Ciência Animal 20(2):87-96, 2010 DESEMPENHO DE FRANGOS DE CORTE EM CRESCIMENTO ALIMENTADOS COM DIETAS CONTENDO SOJA INTEGRAL CRUA
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1 Ciência Animal 20(2):87-96, 2010 DESEMPENHO DE FRANGOS DE CORTE EM CRESCIMENTO ALIMENTADOS COM DIETAS CONTENDO SOJA INTEGRAL CRUA (Performance of growing broiler chicken fed on diets containing raw full fat soybean) Cláudio Cabral CAMPELLO 1*, Ricardo Coelho MONTENEGRO 1, Carlos Henrique Rodrigues de FIGUEIREDO 1, Flávio Alves de Carvalho SAMPAIO 1, George Cândido NOGUEIRA 1, William Maciel CARDOSO 1, Maria do Socorro Vieira dos SANTOS 2, Francisco Militão de SOUZA 1 1 Universidade Estadual do Ceará-Faculdade de Veterinária 2 Universidade Federal Rural da Amazônia-Produção Animal. RESUMO O experimento objetivou avaliar o desempenho de frangos de corte alimentados com rações contendo soja integral crua na segunda metade do ciclo produtivo e analisar a viabilidade econômica dessa prática. Para tanto, 448 pintos machos, foram divididos aleatoriamente em 4 tratamentos representados por rações isonutritivas com diferentes níveis de inclusão de soja integral crua (0, 20, 40 e 60%). O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com quatro repetições por tratamento e 28 aves por unidade experimental. Os resultados revelaram que as aves toleraram satisfatoriamente a inclusão de soja crua em nível de 20% da proteína total da dieta, não apresentando diferença significativa em relação ao grupo controle quanto ao ganho de peso, consumo e conversão alimentar. Os demais níveis de substituição não afetaram o consumo, mas comprometeram significativamente o ganho de peso e a conversão alimentar. Sob as condições de mercado em que o trabalho foi realizado, não houve vantagem econômica para o uso da soja integral crua na alimentação dos frangos. Palavras-chaves: Frango de corte; ganho de peso; conversão alimentar; soja integral; viabilidade. ABSTRACT The experiment aimed to evaluate performance of broiler chicken fed on rations containing raw full-fat soybean during the second half of the production cycle and to analyze economic viability of that procedure. For that, 448 one-day-old male chicks were randomly assigned into four treatments represented by isonutritive rations with different levels of raw full-fat soybean (0, 20, 40 e 60%). A completely randomized design was used, being four replicates per treatment, with 28 birds each. Results showed that birds tolerated satisfactorily the inclusion of raw full-fat soybeans at levels of 20% dietary protein, showing no significant difference regarding to body weight gain, consumption and feed conversion when compared to control group. Higher replacement levels did not affect consumption, but compromised significantly body weight gain and feed conversion. Under market conditions in which the research was carried out, use of raw full-fat soybean in diets for broiler chicken was not viable. Key-words: Broiler chicken; body weight gain; feed conversion; soybean; viability. *Endereço para correspondência: Faculdade de Veterinária/Universidade Estadual do Ceará Av. Dedé Brasil, 1700, Fortaleza, Ceará CEP e.mail:cccampello@yahoo.com.br Ciência Animal 20(2):87-96,
