O MANDADO DE INJUNÇÃO COMO SOLUÇÃO PARA FALTA DE EFETIVIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA LIMITADA
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- Ana Lívia Caminha Brunelli
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1 O MANDADO DE INJUNÇÃO COMO SOLUÇÃO PARA FALTA DE EFETIVIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA LIMITADA THE INJUNCTION MANDATE AS A SOLUTION TO FAILURE OF EFFECTIVE OF THE CONSTITUTIONAL STANDARDS OF LIMITED EFFICIENCY RESUMO Larissa Benez Laraya O presente artigo tem o objetivo de analisar a falta de efetividade de algumas normas inseridas na Constituição Federal de 1988, quando já passados mais de vinte anos da sua promulgação. De início, para contextualizar a discussão do tema em questão, procurouse demonstrar o cenário vivenciado no Brasil naquela época, que, de certa forma, propiciou o surgimento de um novo paradigma constitucional, com a elaboração de normas constitucionais de diferentes espécies, em relação a sua aplicabilidade e eficácia. Após, buscou-se demonstrar um dos possíveis elementos justificadores da falta de efetividade dos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos, bem como apontar os problemas dessa inércia constitucional. Diante de tais constatações, o mandado de injunção é sugerido, no presente trabalho, como um importante instrumento de efetivação das normas constitucionais de eficácia limitada, passando-se a discorrer sobre sua origem histórica, previsão legal, conceito, objeto, requisitos, legitimidade e competência, até chegar nos efeitos da decisão do mandado de injunção e sua evolução jurisprudencial junto ao Supremo Tribunal Federal, que recentemente modificou seu entendimento para finalmente proporcionar efetividade aos direitos e liberdades constitucionais e as prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania dos cidadãos. PALAVRAS-CHAVES: CONSTITUIÇÃO FEDERAL EFETIVIDADE MANDADO DE INJUNÇÃO. ABSTRACT This paper aims to examine the lack of effectiveness of some rules into the Constitution of 1988, when it has spent more than twenty years since it has been enacted. At first, to contextualize the discussion of the topic in question, it to show the perspectives at that lived time in Brazil, which in some way, allowed the emergence of a new constitutional paradigm, with the development of constitutional requirements of different species in for their usefulness and effectiveness. Afterward, the document seeks after demonstrating one of the possible effectiveness failure reasons of fundamental rights and guarantees of citizens, as well as pointing at the problems of constitutional inertia. Faced with such findings, the mandate of injunction is suggested in this work, as an 4295
2 important tool to accomplish the constitutional requirements of limited effectiveness, going to discuss its historical background, legal forecast, concept, object, requirements, legitimacy and jurisdiction, until the effects of the decision of the writ of injunction and judicial developments at the Supreme Court, which recently changed its view to provide, ultimately, effective constitutional rights and liberties and prerogatives inherent to the citizens nationality, sovereignty and citizenship. KEYWORDS: KEYWORDS: CONSTITUTION - EFFECTIVENESS - INJUNCTION MANDATE. 1 INTRODUÇÃO Após os longos anos de regime militar, indiscutivelmente marcados por terríveis mutilações aos direitos, liberdades e garantias dos indivíduos, por intermédio de uma Assembléia Nacional Constituinte, verdadeiramente um Congresso Constituinte,[1] foi promulgada a Constituição Federal em 05 de outubro de Com forte inspiração no constitucionalismo alemão do pós-guerra, voltado a modificar o paradigma constitucional daquela época, em que a Constituição era vista como mero documento político e não como norma jurídica, a Constituição de 1988 apresentou um texto realmente inovador, ficando reconhecida a sua força normativa, além do caráter vinculativo e obrigatório de suas disposições.[2] A Constituição Cidadã, assim denominada pelo então Presidente da Assembléia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães, instituiu no Brasil o Estado Democrático de Direito com a finalidade de assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista sem preconceitos e fundada na harmonia social.[3] O texto constitucional ainda declarou ser um dos fundamentos da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana,[4] constituindo como seus objetivos fundamentais construir uma sociedade livre, justa e solidária, garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a marginalização, reduzindo as desigualdades sociais e regionais, promover o bem de todos, sem preconceitos ou outras formas de discriminação.[5] Assim, vale destacar que a Constituição Federal de 1988, apesar da velocidade e voracidade com que caminham suas emendas, seriamente tendentes a transformá-la em 4296
