CHAPEUZINHO VERMELHO: DO QUE AS CRIANÇAS GOSTAM?
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- Gustavo Imperial Medina
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1 CHAPEUZINHO VERMELHO: DO QUE AS CRIANÇAS GOSTAM? JANZ, Rubia Caroline. (UEPG) MARQUARDT, Grazielle. (UEPG) Resumo: O presente trabalho teve por objetivo apresentar os resultados parciais de uma pesquisa que analisou as opiniões de um grupo de crianças a respeito de diferentes versões do conto Chapeuzinho Vermelho. Com estratégia metodológica, três versões (Perrault, Grimm e Chico Buarque) da história foram lidas paras crianças entre e 4 anos em um período de três semanas. Após ouvirem a leitura, os alunos a representavam, por meio pictórico, destacando as partes que gostaram e não gostaram. Na sequência, solicitou-se que propusessem um novo final para a história, representado em desenhos. A prosposta visou possibilitar o contato com diferentes versões, a valorização da leitura de textos de qualidade, além de desenvolver nas crianças o gosto pessoal e a adoção de critérios de escolha de suas histórias preferidas, permitindo que elas próprias, sem a intervenção de um adulto, julgassem as histórias. Os relatos e desenhos foram analisados, investigaram-se as opiniões que cada criança construiu a respeito das diferentes versões do conto. Concliu-se que as crianças manifestam gostos distintos, são capazes de manisfestar opiniões com autonomia e que o lobo, nem sempre, é o vilão da história. Palavras-chave: Literatura infantil; universo infantil; formação de leitores. Introdução É ponto de convergência entre os educadores infantis que é preciso possibilitar aos alunos, desde a mais tenra idade o contato com o universo da leitura e da escrita. Nos primeiros anos da escola, esse contato deve ser proporcionado pelo próprio professor. Segundo COELHO (99, p.9) A formação do pequeno leitor deve começar bem cedo, e prosseguir em gradativo aprofundamento até o final do seu ciclo de estudo, na Escola. Disso depende que o seu convívio essencial com o livro possa continuar fecundo pela vida afora. Daí a atual preocupação dos estudiosos e organismos educacionais com a Literatura Infantil. Para a criança, ouvir história é entrar num mundo mágico, repleto de surpresas e fantasia. Um universo colorido onde tudo pode acontecer. Onde seus medos e frustrações são expostos, bem como seus desejos, alegrias e a percepção que tem sobre o mundo. A literatura infantil permite à criança o exercício da mente, a percepção do real em seus múltiplos significados, a consciência do eu em meio aos outros e a leitura do mundo em que vive nos seus diferentes contextos. (COELHO, 99, p.5). Corroboram com essa ideia, CORSO E CORSO (006) ao afirmar que Nas crianças, é mais fácil observar o impacto da ficção, elas se apegam a alguma história e usam-na para elaborar seus dramas íntimos, para dar colorido em imagens ao que estão vivendo. (...) Entram na trama oferecida e tentam encaixar suas questões nos esquemas interpretativos previamente disponibilizados. Ou então se apropriam de fragmentos como tijolos de dignificação que combinam à sua moda para levantar a obra de determinado assunto que lhes questiona. Pós-Graduandas do Curso de Especialização em Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, UEPG Anais da II JOPED
