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- Olívia Porto Domingos
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1 Especial Específicas 1. (UEL 2014) Leia os quadrinhos e os textos a seguir. (Disponível em: < Acesso em: 7 out ) Nesse conceito grego, estavam, inseparáveis, o problema da origem que obriga o pensamento a ultrapassar os limites do que é dado na experiência sensorial e a compreensão, por meio da investigação empírica, do que deriva daquela origem e existe atualmente. (Adaptado de: JAEGER, W. Paidéia: a formação do homem grego. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, p.135.) Os primeiros filósofos passaram a substituir todas as divindades míticas pelo ser impessoal, chamado princípio ou, em grego, arché. Àquela arché atribuíram tanto a origem de todas as coisas quanto a capacidade de compô-las e estruturá-las. Assim, ela representa uma racionalização das forças divinas, da sua causalidade. (Adaptado de: TÜRCKE, C. O nascimento mítico do logos. In: DE BONI, L. A. (org.) Finitude e transcendência. Petrópolis: Vozes; Porto Alegre: PUCRS, p.89.) Com base na tirinha e nos textos e a partir dos conhecimentos sobre o surgimento e o desenvolvimento progressivo da, explique o significado filosófico da proposição enunciada por Tales de Mileto de que a água é o princípio de todas as coisas.
2 2. (UNESP 2012) Texto começa sob a vibração positiva de uma Lua crescente em Áries logo no dia 1.º. Áries é o signo que tem tudo a ver com o início de algo e traz muita garra, coragem e esperança. Ainda na primeira semana, Mercúrio, das comunicações, forma um aspecto harmonioso com Saturno e Netuno, evidenciando um momento de descobertas, diálogo e de primeiros passos coletivos na consolidação de um sonho ou projeto comum, de muitos povos e sociedades. Acordos internacionais e negociações de paz podem ser feitos em um momento feliz e que promete bom desenvolvimento. (Barbara Abramo. Céu de janeiro de ) Texto 2 O Irã lançou ontem mísseis de cruzeiro melhorados, que podem ameaçar navios americanos, durante um exercício naval que simula o fechamento do estreito de Hormuz por onde passa cerca de um sexto da produção de petróleo mundial. O míssil Ghader (capaz, em farsi) foi desenvolvido com o objetivo de atacar navios de guerra e proteger o litoral do país. Duas unidades foram disparadas ontem da costa iraniana em um teste. (Irã testa míssil que ameaça frota dos EUA. Folha de S.Paulo, ) Os dois textos, publicados no início de 2012, apresentam incompatibilidade lógica entre as formas pelas quais abordam a realidade. Responda quais são os pressupostos ou pontos de vista assumidos por cada um deles e explique os motivos dessa incompatibilidade. 3. (Unesp 2014) Texto 1 Você quer ter boa saúde e vida longa para você e sua família? Anseia viver num mundo onde a dor, o sofrimento e a morte serão coisas do passado? Um mundo assim não é apenas um sonho. Pelo contrário, um novo mundo de justiça logo será realidade, pois esse é o propósito de Deus. Jeová levará a humanidade à perfeição por meio do sacrifício de resgate de Jesus. Os humanos fiéis viverão como Deus queria: para sempre e com saúde perfeita. (A Sentinela, dezembro de Adaptado.) Texto 2 Assim, tenho de contradizê-lo quando prossegue argumentando que os homens são completamente incapazes de passar sem a consolação da ilusão religiosa, que, sem ela, não poderiam suportar as dificuldades da vida e as crueldades da realidade. Sem a religião, terão de admitir para si mesmos toda a extensão de seu desamparo e insignificância na maquinaria do universo; não podem mais ser o centro da criação, o objeto de terno cuidado por parte de uma Providência beneficente. Mas não há dúvida de que o infantilismo está destinado a ser superado.
