de pôr em evidência a opacidade intrínseca da opinião pública e desde logo, na proximidade (e até contaminação) que a mesma estabelece com outros conceitos nucleares afins, nomeadamente público, publicidade, espaço público, ou esfera pública. (ESTEVES, 2007, p. 1). A explicação de Esteves (2007) é importante por relacionar a proximidade de público, publicidade e Opinião pública, pois é justamente na publicização dos acontecimentos que se dá a formação do formador. Outra abordagem é a fenomenológica. Então, revisitando os conceitos de Habermas, tem-se um melhor entendimento sobre a opinião pública, público e esfera pública (local em que ocorre o debate e a publicização dos fatos e da informação). Para Habermas (1984), só há opinião pública num ambiente democrático. Sua abordagem sobre a opinião pública surge a partir da obra (Offentlichkeit) sobre a Publicidade Burguesa. A Teoria Normativa de Democracia se baseia nas condições comunicativas, nas quais pode ocorrer uma formação discursiva da vontade e da opinião de um público formado pelos cidadãos de um Estado. Habermas retoma o projeto histórico-filosófico da modernidade atribuindo à opinião pública a função de legitimar o domínio político por meio de um processo crítico de comunicação sustentado nos princípios de um consenso racionalmente motivado. Pressupondo a livre discussão num sistema democrático, no plano teórico, de Habermas, os procedimentos dominantes de legitimação das democracias de massas modernas estão relacionados a um processo dirigido, na esfera administrativa, conforme Habermas (1984, p. 29). Para este autor, o consenso ou o acordo só é possível em espaço democrático. Desse modo, à lógica dos processos de formação, da circulação e da expressão da opinião pública devem se adaptar ao quadro de categorias fundamentais elaborado por Habermas. Assim, deve-se examinar a relação entre os fenômenos de opinião pública e os processos de

201 201 racionalização historicamente conectados entre si, mas diferenciados por categorias: a Ação Instrumental, a extensão da ação técnica e o incremento da capacidade de direção e de cálculo dos processos sociais que tiveram lugar nas Sociedades Contemporâneas; e a Ação Comunicativa, aqueles processos articulados em esferas comunicativas livres de domínios, orientados para o consenso e o entendimento mútuo. Assim, segundo esta concepção, a linguagem é concebida como garantia da democracia, uma forma política, em um livre processo comunicativo direcionado aos acordos consensuais em decisões coletivas. Em resumo o conceito básico da Teoria Democrática de Habermas, é um referencial fundamentado em uma crítica teórica do conceito de Opinião Pública, com base em algumas variáveis, uma noção de espaço público no qual integrem os três agentes principais da vida social: o sistema político, o sistema dos meios de comunicação de massa e a opinião pública dos cidadãos. Assim, há correntes de pensamento que apontam para a pré-determinação dos assuntos que norteiam as opiniões compartilhadas, na verdade, é o reflexo da interpretação de poucos, que passar a ser de todos e, dessa maneira, tornar público (ESTEVES, 2007, p. 35). Longe de chegar a um consenso do conceito teórico entre os vários autores e diferentes abordagens, Bourdieu (1998) causou polêmica ao analisar as pesquisas de opinião de sondagem ao afirmar que a opinião pública não existe. Para tal afirmação, o autor partiu de três postulados: o primeiro afirma que toda pesquisa de opinião supõe que todo mundo pode ter uma opinião, ou seja, que a produção e formação de uma opinião estaria ao alcance de todos; o segundo diz respeito a pressupor e acreditar que todas as opiniões se equivalem, o que o autor condena, pois o acúmulo de opiniões não tem a mesma força real, ou seja, todas as opiniões não têm o mesmo valor; no terceiro postulado, questiona-se o fato de a mesma pergunta ser feita para todos os entrevistados a partir da hipótese de que há um consenso sobre o problema, evidenciando um acordo sobre as perguntas que devem ser feitas. Sob essa visão, dois pontos merecem destaque: o grande número de entrevistados que emitem opiniões sobre temas que desconhecem e a soma da opinião pública baseada nas opiniões individuais, o suporte é o grupo e não o indivíduo. Por isso, o autor conclui que, da forma como é feita esta sondagem, a opinião pública não existe (BOURDIEU, 1998, p. 149). Essa afirmação coloca em xeque a tradicional conceituação de sondagem e evidencia algumas questões que devem ser levadas em consideração como a relação de força da opinião e o pressuposto do consenso generalizado, (BOURDIEU 1998, p ). A Opinião Pública e a massificação das sociedades são processos que, a partir de determinado momento, passam a entrelaçar-se de forma muito estreita, a ponto de podermos dizer, em bom rigor, que a Opinião Pública hoje é essencialmente uma opinião de massa,

202 202 [...] constituída já não verdadeiramente por públicos, como em épocas anteriores, mas sim por esta nova sociabilidade a que damos o nome de massa, enquanto forma de agregação social dos indivíduos que têm por base relações sociais frágeis, superficiais e burocratizadas. (ESTEVES, 2007, p. 38). Algumas características comuns podem ser observadas, a opinião pública implica uma manifestação de juízo de valor sobre a um tema de caráter público e sugere a existência de opiniões diferentes e de posições contrárias. A discussão realizada até este ponto indica que há inúmeras definições acerca do conceito de opinião pública o que requer maior abrangência sobre esse tema. A leitura bibliográfica e entrevistas realizadas durante a pesquisa de campo evidenciaram que a pressão da opinião pública contribuiu como um dos principais elementos que impulsionaram a aprovação do PPG7. Depois dessa exposição também foi possível observar o quanto a opinião pública contribuie para a construção da boa imagem dos agentes sociais. Para explicitar a formação da opinião pública para a manutenção da imagem e busca de consenso, cita-se as Organizações Ambientalistas, inclusive as da Alemanha, uma vez que, suas articulações com a mídia culminam com os debates, sobre políticas públicas. A discussão de assuntos interessantes como (Amazônia, REED, clima,) sensibiliza a opinião pública. A Alemanha é um país que possui uma longa tradição de organizações ambientalistas. Então, suas prospostas tem credibilidade perante a opinião pública. Essa experiência de articulação com a mídia para a formação da opinião pública não exite por caso. O Deutscher Naturschutzring DNR (Liga Alemã pela Defesa da Natureza), fundado em 1950, constitui uma espécie de federação que engloba as mais diferentes associações ambientalistas, somando hoje cerca de 100 Associações, com mais de 3 milhões de membros, entre essas associações, a Bund fur Umwelt und Naturschutz Deutschaland (BUND) (Associação pelo Meio Ambiente e Proteção da World Natureza na Alemanha), a maior e mais representativa; os Greenpeace ou Wildlife Fund (WWF), a Associação Alemã de Defesa dos Animais, a dos Amigos dos Pássaros, e a de Proteção das Montanhas. No final da década de 1970, a questão ambiental, na Alemanha, ganhou um novo impulso ao ser pressionada pelos novos movimentos sociais emergentes na época. A ecologia deixou de ser apenas uma moda e diletantismo do momento e passo a ser um elemento central das discussões políticas, quando questionado o pretenso sucesso do modelo de desenvolvimento industrial. O resultado da inserção dessa temática nos debates teve como consequência a entrada do Partido Verde no Parlamento Alemão, assim como na criação de um ministérios só para tratar das questões ambientais, e de uma série de institutos independentes de pesquisa ambiental aplicada que, até hoje, desempenham um importante

203 203 papel no trabalho de fundamentação científica da argumentação política por exemplo, o Oko-Institut, em Freiburg, o Katalyse, em Koln, o Instituto de Ecologia e Economia de Wuppertal, entre vários outros. As tradicionais organizações ambientalistas alemãs passaram a agir de forma mais política, intensificaram as atividades de conscientização do público alemão em relação aos problemas ambientais, de forma a influênciar as decisões dos parlamentares. No entanto, a percepção estreita do aspecto ambiental se configurou em mais uma ação preservacionista uma crítica ao modelo tecnológico dominante, do que uma ação capaz de combater a crise ambiental mundial, o tenso conflito entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento. Esta situação mudou no decorrer dos últimos anos, inclusive nas discussões da CNUMAD (1992), que inevitávam associar ecologia aos problemas do desenvolvimento, para forçar associações a incorporar estes novos termos em seu discurso, entretanto, devido ao caráter conservador, ainda é cedo para vislumbrar uma mudança real no perfil delas. Um tema ligado, diretamente aos problemas dos países em desenvolvimento que recebe tratamento específico das organizações ambientalistas é a proteção das florestas tropicais, em especial, a da Amazônia. São inúmeros grupos e organizações Alemães envolvidos e cada um com atuação diferente; apoio aos projetos dos movimentos sociais da Amazônia e Mata Atlântica brasileira; monitoramento da política de cooperação internacional do governo alemão como o PPG7; realização de campanhas de boicoite à importação de madeiras tropicais ou de produtos do extrativismo e à compra de áreas cobertas de florestas. Em 1988, estes grupos definiram uma plataforma conjunta, que ficou conhecida como o Regenwald-Memorandum, traduzido como Memorando pelas Florestas Tropicais, no qual foram firmados os motivos de seu engajamento, assim como seus princípios básicos. Em 1991, um Fórum deu início a chamada Regenwald-Kampagne (Campanha pelas Florestas Tropicais), com o objetivo de identificar casos de envolvimento do governo alemão em atividades de destruição das florestas tropicais, para apontar os aspectos contraditórios do trabalho e desmascarar a tradição preservacionista. Apesar da força ao movimento, diferenças de enfoque entre os grupos e dificuldades práticas de organização limitavam o alcance desta campanha. Dentre esses grupos, destaca-se a Kampagne fur das Lebe in Amazonien Campanha pela Vida no Amazonas, em função da de concentração sobre a Amazônia brasileira e seu enfoque mais crítico a respeito dos demais, uma vez que procura entender a problemática da destruição da floresta a partir da realidade dos grupos sociais que nela habitam, considerando o contexto social, econômico, e político em que eles se inserem.

204 204 A Kampagne consiste em um agrupamento de organizações e pessoas interessadas, no PPG7 para a Amazônia, que estuda a problemática dos povos indígenas na Amazônia. No âmbito do PPG7, há uma constelação de organizações em prol das populações tradicionais, seringueiros e quilombolas que merece uma discussão mais detalhada no decorrer dessa pesquisa. Desde os anos 1980, o tratamento das questões ambientais deixou de ser privilégio do Partido Verde, está presente no trabalho de todos os Partidos, sejam eles de esquerda sejam eles de direita (CASTELLS, 1999, p. 161). Na pesquisa de Wolff (1994), complementada pela consulta em documentos e publicações nas bibliotecas da Frei Freie Universität Berlin, constata-se que, na Alemanha Oriental, a política de cooperação econômica era coordenada basicamente pelo chamado Comitê de Solidariedade, controlado pelo governo, que administrava fundos provenientes de doações compulsórias, para fins de solidariedade, cobradas regularmente da população. As atividades concentravam-se basicamente nos países socialistas em desenvolvimento, com boa relação com a União Soviética. A Juventude Comunista (FDJ) da Alemanha Oriental também angariava fundos adicionais para o desenvolvimento desses países, por meio dos quais organizava e financiava brigadas juvenis, grupo de jovens voluntários a serviço do desenvolvimento. Paralelamente, com caráter mais oficial, surgiram, a partir dos anos 1970, no seio do movimento estudantil, abrigados pelo aparato institucional das igrejas, novos grupos com iniciativas de solidariedade aos países do Sul, entre elas, a preocupação com a natureza e com a qualidade da democracia de cada país, em especial a Nicarágua, em função do regime vigente e da política oficial, que dificultavam a realização de suas atividades. Em 1990, em toda a Alemanha, já eram cerca de 40 grupos que se articulavam, principalmente, pela rede chamada INKOTA (Informação, Coordenação e Seminários), fundada em 1971, dentro de uma perspectiva ecumênico-cristã. As atividades concentram-se até hoje, principalmente na educação e na conscientização do público sobre desenvolvimento, e em projetos em países do Sul. O sistema oficial de cooperação internacional mudou desde a queda do muro de Berlim (1989) e da fase de transição da Alemanha Oriental para Alemanha reunificada. Uma experiência interessante e inédita ocorreu durante este período, sob iniciativa da rede INKOTA e da Academia Evangélica Berlim-Brandenburgo, a Entwicklungspolitischer Runder Tisch ( mesa redonda em política de desenvolvimento ), na qual grupos engajados em solidariedade, cientistas, professores universitários, representantes das igrejas, dos partidos e

205 205 membros do governo, além de convidados do lado ocidental da Alemanha reuniam-se mensalmente para discutir problemas de ordem global ligados ao conflito Norte-Sul, e suas possíveis repercussões sobre a forma de conduzir oficialmente a política de cooperação internacional (WOLFF, 1994). Após um próspero e curto período de trabalho conjunto (de fevereiro as junho de 1990) que repercutiu por toda a Alemanha em função da qualidade dos documentos produzidos esta rica experiência perdeu influência em nível consultivo e sucumbiu frente à rápida evolução do processo de unificação. Hoje, ela permanece como uma instância de troca esporádica de informação e ideias, sem maior influência política. Atualmente, o Comitê de Solidariedade totalmente absorvido pelo aparato do Ministério de Cooperação Econômica da antiga Alemanha Ocidental, submeteu os projetos em andamento à revisão com base em novos critérios, por isso boa parte foi cancelada, outra reformulada e só a minoria foi mantida em sua concepção original. Em função odestas mudanças, o comitê de solidariedade redefiniu sua identidade, seu perfil ideológico e seu modo de inserção na sociedade alemã, para superar a dificuldade de sensibilizar a opinião pública alemã oriental, em favor das doações. Atualmente, esses grupos enfrentam maior concorrência das organizações afins do lado ocidental da Alemanha, entretanto, continuam mantendo um perfil inédito em função de sua história, tornando-se assim potencialmente interessantes interlocutores para grupos afins dentro e fora da Alemanha. Dois grupos se destaram nessa descrição. Em 1989, fundada no âmbito universitário a Gesellschaft fur solidarische GSE (Sociedade em prol de uma Cooperação Solidária para o Desenvolvimento), que, um ano depois, já somava cerca de 200 membros, em diferentes cidades. Sua atividade se concentra principalmente na educação para o desenvolvimento. Com semelhantes objetivos foi fundada, em 1990, a Entwicklungspolititische Gesellschaft (Sociedade para Assuntos de Política de Desenvolvimento), mais acadêmica concentrava as atividades nas pesquisas e o no aprimoramento da qualidade do ensino universitário, sobre desenvolvimento. As fundações políticas por terem sido as primeiras organizações com o objetivo de promover a democracia por meio da cooperação internacional, de certo modo, ao realizar suas atividades passaram uma boa imagem de seu país, no caso a Alemanha e, ao mesmo tempo, serviram de modelo para a criação de fundações em outros países com estrutura e funcionamento similar, mas sem notariedade com o volume de orçamento das Fundações Políticas alemãs. Por fim, de acordo com a BMZ (2009), um considerável número de ONGs

206 206 recebem financiamento estatal, às Fundações Políticas, o financiamento representa quase 100% de seu orçamento. Esta descrição, além de constatar o poder e os discursos implícitos na teoria das relações internacionais, evidenciou que esse campo, assim como a cooperação internacional para o desenvolvimento, é um conceito amplo cujas práticas dependem de cada ator social num dado contexto social, político e econômico global.

207 207 5 PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL DA COOPERAÇÃO TECNICA ALEMA NA AMAZONIA Em virtude da amplitude da discussão sobre o tema cooperação internacional na Amazônia, é necessário, contextualizar essa relação no cenário nacional e internacional, para isso foram feitas a pesquisa bibliográfica e a leitura direcionada às relações internacionais com enfoque na relação Brasil-Alemanha. A primeira fase da pesquisa, em 2005, para elaboração do projeto, a pesquisa bibliográfica de caráter exploratório, optou-se pelo método dedutivo, que parte do geral ao particular, ou seja, da relação do Brasil com a Alemanha para, depois, a cooperação internacional na Amazônia no campo da globalização ambiental. A base do método dedutivo é o raciocínio com aplicação de regras lógicas, independente da visão de cada autor/pesquisador, a pesquisa científica deve seguir um tipo de método no qual a análise e conclusão sirvam para futuros estudos, debates, que contribuam para a sociedade e à evolução do conhecimento de cada área específica, seja da comunicação ou das relações internacionais. O corpus de análise dessa pesquisa foi recortado, a partir da CNUMAD 1992 e da implementação do PPG7, em O recorte histórico compreende o período de 1995 a 2009 por constatar que, após a CNUMAD 1992, há uma intensa produção simbólica vinculada à Amazônia e às questões ambientais, aos quais resultaram em uma série de debates e acordos no âmbito local, nacional e internacional, como aponta Viola (1999), Fernandes (2006), Dutra (2003) e Costa (2006). Em 1992, no Rio de Janeiro, a CNUMAD colocou em pauta um novo modelo de desenvolvimento para o século XX e foi um marco internacional que estabeleceu estratégias para o desenvolvimento sustentável. Com a opinião pública internacional sensibilizada, após a produção de enunciados e eventos produzidos pela CNUMAD em 1992, a cooperação internacional desenvolveu programas multilaterais exequíveis, como o PPG7. A implementação do PPG7, desempenhou um papel importante na expectativa de reformulação das políticas públicas para a Amazônia, com resultados, surgiu um modelo para políticas de gestão ambiental no Brasil (BRASIL, 2009, p. 4). Instituído em 1992, e implementado em 1995, o PPG7 reúne financiamentos de sete países mais ricos do mundo e da União Europeia em ações que valorizam o uso sustentável dos recursos naturais, nos países em desenvolvimento. Incentiva iniciativas que ampliem o conhecimento dos ecossistemas, diminuam a emissão de carbono e reforcem as decisões locais para a melhoria da qualidade de vida das populações. Os investimentos totais do PPG7 são estimados em US$ 250 milhões, dos quais 20% são administrados pelo Banco Mundial. O

208 208 restante, repassado diretamente pelos países doadores. É o maior programa ambiental implementado em um só país, pela dimensão e pelo investimento financeiro, conforme MMA (BRASIL, 2009). Esta pesquisa não analisa o PPG7, pois há várias pesquisas, estudos e teses que o analisam de forma mais abrangente e com profundidade (MELLO, 2002; SILVA, 2003; FERNANDES, 2006, ABDALA, 2007). Entretanto, esta pesquisa identifica o PPG7, como um campo de conhecimento, de ação política, de contratos e de informação, com articulação local, regional e global no contexto da globalização contemporânea. É um fenômeno sociopolítico porque é constituído de diferentes agentes sociais (organizações, grupos e indivíduos). Desse modo, é o lugar dos objetivos, das relações sociais, dos interesses, das contradições, dos acordos e desacordos e da construção e descontrução de discursos e imagens. Nessa visão, tem-se a percepção de que os agentes sociais operam em uma estrutura de funcionamento flexível, com prazos pré-determinados, com relativa centralidade e com autonomia na execução dos objetivos dos projetos. Entetanto, a flexibilidade e a intensidade do trabalho da CTI não impedem esse espaço de ser um campo de luta e de poder; lugar da construção dos discursos socioambientais contemporâneos sobre a Amazônia, seguindo a conceituação de Bourdieu (1998) e Foucault (1995). Na literatura acerca da CTI, este estudo identificou algumas obras que se aproximam mais especificamente da abordagem temática proposta por esta pesquisa. Três estudos analisam respectivamente o papel das (1) agências de cooperação internacional, (2) a CTI, e (3) as fundações políticas da Alemanha: Divardin (2008), Pedrotti (2005) e Miranda (2004). A pesquisa bibliográfica e de campo envolveu vários tipos de pesquisas em diferentes momentos: primeiro semestre de 2006, no Brasil, as organizações da cooperação técnica na Amazônia; em 2008, em Berlim, na Alemanha, consulta às bibliotecas e aos institutos de pesquisa. Nestes primeiros momentos, o objetivo da pesquisa foi compreender a estrutura da organização social, a partir dos aspectos econômicos e socioculturais, identificar os agentes sociais e as inter-relações. A pesquisa exploratória realizada no primeiro semestre, de 2006, nas bibliotecas virtuais, e na cidade de Belém (NAEA/UFPA, FASE, SECTAM, SEMA, GTZ), constatou-se um objeto amplo que envolvia várias organizações no contexto nacional e internacional, e autores que apresentavam dados e discussões sobre o assunto com diferentes enfoques. O levantamento bibliográfico da FASE foi o ponto de partida, pois lá há muitas publicações da

209 209 Rede Brasil e da ABONG, dentre outras organizações do terceiro setor, que estudam movimentos sociais e o papel das organizações multilaterais e bilaterais. Assim, a pesquisa de Luciano André Wolff intitulada Cooperação e Solidariedade Internacional na Alemanha, publicada pela ABONG, Série Cooperação Internacional n 0 4, ano 1994, permitiu entender a história da cooperação para o desenvolvimento, praticada pela Alemanha e as instituições que compõem esse campo (WOLFF, 1994). De forma resumida, pode-se afirmar que Wolff (1994) apresenta um levantamento das histórias das fundações políticas e a relação com os partidos políticos e a interação institucional com as demais instituições. A pesquisa de Wolff informava que cinco dos maiores partidos alemães dispõem de uma fundação política a União Democrata Alemã (CDU), ligada à Fundação Konrad Adenauer; à União Social Cristã (CSU), à Fundação Hanns Seidel; ao Partido Democrático Liberal (FDP), à Fundação Friedrich Naumann; o Partido Social Democrata Alemão (SPD), à Fundação Friedrich Ebert; ao Partido Verde e à Associação de Fundações Arco-Íris (Stiftungsverband Regengoben), composta pelas Fundações Heinrich Boll, Frauenstifung e Buntsift. Dessas organizações, o interesse dessa pesquisa é pela Fundação Heinrich Boll, que atua em todo o Brasil e, em especial, na Amazônia no âmbito do PPG7, como apresentado mais adiante (WOLFF, 1994). Continuando a pesquisa bibliográfica em 2006, em busca dos autores sobre a relação Brasil e Alemanha, identificou-se, no campo teórico acadêmico, citando apenas os principais: Luiz Alberto Moniz Bandeira, professor da UnB e adido cultural em Frankfurt, com várias publicações críticas, entre as quais: O milagre alemão (1994), Brasil e Alemanha: a construção do futuro (1995), A reunificação da Alemanha (2001), Política exterior da Alemanha (2000). Concordando com a afirmação de Moniz Bandeira (1994, p. 18), exceto os que tratam sobre imigração da Alemanha para o Brasil, são poucos os estudos sobre as relações entre os dois países. Apesar da pouca referência, direcionou-se o trabalho de campo, para Europa, para entender o movimento ambientalista internacional como analisado por Castells (1999), e encontrar respostas à questão por que a cooperação técnica para conter o desmatamento na Amazônia trabalhava ainda com ênfase no combate à pobreza? Relacionam-se ainda quatro autores: Christian Lohbauer que escreve Os desafios da política externa alemã contemporânea (2000), e Brasil-Alemanha: faces de uma parceria (2000). O segundo é Franklin Trein, professor e diretor do Centro de Estudos Europeus da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ): Apontamentos sobre a política externa da

210 210 República Federal da Alemanha - RFA (2000). O terceiro referido é René Dreiffus: A visão estratégica na construção do futuro da Alemanha (2000); e, por último, Francisco Thompson-Flores Netto: Relações Brasil-Alemanha (1997). Ainda relacionado à cooperação técnica Brasil-Alemanha, o levantamento bibliográfico constatou uma série significativa de títulos relatórios, papers, artigos em revistas acadêmicas ou institucionais, livros de diversas áreas, que descrevem metodologias e experiências realizadas, resultados obtidos e desafios enfrentados na implantação de projetos socioambientais na nova fase da cooperação técnica Alemanha e Brasil na Amazônia. Nesses relatos, são predominantes as análises empíricas e acadêmicas, uma vez que os autores foram participantes da implementação dos projetos e atuaram como consultores, cooperantes ou peritos representando agências e instituições de cooperação alemã na Amazônia, durante o PPG7. Além disso, essa pesquisa constatou, por meio de entrevistas virtuais e pessoais, que aproximadamente 90% dos consultores que atuaram na Amazônia nesse período estavam realizando atividade acadêmica, sugerindo o aprofundamento em pesquisas complementares, em cursos de mestrado, doutorado ou pós-doutorado. Há exceções de consultores como os do IAG e de profissionais da área técnica contratados por organizações de cooperação técnica, sem vinculo com instituto Latino Americano ou universidades. Como exemplo dessa afirmação, com vinculo com universidades, podem ser citados os seguintes consultores/autores: Sondra Wentzel, Imme Scholz, Karin Naase, entre outros. Por meio das entrevistas e da leitura da produção relatando experiências empíricas relacionadas às ações dos consultores que exercem consultorias para organizações alemãs, essa pesquisa constatou que, na Europa, especialmente na Alemanha, houve a formação de um mercado de trabalho no campo ambiental. Esse mercado foi melhor identificado na pesquisa de campo na Europa e descrito no decorrer das análises. A CTI alemã atua em todo o Brasil e há produção de experiências de trabalhos de Norte a Sul do país, mas aqui está se enfatizando apenas consultores, cooperantes ou peritos que atuaram na Amazônia, no período de Esses autores e seus respectivos estudos são referenciados durante toda a descrição no desenvolvimento da tese. Os discursos e sentidos em torno da atuação dos consultores e das Agências internacionais têm um caráter etnográfico e organizacional no campo da comunicação e das relações sociais. Na produção dos relatórios, cartilhas e livros está implícita a visão de vida dos técnicos e consultores com formação especializada no âmbito de uma sociedade urbana nos principais países da Europa e sua interface com a Amazônia. Essa relação por meio das políticas externas é apresentada a seguir.

211 211 A partir da pesquisa bibliográfica, do trabalho de campo no Brasil e na Europa, e da leitura dos materiais institucionais produzidos pelas organizações alemãs de cooperação para o desenvolvimento, procura-se analisar as práticas de comunicação institucional, a fim de identificar os discursos recorrentes na implementação de projetos socioambientais na Amazônia, no âmbito do PPG7 ( ). Um dos propósitos é compreender como os consultores, representando suas respectivas instituições, estabeleceram interações com a rede de agentes sociais na Amazônia e de que maneira foram disseminadas as novas práticas e as iniciativas de preservação ambiental para conter o desmatamento. O outro propósito foi avaliar as formas com que esse objeto foi construído para depois avaliar em que medida os discursos envoltos aos enunciados desenvolvimento e meio ambiente contribuíram para construção e manutenção da imagem da Alemanha. Antes do inicio da análise dos materiais institucionais, fazem-se necessários relembrar aspectos importantes da comunicação nas organizações do Brasil, para depois compreender as práticas de comunicação das organizações alemãs para o desenvolvimento. Na década de 70, as organizações relegavam ao segundo plano o diálogo e a participação, até porque se vivia em um contexto histórico de repressão meio conturbado, no Brasil, por isso a ausência de uma comunicação empresarial brasileira. Na verdade, havia uma comunicação entre as empresas, mas não a ponto de existir um vínculo organizacional que pudesse abranger todas as atividades de comunicação social, como publicidade, jornalismo e relações públicas de forma plena e democrática, sem, por exemplo, prender-se ou até mesmo manifestar um interesse isolado por alguma das atividades. Isso, muitas vezes, tornava a comunicação contraditória e prejudicial (BUENO, 2002). A dinâmica social se impôs e percebeu-se que era preciso envolver todo o corpo organizacional para que houvesse de fato a comunicação empresarial. A partir dessa nova visão de interesse das empresas ocorreu, gradativamente, uma evolução no processo de democratização e, acima de tudo, no relacionamento com o público-alvo. Estrategicamente, a comunicação se manifestava com mais ênfase e importância nas organizações. A comunicação é o espelho da cultura empresarial e reflete, os valores das organizações. Se eles caminham para valorizar o profissionalismo, a transparência, a responsabilidade social e a participação, a comunicação se orienta no mesmo sentido (BUENO, 2002, p. 4). Como se pode constatar, apesar de todo o contexto histórico que envolve a década de 70, em relação à gestão empresarial, mudanças na cultura da comunicação empresarial brasileira começaram a ocorrer de forma tímida, mas transparente, a fim de eliminar a fragmentação das atividades de comunicação que tanto afetavam o desenvolvimento da

212 212 empresa e até mesmo o relacionamento com o público. Nesse período, mais precisamente no final da década de 70, segundo Bueno (2002), muitas empresas criaram áreas específicas para comunicação e admitiram profissionais capacitados e específicos da área. Além das pesquisas e da qualificação na área, a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE, 2009), muito contribuiu para formar essa nova realidade em torno das organizações empresariais. Na década de 80, a comunicação empresarial ganhou grandes proporções dentro das organizações, atraindo profissionais de todas as áreas. Esse interesse se intensificou quando faculdades e cursos de comunicação se instalaram no Brasil, acabando com a prática, até então, autoritária, e construindo uma nova postura das organizações. A partir desse momento a expressão Comunicação Empresarial foi bastante discutida em eventos e estudada por profissionais, que tinham a consciência de que para se ter uma comunicação eficiente, e porque não dizer abrangente, deveriam ir mais além da simples edição de house-organs e campanhas direcionadas apenas ao público interno das organizações. Era preciso dimensionar a comunicação, torná-la universal e estrategicamente criativa. Nessa fase, ressalta-se que, do ponto de vista do pensamento comunicacional, nesse período, prevaleceu nas pesquisas em comunicação um paradigma direcionado à figura do emissor. Desse modo, havia de forma subliminar, uma dominação exercida pelo emissor sobre o receptor. Isso acontecia em especial nos meios e veículos de comunicação de massa. O modelo, conhecido no campo de estudos da comunicação referente à comunicação praticada nas organizações era mecânico e instrumental. Nessa relação ficava implícita uma relação de poder, em que se acreditava na passividade do receptor na recepção das mensagens. O embasamento teórico deste modelo de análise eram semelhantes e influenciaram as demais disciplinas das ciências humanas, a exemplo dos ideais de pensamento do positivismo e depois da teoria crítica, denominada de Escola de Frankfurt, fazia uma leitura da teoria marxiana sobre a realidade do século XX, em especial nas transformações impostas ao operariado pela estrutura capitalista (OLIVEIRA, 2007). Esse modelo crítico frankfurtiano, especialmente por meio do conceito de indústria cultural, favoreceu a formação da base analítica fundamentada no modelo mecânico, no qual o emissor se apresentava com pleno poderes, a um receptor receptivo e sem ação, ou seja, o receptor tratado como mercadoria e sujeito a encaminhamento e instrumentalizado pelo sistema dominante. Na contextualização de Oliveira (2007),

213 213 No início do Século XX, o trabalho se caracterizava como atividade mecânica e submetida ao ritmo da máquina, denominada por Marx, em seus estudos sobre o capital, de trabalho alienado. Era evidente a alienação do trabalhador em relação ao seu trabalho, visto que ele não participava do conjunto do processo de produção, nem entendia. Esse tipo de relação minimizava a demanda por criatividade e informação nova por parte do trabalhador para desenvolver seu fazer na produção. (OLIVEIRA, 2007, p.13). Ainda sob a explicação de Oliveira (2007), na contemporaneidade, esse tipo de relacionamento mudou e surgiu outro perfil de trabalhador, que precisava ser orientado pela informação e pelo conhecimento. Nesse sentido, o trabalho intelectual foi priorizado e ganhava dimensão no interior da organização. Habilidades e competências individuais passaram a ser exigidas e valorizadas. Então, os fluxos informacionais tornam-se preponderantes do ciclo produtivo, pois nessa fase pós-fordista o trabalhador precisa estar mais qualificado, ter conhecimento, iniciativa e capacidade 114 para resolver problemas (OLIVEIRA, 2007, p. 13). O trabalho desenvolvido nas organizações exige envolvimento e compromisso dos técnicos (chamados consultores, peritos) que, para exercer suas atividades, usa bens simbólicos como informação e cultura o que dá um caráter subjetivo ao trabalho. Ainda nesse campo imaterial e simbólico do trabalho, emergiu a necessidade de promover as ideais de cooperação, ação coletiva e participação (BOURDIEU, 1998, p.16). A comunicação nas organizações, para Torquato (2002), Kunsch (1997), Bueno, (2002), Oliveira (2007) foi marcada por sucessivas e gradativas evoluções, na segunda metade da década de 80, a empresa Rhodia foi a pioneira na elaboração de uma Política de Comunicação Social. Ela observou que a sistematização e a elaboração de uma comunicação integrada e democrática traria maior visibilidade e transparência para a empresa, por isso, ela passou a ser referência às demais, posicionando a Comunicação Empresarial como fator indispensável para se tomar decisões coerentes sem prejudicar a organização. Acompanhando as mudanças de paradigmas sociais e comunicacionais, essa visão se consolidou de fato, na década de 90, quando muitas empresas criaram dentro das organizações, uma comunicação empresarial estratégica, que a beneficiasse no mercado e nos negócios. Por isso, que se observa uma maior busca por profissionais capacitados e que conheçam o real significado, ou melhor, a importância de se implantar uma Comunicação abrangente e integrada, para melhorar o relacionamento da empresa com o público interno e, consequentemente, o externo. 114 Convém, no entanto, observar que essas exigências impostas aos agentes sociais, qualificação, conhecimento e capacidade, como também capital social, passam a ser os enunciados e slogan das práticas de comunicação institucional do PNUD e das agências bilaterais (GTZ, USAID, DFID, CIFOR) na implementação do PPG7 na Amazônia.