2 INTRODUÇÃO realmente limites dentro dos quais a soja integral possa ser ingerida crua, sem que sejam Ao longo dos últimos anos tem havido crescente interesse na utilização de soja integral na alimentação animal (MENDES et al, 2004; COSTA et al., 2006). A soja integral contém não apenas elevado conteúdo de proteínas de boa qualidade, mas também fornece quantidades consideráveis de energia em virtude do seu alto teor lipídico. Esta característica pode ser especialmente importante em regiões nas quais são empregadas rações de alta energia ou em locais onde a infra-estrutura não favorece o armazenamento de óleos e gorduras tipicamente usadas como suplemento energético em dietas para aves (SUBUH et al., 2002). Devido à presença de fatores antinutricionais, como inibidores de proteases e observados efeitos antinutricionais, o seu uso como fonte de parte da proteína da dieta pode contribuir para a preservação de constituintes químicos que são destruídos total ou parcialmente pelo tratamento térmico (ZARKADAS & WISEMAN, 2005), para a economia de energia e redução do custo da ração, com repercussão positiva sobre a viabilidade econômica da produção. Ensaios realizados por esta equipe na tentativa de reproduzir os resultados obtidos por Casaubon-Huguenin et al. (2004) não obtiveram resultados satisfatórios quando a soja crua foi fornecida no período compreendido entre o 8º e o 21º dias do ciclo produtivo do frango, mesmo contribuindo apenas com 25% da proteína total lectinas, que podem comprometer a da dieta (GONÇALVES et al., 2009). Foi digestibilidade de nutrientes, considera-se que o valor nutritivo da soja só é plenamente observado, contudo, que os frangos tratados com rações contendo até 50% de soja crua, quando aproveitado após tratamento térmico passaram a ser alimentadas do 22º ao 42º dia com (PALACIOS et al., 2004). Esta concepção é amplamente aceita com base em diversas evidências experimentais, de modo que Waldroup (1982) chegou a afirmar que a soja crua não deve, sob qualquer hipótese, ser utilizada na alimentação de frangos. Não somente a soja crua, mas também a soja subprocessada, apresentando atividade ureásica superior a 0,3 unidades de ph, rações à base de soja termicamente tratada, apresentaram pronta recuperação e terminaram o ciclo produtivo com desempenho equivalente ao do grupo controle, sem que fosse observado efeito residual do consumo de soja crua na fase inicial. Diante dos resultados preliminares obtidos, decidiu-se testar o uso de soja crua nas é considerada imprópria para a utilização em rações oferecidas nas três semanas rações para monogástricos (MENDES et al., 2004). No entanto, experimentos realizados por Casaubon-Huguenin et al. (2004) mostraram que frangos de corte alimentados durante todo o ciclo produtivo com rações contendo até 20% de soja crua apresentaram desempenho equivalente ao daqueles alimentados com rações contendo apenas soja termicamente processada. Tais achados representam uma perspectiva nova de uso da soja na alimentação animal. Se existirem correspondentes à segunda metade do ciclo do frango, considerando-se que a susceptibilidade das aves aos fatores antinutricionais presentes na soja crua tende a diminuir com a idade, conforme demonstrado por Saxena et al. (1963). Assim, esse trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar o desempenho de frangos de corte alimentados com rações contendo diferentes percentuais de soja integral crua no período compreendido entre o 22º e o 42º dias de vida das aves, e analisar a viabilidade 88 Ciência Animal 20(2):87-96, 2010