2 A partir dessa relação lúdica, por vezes conflituosa, mas sempre prazerosa, que a criança tem com a Literatura Infantil é que o educador tem a possibilidade de forma o leitor. Partindo do pressuposto de que a criança tem uma relação intrínseca com a Literatura, é que propomos este trabalho de análise sobre o conto infantil Chapeuzinho Vermelho, colocando o aluno como sujeito interpretativo da história, deixando de lado a opinião do professor ou idéias pré-estabelecidas que vêm sendo contadas há muito tempo. O presente trabalho teve como primeiro objetivo possibilitar aos alunos o contato com diferentes versões do conto Chapeuzinho Vermelho e a valorização da leitura de textos de qualidade. Objetivou, também, desenvolver nas crianças o gosto pessoal e a adoção de critérios de escolha de suas histórias preferidas. Por fim, o grande norte dessa pesquisa foi analisar as opiniões que cada criança construiu a respeito das diferentes versões do conto apresentadas, permitindo que ela própria, sem a intervenção de um adulto, julgasse o que foi bom ou ruim nas histórias. Metodologia Este trabalho foi resultado de uma adaptação da proposta de sequência didática apresentada pela revista Nova Escola. A revista sugere uma sequência de atividades onde os alunos são convidados a comparar três diferentes versões do conto, que serão lidas pelo professor dentro de um intervalo de tempo. A escolha das três tem como critério a garantia da qualidade literária. Dentre elas, estão duas das principais: de Grimm e Perrault. Essa seleção visa garantir a comparação entre as tramas e a análise dos recursos lingüísticos utilizados pelos autores. Essa proposta se justifica por meio dos seguintes argumentos: A comparação de versões de um mesmo texto consiste em uma prática usual do leitor. Ela permite estabelecer critérios de escolha de uma leitura e realizar indicações literárias. Neste trabalho, as comparações serão inicialmente coordenadas pelo professor, que fará intervenções para os alunos atentarem para outros aspectos da obra além dos que normalmente levam em conta. O professor também irá destacar recursos lingüísticos utilizados pelo autor, tradutor ou adaptação. Seguindo as orientações da sequência didática, foram escolhidas três versões da história Chapeuzinho Vermelho: a dos Irmãos Grimm, tradução de Belinky (989), a de Perrault, tradução de Junqueira (985), e o sublime poema Chapeuzinho Amarelo de Chico Buarque (987). Essas histórias foram contadas entre os dias 0 e 4 de setembro de 00, para quatorze crianças com idade entre e 4 anos, matriculadas em uma escola da rede privada da cidade de Ponta Grossa, no Paraná. Disponível em Acesso em 7/08/00. Anais da II JOPED
3 A leitura da história foi realizada sempre pela professora da turma. A cada semana era contada apenas uma versão, sendo na primeira a escrita pelos Irmãos Grimm, na segunda, a Chapeuzinho Amarelo e por fim a de Perrault. Após ouvirem a história todas as crianças eram convidadas a interpretar a história coletiva e oralmente numa roda de conversas, na qual destacavam o que mais lhe chamou a atenção. Posteriormente os alunos representavam pictograficamente o que haviam gostado e o que não apreciaram na história. Por fim no último dia as crianças foram orientadas a criar um final para a história. Após imaginar e relatar oralmente, cada criança representou o seu final através de desenhos. Resultados Parciais Segundo Coelho (99, p.5), os valores que regem a vida humana e que por conseqüência disso, são aprendidos pelas crianças, são sempre impostos pelos adultos. Os contos de fada lhes permitem subverter a ordem social, e julgar o que é certo ou errado a partir da sua própria ótica. O que a criança encontra nos contos de fada são, na verdade, categorias de valor que são perenes. Impossível prescindirmos de juízos valorativos: a vida humana, desde as origens tem-se pautado por eles. O que muda é apenas o conteúdo rotulado de bom ou mal, certo ou errado... (COELHO, 99, p.5 grifos da autora) Esse trabalho buscou romper (pelo menos, um pouco) com a interferência adulta no processo de interpretar o conto, já que a concepção literária infantil é adultocêntrica (Lypp apud Zilberman, 987, p.5) visto que, embora seja consumida por crianças, a reflexão sobre o produto oferecido a elas provém do adulto, que analisa, em primeiro lugar, de acordo com seus interesses. (ZILBERMAN, 987, p.5). Os resultados foram obtidos por meio da análise dos relatos orais das crianças nas rodas de conversa e seus desenhos. A partir desses dados foram construídos os Gráficos,, e, apresentados a seguir, que indicam as opiniões positivas ou não a respeito de cada história. Irmãos Grimm Não gostaram Pedra na barriga do lobo Lobo morreu Lobo come a vó Outras possibilidades Gráfico : Preferências a partir do conto dos irmãos Grimm Anais da II JOPED