3 uma verdadeira colcha de retalhos, conseguiu promover de maneira bem sucedida, a transformação de um Estado autoritário, para um Estado Democrático de Direito, além de sedimentar o mais longo período de estabilidade institucional na história brasileira.[6] Mas, para Lenio Luiz Streck: [7] (...) a simples elaboração de um texto constitucional, por melhor que seja, não é suficiente para que o ideário que o inspirou se introduza efetivamente nas estruturas sociais, passando a reger com preponderância o relacionamento político de seus integrantes. Daí que a eficácia das normas constitucionais exige um redimensionamento do papel do jurista e do Poder Judiciário (em especial da Justiça Constitucional) nesse complexo jogo de forças, na medida em que se coloca o seguinte paradoxo: uma Constituição rica em direitos (individuais, coletivos e sociais) e uma prática jurídicojudiciária que, reiteradamente, (só)nega a aplicação de tais direitos. Ao bem da verdade, segundo José Afonso da Silva, a Assembléia Nacional Constituinte convocada pelo Presidente José Sarney, não foi a constituinte dos nossos sonhos, mas não se pode negar que, apesar dos esforços para dotar o país de uma Constituição digna, produziu-se uma Constituição que as circunstâncias possibilitaram. [8] Apesar da ampla manifestação de movimentos sociais por todo país, que renderam alguns dispositivos constitucionais, entre os parlamentares integrantes da Assembléia Nacional Constituinte não havia consenso sobre os rumos do texto constitucional. Tal situação talvez explique o grande número de dispositivos de eficácia limitada ou contida, sendo postergada sua regulamentação a posterior edição de lei ordinária ou complementar.[9] Todavia, mais de 20 (vinte) anos se passaram, e ainda existem direitos e garantias fundamentais salvaguardados pela Constituição Federal sem efetividade jurídica, pois dependem de regulamentação. Diante da vergonhosa inércia do legislador infraconstitucional, além da indignação restam indagações: Como tornar as normas constitucionais realmente efetivas? Poderia o Estado contribuir, de alguma forma, com a efetivação dos direitos e garantias fundamentais? Existem instrumentos jurídicos capazes de emprestar efetividade às normas Constitucionais? 4297
4 2 DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS Para José Afonso da Silva a Constituição é a lei suprema do Estado. Seu conteúdo tornou-se, com o passar dos anos, cada vez mais amplo, dispondo sobre a estruturação e organização dos órgãos do Estado, formas de aquisição e exercício do poder, impondo limites a atuação do Estado assegurando direitos e garantias fundamentais aos indivíduos, disciplinando o regime político, econômico, social e cultural, entre outros.[10] Entrementes, diante do cenário em que a Assembléia Nacional Constituinte se instituiu, e da diversidade das matérias tratadas, a positivação desses temas gerou a elaboração de diferentes espécies de normas, em relação a sua aplicabilidade. Existem várias classificações das normas constitucionais, mas para José Afonso da Silva,[11] as normas constitucionais podem ser de eficácia plena, contida e limitada. As normas constitucionais de eficácia plena são aquelas de aplicação imediata, estavam aptas para produzirem seus efeitos desde que a Constituição entrou em vigor, como, por exemplo, as normas que disciplinam sobre a estrutura do Estado (separação dos poderes, regime político, entre outras). As normas constitucionais de eficácia contida também têm aplicabilidade imediata, mas deixam margem à atuação discricionária do poder público, nos termos em que a lei estabelecer. Pode-se exemplificar tais normas com a regra disposta no artigo 5º, inciso XIII, da CF: é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer. Já as normas constitucionais de eficácia limitada, especialmente relevantes para o presente estudo, são aquelas de aplicação mediata e indireta, pois dependem de norma ulterior infraconstitucional para sua regulamentação e efetivação, conforme verifica-se na regra disposta no artigo 5º, inciso VI, da CF: é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias. Há doutrinadores como Jorge Miranda, Maria Helena Diniz e Pontes de Miranda que citam ainda uma outra categoria de normas constitucionais, as normas programáticas, 4298
