ACÓRDÃO AP Fl. 1. DESEMBARGADOR JOÃO ALFREDO BORGES ANTUNES DE MIRANDA Órgão Julgador: Seção Especializada em Execução

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1 AP Fl. 1 DESEMBARGADOR JOÃO ALFREDO BORGES ANTUNES DE MIRANDA Órgão Julgador: Seção Especializada em Execução Agravante: MACIEL DA ROCHA ABRITTA - Adv. Paula Marinez da Silva de Oliveira Agravado: XIMENE PERES MARTINS - Adv. Ximene Peres Martins Agravado: MACIEL R. ABRITTA & CIA. LTDA. - ME - Adv. Jorge Oliverio Pereira Dutra Agravado: ERICA HOBUS LOPES DA SILVA Agravado: SUMAIA DE OLIVEIRA BENITES Agravado: LURDECI CONCEIÇÃO DA ROCHA REIS Origem: Tramitação: Prolator da Decisão: 1ª Vara do Trabalho de Rio Grande 3ª Vara do Trabalho de Rio Grande Juíza Graciela Maffei E M E N T A AGRAVO DE PETIÇÃO. PENHORA. AUSÊNCIA DE LEGITIMIDADE. O executado Maciel da Rocha Abritta não tem legitimidade para discutir a penhora realizada em conta bancária de sua mãe, que também foi incluída no polo passivo da ação e que sequer encontra-se representada nos autos por advogado. Nos termos do artigo 6º do CPC, ninguém poder pleitear, em nome próprio, direito alheio, exceto quando autorizado por lei. Ademais, não se verifica qualquer nulidade ou cerceamento do direito de defesa, tendo em vista que os executados foram citados, além de estarem cientes das penhoras realizadas, tendo em conta as alegações tecidas no agravo de petição. Agravo de petição interposto pelo executado a que se nega provimento no item.

2 AP Fl. 2 A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos. ACORDAM os Magistrados integrantes da Seção Especializada em Execução do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região: preliminarmente, por unanimidade: 1) rejeitar a prefacial de não conhecimento do agravo de petição, arguida em contraminuta; 2) não conhecer dos documentos juntados pelo executado Maciel da Rocha Abritta nas fls. 261/263; 3) não conhecer das alegações constantes do agravo de petição, de penhora de veículo e excesso de execução, por inovatórias e sem objeto. No mérito, por unanimidade, negar provimento ao agravo de petição interposto por Maciel da Rocha Abritta. Intime-se. Porto Alegre, 10 de novembro de 2015 (terça-feira). R E L A T Ó R I O Inconformado com a sentença proferida pela Juíza Graciela Maffei, que extinguiu os embargos à execução, por ilegitimidade de parte, quanto às alegações de ser a executada Lurdeci parte ilegítima pra responder pela execução e de limitação da responsabilidade desta, bem como que no restante, julgou procedentes em parte os embargos à execução, interpõe agravo de petição o executado, Maciel da Rocha Abritta. Pretende a reforma da sentença quanto aos seguintes aspectos: nulidade dos atos praticados a partir das penhoras; excesso de execução; desconstituição da penhora de conta poupança e de veículo; cerceamento

3 AP Fl. 3 do direito de defesa. Junta documentos nas fls. 261/263. Alternativamente, requer que a responsabilidade de Lurdeci seja limitada ao percentual de seu capital social. Há contraminuta apresentada por Ximene Peres Martins, o qual argui o não conhecimento do agravo de petição por intempestividade. No mérito, alega ocorrência de má-fé do executado. Processo não sujeito a parecer do Ministério Público do Trabalho. É o relatório. V O T O DESEMBARGADOR JOÃO ALFREDO BORGES ANTUNES DE MIRANDA (RELATOR): PRELIMINARMENTE. 1. AGRAVO DE PETIÇÃO. CONHECIMENTO. O exequente Ximene Peres Martins, argui o não conhecimento do agravo de petição interposto, sob o argumento de ser intempestivo. Entende-se inexistir intempestividade no caso, tendo em vista que embora o executado Maciel da Rocha Abritta, por intermédio de sua procuradora, tenha retirado os autos em carga em (segunda-feira), interpôs ele agravo de petição em (terça-feira), justamente no último dia do prazo legal de 8 dias, de que trata o artigo 897, alínea "a", da CLT, atentando-se que o prazo recursal conta-se excluindo-se o dia de início e incluindo o do vencimento.