4 Chapeuzinho Amarelo Não Chapeuzinho tranforma o Outras possibilidades 0 9 Gráfico : Preferências a partir do conto de Chico Buarque Perrault Não gostaram Lobo vestido de vó Chapeuzinho conversando Lobo come a vó e a Gráfico : Preferências a partir do conto dos irmãos Grimm A primeira conclusão inusitada a que se chega a partir das análises dos relatos e desenhos das crianças, representadas nos gráficos, é que a figura central da história é, surpreendentemente, o lobo, e não a Chapeuzinho, como muitos poderiam supor. Isso pode ser tranquilamente explicado por meio da necessidade de sentir medo. Segundo Corso e Corso: é o lobo que a [criança] faz sair de seu esconderijo (...) O pedido das crianças para escutar o conto da Chapeuzinho repetidas vezes justifica-se pelo prazer de encontrar o lobo, constatar a ameaça real que ele contém e assustar-se, para bem de tranqüilizar-se. (006, p.56). Outra contradição aparente é que nem todas as crianças percebem o lobo como inteiramente ruim. Isso fica claro, quando nos desenho, um número considerável não gosta quando são colocadas pedras na barriga do lobo, ou quando o lobo morre, ou quando a Chapeuzinho Amarelo o transforma em bolo ou ainda quando acham graça porque ele se veste de avó. Ainda com relação ao lobo, existe uma dicotomia que gira em torno da sua figura, pois ao mesmo tempo que para algumas crianças parece inadmissível e horrenda a possibilidade de o lobo devorar a Chapeuzinho e sua avó, igualmente cruel é encher sua barriga de pedras. Independentemente da percepção que as crianças tenham do lobo, ainda assim, elas não conseguem imaginar o conto sem a sua presença, já que quando têm a possibilidade de Anais da II JOPED 4
5 produzir um novo fim para a história, a grande maioria o coloca como personagem, coforme observamos no Gráfico 4. Possibilidades de final Final em que aparece o lobo Final envolvendo somente a vovó Final envolvendo somente a Final envolvendo todos 8 Gráfico 4: Os finais do conto criados pelas crianças É extremamente importante destacar que Chapeuzinho Vermelho possui todas as características que, segundo Coelho (99, p.7), chamam a atenção das crianças a partir dos três anos, como: comer, dormir, brincar, sentir medo, tranqüilizar-se, agir. Ou seja, é uma história muito apreciada pelas crianças porque possui todos os ingredientes necessários para atender até os paladares mais requintados dos pequenos leitores. Um último tópico a ser ressaltado, é que essa pesquisa ainda está em fase de desenvolvimento e análise e os resultados são parciais. Referências BUARQUE, Chico. Chapeuzinho Amarelo. São Paulo: Berlendis e Vertecchia, 987. (Ilustrações de Donatella Berlendis). COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Ática, 99. CORSO, Diana Lichtenstein; CORSO, Mário. Fadas no Divã: psicanálise nas histórias infantis. Porto Alegre: Artmed, 006. p GRIMM, J.; GRIMM, W. Chapeuzinho Vermelho. In: Contos de Grimm. Tradução de Tatiana Belinky. São Paulo: Paulinas, 989 (reproduzido em Discini, 00). PERRAULT, Charles. Chapeuzinho Vermelho. In: Contos de Perrault. Tradução de Regina Regis Junqueira. Belo Horizonte: Itatiaia, 985. ZILBERMAN, Regina. A Literatura Infantil na Escola. São Paulo: Global, 987. Anais da II JOPED 5
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