Técnica de Análise de Carvão e Depósitos de Cinzas em Unidades Geradoras de Vapor
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- Giovanni Castilho Rios
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1 1 Técnica de Análise de Carvão e Depósitos de Cinzas em Unidades Geradoras de Vapor L. J. Mendes N., UFSC, E. Bazzo, UFSC e L. Felippe Tractebel Resumo- Este trabalho apresenta uma metodologia de análise para o carvão utilizado em centrais termelétricas e dos depósitos de cinza formados nos trocadores de calor das unidades geradoras de vapor. A formação destes depósitos promove uma redução da transferência de calor proveniente dos gases de combustão fazendo com que ocorra um decréscimo na eficiência da planta. Os mecanismos envolvidos no processo de formação de depósitos são apresentados com o propósito de avaliar o processo de crescimento no sentido de minimizar seus efeitos, reduzindo o tempo de parada para manutenção do gerador de vapor. A técnica aqui apresentada propõe o uso do microscópio eletrônico de varredura (MEV) e Difração de Raio X para caracterização química e geométrica dos depósitos. Palavras-chave Carvão, Deposição de cinzas, Técnicas de avaliação de carvão e depósitos de cinzas, Transferência calor. I. INTRODUÇÃO A capacidade instalada hoje no Brasil é de MW e está prevista para os próximos anos um aumento de MW na capacidade de geração do país, proveniente de 88 empreendimentos em construção e 521 outorgados. A termoeletricidade representa 18% das usinas em construção e 47% das usinas outorgadas (ANEEL, 2007). Dentre as usinas termelétricas outorgadas, a queima de carvão mineral representa 28% do total. A queima de carvão pulverizado em caldeiras de centrais termelétricas apresenta diversos problemas, entre eles a deposição de cinzas. Este problema diminui a taxa de transferência de calor, altera o campo de velocidade dos gases de combustão, favorece o processo de corrosão de superfície, aumenta a freqüência de uso de sopradores de fuligem e, conseqüentemente, aumenta os custos de operação e manutenção das centrais termelétricas a carvão. Eventualmente, se houver descontrole do pessoal de operação, as cinzas acumuladas nos superaquecedores podem cair na fornalha, bloqueando o processo de combustão. Nesse cenário, a simples presença de gases combustíveis submetido às altas temperaturas pode provocar ignição instantânea, seguida de Agradecemos ao apoio financeiro prestado pela Tractebel Energia, através do programa P&D ANEEL, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) L. J. Mendes N. é doutorando em engenharia mecânica pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) ( lourival@labcet.ufsc..br). E. Bazzo é professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) ( ebazzo@emc.ufsc.br). L. Felippe é engenheiro mecânico pela Universidade Federal de Santa Catarina e Gerente de Manutenção da Usina Jorge Lacerda, SC. ( lfelippe@tractebelenergia.com.br) explosão colocando a usina em indisponibilidade por longos períodos do sistema elétrico brasileiro. Frente à necessidade de uso das centrais termelétricas, como alternativa suplementar ao uso de centrais hidráulicas, em função de freqüentes falhas no suprimento de energia elétrica para o mercado brasileiro, é imperativo que se estude mecanismos que promovam confiabilidade e melhoria na eficiência térmica das caldeiras. Além disso, considerando o tratado de Kyoto, visando à redução do aquecimento global, para a redução da emissão de gases de efeito estufa, enfatiza-se a necessidade de reduzir o consumo de combustíveis, aumentando a eficiência do ciclo térmico. O acúmulo de depósitos reduz a transferência de calor dos gases quentes para o vapor, fazendo com que ocorra um decréscimo na eficiência da planta. De acordo com Couch, uma redução local de até 25% pode ocorrer na transferência de calor dos gases de combustão para o vapor superaquecido, nas primeiras horas de operação (apud KNUDSEN, 2001). Uma análise detalhada do processo de deposição de cinzas será importante para a definição de parâmetros que contribuam para a localização dos sopradores de fuligem no interior da caldeira. Problemas de deposição estão freqüentemente associados com mudanças nas características do combustível ou nas condições de operação da caldeira. O uso de índices e de modelos para prever a formação de depósitos deverá ajudar projetistas a determinarem as condições de operação das caldeiras, corrigindo antecipadamente problemas de operação (FAN et al, 2001). II. MOTIVAÇÃO O estudo de caldeiras operando com carvão brasileiro pulverizado e a análise e simulação destas caldeiras encontra-se em desenvolvimento e estudo na Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, com uma tese de doutorado defendida e três dissertações de mestrado em andamento. Paralelamente, pesquisa tem sido realizada com recursos P&D ANEEL visando reduzir gradientes térmicos, equalizar a distribuição do fluxo de vapor nos feixes tubulares, reduzindo temperaturas de parede e melhorando a eficiência térmica. Nesse sentido o presente trabalho consiste em determinar a composição química, bem como analisar as amostras, recolhidas na caldeira em operação na central termelétrica Jorge Lacerda localizada na região sul do Brasil, de depósitos em diversas posições radiais e diferentes posições angulares em torno do tubo. A partir das imagens obtidas das amostras pretende-se caracterizar a distribuição de diâmetros de poros, porosidade e composição química.
