REVISTA ACADÊMICA SÃO MARCOS
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- Cláudio Alencar Barateiro
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1 19 NÃO CONFORMIDADES NAS PRÁTICAS DE PRECAUÇÃO / ISOLAMENTO E OCORRÊNCIA DE INFECÇÕES POR ACINETOBACTER BAUMANII RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE (IRAS) COMO ELEMENTO DE MELHORIA NO PROCESSO DE GESTÃO. RESUMO Renato Ribeiro Nogueira Ferraz 1 Milton Soibelmann Lapchik 2 Anderson Sena Barnabé 3 João Victor Fornari 4 Pacientes que adquirem Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) geram elevados custos de atendimento quando comparados àqueles pacientes sem infecção. Objetivo: Avaliar os elementos de gestão em serviços de saúde com impacto sobre a prevenção contra estas infecções. Método: Os critérios e definições de IRAS causadas por Acinetobacter baumanii foram os mesmos do Programa Nacional de Controle de Infecções Hospitalares da ANVISA. Os procedimentos de gestão em serviço de saúde foram elencados com base na legislação sanitária vigente e relacionados com as práticas de prevenção contra as IRAS, em atenção às medidas de prevenção contra as infecções causadas por bactérias multirresistentes. Resultados: Dos 7 pacientes, 5 (71%) evoluíram com IRAS por Acinetobacter baumanii. Conclusão: O problema citado reforça a necessidade de aprimoramento dos processos relacionados à prevenção das IRAS, com destaque para a adesão da equipe multiprofissional às normas de vigilância de pacientes colonizados ou com infecção por bactérias multirresistentes, precauções padrão e isolamento de contato, visando reduzir as taxas de infecção e os custos relacionados ao atendimento, contribuindo assim para melhoria nos processos de gestão como um todo. Palavras-chave: Gestão em Saúde. IRAS. Vigilância em Saúde. Segurança do Paciente. Palavras-Chave: Gestão em Saúde. IRAS. Vigilância em Saúde. Segurança do Paciente. 1. INTRODUÇÃO 1 Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Programa de Mestrado Profissional em Administração - Gestão em Sistemas de Saúde (PMPA-GSS) - Universidade Nove de Julho (UNINOVE) e- mail: renatoferraz@uninove.br 2 Doutor em Infectologia, Programa de Mestrado Profissional em Administração - Gestão em Sistemas de Saúde (PMPA-GSS) - Universidade Nove de Julho (UNINOVE) 3 Doutor em Saúde Pública pela USP, Departamento de Saúde UNINOVE. 4 Doutor em Saúde Coletiva pela UNIFESP. Departamento de Saúde UNINOVE.
2 20 REVISTA ACADÊMICA SÃO MARCOS Na UTI se concentram os pacientes clínicos ou cirúrgicos em estados mais graves. A grande maioria deles apresenta doenças ou condições clínicas predisponentes para o desenvolvimento de infecções. Muitos já se encontram infectados ao serem admitidos na UTI e quase todos são submetidos a procedimentos invasivos ou imunossupressivos, com finalidade diagnóstica e/ou terapêutica, sendo alguns deles realizados em condições de emergência, violando os tradicionais princípios de assepsia e antissepsia (PONTES et al., 2006). As infecções hospitalares são classificadas como um tipo de IRAS adquiridas após a admissão do paciente e que se manifestem durante a internação ou após a alta, quando puderem ser relacionadas com a internação ou procedimentos hospitalares (PEREIRA E MORIYA, 1994; ANVISA, 1998). Representam séria ameaça à segurança dos pacientes hospitalizados, constituindo-se em uma das mais frequentes e insidiosas complicações. Ademais, contribuem para elevar as taxas de morbidade e mortalidade, aumentam os custos de hospitalização mediante o prolongamento do tempo de permanência e custos com procedimentos diagnósticos e terapêuticos, além da manutenção por mais tempo do indivíduo em estado de improdutividade profissional (SIEGEL et al., 2007). As infecções do trato respiratório, em especial, estão entre aquelas que acometem o maior número de indivíduos hospitalizados (MEDEIROS, 2003), gerando consideráveis custos aos sistemas de saúde (NANGINO, 2012). Os índices de infecção hospitalar nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) tendem a serem maiores do que aqueles encontrados nos demais setores do hospital devido à gravidade das patologias de base, aos procedimentos invasivos utilizados ao longo do tempo de internação, e ao comprometimento imunológico, que tornam os pacientes mais suscetíveis ao desenvolvimento de infecções (CAVALCANTE et al., 2000). O Acinetobacter baumannii é um microrganismo multirresistente aos antimicrobianos. É um patógeno nosocomial bastante conhecido, causador de surtos de IRAS com frequência aumentada nas últimas décadas (BRAGA, 2004). A maioria dos isolados clínicos dessa bactéria representa