4 AP Fl. 4 Ressalte-se ainda que a ciência da decisão, no caso, não ocorre, salvo disposição expressa, da publicação da sentença em Secretaria, mas, sim, da disponibilização do DEJT (notificação que foi expedida somente em fl. 247) e mediante carga dos autos, como ocorreu no caso (em fl. 248). Rejeita-se a prefacial de não conhecimento do agravo de petição, arguida em contraminuta. 2. DOCUMENTOS JUNTADOS. NÃO CONHECIMENTO. Aplica-se, no caso, o disposto na Súmula nº 8 do TST (A juntada de documentos na fase recursal só se justifica quando provado o justo impedimento para sua oportuna apresentação ou se referir a fato posterior à sentença). Assim, não se conhece dos documentos juntados pelo executado Maciel da Rocha Abritta nas fls. 261/263 (documentos relativos a veículo e transferência), porquanto a eles tinha acesso antes de prolatada a sentença das fls. 244/245. NO MÉRITO. PENHORAS. ILEGITIMIDADE DE PARTE. O executado Maciel da Rocha Abritta refere que protocolou petição insurgindo-se contra o bloqueio judicial de R$ ,11 realizado em em suposta conta poupança de titularidade de sua mãe, sob o argumento de que a referida penhora seria ilegal, porque sequer fora intimada do ato de constrição para que lhe fosse oportunizada a defesa em juízo. Alega ter ressaltado que sua mãe Lurdeci seria parte ilegítima para

5 AP Fl. 5 figurar no polo passivo da execução, porque se retirou da sociedade em e, no caso de manutenção da penhora, postulou fosse observada a proporcionalidade do capital social e à responsabilidade limitada que a Sra. Lurdeci teria (0,5% - o equivalente a R$ 62,70), além do abatimento das parcelas pagas a título de contribuições previdenciárias (fls. 162 e 168), no valor total da dívida. Alega que a petição foi indevidamente recebida como embargos à execução, aduzindo que essa não era a sua intenção, porque sequer teria ocorrido intimação acerca da penhora a qual teria sido "descoberta". Argumenta que a sentença de origem é confusa quanto à extinção dos embargos à execução em uma parte e procedência em outra. Aduz ainda, que não tiveram ciência acerca da penhora de valores e de veículo Toyota - referindo ter repassado o bem móvel a terceiro adquirente de boa-fé, e que nenhum deles foram notificados acerca das penhoras, impossibilitando, assim a defesa e, além disso, haveria excesso de execução. Tece considerações acerca da penhora realizada na conta poupança da Sra. Lurdeci e que peticionou nos autos a fim de preservar os direitos da sua mãe a qual não tinha representação nos autos e sequer responsabilidade em relação à dívida. Alega, assim, não se cogitar de ilegitimidade de parte para questionar a penhora ocorrida em conta poupança de sua mãe e que os valores constritos seriam impenhoráveis, porque inferiores a 40 salários mínimos, na forma do artigo 649, inciso X, do CPC. Cita decisões a respeito do tema. Além disso, sustenta ter ocorrido cerceamento do direito de defesa, não sendo realizadas as intimações acerca das penhoras realizadas, com violação aos artigos 5º, inciso LV, da CLT, 889 da CLT e artigo 12, parágrafo 3º, da Lei nº 6.830/1980, o que ensejaria a nulidade das penhoras e dos atos processuais posteriormente praticados, além de prequestionar a matéria. Aduz ainda, que como não houve depósito e indicação de penhora pelo