2 2 III. CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E GEOMÉTRICA DOS DEPÓSI- TOS EM CALDEIRAS. A partir das amostras de depósitos na caldeira é possível avaliar as características químicas e físicas dos mesmos. Estes dados experimentais serão utilizados para dar suporte ao estudo teórico acerca da deposição de partículas elementares nas superfícies de troca de calor. A caracterização física consiste da distribuição de poros e da porosidade da amostra, tais características serão determinadas avaliando imagens através de software (IMAGO) desenvolvido pelo Laboratório de Meios Porosos e Propriedades Termofísicas (LMPT/UFSC). Diversas imagens foram colhidas de uma típica amostra utilizando um microscópio eletrônico de varredura (MEV) disponível no Laboratório de Materiais (LabMat/UFSC). As imagens coletadas serão então analisadas utilizando-se o IMAGO. Finalmente a caracterização química inclui a análise de óxido utilizando o MEV, difração de raios-x. A. Formação do Depósito de Cinza Basicamente as impurezas presentes no carvão se apresentam em duas formas distintas, incluídas ou excluídas do mineral. Os minerais incluídos são caracterizados por aqueles que se encontram ligados na cadeia de carbono e estes reagem e evaporam em condições mais severas das quais os minerais excluídos se encontram. Por sua vez, os minerais excluídos estão envoltos na cadeia de carbono produzindo partículas de diferentes tamanhos dependendo da composição (GUPTA et al, 1998). Vários mecanismos estão envolvidos na formação de cinzas a partir da queima de carvão, dentre eles a vaporização de compostos inorgânicos, coalescência de partículas, nucleação, coagulação e condensação. Estes processos estão representados esquematicamente na figura 1. Figura 1. Ilustração esquemática dos meios de formação de cinza (Fonte: KNUDSEN, 2001). Vários mecanismos foram identificados por BAXTER, 1993 como sendo os mecanismos mais importantes presentes no processo de formação do depósito de cinza, sendo eles a condensação de vapores inorgânicos, termoforesi, difusão e impacto por vórtices turbulento, impacto inercial e reações químicas com a fase gasosa. Estes processos estão representados esquematicamente na figura 2. Figura 2. Ilustração conceitual da estrutura do depósito nos tubos do superaquecedor (Fonte: KNUDSEN, 2001). Termoforesi pode ser definida como sendo um processo que influencia o movimento de uma partícula devido a um gradiente de temperatura local. A força termoforética pode ser explicada pelo fato de que a alta temperatura das moléculas gasosas no lado quente da partícula tem uma maior energia cinética e consequentemente uma maior freqüência de colisão do que as moléculas do lado de baixa temperatura, causando uma força resultante na direção das temperaturas menores (BAXTER, 1993). Outro processo de difusão presente na deposição de partículas é o movimento Browniano e a difusão por vórtices. O movimento irregular de partículas em um determinado fluxo é denominado de movimento Browniano, esse movimento está associado ao movimento térmico das moléculas do fluido que circunda a partícula, resultando em pequenas colisões deslocando a partícula em uma dada direção. Na ausência de termoforesi o movimento Browniano e difusão de vórtices são os principais mecanismos de deposição de partículas muito pequenas, da ordem de 0,1 μm de diâmetro ou menos (KNUDSEN, 2001). O impacto de partículas devido ao movimento dos vórtices promove um aumento na deposição das partículas quando o regime predominante deixa de ser por difusão e passa a entrar em regime turbulento. Este aumento é devido à interação entre a partícula e as estruturas turbulentas. O impacto por inércia é o principal mecanismo de transporte que contribui significativamente para o crescimento do depósito nos últimos estágios da formação, especialmente para partículas maiores do que 10μm. O movimento destas partículas é dominado por forças inerciais causando uma tendência de sair do fluxo ao circundar um objeto. A taxa de impacto inercial depende da geometria, tamanho da partícula, forma, densidade, ângulo de impacto, velocidade e propriedades do fluxo (KNUDSEN, 2001). Condensação é o mecanismo através do qual vapor é coletado em superfícies mais frias do que a temperatura do meio no qual o vapor se encontra. A quantidade de condensado depende fortemente do modo como o material inorgânico se encontra no carvão. A deposição por condensação dificulta a remoção do depósito devido ao aumento da área de contato de aderência com o meio com profundas influências na força, condutividade térmica, difusividade de massa, etc.