mais os estágios de colonização do que a infecção per se. Entretanto, várias infecções foram documentadas em pacientes de UTI, incluindo pneumonia, infecções primárias da corrente sanguínea e infecções do trato urinário. A transmissão cruzada tem sido associada aos reservatórios ambientais, que incluem, dentre outros, o equipamento de ventilação mecânica, além das mãos dos profissionais que prestam assistência aos pacientes (LAPCHIK et al., 2006). Pacientes infectados por Acinetobacter baumanii frequentemente apresentam antecedentes de hospitalização prolongada, longa permanência na UTI ou antibioticoterapia prévia, aumentando consideravelmente os custos hospitalares. A maioria dos isolados desta bactéria provém de pacientes hospitalizados submetidos a procedimentos invasivos como múltiplos cateteres intravenosos, respiradores, traqueotomias, cânulas orotraqueais, umidificadores, drenos cirúrgicos ou cateteres urinários (LAPCHIK et al., 2006). Atualmente o modelo de precauções/isolamento mais utilizado é o que as classifica em padrão e baseadas na transmissão, sendo esta última dividida em precaução de contato, precaução aérea e precaução por
3 21 gotículas (GARNER, 1996). Para prevenção contra as IRAS causadas por bactérias multirresistentes está indicada a utilização de precauções de contato. Os avanços tecnológicos relacionados ao uso de dispositivos invasivos para diagnóstico e tratamento, e o agravamento da resistência microbiana aos antibióticos, tornaram as infecções relacionadas à assistência à saúde um problema de saúde pública (TURRINI e SANTO, 2002). A Organização Mundial da Saúde (OMS) manifesta sua preocupação com o crescente aumento da resistência microbiana aos antibióticos no mundo (OMS, 2012). A velocidade com que são lançados novos antimicrobianos no mercado pela indústria farmacêutica não acompanha o crescente aumenta da resistência microbiana aos antibióticos, levando a casos de IRAS por bactérias resistentes a todos os antimicrobianos existentes e disponíveis para uso em humanos. No Brasil a ANVISA, em parceria com a Organização Panamericana de Saúde (OPAS), tem desenvolvido um sistema de monitoramento da resistência microbiana através da Rede Nacional de Monitoramento da Resistência Microbiana em Serviços de Saúde Rede RM, desde Esta Rede tem como principal objetivo tornar a assistência à saúde mais efetiva por meio do uso adequado de antimicrobianos e da detecção, prevenção e controle da emergência de resistência microbiana em serviços de saúde no país. A Rede RM é composta pelos hospitais participantes da rede sentinela, laboratórios centrais (LACEN), comissões estaduais e municipais de controle de infecção hospitalar. De acordo com a ANVISA, os objetivos específicos deste projeto são: padronizar método para uso em laboratórios de microbiologia que garanta acurácia e reprodutibilidade de análises microbiológicas no âmbito nacional e mecanismos para melhoria da qualidade desses dados, capacitar laboratórios de saúde pública e de hospitais sentinelas participantes do projeto RM, para atuarem em rede na identificação e confirmação da resistência microbiana, capacitar as comissões de controle de infecção do Distrito Federal (DF), estados, municípios e hospitais do projeto RM, para atuarem em rede, provendo dados epidemiológicos das infecções, implementar Rede Nacional de Monitoramento da Resistência Microbiana em Serviços de Saúde, monitorar perfil de patógenos prioritários para realização de estudos epidemiológicos, identificar e estimular a adoção de estratégias de prevenção e controle específicos para os patógenos estudados, estabelecer diretrizes e definições de estratégias de atuação para a vigilância, a prevenção e controle da disseminação da resistência microbiana hospitalar e comunitária, criar sistema de notificação e retorno de informação sobre detecção, prevenção e controle da disseminação da resistência microbiana, analisar o impacto da implantação da Rede RM e da adoção das recomendações adotadas e servir de base para programa permanente para monitoramento do perfil de sensibilidade e controle da resistência microbiana hospitalar no Brasil. Analisar os processos relacionados à prevenção contra as IRAS no âmbito da gestão hospitalar é relevante com o intuito de fornecer subsídio para uma reflexão e revisão das práticas assistenciais adotadas em instituições hospitalares. Os protocolos e procedimentos operacionais padrão para a sistematização do atendimento aos pacientes graves em UTI, tem por objetivo subsidiar a segurança do paciente e a prevenção de IRAS (SERVIÇO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR, 2008).