214 214 Para Oliveira (2008), essa mudança de atitude, e de comportamento das empresas acarretou um novo perfil para área, a exigência por uma estruturação, tanto organizacional como profissional ficou maior, era preciso desenvolver planejamentos, e acima de tudo possibilitar aos profissionais tecnologia e recursos para que não houvesse uma limitação nas atividades, criando, dessa forma, uma nova cultura de comunicação. A autora acrescenta que, nesse momento, as empresas passaram a valorizar o corpo organizacional e atribuir à empresa uma ética profissional. Isso porque, Nesse cenário, a gestão da comunicação nas organizações pautada no paradigma clássico/informacional, centrado na emissão e recepção de informações, torna-se insuficiente para administrar a abundância dos fluxos e demandas informacionais e a crescente rede de relacionamento que se estabelece entre organização e atores sociais. (OLIVEIRA, 2007, p. 6). Comunicação Empresarial teve que avançar para responder demandas comunicativas das transformações sociais e corporativas. Precisou estar intimamente relacionada com o processo de inteligência empresarial, até porque a sua estruturação tem as potencialidades tecnológicas, respaldar-se em bancos de dados inteligentes, explorar a emergência das novas mídias e, sobretudo, maximizar a interface entre as empresas, ou entidades, e a sociedade. A Comunicação Empresarial faz parte integrante e indispensável na gestão empresarial, por isso, ela deixou de ser uma mera coadjuvante, e se tornou dentro da empresa a referência para se entender o mercado, superando e impedindo conflitos, vista por muitos profissionais, estrategicamente útil (BUENO, 2003, p. 8). Até esse momento, a evolução da Comunicação das organizações, considerando o fator histórico e estratégico e paralela a essa visão, a comunicação integrada, onde todo o corpo organizacional independente de departamentos se convergem e trabalham com um único fim. Nesse caso, não se pode dizer que o fator mercadológico se desenvolve ou atua separadamente das vertentes institucional, até porque há ligação estreita entre ambas, quando se trata de negócios. Esse aspecto pode ser observado nas práticas institucionais das agências bilaterais de cooperação para o desenvolvimento (GTZ, USAID, DFID) que, ao representar seus países apoiando questões ambientais como desmatamento, MDL, RED também abrem o caminho para os negócios via relações internacionais. Nos anos de 1970 e de 1980, essas duas vertentes eram vistas separadas, devido aos fatores imediatos, como a formação da imagem e a venda de produtos e serviços, por exemplo. Segundo Bueno (2002), é necessário que o mix de comunicação aconteça de forma global dentro de uma política comum para que o relacionamento com o público se torne mais transparente, mesmo sabendo que dentro da organização há atividades específicas de

215 215 comunicação. Isso acarreta economia de recursos e de esforços e contribui para a consecução do que devem ser os objetivos maiores da organização: aumentar a vantagem competitiva da empresa ou entidade face a seus concorrentes e consolidar sua imagem, ou reputação, perante a opinião pública (BUENO, 2002, p. 9). O autor acrescenta que, a comunicação integrada que se tanto ouve falar ainda é uma prática distante, ou seja, as empresas criam um discurso que, muitas vezes não sai do papel, porque ainda há àqueles profissionais que não se acostumaram com a idéia de trabalhar em equipe, com um único fim. Isso acontece porque são pessoas presas aos fatores corporativistas e que disputam melhores espaços dentro da organização, é um grupo de profissionais que desconhecem o real significado da Comunicação Integrada. A comunicação Empresarial como se observa, não pode ser moldada apenas para o negócio mas para a instituição. Para entender melhor a Comunicação Empresarial é preciso que haja uma ligação íntima entre as vertentes institucional e mercadógica, porque a filosofia da empresa deve está atrelada a elas, dessa forma, a construção da imagem perante a opinião pública ficará mais fácil. Mesmo sabendo que essas vertentes são direcionadas, entre outros, a profissionais distintos, como jornalistas, publicitários 115, e que prestam serviços para organizações sem fins lucrativos e também elaboram campanhas sociais. Essa retrospectiva relata como a Comunicação Empresarial surgiu no Brasil e há consenso entre os autores (BUENO, 2002; NASSAR (2003) que ela, no início, ficava à margem da propaganda/ marketing, ou seja, das atividades ligadas integralmente à organização, de modo geral, não manifesta interesse na comercialização de produtos e serviços,, ainda no modelo do poder do emissor e da recepção sem questionamento, mas com tempo a comunicação se tornou mais abrangente, mudou a visão dos empresários e dos gestores, em relação à comunicação empresarial e à comunicação mercadológica, antes eram vistas como independentes. Tanto uma como a outra são atividades que se compeltam, pois a organização funciona em virtude da combinação perfeita da comunicação integrada. A partir dela, a empresa tem condições suficientes de reconhecer e priorizar seus clientes, seja interno ou externo. A comunicação integrada, pode ser identificada na Câmera de Comércio e 115 Ressalta-se que quando falamos de promoção no âmbito dos meios de comunicação de massa, nos referimos freqüentemente à publicidade, que, tradicionalmente, refere-se à técnica de promoção de produtos ou serviços comerciais. Já a veiculação de idéias e de valores é chamada de propaganda. A diferença entre as duas técnicas é fácil de ser compreendida. Porém, dentro do âmbito da propaganda, e principalmente no que se refere à propaganda social ligada ao governo, não fica clara a diferença entre as campanhas institucionais e a comunicação estratégica para a mudança social (TÓTH, 2009).

216 216 Indústria Brasil-Alemanha que ao realizar negócios também promove de forma discreta e pouca visibilidade a imagem dos empresários alemães juntamente com a cultura e diferentes interesses da Alemanha. Desse modo, no Brasil ou no contexto internacional, a comunicação empresarial é hoje indispensável para a organização e, acima de tudo, uma forma de criar uma empatia com o público de interesse para construção e manutenção de imagem. Por isso, muitas organizações investem na comunicação transparente, em profissionais capacitados, que saibam se comportar diante de qualquer crise emergencial, e que conheçam o mercado em que a empresa atua. Para atender a demanda social e mercadológica, Bueno enfatiza que: [...] O comunicador empresarial não pode se reduzir a um mero executor de tarefas, mas tem que estar em sintonia com os novos processos de gestão, com as novas tecnologias, sendo capaz de mobilizar pessoas e se integrar a equipes para a realização de um objeto comum. (BUENO, 2002, p. 12). A discussão sobre conduta empresarial ética e responsabilidade ganha força, nos anos 1990, com o surgimento de regulamentações legais e regras de governança corporativa, normas padrões que estabelecem referências e condicionantes de responsabilidade social e de relacionamentos com agentes sociais, bem como com a ampliação de exigências para certificações internacionais de qualidade de produtos e serviços e de atuação ambiental, entre outras normatizações. Nesse contexto, ressalta, Oliveira (2007, p. 10), surge o conceito de accountability, que se refere à conduta transparente, à interação constante com atores sociais, à responsabilidade e à prestação de contas das ações das organizacionais. Assim, as organizações são obrigadas a introduzir uma postura mais responsável de prestar contas, de criar e manter bom relacionamento com os agentes sociais. Esse conceito de prestação de conta pode ser verificado nos Princípios de Conduta da GTZ. cujo documento pode ser examinado em anexo C (página 338). As organizações incorporam essa postura conforme as exigências dos agentes sociais, ou seja, depende do exercício da cidadania de cada cidadão nas diferentes sociedades. Isso foi observado, nas práticas de comunicação institucional da GTZ na Amazônia, cuja conduta difere da Europa. Diante das demandas do mundo globalizado, a forma como a informação é distribuída e consumida adquire tamanha importância que a imagem das organizações passa a depender de como é trabalhada a comunicação das instituições, passando ainda a atuar no processo de formação da opinião pública. Dessa maneira, na afirmação de Oliveira (2007, p.65), torna-se importante compreender a complexidade dos processos comunicacionais nesse contexto e propor um tratamento dialógico na relação organização e atores sociais.

217 217 Pode-se dizer que a comunicação das organizações se manifesta, melhor dizendo, pela evolução de metodologias, desenvolvimentos de pesquisas e conceitos, e acima de tudo pela busca incessante pela satisfação das demandas informacionais dos agentes sociais na prática de cidadania na sociedade. Após essas considerações sobre as mudanças de paradigmas comunicacionais, apresenta-se a seguir, algumas evidências específicas do campo da comunicação institucional relacionadas à utilização de planejamento e de estratégias, condições essenciais para o relacionamento das organizações com os agentes sociais nas sociedades contemporâneas. 5.1 A COMUNICAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES DIRECIONADAS PARA AS QUESTÕES SOCIOAMBIENTAIS Na contemporaneidade, a comunicação organizacional, é a disciplina que estuda como se processa o fenômeno comunicacional dentro das organizações no âmbito da sociedade local, nacional e global. Na visão de Kunsch, (2002, p.149), também abarca as formas de comunicação empregadas pela organização para se relacionar e interagir com seu público. Torquato, Kunsch, Bueno, Nassar, as principais referências sobre comunicação organizacional, no Brasil, defendem a comunicação organizacional como estratégica dentro das instituições. A comunicação organizacional para Torquato (2002, p.34) possui quatro dimensões ou formas, a comunicação cultural, referente ao clima interno da empresa; a comunicação administrativa, que reúne os papéis, memorandos, cartas; comunicação social, que envolve a área de jornalismo, relações públicas, publicidade, marketing e editoração; e o sistema de informação, que agrega as informações armazenadas em banco de dados, todas atuando de forma sistêmica e integrada. Desse modo, para o autor a comunicação administrativa, conceituada como instrumental, é a comunicação social. Para Kunsch a comunicação organizacional compreende a comunicação institucional, a comunicação mercadológica, a comunicação interna e a comunicação administrativa, que devem ser entendidas dentro da perspectiva da comunicação integrada, uma filosofia que direciona a convergência dessas diversas áreas, permitindo uma atuação sinérgica e dialógica, (KUNSCH, 2002, p.150). Nesse contexto, vale ressaltar, a comunicação interna, que para Torquato (2002) estaria fortemente ligada à cultura organizacional, tem como principal objetivo gerar

218 218 consentimento e produzir aceitação para o desenvolvimento e manutenção de um clima positivo, e propício ao cumprimento de metas estratégicas da organização. O que Kunsch (2003) complementa e enfatiza é a importância do planejamento e da correta definição dos objetivos deste setor para toda a interação possível entre a organização e seus diferentes públicos (KUNSCH, 2002, p.154). A comunicação externa, para Torquato (2002), inserida na dimensão da comunicação social, é responsável pelo posicionamento e pela imagem da organização na sociedade, e tem como foco a opinião pública, Kunsch (2002), está diretamente ligada aos corporativos institucionais que explicitam o lado público das organizações, constroem uma personalidade credível organizacional e influênciam a político-social na sociedade onde está inserida (KUNSCH, 2002, p.164). Apesar das diferentes terminologias, esses autores acreditam que, para ser estratégica a comunicação necessita ser integrada, e deve permear todas as ações organizacionais, viabilizando de maneira permanente a construção de sua cultura e identidade (BUENO, 2002, 14). Portanto, os instrumentos de comunicação interna e externa devem ser coordenados para projetar uma imagem institucional consistente, visando aos resultados positivos, que para a administração pública ou privada aprovam a gestão e melhoram o relacionamento entre os diferentes interesses dos agentes sociais. Sobre isso, Torquato (2002, p. 269) complementa, advertindo que quando a imagem está bem ligada a uma identidade positiva, é capaz de gerar confiança e credibilidade. Após essa exposição, a comunicação analisada nessa pesquisa não se restringe a comunicação interna ou externa, mas as práticas de comunicação institucional das organizações da cooperação técnica alemã para o desenvolvimento no âmbito do PPG7 ( ). Por se tratar de um objeto amplo não se analisa aqui a comunicação interna, pois além da dificuldade de acesso, todos os escritórios regionais no Brasil ou no exterior trabalham subordinados a gestão da matriz em Eschborn (Alemanha). As informações sobre o PPG7 e os 26 projetos foram implementados pela GTZ, juntamente com diferentes instituições cooperantes nacionais e internacionais e parcerias que envolvia o poder público local e a sociedade civil organizada. A partir da análise dos materiais, documentos e textos produzidos pelo MMA juntamente com as organizações alemães de cooperação técnica, pode-se afirmar que as práticas de comunicação institucional desenvolvidas no âmbito do PPG7 diferem na imagem e na forma de informações apresentadas na Alemanha e no campo ambiental internacional. Como já discutido a comunicação apresentada sobre a participação e a cooperação mostrando

219 219 as boas ações com visibilidade, promovendo a imagem de um povo que coopera e colabora com países necessitados para o contribuinte alemão (agente social) difere das práticas com opacidade e quase sem divulgação não só na Amazônia, mas no restante do país, pois, pela Câmera de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, sabe-se de forma dispersa que a Alemanha atua em várias áreas de cooperação técnica no Brasil. Diante da opacidade e com base na estratégia dispersa, as políticas de comunicação das organizações de cooperação técnica e instituições públicas responsáveis pela comunicação do PPG7 podem ser analisadas por meio de diferentes práticas e discursos. Analisa-se como instância de reprodução de realidade motivada pelas razões das lutas de vários campos, agências internacionais (GTZ, USAID, DFID), ONGs, consultores e comunidades tradicionais pelo exercício do poder (BOURDIEU, 1998, p. 28). A teoria dos discursos sociais trabalha com os processos de constituição do discurso, que pode ser definidos como o lugar do trabalho social de produção do sentido, ou seja, é uma prática discursiva (MAINGUENEAU, 2000, p. 113). O discurso possibilita visualizar o conflito e o consenso nas relações sociais através dos símbolos e marcas. O signo tem vida, é dinâmico e plurivalente, entendê-lo é estabelecer uma relação dialógica entre o que o atual e outros já conhecidos. Toda compreensão por meio dos signos é uma compreensão denominada de correspondente, em outras palavras, os agentes sociais (sujeitos) compreendem um signo respondendo com outros signos. Na visão sob o ponto de vista da linguística é uma cadeia ideológica que emerge no processo de interação verbal (BAKTHIN, 2004). Assim, cada enunciado divulgado nos materiais de divulgação da cooperação técnica internacional passa a ser uma unidade básica de interação entre os agentes sociais. Desse modo, observou-se que um dos pressupostos básicos da prática de comunicação institucional das organizações, com o objetivo de intervir com o objetivo para a intervenção social ou ambiental na Amazônia é ainda baseada no modelo do relacionamento mecânico, emissor e receptor. As organizações ao aderir essa prática, pressupõem que a solução dos problemas encontra-se na falta de comunicação ou de informação. Então, utilizam a comunicação instrumental, cuja estratégia é divulgar informação e com isso pensam que o problema está resolvido. Para essa análise crítica, reproduzo a explicação feita por Mariann Tóth (2009) que afirma: apenas o acesso à informação não muda comportamentos, como demonstram Kotler e Fontes, e diversas pesquisas acadêmicas. É necessário também que estas informações tenham significado para as pessoas que pretendem atingir.

220 220 Observou-se ainda que a comunicação estabelecida com os agentes que compõem o campo das comunidades tradicionais e das instituições que compõem o PPG7 está baseada em um método de trabalho que envolve reuniões e cursos nas próprias localidades, associados ao uso dos meios de comunicação, sobretudo os impressos (cartilhas, cartazes, folders). O termo planejamento de comunicação foi utilizado no decorrer deste texto, com sentido amplo incluindo as mais variadas estratégias de comunicação com o público, contato face-a-face em reuniões e cursos, a produção e a utilização de material considerado mídia alternativa ou extensiva de apoio (cartilhas, calendários, marcadores de livros) e livros contendo normas avaliação de impacto ambiental distribuídos para os consultores da GTZ, GFA, USAID, Ministério do Meio Ambiente (MMA) etc. As práticas de comunicação institucional de ONGs e de órgãos governamentais geralmente realizadas em parcerias com as agências de cooperação internacional promoveram e divulgaram os 26 projetos do PPG7. Nas mensagens das instituições públicas estavam implícitos o interesse em promover a cidadania e as questões ambientais. Na maioria dos projetos, quase sempre promover ações para o desenvolvimento que objetivam a melhoria da qualidade de vida da população, e a promessa de acabar com a pobreza. A base empírica para essa análise é constituída pelas falas, os enunciados e a experiência dos agentes sociais entrevistados (consultores, cooperantes, peritos e coordenadores de projetos), confrontados com relatórios e documentos de alguns projetos (SPRN; PPTAL; PROVARZEA; POMANEJO). Desta forma, as falaa e enunciados verbalizados como também a escrita dos relatórios, cartilhas, folhetos, folders, papers sobre experiências empíricas projetos, apresentações institucionais das organizações publicadas nos meios de comunicação online e impressas. Na verdade, esses enunciados são analisados sob a perspectiva da teoria dos campos sociais, dos discursos e das relações comunicacionais na sociedade moderna, estruturada pela dinâmica complexidade de diferentes campos sociais autônomos. Para isso, recorre-se também à teoria de campo de Pierre Bourdieu. Esteves aponta como contribuições do sociólogo, A teoria dos campos constitui uma proposta original de compreensão das estruturas sociais; originalidade em termos das suas virtualidades analíticas e, também, da sua origem recente na história do pensamento sociológico: nela é marcante a preocupação de encontrar respostas para problemas e necessidades de conhecimento específicas das sociedades contemporâneas [...] A tese central da teoria dos campos é a seguinte: a organização das nossas sociedades desenvolvidas tem por base uma progressiva individualização e autonomia dos campos sociais (ESTEVES, 2007, p ).

221 221 Na visão do autor, as referências à concepção geral da modernidade que a teoria de campo comporta, requer a necessidade de articulação com outras propostas teóricas no contexto da estrutura da sociedade. Considerando a explicação de Esteves e a diversidade de campos abordados nessa pesquisa, e em virtude de envolver diversos agentes sociais na Amazônia, impôs-se um tratamento interdisciplinar para descrever as relações comunicacionais nas práticas da cooperação técnica alemã no âmbito do PPG7. Com essas premissas, também serão apresentadas, não só as práticas de comunicação, como também a evolução e contexto da construção dos discursos e as principais crises de comunicação decorrentes dos embates dos diferentes campos, abordando-os sob o enfoque das políticas de comunicação das organizações Alemãs. 5.2 PRÁTICAS DE COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL, IMAGEM E PODER O conceito de comunicação, conforme explicitado por Martino (2003, p. 16) para quem comunicação é compartilhar, transmitir, anunciar, trocar, reunir, ligar (por em contato), são expressões, variantes ou usos figurados de um sentido primordial e mais geral que exprime relação. Assim, no sentido mais restrito, essa pesquisa refere-se às práticas de comunicação institucional as sistemáticas, os processos, as consequências, as estruturações, os modos de funcionamento das práticas (profissionais ou não) da comunicação na sociedade. Como já citado, na apresentação, esse conceito de práticas de comunicação tem como base a reflexão sobre a institucionalização e reformulação dos estudos científicos de comunicação no Brasil apresentado no Colóquio Brasil Itália de 31/08 a 02/09/1997 em Santos (SP) e publicado em Sob essa conceituação, a comunicação é um sistema aberto, organizado pelos elementos - fonte, codificador, canal, mensagem, decodificador, receptor, ingredientes que vitalizam o processo. A comunicação das organizações persegue um equilíbrio entre as partes que a formam, que resulta da disposição ordenadas entre suas partes. Essa integração é obtida graças ao processo comunicacional (FORTES, 2003, p.121). Na visão do autor, aparece, assim, a primeira relação entre comunicação e empresa. Dessa maneira, pode-se afirmar que quando se organiza uma empresa ou instituição, na verdade, está-se organizando o processo de comunicação entre as partes. A comunicação, enquanto processo, dá vida, por meio do encadeamento das partes, à organização. Aceitandose a premissa, pode-se extrair a conclusão, organiza e, se desenvolve, enfim, sobrevive, graças ao sistema de comunicação que ela cria e mantém e que é responsável pelo envio e

222 222 recebimento de mensagens de três grandes sistemas: 1) o sistema sociopolítico, onde se inserem os valores globais e as políticas do meio ambiente; 2) o sistema econômico-industrial, onde se inserem os padrões da competição, as leis de mercado, a oferta e a procura; e 3) o sistema inerente ao microclima interno das organizações, onde estão estabelecidas as normas e políticas necessárias às operações empresariais. Trazendo informações desses três sistemas ou enviando informações para eles, o processo comunicacional estrutura as convenientes ligações entre o microssistema interno e o macrossistema social, estuda a concorrência, analisa as pressões do meio ambiente, gerando as condições para o aperfeiçoamento organizacional (TORQUATO, 2002, p. 28). Portanto, a comunicação é multidisciplinar, mediando os interesses dos participantes, os interesses de organizações, enquanto unidade econômica, social e os interesses da administração. Essa característica do fenômeno comunicacional - de mediação de objetivos - mostra sua magnitude e importância para o equilíbrio do microclima interno. Na outra ponta do sistema, as vertentes comunicativas que ajustam a identidade organizacional ao meio social, processo que engloba as tarefas clássicas e as definidas estratégias de Relações Públicas, Publicidade, Jornalismo, Editoração, Identidade Visual e os modelos de sistemas de informação. A materialização da mensagem elaborada por essas áreas produz símbolos e discursos apresentados pela comunicação institucional por meio da propaganda, da publicidade e dos relacionamentos, portanto produzem capital simbólico. Nesse contexto, a comunicação organizacional, semelhante a todo processo de doutrinamento, de educação e até de propaganda, assume características essencialmente persuasórias. Este objetivo de produzir atitudes e comportamentos nas relações interpessoais e estruturais da empresa nos parece ser instrumental. Assim, a comunicação empresarial atua como instrumento de persuasão. Desse ponto de vista, as mensagens, as imagens e signos contribuem para a formação do campo das relações de poder. A troca de informações pessoais ou a disseminação de informações operacionais (estruturais) utilizam, no âmbito da organização, duas espécies de canais: os canais formais e os canais informais. Os canais formais são os instrumentos oficiais, pelos quais passam tanto as informações descendentes como as ascendentes que asseguraram o funcionamento ordenado e eficiente da organização (normas, relatórios, instruções, portarias, sugestões, reclamações etc.). Os meios informais são aqueles não planejados pela diretoria, que fogem ao seu controle ou que ignoram, inclusive, a existência dos canais formais. As comunicações informais são todas as livres expressões e manifestações dos trabalhadores, não controladas pela administração. Caracterizam-se classicamente pela

223 223 temível rede de boatos, rede que não tem estrutura, que segue caminhos diferentes e que dá margem à criação de outras redes. Vence, na rapidez com que dissemina as informações, a lentidão que caracteriza a rede formal de comunicação. Há uma outra dimensão de comunicação na organização também não percebida, a comunicação administrativa, que reúne os papéis, as cartas internas, os memorandos. Em muitos momentos, essa comunicação emperra os canais da organização, prejudicando as operações. As informações, em vez de chegarem ao último profissional da linha, estacionam no meio, em função de problemas gerencias do acúmulo administrativo e da excessiva quantidade de canais de comunicação (TORQUATO, 2002, p. 35). Relacionado as áreas mais desenvolvidas ao Jornalismo, às Relações Públicas, ao Marketing e à Propaganda e Publicidade, chama-se Comunicação Social. E por último, os armazenamentos de materiais em banco de dados (Computadores; HD) chamama-se de sistema de informação. Para Kunsch (2003), os meios de comunicação utilizados nas organizações são orais, escritos, pictográfico, escrito-pictográficos, simbólicos, audiovisuais e telemáticos. Os meios orais são divididos em diretos e indiretos. Os diretos correspondem às reuniões, entrevistas e às palestras. Os indiretos às conversas ao telefone, à comunicação via rádio, ao alto-falantes etc. Os meios escritos são os boletins, jornais impressos, cartas e avisos. Meios pictográficos são representados por fotografias, mapas, desenhos entre outros. Os simbólicos correspondem às bandeiras, sinos, insígnias e outros sinais que possam ser classificados como visuais e auditivos. Os audiovisuais são representados por vídeos institucionais, TV coorporativa, filmes e documentários. Os mais modernos meios telemáticos são as ferramentas de comunicação que utilizam informática (computador) e os meios de telecomunicação, um exemplo disso, são as empresas que utilizam a intranet e correio eletrônico; meios interativos e virtuais em geral. Ao trabalhar a comunicação interna nas organizações utiliza-se boletins informativos, murais, correio eletrônico e intranet. Tal tipo de comunicação possui objetivo de aproximar o funcionário dos interesses da organização, e até mesmo, em certas empresas, a opinião dos funcionários é levada em consideração nas questões políticas da empresa. Observou-se durante as visitas que a organizações envolvidas nos projetos de implantação do PPG7 possuiam essa estrutura de comunicação. As posições de comunicação (pessoal-estrutural) nos permitem dizer que o sistema de comunicação empresarial é sustentado por três fluxos que se movem em duas direções: para cima e para baixo (direção vertical) e lateralmente (direção horizontal). Como muitas empresas possuem unidades fabris geograficamente dispersas, isto é, que não se concentram sob o mesmo

224 224 teto, o termo para baixo compreende também o significado para fora ; dentro do mesmo raciocínio, o termo para cima significa também para dentro. A organização possui, então, os seguintes fluxos de comunicação: (1) comunicação escendente centrífuga, (2) comunicação ascendente centrípeta vertical e c) comunicação lateral direção horizontal. A comunicação descendente centrífuga refere-se ao processo de transmissão de informações da cúpula para a base. As informações enviadas traduzem, essencialmente, os objetivos, a política, as diretrizes, as normas, os procedimentos e sos princípios orientadores necessários ao funcionamento da empresa. Para melhor compreensão desses fluxos, é preciso esclarecer que os métodos utilizados na comunicação descendente centrífuga estão divididos em três grupos: visuais, auditivos, e visuais/auditivos, cada um compreendendo diversos canais (veículos) formais. O quadro abaixo mostra estes métodos com os seus respectivos veículos. Recursos visuais, auditivos e visuais versus auditivos Visuais Auditivos Visuais/Auditivos 1) escritos a) diretos filmes sonoros instruções e ordens escritas conversas diafilmes sonoros circulares entrevistas televisão cartas pessoais reuniões demonstrações manuais conferências quadro de avisos b) indiretos boletins telefone panfletos rádio jornais e revistas para diferentes intercomunicadores automáticos públicos de interesse relatórios de atividades alto-falantes formulários c) simbólicos 2) pictográficos sirenas pinturas apitos e buzinas fotografias sinos desenhos outros sinais diagramas mapas ideografias 3) escrito-pictográficos cartazes filmes mudos com legendas gráficos diplomas 4) simbólicos luzes bandeiras e flâmulas botons Quadro 2 - Recursos visuais, auditivos e visuais versus auditivos. Elaborado pela autora com base: (CESCA, 1995; FORTES, 2003, BUENO, 2009)

225 225 De forma resumida, nesse quadro, observa-se que a maior parte das comunicações nas organizações utiliza e se apóiam nos canais orais e escritos. Assim, evidencia-se que o campo da comunicação produz e veicula signos, imagens, símbolos e discursos na construção das relações sociais, consideradas nessa pesquisa relações de poder. Na produção do material institucional, utilizado pelas organizações de cooperação alemã para o desenvolvimento, não foi diferente, predominou a divulgação com material impressos e online em Cadernos da Cooperação, cartilhas, folders e textos. Dessa forma, houve intensa produção de materiais institucionais com diferentes símbolos e significações envoltos no enunciado cooperação e desenvolvimento. Para Bourdieu: Os símbolos são os instrumentos por excelência da <integração social>: enquanto instrumentos de conhecimento e de comunicação (cf. a análise durkheimiana da festa), eles tornaram possível o consensus acerca do sentido do mundo social que contribui fundamentalmente para a reprodução da ordem social: a integração <lógica> é a condição da integração moral. (BOURDIEU, 1998, p. 10). Com base nessa conceituação, Bourdieu (1998) afirma que as relações de comunicação são sempre relações de poder. Nesse sentido, observou que nas práticas de comunicação institucional das organizações alemãs predominou os textos veiculados no material impresso e on line. Contudo, não foi possível perceber uma comunicação dialógica com os diferentes públicos (entidades de base, populações tradicionais etc.). Também não houve campanhas de mobilização para mudança comportamental de agentes sociais nas comunidades tradicionais (populações tradicionais). A ausência de política de comunicação por parte da GTZ e, em função disso, a falta de campanhas explica a identificação de um vasto e disperso conjunto e de documento e materiais institucionais e desencontrados. A maioria do material institucional analisado mostra que foi priorizado a informação instrumental direcionada a capacitações das instituições locais, consultores e lideranças. Não foi identificado o uso de campanhas de mobilização socioambiental que priorizasse mudança de comportamento dos agentes sociais envolvidos nos projetos. Esse aspecto é interessante, pois o objetivo principal da implementação dos projetos socioambientais, na Amazônia, era conter o desmatamento, evitar as queimadas por meio de novas práticas ambientais. Como conseguir tal mudança sem uma política de comunicação para promover campanhas de práticas socioambientais. Apenas a informação baseada na estratégia da comunicação instrumental não muda comportamento como afirmado por Kunsch (2002) e Bueno (2002). Isso explica porque quando alguns consultores do IAG, ao visitarem comunidade tradicionais e contatar os agentes sociais locais, inclusos nos projetos do PPG7, não sabiam

226 226 que pertenciam a determinado programa. Dessa maneira, demonstravam total desconhecimento do Programa, sobre o desmatamento, os problemas climáticos, dentre outras questões, que o PPG7 financiava e promovia. Saber sobre o Programa e as propostas de trabalho em prol do desmatamento e conhecimento básico acerca de mudança climáticas, deveriam ser informações básicas para as populações tradicionais da Amazônia, parte dos Projetos do PPG7. Não se identificou campanhas socioambientais e tampouco uma comunicação eficaz dirigida para as populações, mas se evidenciou uma larga produção em materiais institucionais com intuito de informar e ampliar o conhecimento técnico dos consultores, facilitadores, lideranças e instituições locais, como descrito a seguir. De caráter apenas informacional, instrumental e dirigido a um público restrito, os Cadernos de Cooperação Técnica editado pela GTZ cumpria a função de divulgar alguns temas importantes e técnicos para a implementação dos projetos. Figuras 2 - Cadernos de Cooperação Técnica Fonte: GTZ (2002). De acordo com os relatórios e o material institucional da GTZ, a maioria das oficinas e wokshops foram realizadas nos Estados do Acre, Amazonas e Pará. Então, nesses locais, circularam vários tipos de publicações, do simples folders a cartilhas, cadernos técnicos editados em papeis especiais (recicláveis) e de ótima qualidade com excelente impressão que

227 227 promovia o objetivo dos projetos e divulgava de forma dispersa os resultados do programa. A distribuição ficava a critério dos escritórios regionais e dos consultores e facilitadores. Nos setores em que havia a função do profissional de comunicação, esse material era distribuído ao público interessado, como no IBAMA, MMA e no Pará a Secretaria de Estado e Meio Ambiente de Belém - SECTAM e demais secretarias envolvidas nos projetos (SPRN, PPTAL, PDA etc). A publicação a seguir é um exemplo dessa citação. Figura 3 Articulação política e social do PP-G7 Fonte: Alemanha, [2000?]

