TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de, em que é apelante ADRIANA SANTOS FERREIRA, é apelado BANCO ITAUCARD S/A. ACORDAM, em 22ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores SÉRGIO RUI (Presidente sem voto), CAMPOS MELLO E MATHEUS FONTES., 20 de agosto de HÉLIO NOGUEIRA RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação Cível (com revisão) Digital Processo nº Comarca: 2ª Vara Cível - Foro Regional Vila Prudente - São Paulo Apelante: Adriana Santos Ferreira Apelada: Banco Itaucard S/A Voto nº Apelação Cível. Contrato bancário. Ação de exibição de documentos. Sentença de extinção do processo sem resolução de mérito. Insurgência. Advogado que assinou digitalmente a inicial, mas não fez constar seu nome nesta peça. Mandatário com poderes nos autos para representar a autora. Assinatura cujo certificado digital foi devidamente emitido pela ICP-Brasil. Artigo 1º, 2º, III, letra a, da Lei nº /2006. Sentença anulada. Extinção afastada. Causa madura. Exegese do art. 515, 3º, do CPC. Negativação do nome da autora. Direito dela aos documentos relativos à contratação que gerou o apontamento. Ausência de presunção de que a documentação já foi entregue à cliente. Resistência injusta da requerida à exibição dos documentos. Condenação nas verbas sucumbenciais, por ter dado causa à ação. Princípio da causalidade. Recurso provido. Recurso em sede de Apelação Cível objetivando a reforma da respeitável sentença que, em ação cautelar de exibição de documentos, julgou extinto o processo, sem resolução do mérito, com fulcro no art. 267, inciso IV, do Código de Processo Civil. A requerente foi condenada ao pagamento das custas e honorários advocatícios, estes fixados em R$ 300,00. Opostos embargos de declaração pela Apelação nº Voto nº

3 requerente, foram rejeitados. A autora, não conformada com a decisão, alega que a r. sentença é nula, pois, quando a petição é apresentada por meio eletrônico, exige-se apenas a apresentação de procuração ou substabelecimento outorgado ao titular do certificado digital, sendo irrelevante que este titular seja também o subscritor da peça. No mérito, afirma que a apelada resistiu, tanto no âmbito administrativo quanto no judicial, em fornecer os documentos solicitados, devendo ser o pedido inicial, por isso, julgado procedente, com a determinação da busca e apreensão da documentação. Destaca que, em razão da resistência, a recorrida deve ser condenada a arcar com as verbas sucumbenciais. O recurso foi recebido no duplo efeito. Em contrarrazões, a requerida postula seja negado provimento ao recurso e mantida na íntegra a r. sentença. Recurso recebido e processado. É o relatório. A petição inicial foi assinada digitalmente pelo advogado Claudio dos Santos Padovani, constante da procuração à fl. 6, mas sem nome estampado na petição inicial. Apelação nº Voto nº

4 Diante de tal circunstância, foi extinto o processo sem resolução de mérito, sob o fundamento de que, não havendo identidade entre a assinatura digital constante da inicial enviada eletronicamente e o nome do advogado indicado como autor do documento, considera-se inexistente a inicial (fl. 99). Todavia, respeitado o entendimento do digno Magistrado sentenciante, observa-se que o decreto que pôs fim ao processo foi proferido com excessiva importância à forma, em detrimento da finalidade maior da busca da tutela judicial, que é a pacificação social a ser alcançada pela entrega do direito material, isto é, o bem da vida pretendido por quem apresenta sua pretensão à análise do Poder Judiciário. Com efeito, o ilustre profissional que protocolizou digitalmente a petição inicial o fez por intermédio de certificado digital devidamente emitido pela ICP-Brasil, nos termos do artigo 1º, 2º, III, letra a, da Lei nº /2006. Este mesmo profissional, por sua vez, tem poderes para representar a autora da ação, conforme procuração de fl. 6, não importando, para a validade da petição inicial, que seu nome esteja estampado ou não em referida peça, sendo dispensável, inclusive, emenda para inclusão do nome do mencionado advogado. Sobre o tema, veja-se o mais recente entendimento do Colendo Superior Tribunal de Justiça: Processual civil. Agravo regimental na Apelação nº Voto nº

