Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,
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- Thomaz Beretta Schmidt
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1 Discurso do Deputado Darci Coelho (PP-TO) contra as desigualdades regionais no País, proferido na sessão de 20/10/2005. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, A disparidade de níveis de renda existente entre o Nordeste e o Centro-Sul do País constitui, sem lugar a dúvida, o mais grave problema a enfrentar na etapa presente do desenvolvimento econômico nacional. Celso Furtado No momento em que se vê o País dividido entre o SIM e o NÃO da campanha do referendo sobre o desarmamento, onde a questão central é a violência, considero mais do que oportuno trazer a esta tribuna um tema igualmente recorrente, exatamente por sua estreita ligação com o assunto em debate. Refiro-me à questão desigualdades regionais e sociais, fator restritivo ao desenvolvimento nacional e principal responsável pelo processo migratório do campo para as cidades, processo este que tem realimentado o círculo vicioso da pobreza e da violência urbana, e impedido o crescimento harmônico do País.
2 2 Com suas dimensões continentais, uma vasta riqueza natural e uma imensidão de terras férteis, o Brasil tem tudo para se transformar no celeiro do mundo e construir uma sociedade coesa e solidária. Entretanto, apresenta uma realidade social adversa, que não condiz com essa sua natural vocação de nação justa e igualitária. Entendo que esse processo de desigualdade regional e social está na própria origem do processo de colonização brasileiro, marcado por ocupações que ocorreram de forma aleatória. Como se sabe, no ciclo da cana-de-açúcar o Nordeste brasileiro era o centro financeiro e pólo exportador. Com o declínio deste ciclo econômico, a região Centro-Sul se tornou a referência para o resto do País, principalmente com ampliação do processo migratório do campo para a cidade, estimulado ainda mais a partir da década de 50, com o plano desenvolvimentista implementado pelo Governo Juscelino Kubitschek, que permitiu a concentração industrial no Sudeste do País, em detrimento das demais regiões. Como essa situação se manteve ao longo de meio século, o resultado foi o esvaziamento e empobrecimento do Norte e Nordeste, que permaneceram no esquecimento ao longo de todos esses anos. A exceção foi a região Centro-Oeste, com a expansão do agronegócio e com o advento da Capital no Planalto Central, o que acabou estimulando o adensamento populacional e o desenvolvimento regional.
3 3 É evidente que sempre têm se debatido alternativas de ações voltadas para o desenvolvimento, inclusive com a criação de organismos como as Superintendências de Desenvolvimento Regional. Podemos citar o caso da Sudam, no Norte; Sudene, no Nordeste; e Sudeco, no Centro-Oeste, instituições que acabaram extintas por esgotamento político do ciclo de contribuição ao desenvolvimento dessas regiões. Hoje novas versões desses antigos organismos estão em vigor. A Agência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA), criada por Medida Provisória em 2001, em substituição à SUDAM, com a missão planejar e promover ações estruturadas que induzam o desenvolvimento eqüitativo e sustentável da Amazônia, bem como a sua integração competitiva nos contextos nacional e internacional, visando à emancipação econômica e social das populações da Amazônia. Da mesma forma, foi criada a Agência de Desenvolvimento do Nordeste (ADENE), que gerencia o Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FNE) e está voltada para apoiar o desenvolvimento regional com ações focadas para a solução dos problemas da região. Além disso, o País conta, ainda, com outros valiosos instrumentos de estímulo e apoio a esse processo desenvolvimentista. É o caso de instituições financeiras federais como o Banco da Amazônia (BASA), Banco do Nordeste, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), além do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal.