4 22 REVISTA ACADÊMICA SÃO MARCOS Perante o exposto, julga-se importante analisar como ocorrem as práticas de precauções/ isolamento à partir do diagnóstico de infecção hospitalar por Acinetobacter baumannii, visando fornecer subsídio para uma reflexão e revisão das práticas de isolamento adotadas em diferentes instituições hospitalares para, em breve, formular campanhas com o intuito central de diminuir as taxas de infecção, além de amparar o desenvolvimento de protocolos de sistematização aos pacientes infectados, reduzindo o tempo de internação, os custos da unidade hospitalar e, principalmente, o desconforto dos pacientes infectados. Baseado em uma série de casos (relato de problema) de infecção relacionada à assistência em saúde causada por Acinetobacter baumanii, com acometimento de pacientes críticos em unidade de atendimento especial, buscou-se analisar os processos da gestão hospitalar, com destaque para a adesão às normas de precauções e isolamento, que apresentam relevância na prevenção das IRAS, além da qualidade e segurança do paciente. 2. MÉTODO Estudo de problema relacionado à ocorrência de IRAS causada por Acinetobacter baumanii, com análise dos elementos de gestão hospitalar para a prevenção e melhoria da qualidade de assistência em saúde. O problema foi identificado em hospital público estadual de São Paulo - SP, regido pelos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), através da observação prospectiva dos prontuários de pacientes hospitalizados em unidade especial de atendimento aos pacientes graves, realizada pela equipe multiprofissional no período de 08/2012 a 09/2012, como parte das ações de vigilância epidemiológica para prevenção e controle de IRAS. A unidade hospitalar é composta por três áreas distintas: uma destinada aos pacientes com necessidade de cuidados semi-intensivos com 4 leitos, uma correspondente a ala de isolamento com 2 leitos e uma contendo 7 leitos que compõe a UTI. Essa Unidade de Tratamento Especial está destinada a receber pacientes que necessitam de cuidados especiais sendo, portanto, de especialidade geral. As variáveis observadas foram: a data de internação, diagnóstico inicial da equipe médica, idade e sexo do paciente, doenças associadas, tipo de ventilação, período da indicação de isolamento ou precaução e tipo de acesso vascular. As variáveis categóricas foram expressas por frequência absoluta e relativa, sem a aplicação de testes estatísticos. As demais variáveis foram apresentadas por uma medida de tendência central seguida por uma medida de dispersão (média ± desvio-padrão). Todas as variáveis estudadas passaram por uma análise multivariada utilizando-se o programa Medcalc Clinical Calculations (Aspire Soft International) visando identificar os fatores influenciadores do desfecho final, que foi a infecção por Acinetobacter baumannii. Nenhuma informação que pudesse identificar a instituição onde essa pesquisa foi realizada ou os pacientes que participaram do estudo foi divulgada. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da instituição onde foi realizado por estar de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
5 23 3. RESULTADOS No período de observação foram contabilizadas sete internações na UTI, perfazendo a capacidade total do setor. Dos pacientes internados, cinco deles (71% da amostra), evoluíram com IRAS causadas por Acinetobacter baumannii. A média de dias de internação dos pacientes após a constatação de infecção por Acinetobacter baumannii foi de 19 ± 14 dias. Verificou-se que, dos dois pacientes não infectados (29% do total), um encontrava-se em pós-operatório imediato de exérese bilateral de ovário em decorrência de neoplasia maligna, ascite e derrame pleural. O outro paciente apresentou crise hipertensiva e Infarto Agudo do Miocárdio (IAM). Erroneamente, ambos se encontravam junto aos pacientes infectados, ocupando os leitos em quarto coletivo. Entre os diagnósticos dos pacientes infectados foram observados infecção puerperal, choque séptico, choque hipovolêmico, infecção por HIV, tuberculose miliar, herpes e insuficiência respiratória. Entre os cinco pacientes infectados, somente um (20%) era do sexo feminino e quatro (80%) eram do sexo masculino. A média de idade dos infectados foi de 42 ± 8 anos. Quanto ao tipo de ventilação, um paciente (20%) se encontrava em ventilação espontânea e quatro pacientes (80%) em ventilação mecânica. Com relação ao tipo de acesso venoso, um paciente (20%) usava acesso venoso periférico e quatro pacientes (80%) acesso venoso central, sendo que as mesmas porcentagens se aplicaram ao cateterismo vesical. Na análise multivariada, nenhuma das variáveis observadas apresentou correlação direta com a positividade para infecção por Acinetobacter baumanii. 