228 228 De modo, geral, essas publicações exibiam imagens da região com agentes sociais com práticas apresentadas como ideais de desenvolvimento social e ambiental, objetivo do trabalho da cooperação alemã. Entretanto, esse tipo de informação sempre foi divulgado de forma discreta, com pouca visibilidade. São imagens utilizadas para sensibilizar o leitor, mas atinge apenas os que trabalham com a cooperação. O sentido do discurso encaminha para a prática do desenvolvimento para o desmatamento. O enunciado desmatamento aparece pouco nos materiais institucionais que, destacam para o desenvolvimento da cooperação técnica. As cartilhas e folders muito utilizados acompanham essa mesma estratégia, ou seja, imagens da população e da natureza revelam a forma dura e rude da vida com os desafios da florest; outras o otimismo no futuro com a natureza preservada, a esperança e a possibilidade de um futuro sustentável construído, conjuntamente, com a cooperação técnica induz a um sentido de admiração àqueles que praticam boas ações. Na verdade, essas imagens são apresentadas principalmente para os contribuintes alemães que exige investimentos e ações em programas sociais internacionais. Assim, informou um ex-consultor brasileiro, contratado pela GTZ para avaliar projetos do PPG7, e depois elaborar relatórios para ser apresentados aos doadores alemães. De acordo com os estudos do Projeto de Apoio ao Monitoramento e Análise (AMA) para os Projeto, SPRN, RESEX, PPTAL, PDA, PROMANEJO, nos estudos realizados no PPG7, em maio de 2001, constam um roteiro de avaliação estruturado em dez tópicos: (1) Título do projeto; (2) lugar e data de realização; (3) Autor/autora/ autores; (4) Fonte de financiamento; (5) benefícios e beneficiados; (6) objetivos; (7) metodologia para desenvolvimento; (8) resultados e conclusões; (9) lições estratégicas; (10) documentos, vídeos ou outros materiais e produtos disponíveis. Ao décimo item todos os consultores (avaliadores) afirmaram que não são mencionados materiais adicionais produzidos no estudo ou houve a utilização de audiovisual. Com essa averiguação pode-se afimar que as práticas de comunicação das organizações alemães ficaram concentradas na produção impressa e online e na comunicação dirigida aproximativa (eventos, reuniões, seminários, encontros, oficinas, workshops, visitas,etc). Embora as organizações alemãs atuassem na Amazônia sem visibilidade, o evento (seminários, oficinas, workshops) foi uma das práticas de comunicação aproximativa mais utilizada. Entre os vários promovidos, o Núcleo de Animação Terra e Democracia, um programa de diálogo e intercâmbio entre ONGs do Brasil e da Alemanha promovido por um conjunto de organizações não-governamentais brasileiras, entre elas Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE); Presença Ecumênica e Serviço (KOINONIA),

229 229 Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), Instituto de Estudos Sócio- Econômicos (INESC) e a Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil - IECLB, e coordenado na Alemanha pela Associação Evangélica de Cooperação e Desenvolvimento (Evangelische Zentralstelle für Entwicklungshilfe - EZE), foi uma dessas práticas de comunicação que promoveu o diálogo de cooperação ambiental na Amazônia. O Núcleo de Animação Terra e Democracia foi criado, em 1988, refletir sobre as práticas de cooperação internacional, especialmente, sobre as experiências de desenvolvimento rural e seus significados políticos, tendo como ênfase a democratização das relações. Com esse enfoque, foram organizados encontros, como o Seminário Terra e Democracia para encontrar novas bases para cooperação internacional da experiência alemãbrasileira, em 1992 no Rio de Janeiro. As discussões se direcionaram para as relações entre organizações do Brasil e da Alemanha, articulando um campo institucional vasto de ação política, eclesiástica e de educação, porém pouco visível e embora, já naquele momento havia intensas relações com ONGs brasileiras. De acordo com os resultados do estudo de Leandro Piquet Carneiro e Rubem César Fernandes, 60% das ONGs brasileiras entrevistadas mantinham vínculos com agências da Alemanha, quer dizer que não havia visibilidade deste cenário. No Guia de Cooperação e Solidariedade Internacional na Alemanha publicado pela ABONG em 1994, foi apresentado uma lista das principais instituições e de temas voltados para a cooperação da Alemanha, principalmente com organizações não-governamentais brasileiras. Essa publicação da ABONG teve uma enorme repercussão, esgotando todos os exemplares em pouco tempo, o que evidenciou o interesse diante da escassez de informações disponíveis sobre a atuação das organizações não-governamentais com instituições governamentais, fundações políticas alemãs e instituições eclesiásticas no Brasil. Ressalta-se ainda que muitos foram os workshps e seminários estruturados por organizações não- governamentais para discussão sobre o PPG-7. Em fevereiro de 1993, IBASE e FASE promoveram no Rio de Janeiro o Seminário de Estudos sobre o Programa Piloto para Amazônia. Ele foi marcante porque se propôs a reunir um conjunto de agentes sociais e membros da FASE, organizações de trabalhadores (comunidades tradicionais, agricultores, seringueiros), que defendiam a Amazônia, de proteção aos índios, de direitos humanos e algumas organizações pastorais para discussão das políticas para a Amazônia, dentre elas as propostas do PPG-7. Jean-Pierre Leroy fez a abertura desse seminário e destacou caráter relativamente fechado e focado na construção de uma reflexão comum das ONGs sobre as políticas

230 230 definidas pelo PPG-7, uma vez que considerava insuficiente a participação da sociedade civil no processo de discussão do Programa. Esse seminário contou com 12 representantes de instituições internacionais, 10 eram de organizações alemãs, entre eles, Thomas Fatheuer, então em um convênio entre FASE e DED, que, posteriormente, assumiu a função de perito da agência GTZ, depois diretor da HBS no Rio de Janeiro. O apoio financeiro para esse encontro veio da EZE, SACTES e Fundação Heinrich Böll, mencionados nos créditos institucionais que o governo alemão é quem mais investiu no PPG7. Em termos dos canais de práticas de comunicação ressalta-se a revista publicada pela FASE, na época, Cadernos de Proposta, contava com apoio financeiro e institucional das organizações alemãs: DED e a Fundação Heinrich Böll. Ao entrevistar o coordenador do DED, em 2009, informaram que não participou do PPG7. Em 1994, a FASE juntamente com a Federação das Organizações da Amazônia Oriental- FAOR organizaram de outro encontro importante evento para discutir a Amazônia e programas de cooperação para a região, principalmente o PPG-7. Trata-se do Encontro Internacional de Trabalho: Diversidade Ecossocial e Estratégias de Cooperação entre ONGs na Amazônia, realizado em Belém do Pará, entre 13 e 16 junho de De modo geral, esse evento representou um esforço para dar continuidade ao debate iniciado no evento de fevereiro de 1993, e estruturou-se em torno de cinco temas centrais, com ênfase na cooperação internacional por ter dois temas sobre organizações internacionais: um tratava de uma oficina sobre debates internacionais e a participação de ONGs em programas, e outro, mais pontual os programas multilaterais na Amazônia. O encontro reuniu alguns representantes de organizações alemãs, como Helmut Hagemann, da ONG Urgewald, Manfred Wadehn, da Evangelische Zentralstelle für Entwicklungshilfe (Central Evangélica de Ajuda para o Desenvolvimento EZE); Monika Grossmann, pesquisadora alemã vinculada na época ao Núcleo de Altos Estudos Amazônicos - NAEA da Universidade Federal do Pará e Thomas Fatheuer 116, do convênio entre FASE e DED. Por meio das práticas de comunicação esse momento evidenciou um debate em 116 Thomas Fatheuer é sociólogo alemão que trabalhava na época em um convênio entre o Deutscher Entwicklungsdienst (DED) - Serviço Alemão de Cooperação Técnica e Social e a FASE. Mais tarde foi ser perito da GTZ, coordenador da HBS no Rio de Janeiro e atualmente está em Berlin, ainda na HBS. Monika Grossmann é agrônoma, alemã naquele momento estava ligada ao Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), da UFPA. Posteriormente trabalhou em uma ONG (Operação Amazônia - OPAN), por meio de um convênio com o DED ao qual estava vinculada. É perita da GTZ, depois de um período em Brasília coordenando PDA; está a partir de 2008 em Honduras. Os respectivos consultores concederam entrevistas em setembro de 2008 na Alemanha durante o estágio de doutorado.

231 231 andamento entre os gentes sociais e as organizações envolvidas nas discussões e propostas de políticas públicas para a Amazônia, como declarado nos folder e materiais institucionais da FASE sobre o evento (FASE, 1993, p.3). Houve vários eventos, mas esse foi um exemplo de como se constituiu essa prática que, de certa forma, os agentes locais interagiram mas, comprovadamente, com pouca visibilidade. Além dessa prática de comunicação aproximativa, foram utilizados mídias alternativas, calendários e marcadores de livros, Figura 4 PPG7 construindo capital social Fonte: Calendário GTZ, 2006 O enunciado capital social e capacitacão são recorrentes em vários materiais institucionais e documentos do BM e do PNUD. Do mesmo modo, o sentido da construção da promessa do futuro. Essa imagem da propaganda da institucional do PPG7 e da GTZ é o exemplo dessa afirmação. Nessa imagem também ficou claro o desleixo dos governantes locais quanto a falta de esfalto e saneamento básico, mesmo nos locais comtemplados pelos projetos. Essa ausência do poder público na região da Amazônia torna-se um campo livre e fertil para práticas humanitárias como da cooperação internacional para o desenvolvimento. A utilização de CD- Rom acompanhando os cadernos da cooperação também foi uma prática de comunicação muito utilizada como pode-se observar a seguir:

232 232 Figura 5 - CD anexo do Caderno de Cooperação 07 Técnica vol. I, Fonte: GTZ (2008) O conteúdo dos CD- Rom, geralmente, arquivos digitais sobre gestão ambiental disponibilizado no Programa PDF, serviu como apoio para as publicações, cujo objetivo foi proporcionar respostas para eventuais dúvidas sobre os temas ambientais tratados nos cadernos de cooperação técnica. Esse material disponibilizado para gestores das instituições em especial para Acre, Amazonas e Pará ampliou o número de seminários, encontros, oficinas, workshops. Assim, considerando a gestão dispersa do Programa e a condição geográfica da Amazônia, essa prática de comunicação contribuiu para ampliar o conhecimento e as atividades do facilitador 117. Embora, sem energia em diversas localidades na Amazônia, essa prática facilitou muitos encontros e oficinas no próprio local de trabalho das populaçõe tradicionais. Apesar de constatar as várias práticas de comunicação, impressa, online e digital como o CD Rom, a comunicação face-a-face, conforme as entrevistas com os consultores foi mais desejável porque a utilização de canais naturais, como a fala, a visão, e a audição, permite que se obtenha um feedback imediato. O mesmo foi identificado com as lideranças 117 O termo facilitador era utilizado pela GTZ ou pela GFA para os agentes sociais locais que ministravam oficinas ou promovia reuniões com os participantes do projeto. Era um agente social de confiança, pois era através dele que os consultores conseguiam manter contato com as lideranças e implementar os projetos locais.

233 233 nas comunidades tradicionais onde os projetos foram implantados. Isso porque, as comunicações interpessoais permitem maior interação, já que os interlocutores podem participar diretamente dos problemas, discutir e trocar idéias, tirar conclusões durante a troca de informações. No entanto, muitas mensagens das organizações não foram via canais naturais, uma vez que o número de consultores foi limitado e distribuído de acordo com a verba e gestão de cada projeto. Os consultores, com atividades coordenadas por escritórios em Brasília ou na Alemanha, não conseguiam feedeback imediato, pois predominou o contato telefônico, e a intranet e o Skype. Essa informação vinha impressa nos cartões e em anotações fornecidas por alguns consultores entrevistados. Também se evidenciou que essa prática de comunicação ocorria entre os consultores, não só para troca de conhecimento técnico entre as chefias e colegas, como também para manter contato com familiares no exterior. Na visão desses profissionais, era um meio de comunicação rápido e com custo relativamente baixo, pois a internet no Brasil ainda é muito cara. Observou-se ainda que, como ferramenta de comunicação interna, a intranet utilizada pelas empresas com gestão moderna também foi (é) muito utilizada pelas organizações de cooperação internacional alemã (GTZ, DED, DIE etc). Na verdade, a intranet funciona como um sistema interno de comunicação institucional. Somente membros da empresa têm acesso à rede, pois só funciona nos computadores da organização. Ela é um dos canais e uma maneira de manter-se em rede, conforme a conceituação de Castells (1999, p. 134). Na visão do autor, a velocidade de comunicação multiplicou-se e as distâncias encurtaram-se. Essa estrutura comunicacional em rede, segundo entrevista na GFA contribuiu para dar suporte aos consultores. Pela intranet são disponibilizadas informações importantes sobre as organizações, locais distantes, cidade, notícias, calendário com indicações de feriado e políticas da instituição. Bueno (2006, p. 23) afirma que a troca de informações pela intranet permite um conhecimento das competências dos funcionários a até mesmo dá ênfase à oferta/ troca de produtos/serviços. Assim, os escritórios regionais da GTZ na Amazônia em nível gerencial relacionavam-se com os escritórios de Brasília, Alemanha. Essa foi identificada como uma prática de comunicação predominante na área gerencial das organizações. As entrevistas dessa pesquisa, em alguns momentos foi intermediada pela skype, ferramenta técnicas que permitiu levar a frente as relações interpessoais. Entretanto na visão de Bueno:

234 234 A intranet, assim como o house-organ, não pode responder por toda a comunicação interna de uma organização e, por mais bem concebida e alimentada que seja, ocupará apenas uma parte (ainda que importante) do processo de interação com os públicos internos. Há organizações que jogam toda a responsabilidade em cima da intranet para descobrir, posteriormente, que ela tem restrições em seu sistema de produção (conteúdos e tecnologia) e em sua utilização. (BUENO, 2006, p. 90). Essa explicação de Bueno se encaixa nas práticas de comunicação internas e externas das organizações, pois durante a implantação dos projetos, quando se procurava algum dado, a resposta era tudo constava e estava explicado no site. Esse meio, como evidenciado por Bueno, foi utilizado para silenciar e omitir as informações, pois se transformou em desculpas, os dados estão todos no site, ficamos fora do ar. Essas foram algumas práticas de silenciamento evidenciadas na pesquisa. O MMA, a coordenação de projetos como PDA, SPRN entre outros, as vezes, utilizavam essa prática como resposta aos agentes sociais em busca de informações. A GTZ de Brasília, até 2010, não contava com profissional de comunicação para atender às demandas de informações dos diferentes agentes sociais e tampouco prestar atendimento com dados mais detalhado sobre os vários projetos que atuava. Desse modo, a GTZ optou pela discrição e pelo silenciamento na forma do atendimento pessoal e virtual. Assim o mesmo meio de comunicação que na atualidade é um conceituado como exemplo modernidade comunicacional com rapidez, também serve como álibi para ocultar ou omitir informações quando se quer silenciar e agir com invisibilidade. Apesar do uso quase generalizado pelos gestores, ouvimos ao longo das entrevistas com coordenadores e diretores das organizações que as mensagens escritas, embora de caráter menos pessoal, constituíam parte essencial da comunicação para execução dos projetos, principalmente, quando se trata de informações importantes que devem chegar a um grande número de agentes sociais. Essa prática de comunicação nas mensagens escritas referem-se a mensagens veiculadas nas correspondências formais, memorando, ofícios, manuais, relatórios anuais e publicações sobre o desempenho das organizações. Embora os consultores e peritos tenham expressado essa opinião nas entrevistas, na prática, as entrevistas e o material institucional apresentados e analisados a seguir mostram outra realidade nas práticas de comunicação das organizações alemães. Então, a fim de apresentar um cronograma com essas práticas e mostrar como esse campo simbólico foi edificado de forma diferente da política de comunicação na Alemanha e no contexto internacional, é importante descrever o inicio do PPG7, em Em consonância com os dados dos relatórios MMA (BRASIL, 2005; BRASIL, 2009b), como também constatado por essa pesquisa, o PPG7 foi criado através do Decreto n em junho de 1992, embora, alguns projetos tiveram inicio em 1995.

235 235 Na época, as organizações internacionais construiram um campo ambiental de imagens, símbolos e a relação simbólica como provedoras e financiadoras. A palavra ainda não era parceiros, como no contexto internacional, mas financiadores, como se não tivesse a contribuição financeira e operacional do Brasil. Em termos do signo e do enunciado, Brasil aparece somente na bandeira do Brasil. Nesse cartaz, só aparece de forma pequena a imagem da bandeira do Brasil. Figura 6 - Cartaz distribuído pelo ProVárzea Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea, publicação IBAMA e MMA (s/d), distribuído no lançamento do Projeto. Fonte: ProVárzea. A partir de 1992, essas logomarcas construiram um campo simbólico de poder, em que outras instituições foram sendo incorporadas e novos discursos construídos em prol da contenção do desmatamento e das questões ambientais na Amazônia. Essas logomarcas estiveram presentes no material institucional dos 26 projetos desenvolvidos pelo PPG7. Nesses signos estão codificado por logamarcas e logotipo. A logomarca é conceituada por Lupetti (2000) como a marca, símbolo visual, figurativo ou emblemático identificador de uma organização, enquanto a logotipo é um símbolo constituído por palavras ou grupos de letras, que identifica visualmente uma organização (LUPETTI, 2000, p. 58). Assim, essas marcas estavam impressas em cartazes, folders, folhetos, cartilhas, manuais, relatórios e eventos e workshop, ou seja compondo as diferentes práticas de comunicação no âmbito do PPG7.

236 236 Quadro3 - Carteiras de Projetos PPG7 Projeto Projetos PPG7 Data Fonte Financiamento AMA Projeto de Apoio ao Monitoramento e Análise 2000 PPG7 ARPA GTZ Corredores Corredores Ecoloógicos 2003 GTZ Ecoloógicos PADEQ Projeto Alternativas ao Desmatamento e às Queimadas 2001 USAID / GTZ PCA Programa de Capacitação Ambiental 2002 GTZ PDPI Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas 2001 Alemanha PDA Subprograma Projetos Demonstrativos 1995 GTZ PECA Programas Estaduais de Capacitação Ambiental 2002 PPG7 PGAI/PA Projeto de Gestão Ambiental Integrada do Estado do Pará GTZ 2002 PNF Programa Nacional de Florestas 2001 PPG7 PNS Projeto Negócios Sustentáveis Embaixada dos Países Baixos PPBIO Programa de Pesquisa em Biodiversidade 2001 PPG7 PPTAL Projeto Integrado de Proteção às Terras e Populações GTZ Indígenas na Amazônia Legal 2009 PROAMBIENTE Programa de Desenvolvimento Sustentável da Produção 2004 GTZ PROARCO Familiar Rural na Amazônia Monitoramento de Queimadas e Prevenção e Controle de Incêndios Florestais no Arco do Desflorestamento na Amazônia 1998 PPG7 BM e IBAMA PROMANEJO Programa de Apoio ao Manejo Florestal Sustentável na Amazônia KFW, RFT, GTZ, DFID PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar Usaid, MMA/SPRN (PGAI e PCA. PROTEGER Projeto de Mobilização e Capacitação para a Prevenção 1998 USAID de Incêndios Florestais na Amazônia ProVÁRZEA Projeto de Manejo dos Recursos Naturais da Várzea 2000 GTZ REDEFLOR Rede de Monitoramento da Dinâmica de Florestas da 2007 GTZ Amazônia Brasileira RESEX Projeto Reservas Extrativistas 1995 GTZ RMA Rede Mata Atlântica 1992 GTZ SPC&T Subprograma de Ciência e Tecnologia 1996 SPRN Subprograma de Política de Recursos Naturais 1995 GTZ GTZ ZEE Zoneamento Ecológico e Econômico GTZ Fonte: Elaborada pela autora a partir de dados do Relatório de Progresso , (BRASIL, 2005), (BRASIL, 2009c) e a tabela de projetos apresentada no ensaio O Desenvolvimento de Instituições de Política Ambiental na Amazônia a partir de 1992: a contribuição do PPG7 de autoria de Imme Scholz (2001). Cita-se de forma resumida a participação da GTZ com o financiamento do KFW, mas em quase todos os projetos há participação de várias instituições do poder público e a sociedade civil organizada. Na utilização de diferentes práticas de comunicação, o cartaz material institucional, teve por finalidade promover o IBAMA e o ProVárzea, (figuras 7/8, p ). As imagens são centradas no trabalho cotidiano das populações tradicionais ribeirinhas. Também contribuía para a divulgação dos endereços e do site dos escritórios do IBAMA e do site do ProVárzea com endereços de do projeto em Manaus/AM, Parintins /AM e Santarém (PA). O destaque da mensagem é a palavra iniciativa promissora. É considerado cartaz,

237 237 qualquer mensagem publicitária gráfica impressa em papel ou pintada diretamente sobre madeira, metal ou outro material (Sampaio, 1999). A palavra iniciativa também esteve presente na maioria das entrevistas, quando os consultores se referiam aos projetos. Figura 7 - Cartaz distribuído pelo ProVárzea Fonte: Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea, publicação IBAMA e MMA ([20--]), distribuído no lançamento do Projeto

238 238 Figura 8 Projeto PróVárzea iniciativas promissoras Fonte: Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea, publicação IBAMA e MMA (2000), distribuído no lançamento do Projeto. O cartaz por sua dimensão e propósito possibilita veicular várias informações e imagens, ao mesmo tempo, e no mesmo espaço, é uma estratégia de comunicação. O ProVárzea foi citado pelos consultores durante as entrevistas como o projeto que mais informava sobre as ações e desempenho. Seguindo a mesma estratégia de sentido com a promessa de iniciativas promissoras, ou seja, para o futuro melhor. De acordo com o IBAMA (2006), depois confirmado nas entrevistas e citado por (SCHOLZ, CHÖNEMBERG, 2007), o ProVárzea foi um dos Projetos com grande alcance e nível de execução no âmbito do (PPG7), pelo governo brasileiro com apoio de cooperação internacional e a participação da sociedade civil. Em termos de práticas de comunicação, até o ano de 2009, entre livros e cartilhas, o ProVárzea editou juntamente com o MMA 90 publicações, incluindo a revista Jirau ( BRASIL, 2009c). Nesse fluxo informacional, novos enunciados eram apresentados em forma de slogan, como apresentado na contra-capa da Revista Jirau: esta publicação é produzida em papel reciclado. No Estado do Pará, não há produção de papel reciclado, o Curro Velho, de forma

239 239 artesanal comercializa num mercado restrito. No entanto, o enunciado mostra o interesse das organizações pelas práticas sustentáveis. F Figura 9 - Revista Girau - publicação de divulgação do ProVárzea Fonte: Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea. Distribuído em janeiro, fevereiro e marco de Em alguns momentos, a comunicação institucional era em conjunto, ou seja, a união de várias organizações, a exemplo desse cartaz institucional do ProVárzea e IBAMA que informa sobre 25 projetos do ProVárzea apresentando imagens, mapas etc. A localização da logomarca no veiculo era determinada pela ordem de quem assinava a mensagem, como o exemplo acima da Revista Girau em que a marca do DFID é a primeira dos financiadores. Haviam esmeradas publicações individuais em que a organização ao informar dados técnicos também obtinha mais visibilidade institucional. Assim, as organizações envolvidas investiam verbas consideráveis para a apresentação de uma imagem institucional mais elaborada, como a série de Cadernos da cooperação técnica da GTZ, calendários e materiais técnicos (BRASIL, 2009c). Nessa série de Cadernos da cooperação técnica da GTZ, introduzida pelo coordenador da GTZ, Hans Grüger, é explica em detalhes as políticas de recursos na Amazônia, do ponto de vista da cartografia. No sentido da informação, há a percepção dos diferentes autores, Sr. Grüger era geógrafo.

240 240 Figura 10 - Cadernos de Cooperação Técnica 5/2005 Fonte: (GTZ, 2005) Dando continuidade à descrição das práticas de comunicação por meio do PPG7, conforme, MMA (BRASIL, 2004), o Programa se divide em três fases 118. A primeira fase compreende o período de 1995 a 2000, objetiva a cooperação entre os diversos níveis de governo e da sociedade civil para a proteção das florestas tropicais e as linhas de atuação são as políticas de descentralização e gestão ambiental integrada, em parceria com órgãos estaduais de meio ambiente (SPRN); as iniciativas piloto de produção sustentável com comunidades rurais por meio do Projeto Demonstrativo A (PD/A); o controle de incêndios florestais com a participação da comunidade local (Proteger); e a implantação de Reservas Extrativistas (Resex). Em 1996, início o iníciou a implementação do PPTAL, com a demarcação de terras indígenas e a primeira fase do Subprograma Ciência e Tecnologia. 118 Os primeiros projetos foram aprovados em 1994 e tiveram a sua execução iniciada em 1995, entretanto, o cronograma de planejamento e de execução de alguns subprogramas e projetos teve períodos e prazos variados. Alguns projetos estavam concluindo a primeira fase de execução e, outros ainda executando a segunda fase. Há também uma série de projetos formalmente ou informalmente associados ao Programa Piloto. Esses, geralmente eram financiados por meio de cooperação bilateral, a exemplo do Projeto Áreas Protegidas da Amazônia Arpa, Prorenda/Pará ( ) e sete projetos na Mata Atlântica apoiados pela cooperação alemã. Ver mais detalhes sobre os objetivos, prazos e período de cada projeto em: Relatório de Progresso (BRASIL, 2005).

241 241 Em 1997, ocorre em Manaus, o encontro dos participantes que recomenda avaliação de meio termo do Programa Piloto. No ano de 1998, é realizado o projeto Proteger segundo o MMA (BRASIL, 2005) em reposta às queimadas descontroladas. O ano de 1999, é marcado pelo início do Promanejo e da segunda fase do Resex. Fase em que o governo se impõe com maior liderança no Programa, e são detecta contradições entre o PPA e os objetivos do PPG7, reformulado na Agenda Positiva para a sustentabilidade. Essa reformulação juntamente com os dois projetos Proteger e Promanejo foram muito importante na atuação do PPG7 para conter o desmatamento e nos anos 1998 e 1999 imperaram, especialmente, as críticas das organizações interncionais. Nesse contexto de contradições, conhecimento é poder, ou seja, o poder exercido pelos projetos de interveção que, na conceituação de Foucault, poder é luta, enfrentamento, disputa, relação de forças, estratégia, com objetivo de acumular vantagens e multiplicar benefícios. No campo ambiental na Amazônia, a relação entre os diferentes agentes sociais comprovou que prevalece o poder como uma prática social constituída historicamente, pois perante a vontade local prevalecia as propostas dos agentes internacionais e do governo. Conforme MMA, as estratégias previstas para a segunda fase foram concentradas em torno das unidades de conservação e terras indígenas; produção e atividades econômicas sustentáveis; monitoramento e controle ambiental; desenvolvimento local e regional e ciência e tecnologia. Nessa fase, priorizaram a participação de organizações da sociedade civil e do setor privado e o intercâmbio maior de experiências com outros países da Bacia Amazônica, bem como com outras regiões do mundo para a proteção e o uso sustentável das florestas tropicais (BRASIL, 2005). A revisão participativa do Programa Piloto ocorreu em 2000, ano do início do ProVárzea e do AMA. Essa fase culminou com a pressão para que as lições do Programa influenciassem políticas públicas. Seguindo essa tendência, a 6ª reunião de participantes em Cuiabá, em 2001, reiterou a necessidade da incorporação de experiências inovadoras do Programa Piloto nas políticas públicas. Os dez anos do PPG7 foram comemorados em 2002, com o Programa Piloto e início do apoio do GTA. Também marcou o começo do Projeto Negócios Sustentáveis e da fase de consolidação do PDA. Além disso, esse ano é marcado por dois encontros importantes: Realização do Rio + 10 e a Reunião de Johannesburgo, na África do Sul. A criação do PAS Plano Amazônia Sustentável 119, é entendido pela cooperação internacional, como um 119 PAS Apresenta as diretrizes do governo federal para a implementação de um novo modelo de desenvolvimento na Amazônia, pautado na valorização do patrimônio natural e sociocultural. Suas estratégias

242 242 documento norteador para entender a diversidade ecológica e cultural da região Amazônica (SCHOLZ; SCHÖNENBERG, 2007, p ). A consolidação do SPRN e o início do Projeto Corredores Ecológicos ocorreram em Conforme o quadro da MMA (BRASIL, 2005), em 2004, surgiu o plano de ação para prevenção e controle do desmatamento na Amazônia Legal, envolvendo 15 ministérios. Em 2005, a elaboração do Plano BR-163 Sustentável 120, com participação de 21 ministérios e o início da segunda fase do Subprograma Ciência e tecnologia encaminharam para a fase final do Programa Piloto em Após 2005, a demanda pela criação de programas específicos para proteção da biodiversidade, levou o PPG7 a apoiar o ARPA, obtendo resultados positivos, segundo o MMA (BRASIL, 2005, p. 24). Ainda a partir de 2005, a Pesquisa Científica e Tecnológica apoiou projetos (executados entre 2006 e 2008) realizados de forma articulada com cooperativa por meio da pesquisa em rede, abrangendo dois grandes temas prioritários: manejo integrado de ecossistemas terrestres e recuperação de áreas degradadas; e manejo integrado de bacias hidrográficas e ecossistemas aquáticos. Essas redes foram organizadas em 11 sub-redes contendo 52 projetos sobre temas estratégicos para a Amazônia, conforme (BRASIL, 2009, p. 34). Isto posto, pode-se afirmar que entre que se caracterizou a estruturação entre os diversos níveis e instituições do governo nacional e internacional e da sociedade civil na busca de soluções para a implementação dos projetos ambientais na Amazônia. De , ainda de acordo com o MMA (BRASIL, 2005), a participação da sociedade, algumas análises das lições aprendidas, conforme consta no Relatório Progresso do PPG7 editado em 2004 pelo MMA. O período de 2001 a 2005 é apontado como o desafio de ampliar experiências bem-sucedidas para subsidiar um conjunto de políticas públicas e estratégicas como divulgado no MMA (BRASIL, 2005). A fase final foi compreendida entre 2005 a 2009, segundo o MMA (BRASIL, 2009), representou a manutenção dos projetos e a consolidação são voltadas para a geração de emprego e renda, redução das desigualdades sociais, viabilização das atividades econômicas dinâmicas e inovadoras e ao uso sustentável dos recursos naturais, com manutenção do equilíbrio econômico. O Plano foi lançado pelo Presidente da República em maio de 2008.(BRASIL, 2009, p. 52.) 120 É um dos braços operacionais do PAS e reúne as ações do governo federal para uma área de 1,23 milhões de hectares, localizada na Amazônia Central. Envolve 73 municípios dos estados do Pará, Mato Grosso e Amazonas e combina ações de diversos ministérios. O objetivo é fortalecer a presença do Estado na região por meio de ações voltadas para o ordenamento fundiário e territorial, monitoramento, controle e gestão ambiental; fortalecimento da segurança pública, infraestrutura de transporte e energia; fomento a atividades produtivas sustentáveis; e inclusão social e promoção da cidadania. O Plano foi lançado pelo Presidente da República em junho de 2006 (BRASIL, 2009b, p. 52).

243 243 de políticas públicas ambientais na Amazônia. Detalhes sobre essas fases constam no anexo D. Publicações do PPG7 Projeto Edições AMA 24 Corredores 12 Ecológicos GTA 11 PDA 19 PDPI 04 PPTAL 123 PROMANEJO 66 PROVARZEA 75 / 90 RMA 177/ 179 SPCT SPRN 11 Total 539 Quadro 4: Elaborado pela autora com base nos dados do Catálogo de publicações do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil: 17 anos de atuação na Amazônia e Mata Atlântica (BRASIL, 2009C). 539 publicações impressas, em papel couche e papel reciclado e disponível em CD rom, ao longo de 17 anos de atuação na Amazônia e Mata Atlântica, constata-se que predominou a opacidade, no modo de divulgar os dados e na forma discreta de informar porque o resultado escondeu as reais razões dos objetivos da cooperação técnica alemã para o desenvolvimento. Apesar do trabalho feito no campo socioambiental, nas imagens e nos enunciados dos documentos dispersos produzidos pelas organizações alemães, há sinais de que prevaleceu o sentido do desenvolvimento. O enunciado desenvolvimento sempre implicito, mas de forma diferente em que aparece nas práticas de comunicação institucional no contexto da agenda global. Ao consultar as 539 publicações do MMA verificou-se que a GTZ teve sua logomarca impressa em quase todos os exemplares, entretanto, como já referido essas publicações ficaram restritas aos agentes sociais da área de consultoria, instituições departamentos de secretarias de meio ambiente. A comunicação técnica no segmento da comunicação institucional cumpriu sua função estratégica, mas comunicação não é informação. Observouse ainda que apesar das cartilhas e do uso da comunicação aproximativa (reunião, workshoping, seminários, encontros e oficinas etc) não houve adequação da informação para

244 244 os diferentes agentes sociais, em especial às comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas, ribeirinhos etc. com conhecimento natural e tradicional, mas excluídos do letramento. Sobre o letramento, estudos comprovam que uma pessoa pode ser alfabetizada e não ser letrada e vice-versa. O conceito letramento pode ser entendido na explicação de Magda Soares, No Brasil as pessoas não lêem. São indivíduos que sabem ler e escrever, mas não praticam essa habilidade e alguns não sabem sequer preencher um requerimento. (SOARES, 2007, p. 29). Para a autora, este é um exemplo de pessoas alfabetizadas não letradas. Essa explicação se configura com o fato da GTZ e HBS mediar agentes sociais junto ao poder público no preenchimento de requerimentos e documentos em sindicatos e entidades de base. Vários projetos tiveram essa colaboração, mas em especial o PDA por se tratar de crédito com valores não elevados extensivos a um grande número de agentes sociais. O apoio promovido pela HBS e DED para a documentação das trabalhadoras do Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense (MMNEPA) ilustra essa afirmação. De acordo com as descrições dos relatórios MMA e GTZ, a maioria dos 26 projetos socioambientais foram implantados em locais onde predominava esse perfil de agentes sociais. Além disso, algumas comunidades não possui eletricidade e tampouco serviços públicos de saúde, transportes coletivos e coleta de lixo. O Estado do Acre foi ocntemplado com vários projetos do PPG7, lá cerca de 25 mil famílias vivem em regiões de difícil acesso e sem energia elétrica. A ausência de rede elétrica deixa essas pessoas isoladas e sem confortos básicos, como geladeira, rádio e televisão (BARBOSA, 2009). Desprovidas dos serviços públicos básicos, esses agentes sociais não recebem informações da comunicação pública. Assim, elaborar comunicação institucional com princípios dialógicos para esse perfil de público requer mais estudos e análises que vão além das práticas de comunicação considerando apenas emissor e receptor. Em termos de difusão da informação, estes aspectos não foram considerados nas práticas de comunicação da cooperação técnica alemã. Dados do IBGE apresentam números que corroboram com essa problemática do letramento na região norte e em todo o Brasil.