3 3 A condensação pode ocorrer por três mecanismos: (a) o vapor pode atravessar a camada limite e condensar na superfície ou em poros do depósito; transferência mássica de vapor, (b) os vapores podem nuclear de forma homogênea formando fumos e se depositar nas superfícies por termoforesi ou (c) podem condensar de forma heterogênea na camada limite de outras partículas e atingir a superfície por termoforesi ou impacto inercial (BAXTER, 1993). B. Caracterização de depósitos por microscópio eletrônico de varredura (MEV) A técnica do microscópio eletrônico de varredura (MEV) tem sido utilizada como sendo a mais adequada para se analisar microestruturas de amostras. Neste caso, a área ou o micro volume é irradiado com um feixe fino de elétrons, ao invés de luz como no caso do microscópio óptico. Dessa forma, a interação dos elétrons com a superfície da amostra permite uma emissão de radiação na forma de elétrons retroespalhados, característico de raios-x, etc. Esta radiação quando colhida corretamente pode dar uma importante característica da amostra, tal como a composição da superfície, topografia, etc. (MALISKA, 2005). O MEV pode ser acoplado com o detector de energia dispersiva e raios-x (EDAX) possibilitando a análise química da amostra fornecendo informações qualitativas e quantitativas acerca da composição química. A análise por MEV e EDAX pode ser feita manualmente, diretamente nas amostras de carvão, depósitos de cinza ou cinzas leves. Os resultados se limitam às superfícies expostas e por isso a seleção da superfície e interpretação depende do investigador. Elétrons secundários (ES) são elétrons liberados de átomos da amostra devido às colisões quase inelásticas entre elétrons do feixe primário e elétrons com baixa energia da amostra. Uma das características do ES é a pequena profundidade de penetração dos elétrons na amostra por causa de sua baixa energia. Assim, a interação amostra-elétron produz elétrons secundários em todo o volume, mas somente aqueles gerados próximos à superfície produzem elétrons secundários que irão contribuir para o sinal obtido de ES (MALISKA, 2005). Elétrons retroespalhados (ERE) é o resultado da colisão elástica do feixe de elétrons e a amostra. O ERE é o sinal mais importante para obter uma imagem precisa da amostra, apesar da pouca informação acerca da profundidade da imagem. A análise do MEV pode ser melhorada com o uso do detector de raios-x, através do qual é possível detectar e analisar as características de raios-x emitida por uma amostra resultante da interação dos elétrons primários com a primeira camada da superfície da amostra. Raios-X podem ser gerados devido à colisão quase inelástica com o feixe de elétrons com a amostra em dois modos: raios-x contínuo e raios-x característico (MALISKA, 2005). O espectro de raios-x contínuo pode ser definido como sendo o fóton emitido por cada elétron quando este é desacelerado pela interação com todos os outros elementos e núcleos da amostra. Este espectro é conhecido como sendo o espectro contínuo e representa o ruído de fundo da amostra. O espectro de raios-x característico é emitido quando o feixe de elétron interage com a camada mais interna do átomo e remove o elétron, deixando um vazio nesta camada. Como o átomo possui a tendência de permanecer no estado fundamental, um elétron da camada externa migra para a camada interna emitindo um fóton com uma energia específica característica de cada átomo. De acordo com cada fóton emitido é possível determinar qual o elemento da amostra. O software IMAGO foi desenvolvido pelo LMPT (Laboratório de Meios Porosos e Propriedades Termofísicas) da UFSC para caracterizar a microestrutura porosa a partir de diferentes tipos de imagens. Originalmente o programa foi desenvolvido para a indústria do petróleo com o objetivo de analisar rochas porosas de reservatórios (DAMIANI et al, 2000). O tamanho de poro é determinado comparando o objeto com um padrão previamente definido em