5 que são acima de tudo programas das respectivas atividades, pretendendo unicamente a consecução dos fins sociais pelo Estado.[12] Tratam-se de meras intenções que o constituinte inseriu no texto constitucional para posterior tentativa de implementação, talvez porque, num primeiro momento, avaliou que não fossem tão relevantes quanto os demais direitos. 3 DA (IN)EFETIVIDADE DA CONSTITUIÇÃO Segundo o Dicionário Aurélio[13] efetividade significa qualidade de efetivo, atividade real, resultado verdadeiro, realidade, existência. Como termo jurídico amplamente utilizado pelos juristas, efetividade significa a capacidade da norma de produzir efeitos. Luís Roberto Barroso,[14] entende que: "a efetividade significa, portanto, a realização do Direito, o desempenho concreto de sua função social. Ela representa a materialização dos fatos, dos preceitos legais e simboliza a aproximação, tão íntima quanto possível, entre o dever-ser normativo e o ser da realidade social." Mas a realidade social da maioria do povo brasileiro é bem dura e cruel. Segundo a Síntese de Indicadores Sociais referente ao ano de 2008 apresentada pelo IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas,[15] no Brasil a taxa de analfabetismo das pessoas com mais de 15 (quinze) anos caiu de 14,7% para 10%, no entanto, o número de pessoas que ainda não sabem ler ou escrever é muito elevado, corresponde aproximadamente a 14,1 milhões de analfabetos. Certamente essas pessoas desconhecem completamente a luta travada no país para transformá-lo em um Estado Democrático de Direito, bem como os direitos e garantias individuais, coletivos e políticos também conquistados nessa batalha. Assim, talvez fosse romantismo exacerbado pretender que estas pessoas tivessem a consciência de que a Constituição, que ironicamente é a expressão maior da vontade de um povo, renega alguns desses direitos e garantias por falta de regulamentação. 4299
6 A falta de informação é tão grande que talvez esses indivíduos passem a vida inteira sem saber que a melhor arma para combater essa entre outras injustiças só dependem deles mesmos, o voto. Entretanto, Franco Montoro[16] pondera que: O regime representativo tradicional reduz a participação do cidadão à formalidade do voto. Mas, as novas condições da vida coletiva exigem novas soluções. (...) O homem contemporâneo começa a tomar consciência de que não é somente um espectador da história, mas seu agente. Desta forma verifica-se que não é apenas votar conscientemente, mas tornar-se agente, como, por exemplo, fiscalizar nossos representantes no Congresso Nacional, para apurar se suas promessas de campanha eleitoral realmente foram implementadas, ou se eles se preocupam em editar leis que regulamentem as normas constitucionais para finalmente efetiva-las. Destaca-se ainda que a responsabilidade pela falta de efetividade de algumas normas constitucionais também recai sobre o poder público. A educação, por exemplo, é um direito de todos, e dever do Estado, visa o pleno desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da cidadania.[17] Até que ponto o Estado contribui para efetivação desse direito fundamental do indivíduo? Nota-se que, segundo a Magna Carta educar não é apenas ensinar a ler e escrever, mas também, e principalmente, preparar o indivíduo para o exercício da cidadania, que é a capacidade de qualificar os indivíduos para integrar-se na vida do Estado, inclusive com direito de participação (ouvir e ser ouvido, votar e ser votado).[18] Entretanto, os últimos governos, ao assumirem o poder, para ganhar maior governabilidade, ao invés de tomar a Constituição Federal como regra fundamental de seu plano de governo buscando assim sua efetividade, usurpam a função de legislar do Poder Legislativo, e, através de Medidas Provisórias, verdadeiramente legislam gerando um clima de instabilidade política e, consequentemente jurídica. 4300