245 245 Taxa de analfabetismo em cada estado Estado (%) Estado (%) Estado (%) Estado (%) Distrito Federal 3,25 Santa Catarina 3,86 Rio de Janeiro 4,09 São Paulo 4,09 Rio Grande do Sul 4,24 Paraná 5,77 Mato Grosso do Sul 7,05 Goiás 7,32 Espírito Santo 7,52 Minas Gerais 7,66 Mato Grosso 7,82 Amapá 7,89 Rondônia 7,93 Amazonas 9,60 Roraima 9,69 Pará 11,23 Tocantins 11,88 Acre 15,19 Bahia 15,39 Pernambuco 16,73 Sergipe 16,98 Ceará 17,19 Rio Grande do Norte 17,38 Maranhão 19,31 Paraíba 20,20 Piauí 21,14 Alagoas 22,52 BRASIL 9,02 Quadro 5 - Fonte: Censo 2010 IBGE (2010) Na contemporaneidade, discute-se muito a importância da comunicação e da informação, e esses enunciados, no senso comum vir associados, as vezes, geram dúvida quando são compreendidos com o mesmo significado. Em resumo, o termo comunicação, como referenciado nessa pesquisa, tem em sua origem latina a significação de comunhão, de partilhar algo, mas ela também identifica o ato de fornecer o conhecimento de alguma coisa para alguém, ou seja, informar. Desse modo a informação é o objeto a ser transmitido, enquanto comunicação significa relação. Então, não basta transmitir os dados, pois as pessoas, ao receberem uma mensagem, pensam e a decodificam (MARTINO 2003, p. 16). A informação trabalha com o novo, com a novidade, com a notícia. Para alguns autores só é informação quando traz um elemento novo de forma nova, pois informação é algo novo que vai ser adicionado ao nosso conhecimento, ajudando a lidarmos e a aplicar a sociedade em que vivemos. A informação é veiculada pelo processo da comunicação, mas nem tudo que é comunicado é necessariamente informação. Além disso, a comunicação e a informação só têm sentido para o receptor da mensagem se estiverem relacionadas com a vida prática e com o dia-a-dia das pessoas, como citado por (TÓTH, 2009). Miége (2000, p. 30), amplia este conceito quando afirma, Informação é um termo que designa o conteúdo do que é permutado com o mundo exterior á medida que nos adaptamos a ele e lhe aplicamos os resultados de nosssa adaptação. O processo que consiste em receber e utilizar a informação é o processo que seguimos para nos adaptar às contingências do meio ambiente e, com eficácia, viver nesse meio. As necessidades e complexidade da vida moderna tornam mais exigente do que nunca tal processo de informação, e nossa imprensa, nossos museus, nossos laboratórios científicos, nossas universidades, nossas bibliotecas e nossos manuais são obrigados a satisfazer as necessidades de tal processo, ou, caso contrário não atingirão seu objetivo. Viver com eficácia é viver com uma informação adequada [...]

246 246 É com base nessa diferença, são analisadas as práticas de comunicação no contexto do PPG7, em especial as elaboradas pela cooperação técnica alemã. Contudo, observa-se nessas práticas a proridade em atingir interesse da opinião ao promover a informação. Em se tratando de Amazônia, esse é um enunciado que desperta interesse do ponto de vista ambietal, mas como ficou eveidenciado nessa pesquisa, nem sempre vem acompanhado de informação para a sociedade. A percepção sobre a Amazônia e o discurso ambiental prevaleceu no imaginário da opinião pública, quatro grandes eventos internacionais comprovaram não só o interesse, como também a participação efetiva no debate sobre o enunciado Amazônia. Os mais importantes evidenciados por esta pesquisa, European Development Days - The 2nd European Development Days in Lisbon (nov. 2007), Colloque international Problèmes dans l appropriation territoriale du développement durable: une modernité réinventée - Pau/ França (Nov.2007), KCTOS: Wissen, Kreativität und Transformationen von Gesellschaften - Viena/ Áustria (dez. 2007) e Fórum de Política de Desenvolvimento da Fundação Heinrich Böll Klima und Wandel in Amazonien Clima e Mudanças na Amazônia, realizados em fevereiro de 2008, em Berlim/Alemanha. Feitas essas considerações pode-se afirmar que o PPG-7 foi um Programa que optou pela metodologia para soluções compartilhadas e que houve sucessivas negociações e relações de poder e crises de comunicação gerando conflitos, construção e desconstrução de discursos de vários campos antes e depois das decisões. Foram negociações difíceis na concepção, na implementação e na avaliação dos resultados que ainda não foram apresentados de forma clara e informativa para a sociedade, inclusive para os agentes sociais contemplados e envolvidos com o Programa, os povos e comunidades tradicionais da Amazônia. 5.3 DIVERGÊNCIA E CONFLITOS NO CAMPO AMBIENTAL DA AMAZÔNIA Por meio da política externa e acordo de cooperação técnica formalmente iniciado em 1963, o governo da Alemanha desenvolveu projetos de cooperação técnica em várias regiões. Entretanto, essa longa relação institucional em programas sociais e ambientais no Brasil é praticamente desconhecida. Não se sabe certamente, o porquê dessa invisibilidade, de uma atuação discreta, oposta das demais agências bilaterais que mantêm relações de cooperação técnica com o Brasil. Nas entrevistas e conversas informais, notou-se essa distinção de perfil de trabalho, ou seja, aparece de forma recorrente nos discursos dos consultores ou peritos da

247 247 GTZ e nas falas dos brasileiros que atuaram nos projetos em que trabalham norte-americanos, ingleses e alemães da GTZ. Em um primeiro momento pareceu uma contradição o fato das atividades de cooperação técnica alemã não terem visibilidades. Mas por que? Chama a atenção o fato de tratar-se de um acordo público por meio das relações internacionais e com base nas estratégias da política externa do Brasil e da Alemanha. Além disso, considera-se, nesse tipo de acordo, o reconhecimento político e público vinculado aos princípios das ações de cooperação internacional, a isso ainda soma-se o acúmulo de capital social e simbólico das organizações envolvidas. Alguns estudos, como de Valente (2007), apontam como hipótese para essa invisibilidade, o fato do Brasil possuir disponibilidade de recursos públicos e privados para aplicação em projetos sociais, desse modo, [...] este tipo de intervenção internacional fica muito suscetível a críticas, sendo a discrição, portanto, a melhor das opções para dar continuidade às atividades de cooperação (VALENTE, 2007, p.34). Ainda sobre essa opacidade e descrição, a referida autora contextualiza: [...] ao partirmos da afirmação de Weber de que administração burocrática significa dominação em virtude de conhecimento, também relação entre conhecimento e poder, como nos aponta Foucault, supomos que a cooperação técnica para o desenvolvimento consiste em diretrizes e práticas de intervenção associadas a programas e a projetos de governos que visam, por sua vez, à expansão de conhecimento sobre territórios e populações. Isto vai garantir, em consequência, maior capacidade de administração e influência sobre eles. A visibilidade de certas práticas e discursos encobre as práticas de poder. (VALENTE, 2007, p. 116). Apesar da relativa opacidade como descrito por Valente (2007) e também ratificado por essa pesquisa, no âmbito do PPG7, as práticas de comunicação das organizações alemãs foram construídas e produzidas de forma dispersa e sem a gestão de uma política de comunicação. Esse aspecto foi pouco percebido, pois ao chegarem à Amazônia trouxeram conhecimento tácito e racional de consultoria, método para projetos orientados por objetivos o ZOPP. 121 De acordo com Bolay (1993), o Método ZOPP é a abreviatura alemã de Planejamento de Projetos Orientada a Objetivos, o qual examina, planifica e implementa a contribuição alemã aos projectos de cooperação técnica para o desenvolvimento, em acordo com o Ministério Federal de Cooperação Econômica (BMZ). Esse método baseia-se no marco lógico 121 ZOOP - Sigla alemã que significa Zielorientierte Projecktplanung, que é um método de planejamento para projetos orientados por objetivos, de grande utilidade em níveis intermediários de organizações (BOLAY, 1993).

248 248 (Logical Framework Approach), um instrumento de planejamento, implementação e gerenciamento de projetos, desenvolvido para a USAID, no final dos anos 60. Nos anos 70, foi desenvolvida com a metodologia da Metaplan. técnicas de moderação e visualização em que se colocam em um grande painel fichas referentes aos objetivos e às metas pretendidos com o planejamento. Trata-se, segundo Bolay (1993), de um método de dinâmicas de grupo de origem franco-alemã que adota instrumentos de visualização, de trabalho e de moderação de grupos. Nessa metodologia, para estimular a comunicação e a visualização de problemas, usam-se fichas para os participantes escrevem o que pensam sobre os problemas e as soluções. Elas ficam em exposição em quadros e painéis para que todos os participantes leiam e se sensibilizem com as expectativas do outro. Um moderador, profissional de consultoria, que presta serviço à GTZ, coordena dinâmica de grupo para depois elaborar um planejamento orientado por objetivos. O Zopp foi introduzido pela cooperação técnica alemã, em 1983, quando a GTZ integrou e aperfeiçoou estes elementos em um sistema de procedimentos e instrumentos. Os elementos básicos do ZOPP têm o enfoque participativo, ou seja, a participação ativa no planejamento do projeto de todos os envolvidos (DONNER, 1998). Esse método, tem como fio condutor o trabalho em grupo (equipe). Assim, há um roteiro a ser seguido: (a) a visualização, documentada por escrito a contribuição dos participantes: (b) a moderação, assegurando imparcialidade na condução do processo: (c) gerenciando possíveis conflitos: (d) a gestão do projeto coloca em prática os planos estabelecidos. A principal caracteristica do ZOPP é o procedimento gradual de uma sequência de etapas sucessivas e interligadas de planejamento, que pode ser resumida da seguinte maneira: (1) permanente visualização e documentação de todas as etapas do planejamento; (2) enfoque do trabalho em equipe; (3) lógica causal e relações de causa e efeitos e meio para determinados fins. As etapas do ZOPP podem ser enumeradas nas seguintes fases de análise: a) Análise da participação identifica-se e descreve-se os envolvidos no contexto analisado; b) Análise dos problemas identifica os problemas que cercam determinada situação para analise suas causas e efeitos; c) Análise dos objetivos - os problemas são transformados em uma hierarquia de objetivos, em uma lógica de meios e fins, decorrentes de uma estrutura de causa efeito; d) Análise de alternativas identifica-se as possíveis soluções para o cenário analisado, os caminhos ou estratégias mais favoráveis para se atingir determinado objetivo.

249 249 Assim, as análises ZOPP de planejamento efetuam-se por meio de todas as etapas de preparação e implementação do projeto; sua duração, grau de participação e intensidade são variáveis. Ao iniciar-se um projeto, o comentário formal preliminar e o exame do projeto (na análise ZOPP) são levados a cabo pela equipe interdisciplinarios de planejamento na GTZ. Nada obstante, para analisar os resultados do exame do projeto ou para o planejamento operativo, reorganização de planos ou sua atualização, o ZOPP o faz no lugar do projeto, de comum acordo com os participantes. É muito importante que a equipe de planejamento seja interdisciplinar e inclua tanto os comtemplados pelo projeto como quem toma as decisões. A participação não só é importante para o processo de planejamento, como também um sinal do compromisso existente em frente ao projeto e por esta razão, uma condição para atingir o sucesso com bons resultados. Assim, a GTZ ao introduzir ZOPP pressupunha que o método facilitaria o diálogo sistémico entre os participantes do projeto sobre os fins e objetivos da cooperação e também cumpriria a função básica no processo de aprendizagem mediante a análise das experiências conjuntas. Em síntese, o ZOPP foi considerado um instrumento para planejamento participativo, na medida em que orientava as necessidades dos parceiros e permitia a exposição de suas opiniões e contribuições, de forma transparente e objetiva. Dessa maneira, pelo Método ZOPP, a GTZ é identificada e percebida como uma organização com princípios da participação. Na prática, houve várias críticas no Brasil à metodologia de participação aplicada em oficinas e seminários com as fichas em painéis por ser indutiva e sistemática perante o perfil do pouco compromisso a da flexibilidade predominante no Brasil. Durante a pesquisa em conversas informais, alguns consultores brasileiros da GTZ afirmaram que esse método servia somente para os alemães e europeus. Observou-se nas entrevistas que tudo se concentrava em torno da equipe que exercia o poder e controle e não nos agentes sociais com os quais se estabeleciam as relações. Como diria Bourdieu a ilusão da participação As criticas ao Método ZOPP referentes à eficácia dos modelos participativos adotados pela cooperação bilateral e à falta de flexibilidade de gerenciamento dos projetos da GTZ não se concetravam no Brasil. Em 2003, entrou em vigor outros formatos de consultoria de projetos, cujos procedimentos orientavam para metodologia de impactos, mudanças de estado, resultado de intervenção intencional, que garantia maior flexibilidade em relação aos resultados e, desse modo, maior sucesso com os projetos desenvolvidos.

250 250 As várias metodologias não contribuíram para o êxito da GTZ nos projetos de desenvolvimento rural. Considerando a complexidade dos projetos, esses métodos não conseguiram a eficácia, nem a inovação esperada. Segundo dois membros do IAG, os resultados da cooperação técnica não podem ser tão rígidos, pois são experiências e, em se tratando do PPG7 na Amazônia, são iniciativas sustentáveis 122. Sobre essa experiência, Valente (2007), afirma que A partir de avaliações de resultados e de impactos, as agências disseminam experiências e implementam as metodologias e princípios de ação em outras regiões e realizam estudos comparativos. As práticas e discursos garantem a essas agências o know-how, o conhecimento que é instrumento de poder e capacidade de inserção em projetos de cooperação técnica no mundo todo. (VALENTE, 2007, p. 212). Nesse campo de produção e disseminação de conhecimento, há contradições e crises a respeito da metodologia adequada, e disparidade de idéias, conceitos e propósitos. Assim, o Programa Piloto foi um desafio, pelo seu caráter de experiência multilateral, pela abordagem de temas até então polêmicos, pela falta de consenso nacional e pelo envolvimento de agentes sociais de segmentos distintos, exigindo contínuas reestruturações de gestão e ações decisivas dos participantes. Além dessas metodologias, há aquelas de desenvolvimento participativo, elaboradas em virtude do reconhecimento da importância da participação dos agentes sociais, beneficiários nos processos de implementação dos projetos nas comunidades objetivando resultados eficazes e duradouros. A GTZ encontrou algumas metodologias nos livros, entre elas, Diagnóstico Rural Participativo (DRP) e suas variações (diagnóstico Urbano Participativo, Diagnóstico Organizacional Participativo), Diagnóstico Rural Rápido (DRR). As entrevistas com consultores da GTZ e GFA revelaram que as contribuições externas da cooperação devem estimular e impulsionar as iniciativas locais e não devem substituí-las. Assim, conforme os princípios de conduta íntegra da GTZ e as falas das entrevistas, os consultores da cooperação internacional alemã receberam treinamentos para não questionar a diversidade cultural, mas, ao máximo, promover a participação local. Essa fala também esteve sempre presente nas entrevistas dos consultores e também nas dos membros do IAG entrevistados. Nas entrevistas 123 e no material de apoio das consultorias, observou-se que a cooperação técnica na sua fase inicial no Brasil nos anos 60 e 70, repassava experiências de 122 A. H. Entrevista concedida em janeiro de Entrevista em setembro 2008 em Frankfurt, com ex- coordenador e consultor da GTZ nos anos 70, 80 Alexander zu Graf Stolberg, que não só descreveu o histórico da evolução da cooperação técnica alemã no Brasil, como indicou a leitura do documento citado. O perfil profissional de Stolberg como consultor de

251 251 pequenos produtores alemães para produtores em países asiáticos e africanos, especialmente, às empresas rurais objetivando a utilização de máquinas e equipamentos. Em 2004, ao visitar Figura 11 - Capa de livros publicado pela GTZ e GFA Fonte: GTZ / BMZ: Warmbier et al, 1985 e GFA: Wissenschaftsverlag Vauk Kiel KG, 1999 o escritório da GTZ, em Belém, foi possível encontrar alguns consultores com livros que relatavam tais experiências. Sob o ponto de vista da memória discursiva, com a medição do livro, essa é a prática do discurso recriado. As capas dos livros das duas consultorias técnicas GTZ e GFA publicadas respectivamente em 1985 e 1999 apresentadas a seguir, são exemplos dessa descrição. A preocupação com a participação dos beneficiários dos projetos (populações tradicionais e locais) emergiu por volta de 1982, conforme documentos e publicações da GTZ-BMZ, Desenvolvimento rural regional: princípios de orientação. O título em Alemão do referido documento é Sonderpublikation der GTZ, nº 193. Eschborn: BMZ, 1987, p.12. Essa publicação é documento de referência sobre esse assunto, pois se trata da Resolução Comum dos grupos de Parlamentares, de 05 de março de 1982 e do quarto Relatório de Política de Desenvolvimento do governo alemão. cooperação técnica é interessante e diferenciou dos demais entrevistados, trabalhou somente no Brasil e foi para a Alemanha ainda no cargo de direção da GTZ próximo da aposentadoria em 2006.

252 252 A partir dessa data, passada quase duas décadas de parcerias, a experiência em projetos de desenvolvimento agrícola e rural em várias localidades escancararam os princípios de desenvolvimento rural regional, implícitos na participação, na sustentabilidade e na flexibilização adaptados aos procedimentos de cooperação técnica. A partir de então, a participação passou a ser considerada um elemento essencial, na verdade um instrumento estratégico para implementar e desenvolver os projetos e com isso atingir eficácia nos resultados. Nas últimas décadas, em especial na implementação do PPG7, a noção de participação e interação com os grupos alvos (beneficiários de um projeto) foi citada em todos os projetos. Participação é, portanto, um fator importante e um dos o enunciados mais recorrentes na produção de documentos e materiais institucionais, não só das organizações alemãs, mas de todas as instituições que atuaram na cooperação técnica no âmbito do PPG7, na Amazônia. Nesse momento, emerge uma questão, como promover a participação e o diálogo sem uma política de comunicação e campanhas de comunicação social, uma vez que a organizações no âmbito do PPG7 optaram pela gestão dispersa e pela invisibilidade. Esta pesquisa evidenciou que a participação social foi um enunciado presente em todas as organizações aqui citadas (GTZ, BMZ, PNUD, BM, BIRD, GTA, MMA, BM), entretanto, constata-se que sem comunicação não há participação. De acordo com Bordenave (2002, p. 68): sem comunicação não pode existir a participação. De fato, a intervenção das pessoas na tomada de decisões requer pelo menos dois processos comunicativos: o de informação e o de diálogo. Sob essas premissas e conforme evidenciado, se houve participação, foi somente para alguns segmentos de agentes sociais, pois, a principal organização de cooperação técnica GTZ não teve uma política de comunicação abrangente que atendesse aos diferentes públicos (agentes sociais) envolvido com o PPG7 na Amazônia. Então, pode-se afirmar que, a participação, como citada nas práticas comunicacionais dessas organizações não ocorreu, pelo menos no período de implementação do PPG7, conforme conceito, mais ampliado, A participação democrática se baseia em canais institucionais. Em primeiro lugar, de informação; não há participação popular sem informação qualitativamente pertinente e quantitativamente abundante sobre os problemas, os planos e os recursos públicos. Em segundo lugar, canais de consulta. Em terceiro lugar, canais de reivindicação e de protesto Bordenave. (BORDENAVE, 2002, p. 68). O autor esclarece que esses canais têm que ser visíveis, amplos e fácil acesso. Além disso, é preciso que se saiba o que se pode reclamar e com quem. Uma reunião consultiva

253 253 não deve parecer deliberativa, nem um canal de informação deve parecer uma reunião de consulta (BORDENAVE, 2002, p. 68). Com essa descrição não se tem a pretensão de revelar aqui todos os conflitos que envolveram a ausência de uma política de comunicação direcionada para questão ambiental na Amazônia e tampouco esclarecer os conflitos e crises de relacionamentos de todos os projetos, pois o trabalho de consultoria independente de Almeida (2001) não publicado e de Ludmila Lima (2007) e Renata Cursio Valente (2007) já retratam e descrevem detalhadamente os problemas de gestão e conflitos de poder e governança entre FUNAI e os consultores do Projeto PPTAL e as divergências culturais e conceituais dos antropólogos que exerceram a função de consultoria. Dessa maneira, as disputas e os conflitos a respeito de alguns aspectos conceituais, de gestão e metodológicos provocaram diversas versões e sucessivas crises de comunicação em alguns projetos As diferentes visões de cada agente a respeito dos métodos, das estratégias e da própria liderança dificultaram, em alguns momentos, o avanço do Programa. Assim a descrição dos discursos travados na discussão, referente à assistência técnica é um exemplo dessa afirmação. Santilli (2001) expõe seu ponto de vista, a questão de assistência técnica, que sempre foi um buraco negro no subprograma, nunca se resolveu isso a contento e uma parte dos insucessos do PD/A seguramente poderia se debitar a isso. Não havia estudos de mercado que pudessem orientar uma série de produções que se queria desenvolver; a questão das avaliações, que sempre foram muito frágeis, não permitindo de fato um monitoramento dos projetos, o que dificulta hoje o resgate de resultados (SANTILLI, apud HBS, 2001, p. 12). Houve conflitos e contradições como mencionado por Santilli (2001) e ausência de comunicação que promovesse o conhecimento entre os agentes sociais, mas ao longo dos seus 14 anos, conforme relatório final do PPG7 publicado pela MMA (2004), MMA (2009), os resultados positivos, pode significar ter criado o habitus. Bourdieu (2004, p. 98) designa o habitus para o sistema de disposição para a prática, ou seja, porque o habitus faz com que os agentes que o possuem comportem-se de uma determinada maneira em determinadas circunstâncias. Esses conflitos e contradições decorrentes do exercício de poder e agravados pela crise de comunicação 124 constam em documentos, matérias e atas, mas não nas falas das pessoas entrevistadas. Eles serão analisados sob dois pontos de vistas: a) o ambiente complexo da atividade de consultor descrito por meio das entrevistas e b) a comunicação organizacional, 124 Viana (2001, p. 167) resume crise nas organizações: como a multiplicidade de eventos imprevisíveis, como poder de causar prejuízos incalculáveis aos cofres e à imagem das corporações. Ver também sobre esse assunto: FORNI (2006, p.363)

254 254 especificamente, a comunicação dirigida, pois não houve a distribuição das informações e, em alguns casos, respostas para todos os segmentos de agentes sociais e isso decorre da participação, que não é para todos, como pode ser constado no material de divulgação do Programa Piloto e das organizações MMA, GTZ, SEMA, BM. Além do problema de comunicação e opiniões de conceitos divergentes, quais seriam as causas das divergências e conflitos no âmbito do PPG7? Com o acirramento dos conflitos, procurou-se várias formas para amenizar as divergências. A Fundação Heinrich Böll (HBS), com o apoio do Instituto Socioambiental (ISA), promoveu o seminário Um novo modelo institucional para o PPG7, realizado em Brasília em 15 de maio de Participaram desse seminário 125 consultores, diretores e coordenadores de várias instituições que trabalhavam na implementação do PPG7 em A primeira parte do seminário foi apresentada por Roberto Smeraldi, diretor executivo da Amigos da Terra que explicou as origens e razões da crise do PPG7 e historiou gênese dos problemas daquele momento. Smeraldi (2001) cita vários problemas que contribuíram para a crise e conflito, entre eles: [...] Outro objetivo estabelecido pelo Programa que tem revelado problemas referese à diminuição do desmatamento na Amazônia. Os recentes dados sobre o desmatamento na região, entre os anos de 1999 e 2000, divulgados no dia 14 de maio último pelo governo, demonstram uma situação institucional mal-resolvida entre o Ministério do Meio Ambiente, onde está o PPG7, e outros três ministérioschave nesta questão - o Ministério da Integração Regional, o Ministério da Reforma Agrária e o Ministério da Agricultura que, por conta de suas políticas específicas, têm responsabilidade com o problema, mas nunca foram envolvidos nas discussões sobre o PPG7 ao longo de 12 anos. Portanto, este objetivo está no endereço institucional errado (SMERALD apud HBS, 2001, p. 3). A fala de Márcio Santilli, assessor da Coordenação do PPG7/ MMA resume a crítica ao caráter contraditório do Estado brasileiro. Nesse sentido, descreve a história da política brasileira de 1930 até o período atual e adverte: É interessante observar que sempre que se analisa seus problemas de funcionamento do Estado brasileiro nunca se consegue chegar a uma única conclusão, já que se trata 125 Conforme Relatório Seminário Fundação Heinrich Böll (HBS), 2001, os principais participantes do seminário foram: Adilson Vieira, secretário-executivo da Regional Médio Amazonas do GTA, Adriana Ramos, coordenadora do Programa de Políticas Públicas do Instituto Socioambiental (ISA), Aurélio Vianna Júnior, consultor; Betsey Neal, assessora da Rede Mata Atlântica (RMA); Carlos Aragon, secretário do Comitê de Coordenação do PP-G7/ MMA, Christoph Diewald, Banco Mundial, Claudionor A. B. da Silva, presidente do GTA, Hélcio Marcelo de Souza, assessor do Inesc, Iza dos Santos, secretária-geral do GTA, Jorg Zimmermann, coordenador do PDA/ MMA, Karin Urschel, diretora do escritório da Fundação Heinrich Böll no Brasil, Márcio Santilli, membro do Comitê de Coordenação do PP-G7/ MMA, Otmar Greiff, Embaixada da República Federal da Alemanha no Brasil, Rainer Willingshofer, Embaixada da República Federal da Alemanha no Brasil, Roberto Smeraldi, diretor da Amigos da Terra Amazônia Brasileira, Thomas Fatheuer, GTZ, Wigold Schäffer, assessor da Secretaria Executiva do PDA/ MMA.

255 255 de algo heterodoxo e esquizofrênico, no qual algumas partes funcionam muito bem do ponto de vista de sua clientela. Por exemplo, as partes do Estado brasileiro que mantém interface com as demandas do grande capital do país funcionam razoavelmente bem - lícita ou ilicitamente. O Estado brasileiro, portanto, tem esta característica de ser difícil para alguns e acessível para outros: para fazer políticas sociais é um sufoco, mas para fazer política econômica, dependendo da situação, funciona bem, sem entrar no mérito aqui a que modelo este bom funcionamento atende (SANTILLI apud HBS, 2001, p. 4). Na visão de Santilli (apud HBS, 2001) há uma crise na formação histórica e na relação das instituições públicas brasileiras e vários problemas institucionais, e encerra a apresentação com questionamentos, [...] Será que alguém considera exeqüível conectar mais três ou quatro programas similares ao PD/A no governo, envolvendo as atuais estruturas do Ministério de Desenvolvimento Agrário, por exemplo? Ou supor que o Pronaf ou o Basa vão lançar dinheiro no orçamento do MMA? Isso seria de uma complexidade burocrática imensa, lembrando ainda que o próprio MMA não tem quadros, não tem estrutura, não tem cargos de confiança, sendo quase fictício do ponto de vista estrutural. É este o ponto que temos que enfrentar nesta discussão. (SANTILLI apud HBS, 2001, p. 6) A posição da representação da GTZ representada por Thomas Fatheuer é otimista, o consultor não se sente a vontade em criticar o que está implementando, pois se posiciona como cooperante, assim, nesse seminário, não seria diferente: Outra novidade positiva é que, apesar de ser um programa tão complexo, há uma participação significativa da sociedade civil, que merece ser analisada. É ainda um programa que conseguiu implementar alguns subprogramas com certo sucesso, como é o caso do PD/A, do Resex e do PPTAL, que costumamos esquecer. Portanto, o PPG7 logrou alguns resultados significativos, não em relação a seus grandes objetivos, como o de evitar o desmatamento, mas em relação aos objetivos dos subprogramas, que merecem respeito como resultado. É algo que temos que resgatar neste processo. (FATHEUER apud HBS, 2001, p. 7). Apesar de visualizar os aspectos positivos, Fatheuer (apud HBS, 2001) menciona a rivalidade entre os níveis federais e o problema da comunicação, e de categorias também apontadas durante as entrevistas. Nas palavras de Fatheuer (2001): Outro ponto que ainda não está resolvido no PPG7 é uma certa rivalidade entre os níveis federais, como o MMA e o IBAMA, e os níveis estaduais e municipais de governo. Isso é algo que não foi bem trabalhado dentro do Programa e sabemos que é inevitável trabalharmos com os municípios e os Estados. É uma relação problemática, mas o PPG7 tem uma chance de melhorar isso, pois tem os vários níveis dentro de seus subprogramas. Falta um desenho mais conectado para os vários níveis de participação, com comunicação, primeiramente. (FATHEUER apud HBS, 2001, p. 7). Christoph Diewald do BM, concorda com Fatheuer (2001) sobre a questão da comunicação e diz que ela, está acima dos projetos, Pensou-se simplesmente na coordenação coordenação entendido como um conceito mais amplo que não é só o gerenciamento de projetos e de fundos do

256 256 Programa, mas também a parte da análise, do monitoramento, da comunicação e da articulação política, entre outras funções que estão acima dos projetos. (DIEWALD apud HBS, 2001, p. 10). Ao descrever essas contradições e a ausência de uma comunicação que promova a participação de todos os agentes sociais, também evidenciou que o desenho disperso dessa gestão culminou com uso de elementos de avaliação também disperso. Nesta pesquisa, o levantamento e análise dos dados ocorreram de forma continua e os resultados, de forma dispersa. A apresentação do resultado, segue uma ordem cronológica de data e de etapas no Brasil e na Europa durante o período de 2006 a Considerando o inicío do PPG7, em 199, e agestão dispersa de uma quantidade significativa de materiais produzidos pelas empresas (cartilhas, livretos, folders, sites teses e dissertações). Diante, desse material institucional, disperso e diferenciado das organizações (GTZ,GTA, MMA, SECTAM), buscou-se, primeiramente, os documentos mais acessíveis, disponíveis na web para depois entrar em contato com as organizações. Essa busca se deu de forma física (visita a bibliotecas e virtual). Constatou-se, durante as entrevistas exploratórias, no Brasil, que o consultor por prestar serviços para várias organizações omitiu críticas e sugestões sobre a organização e a execução da sua prestação de serviço, para manter boa imagem perante os colegas e as futuras organizações que pretende prestar serviços. As entrevistas, em sua maioria identificou receioo do consultor em apontar a visão crítica, assim como opinião acerca dos desafios na implementação dos projetos socioambientais na Amazônia 126. Segundo o depoimento de alguns consultores, Sempre há problemas e dificuldades, mas precisamos vencer tudo isso, porque não podemos criticar duramente aquilo que acreditamos e como colaboradores ajudamos na implantação (C.T) 127. Conforme sugerido por Foucault o poder como uma prática social constituída historicamente, nesse caso, não pode aparecer em forma de opinião, a experiência de vida profissional dos entrevistados. Observou-se, durante a pesquisa, que o Programa Piloto estruturou seu trabalho nas atividades de consultorias técnicas e científicas para implantar os projetos socioambientais na 126 É necessário refletir sobre cada relação de entrevista. Nelas, vários entrevistados sentiram-se inibidos e receosos e de certa maneira preocupados com a imagem das instituições diante da proposta crítica da pesquisa, cujo objeto de estudo são as ações das organizações por eles representadas. Diante dessa constatação, logo no pré-teste, embora tenha elaborado o termo de consentimento 126 para as entrevistas e todos tenham assinado, optou-se em trabalhar somente com as iniciais preservando a imagem do consultor (a), uma vez que esse aspecto era de extrema importância para os entrevistados. 127 Entrevista concedida durante o trabalho de campo na Alemanha 2008.

257 257 Amazônia. Ancorados na prestação de serviços de consultorias um conjunto de formas de relações institucionais, entre elas, a Cooperação técnica bilateral formada por dois organismos: a GTZ, que prestava serviços de assistência técnica e administrava os Projetos de Cooperação Técnica Brasil-Alemanha, e o DFID, responsável pela cooperação técnica britânica. A GTZ por ser empresa publica (privada) não pode e nem podia exercer todas as consultorias técnicas, pois não deve atuar como monopolista ; ela repassa os projetos por meio de concorrências no mercado, das quais participaram entre elas, consultoria técnica alemã e várias empresas, entre elas: GOPA 128 e GFA Consulting Group 129. A GOPA opera na África e em demais países da cooperação com a Alemanha e a GFA, além da África, tem experiência no Brasil, notadamente no projeto PRORENDA; corredores ecológicos e outros, conforme entrevistados (G. M) 130. Os relatórios e as entrevistas confirmaram que foi constituído um conjunto de formas institucionais Houve reuniões anuais e semestrais dos Participantes para reavaliar o quadro das políticas globais que regiam o Programa, em algumas vezes, consistiam em verdadeiros embates, mas o objetivo era discutir a estrutura interna do Programa e do Fundo Fiduciário das Florestas Tropicais - RFT 131 e também para analisar o avanço na implementação; revisar experiências e lições apreendidas, conforme relatório do MMA (BRASIL, 2004). Foi constituída uma Comissão Brasileira para definir a estrutura financeira de cada projeto, cujos objetivos eram acompanhar e supervisionar os fluxos dos fundos RFT e cofinanciadores, dessa forma, assegurava a contribuição e contrapartida brasileira. O Decreto n 563, de 05 de junho de 1992 criou essa Comissão interministerial com a função de Secretaria Executiva (modificada pela portaria MMA n 102/97) responsável pela articulação entre a Comissão e as Secretarias Técnicas dos Subprogramas e pela implementação do Programa Piloto. O papel das Agências multilaterais foi importante, e o PNUD administrou recursos e assessorou a preparação e a implementação de projetos com as ONG. Nessa fase, o PNUD e o Governo Brasileiro assinaram um convênio guarda-chuva. Houve também a participação de várias agências (BID, FAO) para o gerenciamento dos pequenos recursos ou de assessoramento técnico. As Organizações não governamentais ONGs brasileiras ou estrangeiras desempenharam um papel ativo na preparação e implementação dos projetos, 128 Ver (GOPA, 2009). 129 Consultar (GFA, 2009). 130 Entrevista concedida em dezembro de A Resolução do RFT e do Decreto 563/92 de 25 de fevereiro de 1994 foi o documento formal põem fim aos embates teóricos e estabeleceu as obrigações entre Governo Brasileiro e o Banco Mundial. A partir de então, houve obrigações e direitos e dessa maneira iniciou-se a implementação do Programa.