4. DISCUSSÃO Pacientes com doenças crônicas ou condições clínicas predisponentes às infecções, procedimentos invasivos e imunossupressivos, apresentam maior risco de adquirir infecção por Acinetobacter baumanni. Neste caso, os pacientes em estudo apresentavam-se mais susceptíveis à infecção devido às patologias anteriormente citadas e ao uso de dispositivos invasivos (cateteres, ventilação mecânica invasiva) e de enfermagem (sondagem vesical) realizados (PONTES, et al., 2006). Nossos dados com respeito a um maior acometimento de indivíduos do sexo masculino corroboram os resultados observados em um estudo americano realizado em 2006 (FERNANDES, 2006). Todavia, devido ao reduzido número de indivíduos acompanhados em nosso estudo, e também pelo fato da variável idade não ter apresentado correlação estatisticamente significante com o fator infecção, assumimos que este resultado deve ser interpretado com cautela. Também já é fato conhecido que o patógeno mais frequente em infecções pulmonares associadas à ventilação mecânica é o Acinetobacter baumanii, com incidência de 80% dos casos, todos de aspirado
6 24 REVISTA ACADÊMICA SÃO MARCOS traqueal (WU et al., 2002). Embora nossa amostra possa ser considerada bastante reduzida, os índices observados em nosso Serviço encontram-se em conformidade com os já disponíveis na literatura. Sabe-se que, quanto maior o período de internação, maior o risco de infecção pela Acinetobacter (PONTES et al., 2006). Apesar da média de dias de internação observada em nosso trabalho ter sido de 19 dias (3-39 dias), em pelo menos um dos casos a infecção foi diagnosticada com apenas três dias de internação, mostrando que o fator dias de internação tem interferência apenas indireta no processo de desenvolvimento das IRAS. Este fato talvez possa estar relacionado a uma predisposição apresentada por determinados pacientes, descrita por Pontes (2006), ou mesmo ao fato dos pacientes infectados não estarem em quarto privativo, como recomendam as Normas de Precauções e Isolamento da CCIH da instituição avaliada. O excesso de tempo de hospitalização é risco e também consequência de IRAS. A maior permanência em hospitais relaciona-se com maior risco de aquisição de infecções hospitalares. Por outro lado, as infecções hospitalares determinam excesso de tempo de hospitalização e os pacientes permanecem sob risco de adquirir novas infecções, permanecendo por mais tempo hospitalizados. Esta sequência de eventos reduz a capacidade de giro de utilização de leitos hospitalares e reduz o caráter resolutivo no atendimento hospitalar, no atendimento de demanda do pronto-socorro e ambulatórios de especialidades para a hospitalização. Entre as medidas relacionadas à gestão hospitalar para prevenção e controle de IRAS causadas por Acinetobacter baumanii, destaca-se a adesão correta por parte da equipe multiprofissional aos procedimentos de precauções / isolamento (PEREIRA e MORIYA, 1994): higiene de mãos, treinamento e capacitação da equipe multiprofissional sobre os procedimentos operacionais padrão (POP) de prevenção contra as IRAS, adequação de sinalização e comunicação interna identificando quais são os pacientes em isolamento, fornecimento de equipamentos de proteção individual (luvas, aventais descartáveis) e a adequação quantitativa e qualitativa em recursos humanos para o atendimento seguro aos pacientes. Outros aspectos relevantes incluem a parte estrutural / física do hospital para a prática correta das precauções / isolamento como disponibilização de dispensadores com álcool gel para a higiene de mãos, a localização favorável de pias com funcionamento adequado e papel toalha para a higiene de mãos e a disponibilização de luvas e aventais para uso no atendimento de pacientes em isolamento. A adesão por parte da equipe multiprofissional às precauções e isolamento de contato exemplifica parte dos processos assistenciais e estruturais relacionados à prevenção contra as IRAS causadas por bactérias multirresistentes. As precauções e isolamento de contato consistem em atender o paciente em quarto ou box privativo (individual), utilizando-se sinalização apropriada do tipo de isolamento, higiene de mãos antes e após sair do quarto de atendimento, uso de luvas e avental descartável no interior do quarto de atendimento, descarte dos equipamentos de proteção individual como resíduos infectantes. Tais medidas visam reduzir ao máximo a transmissão de microrganismos através do contato direto ou indireto no ambiente hospitalar e