6 AP Fl. 6 agravante e sequer intimação acerca das penhoras realizadas, não haveria como ter ciência das mesmas e oferecer embargos à execução, porque foram elas "descobertas". Postula, sejam declarados nulos os atos praticados a partir das penhoras, declarando-se o excesso de execução, além de desconstituída a penhora em conta poupança de sua mãe Lurdeci, bem como aquela atinente ao veículo Toyota por ele alienado a terceiro de boa-fé. Além disso, pleiteia seja reconhecido o cerceamento do direito de defesa (artigo 5º, inciso LV, da CF), por ausência de intimações das penhoras, ou sucessivamente, seja declarada a responsabilidade de sua mãe Lurdeci limitada ao capital social de 0,5%. A julgadora de origem assim decidiu (fls. 244/245): (...) DA GARANTIA DO JUÍZO A garantia do juízo foi perfectibilizada pelo bloqueio de valores no BacenJud. Ainda que tal penhora tenha ocorrido em conta bancária de outro executado, aproveita aos demais para fins de garantia do juízo e oportunizar a apresentação de embargos à execução. DA DEDUÇÃO DE VALORES PAGOS Como deixa claro o executado Maciel, o depósito da fl. 168 foi realizado como pagamento, o que autoriza a imediata liberação e dedução do montante em execução. O mesmo ocorre em relação ao depósito da guia da fl Note-se que estes valores não foram deduzidos da conta por não ter havido liberação,

7 AP Fl. 7 conforme consta registrado na certidão de cálculo da fl DA ILEGITIMIDADE DE PARTE Quanto à penhora em bem de propriedade da executada Lurdeci, o executado Maciel é parte ilegítima para insurgir-se contra tal penhora. Isto porque Lurdeci é pessoa capaz e, se tivesse interesse, deveria ter em nome próprio apresentado a medida cabível para opor-se ao redirecionamento da execução ou à penhora. Ante o exposto, extingo os embargos à execução por ilegitimidade de parte quanto à alegação de ser Lurdeci parte ilegítima para responder pela presente execução ou de limitação da responsabilidade desta. No restante, julgo procedentes os embargos à execução para determinar a imediata liberação em favor da exequente dos depósitos das guias das fls. 161 e 168, com abatimento da conta. Inicialmente diga-se que o juízo de origem, diante da constatação de ausência de bens livres e desembaraçados da empresa devedora principal Maciel R. Abritta & Cia. Ltda. - ME, determinou o redirecionamento da execução aos sócios, dentre os quais, Maciel da Rocha Abritta e Lurdeci Conceição da Rocha Reis, além de determinar a citação dos mesmos (fl. 202/202v), o que efetivamente ocorreu (fls. 205/208). Na certidão da fl. 209, consta ter sido penhorado valor em conta bancária da executada Lurdeci Conceição da Rocha Reis, além de haver registro de restrição no veículo I/Toyota R4V4 em nome de Maciel da Rocha Abrita. Nesse sentido, vide documentos das fls. 210/218.

8 AP Fl. 8 Em petição protocolada em , o executado, ora agravante, Maciel da Rocha Abrita (fls. 219/220), postulou abatimento de valor de R$ 100,00, pago a título de contribuição previdenciária. Aduziu, ainda, que teria ocorrido penhora em conta poupança de sua mãe Lurdeci Conceição da Rocha Reis, que sequer havia sido intimada de tal ato, mas, que a referida executada tomou ciência de tal fato quando retirou um extrato de sua conta, porque um dia antes, havia depositado a quantia de R$ ,00 referente a venda de seu carro a terceiro. Referiu que a sua mãe seria parte ilegítima para figurar no polo passivo da execução e que a sua participação foi de de 0,5% na pessoa jurídica. Além disso, juntou procuração outorgada somente pelo ora agravante Maciel da Rocha Abritta e documentos relativos ao bloqueio em suposta conta poupança de sua mãe, além de alterações do contrato social da empresa, responsável principal (fls. 221/234). A julgadora de origem recebeu a petição como embargos à execução (fl. 236) os quais foram julgados improcedentes e cuja decisão foi objeto do presente agravo de petição. Com efeito, percebe-se que o executado Maciel da Rocha Abritta não tem legitimidade para discutir a penhora realizada em conta bancária de sua mãe, que também foi incluída no polo passivo da ação e não se encontra representada nos autos por qualquer advogado. Nos termos do artigo 6º do CPC: Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei. A par disso, salienta-se que a advogada que representa o executado Maciel não tem procuração para atuar em nome da mãe do agravante, Sra. Lurdeci Conceição da Rocha Reis. Logo, todas as questões relacionadas à penhora realizada em suposta conta poupança da referida executada, a alegação de impenhorabilidade