258 258 permitiram como apontado pelo MMA (BRASIL, 2009b, p. 18) que o PPG7 pudesse se beneficiar de suas experiências. O IAG constituído por peritos em temas brasileiros e amazônicos, teve como objetivo apresentar relatório técnico sobre relações entre o Programa e as políticas brasileiras. Com essa gestão, pretendeu-se assegurar a coordenação com programas bilaterais e posicionar-se sobre o projeto executivo inicial e assessorar o acompanhamento dos projetos. Estas avaliações foram dirigidas ao Governo Brasileiro, Bancos e doadores, nas reuniões anuais de participantes. As entrevistas realizadas com quatro membros do IAG revelaram o perfil do consultor independente que representava seus países no G7. Eram profissionais considerados autoridade em estudos Amazônônicos, todos falantes fluentes do português com experiência sobre a problemática social e ambiental na região Amazônia. Entretanto, no Programa Piloto não prezavam de boa imagem, pois suas visitas eram associadas à intervenção e criticas. Essa afirmação foi dada em entrevistas de consultores que representavam instituições brasileiras e em artigos como de Rosineide Bentes que traça uma visão da consultoria realizada durante o PPG7. [...] os poucos recursos do PPG-7 voltam-se, em grande medida, para os países ricos, pois o PPG-7 destina a maior parte de seus fundos para consultoria e coordenação de projetos, tarefas executadas por europeus e norte-americanos oriundos de centros de pesquisas e universidades famosas e recomendados por figuras de peso no meio científico e nas relações internacionais, mais alguns poucos brasileiros afinados com a perspectiva do programa. O sentido hierárquico-desenvolvimentista do PPG-7 se manifestou, também, no tratamento desigual aos profissionais brasileiros, em particular os amazônidas, tidos por tecnoburocratas, pesquisadores e acadêmicos estrangeiros e brasileiros como profissionais de segunda categoria: aqueles que fazem todo o trabalho, geram e fornecem dados, ganham relativamente pouco e dos quais se espera que se submetam à tutelagem daqueles. Salvando a Amazônia, os países do G-7 geram empregos para seus cidadãos e ainda interferem, diretamente, nas decisões sobre os modos pelos quais ela será salva. (BENTES, 2005, p. 229). Indagados, por esta pesquisa, sobre a visão que os brasileiros tinham do IAG e, sobretudo, na afirmação de Bentes (2005), um dos membros respondeu, Acho que nos intrometemos muito no andamento do projeto piloto, mas o que o Governo Brasileiro esperava? Queríamos que financiássemos os projetos ambientais e ficar omissos sem dar opinião ou sugestão? 132 O IAG merece um capítulo ou uma tese a parte, pois suas ações foram amplas e sempre com muitas recomendações, como consta no final de todos os relatórios dos 132 Entrevista concedida em dezembro de 2009 por um dos consultores do DFID que posteriormente tornou-se membro do IAG.

259 259 encontros, inclusive mencionando os nomes dos membros presentes. É um documento com assinatura. Nos acordos multilaterais, o BIRD elaborava Relatórios anuais de supervisão e de avanços encaminhados à Coordenação brasileira, responsável pelo monitoramento dos projetos no âmbito da coordenação do Programa. Nesses relatórios, observa-se a preocupação com a necessidade de articulação e coordenação multilateral, o que transparece nos documentos e nos propósitos de outros projetos realizados por outras organizações multilaterais. O BM, nos relatórios de 1992, enfatizava a necessidade de aproximação apontando que o PPG7, embora implementado pela Rain Forest Unit (RFU), deveria estar em coordenação com todas as outras atividades relacionadas ao meio ambiente realizadas pelo BIRD. Sobre esses arranjos Mello (2002) ressalta que, a definição, a priori, clara e explícita, de todos os arranjos institucionais, financeiros, políticos e de participação social, demonstrou uma clara falta de objetividade e de simplicidade. A complexidade, tanto de implementação e gestão quanto da necessidade de articulação política, tornou a implementação do Programa um verdadeiro desafio. (MELLO, 2002, p. 138). Desse modo, existiam compromissos simultâneos apoiados por recursos financeiros de diversos doadores e também por diversas cooperações técnicas. Nessa relação, havia convergências e divergências, pois se apresentava uma gestão dinâmica e inovadora, mas às vezes pouco objetiva. Pelo caráter inovador e pela falta de clareza, exigiu uma atenção especial para aprendizados e novas experiências dos agentes sociais envolvidos no Programa Piloto. Assim, baseada na leitura dos relatórios do IAG e das publicações do MMA 2004 e 2004, juntamente com as entrevistas realizadas com alguns membros do IAG, os primeiros anos foram marcados pela relação de trabalho baseado em normas mais rígidas entre os coordenadores e executores, uma vez que essa fase correspondeu ao momento em que se cumpriam as exigências para as validações dos Acordos entre o Brasil e os doadores. O quadro, abaixo, com a relação de doadores resume essa relação em termos de valores e força no relacionamento do Brasil com a cooperação internacional.

260 260 Valores da Cooperação Alemã para o PPG7 Áreas Temáticas Cooperação Financeira (em EUR milhões) Cooperação Técnica (em EUR milhões) Mata Atlântica 89,4 8,0 Áreas protegidas 54,0 11,5 Programa de Reforma Estrutural das Florestas Tropicais Uso sustentável de recursos naturais Regularização e proteção de terras indígenas Ordenamento territorial, desenvolvimento regional e fortalecimento institucional 40,0 0,5 47,6 11,7 28,6 8,7 20,5 14,6 Desenvolvimento Local 8,1 Sustentável Contribuição do governo 16,4 alemão ao Rainforest Trust Fund (RFT) Total 296,5 63,1 Quadro 6 - Valores da Cooperação Alemã para o PPG7- Fonte: MMA ver: (BRASIL, 2009b) As informações no quadro acima demonstram que os recursos disponibilizados pela Alemanha, por meio da cooperação técnica ou financeira, são mais expressivos e maiores se comparados aos recursos dos demais países doadores. Observa-se, portanto, que a Alemanha está mais envolvida com a cooperação para o maeio ambiente no Brasil, especificamente na Amazônia. Com base nesses dados, a atuação da RFA se deu de forma diversificada, com número maior de projetos, no âmbito do PPG7, e de consultores para a região Amazônica. Assim, se faz necessário compreender o campo competitivo das consultorias e a atuação do perfil de consultor que veio para a Amazônia implementar projetos sociombientais para, depois, descrever as práticas de comunicação dessa cooperação. 5.4 CONSULTORIA TÉCNICA: CONVERGÊNCIAS, DIVERGÊNCIAS E CONFLITOS A Cooperação técnica para o Desenvolvimento internacional da Alemanha consiste no esforço de forma planejada que atua conjuntamente com países desenvolvidos e países em desenvolvimento, com a finalidade de combater as dificuldades econômicas e socias de forma

261 261 sustentável (ALEMANHA, 2003, p. 12). Para atingir tal meta, estruturam-se várias formas de trabalho e metodologia baseadas em conhecimentos técnicos e científicos. Como o apoio às comunidades científicas dos países parceiros e a capacitação para instituições e agentes sociais. Desse modo, a RFA trabalha em colaboração com universidades, centros de pesquisas e várias instiuições da Alemanha (DED, DAAD, CIM). Observou-se, na pesquisa de campo, nos relatórios e nos materiais institucionais publicados, que uma das estratégias da Cooperação Técnica para o desenvolvimento implementada pela GTZ, juntamente com demais organizações alemãs DED, DAAD, CIM, GFA, GOPA é enviar por longo ou curto período um número considerável de pessoal técnico e científico para as instituições estrangeiras com as quais coopera. Desse modo, os consultores alemães chegaram a Amazônia em diferentes momentos. A consultoria técnica e científica foi a metodologia empregada pelo PPG7 para o intercâmbio de experiências, não só da cooperação técnica alemã, mas do DFID, USAID e CIFOR. Nesse sentido, em que se refere a cooperação técnica alemã é por meio do Centro de Migração Internacional e Desenvolvimento (CIM) que peritos e consultores chegam ao Brasil. De acordo com o CIM trata-se de pessoal experiente com a atuação no mercado de trabalho europeu (ALEMANHA, 2003, p. 28). Há também a participação de institutos e universidades que provem pesquisadores e técnicos que por meio do DAAD ou outras instiuições alemãs participam como consultores em projetos sociais e ambientais em países parceiros. No caso do PPG7, em especial na Amazônia, contou com vários tipos de consultorias técnicas e científicas, predominou a mediação do CIM e dos institutos e universidades (ALEMANHA, 2003). Mas afinal o que é consultoria? A consultoria situa-se na origem das relações humanas. E sob o ponto de vista da antropologia, é um traço comum às sociedades humanas, o surgimento de indivíduos adotados como guias, que aconselhavam suas comunidades em várias questões. Nesse sentido, estavam associada a problemas de relacionamentos, à tomadas de decisões para caça, pesca, guerra, e notadamente aspectos da saúde física e psicológica. Desta maneira, pressupõe-se que a consultoria deriva da tradição xamãnica, que também deu origem aos homens sagrados (sacerdotes). Pela literatura sobre o assunto, na antiga Grécia, os sacerdotes de Oráculos aconselhavam, em foram de consultorias, com base em observações sistemáticas e inteligentes dos fenômenos naturais. A consultoria, naquela época, eram as predições de homens dotados de poderes especiais, escolhidos pelos Deuses. Desse modo, Block (2001) e Oliveira (2003) afirmam que foi, nesse ambiente, que surgiram os primeiros filósofos e o ideal da busca do conhecimento e do entendimento

262 262 racional do mundo. Esse comportamento de aconselhamento também é comum em algumas comunidades dos povos tradicionais da Amazônia, se consulta o cacique ou o membro mais antigo que detém os saberes sobre determinada erva ou conhecimento tradicional. Na contemporaneidade, somente no início do século XX, a consultoria passou a ganhar a importância nos moldes da atividade hoje conhecida e caracterizada. Notadamente, nas décadas de 40 e 50, nos Estados Unidos e na Europa Ocidental, ocorreram importantes avanços na sistematização do trabalho de consultoria, com vinculação predominantemente técnica e científica aliada à experiência, fundamentada em teorias, mas sempre se considerou o foco nas soluções práticas. Com esse encadeamento de conceito, depreende-se que a consultoria constitui-se na transição do conhecimento e da experiência de um homem em prol de um objetivo humano. Em termos práticos, é a busca constante do saber preparado para o benefício de outrem. Há autores, que encontram na atuação da consultoria o lado útil de se estar prestando serviço a alguém na sociedade. Esse exemplo vem nas palavras de Peter Block para quem "A consultoria em sua melhor forma é um ato de amor: o desejo de ser genuinamente útil aos outros. Usar o que sabemos, ou sentimos, ou sofremos no caminho para diminuir a carga dos outros (BLOCK, 2001, p. 12). É o ato de conferência para deliberação de qualquer assunto que requeira prudência. Constitui-se na reflexão em busca de uma resposta por meio do mais adequado conselho ou sugestão na resolução de objetivos que se pretenda atingir. A literatura contemporânea acerca do conceito da palavra consultoria relaciona-se ao fato de gerenciamento de pessoas e atuação empresarial, staffs, consultoria interna e externa. Nesse sentido, é um processo interativo de um agente de mudança externo à empresa, ou a qual assume a responsabilidade de auxiliar os executivos e profissionais da referida empresa nas tomadas de decisões, não tendo, entretanto, o controle direto da situação (OLIVEIRA, 2003, p. 21). Do ponto de vista organizacional, a consultoria enquanto atividade profissional é o serviço de apoio aos gestores ou proprietários de empresas, para auxiliar nas tomadas de decisões estratégicas, com grande impacto sobre os resultados atuais e futuros da organização. Block (2001, p. 23) na introdução da obra Consultoria o desafio da Liberdade vai mais adiante com essa definição, quando esclarece que Uma pessoa está dando um consultoria todas as vezes em que tenta mudar ou melhorar um situação sem ter controle direto sobre sua implementação. Se tem controle direto, está gerenciando e não dando consultoria. Aqui está a diferença de postura entre os consultores e os membros do IAG.

263 263 Ainda na definição de Block (2001), é essa falta de controle e de autoridade do consultor que torna essa tarefa difícil, e em alguns casos, é um verdadeiro desafio. Na verdade, o foco da consultoria é definir a melhor alternativa de ação num ambiente de negócios repleto de incertezas, riscos, competição e possibilidades desconhecidas, que representam para os gestores da empresa ou organização um problema complexo e de grande importância, um desafio. Apesar da conceituação otimista de Block, essa pesquisa constatou que o campo da prestação de serviços da consultoria é competitivo e que a imagem e a opinião do consultor em função da execução dos projetos são controladas e administradas em todo momento de trabalho. A visão de uma consultora na Amazônia em projetos da GTZ. Os projetos de cooperação internacional implicam uma relação entre grupos-alvo, estado e agências de desenvolvimento e deve ser analisada neste contexto. Além disso, a cooperação para o desenvolvimento deve ser vista como uma arena social e política onde diferentes (burocráticos) culturas e interesses se chocam e têm que ser negociados. (Informação verbal) 133. O enfoque de gestão foi passado pela consultoria técnica Alemã nas comunidades, colaborando na gestão dos negócios tradicionais. Na Amazônia, quando da implementação do PPG7, os serviços de consultoria exigiram certa especificidade de serviços de consultoria, uma vez que, o foco foi a capacitação de instituições e respectivos agentes (funcionários) e os diferentes povos da Amazônia para ações de preservação ambiental. De acordo com Block (2001), essa prestação de serviços na atividade de consultoria constitui normalmente reflexo da atividade profissional de diagnóstico e formulação de soluções acerca de um assunto ou especialidade. A Consultoria pode ser prestada em qualquer área de conhecimento por pessoa ou pessoas (equipe) detentoras de determinado conhecimento. As consultorias mais comuns são as decorrentes de profissões regulamentadas, tais como jurídicas, empresariais, econômicas, mas não exclusivamente, já que outras atividades têm revelado especialistas em assuntos não vinculados a profissões regulamentadas. Os profissionais da GTZ que trabalham em projetos e programas de desenvolvimento no mundo são funcionários contratados e com vínculo empregatício, ou seja, são assalariados 134, portanto, trata-se de profissionais liberais. Aos funcionários responsáveis pela 133 Entrevista concedida em 28 de fevereiro de 2008, durante evento realizado em Berlim, Klima und Wandel in Amazonien Clima e mudanças na Amazônia. 134 Quando a GTZ atinge um número relativo de projetos, para não ter a prática do monopólio é aberto concorrência para as demais empresas de consultoria alemã. Assim,GFA ou GOPA acabam contribuindo em alguns programa de consultoria técnica no Brasil e na África e Ásia.

264 264 execução de projetos, em países estrangeiros são garantidos salários elevados para os padrões locais, mas são compatíveis com o mercado de trabalho europeu e pagos em euros. Além dos altos salários, há benefício para deslocamento (mudança), carro, moradia. O salário e os benefícios permitem uma vida confortável no exterior, para alguns consultores poupança, considerando que o custo de vida em países emergente é, em geral, inferior ao da Europa. Dessa forma, implícito no discurso oficial das parcerias e da ajuda, o campo da cooperação internacional para o desenvolvimento representa um grande mercado de trabalho para profissionais alemães no exterior, principalmente para as áreas de botânica, ecologia, sociologia agronomia, zootecnia, pedagogia, entre outros que, de maneira geral, são campos limitados na Alemanha Considerando abrangência e especificidade dos 26 projetos no âmbito do PPG7, a consultoria técnica alemã na Amazônia se diversificou nas áreas de conhecimento. Desse modo, houve convergência e, em alguns casos, divergências de vários campos técnicos, científico e tradicional que exigem tratamento interdisciplinar. Essa interdisciplinaridade está também relacionada à própria peculiaridade da prestação de serviço do consultor, vinculado ou não a uma organização específica, como é o caso da GTZ e do CIM. O consultor que se dedica totalmente a uma organização é chamado Consultor Interno (normalmente empregado desta), mas pode ter outro titulo formal, aquele que presta serviços ocasionais, o consultor Externo (ou Autônomo) por ser um empregado de uma companhia de consultoria. Há autores que consideram apenas o segundo como Consultor efetivamente (BLOCK, 2001, p. 32). Há empresas, a exemplo da GFA, que atuaram no PRORENDA e no PPG7, consultorias operando ao mesmo tempo. O consultor interno não substitui o externo, mas sim em complementação, ou seja, no caso da GTZ e GFA com as matrizes na Alemanha, servem de suporte e base para o que estão prestando serviços no exterior. O consultor interno é apoio e ponto focal dos projetos de consultoria, inclusive para minimizar as desvantagens das duas condições isoladamente. No caso do PPG7, os consultores que ficavam na Alemanha serviram de base e referência para decisões. Na consultoria interna, o profissional, normalmente, um funcionário da empresa, integra a estrutura organizacional, e está inserida em sua cultura e valores; a essa função, a cooperação alemã denomina de perito. Na consultoria externa, o consultor é autônomo, ou seja, no caso da atuação da GTZ no Brasil, na Amazônia, é contratado esporadicamente para atuar em determinado projeto ou moderar eventos, ministrar oficinas, realizar pesquisa sobre assunto específico. Nesse tipo de contratação, o consultor externo trabalha em equipe com outros consultores de outras especialidades.

265 265 Na estruturação e implementação dos projetos socioambientais, na Amazônia, observou-se que o consultor externo (brasileiros das instituições parceiras) possuía experiência teórica e mais prática consolidada que o interno (financiadores que apresentavam propostas e sugestões). Esse aspecto foi confirmado pela entrevista com a diretora da GFA que também atuou, no ano de 1987, no Programa Prorenda, em suas palavras: o consultor interno e as lideranças conheciam a região e eram os elementos de confiança local perante a comunidade e as instituições envolvidas (Informação verbal) 135. Por essa razão, espera-se que o consultor externo, de um modo geral, trabalhe com maior imparcialidade, destacado pelos altos escalões das instituições e sobre o qual haveria maior confiança. Ainda, este pode estar livre de "vícios" e deter uma visão diferente sobre os problemas praticados e questões que emergiram na empresa. Mas também existem desvantagens, [...] o consultor externo (contratado) possui menor conhecimento dos detalhes organizacionais e do projeto, uma vez que, normalmente não está presente diariamente na organização. Tem menor acesso a pessoas e grupos de interesse, além de possuir somente um contrato para aquela determinada ação de consultoria. (OLIVEIRA, 2003, p. 24). Existiram vários tipos de consultoria na Amazônia, segundo o atual coordenador da GTZ, com atuação de cooperante, (quando esse é um convidado externo que presta serviço pontual em determinada organização, evento etc.). Há tipos de consultorias quase que artesanal, o consultor, segundo Block (2001) usa metodologias específicas para cada organização em que presta serviço. Aqui, acredita-se que para cada tipo de negócio e cada tipo de ambiente existe uma solução diferente. Outra forma, segundo o autor é a consultoria pacote, em que o consultor usa um mesmo método para diferentes situações em diversas empresas, uma mesma fórmula para diferentes organizações. É preciso considerar que, no caso do PPG7, o objetivo da consultoria era a capacitação das instituições e agentes sociais para a implementação de projetos ambientais em comunidades tradicionais. A consultoria também tem por base a abrangência com relação à amplitude e à profundidade do trabalho do consultor. As características genéricas, desses aspectos, sãoos níveis hierárquicos considerados na contratação do consultor, o desenvolvimento, a implementação e o tempo de contratação. Nas diferentes modalidades, a consultoria especializada é aquela que age com mais ênfase dentro de apenas um dos setores da 135 Entrevista concedida em 28 de fevereiro de 2008, durante evento realizado em Berlim, Klima und Wandel in Amazonien Clima e mudanças na Amazônia.

266 266 organização, como o caso do CIM, DED e Inwent que atuam na formação das pessoas para o mercado, na Amazônia, estão trabalham na área de projeto de cacau orgânico nas comunidades de Bragança, no Nordeste paraense. De um modo geral, essas organizações têm atuado em projetos para o mercado e com prazos e resultados determinados. Não há estudos ou dados acerca da literatura sobre o mercado de consultoria técnica na área de desenvolvimento e meio ambiental e comunidades tradicionais, como a que ocorreu na Amazônia, no contexto do PPG7, pois a pouca produção acadêmica é realizada pela Fundação Getúlio Vargas e as demais editoras referem-se à consultoria de recursos humanos das organizações comerciais, cujos estudos enfocam a capacitação e a produção. Foram identificadas várias organizações de consultorias ambientais que atuam no mercado nacional e internacional, mas essas são especialistas em riscos, automação e técnicas agroflorestais e de reflorestamento. Algumas consultorias, no Brasil, atuaram junto a comunidade como o exemplo ASHOA 136, McKinsey & Company que publicou juntamente com a OXFAM e a Fundação Ford, livros sobre empreendimentos sociais sustentáveis. Há também empresas como a VALE e Petrobrás que contratam consultores e profissionais de relações públicas para abrir e manter canais de comunicação com as comunidades em seu entorno, mas as ações e resultados não são publicados e o público não tem acesso. Nesse sentido, o Deutsches Institut für Entwicklungspolitik (DIE) 137 (Instituto de Desenvolvimento Alemão - DIE) elaborou publicações que retratam, por meio de relatórios, as experiências dos consultores das organizações alemãs no exterior (África, Brasil, Índia etc), editadas em alemão e inglês e o DIE adverte que o conteúdo e a opinião são de responsabilidade do autor. Nada obstante, em termos de experiência, algumas publicações são interessantes para entender a visão dos consultores relacionadas aos desafios encontrados na Amazônia. A unidade ou reunião de consultores para implantar projetos ambientais pressupõe o confronto e união de vários campos do conhecimento, além do exercício do capital social e representação legal e simbólica do porta-voz como conceituado por Bourdieu, o mandatário, delegado, porta-voz, deputado, parlamentar, é uma pessoa que possui um mandato, uma comissão ou uma procuração para representar palavra extraordináriamente polissêmica -, que quer dizer, para mostrar e fazer valerem os interesses de uma pessoa ou de um grupo. (BOURDIEU, 2004, p. 189). 136 ASHOKA (2006) 137 Algumas publicações de consultores que descrevem experiências e desafios em países emergentes nos quais a Alemanha mantêm cooperação científica e técnica, assim como acordos bilaterais e multilaterais podem ser consultados no site do Instituto de Desenvolvimento Alemão. Ver. (DIE, 2009).

267 267 Representando seus referidos países e tendo que prestar contas às empresas matrizes instaladas em outro continente, os consultores visivelmente passam uma imagem de segurança, representando o que está em seu contrato, ou seja, cumprir o que está contido em um projeto, sob pena de não ficar no cargo ou mesmo dependendo do resultado não ser contratado pela empresa de consultoria concorrente. É um papel de representação social que exige o exercício do habitus para adequar-se a situações inesperadas e com novas abordagens como os conceitos que tiveram que passar sobre preservação, meio ambiente e desenvolvimento sustentável na Amazônia. 5.6 DISSONÂNCIA NOS DISCURSOS E NA COMUNICAÇÃO As organizações bilaterais (DFID, GTZ), focalizadas na relação com a GTZ, juntamente com as organizações não-governamentais, compostas por pequenos grupos, passaram a constituir as redes de solidariedade e, assim estabeleceram uma organização espacial estruturada, atingindo regiões distantes e de difícil acesso. Estas redes incorporaram diversos segmentos da organização civil, envolvendo associações ambientalistas e sociais, cooperativas, sindicatos e representações indígenas. A atuação foi dispersa, mas o enfoque principal das ações, por considerar área de fronteira e de avanço do desmatamento, esteve no Acre, no Amazonas e no Pará. Entre essas redes, duas consideradas grandes merecem destaque em virtude da sua amplitude, o Grupo de Trabalho Amazônico GTA e a Rede Mata Atlântica, fundamentais no aspecto de implementação de projetos e na participação do diálogo político. A experiência de trabalho conjunto, governo versus sociedade tem-se constituído na verdade, em um aprendizado de uma via de mão dupla: o governo aprende a trabalhar com a participação social e a sociedade exercita seu poder de negociação e de cidadania em um ambiente em fase de redemocratização. Alguns dos subprogramas demonstraram, ao longo da execução do Programa Piloto, maior visibilidade e interesse. A pesquisa identificou que isto deve-se em decorrência da atuação dos países doadores ou em virtude da forma mais engajada e dinâmica da sociedade. Evidenciou-se também que, os SPRN, o Projeto de Proteção e Demarcação de Terras Indígenas - PPTAL, o Projeto Resex, obtiveram uma rápida evolução em relação aos demais, já o PDA era disperso, mas abrangente no número de aprovação de projetos. Dessa maneira,

268 268 possibilitou evolução e resultados quantitativos e qualitativos em relação aos projetos. Outra constatação foram os discursos implícitos nas práticas de comunicação, que denotam claramente o exercício de poder, em especial, implantados pela cooperação alemã e perpetuados pela crise de comunicação que envolveu esses projetos gerando algumas contradições e conflitos, notadamente o PPTAL. De maneira geral, apesar das crises de comunicação na GTZ e, às vezes, na FUNAI e no MMA com alguns projetos como o PPTAL, destacam-se aspectos positivos nos documentos de avaliação do Programa, notadamente no Relatório Progresso de 2004, publicado pelo MMA, com índices de caráter inovador. A exposição dos resultados desses Projetos, foi significativa, ao ponto de serem utilizados como modelo, especialmente, os projetos de implementação de sistemas agro-florestais, apesar das práticas de comunicação e de disseminação desses conhecimentos não atingirem eficazmente o público-alvo, conforme membros do IAG entrevistados sobre algumas comunidades visitadas que, não sabiam que faziam parte do projeto piloto. Os projetos agro-florestais se concentraram na Amazônia Ocidental, especialmente nos Estados do Acre e Rondônia, e na Amazônia Oriental, no sudoeste do Maranhão. As entrevistas pessoais e os relatórios de impacto dos projetos divulgados pelo MMA e GTZ pressupõem que este delineamento geográfico de atuação está relacionado à questão do desmatamento, do grau de mobilização das ONGs e do engajamento das organizações de base (associações, cooperativas) nestas áreas. Os relatórios da GTZ (2008), do MMA (BRASIL, 2004) e as entrevistas confirmaram, uma Reunião Anual dos Participantes para reavaliar as políticas globais do Programa. Assim, discutir a estrutura interna do Programa e do RFT; analisar o progresso na sua implementação; revisar experiências e lições que emergissem. Também a criação de uma Comissão Brasileira para definir a estrutura financeira de cada projeto; acompanhar e supervisionar os fluxos dos RFT e de co-financiadores para assegurar a contribuição brasileira. Estas avaliações eram dirigidas ao Governo Brasileiro, Banco e doadores. Na Reunião Anual de Participantes, o BIRD elaborou o Relatório Anual de Progresso e Relatórios de supervisão e a Coordenação brasileira e monitorou os projetos de coordenação do Programa, na unidade brasileira. De acordo com relatório do IAG (2005), acreditava-se que, o PPG-7 poderia ser um vetor de transformação na Amazônia, assim, a estratégia estabelecida pelo governo, no período buscou consolidar mudança do campo técnico e científico na Região. A

269 269 ideia era instituir no aparelho de Estado uma capacidade de planejamento de gestão para construir parcerias com ONGs na Região e promover políticas públicas ambientais. Segundo Nitsch (2000), com o propósito de elaborar critérios e instrumentos para apoiar as questões ambientais com modelos mais direcionados para a Região, o Núcleo de Apoio às Políticas Integradas para a Amazônia integrou peritos e consultores nacionais e internacionais que formularam algumas propostas de negociação com os governos estaduais e agentes sociais importantes para o desenvolvimento da Região Amazônica. Nessa fase, seguindo as propostas do PNUD, houve investimento em capacitação do quadro técnico regional; adotou-se a concepção de nova metodologia na difusão do ordenamento territorial, como o exemplo do ZEE, houve a participação da comunidade científica nos debates sobre os modelos para o desenvolvimento da Amazônia; e a contribuição desta Região para os problemas globais. Assim, a questão das alterações climáticas, do aumento de emissões de gases de efeito estufa, da perda da biodiversidade associada aos desmatamentos mudaram o contexto regional e nacional, o que emerge com novos temas e discursos sobre o meio ambiente e a Amazônia (NITSCH, 2000). O termo capacitação, como proposto pelo PNUD na agenda global foi incorporado na implementação do PPG7, e, no relatório final do MMA de 2009, paarece 39 vezes e, praticamente, em todos os 26 projetos que obtiveram resultado por meio da capacitação de agentes sociais e das instituições, o relato da experiência sobre o PGAIs, As lições extraídas dos PGAIs comprovaram que a capacitação é um poderoso instrumento para a gestão ambiental efetiva e participativa, sobretudo na Amazônia, onde as dificuldades de comunicação e de acesso à informação são praticamente insuperáveis. Suas ações ganharam suporte por meio do PCA, que além de promover o fortalecimento da capacidade de gestão dos órgãos estaduais e municipais para a implementação de uma política ambiental e a fiscalização de seu cumprimento, também estimulou as organizações não-governamentais a buscar caminhos para a utilização sustentável dos recursos naturais. (BRASIL, 2009b, p.39). Do mesmo modo, em relação ao ProVárzea, Em termos gerais, Com o ProVárzea, o PPG7 viabilizou a capacitação de lideranças comunitárias para desenvolver o manejo de lagos e treinamento em monitoramento dos acordos de pesca. Essas experiências de gestão ambiental originaram-se dos pactos sociais sobre o uso dos recursos naturais com comunidades locais, populações indígenas e representantes das organizações da sociedade civil. (BRASIL, 2009, p.15). Entre os resultados relacionados à capacitação destaca-se o fortalecimento da capacidade técnica na Amazônia Legal, nas áreas de gestão territorial, zoneamento ecológico econômico participativo, direito ambiental, gestão de recursos naturais e gestão de recursos hídricos, beneficiando cerca de 500 técnicos nos estados. (BRASIL, 2009b, p.39).

270 270 Os termos capacitação e capacidade tornam-se hegemônicos, para as organizações em suas práticas de comunicação. A hegemonia de alguns termos, impostos na agenda global, e implementado na agenda local, não impediu dois tipos de conflitos surgidos inicialmente entre o BM e o Governo brasileiro, por meio das Secretarias Técnicas ou da Secretaria Executiva da Comissão de Coordenação, segundo Mello (2002) e Abdala (2007). O primeiro, refere-se à conceituação precisa da proteção dos recursos das florestas tropicais, das estratégias e dos tipos de atividades da política de recursos naturais. O segundo, diz respeito à esfera gerencial, no cumprimento dos procedimentos de projeto, das normas, e dos critérios do BM, do grau de detalhamento das cláusulas de financiamento cruzado e das condicionalidades para acessar os recursos, da quantidade de no objections, que, de certa maneira, ratificavam as posturas anteriores de insegurança dos doadores e do BM quanto à capacidade gerencial e institucional do governo brasileiro e de suas agências executoras, conforme as entrevistas e referidos autores. Relatado por três membros do IAG, havia disputa e contradições entre os próprios doadores, que defendiam posições antagônicas. Assim, segundo relato, os doadores os representantes do governo alemão KfW e GTZ, vinculados ao BM, e os representantes do DFID e da União Europeia que negociavam com os representantes dos Estados da Amazônia. A essência principal dessa questão foi a falta de clareza entre os objetivos propostos para o Subprograma que, para muitos doadores, configurava-se em projetos de gestão ambiental, para outros, em projetos de preservação ambiental. Para o BM, assim como para os doadores, os projetos de viabilização de novas alternativas sustentáveis estavam mais apropriados ao Subprograma Projetos Demonstrativos, em uma nova linha ainda não discutida. As divergências e contradições, ancoradas na ausência de precisão de conceitos, discutidos no contexto internacional, no momento da articulação da agenda nacional, encontravam embates e dilemas para repassar conceitos em canal de comunicação adequado à multiplicidade e diversidade de agentes sociais locais na Amazônia. Em resumo, cobtata-se à ocorrência de uma divisão de campos, de experiências e de opiniões. Em entrevista, o coordenador do PDA, no evento da HBS, em Berlin, no dia 28 de fevereiro de 2008, afirmou que a leitura da documentação que instituiu o Programa Piloto foi preparado pelo Governo Brasileiro, com assistência do Banco e da Comissão Europeia, sendo portanto, um programa brasileiro e cabendo ao Banco a gestão do RFT. As divergência foi agravada no documento que demonstra a luta de poder e a briga acirrada pela liderança das ideias e da gestão. Esse documento que dividiu opiniões foi a

271 271 minuta do Acordo de Cooperação entre o BM e os doadores propõem a participação do Banco em qualquer entendimento bilateral, a partir da assinatura de cada acordo em separado. De acordo com membros do IAG e consultores da GTZ e CIFOR, essa minuta circulou, após a Reunião dos Participantes, em outubro de 1997, em Manaus. Conforme esse acordo, todos os projetos, incluindo os bilaterais, passariam a ser regidos pelas regras do BM. O Governo Brasileiro apresentou resistências a essa proposta e conseguiu impedir os acordos. Os desacordos e divergências relacionadas também as ideologias e princípios dos consultores, observado nas entrevistas. Havia também a insatisfação pelo processo de negociação de cada um dos projetos, que o DFID caracterizava como lento e burocrático. Esse argumento contribuiu para que naquela época aceitassem a proposta do DFID de transformar em consultoria institucional (PPG7, 1999, p. 65). Não era somente o DFID que criticava a burocracia, outros agentes sociais, À medida que a execução do Programa avançava, um conflito crucial veio à tona relacionado às questões técnicas dos projetos e às disputas pela tomada de decisão, pois o Banco Mundial, como coordenador internacional, em nome dos doadores, colocava-se na posição de opinar sobre o conteúdo dos projetos; e, enquanto gestor do Trust Fund do Programa, aprovar, controlar e supervisionar o uso dos recursos financeiros. (MELLO, 2002, p. 142) Nas relações de poder num campo com conflitos institucionais como o PPG7, as regras e os discursos mais eloquentes e recorrentes se impõem às vontades dos agentes sociais, porta-vozes de suas instituições. Conforme, Foucault (1996, p. 37) o discurso está sujeito a procedimento de controle que determinam as condições de seu funcionamento, os quais impõem aos indivíduos que os pronunciam um certo número de regras. Ainda com Foucault ninguém entrará na ordem do discurso se não satisfazer certas exigências ou se não for, de início, qualificado para fazê-lo (FOUCAULT, 1996, p. 38). Como efeito, há a perda da potencialização da fala dos sujeitos, considerando que nem todos tem acesso aos procedimentos de controle. Em termos de mediação, interação e representação da Amazônia menciona-se o papel da OTCA, assinado em 3 de julho de 1978 pela Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela tem por objetivo promover ações conjuntas para o desenvolvimento harmônico da Bacia Amazônica e sempre relacionou a sua importância para a Amazônia como um importante ator social para as relações internacionais na Pan Amazônia. Assim, oitos países amazônicos estabeleceram relações multilaterais, para garantir a uma interlocução ativa e propositiva, no campo da cooperação regional, em favor de mudanças concretas na dimensão das políticas públicas.