3 econômica desse procedimento. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido no Setor de Avicultura da Faculdade de Veterinária da Universidade Estadual do Ceará (FAVET/ UECE). Foram utilizados 448 pintos de corte de um dia de idade, machos, da linhagem Ross, adquiridos em incubatório local vacinados contra a doença de Marek. Os pintos foram alojados em galpão de alvenaria com piso de concreto, coberto com telhas de barro, com paredes laterais construídas de alvenaria até a altura de 0,30m e o restante com tela de arame até o telhado, sendo providas de cortinas laterais. As aves foram aleatoriamente distribuídas em 16 boxes de 3,75 m 2 (1,5 x 2,5m), possuindo cada divisão cama do tipo maravalha, bebedouros pendulares automáticos e comedouros tubulares. O programa de iluminação adotado forneceu luz durante 24 horas utilizando-se lâmpadas fluorescentes de 40 watts. Água e ração foram fornecidas ad libitum em um programa de alimentação dividido em duas fases: inicial, do 1º ao 21º dia de idade, e crescimento, do 22º ao 42º dia de idade. Na fase inicial todas as aves foram alimentadas com ração à base de soja termicamente tratada (farelo de soja e soja integral extrusada) e milho, constituindo uma formulação única, contendo 22,6% de proteína e 3080 kcal de Energia Metabolizável/kg. A utilização de soja integral crua na dieta foi avaliada na fase de crescimento, sendo os tratamentos representados por quatro rações experimentais contendo percentuais crescentes de soja integral crua (0, 20, 40 e 60% da proteína total da ração) em substituição à soja termicamente processada (Tab.1). A atividade ureática da soja integral crua utilizada, expressa como variação de ph ( ph), foi de 1,91 unidades, demonstrando não ter sido submetida a tratamento térmico prévio (BUTOLO, 2002). Os cálculos do consumo de ração foram realizados a cada três dias, com base na diferença entre as pesagens de ração fornecida e a sobra nos comedouros de cada box, em relação ao número de aves corrigido pela mortalidade. Para determinação do ganho de peso foram feitas pesagens semanais dos grupos de aves de cada unidade experimental, obtendo-se a partir do peso total o peso médio por ave. A conversão alimentar foi calculada utilizando-se os dados referentes ao consumo e o ganho de peso de cada unidade experimental. O desempenho das aves foi avaliado em dois intervalos: o período experimental (de 22 a 42 dias) e o ciclo completo (de 1 a 42 dias de idade). A velocidade de crescimento foi calculada como a razão entre o peso médio semanal e o peso médio do pinto de 1 dia (ALBANEZ et al., 2000). O experimento foi desenvolvido após aprovação pelo Comitê de Ética no Uso de Animais da Universidade Estadual do Ceará, Brasil (Processo N o ). O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, constituído por quatro tratamentos (0 ou grupo controle, 20, 40 e 60% de soja crua na proteína da dieta) testados em quatro repetições de 28 aves por unidade experimental. Para execução das análises estatísticas, os dados foram inicialmente submetidos ao teste de Kolmogorov-Smirnov, para confirmação da normalidade da distribuição, e ao teste de Bartlett para homocedasticidade. Confirmado o atendimento das exigências para a realização da análise de variância (ANOVA), esta foi executada por meio do procedimento GLM do programa SAS (1999) com probabilidade de 5% para aceitação ou rejeição da hipótese de nulidade. As médias foram comparadas pelo teste de Tukey, atendendo aos critérios de número de tratamentos testados e Ciência Animal 20(2):87-96,