3 Os homens não podem permanecer crianças para sempre; têm de, por fim, sair para a vida hostil. Podemos chamar isso de educação para a realidade. (Sigmund Freud. O futuro de uma ilusão, Adaptado.) Comente as diferenças entre os dois textos no tocante à religião. 4. (Unesp 2011) Texto I Por isso também nós, desde o dia em que soubemos, não cessamos de rezar por vós e pedir a Deus que vos conceda pleno conhecimento de sua vontade, perfeita sabedoria e inteligência espiritual, a fim de vos comportardes de maneira digna do Senhor, procurando agradar-lhe em tudo, dando fruto de toda obra boa e crescendo no conhecimento de Deus, animados de grande energia pelo poder de sua glória para toda a paciência e longanimidade. Com alegria, agradecemos a Deus Pai, que vos tornou capazes de participar da herança dos santos no reino da Luz. Que nos livrou do poder das trevas e transportou ao reino do seu Filho amado, no qual temos a redenção: a remissão dos pecados. (Bíblia Sagrada. Epístola aos Colossenses 1, 9-14, texto escrito no século I.) Texto II Olhe ao redor deste universo. Que imensa profusão de seres, animados e organizados, sensíveis e ativos! Examine, porém, um pouco mais de perto essas criaturas dotadas de vida, os únicos seres dignos de consideração. Que hostilidade e destrutividade entre eles! Quão incapazes, todos, de garantir a própria felicidade! Quão odiosos ou desprezíveis aos olhos de quem os contempla! O conjunto de tudo isso nada nos oferece a não ser a ideia de uma natureza cega, que despeja de seu colo, sem discernimento ou cuidado materno, sua prole desfigurada e abortiva. (David Hume. Diálogos sobre a religião natural, texto escrito em Adaptado.) Compare ambos os textos e comente uma diferença entre eles no que diz respeito à concepção de natureza humana e uma diferença referente à concepção de moralidade. 5. (UNESP 2012) A ciência moderna tem maior poder explicativo, permite previsões mais seguras e assegura tecnologias e aplicações mais eficazes. Não há dúvida de que a explicação científica sobre a natureza da chuva comporta usos que a explicação indígena não comporta, como facilitar prognósticos meteorológicos ou a instalação de sistemas de irrigação. Para a ciência moderna, a Lua é um satélite que descreve uma órbita elíptica em torno da Terra, cuja distância mínima do nosso planeta é cerca de 360 mil quilômetros, e que tem raio de quilômetros. Para os gregos, era Selene, filha de Hyprion, irmã de Hélios, amante de Endymion e Pan, e percorria o céu numa carruagem de prata. Tenho mais simpatia pela explicação dos gregos, mas devo reconhecer que a teoria moderna permite prever os eclipses da Lua e até desembarcar na Lua, façanha dificilmente concebível para uma cultura que continuasse aceitando
4 a explicação mitológica. Os astronautas da NASA encontraram na superfície do nosso satélite as montanhas observadas por Galileu, mas não encontraram nem Selene nem sua carruagem de prata. Para o bem ou para o mal as teorias científicas modernas são válidas, o que não ocorre com as teorias alternativas. (Sérgio Paulo Rouanet, filósofo brasileiro, Adaptado.) Cite o nome dos dois diferentes tipos de conhecimento comentados no texto e explique duas diferenças entre eles. 6. (Unesp 2014) Texto 1 Foi assim que, com Paracelso ( ), nasceu e se impôs a iatroquímica. E os iatroquímicos, em certos casos, chegaram a alcançar grandes êxitos, muito embora as justificações de suas teorias, vistas com os olhos da ciência moderna, apareçam-nos hoje bastante fantasiosas. Assim, por exemplo, com base na ideia de que o ferro é associado ao planeta vermelho Marte e a Marte, deus da guerra coberto de sangue e de ferro, administraram com sucesso sais de ferro a doentes anêmicos - e hoje conhecemos as razões científicas desse sucesso. (Giovanni Reale e Dário Antiseri. História da filosofia, vol. 2, Adaptado.) Texto 2 A ciência busca compreender a realidade de maneira racional, descobrindo relações universais e necessárias entre os fenômenos, o que permite prever acontecimentos e, consequentemente, também agir sobre a natureza. Para tanto, a ciência utiliza métodos rigorosos e atinge um tipo de conhecimento sistemático, preciso e objetivo. (Maria Lúcia de A. Aranha e Maria Helena P. Martins. Temas de filosofia, 1992.) Baseando-se na descrição do método científico do texto 2, explique por que as fundamentações da iatroquímica podem ser caracterizadas como fantasiosas. 7. (UNESP 2010) Em 399 a.c., o filósofo Sócrates é acusado de graves crimes por alguns cidadãos atenienses. (...) Em seu julgamento, segundo as práticas da época, diante de um júri de 501 cidadãos, o filósofo apresenta um longo discurso, sua apologia ou defesa, em que, no entanto, longe de se defender objetivamente das acusações, ironiza seus acusadores, assume as acusações, dizendo-se coerente com o que ensinava, e recusa a declarar-se inocente ou pedir uma pena. Com isso, ao júri, tendo que optar pela acusação ou pela defesa, só restou como alternativa a condenação do filósofo à morte. (Danilo Marcondes. Iniciação à História da, Adaptado.) Com base no texto apresentado, explique quais foram os motivos da condenação de Sócrates à morte.
