A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO NO CASO DE MORTE

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1 1 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO NO CASO DE MORTE DE DETENTO EM ESTABELECIMENTO PENITENCIÁRIO ALESSON ARANTES SILVEIRA 1 MARIA NILMA RODRIGUES DO NASCIMENTO 2 ORMESINDA CANDEIRA DA SILVA NETA 3 Resumo: O presente trabalho aborda a responsabilidade civil do Estado, nos termos que a Constituição Federal preleciona em seu artigo 37, 6, indicando a Teoria do Risco Administrativo e a responsabilidade de tipo objetiva, não diferenciando entre condutas comissivas ou omissivas. Aborda, ainda, a repercussão geral sedimentada pelo STF para responsabilizar o Estado em caso de morte de detento em estabelecimento penitenciário, por inobservância do dever específico de proteção estatal, conforme artigo 5º, inciso XLIX, da CF/88. Palavras-Chaves: Garantias Constitucionais. Sistema Penitenciário. Responsabilidade Civil. Estado. INTRODUÇÃO A Constituição Federal de 1988 preleciona em seu artigo 37, 6º a responsabilidade civil a qual o Estado se submete, indicando a Teoria do Risco Administrativo. Tal responsabilidade é nada mais que a obrigação, por parte da Administração Pública de suportar, mediante indenização ou outros meios de responsabilidades legais, os danos morais ou mesmo patrimoniais que seus agentes tenham ou venham a causar a terceiros, desde que estejam atuando na qualidade de agentes públicos, ou seja, no exercício de tal condição. Embora não tenhamos expressamente defino no texto constitucional, a responsabilidade civil do Estado é a de tipo objetiva, ou seja, o terceiro, que foi lesado, não precisa comprovar culpa. Tal fato está amplamente pacificado junto à doutrina e a jurisprudência pátria. Isso porque o diploma constitucional exigiu dolo ou culpa para que o agente responda de modo regressivo, caso apurado sua responsabilidade, mas não fez a mesma exigência com relação à obrigação estatal de indenizar, fazendo com que, assim, dolo e culpa seja exigida apenas em caso de ação regressiva ao agente causador. 1 Discente do 6º semestre do Curso de Direito na Faculdade Luciano Feijão (FLF). alesson11@hotmail.com 2 Discente do 6º semestre do Curso de Direito na Faculdade Luciano Feijão (FLF). m.nil.m@hotmail.com 3 Discente do 6º semestre do Curso de Direito na Faculdade Luciano Feijão (FLF). ormesinda@hotmail.com

2 2 Em março de 2016 tal tema ganhou novos debates após julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, do Recurso Extraordinário nº , oriundo do Rio Grande do Sul, onde foi discutida a responsabilidade estatal oriunda de omissão. No citado julgamento o colendo Tribunal fixou tese, em sede de repercussão geral, para que o Estado, em caso de inobservância do seu dever específico de proteção, conforme artigo 5º, inciso XLIX, da CF/88, seja responsabilizado pela morte de detento no interior de unidade prisional. Importante frisar que o STF já entedia o cabimento de responsabilidade civil estatal em casos de omissão, observando que para tal faz-se necessário comprovação de que o nexo de causalidade entre os dados sofridos e as omissões partiu de inobservância do dever especifico de agir. Nessa perspectiva analisaremos a responsabilidade civil do Estado à luz do julgamento do supracitado Recurso Extraordinário, proferido pela Corte Constitucional brasileira, de modo a entender a configuração de tal responsabilidade, relacionando o dever especifico de agir estatal, bem como a chamada omissão especifica. METODOLOGIA A metodologia aplicada ao presente trabalho foi à pesquisa bibliográfica consultada em obras de grandes doutrinadores do direito brasileiro que abordam o tema referido, bem como a legislação pertinente ao assunto. Imprescindível é a consulta ao Recurso Extraordinário nº , oriundo do Rio Grande do Sul, julgado em março de 2016 pelo Supremo Tribunal Federal. Outra fonte indispensável diz respeito à jurisprudência do sistema jurídico que vigora no Brasil. As decisões jurisprudenciais tornam públicas, e de ação, a face prática do assunto que ora se aborda, explicitando como os operadores do direito entendem, decidem e aplicam o que é pertinente ao tema. Falando sobre a pesquisa bibliográfica, o uso da mesma se justifica pela finalidade exploratória quanto aos problemas partindo de pressupostos teóricos. O objetivo então de tal modalidade metodológica é, pois senão, identificar presunções teóricas existentes acerca do que se aborda. A pesquisa bibliográfica "não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre

