MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO AUDITORIA INTERNA SECRETARIA DE ORIENTAÇÃO E AVALIAÇÃO PARECER SEORI/AUDIN MPU Nº 2.535/2015

Transcrição

1 ^ Referência Assunto MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO AUDITORIA INTERNA SECRETARIA DE ORIENTAÇÃO E AVALIAÇÃO PARECER SEORI/AUDIN MPU Nº 2.535/2015 : Correio eletrônico, de 11/11/2015. OF/DR nº 090/2015. Protocolo AUDIN- MPU nº 2916/2015. : Administrativo. Pedido de reajuste de preço. Aquisição de 18 salas comerciais para abrigar a nova sede da Procuradoria do Trabalho no Município de Niterói. Interessado : Diretoria Regional. Procuradoria Regional do Trabalho da 1ª Região. Trata-se de consulta formulada pela Senhora Diretora Regional da Procuradoria Regional do Trabalho da 1ª Região (PRT-1ª Região) que, em atendimento à determinação do Excelentíssimo Senhor Procurador-Chefe, solicita manifestação acerca do cabimento do reajuste pretendido pela UNIC Icaraí SPE Empreendimento Imobiliário LTDA., com a indicação de critérios, índice, período e valores a serem considerados em seu cálculo, referente à aquisição de 18 (dezoito) unidades comerciais para abrigar a nova sede da Procuradoria do Trabalho no município de Niterói. 2. Conforme relato, no dia 17 de dezembro de 2013, foi firmado Termo de Compromisso de Compra e Venda para a aquisição de 16 (dezesseis) unidades comerciais, com direito a 6 (seis) vagas de garagem, pelo preço global de R$ ,00 (cinco milhões, quatrocentos e cinquenta e seis mil reais). Em 12 de junho de 2014, o primeiro Termo Aditivo foi celebrado para a aquisição de mais duas unidades comerciais, totalizando 18 (dezoito) unidades com direito a 6 (seis) vagas de garagem, tendo como preço global final o valor de R$ ,88 (seis milhões e noventa e nove mil, quinhentos e sessenta e oito reais e oitenta e oito centavos). 3. Segundo noticia, em razão da demora por parte da UNIC Icaraí SPE Empreendimento Imobiliário LTDA., para encaminhar toda a documentação relacionada aos 1/6

2 imóveis, a cópia dos autos do processo sob o nº /13, que trata da aquisição das unidades, somente foi enviada à Secretaria do Patrimônio da União (SPU) em 7 de abril de No dia 29 de setembro de 2015, a UNIC Icaraí SPE Empreendimento Imobiliário encaminhou pedido de reajuste no valor de R$ ,87 (novecentos e seis mil cento e sessenta e um reais e oitenta e sete centavos) para o período compreendido entre setembro de 2013 e setembro de 2015, com base no previsto na Cláusula Sexta do citado Termo de Compromisso. Em seu pedido, registrou que o contrato de compra e venda é firmado com a ressalva de que a quitação do preço conferida engloba apenas o principal e não a parcela atinente à correção monetária. 5. No entanto, no dia 9 de outubro de 2015, após os trâmites de análise da SPU, a aquisição dos imóveis foi formalizada com a assinatura do Contrato de Compra e Venda entre a UNIC Icaraí SPE Empreendimento Imobiliário e a União Federal, momento em que a Outorgante Vendedora não fez qualquer ressalva relativa à correção monetária, dando plena, geral e irrevogável quitação, transferindo todo o domínio, posse, direito e ação que exercia sobre os imóveis para a União. 6. Consultada sobre o assunto, a Assessoria Jurídica da Regional opinou no sentido de que ocorrera perda do objeto, pois, no dia 29 de setembro de 2015, a UNIC Icaraí SPE Empreendimento Imobiliário havia protocolizado pedido de reajuste, mas em 9 de outubro de 2015 concedera plena, geral e irrevogável quitação, transferindo todo o domínio, posse, direito e ação que exercia sobre os imóveis, praticando, um ato posterior incompatível com seu pedido de reajuste. 7. Em atenção, cumpre inicialmente trazer a colação o disposto no art. 215 do Código Civil Brasileiro (Lei nº /2002), cuja redação faz menção a prova plena do que está contido na escritura pública, bem como os requisitos para sua constituição, o qual destacamos a livre manifestação de vontade das partes, senão vejamos: 2/6

3 Art A escritura pública, lavrada em notas de tabelião, é documento dotado de fé pública, fazendo prova plena. 1º Salvo quando exigidos por lei outros requisitos, a escritura pública deve conter: I - data e local de sua realização; II - reconhecimento da identidade e capacidade das partes e de quantos hajam comparecido ao ato, por si, como representantes, intervenientes ou testemunhas; III - nome, nacionalidade, estado civil, profissão, domicílio e residência das partes e demais comparecentes, com a indicação, quando necessário, do regime de bens do casamento, nome do outro cônjuge e filiação; IV - manifestação clara da vontade das partes e dos intervenientes; V - referência ao cumprimento das exigências legais e fiscais inerentes à legitimidade do ato; VI - declaração de ter sido lida na presença das partes e demais comparecentes, ou de que todos a leram; VII - assinatura das partes e dos demais comparecentes, bem como a do tabelião ou seu substituto legal, encerrando o ato. (Grifou-se) 8. Do dispositivo, tem-se que a declaração da vontade feita por meio da escritura pública é prova plena de sua constituição, não sendo cabível a reinvidicação de parcelas acessórias quando se firmou plena quitação dos débitos. 9. Nesse sentido, cabe notar a manifestação da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e de Tribunais Estaduais e do Distrito Federal, a seguir transcritos, com os devidos destaques: CIVIL. ESCRITURA PÚBLICA DE VENDA E QUITAÇÃO. PROVA PLENA. A ESCRITURA PÚBLICA FAZ PROVA PLENA DO QUE NELA SE CONTEM, DE SORTE A SOBREPOR-SE A MERA PRESUNÇÃO DA EXISTENCIA DE DEBITO POR ELA QUITADO, POR PERMANECEREM EM PODER DO VENDEDOR TITULOS CAMBIAIS VINCULADOS AO CONTRATO DE PROMESSA DE VENDA, ANTERIORMENTE FORMADO ENTRE AS PARTES. INTERPRETAÇÃO DO ART º DO CÓDIGO CIVIL. 3/6