5 8. (UNESP 2011) Leia o texto, extraído do livro VII da obra magna de Platão (A República), que se refere ao célebre mito da caverna e seu significado no pensamento platônico. Agora, meu caro Glauco continuei cumpre aplicar ponto por ponto esta imagem ao que dissemos, comparar o mundo que a visão nos revela à morada da prisão e a luz do fogo que a ilumina ao poder do sol. No que se refere à subida à região superior e à contemplação de seus objetos, se a considerares como a ascensão da alma ao lugar inteligível, não te enganarás sobre o meu pensamento, posto que também desejas conhecê-lo. Quanto a mim, tal é minha opinião: no mundo inteligível, a ideia do bem é percebida por último e a custo, mas não se pode percebêla sem concluir que é a causa de tudo quanto há de direto e belo em todas as coisas; e que é preciso vê-la para conduzir-se com sabedoria na vida particular e na vida pública. (Platão. A República, texto escrito em V a.c. Adaptado.) Explique o significado filosófico da oposição entre as sombras no ambiente da caverna e a luz do sol. 9. (UEL 2013) Observe a charge a seguir. (Adaptado de: < Acesso em: 30 ago ) Após descrever a alegoria da caverna, na obra A República, Platão faz a seguinte afirmação: Com efeito, uma vez habituados, sereis mil vezes melhores do que os que lá estão e reconhecereis cada imagem, o que ela é e o que representa, devido a terdes contemplado a verdade relativa ao belo, ao justo e ao bom. E assim teremos uma cidade para nós e para vós, que é uma realidade, e não um sonho, como atualmente sucede na maioria delas, onde combatem por sombras uns com os outros e disputam o poder, como se ele fosse um grande bem. (PLATÃO. A República. Lisboa: Calouste Gulbenkian, p.326.)
6 a) Segundo a alegoria da caverna de Platão e com base nessa afirmação, explique o modelo político que configura a organização da cidade ideal. b) Compare a alegoria da caverna e a charge, e explicite o que representa, do ponto de vista político, a saída do homem da caverna e a contemplação do bem. 10. (UEL 2012) Leia os textos a seguir. Projeto de lei quer tornar busca pela felicidade uma obrigação do Estado. (Disponível em: < Notícia de 23 ago Acesso em: 3 jul ) A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) lançou ontem um índice de vida melhor para medir a felicidade dos países, que vai bem além das cifras do Produto Interno Bruto (PIB). (Disponível em: < Notícia de 25 maio Acesso em: 3 jul ) A felicidade, mais do que qualquer outro bem, é tida como o bem supremo, pois a escolhemos por si mesma e nunca por causa de algo mais. Por sua vez, a honra, o prazer e a razão, embora os escolhamos por si mesmos (pois os escolheríamos, ainda que nada resultasse deles) escolhemo-los por causa da felicidade, pensando que a posse deles nos tornará felizes. Ao contrário, ninguém escolhe a felicidade tendo em vista algum destes, tampouco, de um modo geral, qualquer outra coisa que não seja ela própria. Se a felicidade é a atividade conforme à virtude, será razoável que ela esteja em conformidade com a mais alta de todas as virtudes, a qual se refere à melhor parte de cada um de nós. Não só é a razão a melhor coisa que existe em nós, como também os objetos da razão são os melhores entre os objetos passíveis de ser conhecidos. É a mais contínua, já que a contemplação da verdade pode ter uma continuidade maior que a de qualquer outra atividade que possamos exercer. (Adaptado de: ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, p.15; 188. Coleção Os Pensadores.) Pelas notícias acima, percebe-se que o tema felicidade está em voga. Para a filosofia, esse tema se impôs ainda na antiguidade clássica. Para Aristóteles, é insuficiente dizer que a felicidade eudaimonia é o maior bem para os seres humanos, pois há variações acerca do que cada um identifica por felicidade. Por essa razão, o filósofo afirma que é preciso compreender que tipo de vida ou bem viver está subjacente à felicidade. A partir dos conhecimentos sobre o tema felicidade em Aristóteles, explique em que cada um dos três tipos principais de vida (honra, prazer, razão) se aproxima ou se afasta da felicidade