4 Tabela 1. Composição percentual e calculada das rações experimentais Ingrediente T1 T2 T3 T4 Milho (8,3% PB) 1 64,48 63,88 63,27 57,75 Farelo de Soja (45% PB) 1 26,42 18,25 10,25 2,83 Soja integral crua (35% PB) 1 0,00 10,58 21,00 31,67 Casca de arroz moída 0,00 0,00 0,00 2,58 Núcleo FIT-ENG (5%) 2 5,00 5,00 5,00 5,00 DL Metionina (99%) 0,05 0,05 0,05 0,07 D-Lisina (98,5%) 0,12 0,12 0,11 0,10 Oleo de soja degomado 3,93 2,12 0,32 0,00 TOTAL (kg) 100,00 100,00 100,00 100,00 Composição calculada 3 EM (kcal/kg) 3.200, , , ,00 Proteína bruta (%) 18,50 18,50 18,50 18,50 Fibra bruta (%) 3,62 3,69 3,77 4,89 P disponível (%) 0,43 0,43 0,43 0,43 Ca 1,00 1,02 1,03 1,05 Aminoácidos totais Lisina (%) 1,03 1,04 1,04 1,05 Metionina (%) 0,45 0,45 0,46 0,47 Metionina + Cistina (%) 0,75 0,76 0,76 0,76 Triptofano (%) 0,22 0,22 0,22 0,22 1 Valores obtidos no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Ceará, de acordo com a metodologia descrita por SILVA (1990). 2 Conteúdo/kg: Vit. A, UI; Vit. D3, UI; Vit. E 160 mg; Vit. B1, 8,0 mg; vit. B2, 90,0 mg; vit. B6, 30 mg; ácido nicotínico, 550 mg; ácido pantotênico, 140 mg; vit. K3, 12,0 m g; ácido fólico, 16,0 mg; biotina, 0,5 mg; Metionina, 22,46 mg; Colina, 4,15 mg; Ca, 180 g;, P, 38,0 g; Na, 38,0 g; Fe, 600 mg, Cu, 1,36 g; Mn, 1,2 g; Zn, 1,04 g; I, 24,0 mg; Se, 5,5 mg; antioxidante, 1,0 g; coccidiostático, 2,0 g; promotor de crescimento, 0,5 g; fitase, ftu. 3 Composição calculada segundo ROSTAGNO et al. (2000). margem bruta (MB) foi estimada pela diferença entre RB e CMR. O índice de rentabilidade (IR) foi calculado pelo quociente entre MB e CMR. Finalmente, o índice de rentabilidade relativo (IRR) foi calculado pela relação entre o IR de cada tratamento e o IR do grupo controle. estabilidade das variáveis analisadas, preconizados por Sampaio (2002). A análise econômica foi feita com base nos critérios utilizados por Albanez et al. (2000). Foi calculada a renda bruta (RB) a partir do preço de venda do frango pelo produtor no mercado local multiplicado pelo peso médio das aves de cada tratamento ao fim do ciclo. O custo médio RESULTADOS E DISCUSSÃO de cada ração (CMR) foi calculado com base nas quantidades consumidas das rações iniciais e finais (rações experimentais T1, T2, T3 e T4) multiplicadas pelo preço de cada ração. A 90 Ciência Animal 20(2):87-96, 2010 Os resultados referentes ao desempenho dos frangos alimentados com dietas contendo diferentes percentuais de soja integral crua
5 Tabela 2. Desempenho de frangos Ross alimentados do 22º ao 42º dias com rações contendo 0 (T1), 20 (T2), 40 (T3) e 60% (T4) de soja crua na proteína total da dieta. Fase Trat Ganho de peso Consumo de ração Conversão (kg) (kg) alimentar dias T1 1,97 ± 0,15 a 3,51 ± 0,25 a 1,78 ± 0,01 b T2 1,86 ± 0,11 ab 3,53 ± 0,17 a 1,90 ± 0,05 b T3 1,66 ± 0,10 bc 3,48 ± 0,19 a 2,09 ± 0,05 a T4 1,59 ± 0,13 c 3,52 ± 0,19 a 2,22 ± 0,12 a CV (%) 7,19 5,85 3, dias T1 2,93 ± 0,18 a 4,98 ± 0,25 a 1,70 ± 0,02 b T2 2,83 ± 0,13 ab 4,99 ± 0,17 a 1,77 ± 0,03 b T3 2,62 ± 0,10 b 4,94 ± 0,19 a 1,89 ± 0,02 a T4 2,56 ± 0,15 b 4,99 ± 0,19 a 1,95 ± 0,08 a CV (%) 5,23 4,12 2,35 Valores com letras distintas na mesma coluna diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). As comparações de médias foram feitas dentro de cada fase (8-21 dias, dias ou 1-42 dias). CV(%): Coeficiente de variação expresso em percentagem. encontram-se sumarizados na Tab. 2, sendo grupo T2 não diferiu significativamente (p>0,05) apresentados em relação ao período experimental do grupo controle tratado com