272 272 Ao longo da sua história, considerando os aspectos críticos, analisados por vários autores (Samuel Pinheiro Guimarães), em especial, Argemiro Procópio com relação à OTCA e o Multilateralismo, 138 são raras as iniciativas da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica que fortalecem a integração entre os 8 países amazônicos, quando se trata de gestão voltada ao uso sustentável dos recursos naturais, para transferência de tecnologia e para a gestão do conhecimento (PROCÓPIO, 2007, p. 2). De acordo com Procópio (2007), em relação à inexistência de medidas contra a insegurança coletiva, as brutais desigualdades dentro do serviço público, privilégios e a falta de controle da miséria são alguns dos principais obstáculos. Os resultados difusos da cooperação, principalmente aqueles vinculados a organizações não-governamentais, parecem que não dizem nada aos governos amazônicos. Quanto a alteridade da OTCA e o desenvolvimento, a separação do multilateralismo amazônico sustentando-se em falhas estruturais, atrela-se a equívocos, inclusive os relacionados à filantropia ecológica que inviabiliza o dinamismo da cooperação e a sustentabilidade da sua eficiência. Um resumo das críticas de Procópio é a constatação de que a Amazônia, ponto focal das relações internacionais, não recebe atenção em termos políticos e diplomáticos, muito menos por parte do Estado, essa omissão reflete-se na OTCA desde a assinatura em 3 de julho de O resultado dessa não interferência direta é a pouca contribuição dos Estados Nacionais para o desenvolvimento sustentável em suas respectivas e distintas Amazônias que abre espaço para interesses de interfaces externas, ressalta Procópio (2007, p.1). Esse ponto importante atinge diretamente a governança e a soberania da Amazônia Legal, deixando um campo aberto para ONGs e agências bilaterais de cooperação internacional se entitularem porta-vozes da Amazônia na preservação ambiental. Nesse sentido, uma crítica relacionada à política externa dos países membros: A preguiça diplomática e a desmotivação de seus próprios membros para com a Organização não contribui para que ela promova o desenvolvimento sustentável para e com os povos amazônicos. Tampouco ajuda para que os Estados deixem de ser os mal empreendedores que efetivamente o são em suas respectivas amazônias. Talvez resida aí parte dos motivos dessa iniciativa diplomática, em mais de um quarto de século, pouco ou nada ter ajudado na melhoria de vida dos amazônides. (PROCÓPIO, 2007, p.4). O autor é enfático as falhas estruturais sobre a estrutura interna estão vinculada ao próprio sistema político de paternalismo e clientelismo. Nas palavras de Procópio (2009), 138 Ver mais detalhes sobre essa palestra: (OTCA, 2009).

273 273 [...] A insustentável situação de degradação ecológica e social na Amazônia debitase tanto na dinâmica econômica regional quanto nas mazelas das políticas nacionais. Dada a pouca mobilidade social e ausência de expressivas atividades econômicas, parece uma estrutura de casta aquela que abriga o alto funcionalismo público a serviço de inócua estrutura político-juridica monopolizadora das benesses do sistema. Cresce também nesta ambiência a caridade mentirosa de onde chegam as doses de paternalismo, por exemplo, bolsa escola, bolsa alimentação, bolsa saúde, bolsa atleta, bolsa moradia, fome zero, tristes neologismos das políticas de cesta básica e outras. Tudo isto inspirado na pedagogia de ganhar votos dando o peixe sem ensinar a pescar. Neste contexto beneficia-se o clientelismo que sequer chega aos excluídos das regalias e dos privilégios dos políticos, dos assessores da presidência e dos magistrados, entre outros. (PROCÓPIO, 2007, p. 2). A política paternalista e clientelista também foi apontada como entraves na implantação de projetos de cooperação técnica alemã, no relatório final 139 do PPG7, e nas consultoras/ pesquisadoras a Imme Scholz, e Regine Schönenberg (2007). Na visão das consultoras, qualquer tema de interesse público no Brasil terá que tratar com estas redes de troca dos favores políticos que abrange toda a administração pública brasileira, (SCHOLZ; SCHÖNENBERG, 2007, p. 98). Assim, a desorganização política generalizada e a ausência de sólida governança aliada à falta de informação abrem espaço para as intervenções, termo que substituiu cooperação criou distorções e discursos simplistas baseados no senso comum. É, desse modo, que muitos discursos e contradições atravessaram o campo da cooperação técnica e o debate foi para a mídia, em rede, nos papers e nos relatórios de especialistas sobre a Amazônia (KOLKS, 1996; SCHOLZ; SCHÖNENBERG, 2007). As autoras referem-se à política da Amazônia, influenciada pelo medo que as instituições brasileiras têm dos estrangeiros em deixar a região amazônica sob a custódia internacional. para se apropriar de sua riqueza. (KOLKS, 1996). Nas entrevistas, assim como nos relatórios, esse medo é um assunto constante das conferências, dos artigos de jornal e dos debates da Internet em Brasil. Nos relatórios e na maioria das entrevistas, isso força a cooperação internacional e os seus parceiros brasileiros (instituições) a serem cuidadosos e manter cautela ao se aproximar ou intervir no território brasileiro (SCHOLZ; SCHÖNENBERG, 2007). Assim, o trabalho da cooperação limitado faz que os doadores mudem a perspectiva em especial na Amazônia. Esse receio fundamentou o fato da qualificação de organizações brasileiras e os indivíduos envolvidos nas questões ambientais e nas técnicas para processos de negociação e de cooperação. Nesse contexto, percebe-se que o estabelecimento das redes ganharam importância (SCHOLZ; SCHÖNENBERG, 2007). 139 Ver publicação: (DIE, 2009).

274 274 Sob esse prisma, as entrevistas e relatórios foram unânimes os doadores não podem controlar (ou mesmo influenciar) os parâmetros políticos responsáveis pela reforma da política. Nesse sentido, afirmaram verbalmente que não podem interferir na política, social e econômica do país. Desse modo, podem somente investir na criação do conhecimento alternativo (opções sustentáveis do uso de recurso) e do capital social, a fim aumentar as oportunidades para reforma da política" (informação verbal) 140. Para as referidas autoras, como para os demais consultores entrevistados, capital social significa uma massa crítica das pessoas que pelo menos compartilham parcialmente de uma visão comum dos problemas e soluções possíveis para a gerência de recursos naturais e do desenvolvimento sustentável na Amazônia, baseada em experiências e práticas comuns com processos da negociação e da cooperação. A questão do enunciado capital social, categoria como conceituada por Bourdieu, presente nos relatórios e nas entrevistas, foi citada várias vezes, chegando a ser polifônica. Além dessa citação e da visão dos consultores, outro aspecto refere-se ao papel dos consultores como mediadores na execução dos projetos ambientais. Não se trata apenas de consultores com formação acadêmica, mas de profissionais com curso técnico, especialistas, mestrandos, doutorandos e pós-doutores que representando organizações internacionais (BM, BMZ, GTZ, KFW), escolheram a Amazônia para ampliar seus estudos têcnicos e acadêmicos por meio dos projetos socioambientais. Nesse campo, não apenas simbólico, os desafios e a construção de discursos ora hegemônicos, ora divergentes, foi o espaço para a prática do capital social e da relação de poder. Segundo Bourdieu (1989, p. 29), o conhecimento é poder e compõe o capital simbólico. As questão de segurança e governança e os enunciados se relacionam com os projetos sociais da Amazônia, é estudado por Argemiro Procopio (Os excluídos da Arca de Noé, 2005) e Andréa ZHOURI (O fantasma da internacionalização da Amazônia revisitado. Ambientalismo, direitos humanos e indígenas na perspectiva de militares e políticos brasileiros, 2002), entre outros. 140 Informação verbal concedida em entrevistas durante o período de estágio em Berlim (set./2008) e também citado no relatório do DIE (2009): SCHOLZ; SCHÖNENBERG, 2007.

275 DIFERENTES VISÕES E EXPERIÊNCIAS A partir de 2001, o Programa passou por um processo de reestruturação e discussão sobre o que foi a segunda fase. Na visão de Sondra Wentzel 141, o objetivo geral do PPG7 foi produzir novas experiências de harmonização entre objetivos ambientais, como proteção, e econômicos, voltados ao desenvolvimento sustentável, mais especificamente nas florestas tropicais do Brasil e, no processo, fornecer um exemplo de cooperação internacional em questões ambientais globais (WENTZEL, 2004). O organograma do PPG7, segundo a autora, é bastante complicado, pois possui diferentes comitês de coordenação e, até o final do seu artigo em junho de 2004, consistia em 25 projetos, a maioria deles executadas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). A verba total investida ultrapassou 400 milhões, e o maior doador do Programa foi o governo alemão. No contexto do PPG7, quase todos os projetos, pelo menos aqueles da Amazônia Legal, estão relacionados com os povos indígenas da região. Dois deles, especialmente, para atendê-los, o Projeto Integrado de Proteção às Populações e Terras Indígenas da Amazônia Legal (PPTAL), que começou em 1996 e apoiava a FUNAI para agilizar, ampliar e melhorar a qualidade da regularização fundiária das terras indígenas e para atividades complementares como estudos, capacitação e projetos indígenas de vigilância. Os outros foram os Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas (PDPI), no MMA, com sede em Manaus, que começou na segunda metade de 2001, com repasse de verbas em O PPG7 e seus projetos, sobretudo os destinados a atender os povos indígenas constituem um objeto extremamente interessante para diferentes tipos de análise da cooperação internacional, como, por exemplo, a antropologia do desenvolvimento, potencial aproveitado por diversos antropólogos. Neste artigo, considerado um relatório, Wentzel (2004) esboça as diferentes contribuições de antropólogos e da antropologia como disciplina no contexto do PPTAL e do PDPI, procurando identificar o que é especialmente antropológico, e aonde a antropologia chega a seus limites. A autora (consultora/ pesquisadora), como funcionária da GTZ e antropóloga alemã, oferece alguns comentários acerca de estudos recentes de antropólogos brasileiros sobre dois projetos e propõem alguns tópicos para futuras pesquisas antropológicas 141 A pesquisadora Sondra Wentzel quando escreveu o referido artigo era assessora da (GTZ; Agência Alemã de Cooperação Técnica) no PDPI (Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas), Manaus.

276 276 que complementariam melhor as perspectivas de fora e de dentro do sistema da cooperação internacional. A pesquisadora e consultora, ao mesmo tempo, durante a sua preparação, relata fatos sobre o PDI que geraram muitas expectativas em relação aos movimentos indígenas amazônicos e aos vários antropólogos brasileiros, devido a abordagem diferenciada, flexível e ágil, sensível para as necessidades e características do seu chamado público alvo altamente disperso e diverso (WENTZEL, 2004). O relatório chama a atenção à possibilidade interessante, no contexto da cooperação internacional, de aplicar um olhar antropológico a seus fenômenos e, no processo, complementar perspectivas antropológicas diferentes que se originaram tanto na formação acadêmica quanto no lugar atual de trabalho das pessoas. O sistema mundial é globalizado e interdependente, mas obviamente de forma assimétrica, há grandes diferenças na distribuição de recursos e poder entre países industrializados e o resto do mundo, mas também em graus diferentes dentro de cada país. Como estratégia, a pesquisadora acredita que há necessidade de criar novas formas de cooperação internacional para apoiar mudanças estruturais não só nos chamados países em desenvolvimento, senão também nos países industrializados. A chamada cooperação internacional para o desenvolvimento obviamente faz parte deste sistema assimétrico, apesar de ser um campo político marginal nos países industrializados com recursos comparativamente limitados. Como autora dentro do sistema, considera pouco produtivo realizar estudos para comprovar a existência destas relações de poder e de desconstruir as divergências que existem entre os discursos das diferentes agências e sua prática. O conceito de desenvolvimento tem uma trajetória problemática evolucionista e etnocêntrica. No Grupo de Trabalho de Antropologia do Desenvolvimento, da Associação Alemã de Antropologia, procurou-se defini-lo de uma forma antropologicamente aceitável: Melhoria na situação de seres humanos, segundo seus próprios critérios e objetivos no contexto de uma responsabilidade global compartilhada (WENTZEL, 2004, p. 53). Desde o começo da cooperação internacional, houve críticas e debates intensos sobre a estrutura e o funcionamento da indústria do desenvolvimento. O que mais se questiona, por diferentes motivos, é a continuação da chamada cooperação técnica, ou seja, a necessidade de enviar e receber os peritos estrangeiros. Na Alemanha, apesar das contribuições potenciais da antropologia e de muitas mudanças na indústria do desenvolvimento, a antropologia do desenvolvimento avalia o impacto tanto na antropologia acadêmica quanto nas políticas públicas.

277 277 Ainda segundo Wentzel (2004), a antropologia do desenvolvimento é um braço da disciplina com postura ética e política, destinado a contribuir para a solução de problemas da humanidade. Em geral, e sobretudo no Brasil, onde a maioria dos antropólogos sempre trabalhou em casa, ainda é preciso mais discussão sobre o que é (e não é) antropologia do desenvolvimento. Como disciplina, ainda não tem um papel bem estabelecido. Há poucos antropólogos como funcionários permanentes e consultores no Ministério de Cooperação Econômica e Desenvolvimento, no Banco Alemão de Desenvolvimento e na GTZ. Existem algumas diretrizes gerais do BMZ para as áreas de preocupação e interesse da discussão do artigo, por exemplo, a importância dos chamados fatores socioculturais e da participação nos projetos, e sobre a cooperação com os povos indígenas na América Latina. Na GTZ, competência intercultural é considerada uma qualificação necessária para seus assessores ou assessoras. As contribuições antropológicas, estas deveriam ser avaliadas criticamente de fora, também é difícil saber como a situação teria sido sem estes antropólogos, ressalta WENTZEL (2004, p. 13). Entre elas, destacam-se, a sensibilidade para a complexidade da tarefa e sensibilização dos seus colegas não-antropólogos que com abordagem antropológica, estabeleceram e mantiveram bons contatos como o movimento indígena e o mundo acadêmico. Como está é uma área mais inovadora e conceitual e metodologicamente ainda menos elaborada, a autora finaliza o artigo com uma proposta para ampliar e complementar a abordagem da incipiente antropologia da administração pública. Em relação ao contexto histórico entender melhor as complexidades políticas e institucionais da cooperação internacional e instituições integrantes para chegar além do diagnóstico óbvio de interdependências assimétricas. Em relação à relevância prática, aproveitar melhor os escassos recursos disponíveis para ter mais impacto positivo. A autora conclui que para conscientizar essa proposta de abordagem, dois temas são interessantes para o PDPI, o primeiro, o impacto das medidas de combate à corrupção, nos dois lados da cooperação, e a viabilidade dos projetos e formas alternativas de organização. O segundo, a relevância, ou não, para a cooperação internacional, das novas iniciativas de política indigenista fora do âmbito da FUNAI sejam em outros órgãos federais (MMA, MDA etc) sejam no nível estadual (por exemplo, no Acre, Amapá, Amazonas e Roraima) (WENTZEL, 2004, p. 78) Ver mais detalhes sobre o relatório e abordagem da autora: (WENTZEL, 2004).

278 278 Além dessa abordagem antropológica que confirma as evidencias das crises e diferentes visões do projeto PPTAL é também do campo da antropologia que emergem as críticas e os conflitos mais acirrados relacionados às questões de comunicação desse projeto. A ação de planejar as atividades desenvolvidas ao longo dos Projetos e o Programa são imagens da organização da instituição, um possível insucesso relaciona-se à noção de planejamento e as formas como essa se comunica com seus diferentes públicos. Nesse caso, específico aqui, se discute o caso do PPTAL e a postura da comunicação institucional da GTZ. As atividades da equipe da GTZ com pouca visibilidade, aparecem mescladas com a descrição das ações do PPTAL, que dificultam o trabalho de avaliação. Segundo Almeida (2001a), as ações de planejamento do PPTAL e da GTZ para catalogar essas atividades são descritas nos relatórios específicos e conforme a Avaliação Independente para a GTZ, Contrato No. 122A/00, realizada e coordenada pelo pesquisador e antropólogo Alfredo Wagner Berno de Almeida realizada em Nestes relatórios, não se encontra um tópico específico relativo à GTZ. À exceção do Relatório de Atividades do Primeiro Semestre de 1998 (p.31 a 35), que tem referências em separado e possui um tópico intitulado Cooperação Técnica através da assessoria externa da GTZ os demais não privilegiam a ação da GTZ. (ALMEIDA, 2001a). Ainda segundo Almeida (2001a), [...] o repertório de atividades da GTZ foi reorganizado para se obter mais clareza, não propriamente a partir dos relatos e registros da própria GTZ, mas das ocorrências que o PPTAL relatando menciona a GTZ. Pode-se adiantar, portanto, que neste contexto, a GTZ é falada pelo PPTAL numa diversidade de situações. (ALMEIDA, 2001a). Assim, segundo o relatório do pesquisador, com a proposta de suprir as lacunas foram consultados os Relatórios Anuais correspondentes a 1998, 1999 e 2000/julho e os chamados Planejamentos de Atividades em forma de matriz correspondentes a 1999 e Para sanar dúvidas e dirimir equívocos recorremos ainda aos POAs (Plano Operativo Anual) do mesmo período. Foi também compulsado o relatório da Oficina de Planejamento das Atividades para o ano Para superar essas dificuldades foram coletadas informações dispersas, que mencionam explicitamente a GTZ, diluídas nos Relatórios Anuais do PPTAL. Nos gêneros de documentos, destacam -se o planejamento do quadro técnico da GTZ e depois o confronto com o que foi mencionado e realizado pela GTZ. Todas as menções explícitas à GTZ foram transpostas para um quadro comparativo de atividades para que possíveis reflexões.

279 279 Como os elaboradores dos relatórios não usam o planejamento como referência para descrever a atividade realizada, ficou a critério desta equipe de pesquisadores (da consultoria independente) de avaliadores classificar a atividade em consonância com o planejamento. O resultado revela que os relatórios não se coadunam nem com o Planejamento de Atividades anuais, nem com a Matriz do Plano Operacional (2000). As informações dispersas nas atividades de consultoria, ocorrem entre peritos e consultores. Conforme relatório do antropólogo e pesquisador Alfredo Wagner Almeida, as informações dispersas foram agrupadas em dois grupos: as ações não planejadas, mas realizadas; e as ações planejadas e realizadas. Assim, foi feito um recorte das atividades, no corpo dos diversos documentos, que não permitu mensurá-las. Primeiro porque não foram construídos propriamente indicadores e, depois, porque não se detectaram, apenas há indícios de ação que não foram exatamente objeto de registro quer seja para fins de planejamento, quer seja para relatório de atividade. O resultado ora apresentado, consistiu, portanto, num quadro com atividades diversas extraídas da leitura dos documentos referidos. As informações arroladas sobre atividades, na maioria das vezes, são lacônicas e sem poder descritivo. Com os dados fragmentados tentouse comparar, embora precariamente, o que foi planejado e o que foi efetivamente executado. Assim, destacaram-se as colunas marcadas por lacunas sem informações, simbolizadas por um x no seu interior. Na Matriz do Plano Operacional 2000, de 1999, estabeleceu correspondência entre o planejado e o realizado, a atividade e o nome do responsável ou encarregado pela sua implementação, além do cronograma subdivido mês a mês. Na Avaliação da Matriz do Plano Operacional 2000, de dezembro de 2000, incluirm as ações finalizadas, aquelas por realizar, causas etc. omitindo, paradoxalmente, o nome do responsável e o tempo da provável execução. Percebe-se que os documentos não são necessariamente coadunados entre si. Os instrumentos de planejamento e acompanhamento das ações do projeto PPTAL e da GTZ somam três, entregues a esta avaliação, denominados de matriz lógica, a saber: 1) Matriz Lógica do PPTAL (proposta) posteriormente renomeado Esquema de Planejamento de Projetos (EPP); 2) Matriz de Planejamento de Projeto (MPP); 3) As novas propostas do GTZ (resultados e atividades). Se confrontados com a noção burocrático-formal de matriz lógica, adotada por outros órgãos de cooperação internacional, tem-se a impressão que esses documentos são bastante restritivos em termos de previsibilidade da ação do projeto. Já que, em primeiro

280 280 momento, não propiciam uma compreensão do todo e das partes do projeto em termos de prioridades, temporalidade, alocações de recursos e espacialidade. Caso se estivesse diante de uma estrutura burocrático-formal, tais instrumentos colocaria-se -iam como obstáculos para as etapas, neles não previstas, de monitoramento e avaliação das atividades realizadas. Sublinhe-se que a referida matriz lógica não antecede às ações do projeto e se delineia ao longo do processo, na medida em que, a existência desse instrumento, com seus indicadores de impacto, passa a ser cobrado pelas sucessivas equipes de avaliação. É possível que a fragilidade ou inexistência da matriz lógica burocrático-formal, ou seja, seja parcialmente superada pelo Plano Operacional Anual que permite uma visualização racional das diferentes atividades a serem desenvolvidas. A seguir comentários que resumem e comprovam a deficiência de comunicação e articulação entre os agentes sociais e a proposta do projeto sobre alguns instrumentos apresentados, aqui se privilegiou a informação, Esquema de Planejamento de Projetos (EPP) - Tomando-se como referência a matriz lógica burocrático-formal, percebe-se a princípio uma insuficiência de informações para a visibilidade global do projeto, tendo em vista que apresenta somente os objetivos geral e do projeto, os resultados, os indicadores, os meios de verificação e os pressupostos, faltando, por exemplo, um quadro demonstrativo dos resultados e suas respectivas atividades necessárias para o alcance do objetivo. (ALMEIDA, 2001b). Com essa constatação, Almeida faz uma espécie de advertência, O enfoque do objetivo geral da matriz é a sobrevivência dos índios (note-se sobrevivência e não melhoria das condições de vida), que se daria via regularização e proteção das terras indígenas. Uma questão relevante não contemplada na listas dos indicadores é o conflito com os não-índios que residem em terras indígenas, uma das situações mais problemáticas para o processo de regularização das terras. (ALMEIDA, 2001b). Além da ausência da comunicação institucional, segundo os pesquisadores é, Para bem-estar das populações indígenas na Amazônia Legal melhorando e aperfeiçoando a conservação de recursos naturais em terras indígenas (Cf. MPP, 2000). Aqui há uma associação da ideia de bem-estar com a ideia de conservação dos recursos naturais, quando deveria prever a relação do homem com o meio ambiente de forma sustentável. A relação antrópica não foi focalizada de maneira detida. (ALMEIDA, 2001b). Constata-se nessa citação que os problemas concentuais sobre a temática meio ambiente conservação, qualidade de vida e natureza permaneceram e persistiram como consenso.

281 281 A intervenção direta compreende reuniões, seminários, cursos, levantamento de informações prévias à formação do GT de Identificação junto à FUNAI local e contatos com lideranças indígenas, definido, nos documentos, como acompanhamento indígena, objetivam seguir os trabalhos de demarcação, incluindo-se aqui cursos e treinamentos com GPS, por ex., bem como o cronograma de acompanhamento, as estratégias de ação com aliados e participação nas reuniões de lideranças indígenas com as empresas responsáveis pela demarcação. Há utilização da técnica de comunicação dirigida aproximativa, mas a falta de planejamento impossibilita a disseminação dessa informação para os diferentes públicos (agentes sociais). A ausência de comunicação institucional por parte da GTZ aliada a não utilização de indicadores, não aferiu resultados, como já citado nos discursos de Santilli (2001) e confirmado pela experiência de Almeida (2001) no PPTAL: Considerando-se, finalmente, essas intervenções e as demais ações da GTZ a partir dos relatórios das atividades desempenhadas pelo PPTAL importa frisar que na documentação relativa ao projeto em geral não há indicadores que permitam avaliar quantitativamente os resultados da cooperação técnica. Não há como tomar o cumprimento de metas físicas como base de aferição e análise, privilegiando-o como indicador mais apropriado para medir o grau de intervenção da GTZ através do PPTAL. (ALMEIDA, 2001b, p. 12). A afirmação do pesquisador está baseada em alguns aspectos citados no relatório apresentado sobre a GTZ e o PPTAL. a computação do número de hectares delimitados e demarcados; o mapeamento das terras indígena, plotando-as convenientemente; o número de sistemas de radiofonias instalados nas terras indígenas; a quantidade de cursos, treinamentos, workshops, seminários, oficinas realizados; o número de viagens às áreas focalizadas, em determinado período de tempo; o número de manuais produzidos; a quantidade de estudos e de consultores contratados, eventual e permanentemente; ou o número de exposições, vídeos ou ainda pelo número de livros, artigos, folders Almeida. (ALMEIDA, 2001b, p. 13). Os técnicos do DEID - Departamento de Identificação e Delimitação da FUNAI foram entrevistados e confirmaram o conflito do trabalho relacionado ao duplo papel do consultor entre executar o projeto e atender as populações alvo da cooperação, a fala transcrita nos relatórios de Almeida (2001b), mostra a dualidade entre veto da GTZ sob a alegação de que isto não estava previsto nas atividades, não estava previsto no orçamento e que, portanto, não foi acordado para ser financiado. O corte foi atribuído ora a GTZ, ora ao KfW, neste foi mencionado explicitamente o nome da cooperante que acumula a responsabilidade pelas duas funções de cooperação.

282 282 Este cargo que hoje é ocupado pela Carola ele tem dois lados, ela sempre cumpre dois papéis: o da cooperação técnica e o papel da KfW, a cooperação financeira. Por um lado apóia a gente fornecendo peritos e promovendo encontros no que se necessita no sentido de apoiar tecnicamente o projeto, mas de outro lado é ela que analisa nossa prestação de contas, é ela que aprova ou não os nossos termos de referencia, é ela quem dá o no-objection. É um papel difícil no sentido de que ela tem uma função simpática à instituição e outra antipática, quando ela cobra, glosa uma despesa, manda a FUNAI devolver dinheiro e assim por diante (ENT. n. 15). (ALMEIDA, 2001a, p.13). Almeida (2001b) explica que os vetos não são associados à cooperação financeira necessariamente. Como o próprio PPTAL, é visto pelos técnicos da FUNAI, como uma fonte de recursos gerenciada pela GTZ, é para este ponto se voltam suas representações. Atribuem os cortes a certa inflexibilidade da GTZ, ou seja, à cooperação técnica. Isto porque, segundo eles, relativiza-se a sequência de procedimentos previstos como desvio de finalidade sob o argumento seguinte: Se é para fazer identificação o que deve ser financiado é o GT, o trabalho do GT e não estas atividades correspondentes ao que estão chamando de préidentificação. Assim, este tipo de formulação acentua mentalidade de planejamento fechada, que se esconde numa ilusão de severidade e rigidez como se a GTZ, ao recusar qualquer ato de flexibilidade do acordado, estivesse todo o tempo combatendo ações viciadas paralelas aos objetivos na antiga FUNAI. Esta postura inflexível, aos olhos dos técnicos do DEID, impede procedimentos inovadores para aprimorar as identificações ou até acelerá-las. Por fim, Almeida (2001, p.13) conclui, No discurso dos técnicos o veto ademais se torna incompreensível já que esta aludida pré-identificação tem fundamento legal na Portaria 14, de 9 de janeiro de 1996 e poderia ser acatada sem delongas. Por fim, apropriando-se das palavras de Almeida (2001a), que aqui foram analisadas sob o ponto de vista da ausência do cuidado na comunicação de agentes sociais, o antropólogo, constatou, também que mesmo os relatórios de auditoria evidenciam a incorreção de se tomar indicadores meramente quantitativos (baseados em números, valores, objetivos e metas a alcançar) como fundamento para delinear os resultados, indagando as causas e os porquês dos entraves expressos numericamente. O reconhecimento deste procedimento avaliativo implica numa crítica aos indicadores quantitativos tal como expressos nos relatórios das chamadas Missões, ou melhor, nas denominadas ajudasmemórias, que enfatizam a cobrança de resultados pelo cumprimento das metas físicas correspondentes a cada um dos componentes originais do projeto. Semelhante postura reforça a pouca flexibilidade deste tipo de planejamento e nutre a ilusão de severidade e rigor que

283 283 caracteriza alguns atos de gestão restritos aos vetos. Assim, se conclui que os discursos interferirem nas ações e experiências desses agentes sociais, conforme Almeida (2001a). 5.8 DISCURSOS DO PPTAL E A CRISE DE COMUNICAÇÃO Na descrição da execução de projetos no PPG7, observaram-se nas relações sociais, para implementar projetos ambientais na Amazônia vinculados aos acordos da agenda global, as mudanças importantes na interação das organizações públicas e privadas com os diferentes públicos (agentes sociais ). Essa interação trouxe bons resultados, como apontado pelos relatórios do MMA (BRASIL, 2009b), mas propiciou embates quase inevitáveis entre valores locais e globais, que se intensificaram com as demandas e as expectativas pautadas na pluralidade e na diversidade cultural das populações tradicionais da Amazônia, o que revelou não só contradições, mas o poder implícito nos discursos, abafados e escondidos na crise de comunicação de conflitos e das questões sem resposta. De acordo com Bueno (1995), os conceitos de comunicação e cultura organizacional emergiram com vigor, sinalizando a necessidade de estabelecer parcerias e relacionamentos, centrados na ética, na transparência e na responsabilidade com a sociedade. Especialmente, a Comunicação Organizacional assumiu um novo perfil, que se caracterizou pela transformação de sua perspectiva tática em uma instância estratégica, definindo-se como instrumento de inteligência competitiva no cenário global (BUENO, 1995, p. 14). O cenário global descrito constata que o reposicionamento do conceito e da prática da Comunicação Empresarial vem sendo trabalhado há algum tempo, pela inserção gradativa das organizações no mercado e na sociedade. A sustentabilidade institucional e a competitividade nos negócios, são parâmetros que definem as organizações modernas, em um diálogo permanente com os públicos de interesse (agentes sociais) e com a opinião pública. A abrangência multidisciplinar da comunicação torna-se indispensável para que as organizações se antecipem aos fatos, a fim de gerar resultados positivos. Isso exige agilidade no processo de tomada de decisões, mas somente se efetiva com garantia, se as organizações implementarem um sistema de transparência em relação ao meio ambiente e um compromisso com os diferentes segmentos de público na sociedade. A Comunicação Empresarial/ Institucional contemporânea reflete a dinâmica destas relações complexas como as descritas no PPG7, caracterizada pelas mudanças rápidas e drásticas no perfil das ações e dos acordos entre agentes sociais. Feitas essas distinções

284 284 conceituais sobre a Comunicação organizacional e o clima tenso do PPG7, emerge a questão, afinal o que é crise na comunicação? No âmbito da gestão das organizações, o estudo das crises organizacionais é o campo de estudo e de prática profissional no exterior desde a década de 70. Muito se fala sobre administração de crises, mas no Brasil, a literatura acerca do assunto aponta que ainda são poucas as pesquisas em torno do assunto. Nesse sentido, a área difundiu-se mais entre os profissionais de Relações Públicas e Comunicações Institucionais, entretanto, a familiaridade não significa desenvolvimento de trabalhos acadêmicos. O conhecimento permanece restrito às consultorias e às grandes multinacionais divulgado aos poucos em congressos e em outros eventos profissionais de comunicações e de relações públicas, conforme Duarte (2005). Uma característica marcante do trabalho de comunicação organizacional é a administração de crises e conflitos. Nas últimas décadas, os movimentos sociais ganharam mais força, a sociedade está se organizando em torno de seus diferentes interesses exigindo respeito às diversidades culturais e sociais. Diante deste quadro, cabe as organizações, ampliar sua flexibilidade para adequar-se ao seu macroambiente, diminuindo os impactos de suas ações sobre a sociedade. Afinal, o que seria uma crise? De acordo com FORNI (2006, p.363), "qualquer coisa negativa ou que suscita dúvida que escape ao controle da organização e ganhe visibilidade" pode se tornar uma crise. Em entrevista a jornalista Cynthia M. Luz, o consultor norteamericano John Birch, que assessorou a Union Carbide no desastre de Bhopal, na Índia, quando morreram milhares de pessoas, definiu crise como "um evento imprevisível, que, potencialmente, provoca prejuízo significativo a uma organização ou empresa e, logicamente, a seus empregados, produtos, condições financeiras, serviços e à sua reputação [...]" (LUZ, 1993, p. 9-12). Segundo Forni (2006, p. 363), todas as organizações estão vulneráveis a crises. A diferença é que algumas, mais preparadas, principalmente do ponto de vista da comunicação, administram melhor os problemas. Outras deixam que os fatos, ou boatos, destruam a sua reputação. A maioria das crises de imagem, se bem administrada, pode ser superada [...]". No momento da crise, a comunicação institucional, além da manutenção da reputação da organização, trabalhar na superaração do problema. Na visão de Rosa (2001, p ), as crises podem ser dos seguintes tipos: "desastres industriais explosões, incêndios, contaminações."desastres naturais - tempestades, enchentes, desmoronamentos. "falhas em equipamentos ou construções - colapso na rede de computadores, queda de um edifício, defeitos em produtos industriais" de origem

285 285 criminosa - sabotagem, sequestros, fraudes, vandalismo." de natureza econômica - boicotes, greves, desvalorização das ações." de informação - boatos, intrigas, acusações de concorrentes." de natureza legal ações judiciais contra a empresa, pedidos de indenização." de reputação - denúncias de corrupção, vazamento de documentos internos." de relações humanas - sucessão no comando da organização, demissão de altos executivos, denúncias de funcionários." que envolvem risco para a vida - acidentes de trabalho, grandes contaminações." regulatórias - criação de obstáculos fiscais, legislação. Uma característica comum dessas crises é que elas não têm local fixo para acontecer. Um desastre ambiental no Brasil, por exemplo, é noticiado também em outros países, e em tempo real. Como diz Mitroff, no passado, as crises se limitavam ao âmbito da comunidade, atualmente, qualquer acidente interfere nas condições ambientais, sociais ou econômicas do planeta (FORNI, 2006, p. 367). Para Rosa (2001), [...] as crises só existem porque vivemos num mundo tão interligado que um problema que, em princípio, diria respeito apenas a uma empresa ou a uma comunidade distante pode adquirir imediatamente uma dimensão muito maior [...] (ROSA, 2001, p.24). Considerando esse aspecto global das crises, as empresas devem preparar um plano de administração de crises também global, que permita informar todos os públicos (agentes sociais) envolvidos em tempo real. Outro fato comum às crises é a repercussão rápida na mídia, por conta do sensacionalismo que podem representar para os veículos de comunicação e do espetáculo que proporcionam para a sociedade. Forni ressalta que as crises alimentam a pauta diária da mídia (FORNI, 2006, p ). Ainda na visão de Forni (2006, p. 363), a crise não ocorre apenas quando acontecem calamidades ou eventos de grande porte. Atualmente, a administração de crises preocupa-se também com fatos aparentemente simples e insignificantes e que assumem dimensões bem maiores do que as organizações imaginam (FORNI, 2006, p. 364). Por erros na condução, inexperiência ou precipitação acabam mal administradas na relação com seus públicos (agentes sociais) e a opinião pública. Foi justamente o que aconteceu com a organização GTZ na falta de tratamento adequado a alguns projetos no âmbito do PPG7. A GTZ na matriz da Alemanha conta com departamento de comunicação com política de comunicação adequada à estratégia de comunicação corporativa institucional e esses serviços são informados na web e em várias tipos de mídia impressa, onde deixa claro e seu termo de conduta, sua relação e responsabilidade de informação com os diferentes públicos.

