INFORMAÇÃO AJUR Nº 006/2014 CONSULENTE: Prefeito Municipal de Caseiros
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1 INFORMAÇÃO AJUR Nº 006/2014 CONSULENTE: Prefeito Municipal de Caseiros BEM PÚBLICO. IMÓVEL. TRANSFERÊNCIA À RÁDIO COMUNITÁRIA. Considerações. O prefeito municipal de Caseiros solicita a Área Jurídica da FAMURS orientações quanto a possibilidade de utilização de bem público imóvel pela rádio comunitária local, sob a condição de que esta rádio apresente programa que contemple conteúdo educativo direcionado a população do município. Inicialmente, observamos que as rádios comunitárias foram criadas pela Lei nº 9.612/98, regulamentada pelo Decreto nº 2615/98, tratando-se de serviço de radiofusão sonora, que possui cobertura restrita. Este tipo de serviço pode ser explorado por associações e fundações que não possuam fins lucrativos e que estejam situadas na localidade da prestação do serviço, de forma que sua programação venha a ser dimensionada aos habitantes da região atendida, sem que haja qualquer forma de censura, podendo admitir patrocínio sob a forma de apoio cultural, conforme disposto na referida lei. No que concerne à consulta formulada pelo município, esclarecemos que os bens públicos são todos aqueles que integram a Administração Pública, sendo divididos em bens de uso comum, de uso especial e dominicais, podendo estes terem destinação de uso pela população ou até mesmo alienação, em casos especiais, onde exista interesse público, observadas as exigências da lei. Quanto ao uso de bem público, o Direito Administrativo Brasileiro contempla as seguintes formas de transferência, as quais: autorização de uso, permissão de uso, concessão de uso, concessão de direito real de uso e cessão de uso. - 1
2 Resumidamente, é possível defini-las da seguinte forma: a autorização de uso é um ato unilateral, discricionário e precário, utilizado para atividades transitórias, enquanto a permissão de uso é um ato negocial, unilateral, discricionário e precário que faculta ao particular a utilização de bem público por um tempo certo. Já a concessão de uso, é um contrato administrativo, cuja outorga obedece normas regulamentares, sendo utilizado quando se trata de exploração de bem público por tempo certo ou indeterminado, cuja exploração deverá seguir destinação específica. A concessão de direito real de uso, por sua vez, é o contrato pelo qual a Administração transfere o uso remunerado ou gratuito de terreno público a particular para que dele se utilize em fins específicos e a cessão de uso é a transferência gratuita da posse de um bem público de uma entidade ou órgão para outro. Dentre as hipóteses citadas, a única que poderia se enquadrar no caso elencado pelo Prefeito seria a cessão de uso. Todavia, destaca-se que a utilização de bem público por particular não pode ser realizada pelo instituto da cessão de uso, uma vez que esta reflete um compromisso entre entidades públicas, como bem ressalta Hely Lopes Meirelles: Cessão de uso é a transferência gratuita da posse de um bem público de uma entidade ou órgão para outro, a fim de que o cessionário o utilize nas condições estabelecidas no respectivo termo, por tempo certo ou indeterminado. É ato de colaboração entre repartições públicas, em que aquela que tem bens desnecessários aos seus serviços cede o uso a outra que deles está precisando. (MEIRELLES. Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 21ª. Ed. Malheiros Editores: São Paulo, 1996, p. 442). Desta forma, a utilização da cessão de uso não se adequaria à pretensão do Prefeito municipal, pois as rádios comunitárias não se enquadram no conceito acima exposto. Outra forma de transferência de bem público prevista pela legislação é a alienação, sendo a doação a alternativa que melhor se enquadraria no presente - 2