7 Marcelo Neves,[19] durante a palestra A Constituição Simbólica Revisitada apresentada na Escola da Magistratura Regional Federal da 2ª Região, discursou sobre as normas constitucionais, e a relação existente entre a legislação simbólica e a legislação efetiva, apta a satisfazer os anseios da sociedade: A inclusão no texto constitucional de determinados conteúdos que não tem uma relação com a realidade concreta do país acaba por exercer apenas uma função simbólica na medida em que esses conteúdos, na verdade, não são aplicados na prática. E nesse sentido a Constituição acaba funcionando como álibi. (...) Defendo uma dogmática que lute pela concretização da legislação a fim de tentar superar esse simbolismo constitucional. Temos que superar a chamada corrupção sistêmica e a exclusão social, pois são pressupostos para o Estado de Direito e realização de Direitos Fundamentais. Referido autor ainda destacou que, no Brasil, a reforma do Estado para a superação do que conceituou como injustiça estrutural relacionada a constitucionalização simbólica depende mais da concretização e realização constitucional do que de Emendas Constitucionais: É fundamental se realizar o Estado de Direito combatendo incansavelmente a corrupção em todas as esferas. Além disso, a luta pela realização de direitos fundamentais é imprescindível para avançarmos na questão. Por fim, o reformismo constitucional, ou seja, a utilização da bandeira de reformas constitucionais como programa de governo, é uma forte tendência a impedir a reforma do Estado no sentido da superação da injustiça estrutural relacionada a constitucionalização simbólica, prejudicando as necessárias transformações. Portanto, conclui-se que o maior responsável pela falta de efetividade da Constituição é o Estado, pois não cumpre de forma satisfatória os preceitos legais que lhe foram impostos, renegando a implementação de políticas públicas que realmente transformem os indivíduos em verdadeiros cidadãos, capacitando-os para a luta e defesa dos próprios direitos. 4301
8 4 DO MANDADO DE INJUNÇÃO 4.1 Origem histórica Segundo José Afonso da Silva o mandado de injunção teve origem no século XIV, na Inglaterra, nascendo do juízo de equidade.[20] Já Alexandre de Moraes aponta a origem do referido instituto no writ of injunction, nos Estados Unidos, indicando ainda sua existência no velho direito português.[21] Todavia, apesar de sua origem histórica, coube à doutrina e à jurisprudência pátria delimitar os contornos e objetivos do mandado de injunção insculpido na Constituição Federal de 1988, que na visão de Alexandre de Moraes trata-se de um (...) importante instrumento constitucional de combate à inefetividade das normas constitucionais que não possuam aplicabilidade imediata. [22] 4.2 Previsão legal O mandado de injunção encontra-se disposto no artigo 5º, inciso LXXI, da CF: conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício de direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. 4.3 Conceito Trata-se de remédio ou ação constitucional, de caráter civil, com procedimento especial, destinada a suprir omissão do poder público, com a finalidade de viabilizar o exercício de um direito, garantia ou prerrogativa prevista na Constituição.[23] Tem como finalidade principal conferir de forma imediata a aplicação de norma constitucional portadora de direitos, garantias e prerrogativas fundamentais, até então inertes por falta de lei ordinária ou complementar para sua devida regulamentação.[24] 4302
9 O mandado de injunção, segundo decisão unânime do Supremo Tribunal Federal com base no artigo 5º, 1º da CF, tem auto-aplicabilidade, não depende de lei regulamentadora.[25] 4.4 Objeto José Afonso da Silva indicou que o mandado de injunção tem como objeto assegurar o exercício: a) de forma plena de qualquer dos direitos constitucionais ainda pendentes de regulamentação; b) de liberdade constitucional; e, c) das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania, quando também estiverem pendentes de lei que as regulamente.[26] Alexandre de Moraes ainda ressalva que as normas constitucionais que poderão ser objeto de mandado de injunção são aquelas (...) de eficácia limitada de princípio institutivo e de caráter impositivo e das normas programáticas vinculadas ao princípio da legalidade, por dependerem de atuação normativa ulterior para garantir sua aplicabilidade. [27] 4.5 Requisitos O mandado de injunção possui apenas dois requisitos que são decorrentes: a) falta de norma reguladora de uma previsão constitucional; e, b) inviabilidade de exercer direitos, garantias e prerrogativas fundamentais previstas na Constituição.[28] 4.6 Legitimidade A legitimidade ativa pode ser exercida por qualquer pessoa titular de direto, garantia ou prerrogativa constitucional, cabendo, inclusive, o litisconsórcio ativo. A legitimidade passiva só pode ser exercida pelo Estado, pois ele é o único que tem o poder de editar leis. 4.7 Competência 4303