7 11. (UEL 2014) Leia o texto a seguir. A família é a associação estabelecida por natureza para suprir as necessidades diárias dos homens. Mas, quando várias familias estão unidas em certo número de casas, e essa associação aspira a algo mais do que suprir as necessidades cotidianas, constitui-se a primeira sociedade, a aldeia. Quando várias aldeias se unem em uma única comunidade, grande o bastante para ser autossuficiente (ou para estar perto disso), configura-se a cidade, ou Estado que nasce para assegurar o viver e que, depois de formada, é capaz de assegurar o viver bem. A cidade-estado é a associação resultante daquelas outras, e sua natureza é, por si, uma finalidade: porque chamamos natureza de um objeto o produto final do processo de aperfeiçoamento desse objeto, seja ele homem, cavalo, família ou qualquer outra que tenha existência. Por conseguinte, é evidente que o Estado é uma criação da natureza e que o homem é, por natureza, um animal político. (Adaptado de: ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Nova Cultural, p ) Tendo como referência o pensamento político de Aristóteles na obra A Política, disserte sobre a relação entre o cidadão e a Cidade (pólis).
8 Gabarito 1. (Gabarito oficial) A proposição enunciada por Tales de Mileto de que a água é o princípio de todas as coisas inaugura um conhecimento que concebe racionalmente o mundo determinado por uma ordem intrínseca à natureza (physis) e não governado pelo divino. Nesse aspecto, esta proposição marca uma transição gradativa de um pensamento forjado pelas representações míticas para o pensar racional (logos) que formula uma explicação racional sobre o princípio originário e não originado de todas as coisas (arché). Essa proposição afirma a existência de um princípio único, causa de todas as coisas que são. Implica, pois, uma compreensão racional da physis fundada nas ideias de unicidade, de totalidade e de causalidade, distanciando-se da dispersão das narrativas míticas de suas representações que encaravam o mundo como um agregado de fragmentos diferenciados, longe de qualquer unidade. Abre-se uma nova racionalidade analítica e reflexiva que esboça a ideia de uma legalidade ou de uma ordem universal no mundo concebido como physis: tudo está interligado e, desse modo, se revela como um Cosmos desmitizado. 2. Estamos diante de dois textos muito diferentes. O texto I é um horóscopo, já o texto II uma reportagem de jornal. Estamos, pois, diante de perspectivas e construções textuais bastante diferentes, que implicam na admissão de pressupostos não apenas conflitantes, mas contraditórias entre si. Sendo um horóscopo, o texto I, naturalmente, admite a validade da astrologia como mecanismo de interpretação da realidade e procura observar os fatos aos seus olhos. Assim, do ponto de vista deste texto, o posicionamento dos astros é um elemento decisivo para a compreensão da política internacional, das possibilidades de acordos ou negociações de paz. Em suma, trata-se de um texto que assume como pressuposto a existência de elementos sobrenaturais que guiam a vida humana. O texto II, por sua vez, tendo caráter informativo e jornalístico, assume uma visão meramente natural dos fatos e procura descrevê-los fazendo recurso somente a elementos que podem ser verificados, seja pela razão ou pelos sentidos, tais como a presença de mísseis em certa localidade e suas consequências geopolíticas. O conflito entre os dois textos é, em certo sentido, um conflito entre uma explicação sobrenatural e uma explicação meramente natural da existência humana. 3. É fácil já perceber a diferença entre os dois textos, antes mesmo de lê-los: basta verificarmos os seus autores. Enquanto o texto I é um excerto de uma famosa revista de proselitismo das Testemunhas de Jeová, o texto II é um trecho de uma obra de o Freud, o pai da psicanálise, intelectual famoso por sua verve antirreligiosa. Ora, sendo um escrito cujo objetivo é expandir uma comunidade religiosa específica, o texto I apresenta a religião como um bem, aliás, como o grande bem para a vida humana. Na perspectiva da Sentinela, ao unir o homem a Deus, a verdadeira religião é o único meio genuíno pelo qual o ser humano pode satisfazer plenamente seus anseios de felicidade. Por sua vez, vendo na prática religiosa um elemento de infantilização do homem, Freud a condena veementemente. Para o pensador psicanalítico, a crença em Deus e em sua Providência impede o ser humano de enfrentar a realidade tal como ela de fato é, com todas as misérias e crueldades. Em suma, a religião não passa, na perspectiva freudiana, do cultivo de uma ilusão. 4. A passagem da Carta aos Colossenses e o excerto de Hume representam, antes de tudo, tipos de escrito radicalmente diferentes. Com efeito, enquanto no primeiro caso estamos diante de uma