4 (STJ - REsp: 6944 ES 1990/ , Relator: Ministro DIAS TRINDADE, Data de Julgamento: 21/06/1991, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ p ) PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. COBRANÇA. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. QUITAÇÃO DECLARADA EM ESCRITURA PÚBLICA. PRESUNÇÃO DE VERACIDADE. 1. A DECLARAÇÃO DE QUITAÇÃO PLENA E GERAL EM ESCRITURA PÚBLICA SEM PROVA EM CONTRÁRIO QUANTO AO NÃO ADIMPLEMENTO COMPROVA O PAGAMENTO INTEGRAL DA AVENÇA, POIS DEIXA DE EVIDENCIAR SUPOSTA INVERACIDADE DE CONTEÚDO. 2. RECURSO DESPROVIDO. (TJ-DF - APC: DF , Relator: MARIO-ZAM BELMIRO, Data de Julgamento: 28/05/2014, 3ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 02/06/2014. Pág.: 287) APELAÇAO CÍVEL Nº APELANTE: CONDOMÍNIO DO CENTRO EMPRESARIAL SHOPPING CACHOEIRO APELADA: SORAYA JURDI CINOTTORELATOR: DES. SUBST. FERNANDO ESTEVAM BRVIN RUYACÓRDAO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL APELAÇAO CÍVEL - AÇAO ORDINÁRIA DE COBRANÇA - PEDIDO DE NOVA DECISAO - PRELIMINAR REJEITADA - PRETENSÃO DO CREDOR EM RECEBER QUANTIA RELATIVA AO REAJUSTE - QUITAÇÃO DADA POR MEIO DE ESCRITURA PÚBLICA - PRESUNÇÃO ABSOLUTA DE QUITAÇÃO ART º CC/16 - COBRANÇA DE SUPOSTOS DÉBITOS RESIDUAIS ANTERIORES À QUITAÇÃO - QUITAÇÃO DADA SEM RESSALVAS - INCLUSÃO DE TAIS DÍVIDAS - INVIABILIDADE DE COBRANÇA - RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. Viola frontalmente os Princípios da Instrumentalidade das Formas e da Economia Processual o não conhecimento do recurso em razão da ausência de pedido expresso de prolação de nova decisão (art. 514, III, CPC), haja vista que o simples fato da parte recorrer, por si só, demonstra que pretende seja proferida nova decisum. 4/6

5 2. Nos termos do art. 945, 2º do CC/16, a quitação passada por meio de escritura pública goza de presunção juris et de iure, inclusive no que tange a débitos residuais, no caso de não constar ressalvas, somente podendo ser desconsiderada se provada a sua obtenção por meios ilícitos ou a presença de vícios que acarretem a sua nulidade. 3. Quando se é dada quitação integral de uma dívida sem mencionar acréscimos acessórios, presume-se estarem incluídos, supondo-se que o credor não a entregaria ao devedor se não houvesse recebido o débito integralmente. 4. Recurso conhecido e desprovido. (TJ-ES - Apelação Civel: AC ES Relator: ÁLVARO MANOEL ROSINDO BOURGUIGNON; Julgamento: 19/09/2006; Órgão Julgador: Segunda Câmara Cível; Publicação: 09/10/2006). 10. Extrai-se dos julgados que a quitação passada por meio de escritura pública goza de presunção absoluta, inclusive no que tange a débitos residuais, no caso de não constar ressalvas, somente podendo ser desconsiderada se provada a sua obtenção por meios ilícitos ou a presença de vícios que acarretem a sua nulidade. 11. No caso em questão, como visto, a escritura pública foi firmada, sem qualquer ressalva, com a manifestação do vendedor de plena, geral e irrevogável quitação dos imóveis adquiridos pela União, nos seguintes termos: CLÁUSULA TERCEIRA (...) UNIC ICARAÍ SPE EMPREENDIMENTO IMOBILIÁRIO LTDA, confirmada a contabilização do depósito no valor de R$ ,88 (seis milhões, noventa e nove mil, quinhentos e sessenta e oito reais e oito centavos), a Outorgante Vendedora dá plena, geral e irrevogável quitação, transferindo, por força deste Contrato e da Cláusula constitui, todo domínio, posse, direito e ação que até a presente data exercia sobre os imóveis... (Grifamos) 5/6

6 12. Em face de todo o exposto, somos de parecer pelo indeferimento do reajuste pleiteado pela empresa UNIC Icaraí SPE Empreendimento Imobiliário LTDA. À consideração superior. Brasília, de dezembro de MÁRCIA BARROS DE OLIVEIRA CORAG/AUDIN JOSÉ GERALDO DO E. SANTO SILVA Coordenador de Orientação de Atos de Gestão De acordo. À consideração do Senhor Auditor-Chefe. Aprovo. Encaminhe-se à DR/PRT-1ª Região e à SEAUD. Em / 12 / MARA SANDRA DE OLIVEIRA Secretária de Orientação e Avaliação EDSON ALVES VIEIRA Auditor-Chefe em exercício 6/6