10 Segundo o disposto no artigo 102, inciso I, letra q da CF, compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originariamente, o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal. O artigo 105, inciso I, letra h da CF ainda dispõe que competente ao Superior Tribunal de Justiça processar e julgar, originariamente, o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta, excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal. 4.8 Os efeitos da decisão do mandado de injunção e sua evolução jurisprudencial no STF Segundo Alexandre de Moraes,[29] num primeiro momento, ao julgar o mandado de injunção, o Supremo Tribunal Federal limitava-se em reconhecer formalmente a inércia do Poder Público, dando ciência ao ente legiferante da referida omissão para que este editasse a norma reguladora, não implementando assim qualquer medida jurisdicional capaz de viabilizar o exercício do direito, respeitando o princípio constitucional fundamental da tripartição de poderes estabelecido no artigo 2º da CF. A doutrina classificou essa posição como não concretista. Mas tal posição sofria críticas, pois destinava ao mandado de injunção os mesmos efeitos obtidos com o julgamento das ações diretas de inconstitucionalidade por omissão (artigo 103, 2º da CF), sendo que se tratam de institutos diferentes, pois o constituinte os tratou de modo diverso ao elaborar o texto constitucional. Além da posição não concretista, a doutrina também indica a posição concretista na qual o Poder Judiciário declara a existência da omissão de norma reguladora e, ato contínuo, implementa o exercício do direito obstado até que o poder competente edite a norma. 4304
11 A posição concretista se subdivide em geral, quando a decisão do mandado de injunção produz efeito erga omnes; e, individual, quando referida decisão só produz efeitos para o autor da ação. A posição concretista geral não é muito aceita, pois fere o princípio constitucional fundamental da tripartição de poderes, gerando discussões desnecessárias ao julgamento do mérito do mandado de injunção. Por sua vez, a posição concretista individual ainda se divide em direta e intermediária. A corrente concretista individual direta (adotada pelos Ministros do Supremo Tribunal Federal Carlos Velloso e Marco Aurélio) entende que o Tribunal, ao julgar procedente o mandado de injunção, implementa para o autor a eficácia da norma constitucional omissa. A corrente concretista individual intermediária (adotada pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal Néri Silveira) entende que o Tribunal, ao reconhecer a procedência do mandado de injunção deve fixar prazo para o Congresso Nacional elaborar a norma reguladora. Caso o Poder Legislativo permaneça inerte, o Poder Judiciário devera implementar as condições necessárias para o regular exercício do direito do autor. Tal corrente afigura-se a mais coerente, na medida em que não ultrapassa as barreiras impostas para a harmoniosa co-existência entre os poderes Legislativo e Judiciário, conferindo ao órgão competente a oportunidade de corrigir sua omissão. Todavia, caracterizada a completa inércia do legislador, o Poder Judiciário, aqui representado pela Corte Constitucional do nosso país, efetiva o exercício do direito salvaguardado pela Constituição Federal ao autor da ação, bem como ainda consolida sua principal função, qual seja, a de resguardar a Magna Carta. Em 25 de outubro de 2007, o Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento dos Mandados de Injunção nºs 670, 708 e 712 (DJ 31/10/2008), mudou consideravelmente sua posição quanto à eficácia da decisão do referido instituto. Em seu voto, o Ministro Celso de Mello,[30] relembrando a lição do saudoso Ministro Luiz Gallotti, considerou que: é um daqueles julgamentos em que os Ministros desta Corte Suprema, sob o olhar atento da sociedade brasileira, decidem questão impregnada do mais alto grau de relevo social e jurídico, porque o Supremo Tribunal Federal deve definir, no exame desta causa, a real natureza jurídica do mandado de injunção, em obséquio à necessidade de respeito efetivo aos direitos, prerrogativas e liberdades que a Constituição assegura aos 4305