4 4 Essas instituições operam os chamados Fundos Constitucionais de apoio ao desenvolvimento, como o FNO na região Norte, o FCO, na região Centro-Oeste e o FNE, no Nordeste. Entretanto, a exemplo das antigas Superintendências Regionais de Desenvolvimento, esses organismos e demais mecanismos de fomento, por si só, não bastam para promover o desenvolvimento regional. É necessário e urgente a implementação de um amplo programa de desenvolvimento nacional, que inclua um verdadeiro projeto de interiorização do desenvolvimento, que priorize os médios e pequenos municípios, com fortes investimentos públicos e privados nas áreas de infra-estrutura, no fortalecimento e ampliação dos pólos industriais já em fase de implementação, no estímulo aos municípios com vocação turística, para ampliar a oferta de emprego e renda no interior do País. Só a partir desse processo de interiorização das ações desenvolvimentistas será possível estancar, de vez, o processo migratório para os grandes centros urbanos, estimular o regresso dos migrantes para suas regiões de origem, reduzir a pressão por demandas sociais nas principais regiões metropolitanas. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, Como é do conhecimento de todos nesta Casa, o crescimento urbano desordenado torna os recursos públicos cada vez mais insuficientes para atender essas demandas. Com uma agravante: quando mais o poder público realiza em termos de investimentos
5 5 sociais, mais aguçará o processo migratório, o que realimenta esse círculo vicioso do inchamento das maiores cidades. Qual o resultado desse crescimento desordenado? A violência urbana, a expansão do crime organizado, o desemprego, a desagregação social e da família, enfim, a desesperança, fruto da pobreza e da falta de melhores oportunidades para os menos afortunados. A tudo isso se soma a incapacidade do Estado em continuar dando pronta resposta a essa crescente demanda social, Até porque a solução desses graves problemas urbanos está exatamente na reversão do processo migratório e na ampliação dessas oportunidades no interior do País, onde a implementação de ações sociais e a aplicação de novos investimentos podem ser feitos a custos infinitamente menores. Sem perspectivas de solução a curto e médio prazo, esses problemas urbanos têm um elevado custo social para a população, em função da falta de segurança e de melhores condições de vida. Isso sem falar no pesado ônus para o poder público, em termos de gastos sociais com saúde, educação, moradia e infra-estrutura urbana. Senhor Presidente, É evidente que as desigualdades regionais não se limitam à questão econômica. Se analisarmos alguns indicadores sociais, como na área de educação, poderemos constatar uma pequena parte dessas disparidades.
6 6 A taxa média de analfabetismo no País, por exemplo, é de 13,3%. Entretanto, nas regiões mais desenvolvidas, como o Sul do País, essa taxa é de apenas 7,8%, contra 26,6% no Nordeste e 11,6% na região Norte, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja, a variação do menor índice, no Sul, para o maior percentual, no Nordeste, é superior a três vezes. Ainda na área de educação, outras disparidades podem ser constatadas em relação ao número de jovens matriculados no ensino superior nas regiões mais ricas e nas demais regiões. Ou mesmo quando nos referimos ao trabalho infantil, que tira das salas de aula milhões de jovens das regiões Norte e Nordeste para colocá-los precocemente no mercado de trabalho, interrompendo o sonho de um futuro promissor para a maioria deles. Citei apenas o caso da educação para mostrar os imensos desafios que tempos pela frente para construirmos um País justo e que universalize a oportunidade a todos. Entretanto, outro estudo realizado pelo IBGE sobre a distribuição do Produto Interno Bruto (PIB) por município, mostra os efeitos da concentração da produção no aprofundamento das desigualdades regionais. Em 2002, metade do PIB nacional se concentrava em apenas 1,3% dos municípios brasileiros (cerca de 70 cidades), onde morava um terço da população. Além disso, nove municípios sozinhos, dos quais seis se localizam na região Sudeste, respondiam naquele ano por 25% de todos os bens e serviços produzidos no País. No outro extremo da pesquisa, o mesmo percentual de 25% da produção ficava a cargo de um contingente de quase 93% das