9 obra religiosa e, portanto, fundada na fé, no segundo, estamos diante já de um escrito filosófico, cuja base de sustentação é a reflexão racional. Só isto já nos dá certa perspectiva necessária para avaliar as divergências entre os dois textos selecionados. Expressando a perspectiva cristã a respeito do homem, a Carta aos Colossenses apresenta o ser humano como criatura predileta de Deus, destinada por Ele a uma vida realizada e feliz. Por sua vez, profundamente pessimista, Hume vê no homem um ser cheio de misérias e que não parece passar, a um olhar criterioso, de um fruto do acaso. Essa diferença no aspecto antropológico, naturalmente, também recai em diferenças no campo da moralidade. A Carta aos Colossenses, privilegiando o relacionamento do ser humano com Deus, vê no homem um ser que, não obstante todos os seus pecados, pode, com a ajuda da graça divina, comportar-se de maneira digna e justa, obtendo, inclusive, a salvação eterna. Por sua vez, Hume, cético que era em relação ao sobrenatural, vê no home um ser hostil e destrutivo, incapaz de obter uma vida feliz. 5. As duas formas de conhecimento citadas pelo pensador brasileiro Sérgio Paulo Rouanet são o conhecimento mítico e o conhecimento científico. Naturalmente, sendo duas formas de conhecimento, ambos procuram construir explicações satisfatórias para a realidade. Seus métodos e perspectivas, porém, são radicalmente diferentes. O conhecimento mítico, como o próprio nome indica, explica a realidade através de mitos, isto é, de narrativas religiosas que, mediante o apelo a seres e elementos sobrenaturais, procuram dar conta das grandes angústias humanas, tais como a morte, o sentido da vida, a origem do homem, etc. A base do conhecimento mítico é a fé, ou seja, a crença mesmo sem provas, mas motivada pela confiança na autoridade daquele que enuncia o mito. Por sua vez, e nisto ambos se opõem, o conhecimento científico é de ordem racional. Além disso, sendo baseado na razão, ele não se expressa por meio de narrativas, mas sim de argumentos, sejam meramente racionais ou vinculados a experimentos. Na ciência, o elemento motivador da crença não é a confiança na palavra daquele enuncia mas sim a qualidade de seu argumento. 6. Ao confrontarmos os procedimentos dos iatroquímicos com a metodologia científica moderna, vemo-nos diante de duas atividades de ordens bastante distintas. De um lado está a ciência, um conhecimento racional específico que procura, mediante uma meticulosa observação dos fatos, extrair deles leis gerais, capazes de explicar o funcionamento da natureza. Sendo, além de racional, experimental, a ciência moderna só considera como provadas ou ao menos válidas, hipóteses que tenham sido submetidas a sucessivos testes. De outro lado, naturalmente, está a iatroquímica, que, não obstante ser uma importante predecessora da ciência moderna, não tinha compromisso como uma explicação exclusivamente racional da realidade e nem se submetia ao método experimental, admitindo, assim, pressupostos que um cientista moderno consideraria fantasiosos e supersticiosos precisamente por não se submeterem à metodologia científica. O nexo entre o ferro, um planeta e uma divindade, por exemplo, jamais poderia ser provado por meio de argumentos racionais ou de testes experimentais. 7. Sem dúvidas, difícil é a tarefa de reconstruir fidedignamente as razões que conduziram Sócrates à morte, visto que este não deixou nada escrito e tudo o que sabemos a seu respeito é fruto da informação de terceiros. De qualquer modo, segundo o relato de Platão, que se tornou canônico na história da filosofia, Sócrates foi condenado à morte acusado de dois crimes: a corrupção da juventude, isto é, a influência negativa sobre os jovens, e a impiedade, ou seja, a descrença em relação aos deuses da cidade. Estas, de fato, foram as acusações formais, porém, confrontado com elas, o Sócrates platônico as considera meros pretextos. Na realidade, segundo