12 cidadãos desta República, cabendo-lhe, ainda, resolver o delicado tema pertinente ao exercício do direito de greve no serviço público. A Suprema Corte levada a exaustão pelo Congresso Nacional, devido as inúmeras vezes em que comunicou a omissão legislativa quanto a regulamentação ao direito de greve dos servidores públicos sem obter êxito, adotou a corrente concretista geral, suprindo a lacuna constitucional, implementou ao caso o mesmo regime existente para o setor privado, conforme verifica-se na ementa transcrita abaixo: EMENTA: MANDADO DE INJUNÇÃO. GARANTIA FUNDAMENTAL. (CF, ART. 5º, INCISO LXXI). DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS (CF, ART. 37, VII). EVOLUÇÃO DO TEMA NA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF). DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DE COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL PARA APRECIAÇÃO NO ÂMBITO DA JUSTIÇA FEDERAL E DA JUSTIÇA ESTADUAL ATÉ A EDIÇÃO DA LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA PERTINENTE, NOS TERMOS DO ART. 37, INCISO VII, DA CF. EM OBSERVÂNCIA AOS DITAMES DA SEGURANÇA JURÍDICA E À EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL NA INTERPRETAÇÃO DA OMISSÃO LEGISLATIVA SOBRE O DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS, FIXAÇÃO DO PRAZO DE 60 (SESSENTA) DIAS PARA QUE O CONGRESSO NACIONAL LEGISLE SOBRE A MATÉRIA. MANDADO DE INJUNÇÃO DEFERIDO PARA DETERMINAR A APLICAÇÃO DAS LEIS NºS 7.701/1988 E 7.783/1989. [31] No início da década de 90 (noventa), com o julgamento do MI nº 107/DF, o Supremo Tribunal Federal, consolidou entendimento quanto à abrangência e os efeitos das decisões proferidas nos mandados de injunção que lhe seriam dirigidos a partir de então, nos seguintes termos: i) os direitos constitucionalmente garantidos por meio de mandado de injunção apresentam-se como direitos à expedição de um ato normativo, os quais, via de regra, não poderiam ser diretamente satisfeitos por meio de provimento jurisdicional do STF; ii) a decisão judicial que declara a existência de uma omissão inconstitucional, constata, igualmente, a mora do órgão ou poder legiferante, insta-o a editar a norma requerida; iii) a omissão inconstitucional tanto pode referir-se a uma omissão total do legislador quanto a uma omissão parcial; iv) a decisão proferida em sede do controle abstrato de normas acerca da existência, ou não, de omissão é dotada de eficácia erga omnes, e não apresenta diferença significativa em relação a atos decisórios proferidos no contexto do mandado de injunção; v) o STF possui competência constitucional para, na ação de mandado de injunção, determinar a suspensão de processos administrativos ou judiciais, com o intuito de assegurar ao interessado a possibilidade de ser contemplado por norma mais benéfica, ou que lhe assegure o direito constitucional invocado; vi) por fim, esse 4306
13 plexo de poderes institucionais legitima que o STF determine a edição de outras medidas que garantam a posição do impetrante até a oportuna expedição de normas pelo legislador. [32] Assim, verifica-se que com a antiga posição adotada pelo Supremo Tribunal Federal, o autor do mandado de injunção continuava sem poder exercer seus direitos constitucionalmente garantidos, uma vez que a Suprema Corte reconhecia que esses direitos não poderiam ser diretamente satisfeitos por meio de um provimento jurisdicional. Além disso, a decisão do mandado de injunção apenas declarava a existência da omissão que impedia o pleno exercício do direito fundamental, bem como reconhecia a mora do órgão legiferante, determinando a colmatação da lacuna legislativa. Enquanto isso, o STF poderia determinar a suspensão do processo até a devida regulamentação do direito constitucional invocado. Com o julgamento do MI nº 283/DF (DJ 14/11/1991), após a constatação da omissão, pela primeira vez, o STF fixou prazo para que fosse superada a mora legislativa. Alguns meses depois, no julgamento do MI nº 232/RJ (DJ 27/03/1992), constatada a inércia do Congresso Nacional, o Tribunal reconheceu o direito de gozo ao requerente à imunidade pleiteada. Todavia, apesar de significarem um certo avanço, referidas posições ainda revelaram-se inadequadas, pois existiam situações que permaneciam sem solução, como, por exemplo, o direito de greve dos servidores públicos. Desta forma, o STF resolveu ampliar a abrangência da garantia constitucional conferida ao mandado de injunção admitindo soluções normativas para a decisão judicial, buscando torna-la efetiva, ou seja, conforme ponderado pelo Ministro Gilmar Mendes o Supremo Tribunal Federal aceitou a possibilidade de uma regulamentação provisória pelo próprio Judiciário, uma espécie de sentença aditiva, se se utilizar a denominação do direito italiano. [33] Referido Ministro ainda considera que essa sistêmica conduta omissiva [34] do Poder Legislativo sempre deverá ser submetida à apreciação de uma Corte Constitucional, que assume o importante papel de guardiã da Constituição, e, assim, torna-se responsável pela fiscalização de constitucionalidade das omissões legislativas. [35] O Ministro Celso de Mello[36] enfatizou que: 4307
