POLÍTICAS FUNDAMENTAIS PARA ULTRAPASSAR A CRISE. 25 de Março de 2011
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- Bento Canejo César
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1 POLÍTICAS FUNDAMENTAIS PARA ULTRAPASSAR A CRISE 25 de Março de 2011 Exmas. Senhoras Exmos. Senhores Bom dia a todos. Quero, desde já, expressar os meus agradecimentos pelo amável convite que me foi formulado pelo Professor Boaventura de Sousa Santos, Director do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, e pela Organização Internacional do Trabalho, para convosco partilhar a perspectiva da CIP relativamente às políticas que julgamos ser necessário levar a cabo para ultrapassar a crise que atravessamos. Face ao curto tempo de que disponho, começo por reconhecer, desde já, o que é evidente para todos nós: a actualidade encontra-se marcada por uma grave crise financeira que afecta a economia portuguesa e que, não tendo sido até hoje resolvida, está a comprometer a confiança necessária para vencer os obstáculos actuais e criar as condições necessárias para a retoma do investimento, com a consequente geração de riqueza e criação de emprego. Não vou deter-me nas questões que têm a ver com as origens da crise ou com os seus impactos na economia. Umas e outros são sobejamente conhecidos. O que importa verdadeiramente é que se trata de problemas ainda sem solução. Diria mesmo que se trata de problemas cuja solução 1
2 não se sabe quando surgirá e cujos impactos começam a ser devastadores. Em primeiro lugar, na confiança dos empresários. Mas também na confiança dos mercados internacionais nas capacidades de Portugal resolver os seus problemas pelos seus próprios meios e com os seus próprios recursos. Estamos cada vez mais dependentes do financiamento externo e corremos o risco de ficar dependentes da ajuda externa à gestão dos nossos recursos. É uma situação muito grave e extremamente preocupante. Quais as saídas? O caminho é estreito, mas ainda é possível. Antes de mais, entendo que é necessário um amplo consenso nacional sobre as medidas para vencer as dificuldades actuais. Um consenso político com ou sem eleições, mas um consenso que envolva uma ampla maioria que, em estabilidade e compromisso de fazer o melhor pelo país, defina e faça cumprir medidas exigentes para seguir em frente. Mas não basta impor sacrifícios. É preciso dizer para que servem esses sacrifícios. 2
3 As políticas até agora adoptadas pelo Governo através dos 4 PEC deste último ano foram explicadas como as necessárias para conter o défice e controlar as finanças públicas. Ou seja, foram definidas e explicadas como medidas para resolver problemas e não para criar soluções; foram medidas para, desculpem o termo, tapar buracos e emendar erros de gestão dos recursos públicos. Não foram medidas para defender e viabilizar um novo projecto para Portugal. Pediu-se aos portugueses para pagarem mais impostos, que serviram não para alimentar novas esperanças mas para cobrir os défices das contas públicas. Aumentou-se a receita fiscal, à custa de um esforço inaudito das empresas e das famílias, mas não se disse qual era o caminho novo nem que era necessário mudar de vida. Tem-se governado como se a economia portuguesa pudesse ser gerida por uma folha de cálculo em que, para atingir um determinado resultado de défice, se aplicam fórmulas automáticas que recaem sempre sobre a receita, raramente sobre a despesa. Assim, não vamos lá. Infelizmente, a CIP diz isto mesmo há pelo menos um ano. Os PEC, isto é, os Programas de Estabilidade e Crescimento têm sido planos de estabilidade, mas só na despesa pública, e de crescimento, mas só na receita fiscal. 3
4 Minhas Senhoras e Meus Senhores, Falei há pouco da necessidade de um amplo entendimento político, que envolva uma maioria parlamentar representativa, estável e coerente. Mas falei também de um amplo entendimento social, que determine as condições para melhorar a competitividade, aumentar a produtividade, fomentar a confiança, criar mais investimento, produzir riqueza e gerar emprego. A minha pergunta é a mesma desde há muito tempo: por que razões esse entendimento não tem sido possível? Vejamos: Desígnios como a melhoria da competitividade, o crescimento das exportações, o aumento da produtividade não são desígnios comuns a toda a sociedade e, em especial, aos agentes empresariais e sindicais? É sabido que há diferentes pontos de vista e que as prioridades podem divergir. Mas, no final, os fins a atingir não serão os mesmos? 4
5 Em meu entender, o que está em causa é uma questão de atitude. Ou temos uma atitude de disponibilidade para a concertação e para o diálogo e, neste caso, as soluções acabam por surgir, quase que naturalmente. Ou temos uma atitude de conflito permanente, sempre em busca de valorizar o que nos divide e de encontrar argumentos para dizer que NÃO. Repito: assim, não vamos lá. Em nosso entender, as soluções políticas que se desenhem para ultrapassar a crise devem ter como vectores primordiais de referência a competitividade das empresas portuguesas e o emprego. Sem competitividade, as empresas definham, arrastando consigo os empregos e a riqueza que criaram. Tendo bem presentes tais condicionalismos, a CIP considera que as políticas a conceber devem ter como referência a competitividade das empresas e o emprego. No que diz respeito à competitividade, esta resulta da forma como as empresas podem conjugar os factores de produção ao seu dispor e das condições de contexto onde operam, com vista a aumentarem a respectiva produtividade. 5