10 ele, o verdadeiro motivo das acusações era a enormes raiva que as grandes personalidade públicas de Atenas tinham dele, simplesmente pelo fato de Sócrates haver demonstrado muitas vezes a todos que todos aqueles homens que se consideravam grandes sábios eram, na verdade, ignorantes. Foi a incapacidade dos grandes figurões de Atenas em admitir sua própria ignorância que tornou Sócrates alguém odioso a eles, que deveria ser calado a qualquer custo e, se necessário, com a morte. 8. Talvez o mais importante filósofo de todos os tempos, Platão é particularmente conhecido por ter elaborada uma teoria ontológica conhecida como Teoria das Ideias, segundo a qual a realidade está dividida em dos planos: um mundo inteligível, onde se encontram as essências imutáveis das coisas, e o mundo sensível, reflexo imperfeito desta realidade superior. Procurando expor sua teoria de maneira simbólica, Platão elaborou a alegoria da caverna, que opõe, de um lado, a escuridão na qual vivem os prisioneiros de uma caverna e, de outro, a luz radiante do mundo exterior que os prisioneiros não podem ver. Há, porém, na alegoria um nexo entre a caverna escura e a realidade exterior iluminada: trata-se das sombras formadas pelos objetos do mundo exterior conforme a luz do Sol incide sobre o fundo da caverna. Essa simbólica relação entre luz e sombras é, obviamente, para Platão, um signo da relação entre o mundo inteligível e o mundo sensível. Na perspectiva platônica, o mundo material no qual vivemos e o qual acessamos pelos sentidos não passa de uma sombra, de um reflexo perfeito e diminuto da autêntica realidade, viva e iluminada, a inteligível, a qual só poderemos alcançar mediante um longo processo de ascensão racional. De todas as Ideias, naturalmente, a que mais corresponde ao Sol que tudo ilumina é a Ideia do Bem, visto ser posta por Platão como fundamento tanto do mundo sensível quanto do próprio mundo inteligível. 9. A) (Gabarito oficial) Platão dedica boa parte da obra A República para desenvolver o projeto da cidade ideal, local onde está contido o seu projeto político. Em primeiro lugar, Platão rejeita as cidades existentes como modelos de cidades justas, afinal não podemos esquecer que foi a Atenas democrática que permitiu a morte de Sócrates. Em segundo, para vislumbrar a justiça no indivíduo, antes necessitamos enxergar o conceito de maneira ampliada, isto é, na cidade. A cidade justa de Platão contempla trabalhadores, soldados e governantes realizando as funções para as quais possuem as competências necessárias. Assim como na cidade platônica é o guardião que governa, também no indivíduo é a razão que deve guiá-lo. B) Na charge os personagens estão presos por correntes ao televisor. Consequentemente, a realidade é filtrada pela tela da TV. Da mesma forma, os homens que na caverna contemplavam sombras como se fossem verdades, quando libertos, passam a enxergar a realidade sem o filtro das imagens enganosas. Essa saída da caverna significa a contemplação do bem e o acesso às ideias. No âmbito político, representa a possibilidade do exercício do governo à luz da justiça e o afastamento das formas de dominação. 10. (Gabarito oficial) (Gabarito oficial) Aristóteles revela que o ser humano pode escolher três espécies fundamentais de vida: vida dos prazeres, a vida política e a vida contemplativa. A maioria busca o prazer vida dos prazeres, pois é uma inclinação natural buscar o prazer e fugir da dor. A vida dos prazeres não se restringe apenas aos seres humanos, mas faz parte da vida de todos os animais, pois esses sentem apetites e desejos. Os apetites ou as coisas apetecidas não são boas nem más; os apetites só se tornam maus se não estiverem mediados pela racionalidade sendo, assim, imoderados. A vida política é escolhida pelos melhores, pois esses visam à honra. A honra é o objeto da vida política. O problema é que a honra depende mais