3 caso, uma vez que as outras formas previstas ocorrem mediante a venda, permuta, dação em pagamento ou investidura, legitimação de posse ou concessão de domínio. A doação é um contrato de direito civil, também utilizado na esfera pública, pelo qual uma parte transfere, voluntariamente e a título gratuito, coisa móvel ou imóvel, a outra pessoa que a aceita. No caso da Administração Pública, importa frisar que a alienação dos bens públicos somente poderá ocorrer conforme os termos e as formas previstos na lei, ou seja, deverá obedecer uma série de critérios. Desta forma, observa-se que a doação deve ser precedida por lei autorizativa específica, licitação e contrato, além de haver previsão de encargo de interesse público, bem como cláusula de reversão do bem ao Poder Público. Neste sentido, a Lei de Licitações, Lei nº 8666/93, dispõe no artigo 17 quanto a possibilidade de alienação de bens públicos: Art A alienação de bens da Administração Pública, subordinada à existência de interesse público devidamente justificado, será precedida de avaliação e obedecerá às seguintes normas: I - quando imóveis, dependerá de autorização legislativa para órgãos da administração direta e entidades autárquicas e fundacionais, e, para todos, inclusive as entidades paraestatais, dependerá de avaliação prévia e de licitação na modalidade de concorrência, dispensada esta nos seguintes casos :a) dação em pagamento ;b) doação, permitida exclusivamente para outro órgão ou entidade da administração pública, de qualquer esfera de governo, ressalvado o disposto nas alíneas f, h e i; c) permuta, por outro imóvel que atenda aos requisitos constantes do inciso X do art. 24 desta Lei; d) investidura; e) venda a outro órgão ou entidade da administração pública, de qualquer esfera de governo; f) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso, locação ou permissão de uso de bens imóveis residenciais construídos, destinados ou efetivamente utilizados no âmbito de programas habitacionais ou de regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por órgãos ou entidades da administração pública; g) procedimentos de legitimação de posse de que trata o art. 29 da Lei n o 6.383, de 7 de dezembro de 1976, mediante iniciativa - 3
4 e deliberação dos órgãos da Administração Pública em cuja competência legal inclua-se tal atribuição; h) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso, locação ou permissão de uso de bens imóveis de uso comercial de âmbito local com área de até 250 m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) e inseridos no âmbito de programas de regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por órgãos ou entidades da administração pública; i) alienação e concessão de direito real de uso, gratuita ou onerosa, de terras públicas rurais da União na Amazônia Legal onde incidam ocupações até o limite de 15 (quinze) módulos fiscais ou 1.500ha (mil e quinhentos hectares), para fins de regularização fundiária, atendidos os requisitos legais; (...) 1 o Os imóveis doados com base na alínea "b" do inciso I deste artigo, cessadas as razões que justificaram a sua doação, reverterão ao patrimônio da pessoa jurídica doadora, vedada a sua alienação pelo beneficiário. (...) 4 o A doação com encargo será licitada e de seu instrumento constarão, obrigatoriamente os encargos, o prazo de seu cumprimento e cláusula de reversão, sob pena de nulidade do ato, sendo dispensada a licitação no caso de interesse público devidamente justificado 5 o Na hipótese do parágrafo anterior, caso o donatário necessite oferecer o imóvel em garantia de financiamento, a cláusula de reversão e demais obrigações serão garantidas por hipoteca em segundo grau em favor do doador. 6 o Para a venda de bens móveis avaliados, isolada ou globalmente, em quantia não superior ao limite previsto no art. 23, inciso II, alínea "b" desta Lei, a Administração poderá permitir o leilão. Ademais, é necessário que se perfectibilize com a doação o interesse público, que nada mais é do que a demonstração do interesse social para a coletividade. Portanto, ao prever a doação de um bem público, além de seguir os ditames legais, o gestor público deverá avaliar, com cautela, esta hipótese, uma vez que tem como dever o zelo pelo patrimônio público, devendo sempre observar os princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, além da supremacia do interesse público sobre o privado. No presente caso, caberá a autoridade municipal definir se o objeto da doação se enquadra no conceito de interesse público, sendo que deverá avaliar - 4
5 cuidadosamente o fato de se tratar de rádio comunitária, a qual não costuma ter um raio de alcance que venha a atingir a maioria da população local e, portanto, perfectibilizar o interesse público. Estas são as informações que julgamos oportunas ao questionamento apresentado. Porto Alegre, 06 de agosto de ANA PAULA RODRIGUES ZIULKOSKI Coordenadora da Área Jurídica da FAMURS OAB/RS nº
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