tamanho e forma. A distribuição de poros é determinada a partir de seqüências de diferentes objetos de tamanho padrão. A técnica de difração de raio-x consiste de uma radiação incidente na amostra (agora no estado pulverizado) e a detecção dos fótons difratados. A difração de raios-x representa um fenômeno de interação entre o raio-x incidente e os elétrons da amostra. Em um material em que os átomos estão periodicamente arranjados no espaço, que é característico de uma amostra com estrutura cristalina, o fenômeno de difração de raios-x ocorre em todas as direções de espalhamento, que satisfaz a lei de Bragg, equação 1. Detalhes podem ser encontrados na literatura (CULLITY, 1978). nλ = 2d sin θ 1 ( ) ( ) Onde n é o número inteiro de comprimento de onda, λ é o comprimento de onda do feixe de raios-x, d é a distância entre camadas de átomos no cristal, θ é o ângulo de incidência do feixe de raio-x. O feixe difratado produz um padrão de picos que pode ser distinguido do ruído de fundo em um espectro de intensidade versus o ângulo 2θ (ou d) constituindo o espectro padrão de difração. Este padrão representa a coleção de reflexões individuais. Cada elemento pode ser identificado por sua relativa intensidade e seu ângulo. A desvantagem deste método é que a intensidade relativa de cada elemento pode estar superposta, algumas vezes misturando as informações acerca da intensidade relativa. C. Análise física e química de uma típica amostra de depósito de cinza Uma amostra típica de depósito de cinza foi coletada na usina Jorge Lacerda localizada no sul do estado de Santa Catarina. A secção transversal da amostra foi feita na direção do fluxo principal de partículas. O MEV utilizado foi um PHILIPS XL 30 instalado no Laboratório de Materiais (LabMat) da UFSC. A mostra foi embutida em epóxi para que fosse possível manuseá-la no MEV. Todas as imagens colhidas foram analisadas com a ajuda do software IMAGO para que fosse possível obter a porosidade e a distribuição de poros. Vinte imagens foram aleato-
4 4 riamente colhidas seguindo a base do depósito, na superfície externa do tubo, e o topo do depósito, sujeito ao fluxo de gases, segundo uma direção anti-horária. O aumento utilizado no MEV para obter as fotos foi de 100X. O que significa que cada pixel é equivalente a 1 μm. Assim, a mínima resolução que é possível de uma partícula é 1 μm e a máxima seria uma partícula ocupando a foto toda o que proporcionaria uma partícula de 600 μm. esta resolução é suficiente para abranger todos os tamanhos de partículas, desde os elementos excluídos até o carvão não queimado dentro da caldeira. A figura 3 apresenta um exemplo de imagem coletada do MEV. As curvas apresentadas nas figuras 6 e 7 representam o tamanho médio de poro para todas as imagens coletadas no topo e na base da amostra. Os resultados correspondentes mostram que aproximadamente 95% do tamanho de poro estão na faixa de 1 a 6 μm. Diferentemente da base que 95% do tamanho de poro estão na faixa de 1 a 12 μm. Figura 6. Distribuição de tamanho de poro do topo do depósito. Figura 3. Típica imagem do MEV do depósito de cinza. A porosidade foi de 26 e 28 % para o topo e para a base, respectivamente. Análises posteriores são necessárias para determinar resultados representativos Figuras 4 e 5 mostram a distribuição da porosidade ao longo da direção anti-horária do depósito do topo e da base, respectivamente. Figura 7. Distribuição de tamanho de poro na base do depósito. Como apresentado, a única diferença está no tamanho de poro da amostra. A partir destas observações é possível verificar que a amostra está mais sinterizada no topo do depósito, sujeito ao fluxo de gases, do que ao longo da base, na interface com o tubo. Isto indica que existe uma transição da aglomeração para a sinterização como ilustrado pela figura 8. É possível verificar uma zona de transição ao longo de uma linha de crescimento de superfície. Isto indica um comportamento aleatório próximo à