7 7 cidades existentes (5.153 municípios), que reuniam 43,3% da população. E dos 50 municípios com menor PIB em 2002, 48 (96%) estavam nas regiões Norte (mais precisamente no Estado do Tocantins) e Nordeste (nos estados do Piauí e Paraíba). Entendo, portanto, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, que a saída para esses problemas está na implementação de um projeto de interiorização do desenvolvimento, que leve em conta a vocação econômica de cada município ou microrregião, priorizando investimentos nos pequenos pólos industriais já em desenvolvimento, como é o caso dos municípios de Gurupi e Araguaína, no Tocantins, a partir de uma maior parceria entre o setor público e a iniciativa privada. Nesse sentido, já dispomos de um valioso instrumento de apoio ao desenvolvimento nacional, que é o Programa de Parcerias Público-Privadas (PPPs), aprovado por esta Casa e na dependência apenas da regulamentação por parte do Executivo para poder ser implementado. Só que por sua importância estratégica, essa etapa de regulamentação das parcerias deve ser executada com a máxima urgência, o que parece não estar ocorrendo junto às instâncias encarregadas do assunto. Com isso, muitos investimentos, particularmente do setor privado, estão sendo adiados ou revistos, em prejuízo para a sociedade como um todo. No caso da região Norte, essas parcerias são de fundamental importância para ajudar a viabilizar importantes projetos na área de infra-estrutura, como é o caso da Ferrovia Norte-Sul, cujo trecho entre Aguiarnópolis, no Tocantins, e Senador Canedo, na região
8 8 metropolitana de Goiânia, exige recursos públicos e privados para ser executado. Sem falar na importância do próprio Estado do Tocantins como novo pólo de desenvolvimento regional. Com a criação do Estado, a partir de 1988, a região pobre e abandonada do então Norte goiano se transformou numa alternativa concreta de desenvolvimento econômico e social. E o que é mais positivo: Uma região estratégica para a integração nacional, pois o Estado ocupa uma posição geográfica privilegiada, servindo de elo entre a região Norte com as regiões Centro-Sul do País. Com uma economia fortalecida pelo avanço do agronegócio e privilegiado por estar situado no delta dos rios Araguaia e Tocantins, o Estado dispõe de um potencial agrícola capaz de transformá-lo em um novo celeiro do País. Essas condições favoráveis foram reforçadas por uma moderna infra-estrutura, construída pelo ex-governador Siqueira Campos ao longo de seus três mandatos à frente do Estado, e com isso o Tocantins consegue atrair investidores de todo o País. Portanto, o Estado reúne todas as condições para ocupar uma posição de destaque num eventual projeto de interiorização do desenvolvimento a ser implementado pelo Governo Federal, em parceria com o setor privado e os demais entes federados. Afinal, seu potencial não se limita ao agronegócio ou à agroindústria, mas também aos setores de turismo e serviços.
9 9 Senhor Presidente, Senhores e Senhores Deputados, Quando se fala em fortalecimento do desenvolvimento, não se pode ignorar a Ferrovia Norte-Sul. Afinal, a obra, iniciada há mais de 18 anos, não se volta apenas para a melhoria da infra-estrutura regional. Ela representa um importante instrumento de integração nacional, por ligar a região Norte com as regiões Centro-Sul, barateando custo dos transportes e contribuindo para melhorar a competitividade dos produtos regionais no mercado interno e externo. A conexão da Norte-Sul com a Ferrovia Carajás, que liga o sul do Pará com o porto de Itaqui, no Maranhão, permitiu a abertura de um novo caminho para escoar a produção da região, principalmente o minério de Carajás e a soja cultivada no Pará, Maranhão e Tocantins para o mercado externo, fortalecendo significativamente a economia da região Norte. Temos que ter em mente, Senhor Presidente, que só com o crescimento harmônico de todas as regiões o Brasil poderá superar todos os seus problemas econômicos e sociais, e alcançando a plena integração nacional. A crise do inchaço populacional dos grandes centros urbanos decorre, em parte, da própria condição de subdesenvolvimento das regiões mais pobres. Essa realidade adversa não pode continuar. O Poder Público, com apoio desta Casa, da iniciativa privada e da própria sociedade, deve adotar mecanismos inovadores e buscar alternativas de novas políticas públicas que possam contribuir para a redução das
10 10 disparidades regionais e das desigualdades sociais, pondo fim a esses dois brasis: o rico e desenvolvido, no Sul e Sudeste; e o pobre, no Norte e Nordeste. Muito obrigado.
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