3 3 certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras" (MARCONI e LAKATOS, 2002, p.71) RESULTADOS E DISCUSSÃO Constitui obrigação do Estado, ao momento em que direito subjetivo do preso, a garantia de uma execução penal humanizada, com preservação de sua integridade física e mental, bem como assegurados seus direitos e garantias fundamentais, conforme artigo 5º, inciso XLIX, da Constituição Federal. Vejamos: Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindose aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; Como já falado a responsabilidade estatal é hoje guiada e regida pela Teoria do Risco Administrativo. Mas e nos casos de omissão estatal, qual é o tipo de responsabilidade presente? Nesse campo é notória a existência de divergência intensa quanto ao aqui levantado. De um lado temos a primeira corrente, ao qual é adotada pela doutrina bem como o Superior Tribunal de Justiça. De outro a segunda corrente, que é a aderida pelos que compõe o Supremo Tribunal Federal. Majoritariamente, até hoje, a doutrina segue a primeira corrente, a qual entende e prega que a responsabilidade estatal em caso de omissão, seria a subjetiva, ou seja, para que o terceiro prejudicado tenha reconhecido seu direito de indenização deverá restar provado o dano, a omissão estatal, o nexo causal bem como a culpa administrativa. Isso porque tal corrente está baseada na teoria da culpa administrativa ou culpa anônima. É nesse sentido também que o Superior Tribunal de Justiça tem seguido, conforme seus julgados mais recentes. Contudo, o Supremo Tribunal Federal, corte constitucional brasileira, vem reiteradamente aplicado o entendimento de culpa objetiva nos casos também relacionados à omissão. Tais decisões se fundamentam no fato de que a Constituição Federal, ao indicar o tipo

4 4 de responsabilidade estatal, não fez qualquer diferenciação entre condutas comissivas e omissivas. Vejamos: (...) A jurisprudência da Corte firmou-se no sentido de que as pessoas jurídicas de direito público respondem objetivamente pelos danos que causarem a terceiros, com fundamento no art. 37, 6º, da Constituição Federal, tanto por atos comissivos quanto por atos omissivos, desde que demonstrado o nexo causal entre o dano e a omissão do Poder Público. (...) STF. 2ª Turma. ARE AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/09/2015. Em março de 2016, julgando o Recurso Extraordinário nº , oriundo do Rio Grande do Sul, o Supremo Tribunal Federal voltou a decidir no mesmo sentido já anteriormente indicado, fixando tese em sede de repercussão geral, para reconhecer a responsabilidade objetiva do Estado, e o direito de indenização a quem o tenha, em caso de morte de detento, no interior de unidade prisional ou outro estabelecimento, sobre guarda do Estado, desde que esteja configurada a inobservância do dever especifico de proteção, conforme artigo 5º, inciso XLIX, da CF/88. Importante salientar a necessidade de que esteja presente a obrigação estatal legal e especifica de agir, bem como configurada o nexo causal entre a omissão e os danos. Como se adota a Teoria do Risco Administrativo, caso de responsabilidade objetiva, o ente estatal poderá provar qualquer uma das causas excludentes de responsabilidade, ressaltando que o ônus da prova é do Estado. CONCLUSÃO O tema em voga nesse escrito encara um dos maiores debates em questão constitucional contemporânea, qual seja: o modo e o tipo de responsabilidade que tem o Estado por meio de seus atos e de suas omissões. No exercício corriqueiro e diário de suas funções e atribuições, o ente estatal, por circunstâncias diversas, pode acabar gerando riscos e, até mesmo, danos a terceiros. É daí que vem a importância do debate e do reconhecimento acerca de sua responsabilização. Imperioso também é destacar a condição especial e superior do mesmo quando comparado aos particulares, fruto das peculiaridades de seus poderes e atribuições.

5 5 Quanto à responsabilização oriunda de condutas omissivas, registradas as posições em contrario, é de suma importância a repercussão geral sedimentada pelo STF. Não cabe a nenhum operador do direito estabelecer diferenças onde à constituição não à fez. Se a Carta Magna estabelece a responsabilidade objetiva estatal, não existem fundamentos que diferencie se tal responsabilização se dá apenas em condutas comissivas, em prejuízo das omissivas. Assim, seguindo a jurisprudência da Corte Constitucional do nosso país, as condutas comissivas ou omissivas estão englobadas no tipo de responsabilização especificada e aplicada ao Estado, qual seja a objetiva, desde que, no caso das omissivas, esteja presente o nexo causal entre o dano e conduta estatal. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de Disponível em: < Acessado em: 03/06/ Lei nº , de 10 de janeiro de Institui o Código Civil. Disponível em: < Acessado em: 03/06/ Supremo Tribunal Federal. Agravo Regimental no Recurso Extraordinário com Agravo nº PR. Segunda Turma. Relator Min. Dias Toffoli. Julgado em 22 de setembro de Disponível em < >. Acessado em: 02/06/ Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº / RS. Plenário. Relator Min. Luiz Fux. Julgado em 30 de março de Disponível em < Acessado em: 03/06/2018. MARCONI, Maria de Andrade e LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. 5. ed. São Paulo: Atlas, MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 31. ed., 2014.