superfície. Figura 4. Distribuição da porosidade do topo do depósito para cada uma das vinte amostras selecionadas. A média é 26,5% e o desvio padrão é 7,81%. Figura 8. Secção transversal da amostra. Figura 5. Distribuição da porosidade da base do depósito para cada uma das vinte amostras selecionadas. A média é de 28,7% e o desvio padrão é de 7,23%. Como uma conseqüência da rápida troca de calor para o vapor, como se fosse um sumidouro, as partículas resfriam, evitando uma possível sinterização das mesmas. Inversamente proporcional ao crescimento do depósito, a transferência de calor segue diminuindo em conseqüência do iso-
5 5 lamento térmico permitindo uma sinterização das partículas. A formação de mulita é o principal responsável pelo isolamento e conseqüente isolamento e sinterização do depósito. Baseado nesta situação, as partículas a partir do fluxo podem sinterizar e difundir dentro do depósito criando aglomerados de tamanhos maiores do que aqueles da base. Conclusões similares se encontram no trabalho realizado por WANG et al, Para a avaliação química das amostras foram consideradas três tipos diferentes na análise: carvão usado na caldeira, a cinza pesada e a cinza do depósito encontrada nos tubos do superaquecedor. Todas as amostras foram moídas até uma malha de 325 µm e submetido ao raio-x, fazendo com que seja possível obter um gráfico mostrando a intensidade versus o ângulo 2θ. A partir desses gráficos, figuras 9 a 11, é possível identificar diferentes elementos comparando a intensidade com a correspondente intensidade relativa ao longo do eixo 2θ. O padrão individual está disponível pelo ICDD (Centro Internacional para Dados de Difração). Figura 9. Difratograma do carvão. Figura 10. Difratograma da cinza pesada. Todas as amostras foram usadas em um PHILIPS XPERT com tubo de cobre (λ = 1,54056 Å) com n = 1. Analisando o difratograma obtido JCPDS, 1981 para as três amostras foi possível determinar que o carvão apresente principalmente quartzo (SiO2 JCPDS 5-490) e óxido de alumínio (Al2O3 JCPDS ). A cinza pesada e o depósito de cinza a- presentam principalmente quartzo (SiO2 JCPDS 5-490), mulita (3Al2O32SiO2 JCPDS ), hematita (Fe2O3 JCPDS ) e magnetita (Fe3O4 JCPDS ). Uma análise de óxido complementar foi elaborada considerando os raios-x emitidos a partir da amostra de depósito de cinza durante o processo de obtenção das imagens pelo MEV. Os resultados correspondentes foram obtidos com EDAX e estão apresentados na tabela 1. TABELA I PORCENTAGEM DO PESO MÉDIO DO DEPÓSITO DE CINZA. Elementos Peso Médio (%) Topo Base Na 2 O 0,33 0,35 MgO 1,14 0,96 Al 2 O 3 18,97 18,73 SiO 2 37,73 31,04 K 2 O 1,43 1,24 CaO 4,31 0,00 Fe 2 O 3 36,10 47,71 A principal diferença entre o topo e a base do depósito recai nas concentrações de SiO 2, CaO e Fe 2 O 3. A diferença na concentração de CaO pode estar relacionada com o alto ponto de ebulição do cálcio, 1484 ºC, se comparado com o potássio, cerca de 64 C. Assim, pode-se dizer que Ca está mais presente nas partículas de cinza do que nos vapores alcalinos. O elemento ferro está mais presente na base do que no topo, talvez na forma de hematita. Isto é devido ao baixo ponto de fusão, decompondo em 1565 C, se comparado com a magnetita com um ponto de fusão de 1600 C. O comportamento do SiO 2 está relacionado com os compostos ao redor, pois o ponto de fusão é 1723 C, mas na presença de contaminantes pode começar a transformar cerca de 870 C (BRYERS, 1996, WEBELEMENT, 2005). Outro ponto interessante é a presença de mulita (3Al 2 O 3,2SiO 2 ), a qual é esperada precipitar a partir da fase amorfa de aluminosilicato conforme o depósito se aproxima do equilíbrio. Quanto maior a temperatura do depósito, mais facilmente este se aproxima do estado de equilíbrio. O movimento na direção do equilíbrio irá causar uma cristalização da mulita, aumentando a concentração de Si no topo do depósito de cinza (WANG et al, 1999). Figura 11. Difratograma do depósito de cinza. IV. CONCLUSÕES A técnica desenvolvida com o uso do microscópio eletrônico de varredura (MEV) permite encontrar o tamanho de poros, a distribuição de poros e análise química para o depósito de cinza coletado na caldeira. Além disso, utilizando a difração de raios-x é possível obter os elementos químicos presentes na amostra. Para a amostra de cinza coletada na