dieta isenta de soja (22 a 42 dias) e ao ciclo de criação completo (1 a crua. Os grupos T3 e T4 foram equivalentes entre 42 dias). si e diferiram significativamente dos outros dois Em ambos os intervalos considerados tratamentos (p<0,05), em ambos os intervalos para a avaliação da resposta das aves, pôde-se considerados. observar que o consumo de ração foi equivalente A mortalidade observada nesse entre os tratamentos testados, não tendo havido experimento foi bastante reduzida. Durante o efeito significativo da inclusão de soja integral período experimental vieram a óbito três aves crua nas dietas (p>0,05). do tratamento T4 (60% de soja crua), duas aves No período experimental, o ganho de do grupo controle T1(isento de soja crua) e uma peso não foi afetado pela ingestão de soja crua ave de cada um dos tratamentos T2 e T3. Desse em nível de 20% da proteína da ração (p>0,05). modo, a viabilidade variou de 97,32 ± 3,42 (T4) Porém, os ganhos de peso das aves pertencentes a 99,11 ± 1,78% (T2 e T3), não havendo diferença aos tratamentos T3 (40%) e T4 (60%) diferiram significativa entre os tratamentos (p>0,05). significativamente do grupo controle (p<0,05). Na literatura consultada não foram Do mesmo modo, quando considerado o ciclo encontrados outros dados referentes ao completo, o grupo alimentado com ração desempenho e viabilidade de frangos de corte da contendo 20% da proteína fornecida por soja crua linhagem Ross alimentados com dietas contendo não diferiu significativamente do controle soja integral crua, que pudessem ser comparados. (p>0,05). O trabalho de Casoubon-Hugenin et al. (2004) Com relação à conversão alimentar, o com soja crua na alimentação de frangos foi Ciência Animal 20(2):87-96,
6 Tabela 3. Peso vivo aos 21, 28, 35 e 42 dias de frangos Ross alimentados do 22º ao 42º dias com rações contendo 0 (T1), 20 (T2), 40 (T3) e 60% (T4) de soja crua na proteína total da dieta. 21º dia 28º dia 35º dia 42º dia T1 1,00 ± 0,02ª 1,87 ± 0,06 a 2,31 ±0,07 a 2,98 ± 0,18 a T2 1,01 ± 0,03ª 1,79 ± 0,06 ab 2,19 ±0,08 ab 2,87 ± 0,13 ab T3 1,00 ± 0,03ª 1,74 ± 0,02 b 2,08 ±0,03 bc 2,67 ± 0,10 b T4 1,01 ± 0,02ª 1,70 ± 0,07 b 2,00 ±0,09 c 2,61 ± 0,15 b CV (%) 2,91 3,15 3,39 5,15 Valores com letras distintas na mesma coluna diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). CV(%): Coeficiente de variação expresso em percentagem. conduzido com aves de outra linhagem, as quais apresentaram desempenho bastante inferior no que diz respeito ao ganho de peso, embora tenham apresentado melhor conversão alimentar. No entanto, quando os resultados obtidos nesse experimento foram comparados com os dos grupos controles, mantidos nas condições convencionalmente empregadas na avicultura comercial, de diversos trabalhos desenvolvidos no Brasil envolvendo frangos Ross (STRINGHINI et al., 2003; ALBINO et al., 2006; LIMA et al., 2008; VIEIRA et al., 2008), verificase que a viabilidade, o ganho de peso, consumo e conversão alimentar foram similares, mostrando que o experimento foi executado sob condições satisfatórias, propícias à consecução de um bom desempenho dos animais experimentais. Os menores ganhos de peso e alta conversão alimentar observados nos tratamentos contendo 40% ou mais da proteína fornecida por soja integral crua provavelmente sejam resultados da ação dos fatores antinutricionais encontrados nessa leguminosa, principalmente Tabela 4. Velocidade de crescimento aos 21, 28, 35 e 42 dias de frangos Ross alimentados do 22º ao 42º dias com rações contendo 0 (T1), 20 (T2), 40 (T3) e 60% (T4) de soja crua na proteína total da dieta. 