14 A inércia estatal em adimplir as imposições constitucionais traduz inaceitável gesto de desprezo pela autoridade da Constituição e configura, por isso mesmo, comportamento que deve ser evitado, pois nada mais nocivo, perigoso e ilegítimo do que elaborar uma Constituição, sem a vontade de fazê-la cumprir integralmente, ou, então, de apenas executá-la com o propósito subalterno de torná-la aplicável somente nos pontos que se revelarem convenientes aos desígnios dos governantes, em detrimentos dos interesses maiores dos cidadãos. Cabe ainda ressalvar que os Ministros Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio demonstraram certa preocupação com os alcances da decisão do referido mandado de injunção, restringindo sua abrangência apenas aos servidores filiados ao sindicato autor da ação. Além disso, alertaram sobre a possível interferência desmedida do Poder Judiciário sobre o Poder Legislativo, os problemas com a fixação de prazo para o Congresso Nacional legislar, bem como o receio de abrir precedentes para novas decisões com esse caráter totalmente inovador. Entretanto, essa inaceitável omissão do Estado, caracterizada pelo dever de editar regramentos normativos, obrigação esta estabelecida na Constituição Federal, renegando aos cidadãos o efetivo exercício de sues direitos fundamentais, é muito mais nociva e inconstitucional do que qualquer outra posição adotada pela Suprema Corte na tentativa de conferir cidadania do povo brasileiro. 5 CONCLUSÃO Após 20 (vinte) anos da sua promulgação, lamentavelmente a Constituição Federal ainda não se tornou totalmente efetiva na vida dos cidadãos brasileiros. Muitos indivíduos desconhecem seus direitos, garantias e prerrogativas fundamentais, bem como o poder de poderem lutar pela devida regulamentação desses direitos, pois como dizia Carl Schmitt nós somos a Constituição. O Estado, conforme demonstrado, contribui de forma preponderante para falta de efetividade da Constituição, esquecendo-se completamente que a sociedade, ou seja, o povo brasileiro é o verdadeiro sentimento, o valor real do Brasil. Um Estado que renega aos seus cidadãos o pleno exercício dos direitos e garantias fundamentais, atua contra si mesmo, mina suas próprias forças, pois, em uma democracia, seu poder emana do povo. 4308
15 Com a novel decisão judicial, o Supremo Tribunal Federal, buscou não só assegurar o exercício do direito de greve dos servidores públicos civis até a edição de norma específica que regulamente o caso concreto, mas também conferir concretude à Constituição Federal. A posição adotada pela Suprema Corte para alcançar a efetivação da Magna Carta acabou atingindo o exercício de dois importantes direitos. Finalmente o mandado de injunção foi encarado como um instrumento capaz de tornar viável o exercício de direitos e liberdades fundamentais, tal como pretendido pelo legislador constituinte brasileiro quando fez a inserção do referido instituto no rol de garantias constitucionais. Em seu voto, o Ministro Celso de Mello, comentando a antiga posição adotada pelo STF quando do julgamento do MI nº 107/DF, destacou que: Esse entendimento restritivo não mais pode prevalecer, sob pena de se esterilizar a importantíssima função político-jurídica para a qual foi concebido, pelo constituinte, o mandado de injunção, que deve ser visto e qualificado como instrumento de concretização das cláusulas constitucionais frustradas, em sua eficácia, pela inaceitável omissão do Congresso Nacional, impedindo-se, desse modo, que se degrade a Constituição à inadmissível condição subalterna de um estatuto subordinado à vontade ordinária do legislador comum. [37] Além disso, assegurando o exercício de direitos e garantias fundamentais, bem como o respeito aos mecanismos criados para sua defesa, o Supremo Tribunal Federal confere amplo exercício da cidadania ao povo brasileiro. Para Maria de Lourdes Manzini-Covre:[38] Só existe cidadania se houver a prática da reivindicação, da apropriação de espaços, da pugna para fazer valer os direitos do cidadão. Neste sentido, a prática da cidadania pode ser a estratégia, por excelência, para a construção de uma sociedade melhor. Mas o primeiro pressuposto dessa prática é que esteja assegurado o direito de reivindicar os direitos, e que o conhecimento deste se estenda cada vez mais a toda população. 4309