286 286 Entretanto, a sede do escritório no Brasil, mesmo com um projeto com da amplitude e da complexidade do PPG7, não manteve e tampouco priorizou essa política de comunicação. Nassar (2003) deixa claro a questão da política de comunicação, da informação e da opacidade, Na produção das políticas de comunicação, a organização deve expressar seus valores e suas crenças acerca de suas mensagens, direcionadas à sociedade. Entre os valores de suas mensagens, a organização pode optar entre transparência e opacidade, proatividade e reatividade, distância e conveniência, padronização e diversidade, entre morosidade e velocidade. Essa decisão emana do comando organizacional, provoca percepções no ambiente dos públicos, e indica que não existe política de comunicação efetiva, construída fora dos territórios da alta direção (NASSAR, 2003, p. 28). Do mesmo modo que a GTZ não priorizou a comunicação institucional e os serviços de comunicação na sede em Brasília, o mesmo aconteceu com os projetos no âmbito do PPG7. Não eram informados dados ou qualquer notícia sobre o desenvolvimento ou resultados, negativos ou positivos. Essa pesquisa constatou que esses resultados e dados ficavam nos arquivos da empresa e circulavam apenas entre a rede de consultores. O catalógo de publicações do PPG7, de 17 anos de atuação na Amazônia e Mata Atlântica, publicado em 2009, pelo MMA, ilustra essa citação e comprova que apesar da publicação de várias cartilhas, a informação ficou restrita aos técnicos e consultores (BRASIL, 2009c). Esse aspecto das informações, foi constado logo nas primeiras entrevistas na Alemanha, quando uma ex-consultora da GTZ ficou surpresa diante da proposta da pesquisa de analisar as práticas de comunicação das organizações alemãs, afirmou que não via necessidade de informação sobre os projetos, pois tudo estava na Internet e todos os consultores sabiam, o que todos faziam na Amazônia e nas consultorias. Depois complementou não há muito o que explicar porque além de constar tudo na internet, todos os consultores envolvidos no processo avaliaram e sabem sobre o impacto de cada projeto e, além disso, as organizações parceiras estão cientes de tudo (D. S., 2008) 143. Essa afirmação produz muitos sentidos, mas o principal é a constatação de que essa informação estava em rede apenas para um segmento de agentes sociais (os consultores, peritos) quando deveria ser para todos os segmentos de agentes sociais e, em especial, da Amazônia. É a constatação que conhecimento é poder, e nas palavras de Foucault, o poder é algo que é exercido. De fato, a questão não era tão simples, pois a complexidade dos projetos, a amplitude e diversidade de agentes sociais não só exigiam uma comunicação institucional específica, 143 Declaração verbal em entrevista - fev

287 287 como também uma gestão para os acontecimentos e fatos relacionados à atuação das organizações na Amazônia Legal. Pelo escopo teórico dessa pesquisa, não foi possível descrever todas os discursos, sentidos e as contradições que envolveram a comunicação institucional da GTZ e das demais organizações alemãs que atuaram na Amazônia. Não contato com serviços de comunicação institucional, o encadeamento de alguns problemas de comunicação do projeto PPTAL, foi considerado, pelos entrevistados, a maior contribuição da cooperação técnica alemã com o Brasil no contexto do PPG7. Formado em antropologia social pela UnB e sociologia e política pela PUC, o acreano Terri do Valle Aquino ganhou visibilidade, no Acre, pelos 25 anos de trabalho dedicados à causa indígena. Em Brasília, Terri deu continuidade à causa que defendia aqui, desta vez em cenário nacional. Teve seu trabalho interrompido ao ser demitido do cargo de chefe da Coordenação de Identificação e Delimitação de Terras Indígenas da Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Em entrevista, Terri acusa o diretor de Assuntos Fundiários da FUNAI, Arthur Nobre Mendes, de perseguição e denuncia a maneira com que ele administrava o órgão junto à dirigente da GTZ, Carola Kasburg (AQUINO, 2004), conforme Jornal Folha do Acre de 29 de fevereiro de 2004 publicado no Portal UOL. O antropólogo defende também a política de governo do Acre à causa indígena e garante como exemplo para o governo federal. Ele considera a relação entre as Ongs e o governo do Brasil uma explosão desde o governo Sarney, Itamar Franco e se agudizou no governo FHC: Eu tenho medo que a sociedade queira dar um basta aos índios, quando na realidade é essa gente que está jogando eles contra a sociedade brasileira. Em relação às ONGs, ele diz Sou a favor da Ongs porque elas fazem um papel muito importante aqui desde o tempo da ditadura e eu criei uma, a Comissão Pró-Índio do Acre. Trabalhei aqui, mas não na FUNAI porque me demitiram com mais 60 antropólogos por pedirmos ao ministro do Interior, Mário Andreazza, que era coronel, para tirar outro coronel, o Nobre da Veiga, do cargo, porque ele estava com uma política de genocídio contra os índios. Já em relação à atuação da GTA na Amazônia, ele considera que Eles estão repassando dinheiro para a FUNAI e fazem exigências incabíveis. Ela que financia o PPTAL, dando dinheiro para identificar terras, fazendo divisão de limites e demarcá-las, mas interfere determinando para que tipos de atividades o dinheiro vai e aonde não vai. Ela interfere no trabalho do profissional dizendo o que tem de fazer, quais as terras que vão entrar e quais ficarão de fora.

288 288 E conclui que a GTA é uma espiã, pois é estrangeira que está em nosso país, instalada dentro da FUNAI, ao lado do gabinete do presidente, dizendo tudo o que ele deve fazer e o que não deve. Ainda em relação ao GTA, Terri Aquino afirma, que Tenho em mãos uma avaliação da diretoria de Assuntos Fundiários e tem o carimbo da GTZ. Isso tem de acabar. Não é essa alemã que vai dizer o que o Brasil tem que fazer. Eles dois são uma cobra de duas cabeças que é forte, grande, tem dinheiro, está encostada no poder do Brasil e isso o Lula não está sabendo porque índio parece que ainda não é problema para o Governo. Queria que ele seguisse o exemplo do Jorge Viana. Quando questionado sobre quem era Arthur Nobre Mendes e qual é a contribuição dele para a causa indigenista, ele responde: Ele foi presidente da FUNAI, agora é diretor e só tem poder porque essa Carola dá. E ele dá a ela. É uma cobra de duas cabeças e eu estou com a espada de São Jorge na mão ferindo as duas, mas sou fraco. Por isso quero apoio do governador, o irmão dele já deu. Quando se instaura uma crise de comunicação como essa, a sociedade fica sem reposta. Esconder informação é um erro. Um sem comentário ou um silêncio misterioso só acende a imaginação. Se a crise envolver o público, é função da mídia descobrir tudo que puder, com ou sem a sua colaboração (DOTY, 1995, p. 259). A GTZ utilizou a politica do silêncio e da indiferença. Diante disso ela não cumpriu com a promessa e discursos expressos em sua política de comunicação (Conduta Integra). Segundo esse documento, os Princípios de Conduta Íntegra, derivam dos valores comuns definidos em nossa "Identidade Corporativa" (GTZ, 2009, p.1). Nesse documento, que consta no anexo dessa tese, a GTZ expressa seu compromisso e solicita que esses princípios devem ser respeitados, Nós, as colaboradoras e os colaboradores da GTZ, orientamos nossa atuação segundo estes princípios e esperamos o mesmo das nossas subcontratadas. É nosso desejo que nossos parceiros de projeto e os grupos-alvo dos nossos projetos respeitem nossos princípios (GTZ, 2009, p.1). Nesse documento a organização explicita sua postura diante de seu público e com isso procura mantem sua imagem e identidade corporativa. Na verdade, a produção das políticas de comunicação, nos princípios sugeridos pela GTZ, expressa seus valores e suas crenças em suas mensagens, direcionadas à sociedade. Entre os valores de suas mensagens, a organização pode optar entre transparência e opacidade, proatividade e reatividade, distância e conveniência, padronização e diversidade, entre morosidade e velocidade (ANDRADE,

289 , p. 18). Com relação aos conflitos, no tópico Lidando com conflitos de interesses a GTZ se posiciona e afirma que Em nosso trabalho, podem surgir conflitos entre nossos interesses pessoais e os interesses empresariais da GTZ ou dos nossos parceiros de negócio, parceiros de projeto e dos grupos-alvo dos nossos projetos. Informamos nosso(a) superior hierárquico(a) sem qualquer demora sobre o surgimento de tais conflitos e os resolvemos de maneira objetivamente verificável e transparente para todas as partes envolvidas. Agimos com a prudência necessária para distinguir o trabalho da esfera privada. (GTZ, 2009, 1). Essa promessa inscrita na política de comunicação da GTZ não foi cumprida, pois não deu um tratamento adequado para as partes envolvidas, pois o antropólogo Terri Aquino recebeu qualquer pedido de desculpas por parte da GTZ e na mídia não houve nenhum pronunciamento institucional GTZ relacionada à defesa da consultora Carola Kasburg. As relações de poder e a crise de comunicação ficaram no imaginário da opinião pública exigindo a construção de novos discursos e sentido sobre a Amazônia no conflito da territorialidade. 5.9 DISCURSOS, CONTRADIÇÕES E CONSTRUÇÃO DE IMAGEM Em setembro de 2009, durante abertura do seminário "O PPG7 e a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil" que encerrou o Programa - criado no âmbito da Rio-92 o ministro do meio ambiente Carlos Minc agradeceu a colaboração dos países doadores e destacou o apoio do PPG7 para o meio ambiente, no País e para algumas políticas ambientais do governo brasileiro, como o PAS (Programa Amazônia Sustentável), o Plano BR-163 Sustentável e o Plano de Combate ao Desmatamento na Amazônia (PPCDAM). O PPG7 foi considerado a primeira iniciativa global a unir o governo brasileiro, a sociedade civil e a comunidade internacional para a conservação da natureza e promover alternativas sustentáveis de manejo dos recursos naturais da floresta Amazônica e da Mata Atlântica. (REVISTA VEJA Edição 2132, 30 set. 2009, p. 17). Nesse evento, compareceram representantes de instituições públicas federais, estaduais e municipais, de instituições de pesquisa, da academia, da comunidade internacional e de organizações da sociedade civil. As entrevistas confirmam as divergências, conflitos e resultados expressos, na palestra do Ministro Celso Minc e nos relatórios do MMA (BRASIL, 2004) e (BRASIL, 2009B). O PPTAL foi apontado pelos consultores durante as entrevistas na Europa (2007/2008) e ratificado pelas entrevistas realizadas com consultores brasileiros, como o projeto que representou a maior contribuição de cooperação técnica alemã para o

290 290 PPG7. Entretanto, teve mais visibilidade pela crise de gestão e comunicação que pelos resultados, aferidos pelo (MMA; 2009). A construção da imagem é uma das práticas das organizações alemã de cooperação que de forma quase que natural é utilizada como estratégia institucional. Nesse sentido, em especial a Fundação Heinrich Böll, tem um papel importante no âmbito do PPG7 na configuração e visibilidade das organizações alemãs na Amazônia. A referida fundação não possui projetos, mas utiliza várias estratégias de comunicação institucional junto aos formadores de opinião. Assim, temas como direitos sociais e de gênero, clima e agrocombustível, energia nuclear, proteção da Amazônia são enunciados recorrentes apresentados em sua página de web (< nos eventos e na mídia. Essa estratégia, não só reúne as organizações alemãs (GTZ, DED, DAAD, DIE) e organizações parceiras, como também exalta o poder da cooperação internacional para o desenvolvimento. Nesse modo de analisar, é importante entender os pressupostos e como opera a hipótese da Agenda Setting na sociedade, em especial, a comunicação nas organizações. Segundo Nelson Traquina: Se os medias não nós dizem nada acerca de um tópico ou de um acontecimento, então, na maioria dos casos, ele existirá apenas na nossa agenda pessoal ou no nosso espaço vivencial (TRAQUINA, 2000, p. 21). McCombs e Shaw 144, autores conhecidos internacionalmente por seus estudos envolvendo a teoria da agenda setting, mostraram em suas pesquisas, iniciadas na década de setenta, mas especificamente, em um estudo de 1972, que a mídia tem a capacidade de destacar ou não acontecimentos junto à opinião pública, criando um ambiente pelas pautas dos meios de comunicação. Retomando alguns pressupostos da Agenda Setting, o meio por onde circulam as mensagens é um agente modificador da realidade, direcionando a opinião sobre o acontecimento. Citando novamente McCombs e Shaw (1972,1993), esta perspectiva representa o poder que os canais, por onde transitam conteúdos, exercem sobre a opinião das pessoas. Um dos pressupostos do Agendamento ainda destacado por McCombs, e Shaw (1972, 1993), refere-se ao fluxo contínuo de informações. Nos conceitos trazidos por Bahia em 1971, pode-se dizer que o efeito enciclopédia dentro das organizações começa com os dados, que 144 Ver McCOMBS, Maxwell E.; SHAW, Donald L. A função do agendamento dos media, 1972 In: (TRAQUINA, 2001).

291 291 chegam inadvertidamente aos sujeitos. São eles que, mais tarde, serão transformados em informação, quando identificados como solução para determinada situação. Maxwell MacCombs, considerado o autor da agenda setting, constata que o poder dos novos media em construír, por exemplo, a agenda de uma nação é enorme e constitui uma notável influência. Os meios de comunicação, escolhem os temas em destaque, e formulam a agenda do público, pois será acerca destes temas que incidirá o debate no espaço público, e estes serão a base da formação da opinião pública. Essa pesquisa observou por meio das entrevistas e participação em eventos, que esse é um dos principais objetivos das práticas de comunicação da HBS. Com base nos estudos da agenda setting, a influência dos meios de comunicação no cotidiano dos sujeitos é inegável. Na agenda setting, a pauta seja ela de caráter intrapessoal, interpessoal ou coletiva é sugerida pelos veículos de comunicação, que permitem que os receptores, a partir de necessidades e interesses, definam os assuntos para reflexão e comentários. A realidade social e, também, a organizacional são os cenários criados a partir da pauta nos meios de comunicação (TRAQUINA, 2000). Nos pressupostos da agenda setting e corroborando com o exposto, Traquina (2001, p. 22) recorda a necessidade de orientação dos sujeitos sociais a partir de duas variáveis, altos níveis de interesse e incerteza. Encontram-se nos estudos de Teorias da Comunicação, referenciais como a Agenda Setting, que contribuem e aprimoram a comunicação, nos seus fluxos de informação e na geração de conhecimento no ambiente organizacional. Os canais formais não dão conta das informações que os sujeitos querem alcançar, por meio de vias não planificadas, acontece, ainda, o agendamento de temas no processo comunicacional, com as interações que acabam surgindo e se consolidando. Logo, seja por fluxos descendentes, ascendentes ou horizontais, os indivíduos, independentemente dos níveis hierárquicos informam-se daquilo que julgam necessitar. São as necessidades, a busca e o uso da informação, entre os colaboradores de uma organização e desta com o meio social em que está inserida, entre aquelas que atuam em uma aérea específica ou até mesmo entre concorrentes que estabelece o Agendamento, na interação entre a mídia e receptor, receptor e mídia, ou ainda, entre as mídias. Apesar de possuir limites, se comparados com a sociedade onde acontece o agendamento, nas organizações, os conceitos de troca balizam o processo de comunicação entre aqueles que a integram. O pressuposto de que os meios de comunicação e os fluxos informacionais inteferem na vida organizacional dos sujeitos, influenciando o quê pensar e como pensar sobre algo, pode ser verificado nas relações descritas nessa tese. Houve

292 292 momentos em que a vontade e interesse nacional era o progresso a qualquer preço e, em outros, no caso, a Europa se engaja em movimento ambientalista com receio dos riscos ambientais e passam a proteger o meio ambiente. A partir do que é veiculado, os sujeitos incluem ou excluem assuntos de suas agendas. Isto porque o canal de divulgação pode ser entendido como um agente modificador da realidade. Essa tem sido uma estratégia recorrente no campo ambiental, à cooperação internacional, de alguns discursos foram incluídos e excluídos e outros mantidos como combater a pobreza, desenvolvimento sustentável, mudança climática, energia renovável, entre outros enunciados. Cabe também ressaltar que o enunciado pobreza requer reflexão, pois há diferentes noções sobre o termo quando relacionado à questão ambiental, então, [...] Supor que a pobreza é responsável pela degradação ambiental, como está posto no conceito de Desenvolvimento Sustentável e que, para superar esses problemas de ordem ambiental, seria necessário combatê-la, não garante a construção de um projeto societário. Na verdade, isso pode ser visto muito mais como uma enunciação formal do discurso oficial do que como um questionamento real das lógicas geradoras da exploração e miséria nos países subdesenvolvidos. (FERNANDES, 2006, p. 132). Os enunciados pobreza e Desenvolvimento Sustentável, como citado por Fernandes (2006) revelam diferentes sentidos quando utilizados em material institucional, porque foram largamente recriados e difundidos durante todas as fases da cooperação internacional, em especial nas práticas da Agenda Setting. Assim, o estudo da agenda setting contribui para a análise dessa pesquisa sobre as cooperação internacional e meio ambiente na Amazônia, na medida em que é possível pensar no deslocamento dos conceitos e pressupostos do agendamento para os processos de comunicação nas organizações e na mídia. Isso ocorre de modo semelhante quando se pensa na relação entre a mídia e o receptor. Os pressupostos definidos pelo Agendamento também permeiam as relações entre as organizações e seus sujeitos (agentes sociais). O fluxo informacional contínuo é uma realidade tão presente nas organizações, a informação é alvo permanente de estudo e desafios. Em analogia aos estudos da Agenda Setting, tanto em relação aos seus percussores quanto ao seus autores atuais, para haver agendamento é preciso um alto nível de percepção, e de relevância do tema em evidência, acompanhado de um significativo grau de incerteza, segundo Hohlfeldt (2001), isto leva o receptor à busca de informação. É justamente, sob o ponto de vista dessa incerteza, elemento predominante do campo ambiental na Amazônia que organizações como a (HBS) investem de forma estratégica na hipótese da Agenda Setting para

293 293 promover sua imagem e das organizações alemãs como porta-vozes dos debates da preservação ambiental e combate à pobreza na Amazônia, por meio da participação social. É o poder de usar as palavras para impor um poder simbólico a favor de si mesmo que nas palavras de Bourdieu significa: o poder simbólico, é um poder de fazer coisas com palavras. É somente na medida em que é verdadeira, isto é, adequada às coisas, que a descrição faz as coisas. Nesse sentido, o poder simbólico é um poder de consagração ou de revelação, um poder de consagrar ou de revelar coisas que já existem (BOURDIEU, 2004, p. 167). Com essa compreensão, é importante relembrar que as propostas e as reivindicações dos antropólogos e pesquisadores Alfredo Wagner Berno de Almeida e nas reivindicações de Terry Aquino, não obtiveram nenhuma resposta por parte da GTZ e tampouco foi disponibilizado um canal de diálogo. O que se constatou foi a prática da comunicação descendente, como citada por (FORTES, 2003, p. 140) cujo propósito é difundir mensagens e ordens de cima para baixo de forma imediata, ao longo da hierarquia. Ainda segundo Fortes (2003, p, 141), a comunicação descendente (vertical) consiste num tipo de comunicação que se inicia na gestão de topo e flui no sentido da base hierárquica da organização. Este tipo de estratégia de mensagem consiste, geralmente, em informações, comunicações e instruções relacionadas com os objetivos organizacionais, com as políticas, regras e regulamentos proposto pela organização. Essa comunicação predominante em organizações de relacionamentos onde há pouca participação dos subordinados ou agentes sociais, é a prática predominante em vários projetos implementados pela cooperação internacional na Amazônia durante o PPG7. Os projetos socioambientais foram implantados de acordo com os objetivos elaborados pelas agências bilaterais (GTZ, DFID, USAID, EFEM). Nas palavras de um dos entrevistados em janeiro de 2009, (K. N.), os profissionais que atuam na área do desenvolvimento para sobreviverem no mercado e garantirem os seus empregos devem se adaptar aos discursos dos projetos. A prática desse tipo de comunicação contribui não só para agravar as contradições e conflitos, como no caso desse estudo, mas para identificar a exacerbação no exercício da relação de poder que interfere diretamente na governança da Amazônia Legal, como questionado por Terry Aquino e também apontado por Abdala (2007). Mas o que se entende pelo enunciado governança? Há também dúvidas sobre o poder e a gestão dos financiadores, ou seja, até que ponto é permitido aos doadores a intromissão na governança dos problemas internos de outro país e demissão de agentes sociais de instituições como a FUNAI. De acordo com o documento Governance and Development, de 1992, publicado pelo BM, a governança é o exercício da autoridade, controle, administração, poder de governo.

294 294 Melhor explicando, é a maneira pela qual o poder é exercido na administração dos recursos sociais e econômicos de um país visando ao desenvolvimento. Isso implica ainda a capacidade dos governos de planejar, formular e implementar políticas e cumprir funções. Grosso modo, a agenda de políticas do BM passou das reformas macroeconômicas para as reformas do Estado e da administração pública com o objetivo de promover a boa governança para fortalecer as ações da sociedade civil organizada. A expressão governança, a exemplo de gestão, tem conceito e sentido amplo. Todavia, nada obstante, é necessário definir o seu significado nessa tese, uma vez que o termo governança tem aplicação em vários campos, com diferentes sentidos. Como exemplo, pode ser citado, a governança corporativa, utilizada na área de Administração de Empresas. Para o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) 145, Governança Corporativa referese às práticas de comunicação e relacionamentos entre os acionistas, os Conselho de Administração, a Diretoria, a Auditoria Independente e o Conselho Fiscal, com o objetivo de otimizar o desempenho e eficácia da empresa/ e ou organização. Nesse conceito, a governança emerge, a partir da teoria econômica. Nesta tese, o termo governança associa-se ao sentido de problema de comunicação e das relações internacionais, dimensão política e social, buscando identificar a sua importância para a CTI para o desenvolvimento nos projetos socioambientais na Amazônia. Essa discussão também é pautada por (Bueno, 2009, p. 287), A comunicação para a governança e para a sustentabilidade deve pressupor, em princípio, uma etapa fundamental, exatamente o conhecimento detalhado do perfil dos distintos públicos de interesse de uma organização, levando em conta que há demandas e expectativas particulares. Isto posto, constata-se que não foi somente o Projeto PPTAL, mas maioria significativa dos 26 projetos implementados pela cooperação internacional no contexto do PPG7, tiveram problemas relacionado à comunicação, à participação e à governança. As demandas e as expectativas particulares, como citada por Bueno (2009) não foram consideradas, pois prevaleceu a necessidade de cumprir cronogramas e prazos dos projetos estipulado pelos financiadores. Como consequência, observa-se por meio dos relatórios da GFA, GTZ e IAG a experiência dos consultores estrangeiros, em especial da RFA deixou marcas de racionalidade na operacionalização dos projetos socioambientais. Algumas teses analisaram projetos como o Promanejo e o Proteger e evidenciaram aspectos relevantes sobre a comunicação e a participação promovida pelos financiadores. Marilena Loureiro da Silva, autora da tese Educação ambiental e cooperação internacional e 145 Ver detalhes sobre esse conceito corporativo em: Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBCG).

295 295 suas contribuições para a sustentabilidade Amazônica: Um estudo sobre o Promanejo/PPG7 na floresta nacional do Tapajos (2005) analisou as possibilidades de participação no interior do Projeto e chegou a várias conclusões, como a referenciada a seguir: As ONGs presentes na floresta e atuantes junto ao Promanejo, tidas como parceiras para o desenvolvimento das principais ações indicam um grau já bastante consolidado de práticas realizadas sob a lógica da participação democrática das populações envolvidas. Ocorre que essa avaliação esbarra em uma espécie de choque de interesse entre o que querem essas organizações e aquilo que de fato querem as comunidades (SILVA, 2003, p. 257). A autora ressalta que as comunidades percebem a importância de sua participação no fortalecimento do projeto e identificam algumas melhorias, mas na análise de Silva (2003), Verifica-se uma percepção da necessidade de participação comunitária que deve considerar as diferenças e especificidades de cada comunidade, o que não é bem trabalhado pelos projetos, visto que os mesmos são induzidos pelos editais dos organismos financiadores, submetendo-se ao exercício de uma participação puramente retórica. (SILVA, 2003, p. 257). O estudo sobre o Projeto Proteger, intitulado Comunicação & Meio Ambiente, analisado por Costa (2006), também apresenta resultados surpreendentes. A autora identifica tensão e conflito entre as visões de mundo e, assim, as maneiras diferentes de interpretações do campo ambiental e do campo da agricultura familiar com relação à temática desenvolvidas pelas campanhas. A autora comprova por meio da técnica de análise do discurso, que os agricultores familiares não são os maiores responsáveis pelos elevados índices de desmatamento e queimadas registrados na Amazônia nos últimos anos. Com essa constatação a autora indaga: Por que então, as campanhas são direcionadas preferencialmente a eles? As instituições a frente das campanhas, predominantemente do campo ambiental, eixo norteador de ações, dos valores e dos conhecimentos geridos por aquele campo, trabalham com o pressuposto do desconhecimento e do conhecimento inadequado por parte dos agricultores familiares de técnicas de prevenção ao fogo acidental. Sob esse prisma, seria preciso ensiná-los a agir corretamente, o que justifica, por exemplo, o uso da cartilha (COSTA, 2006, p. 295). Nos dois exemplos de análise citados, os financiadores (agências bilaterais e ONGs) promoveram mecanismos de participação, como: reuniões assembleias, eventos como estratégias de comunicação dirigida aproximativa, mas os projetos não conseguiram produzir uma comunicação e tampouco promoveram uma cultura de participação nas comunidades, como apontado por Silva (2003) e Costa (2006). A relação de poder e a obrigatoriedade de seguir editais e normas ditadas pelos financiadores estão presentes nos diferentes discursos das organizações. Na verdade, é um

296 296 exercício de poder permeado de discursos que atinge e modifica ao mesmo tempo as práticas de todos os agentes sociais do campo da cooperação internacional. A declaração da entrevista de uma ex-consultora da GTZ comprova e resume essa ideia. Os discursos da política podem mudar, assim como os do desenvolvimento. Esta redefinição nos resultados e na reorientação dos recursos financeiros, e dos projetos de cooperação internacional devem, portanto, serem adaptados em conformidade. Projeto oficiais, assim, constantemente deve estar cientes das flutuações do mercado de ideias e conceitos, dentro e fora da sua (casa) organização. Os profissionais que atuam na área do desenvolvimento para sobreviverem no mercado e garantirem os seus empregos devem adaptar o seu discurso a essas modificações. (K.N., 2009). Tomando por base declarações como essa, dentre tantas outras com o mesmo sentido, evidenciada no trabalho de campo, conclui-se que o consultor é um agente social dividido entre os ideais sociais ambicionados para Amazônia e a burocracia que garante a sua sobrevivência no mercado competitivo das consultorias. Assim, ao garantir seu emprego também consolida e contribuie para a renovação dos discursos em torno do enunciado desenvolvimento que mantêm a existência dessas organizações. Embora, a atuação da consultoria técnica das organizações alemães, no âmbito do PPG7, na Amazônia, tenha tido o objetivo ambiental, o universo de documentos analisado mostrou evidências em documentos oficiais que a cooperação para o desenvolvimento está implícita em todas as ações aqui apresentadas, e envoltos no enunciado desenvolvimento a capacitação, o capital social, a sustentabilidade e os interesses próprios. Entretanto, esses discursos inseridos em prática de comunicação que negligenciaram as análises das ações, dos conflitos, dos resultados, dos planos e dos programas de cooperação. As crises de comunicação identificadas em alguns projetos (PPTAL, PROMANEJO, PROTEGER etc.) evidencia que não houve comunicação com interação e dialogismo. Concluída esta análise ficam dispensáveis elementos e informações referentes às questões ambientais um campo aberto para novas discussões sobre práticas de comunicação e cooperação técnica na Amazônia, a seguir as considerações finais.

297 297 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta tese, foi levantado um conjunto de argumentos com o objetivo de analisar as práticas de comunicação institucional das organizações da cooperação técnica alemã para o desenvolvimento e identificar os discursos recorrentes na implementação de projetos ambientais na Amazônia, no âmbito do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7) ( ). Para isso, foi necessário conhecer o campo da cooperação técnica internacional (CTI) e descrevê-la como uma das vertentes da Cooperação para o Desenvolvimento. Relatar a história desse campo foi conhecer as relações Internacionais mediadas pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), órgão do Ministério das Relações Exteriores (MRE). Assim, o ponto de partida foi identificar, na Alemanha, em sua política externa, algumas atividades relacionadas ao meio ambiente e a Amazônia, e a junção de organizações internacionais para o meio ambiente, objetivando o desenvolvimento por meio das implantações de projetos socioambientais. Essas ações, no âmbito do PPG7, foram implementadas por várias organizações bilaterais internacionais (DFID, USAI, CIFOR), em especial a GTZ, representante do ministério do governo (BMZ); fundações políticas, religiosas da República Federal da Alemanha, ONGs e a sociedade civil organizada. O objetivo dessas ações mediadas pela ABC/ MRE com a gestão do MMA foi conter o desmatamento na Amazônia que, após 1995, atingiu índices comprometedores. Conforme o Relatório de Progresso do MMA (BRASIL, 2005) e análise das práticas de comunicação no âmbito do PPG7, evidenciou-se que Programa foi dividido em três fases, com inicio em 1995 e termino em Esse programa construiu um campo de relações, onde se produziu e renovou vários discursos. Os principais evidenciados nessa pesquisa são, capital social, desenvolvimento sustentável e capacitação. Então, esses discursos implícitos nas práticas de comunicação institucional foram considerados relações de poder (Foucault, 1995). Portanto, práticas de comunicação institucional, cooperação internacional, organização e discurso foram as bases da análise, desta tese, que analisou a cooperação técnica internacional como um campo de relações de poder, nem sempre harmônicas e, do ponto de vista da comunicação institucional, às vezes, distorcem e encobrem os objetivos reais da relação entre o Brasil e a CTI. Por essa análise, a difusão de aspectos positivos dos beneficiários da parceria, em alguns casos, como dos projetos socioambientais da Amazônia, foram prejudicados pela opacidade nas informações.

