O SISTEMA DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ADOTADO PELO BRASIL

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1 O SISTEMA DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ADOTADO PELO BRASIL Nilsen Aparecida Vieira Marcondes 1, Maria Aparecida Campos Diniz de Castro 2, Edna Maria Querido de Oliveira Chamon 2 1 Prefeitura Municipal de São José dos Campos, Rua José de Alencar, 123, Vila Santa Luzia São José dos Campos/SP, nilsenmarcondes@gmail.com 2 Universidade de Taubaté/Programa de Pós-Graduação em Educação e Desenvolvimento Humano, Rua Visconde do Rio Branco, 210- Centro Taubaté/SP, nenacdiniz@gmail.com edna.chamon@gmail.com Resumo O controle de constitucionalidade tem por finalidade assegurar que Leis e Atos Normativos instituidores de direitos e obrigações apresentem-se em consonância com a Constituição Federal. Diante da relevância desse sistema jurídico, este artigo tem como objetivo realizar uma revisão teórica acerca dos conceitos de constitucionalidade e inconstitucionalidade e tipos de inconstitucionalidade. Trata-se de um estudo teórico, básico, qualitativo, exploratório e bibliográfico. Os resultados apontam que ações como a inconstitucionalidade por ação; por omissão; a inconstitucionalidade material; formal; total; parcial; direta; indireta; originária e superveniente se configuram como importantes mecanismos de defesa da Constituição. Conclui-se que a retomada contínua dos estudos sobre as conceituações dos aspectos que compõem o sistema de controle de constitucionalidade adotado pelo Brasil é pertinente na medida em que traz luz e amplia a compreensão da importância de adensar a literatura sobre a questão num Estado Democrático de Direito, como é o caso do Brasil. Palavras-chave: Direito Constitucional, Controle de Constitucionalidade, Brasil, Revisão Teórica. Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas Direito Introdução Partindo-se do âmbito do Direito Constitucional e diante das indagações: Qual a definição constitucionalidade e inconstitucionalidade? Quais os tipos de inconstitucionalidade? intencionou-se corroborar neste artigo que retomar estudos sobre a importância do revisar teórico sobre tais questionamentos deve conservar-se na pauta atual das discussões e reflexões tendo em vista que no caso do Brasil se vive num Estado Democrático de Direito. Diante disso e pretendendo fornecer elementos para ampliar a literatura sobre a questão, objetivase com este artigo realizar uma revisão teórica acerca dos conceitos de constitucionalidade e inconstitucionalidade, defesa da constituição e tipos de inconstitucionalidade. Para respaldar a construção desse artigo e reflexão sobre os conceitos e temas ora apresentados, utilizou-se de uma pesquisa bibliográfica. Metodologia Trata-se de um estudo que se apresenta, quanto à forma de abordagem do assunto, como teórico, básico e qualitativo. Com relação aos objetivos, intitula-se como exploratório e, no que diz respeito aos procedimentos técnicos, caracteriza-se como bibliográfico, porque teve como sustentação o levantamento de literatura pertinente à temática abordada. Resultados Controle de constitucionalidade se trata de uma ferramenta jurídica cuja finalidade é assegurar que Leis e Atos Normativos instituidores de direitos e obrigações apresentem-se em consonância com a Constituição Federal, de modo que as regras e princípios constitucionais sejam apreciados e respeitados em todas as instâncias do ordenamento jurídico. Trata-se, portanto de um mecanismo que 1