16 Uma sociedade consciente de seus direitos, bem como dos meios colocados a sua disposição para reivindicação desses direitos, consegue efetivamente lutar pelo completo exercício da cidadania, construindo assim um verdadeiro Estado Democrático de Direito. 6 REFERENCIAL BIBLIOGRAFICO BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito. O triunfo tardio do Direito Constitucional no Brasil. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, nº 851, 1 nov Disponível em: Acesso em: 05 jan BARROSO, Luís Roberto. O Direito Constitucional e a efetividade de suas normas - limites e possibilidades da constituição brasileira. 2ª edição, Rio de Janeiro: Renovar, BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, in VADE MECUM, 4ª edição atualizada e ampliada. São Paulo: Saraiva, BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Injunção nº 670-9/ES. Impetrante: Sindicato dos Servidores Policiais Civis do Estado do Espírito Santo - SINDPOL. Impetrado: Congresso Nacional. Relator para o Acórdão: Ministro Gilmar Mendes. Brasília, 25 de outubro de DJE 31/10/2008. DINIZ, Maria Helena. Norma constitucional e seus efeitos. 2ª edição. São Paulo: Saraiva, FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Síntese de Indicadores Sociais Disponível em: Acesso em: 04 jan. 09. MANZINI-COVRE, Maria de Lourdes. O que é cidadania. 2ª edição. São Paulo: Brasiliense, (Coleção Primeiros Passos). MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do direito. 24ª edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 7ª edição revista, ampliada e atualizada. São Paulo: Atlas,
17 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 23ª edição revista, ampliada e atualizada. São Paulo: Atlas, NEVES, Marcelo. Disponível em: < professor-marcelo-neves-da-puc-sp-apresenta-conferencia>. Acesso em: 03 jan SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 26ª edição. São Paulo: Malheiros, SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 6ª edição. São Paulo: Malheiros, STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição constitucional e hermenêutica: uma nova crítica do Direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, [1] SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 26ª ed., 2006, p. 89. [2] BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito. O triunfo tardio do Direito Constitucional no Brasil. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, nº 851, 01 nov Disponível em:. Acesso em: 05 jan [3] Constituição Federal, Preâmbulo e artigo 1º, caput. [4] Constituição Federal, artigo 1º, inciso III. [5] Constituição Federal, artigo 3º. [6] BARROSO, op. cit. [7] STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição constitucional e hermenêutica: uma nova crítica do Direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 28. [8] SILVA, op. cit., p [9] STRECK, op. cit., p [10] SILVA, op. cit., p [11] SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1982, p [12] DINIZ, Maria Helena. Norma constitucional e seus efeitos. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 1992, p.104. [13] FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira,
18 [14] BARROSO, Luís Roberto. O Direito Constitucional e a efetividade de suas normas - limites e possibilidades da constituição brasileira. 2ª ed., Rio de Janeiro: Renovar, 1993, p. 79. [15] IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Síntese de Indicadores Sociais Disponível em: Acesso em: 04 jan. 09. [16] MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do direito. 24ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 17. [17] Constituição Federal, artigo 205. [18] SILVA, op. cit., p [19] NEVES, Marcelo. Disponível em: < professor-marcelo-neves-da-puc-sp-apresenta-conferencia>. Acesso em: 03 jan [20] SILVA. op. cit., p [21] MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 7ª ed. revista, ampliada e atualizada. São Paulo: Atlas, 2000, p.168. [22] Ibid., p [23] Ibid., p [24] SILVA. op. cit., p [25] MORAES, op. cit., p [26] SILVA, op.cit., p [27] MORAES, op. cit., p [28] Ibid., p.171. [29] MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 23ª ed. revista, ampliada e atualizada. São Paulo: Atlas, 2008, p.174/179. [30] Mandado de Injunção nº 670-9/ES. [31] Ibid. [32] Ibid. [33] Ibid. [34] Ibid. 4312
19 [35] Ibid. [36] Ibid. [37] Ibid. [38] MANZINI-COVRE, Maria de Lourdes. O que é cidadania. 2ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1997, p. 10. (Coleção Primeiros Passos). 4313
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