21º dia 28º dia 35º dia 42º dia T1 22,33 ± 0,56ª 41,59 ± 1,26 a 51,32 ± 1,64 a 66,22 ± 3,93 a T2 22,46 ± 0,74ª 39,85 ± 1,37 ab 48,77 ± 1,85 ab 63,82 ± 2,91 ab T3 22,36 ± 0,77ª 38,68 ± 0,56 b 46,28 ± 0,77 bc 59,27 ± 2,31 b T4 22,57 ± 0,51ª 37,83 ± 1,55 b 44,37 ± 1,94 c 57,94 ± 3,36 b CV (%) 2,93 3,15 3,40 5,14 Valores com letras distintas na mesma coluna diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). CV(%): Coeficiente de variação expresso em percentagem. 92 Ciência Animal 20(2):87-96, 2010
7 lectinas e inibidores de proteases (OLIVEIRA et al., 2005). Por outro lado, os resultados sugerem que 20% de proteína oriunda de soja integral crua não parecem constituir um nível de inclusão capaz de desencadear os efeitos deletérios dos fatores bioativos existentes nas sementes de soja. A Tab.3 apresenta os dados relativos aos pesos médios dos grupos experimentais aos 28, 35 e 42 dias idade das aves. Os resultados revelaram que, durante todo o período, o peso vivo médio do grupo T2 foi equivalente ao do controle T1 (p>0,05). O mesmo ocorreu com respeito à velocidade de crescimento (Tab. 4), havendo efeito significativo do consumo de soja crua apenas a partir da inclusão em nível de 40% da proteína da dieta. Os pesos dos frangos no final do ciclo produtivo foram discretamente superiores àqueles apresentados por outros autores para frangos da mesma linhagem (FRANZOI et al., 2000; ALBINO et al., 2006). A velocidade de crescimento alcançada em todas as fases foi superior à do grupo controle do experimento realizado por Albanez et al. (2000). Os dados relativos ao ganho de peso, conversão alimentar, peso vivo e velocidade de crescimento apresentados permitiram a realização de análises de regressão, por meio das quais foi possível dimensionar as alterações sofridas por cada uma dessas variáveis em função do percentual de inclusão de soja crua na proteína da dieta. As equações obtidas a partir dessas análises de regressão encontram-se descritas na Tab.5. Para todas as variáveis analisadas, os melhores coeficientes de determinação (R 2 ) foram obtidos com curvas de tendência polinomial. Esse fenômeno sugere que as curvas que descrevem a variação nos parâmetros analisados em função do percentual de soja crua Tabela 5. Equações descritivas da variação no ganho de peso, conversão alimentar, peso vivo e velocidade de crescimento aos 28, 35 e 42 dias em função do percentual de inclusão de soja crua (0, 20, 40 e 60%) na dieta de frangos Ross do 22º ao 42º dia do ciclo produtivo. Variável Equação descritiva e coeficiente de determinação 1 Limite 2 Ganho de peso (kg) até 42 dias Conversão alimentar aos 42 dias y = 0,00002x 2 0,0082x + 1,981 (R 2 = 0,9739) 36,64% y = 0,000006x 2 + 0,0072x + 1,7735 (R 2 = 0,9926) 21,45% Peso vivo aos 28 dias (kg) y = 0,00003x 2 0,0043x + 1,869 (R 2 = 0,9988) 35,65% Velocidade de crescimento aos 28 dias y = 0,0018x 2 0,1806x + 41,878 (R 2 = 0,8834) 34,76% Peso vivo aos 35 dias (kg) y = 0,00003x 2 0,0067x + 2,311 (R 2 = 0,9996) 26,12% Velocidade de crescimento aos 35 dias y = 0,0004x 2 0,1407x + 51,346 (R 2 = 0,9995) 26,33% Peso vivo aos 42 dias (kg) y = 0,00003x 2 0,0084x + 2,9915 (R 2 = 0,9703) 44,09% Velocidade de crescimento aos 42 dias y = 0,0007x 2 0,1871x + 66,489 (R 2 = 0,9679) 44,53% 1 Nas equações descritivas, y corresponde à variável de interesse e x o percentual de inclusão de soja integral crua. 2 Percentuais de inclusão da soja integral crua na dieta de frangos, dentro dos quais os resultados obtidos não difeririam significativamente do grupo controle. Ciência Animal 20(2):87-96,