5 reclamação. Assinatura eletrônica. Advogado sem procuração nos autos. Súmula n. 115/STJ. 1. "A prática eletrônica de ato judicial, na forma da Lei n /2006, reclama que o titular do certificado digital utilizado possua procuração nos autos, sendo irrelevante que na petição esteja ou não grafado o seu nome" (AgRg no REsp n /RS, Relator Ministro Luis Felipe Salomão, Corte Especial, julgado em 19/6/2013, DJe 1/8/2013). 2. Agravo regimental não conhecido. (AgRg na Rcl /SP, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, Segunda Seção, julgado em 25/03/2015, DJe 31/03/2015). Neste mesmo sentido, o entendimento deste Relator contido nos autos da apelação cível nº , cuja Colenda Turma Julgadora, integrada pelos eminentes Desembargadores Campos Mello e Matheus Fontes, decidiu de forma unânime. Dessa forma, não havia fundamento para a extinção da demanda como estabelecido. Mas, estando a causa madura e em condições de ser julgada, não há motivos para regredir em seu andamento à primeira instância, anulando a sentença. Vale ao caso, assim, a recomendação do artigo 515, 3º, do CPC, prosseguindo-se com o julgamento do mérito da ação, o que se faz para julgá-la procedente. O documento à fl. 13 comprova que o nome da autora foi negativado pela ré em virtude do não pagamento do valor de R$ 132,00, vencido em , relativamente ao contrato nº , contratação esta que a Apelação nº Voto nº

6 requerente alega desconhecer. Neste cenário, cabia à instituição bancária exibir os documentos que fundamentaram o apontamento, uma vez que é obrigada a guardar os dados relativos às contas de seus clientes e dos contratos que celebra, devendo disponibilizálos quando solicitados. Assim não procedeu, contudo. É verdade que a ré, com a contestação (fls. 47/49), trouxe alguns documentos, colacionados a fls. 59/82. Tal documentação, no entanto, não se presta à finalidade colimada. Vejamos: a fls. 56/62, trazem faturas de um cartão com funções crédito e débito, supostamente no nome da requerente. Tais faturas estampam vencimentos em, respectivamente, , , e Delas não consta, porém, o número indicado ao cadastro de inadimplentes como aquele identificador do contrato (nº ). Além disso, nenhum destes extratos ostenta cobrança no valor apontado ao SCPC (R$ 132,00). Aqui, neste ponto, chama a atenção, em especial, o fato de a importância objeto do apontamento não coincidir com a cobrança exarada na fatura vencida em (fl. 59), vez que esta é justamente a data indicada ao órgão de proteção ao crédito como o vencimento do débito que gerou a negativação. Já a fls. 63/73, a requerida juntou Apelação nº Voto nº

7 documento intitulado Contrato de cartão de crédito. O instrumento, todavia, não se encontra assinado pela autora e, mais uma vez, não traz o número do contrato. Quanto aos documentos a fls. 72/82, tratam-se, aparentemente, de impressos gerados a partir do sistema informatizado da requerida unilaterais, portanto. Se não bastasse, seu conteúdo é praticamente ininteligível para um leigo, de modo que se torna impossível considerar que sua apresentação substitui a do contrato assinado, tal como pleiteado na inicial. E neste plano até, importante colocar, se é da lógica contratual que, em contrato dessa natureza jurídica, a formulação do modelo sai do interior da contratada, em documento padronizado e não discutido entre as partes, e se é do direito da contratante consumidora receber sua via para efeitos de conhecer o teor de seu empenho financeiro, não há para a fornecedora do serviço o pressuposto de que entregou a via da contratante. Isto tem que estar contido em termo próprio ou do contrato, em declaração assinada pela usuária de havê-la recebido. É caso, pois, de reconhecer a procedência do pedido, condenando a requerida à exibição dos documentos que comprovem a contratação que gerou a negativação ora discutida, sob pena de busca e apreensão. Por força do princípio da causalidade, condena-se a ré, também, ao pagamento das custas, despesas Apelação nº Voto nº

8 e honorários advocatícios, estes fixados em R$ 800,00. Ante o exposto, por meu voto, afastada a extinção da ação, dá-se provimento ao recurso, para os fins acima indicados. Hélio Nogueira Relator Apelação nº Voto nº