6 Na perspectiva da CIP, é necessário resolver os graves problemas relacionados com a competitividade do nosso Pais, o que passa também por superar vários constrangimentos: Morosidade da Justiça; Acesso ao financiamento, nomeadamente ao crédito bancário; Obtenção de seguros de crédito; Encargos, financeiros e burocráticos, relativos à obtenção de licenças, seus procedimentos e taxas; Eficiência energética; Simplificação e estabilidade do nosso ordenamento jurídico; Combate à fraude e à economia paralela; Eficiência, simplificação, estabilidade e previsibilidade do sistema fiscal. Relativamente ao emprego, há que ter presente o acentuado aumento da taxa de desemprego em Portugal: 11,2%, em Janeiro de 2011, de acordo com o EUROSTAT, o que corresponde a cerca de 620 mil indivíduos. Esta escalada do desemprego, como resultado, em parte, da grave crise económico-financeira, aliada a fenómenos de intensificação da concorrência global, à evolução da procura dos consumidores e ao significativo crescimento do sector dos serviços, agudizaram a necessidade de introduzir, no nosso mercado de trabalho, instrumentos flexíveis de contratação, que potenciem a capacidade produtiva e competitiva das empresas através, entre outros factores, da utilização de mão-de-obra disponível nos centros de emprego. A CIP considera essencial introduzir maior flexibilidade no mercado de trabalho, através da criação ou do desenvolvimento de formas 6
7 expeditas de contratação que se coadunem com a extrema mutabilidade e evolução dos actuais mercados. Depois de tanto esforço financeiro investido em dezenas de milhares de licenciados e de qualificados que procuram inserção no mercado de emprego para postos de trabalho que os motivem e a que empenhadamente se dedicariam, como pode justificar-se a continuação do preenchimento desses postos de trabalho por quem não tem essas competências? O perdurar deste desfasamento constitui um verdadeiro contra-senso face ao estado da economia nacional. O risco aumentou, e aumentou também o esforço necessário para identificar novos mercados e novos nichos. A qualidade e a inovação exigem investimento. O cumprimento de prazos e a concorrência pelo preço exigem gestão atenta e criteriosa. Assim sendo, só com flexibilidade e com formas expeditas de contratar e gerir se poderá aproveitar o máximo de oportunidades. E quando se fala em maior flexibilidade, não se visa apenas maior facilidade em despedir. Com mais flexibilidade, tem-se em vista outras condições viradas para criar emprego, situação que só é viável, de forma sustentada, através da criação de novas empresas ou do desenvolvimento das existentes. Nessa criação e desenvolvimento, avultam, com igual impacto, não só a racionalização dos recursos disponíveis mas também a possibilidade de utilizar esses recursos. 7
8 A alternativa à flexibilidade é o desperdiçar de oportunidades ou a economia informal. E, na economia informal, todos ficamos a perder. A CIP tem insistido na necessidade de introduzir maior flexibilidade no mercado de trabalho, através da criação de formas ágeis e expeditas de contratação, dirigidas a um universo circunscrito que importa mobilizar. Há enormes vantagens no recurso a este tipo de instrumentos, através, designadamente, do aligeiramento do condicionalismo legalmente previsto para a contratação a termo. A contratação a termo é legal, prevendo a lei a adequada protecção. Ou seja, para além de legal, a contratação a termo é uma forma de contratação com protecção. Entendemos também que a contratação a termo deve ser aligeirada em certas situações, por forma a satisfazer todas as oportunidades de encomendas, diminuindo assim o desemprego. Tal alargamento passa por admitir a contratação a termo de trabalhador à procura de primeiro emprego e de desempregado, inscritos em centro de emprego há mais de seis meses, sempre que tal contratação ocorra com esse fundamento. Deste modo, os desempregados regressam ao trabalho, ao mesmo tempo que se introduz maior flexibilidade, através da agilização de formas legais de contratação que se coadunem com a extrema mutabilidade e evolução dos actuais mercados. 8
9 Por outro lado, a CIP considera imprescindível concretizar as reformas políticas já em curso no domínio da formação profissional. A fraca qualificação dos recursos humanos, motivada por uma elevada taxa de abandono escolar e por um sistema de ensino pouco atento às necessidades das empresas, leva a que o sucesso e a competitividade das nossas empresas dependa, em grande medida, do que no futuro se conseguir alcançar no domínio da educação e da formação. Creio que todos concordamos na imperiosa necessidade de fazer corresponder as competências às necessidades exigidas pelo mercado de trabalho, por forma não só a reduzir os efeitos da crise, mas também a potenciar um quadro em que ganhem relevo níveis de produtividade elevados aquando da retoma económica. Minhas Senhoras e Meus Senhores, O momento é grave. A economia vai perder postos de trabalho, o desemprego vai aumentar, o consumo vai diminuir, o poder de compra vai reduzir, o crescimento vai ser negativo. Perante este quadro, é responsabilidade patriótica dos Parceiros Sociais encontrar soluções, através do diálogo, de um diálogo que olhe para o futuro e que restaure a confiança perdida. 9
10 O Diálogo Social, como plataforma para a organização dos interesses dos empregadores e dos trabalhadores, contribui para a paz e para a coesão social e ajuda a combater a exclusão e a pobreza. Termino, dizendo que a Concertação Social e o Diálogo Social bipartido constituem meios eficazes para resolver em conjunto os problemas, muito para além dos problemas sócio-laborais, que actualmente existem nas empresas e na sociedade. A Concertação Social e o Diálogo Social têm contribuído de forma inequívoca para a criação e a manutenção de um clima de paz social, não só ao nível nacional, mas, também, no quadro europeu. Nenhuma organização empresarial e nenhuma sociedade evolui e progride em ambiente de tensão social e de crispação. Não é de costas voltadas que os problemas se resolvem. Mas sinceramente acredito que os passos atrás que demos ultimamente no processo de concertação social bipartida abrangente sejam em breve recuperados e que seja possível retomar as negociações para um novo Acordo Social para o Desenvolvimento, em que Empregadores e Empregados encontrem novas soluções para a nova ordem económica que há-de seguir-se à crise que vivemos. É este o meu objectivo! Muito obrigado pela vossa atenção. 10
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