7 25 para outras pessoas (outros doentes e equipe multiprofissional que presta assistência à saúde). Como alguns aspectos estruturais para a adesão às precauções e isolamento de contato, podemos citar a presença de pias próximas ao local de atendimento de pacientes em isolamento, com funcionamento adequado, permitindo o fluxo de água em tempo e volume adequado para a higiene de mãos. Juntamente à pia, a disponibilização de papel toalha e sabão líquido é importante, permitindo a execução da higiene de mãos preconizada pela Organização Mundial da Saúde. Problemas com a manutenção de pias e na disponibilização de papel toalha e sabão líquido constituem fatores limitantes para a adesão ao isolamento de contato. A falta de quartos ou box privativo em serviços de saúde também é fator de dificuldade para as boas práticas de isolamento. O atendimento em quartos coletivos (enfermarias) determina fragilidade para as práticas aqui citadas de maneira individualizada. A sinalização e a identificação de que o paciente está sendo atendido em isolamento de contato são relevantes para adesão da equipe multiprofissional aos procedimentos. A não inclusão desta informação em prontuário de atendimento do paciente constitui fator de dificuldade na cobrança dos custos de materiais utilizados junto à fonte pagadora e onerando a administração da instituição. O desabastecimento do almoxarifado que fornece os equipamentos de proteção individual à equipe multiprofissional representa outro fator limitante para as boas práticas de isolamento, sendo fator impeditivo para adesão ao isolamento de contato por falta de equipamentos de proteção individual. A gestão do almoxarifado e a regulação dos estoques de EPI é outro fator importante no sentido de garantir condições execução e de adesão às praticas de precauções e isolamento. A gestão de pessoas também é relevante na análise de adesão às práticas de precauções e isolamento de contato, considerando que a capacitação técnica e a carga de trabalho, compatível com o tipo de assistência, aos profissionais que prestam o cuidado ao paciente são determinantes para adesão aos procedimentos e menor risco de ocorrência de IRAS. Os pacientes que se apresentam com infecção por microrganismo multirresistente, incluindo o Acinetobacter baumanii, devem ser mantidos em quarto privativo bem como a higiene ambiental controlada. A Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) de cada Instituição deve ser consultada para avaliar os riscos e propor alternativas para adequação das práticas de isolamento, sempre que necessário (PONTES et al., 2006). A média do tempo de hospitalização (em dias) observada em nosso trabalho foi de 19 dias (variando de 3-39 dias). Esse fato talvez possa estar relacionado a uma predisposição apresentada por determinados pacientes ou mesmo ao fato dos pacientes infectados não estarem em quarto privativo em isolamento de contato, como recomendam as Normas de Precauções e Isolamento da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) da instituição avaliada. O monitoramento da adesão aos protocolos clínicos e procedimentos operacionais padrão, através da utilização de indicadores de processos, constitui medida custo-efetiva na gestão de serviços de saúde.
8 26 REVISTA ACADÊMICA SÃO MARCOS A falta de treinamento para capacitação técnica aos profissionais da assistência a saúde é fator relacionado com maior risco para ocorrência de IRAS. Por outro lado, serviços de saúde com elevada taxa de rotatividade em recursos humanos apresentam também como consequência a necessidade de retreinamento e prejuízos à qualidade de atendimento. Os gestores devem estar atentos para garantir as condições de execução das precauções e isolamento, considerando a disponibilização e abastecimento de equipamentos de proteção individuais para uso, fluxo de pacientes e área física apropriada, evitando-se os riscos de contaminação cruzada de microrganismos, as condições apropriadas de higiene de mãos. A não adesão às práticas de precauções e isolamento, aos pacientes críticos, é frequentemente relacionada com a transmissão de bactérias multirresistentes aos antibióticos, como, por exemplo, as bactérias do gênero Acinetobacter, tendo as mãos dos profissionais de saúde como veículo de transmissão destas bactérias de um doente para outro. Outro fator que interfere negativamente para as práticas de prevenção contra as infecções hospitalares inclui a sobrecarga de trabalho dos profissionais de enfermagem na assistência aos pacientes críticos em UTI. A sobrecarga de trabalho relacionada à desproporção entre o número de profissionais de enfermagem e de pacientes é relatada como fator de risco para o aumento da incidência de infecções hospitalares em pacientes críticos. Estudos