298 298 No relato da trajetória da cooperação técnica, evidenciou-se que o histórico e os engajamentos das organizações da cooperação alemã no Brasil desde o primeiro acordo de 1963, contribuíuram para a atuação da Alemanha na Amazônia. Nesse sentido, o Programa PRORENDA ( ) que atuou, em todo o Brasil e na Amazônia desde 1987, construiu a base das atuais negociações com agentes do campo ambiental. Dessa maneira, o engajamento foi importante, pois o PPG7 exigiu articulação no âmbito local, nacional e internacional. Na difusão das informações, as práticas de comunicação institucional mostraram que houve convergência e divergências, mas as publicações conseguiram manter a positiva imagem institucional das organizações. Os capítulos dois e três foram estruturados de modo a considerar os aspectos históricos, teóricos e metodológicos e sua relação interdisciplinar, tendo como elementos de discussão os discursos e as práticas do campo da cooperação técnica e a construção do campo discursivo e social da Amazônia. Desse modo, observou-se que o enunciado Amazônia é permeado de discursos, poder e interesse como conceituado por Bourdieu, um agente só entra num campo quando esse converge para o seu interesse. Essa discussão permitiu analisar que, apesar das disparidades foram produzidos dois objetivos em comuns, manter a imagem institucional e discutir novos caminhos para sustentabilidade, em especial, nas questões energética, atual interesse do Brasil e da Alemanha. A atual discussão de Belo Monte e do Etanol comprova essa evidência. No capítulos 4 a história do movimento ambientalista, na Europa, e a formação das principais organizações alemãs, desde a criação do BMZ para depois analisar suas ações na Amazônia no âmbito do PPG7 ( ). Com esse enfoque, os interesses nacionais baseado na política de desenvolvimento e dos discursos dos dois países: Brasil e Alemanha em cada momento histórico e social. Observou-se que, em um mesmo país seja o Brasil, seja a Alemanha, há interesses nacionais diferentes, ou seja, ao mesmo tempo em que alguns agentes sociais participam de movimento em prol do meio ambiente, outros buscam fazer negócios, como venda de componentes para hidrelétricas e comércio de madeira sem registro de procedência. Ao visitar o interior da história da cooperação técnica alemã, durante os anos de parceria da cooperação técnica Brasil e Alemanha ( ), identificou-se que em todas as fases da cooperação técnica, em quase todos os projetos, inclusive os socioambientais como o PPG7, sempre esteve implícito o enunciado desenvolvimento. A política para o desenvolvimento foi o caminho que Alemanha encontrou para ampliar o seu mercado,

299 299 construir e manter sua imagem perante a opinião pública. Então, essa experiência que surgiu em 1963, é colocou-se a serviço do acordo do PPG7. Nesse contexto, chamou a atenção o fato da Alemanha, em 1950, estar, com a imagem arranhada, de perdedora. Passados alguns anos com o Plano Marshall e a estratégia da cooperação para o desenvolvimento, não só se recuperou economicamente, como passa a atuar como país doador no campo do desenvolvimento e se consolidou nesse campo. Utilizouse da experiência e da prática desse campo para difundir, no espaço global, uma imagem renovada com princípios e valores da proteção ambiental, ética, responsabilidade, meio ambiente e direitos humanos. Dessa maneira, o histórico das organizações que, por meio das relações externas com a mediação da Agência ABC, mostrou como as ações do Partido Verde mediação pela HBS e pela atuação no PPG7, na Amazônia ( ) contribuiram para a manutenção dessa imagem. A GTZ não estruturou um setor com funcionários para divulgar informações, mas atuou com práticas de comunicação com foco para o desenvolvimento que vigoraram na implementação dos 26 projetos socioambientais na Amazônia, e assim essas práticas se adequaram aos interesses nacionais e aos discursos da agenda global e do mercado. Dessa forma, a informação, disponibilizada de forma tangencial, atendeu apenas agentes sociais, no entorno dos projetos, pois desconsiderou a questão das disparidades culturais e sociais e a do letramento, cujos estudos apontados por Magda Soares comprovam que uma pessoa pode ser alfabetizada e não ser letrada. Dados do IBGE (2009) informam que grande parte das populações tradicionais estão inseridas nesse contexto do letramento. Nas publicações da GTZ, como nas do MMA, não foram identificadas estratégia e prática de comunicação dirigida para esse perfil de agente social. Para tais afirmações e reflexões, consideraram-se as publicaçôes da GTZ e MMA ( ) e os três períodos da cooperação internacional, no Brasil, como conceituado por Pantaleón (2002), (1) militância política voluntária, humanitária, (2) religiosos, políticos e filantrópicos e (3) movimentos sociais e capacitação. O terceiro período, em especial, após a constituição de 1988 foi o mais importante para esta pesquisa, porque evidenciou a participação de acadêmicos, sociedade civil e Estado, adaptando-se juntamente com o terceiro setor e a legitimação das ONGs nas ações socioambientais, não só na Amazônia, como em quase todo o Brasil. Nessa terceira fase, as agências de cooperação promoveram ajuda jurídica e a reintegração dos direitos. As agências internacionais, juntamente com as ONGs, trocaram o trabalho de caráter filantrópico pelo capital social e o empreendedorismo com

300 300 sustentabilidade socioambiental, seguindo programas das agências multilaterais (BID, PNUD e BM). Essa amplitude de trabalho ocorreu no contexto globlizado é foi uma das principais diferenças dessa terceira fase. Houve um conjunto de fatores decorrente da evolução político institucional, aliado aos novos enunciados, que propiciou a construção de um campo favorável à implementação de acordos com novas formas de projetos socioambientais propostos pela cooperação internacional. Com o objetivo, de cumprir o planejamento do programa PPG7, vários discursos, envoltos ao enunciado desenvolvimento, foram descontruídos, construidos e utilizados juntamente com termos que se tornaram slogan Desenvolvimento Sustentável, combate à pobreza e preservar a natureza, dentre outros. Embora as organizações internacionais tivessem boas intenções na implantação desses programas, na região Amazônica, inclusive alguns projetos no âmbito do PPG7 como PPTAL, Promanejo e ProVárzea, esta pesquisa constatou que nessa relação houve confronto de relação de força, em virtude dos diferentes interesses dos diversos agentes sociais, em especial, das populações tradicionais. O problema dessa relação, não são apenas, as crises de comunicação e soberania, como apontado por Scholz eschönenberg (2007, p. 104), mas também relação de poder, de ordem financeira e de conhecimento simbólico (habitus). A categoria conhecimento e habitus relacionada à gestão aliadas ao conceito de capital social, as vezes ocasionaram convergências e divergências, como na questão do PPTAL envolvendo os antropólogos Wagner Breno Almeida com a avalição independente e Terri Aquino e os consultores da GTZ. Ao analisar os perfis dos profissionais sob o ponto de vista da categoria capital social, como conceituada por Bourdieu, observou-se, no âmago das atividades dos consultores (mediadores) na execução dos projetos ambientais, uma outra realidade, ainda não revelada. Não se trata apenas de consultores com formação acadêmica, mas de profissionais com curso técnico, especialistas, mestrandos, doutorandos e pós-doutores que representando organizações internacionais (BM, BMZ, GTZ, KFW), em especial da Alemanha, escolheram a Amazônia para ampliar seus estudos técnicos e acadêmicos, e sua estabilidade econômica por meio dos projetos socioambientais. Esse perfil de consultor se apresentou de forma diferenciada do profissional que presta consultoria para área comercial e que objetiva resultados em recursos humanos e produção. Aqui, emergiu a influência dos ideais do movimento ambiental ou o habitus das campanhas políticas do partido verde alemão (HBS), que acreditam na mudança social e por isso se envolvem com as comunidades, com dúvidas sobre o que precisa ser feito e o que deve ser feito em nome da organização que está representando.

301 301 Entretanto, a execução do trabalho de consultoria técnica na Amazônia durante o PPG7, revelou-se como uma atividade competitiva e tensa não muito diferente da vida do executivo de empresas comerciais. Melhor explicando, a vida profissional dos consultores (estrangeiros), em especial, os alemães que aportaram na Amazônia com ideais de implantar projetos socioambientais é tensa e competitiva que em muitos casos, conforme as entrevistas, se prende a relatórios, a números e ao resultado que exige flexibilidade de um executivo e não dos ideais de um acadêmico. Como demonstrado durante a descrição de pesquisa, chega a ser uma contradição, pois executar um projeto como exigido pelos financiadores torna-se imperativo no cotidiano da vida dos consultores, seja da GTZ, DFID ou CIFOR. Embora o foco dessa pesquisa seja a RFA, alguns consultores prestaram serviços em diferentes momentos, às vezes para a GTZ ou para CIFOR, em especial, os engenheiros florestais especialistas nas áreas técnica científica. Na averiguação sobre o papel das ONGs, constatou-se, o apoio financeiro internacional e as parcerias com instituições do poder público e privado. Dessa maneira, tornam-se porta-vozes de uma ordem internacional globalizada. Nas assessorias e doações da ONGs, são também incorporados os discursos de geração de renda, combate à pobreza, negócios sustentáveis. Com essa perspectiva ideológica, construiram-se slogans com polifonia e articulação num campo de disputa com diferentes relações de forças e poder. Em alguns projetos, as ONGs representam seus próprios interesses em nome das comunidades, como evidenciado por Marilene Loureiro Silva, ao estudar as comunidades do Flona no âmbito do Promanejo. Nesse sentido, evidenciou-se a parceria, mas também a contribuição do Brasil, colaborando com uma abertura de relações internacionais para os negócios. Enquanto os discursos do Brasil era o progresso e desenvolvimento, a Alemanha ampliava seu mercado para venda de seus produtos industriais e ao mesmo tempo, de forma democrática, inibia e abafava o desenvolvimento do comuinismo na América Latina. Na Europa, outras crises de mercado. Não foi possível citar, durante essa tese, o resultado de toda essa relacão, mas alguns exempos como a ajuda a pequenos agricultores no Sul e no Nordeste do Brasil; o incentivo a pequenos agricultores; a promoção institucional do SENAI, do Inmetro, da ESAF e da Embrapa; e o apoio a diversas parcerias universitárias. Há programas de formação profissional e científico por meio da CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e DAAD Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (ALEMANHA, 2003).

302 302 Entretanto, a informação sobre essa cooperação é apenas de forma superficial, sem visibilidade, alguns aspectos especiais, constam em relatórios anuais. A comunicação instituccional nesse campo ainda é um desafio para organizações brasileiras e estrangeiras, pois a Alemanha, apesar de todo aparato observou-se durante o PPG7, problemas de silenciamento nesse tipo de informação. Seguindo a análise das práticas de comunicação instiucional dessa cooperação, o programa de cooperação na área ambiental foi iniciado a partir da constatação de que os órgãos de meio ambiente (Secretarias de Meio Ambiente e os órgãos de controle ambiental) eram bases institucionais importantes da política ambiental brasileira. Assim, evidenciou-se, por meio da Camâra do Comércio Alemão (2009), que na região Sul do país estas instituições transformaram-se em centros desta cooperação, sobretudo no desenvolvimento conjunto de soluções para os problemas ambientais urbano-industriais. A instituição executora dos principais convênios firmados entre os dois países foi a Sociedade Técnica de Cooperação (GTZ - Gesellschaft für technische Zusammenarbeit) e essas ações antecedem o PPG7. A Camâra do Comércio Alemão, com comunicação institucional mais atuante, presta assessoria técnica para o mercado. Nesse sentido, trabalha com assesoria de impressa, relações com a mídia e representa os interesses das empresas alemãs e brasileira. Em se tratando de organizações associadas, presta assessoria de comunicação institucional. Essa postura institucional difere de outras organizações alemãs que atuam no Brasil, em especial na Amazônia, e nem se sabe quais são suas atividades na região. Foi evidenciando as organizações Inwent e DED, que, a partir de 2009 possuem sede em Belém. Somente o DED possui um assessor de comunicação em fase de implementação de um setor de comunicação institucional. É necessário para as organizações profissionais de comunicação social habilitados para administrar conflitos e crise de comunicação. Em especial diferentes agentes sociais (públicos) como no caso do PPG7, que precisou conciliar vários interesses e manter a imagem das organizações envolvidas. Observou-se pelas crises quase generalizada dos projetos, uma certa negligência quanto à ética e às práticas de comunicação como o problema entre o antropólogo Terry Aquino (FUNAI) e a antropóloga Karola Kaspur representando a GTZ. Constatou-se problemas de soberania, governança e ética que não tiveram um encaminhamento ou resposta por parte da GTZ ou da FUNAI, que se submeteram as ordens dos financiadores. Ainda sob esse ponto de vista, a pesquisa aponta que não houve a participação dos agentes sociais como descritos nos relatórios GTZ, MMA (2004), MMA (2009), pois sem

303 303 informação, não há comunicação. Isso ficou comprovado pela ausência de algumas práticas de comunicação com base na conceitução de Bordenave. Como foi comprovado, a GTZ, até 2009, não contava com profissional de comunicação para a sede em Brasilia, assim, não havia um profissional responsável para atendimento ao público (agentes sociais). Melhor explicando, não havia um canal para informações e por conseguinte para reclamações. Eventos são técnicas de comunicação aproximativa que constitui-se em veículo de significativa importância no mix de comunicação, destina-se a públicos homogêneos com interesse comum e foi uma das práticas de comunicação mais utilizadas pela cooperação alemã na Amazônia. Esses eventos ora patrocinados pela GTZ e, na maioria pela HBS congregaram muitos agentes sociais, dentre eles, cursos, oficinas, reuniões, palestras e uma infinidade de ações que reuniram comunidades tradicionais, técnicos e consultores representando suas respectivas instituições, apesar do o uso dessa técnica não garantir o consenso e tampouco a mudança de comportamento dos agentes sociais. Assim, as entrevistas e relatórios conferiram, que em muitas reuniões, contradições e discussões calorosas como no seminário promovido pela Fundação Heinrich Böll (HBS) com o apoio do Instituto Socioambiental (ISA), propondo Um novo modelo institucional para o PPG7, realizado embrasília em 15 de maio de Do mesmo modo, o Fórum de política de desenvolvimento da FHBS KlimaundWandel in Amazonien Clima e Mudanças na Amazônia, realizado em fevereiro de 2008 em Berlin/ Alemanha. Em ambos foram travadas muitas discussões, relações de força nas quais estavam implícitos a governança e a soberania permeadas por discursos. Dois seminários foram importantes para os encaminhamentos dos projetos e podem ser resumidos da seguinte maneira: (1) o seminário de 2001, as acusações e o problema das instituições brasileiras que ainda não estavam afinadas com o Programa Piloto e a cobrança dos financiadores e (2) no seminário de 2008, a discussão sobre a mudança climática e a responsabilidade do consumidor Europeu que precisava ser mais seletivo em suas compras. Chegaram a afirmar que, um bife no prato significa contribuir com o desmatamento na Amazônia. Foram palavras e enunciados que emergiram desse evento e também nas entrevistas. De acordo com a ministra de cooperação econômica e desenvolvimento da RFA, Heidemarie Wieczorec-Zeul, a atual cooperação com o Brasil concentra-se nas seguintes áreas: [ ] Proteção ambiental e gerenciamento de recursos naturais, que se desdobram na proteção das florestas tropicais e na proteção ambiental em áreas industriais urbanas. A cooperação no âmbito das florestas tropicais integra o PPG7. O combate à pobreza no quadro de desenvolvimento regional integrado, sobretudo no Nordeste (WIECZOREC-ZEUL apud

304 304 ALEMANHA, 2003). Evidenciou-se que o enunciado desenvolvimento, envolto nos discursos de combate à pobreza e a proteção das florestas tropicais se mantém e impoem dando sentido nas estratégias de ação da cooperação da política de desenvolvimento internacional alemã. A leitura por meio dos discursos construídos sobre a Amazônia em seu espaço discursivo mostrou que o interesse científico e econômico da região amazônica, não vem somente dessa fase da CTI que envolveu os acordos do PPG7. Esse interesse sobre a região amazônica significa caracterizar sua potencialidade, sua preservação seja na área ambiental ou de estratégia política e militar como tem sido apresentada. Assim, a exemplo desse momento, ressaltou-se em termos de interesse científico, que desde a década de 1940, havia a intenção de se implantar um Centro de pesquisa na Amazônia de caráter Global, mas foi rejeitado pelos discursos nacionalistas que em nome da soberania, o Brasil rejeitou o projeto de um Instituto internacional de Pesquisas Científicas na Amazônica (IIHA). Então, o nacionalismo e a soberania são categorias que ainda predominam nesse campo de cooperação internacional, quando se refere à Amazônia. Dados econômicos e sociais comprovam que, na Amazônia, não houve a redução da pobreza e tampouco a redução do desmatamento como preconizado por essas organizações no âmbito do PPG7. Em busca de repostas, esta pesquisa, por meio dos diferentes discursos das agências de cooperação internacional na Amazônia, evidenciou como se estabeleceram as relações de comunicação e poder entre os agentes de instituições ambientais (agências, fundos) e agentes, instituições locais e nacionais. Não se pretendeu dizer que os problemas aqui apresentados se referiram apenas às crises de comunicação, pois também se constatou uma convergência de problemas como governança, relação e exercício de poder, mas é pela crise de comunicação negligenciada pelas organizações alemãs e brasileiras que esses problemas vêm à tona e os discursos ganham sentidos, espaço e evidência nesse campo de disputa composto por um público sensibilizado por vários problemas de ordem política e social. Essa pesquisa refere-se a esses agentes sociais como públicos especiais por estarem em áreas de conflito em que requer um relacionamento comunicacional diferenciado e mais específico direcionado para esse tipo de receptor. Mesmo com todo o investimento da cooperação internacional, os povos tradicionais da Amazônia vivem em constantes conflitos ligados à violência e aos direitos da cidadania. Essa descrição caracteriza o perfil de agente com dados que comprovam que a comunicação institucional para promover a participação requer um tratamento especial por

305 305 parte dos profissionais de comunicação especializados. No que se refere às organizações alemãs que compõem o acordo firmado para a execução do PPG7, ficou evidente que essas atuaram de diferentes formas com ações em conjunto com instituições brasileiras. No entanto, a pesquisa demonstrou que negligenciaram a comunicação institucional com práticas rotineiras e instrumentais, quando deveriam ter desenvolvido uma comunicação específica com dialogismo e interação, considerando a complexidade e especificidade dos diferentes agentes sociais (públicos). Com base nessa descrição, dos problemas e do perfil dos agentes sociais, esse estudo por meio da pesquisa de campo no Brasil e o estágio na Europa identificou a falta de uma plataforma de intercâmbio de informações entre as diferentes formas de cooperação internacional técnica das organizações alemãs na Amazônia. Em especial, a ausência de uma comunicação especifica para as atividades que desenvolvem a participação social e preservação do meio ambiente. Na esfera da consultoria, foi elaborado pelo MMA o Catálogo de publicações do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil: 17 anos de atuação na Amazônia e Mata Atlântica (BRASIL, 2009C). Apesar, disso, essa tese discutiu que comunicação não é informação. A informação pressupõe a interação e o dialogismo (Bakhtin, 2004). Assim, essas publicações significaram o modelo de sustentabilidade desenvolvido pela GTZ na implementação dos projetos socioambientais, mas isso não foi informado para os diferentes atores sociais na Amazônia. Sendo assim, a pluralização do debate deve ser uma das estratégias de comunicação social, para que os diversos povos que na Amazônia vivem compreendam as propostas reais das cooperações internacionais e o seu papel, para que se preencham as lacunas de domínio cultural e territorial. Os agentes das cooperações internacionais e a população tradicional da Amazônia devem ser parceiros para que juntos construirem uma realidade diferente e a região seja um campo de diálogo e não de conflito. Dessa maneira, abre possibilidade para a prática do desenvolvimento com liberdade, como proposto por Amartya Sen (2000). E, apesar da comunicação institucional não resolver todos os problemas sociais e ambientais da Amazônia, caso seja praticada de forma responsável e ética, pode contribuir para a formação de opinião e conhecimento para construir uma sociedade que priorize a participação social, a cidadania, e o meio ambiente de forma sustentável.

306 306 CORPUS DE ANÁLISE A relação abaixo se refere aos principais materiais que compuseram o corpus de análise desta tese. Entretanto, devido à amplitude da pesquisa ( ), que se valeu de quantidade de documentos e de entrevistas realizadas no trabalho de campo no Brasil e na Alemanha, são referenciados apenas os principais documentos. Cadernos Caderno de Cooperação Técnica 01/2002 Planejamento, Acompanhamento e Avaliação em projetos de Gestão ambiental, Caderno de Cooperação Técnica 02/2002 Paisagens, biodiversidade, solos, e pluviosidade na Amazônia, Manaus, Caderno de Cooperação Técnica 03/2002 Processamento digital de imagem de Sensoriamento Remoto, Manaus, Caderno de Cooperação Técnica 04/2002 Cartografia e uso do GPS, noções básicas, Manaus, Caderno de Cooperação Técnica 06/2007 Referências metodológicas de um ZEE participativo, Manaus, Caderno de Cooperação técnica 07 Práticas de descentralização da Gestão Ambiental. Caderno institucional BMZ Programa SPRN, vol. 1, Manaus, 2008 (inclui CD-Rom). Projeto de Gestão Integrada do Estado do Pará, PGAI/PA Secretaria Executiva de Ciência Tecnologia e meio ambiente, Cartilhas Guia para o uso da terra Acreana com sabedoria: Zoneamento Ecológico-econômico do Acre, WWF, GTZ, KFW, Palmares, Cartazes Iniciativas Promissoras ProVarzea/ IBAMA, s/d. Calendários GTZ Programa Piloto para Proteção da Floresta. Calendário, Informativo Jirau Publicação ProVarzea, n. 17, jan./fev./mar Lições da floresta para a construção do desenvolvimento sustentável, MMA, 2005.

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326 APÊNDICES 326

327 327 APÊNDICE A - Termo de Autorização Prezado (a) Senhor (a), Está convidado(a) a participar, como voluntário(a), da pesquisa científica econegócios e desenvolvimento sustentável: A atuacao das agências de cooperação internacional Alema nos projetos ambientais na Amazônia. Essa pesquisa é de autoria da pesquisadora e doutoranda Neusa Pressler do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará. Objetiva estudar e fazer uma análise da história da organização GTZ e do perfil de gestão dos profissionais envolvidos em projetos ambientais na Amazônia. Assim será realizada uma entrevista com formulário próprio, contendo perguntas sobre identificação, profissão, trabalho desenvolvido para a GTZ e atual cargo. Ainda nesse formulário, constam perguntas sobre a história de vida profissional e de atividades que exerceu e exerce com os demais colegas de trabalho refentes ao desenvolvimento dos projetos ambientais da GTZ na Amazônia. Além disso, poderão ser solicitados documentos que fundamentem o relato, assim como fotos e documentos do projeto, atuação e também gravações dos relatos individuais ou coletivos. No caso do Sr. (a) concordar em participar, solicito a gentileza de assinar no final do documento. A participação não é obrigatória, portanto a qualquer momento, Sr. (a) poderá desistir de participar e retirar o consentimento. A recusa não trará nenhum prejuízo na relação com o pesquisador(a) ou com a instituição. O Sr. (a) receberá uma cópia deste termo em que constará o número do telefone e o endereço do pesquisador(a) principal, podendo, desse modo, tirar dúvidas sobre o projeto e a participação no referido trabalho. Assegura-se que todas as informações prestadas serão utilizadas apenas para fins de estudo acadêmico. Dessa forma, a participação é opção pessoal, não há envolvimento financeiro como não é obrigatório responder todas as perguntas contidas no formulário. Após a conclusão da entrevista, o pesquisador coordenador da pesquisa analisará as informações referidas nos formulários respondidos para desenvolver a Tese de Doutorado e submetê-la à avaliação pelo NAEA-UFPA-PDTU, o resultado será divulgado para o meio acadêmico e científico. Desde já agradeço pela compreensão e valiosa colaboração. Neusa Pressler Coordenador da Pesquisa Sieglinde Strasse, 5 Berlin / Tel.:+(351) Consentimento livre e esclarecido. Declaro que li as informações acima sobre a atividade, e que me sinto perfeitamente esclarecido (a) sobre a realização da mesma. Declaro ainda que por minha livre vontade, aceito participar da atividade cooperando com as informações contidas no formulário. Local, 00 de mes de Nome:

328 328 APÊNDICE B - Termo de Autorização Traduzido Sehr geehrte Damen und Herren, Im Rahmen meines Promotionsprojekts Econegócios e desenvolvimento sustentável: A atuacao das agências de cooperação internacional Alema nos projetos ambientais na Amazônia, am Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) der Bundesuniversitaet von Pará (UFPA), wuerde ich Sie gerne zur Beantwortung eines Fragebogens einladen. Der Fragebogen soll empirische Daten fuer die Analyse des geschichtlichen Werdegangs der GTZ im Zusammenhang ihrer Unterstuetzung bei Umweltprojekten in Amazonien bereitstellen. Die Fragen beziehen sich auf die Identifikation und die Art und Weise der von der GTZ unterstuetzten Pojekte ueber die Sie, in her jeweiligen Funktion, Kenntnis haben, bzw. verantwortlich zeichnen. Es handelt sich darum, die Kommunikationsformen der GTZ-Arbeit in Amazonien innerhalb der Organisation selbst zu charakterisieren. Es waere sehr freundlich, wenn Sie weitere Materialien: Fotos, Veroeffentlichungen zu den jeweiligen Projekten, etc zur Vefuegung stellen koennten. Im Falle Ihres Einverstaendnises bitte ich Sie freundlichst, Ihre Daten am Ende des Fragebogens einzutragen. Sie koennen aber zu jedem Zeitpunkt Ihre Teilnahme einschraenken, bzw. aufkuendigen ohne das deshalb das Verhaeltnis zwischen dem Forscher und der jeweiligen Institution in Frage gestellt wird. Sie werden nach Abschluss der Erhebung sofort unterrichten und erhalten eine Kopie der Ergebnisse mit der Kontaktadresse. Ich versichere Ihnen, dass die Ergebnisse ausschliesslich zu Foschungszwecken verwendet werden. Es gibt keinerlei finanzielle oder politische Absichten und die Mitarbeit obliegt Iher persoenlichen Entscheidung. Nach Abschluss der Befragung werden die Ergebnisse analisiert und im Rahmen der Promotion am NAEA-UFPA-PDTU der akademischen Pruefung unterstellt. Ich bedanke mich schon jetzt fuer Ihre Muehe und verbleibe mit den besten Gruessen. Neusa Pressler Coordenador da Pesquisa Sieglinde Strasse, 5 Berlin / Tel.:+(351) Einverstaendniserklaerung: Hiermit erklaere ich, dass ich ueber die Ziele der Forschung informiert wurde und mit der Datenerhebung und ihrer Auswertung einverstanden bin., Name:

329 329 APÊNDICE C Questionário Dieser Fragebogen ist Teil des Promotionsforschungsprojekts Econegócios e desenvolvimento sustentável: A atuação da Cooperação Técnica Alemã nos projetos ambientais na Amazônia. Ziel des Fragebogens ist es, Daten ueber den geschichtlichen Werdelauf der von der GTZ unterstuetzten Umweltprojekte zu erhalten. 1) Was ist Ihrer Auffassung nach die aktuelle Bedeutung der GTZ im Rahmen der deutschen Entwicklungshilfe und der Arbeit innerhalb der PPG7? R: 2) Befinden sich Ihrer Auffassung nach die GTZ-Programme fuer die internationale Zusammenarbeit im Kontext des Pilot-Programms Amazoniens (PAS)? a) Ja b) Welches sind die Gruende?: c) Keine Stellungnahme 3) In welcher Weise traegt die GTZ zu den Umweltprojeken Amazoniens bei? R: 4) Welches sind die aktuellen Ziele der Arbeit der GTZ in Amazonien? R: 5) Die Umweltschutzprojekte sind auf die Zusammenarbeit mit Partnern, staatlichen Stellen und freien Traegern und Organisationen angewiesen. Koennten sie die prinzipiellen Schwierigkeiten und Hindernisse bei der Durchfuehrung der Arbeit nennen? R: 6) Welche Projekte sind mit sozialer Eingliederung, bzw. zukuenftiger eigenstaendiger oekonomischer Sicherheit und Verdienst verbunden? R: 7) Koennten Sie ein Projektbeispiel nennen, indem die Unterstuetzung (negócio sustentável) mit der technischen und finanziellen Hilfe der GTZ stattgefunden hat? R: 8) Koennten Sie die prinzipiellen Ergebnisse der GTZ-Unterstuetzung in Amazonien benennen? R: 9) Haben Sie genaue Kenntnisse ueber die deutsche Unterstuetzung im Allgemeinen bei Umweltprojekten in Amazonien und wie schaetzen Sie ihre Kenntnisse darueber ein? a) Ich habe keinen genauen Kenntnissstand ueber die Hoehe der deutschen Unterstuetzungen b) Ich weiss von Projekten, aber ich kenne nicht die Hoehe der finanziellen Unterstuetzung c) Já und ich habe genauere Kenntnisse der Investionen 10) Koennten Sie die Beziehungen der GTZ zu den traditionellen Gemeinschaften und ihren lokalen Vertretern beschreiben?

330 330 R: 11) Koennten Sie einige Beispiele fuer die erfolgreiche technische Unterstuetzung der GTZ geben. Welches sind die erzielten oekonomischen und sozialen Ergebnisse im Zusammenhang mit dem Umweltschutz.? a) Ja b) Nein c) Ich habe keine zur Verfuegung stehenden Daten 12) Haben Sie Kenntnisse ueber sozialpolitische und oekologische Aktionen von deutscher Seite im Rahmen des internationalen Standards von umweltfreundlichen Produken aus Amazonien? Koennten Sie einige Beispiele nennen? R: 13) Koennten Sie nach dem jahrzehntelangen Engagement der GTZ in Amazonien einige Beispiele von langfristig erfolgreicher technischer und wissenschaftlicher Zusammenarbeit geben? R: 14) Wie schaetzen Sie Ihren Kenntnisstand hinsichtlich der Ziele der Zusammenarbeit ein, wenn es sich um Projekte (negócios sustentáveis) im Zusammenhang der Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), der Organização Mundial do Comércio (OMC) und der Europaeischen Gemeinschaft handelt? a) Ich habe niemals ueber solche Ziele gehoert b) Ja, aber ich habe keine Kenntnisse ueber das, was die Organisationen realisieren c) Ja, ich bin ueber dieser Gegenstand genauestens informiert. Persoenliche Daten: Name Adresse: PLZ - Tel.: Seit wann arbeiten Sie mit dergtz zusammen: / / Funktion: Graduiert Magister/Master Promotiom Anderes Titel Welche:

331 331 APÊNDICE D - Questionário Pré-texte Este questionário faz parte da pesquisa científica econegócios e desenvolvimento sustentável: A atuação da Cooperação Técnica Alemã nos projetos ambientais na Amazônia. Esta entrevista tem por objetivo coletar dados para análisar a história da organização GTZ na implementação de projetos ambientais na Amazônia. 1) O que você acha, a GTZ representa para o mundo e para a Alemanha após anos de trabalho atuando no PPG7? R: 2) Na sua opinião a GTZ nos programas de cooperação internacional, com a continuação do Programa Piloto dentro do Programa Amazônia PAS? a) Sim b)em caso afirmativo qual: c) Não tem opinião 3) Em sua análise, quais as contribuições que a GTZ tem trazido para os Projetos Ambientais da Amazônia? R: 4) Quais os principais objetivos do plano de trabalho desenvolvido pela GTZ atualmente na Amazônia? R: 5) O controle e manutenção dos projetos ambientais requerem uma cooperação que passa pelo sistema de parcerias entre todas as organizações e instituições envolvidas com a Amazônia. Poderia citar as principais dificuldades e entraves no relacionamento com os principais parceiros? R: 6) Quais os projetos de inclusão social associados à geração de renda e emprego na Amazônia que a GTZ tem apoiado? R: 7) Poderia citar um exemplo de projeto bem sucedido de (negócio sustentável) implementado na Amazônia com o apoio das organizações da cooperação técnica Alemã? R: 8) Quais os principais resultados de trabalho da GTZ na Amazônia? R: 9) Como o Sr (a) avalia o seu conhecimento sobre os investimentos da cooperação Alemã para o desenvolvimento dos projetos ambientais na Amazônia? a) Não tem nenhum conhecimento sobre os valores de investimentos e verbas da cooperação Alemã b) Já ouviu falar, mas não sabe o valor que cooperação alemã investe na Amazônia

332 332 c) Já ouviu falar e considera bem informado sobre o assunto 10) Poderia descrever a relação da GTZ com as comunidades tradicionais e as lideranças locais. R: 11) A consultoria técnica da GTZ proprocionou a alguns projetos obter resultados econômicos e social juntamente com a preservação da natureza. Em caso afirmativo poderia citar exemplos? a) Sim b) Não c) Não há dados para avaliar 12) Com relação aos padrões de consumo internacional, você tem conhecimento de ações de política sociais e ambientais alemã em prol da preservação da região Amazônica? Em caso afirmativo poderia citar exemplos? R: 13) Depois de vários anos de trabalho e relação com a Amazônia poderia citar algum exemplo de intercâmbio de informações entre a cooperação técnica e a cooperação científica Alemã? R: 14) Como o Sr (a) avalia o seu conhecimento sobre os objetivos de trabalho relacionados aos negócios sustentáveis difundido pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) pela Organização Mundial do Comércio OMC e pela Comunidade Europeia? a) Nunca ouviu falar sobre esses objetivos b) Já ouviu falar, mas não sabe o que essas organizacões fazem c) Já ouviu falar e considera bem informado sobre o assunto DADOS PESSOAIS: Nome End.: Cod. Postal - Tel.: Data de admissão na GTZ: / /

333 333 Cargo: Licenciatura Pósgraduação Mestrado Doutoramento Outros Qual:

334 ANEXOS 334

335 335 ANEXO A - Sistema Alemão de Assistência ao Desenvolvimento Fonte: Adaptado do Bundesministerium für Wirschaftliche Zusammennarbeit und Entwicklungszusammenarbeit. Disponível em: < Entwicklungszusammenarbeit.pdf> acesso em dez.2009.

336 ANEXO B - Die Akteure der Entwicklungszusammenarbeit in Deutschland 336

337 337 Anexo C GTZ Princípios de Conduta Íntegra conduta

338 338

339 Fonte: GTZ. Normas de Conduta. Disponível em: < Acessado em 9 dez

340 340 ANEXO D Referenciais Temporais do PPG7 Fonte: Elaborado pela autora com base no relatório MMA (BRASIL, 2009)

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