6 6 usina Jorge Lacerda, a porosidade apresentou praticamente o mesmo valor em ambas as posições, diferindo apenas de 2% da base para o topo. Além disso, a faixa de tamanho de poro é bem diferente, variando do topo para a base por um fator de dois. Assim é possível verificar que a amostra é mais sinterizada na região sujeita ao fluxo de gases do que na região próxima ao tubo, indicando que existe uma transição do processo de aglomeração, visto no início da deposição, para um processo de sinterização no final do processo. Este fenômeno é uma conseqüência da rápida transferência de calor para o vapor, resfriando as partículas e evitando uma possível sinterização. A complexidade deste fenômeno não pode ser explicada por modelos simples disponíveis na literatura. Acerca da análise química, a diferença entre o topo e a base pode estar relacionada à alta temperatura de evaporação do cálcio comparado com o do potássio, indicando que as partículas têm mais cálcio do que potássio na composição básica. A presença de mulita é esperada devido às propriedades isolantes deste componente que faz com que o depósito varie do padrão de aglomeração para uma estrutura sinterizada. Este trabalho permitiu caracterizar e avaliar os depósitos de cinza presentes na caldeira da usina de Jorge Lacerda, fornecendo subsídios suficientes para uma futura avaliação do impacto do depósito de cinza na transferência de calor e consequentemente o impacto deste na eficiência da caldeira. [11] WEBELEMENT Tabelas periódicas. (acessado em Junho de 2007). [12] BRYERS, R., W., Fireside slagging fouling and high temperature corrosion of heat transfer surface due to impurities in steam raising fuels ; Prog. Energy Combust. Sci; 22; , V. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a colaboração da Tractebel Energia e, em especial, ao Eng. Luiz Felippe, pelo apoio técnico recebido durante a coleta e análise das amostras referentes à Unidade 6 da Usina Jorge Lacerda de Capivari de Baixo, SC. VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] J. F. Fuller, E. F. Fuchs, and K. J. Roesler, "Influence of harmonics on power distribution system protection," IEEE Trans. Power Delivery, vol. 3, pp , Abril [2] Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), site acessado em Junho de 2007, [3] KNUDSEN, S., K., Numerical investigation of ash deposition instraw-fired boilers Using CFD as the framework for slagging and fouling predictions, Tese de doutorado, Instituto de Tecnologia em Energia, Universidade de Aalborg, Dinamarca, [4] FAN, J., R., ZHA, X., D., SUN, P., CEN, K., F., Simulation of ash deposit in a pulverized coal fired boiler, Fuel, 80, pp , [5] GUPTA, R., P., WALL, T., F., KAJIGAYA, I., MIYAMAE, S., TSUMITA, Y., Computer controlled scanning electron microscopy of inerals in coal implicatios for ash deposition, Prog. Energy Combust. Sci, 24, pp , [6] BAXTER, L., L., Ash deposition during biomass ando coal combustion: a mechanistic approach, Biomass and Bioenergy, Vol. 4, nº2, pp , [7] MALISKA, A., M., Microscópio Eletrônico de Varredura, notas de aula, UFSC, Florianópolis, Brasil [8] DAMIANI, M., C., FERNANDES, C., P., PHILIPPI, P.C., REIMBRECHT, E.G. IMAGO: An image software analysis; Proceedings of first congress in materials of South region SULMAT-2000; Joinville, Santa Catarina, Brasil; ; [9] CULLITY, B. D. Elements of X-ray diffraction, 2º, Addison Wesley, [10] WANG, H., WEST, J., HARB, J., N., Micro analytical characterization of slagging deposits from a pilot scale combustor, Energy and Fuels, 13; 3; 1999.
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