têm relatado a insuficiência de profissionais de enfermagem como fator importante para a ocorrência de infecções hospitalares em unidades de atendimento neonatal e pediatria. Além de relacionar-se com má adesão às práticas de higiene e antissepsia das mãos pelos profissionais de saúde, a sobrecarga de trabalho é um obstáculo às ações de educação continuada para o controle de infecção hospitalar, onde a disponibilidade para a participação de treinamentos e a eficácia dos mesmos fica prejudicada. O COREN destaca a proporção de, no mínimo, um profissional de enfermagem para cada 2 doentes internados em UTI. Em estudo realizado pelo Núcleo Municipal de Controle de Infecção Hospitalar da COVISA/SP (LAPCHIK et al., 2006), apresentado no 11º Congresso Mundial de Saúde Pública, onde foram analisados os Programas de Controle de Infecção Hospitalar de 14 hospitais vinculados à Autarquia Hospitalar do Município de São Paulo no ano de 2005, as seguintes nãoconformidades foram observadas em todos os hospitais: a desproporção entre profissionais de enfermagem e pacientes assistidos em UTI e a falta ou má localização de pias, dispensadores de sabonete líquido e papel toalha para higiene das mãos. O diagnóstico microbiológico adequado e a racionalidade de uso de antimicrobianos são relevantes para a prevenção e controle de IRAS causadas por bactérias multirresistentes. O processo de identificação microbiológica e a comunicação efetiva entre os profissionais do laboratório e a equipe que presta assistência aos pacientes são relevantes para o diagnóstico e tratamento precoce dos doentes acometidos. A utilização de sistemas com sinalização de alerta na identificação de bactérias multirresistentes pelo laboratório poderá ser útil, tornando os processos assistenciais mais seguros, com a adequação da antibioticoterapia e a pronta instituição de isolamento de contato aos pacientes com IRAS causadas por bactérias multirresistentes.
9 27 Para atenção aos princípios da racionalidade de uso de antimicrobianos em serviços de saúde, além da identificação microbiológica dos agentes causadores de IRAS, cabem ações dirigidas ao corpo clínico e no âmbito da assistência farmacêutica hospitalar. Entre as estratégias descritas pela ANVISA e Rede RM, destacamos a atuação conjunta do farmacêutico clínico e do médico da CCIH para realização de busca ativa e de auditorias internas de prescrições de antimicrobianos, com a realização de devolutiva e oportunidades de melhorias nos padrões de prescrição de antibióticos. Este trabalho conjunto realizado pelo farmacêutico e o médico da CCIH, é também apoiado pela disponibilização de guias e orientações escritas (manuais) em apoio às diretrizes para o uso racional de antibióticos no hospital. Atualmente, a participação do farmacêutico clínico nas ações de vigilância epidemiológica para o uso racional de antimicrobianos é relevante e reconhecida internacionalmente, propondo adequações às prescrições de antimicrobianos com base nas características farmacocinéticas e farmacodinâmicas, além de oferecer subsídios para a prescrição de antimicrobianos com menor toxicidade medicamentosa e com eficácia na erradicação da infecção. CONCLUSÃO Observou-se elevada incidência de IRAS causadas por Acinectobacter baumannii na unidade hospitalar avaliada. Baseado neste relato de problema é de suma importância que os gestores de serviços de saúde estejam atentos para os processos relacionados às normas de Precauções/Isolamento, biossegurança e das técnicas assépticas de atendimento, de maneira a minimizar a ocorrência de IRAS e contribuir para a melhoria na segurança dos pacientes hospitalizados. A prevenção contra as IRAS causadas por bactérias multirresistentes exige das lideranças e da alta direção dos serviços de saúde, a atenção voltada para os recursos humanos na composição da equipe multiprofissional, a educação e vigilância de processos assistenciais voltados para a biossegurança, a adequação da prestação de serviços pelo laboratório de microbiologia e a adequação no campo da assistência farmacêutica em atenção à racionalidade de uso de antimicrobianos. Reconhecemos que este estudo foi realizado por um curto período de tempo e com um número reduzido de pacientes. Todavia, a condução de novas pesquisas com um maior número de pacientes e por um período maior de observação, e que abordem a resistência bacteriana e medidas auxiliares de controle de infecção cruzada, atuação do CCIH e as aplicabilidades de isolamento, serão fundamentais para a prevenção, controle e tratamento, além da diminuição das altas taxas de infecção por Acinetobacter baumannii.
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