9 AP Fl. 9 absoluta e os supostos limites à responsabilização da sua mãe, deveriam ser por ela aventadas, ressaltando-se que, ao contrário do que o agravante alega, ele mesmo admite que teve ela ciência da penhora ao retirar extrato bancário de sua conta e tanto é assim que comunicou tal fato ao agravante, sendo o mesmo raciocínio aplicado ao executado, que teve ciência dos atos constritivos efetuados e tanto é assim, que os impugnou. Portanto, carece o executado de legitimidade para aventar questões relativas à executada diversa que teve valores constritos, ainda que tal executada seja sua mãe. Logo, correta a decisão de origem quanto a tal aspecto. No que concerne à constrição do veículo Toyota a que o executado faz referência, ressalte-se que nada foi por ele dito no juízo de origem a respeito do tema, conforme se depreende da petição das fls. 219/220, recebida como embargos à execução. Portanto, a rigor, carece a insurgência do executado de interesse recursal, porque não houve pronúncia a respeito do assunto pelo juízo de origem, na sentença das fls. 244/245. De qualquer modo, convém ressaltar que houve a inclusão de restrição no veículo Toyota, que conforme informações do Renajud, se encontrava em nome do executado Maciel da Rocha Abritta (fl. 218). No tocante às demais questões suscitadas por ele, de que vendeu o referido veículo a terceiro de boa-fé, também não foram objeto de análise no juízo de origem, razão pela qual descabido que esta Seção Especializada se manifeste sobre o tema, inclusive sob pena de supressão de instância. O mesmo se diga em relação às considerações acerca de excesso de penhora, já que novamente o executado Maciel extrapola o seu interesse recursal, porque nada alegou a respeito no juízo de origem, e, portanto, a rigor, não pode

10 AP Fl. 10 manifestar tal inconformismo apenas em segundo grau de jurisdição. De qualquer modo, ressalta-se que a dívida, atualizada té , era de R$ ,11, cujo valor do depósito encontra-se acostado na fl. 235, sendo que por certo, no momento em que satisfeita integralmente a dívida, as restrições e eventuais valores que não mais se mostrem necessários, serão liberadas, não se cogitando de excesso de execução quando o juízo de origem busca resguardar por diversos meios a garantia integral da execução, até porque, eventuais valores e bens penhorados que não mais sejam necessários à garantia da dívida, por certo, serão devidamente liberados. Além disso, quanto à procedência parcial dos embargos à execução e determinação de que fossem liberados os depósitos constantes das guias das fls. 161 e 168, ressalta-se que acolhido o pleito do ora agravante, de dedução dos valores por ele já satisfeitos. O juízo de origem simplesmente determinou a liberação de tais quantias já depositadas anteriormente, não se cogitando de qualquer incongruência, quanto a tal aspecto. Ademais, o tem-se por correto o procedimento adotado pelo juízo de origem, de receber a petição do executado como embargos à execução, tendo em vista que as matérias por ele aventadas estavam efetivamente relacionadas a tal remédio processual e a execução se encontrava garantida. Entende-se, no entanto, não se cogitar de litigância de má-fé, na forma dos artigos 17 e 18 do CPC, ao contrário do que alega o exequente em contraminuta - de que o o agravo de petição seria meramente protelatório. Por tais fundamentos, não se cogita de cerceamento do direito de defesa, nulidade e desconstituição de penhoras e excesso de execução e sequer ofensa aos artigos 5º, inciso LV da CF, 889 da CLT e 12, parágrafo 3º, da

11 AP Fl. 11 Lei nº 6.830/1980, razão pela qual se nega provimento ao agravo de petição interposto pelo executado Maciel da Rocha Abritta. DEMAIS MAGISTRADOS: Acompanham o voto do Relator. PARTICIPARAM DO JULGAMENTO: DESEMBARGADOR JOÃO ALFREDO BORGES ANTUNES DE MIRANDA (RELATOR) DESEMBARGADORA MARIA DA GRAÇA RIBEIRO CENTENO (REVISORA) DESEMBARGADORA ANA ROSA PEREIRA ZAGO SAGRILO DESEMBARGADOR LUIZ ALBERTO DE VARGAS DESEMBARGADORA VANIA MATTOS DESEMBARGADORA LUCIA EHRENBRINK DESEMBARGADOR JOÃO BATISTA DE MATOS DANDA