8 adicionado reduzem progressivamente sua inclinação, tendendo a atingir um platô a partir do qual o aumento do percentual de inclusão não é acompanhado de alterações substanciais nos efeitos observados. Com base nas equações descritas, e na diferença mínima significativa (dms) calculada através do teste de Tukey para comparação das médias, pode-se estimar os limites de inclusão da soja integral crua na dieta de frangos, dentro dos quais os resultados obtidos não difeririam significativamente do grupo controle. Esses limites encontram-se também demonstrados na Tab.5, onde se pode observar que a variável mais afetada pela ingestão de soja crua foi a conversão alimentar. Pode-se, portanto, estimar que até aproximadamente 21,45 % da proteína da ração, a soja crua poderia ter sido usada como ingrediente alternativo sem afetar a conversão alimentar, a variável mais afetada dentre aquelas investigadas nesse trabalho. Esses níveis foram superiores àqueles descritos por Bonaspetti (1990). Portanto, de um modo geral, os resultados obtidos demonstraram que o uso da soja crua em limites de até aproximadamente 20% da proteína em dietas para frangos de corte resultou em desempenhos equivalentes àqueles obtidos com rações à base de soja previamente submetida a tratamento térmico, confirmando os achados de Casaubon-Huguenin et al. (2004). Deve-se 94 Ciência Animal 20(2):87-96, 2010 ressaltar, todavia, que no presente trabalho a soja crua foi incluída nas rações apenas durante o período compreendido entre o 22º e o 42º dias do ciclo, e não no ciclo completo como foi feito por esses autores. A Tab.6 apresenta os indicadores de rentabilidade dos tratamentos testados, contendo soja integral crua, comparados ao tratamento à base exclusivamente de soja termicamente tratada, convencionalmente empregada na avicultura comercial. A partir dos resultados descritos, observase que não houve vantagem econômica na utilização de soja crua na alimentação dos frangos, com base nos preços praticados no período em que o experimento foi realizado. Ainda que tenha sido demonstrado, nas análises anteriores, que o desempenho apresentado pelo grupo tratado com 20% de soja crua na proteína da ração (T2) não tenha diferido significativamente do controle, a pequena diferença numérica existente no peso final entre esses dois grupos teve impacto negativo sobre a viabilidade econômica. Porém, conforme destacado por Furlan et al. (2001) a viabilidade econômica é um aspecto circunstancial, que depende dos preços de mercado praticados em um dado momento. Os resultados relativos ao desempenho demonstraram ser possível a substituição de até 20% da proteína da soja termicamente processada Tabela 6. Indicadores de rentabilidade econômica de tratamentos experimentais nos quais frangos Ross foram alimentados do 22º ao 42º dias com rações contendo 0 (T1), 20 (T2), 40 (T3) e 60% (T4) de soja crua na proteína total da dieta. Tratamento RBM 1 CMR 2 MB 3 IR 4 IRR 5 T1 5,66 2,89 2,78 96,13 100,00 T2 5,45 2,87 2,59 90,29 93,93 T3 5,06 2,82 2,25 79,96 83,18 T4 4,95 2,83 2,12 74,84 77,85 1 RBM: Renda bruta média (R$/frango); 2 CMR: Custo médio da ração (R$/frango); 3 MB: Margem bruta (R$/frango); 4 IR: Índice de rentabilidade (%); 5 IRR: Índice de rentabilidade relativo (%).