11 de quem a dá do que daquele que a recebe. Se a felicidade deve ser constituída por algo que seja próprio a cada indivíduo e não por algo que dependa de um terceiro, a vida de honra não pode proporcionar a mais alta felicidade. A felicidade mais perfeita para os seres humanos reside no exercício da inteligência teorética, isto é, na contemplação. É a vida contemplativa que realiza o fim próprio do ser humano. A vida contemplativa é uma espécie de vida: auto-suficiente, aquele que a possui já não deseja mais nada, embora isso não o impeça de desfrutar de outros bens; que buscamos por si mesmo e não como meio para outra coisa; é uma atividade contínua e duradoura. Mas Aristóteles reconhece que o ideal de uma vida contemplativa contínua é apenas possível para os deuses; os seres humanos têm necessidades ligadas ao corpo. Portanto, a felicidade também pode ser encontrada mediante o exercício da sabedoria prática, que consiste em dominar as paixões e conseguir uma relação amável e satisfatória com o mundo natural e social. Espera-se que o candidato apresente os três tipos principais de vida para Aristóteles: a vida dos prazeres prazer; a vida política honra; e a vida contemplativa razão. Aristóteles assevera que a maioria das pessoas busca a vida dos prazeres o prazer, pois é uma inclinação natural buscar o prazer e fugir da dor. A vida dos prazeres não se restringe apenas aos seres humanos, mas faz parte da vida de todos os animais, pois esses sentem apetites e desejos. Os apetites ou as coisas apetecidas não são boas nem más; os apetites só se tornam maus se não estiverem mediados pela racionalidade sendo, assim, imoderados. A vida política é escolhida pelos melhores, pois esses visam à honra. A honra é o objeto da vida política, no entanto, o problema é que a honra depende mais de quem a dá do que daquele que a recebe. No entanto, a felicidade deve ser constituída por algo que seja próprio a cada indivíduo e não por algo que dependa de um terceiro, assim, a vida de honra não pode proporcionar a mais alta felicidade. A felicidade mais perfeita para os seres humanos reside no exercício da inteligência teorética, isto é, na contemplação. A vida contemplativa realiza o fim próprio do ser humano. A vida contemplativa é uma espécie de vida autosuficiente, aquele que a possui já não deseja mais nada, embora isso não o impeça de desfrutar de outros bens; uma espécie de vida que buscamos por si mesma e não comomeio para outra coisa; uma atividade contínua e duradoura. Aristóteles reconhece que o ideal de uma vida contemplativa contínua/duradoura apenas é possível para os deuses, pois os seres humanos têm necessidades ligadas ao corpo. Portanto, a felicidade também pode ser encontrada mediante o exercício da sabedoria prática, que consiste em dominar as paixões e conseguir uma relação amável e satisfatória com o mundo natural e social. Alguns ainda procuram a riqueza, mas a riqueza é apenas um meio, nunca um fim. A riqueza é algo externo ao ser humano e é desejada por aquilo que pode proporcionar e não em si mesma. A riqueza é uma condição prévia, pois oportuniza ao ser humano a possibilidade de se dedicar e a exercitar a atividade própria da felicidade. 11. (Gabarito oficial) Como ressaltado pelo texto de Aristóteles, a família e a aldeia satisfazem as necessidades em sentido amplo, mas não atendem de forma plena as exigências para o viver bem. O Estado tem, por natureza, mais importância do que a família e o indivíduo, uma vez que o conjunto é necessariamente mais importante do que as partes (p.146). Tais condições somente
12 são atingidas com a cidade-estado, que é uma forma natural de associação que engloba as formas anteriores. Em A Política, Aristóteles defende o vínculo entre Estado e natureza de forma intensa, ao contrário dos Sofistas que advogavam a tese de que a pólis resultava de mera convenção. Nesse sentido, o Estado é uma criação da natureza e o homem é, por natureza, um animal político (p.146). É nesse contexto que se insere o indivíduo (cidadão). Ele partilha com a cidade a mesma espécie de bem, apenas em grau menos elevado (o cidadão é menos importante do que a pólis). É na pólis que o homem vive, mas não meramente como espectador, pois é nela que ele se autoconstitui a partir da participação política na condução dos negócios públicos. O homem é, portanto, um animal político que vive em uma sociedade organizada politicamente.
(Disponível em: <http://www.filosofiahoje.com/2012/05/filosofia-em-quadrinhos-tales-de-mileto.html>. Acesso em: 7 out )
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