9 pela proteína da soja integral crua, ficando a exploração dessa alternativa na dependência dos preços de mercado do farelo de soja, soja extrusada, óleo de soja degomado e soja integral crua na época da utilização. Os resultados obtidos sugerem ainda que é possível a utilização de partidas de soja ou seus subprodutos que eventualmente estejam fora dos padrões ideais de aceitação, no que se refere aos níveis de atividade ureásica, desde que esse material não seja empregado como única fonte protéica, mas como fonte de parte da proteína total da dieta. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Fundação Cearense de Amparo ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP) e ao Conselho Nacional para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelos recursos concedidos (Processo N o 9943/06 FUNCAP/CNPq/ PPP). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBANEZ, J. R., FONSECA, J. B., SILVA, M. A., SOARES, R. T. R. N., COSTA, F. A., SOARES, P. R. Efeito da restrição alimentar sobre o desempenho produtivo e a qualidade da carcaça de frangos de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v.29, n.6, p , ALBINO, L. F. T., FERES, F. A., DIONIZIO, M. A., ROSTAGNO, H. S., VARGAS JÚNIOR, J. G., CARVALHO, D. C. O., GOMES, P. C., COSTA, C. H. R. Uso de prebióticos à base de mananoligossacarídeo em rações para frangos de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.3, p , BONASPETTI, S. Uso do grão de soja tostado ou cru e os efeitos dos inibidores de crescimento sobre o desempenho de frangos de corte f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Curso de Pósgraduação em Zootecnia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. BUTOLO, J. E. Qualidade de ingredientes na alimentação animal. Campinas, SP. Colégio Brasileiro de Nutrição Animal, 2002, 430 p. CASAUBON-HUGUENIN, M. T., ÁVILA- GONZALEZ, E., VAZQUEZ-PELAEZ, C., TRIGO, F., LASCURAIN, R., ZENTENO, E. The effect of raw full-fat soybean and its lectin on the nutritiona and pigmentation of broilers. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v.52, p , COSTA, F. G. P., OLIVEIRA, F. N., SILVA, J. H. V., NASCIMENTO, G. A. J., AMARANTE JÚNIOR, V. S., BARROS, L. R. Desempenho de pintos de corte alimentados com rações contendo soja integral extrusada em diferentes temperaturas, durante as fases pré-inicial e inicial. Ciência Animal Brasileira, v.7, n.1, p.1-10, FRANZOI, E. E., SIEWERDT, F., RUTZ, F., BRUM, P. A. R., GOMES, P. C. Composição de carcaça de frangos alimentados com farelo de canola. Ciência Animal Brasileira, v.30, n.2, p , FURLAN, A. C., MANTOVANI, C., MURAKAMI, A. E., MOREIRA, I., SCAPINELLO, C., MARTINS, E. N. Utilização do farelo de girassol na alimentação de frangos de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v.30, n.1, p , GONÇALVES, R. F. B., LIMA, A. P., ROCHA, A. A., CAMPELLO, C. C. Utilização de soja integral crua na alimentação de frangos de corte em crescimento dos 8 aos 21 dias. In: XIV Semana Universitária da Universidade Estadual do Ceará, 1., 2009, Fortaleza, CE. Anais...Fortaleza: Pró-Reitoria de Pós-graduação e Pesquisa, On line. Disponível na Internet LIMA, L. M. B., LARA, L. J. C., BAIÃO, N. C., CANÇADO, S. V., MICHELL, B. C., FERREIRA, F. C. Efeitos dos níveis de energia, lisina e metionina+cistina sobre o desempenho e o rendimento de carcaça de frangos de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, n.8, p , MENDES, W. S., SILVA, I. J., FONTES, D. O., RODRIGUEZ, N. M., MARINHO, P. C., SILVA, F. O., AROUCA, C. L. C., SILVA, F. C. O. Composição química e valor nutritivo da soja crua e submetida a diferentes processamentos térmicos para suínos em crescimento. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.56, n.2, , OLIVEIRA, F. N., COSTA, F. G. P., SILVA, J. H. V., BRANDÃO, P. A., AMARANTE JÚNIOR, V.S., NASCIMENTO, G. A. J., BARROS, L. R. Ciência Animal 20(2):87-96,
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