2 defende, vigia e protege a primazia da Constituição na ambiência societária (AUAD, 2011; MENDES, 2011). No contexto nacional, o controle de constitucionalidade pode ser verificado de forma prévia à aprovação da Lei ou do Ato Normativo ou de forma postergada à aprovação legislativa. No primeiro caso trata-se de impossibilitar que uma normatização incompatível com a Constituição seja validada e acatada (TAVARES, 2003). No segundo caso, versa-se sobre um controle de constitucionalidade de cunho repressivo porque o escopo nesse caso é vetar e reprovar que Leis ou Atos Normativos oponentes à Constituição Federal causem consequências na ambiência jurídica. Portanto, além dos crivos preventivos, existem também os filtros repressivos no que se refere ao sistema de controle de constitucionalidade (AUAD, 2011; VIEIRA, 2017). É fato que a ciência política e a ciência jurídica encontram-se interligadas e por conta disso é factível também a ocorrência de situações que demandam principalmente o controle repressivo por parte do judiciário. Nesse contexto, o crivo repressivo do controle de constitucionalidade apresenta-se como relevante protetor da hegemonia e soberania da Constituição (AUAD, 2011; MEDEIROS, 2013). Segundo, Passos (2007) o Supremo Tribunal Federal (STF), enquanto Corte constitucional do Brasil, apresenta entre suas atribuições a que se refere à promoção e ao controle de constitucionalidade das Leis e Atos normativos. E, no cumprimento desta precípua tarefa utiliza-se de um mecanismo híbrido, pautado nos modelos anglo-saxão (Estados Unidos) e europeu-continental. E por fim, em se tratando dos instrumentos que o STF dispõe para apreciação e julgamento das controvérsias atinentes à interpretação da Constituição, estão as ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs), as ações declaratórias de constitucionalidade (ADCs) e as arguições de descumprimento de preceito fundamental (ADPFs). A ADI e a ADC foram instituídas pela Lei n 9.868/99 (BRASIL, 1999a) e a ADPF, enquanto instrumento complementar apresenta-se regulamentada na Lei nº 9.882/99 (BRASIL, 1999b). Todas essas ações, destinadas à fiscalização da constitucionalidade dos atos do Poder Público e à tutela dos direitos fundamentais, possuem consequências: (i) ex tunc (efeito anulador da Lei desde a sua criação); (ii) erga omnes (de validade para todos); e (iii) vinculante para a totalidade do Poder Judiciário e órgãos da Administração Pública, direta e indireta, não incluindo, somente, o Poder Legislativo (BRASIL, 1999a,1999b). O controle de constitucionalidade difuso ou concreto, de inspiração norte americana, é realizado pela totalidade dos órgãos do Poder Judiciário. Esse controle difuso, exercido pela via de exceção, pode ser instaurado por qualquer interessado diante de um caso concreto, perante juiz ou Tribunal (REMÉDIO, 2005). Por sua vez, o controle de constitucionalidade concentrado ou abstrato, de inspiração austríaca, exercido pela via de ação, somente pode ser iniciado por alguns órgãos do Poder Judiciário, mais especificamente pelo que ocupa a pirâmide do ordenamento jurídico, qual seja, a Suprema Corte (PASSOS, 2007). Tanto as ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs), quanto as ações declaratórias de constitucionalidade (ADCs), bem como as arguições de descumprimento de preceito fundamental (ADPFs), se configuram como instrumentos presentes na ambiência do controle concentrado ou abstrato de constitucionalidade (REMÉDIO, 2005; VAZ, 2007). Discussão Em se tratando das considerações sobre a definição de Constitucionalidade e Inconstitucionalidade, tem-se que: a promulgação da Constituição democrática de 1988 favoreceu consideravelmente o modelo de controle de Constitucionalidade e de Inconstitucionalidade. Portanto, a Constituição Federal disponibilizou instituiu novos institutos, bem como inovações no que se refere ao controle de constitucionalidade mediante o recurso da Ação Direta (MENDES, 2011). As decisões sobre a Constitucionalidade e a Inconstitucionalidade de uma Lei ou Ato Normativo frente ao conteúdo da Constituição Federal, adquirem notoriedade destacada e especial com a aprovação da Emenda Constitucional nº 3/93, também denominadas respectivamente de Ação Declaratória de Constitucionalidade e Ação Direta de Inconstitucionalidade (BRASIL, 1993). Neste sentido, o texto original da Constituição Federal foi alterado com o acréscimo da alínea a no inciso I do artigo 102 (BRASIL, 1988). Tanto a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) quanto a Inconstitucionalidade, reconhecida como Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) de Lei, Ato Normativo Federal ou 2

3 Estadual e Tratado estão legitimadas na Lei no 9.868, de 11 de novembro de 1999 (BRASIL, 1999). E, ambas as ações são processadas e julgadas pelo Supremo Tribunal Federal, ou seja, pela Corte Suprema (MEDEIROS, 2013). Neste sentido, as decisões tomadas pelo Supremo Tribunal Federal irão se repercutir na totalidade dos órgãos do Poder Judiciário e da Administração Pública seja ela direta ou indireta nas três instâncias decisórias, quais sejam: a federal, estadual e municipal (BRASIL, 1988; VIEIRA, 2017). A Ação Direta de Inconstitucionalidade se configura como uma intervenção específica do controle abstrato brasileiro (MEDEIROS, 2013). No artigo 102 da Constituição Federal de 1988 lê-se que é de responsabilidade do Supremo Tribunal Federal: [...] precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal (BRASIL, 1988, n.p.). O escopo da ADI é voltar suas ações procedimentais à análise, bem como à tomada de providências referente uma possível inconstitucionalidade de Lei ou de Ato Normativo Federal ou Estadual. Esse objeto da ADI desdobra-se em duas variáveis diversas: a Lei enquanto gênero, por consequência de seu status superior no ordenamento jurídico, e, por sua vez, os Atos Normativos Federais ou Estaduais, como realidades assemelhadas à Lei, tendo em vista sua propensão inovadora no interior da ordem jurídica (MENDES, 2011; MEDEIROS, 2013). De maneira distinta ao que se verifica com uma Lei formal, para que os Atos Normativos Federais ou Estaduais possam se constituir como objeto de fiscalização, por meio da instauração de uma ADI, são necessários alguns requisitos jurídicos que os distinguem de outros atos normativos não alcançados por esta forma de fiscalização, quais sejam a generalidade e a abstração, características inerentes à concepção de Lei (TAVARES, 2003). De acordo com a Suprema Corte, apenas os Atos Normativos compreendidos como materiais, ou seja, aqueles que agregam em sua essência uma ínfima parcela de abstração e generalidade, são passíveis de controle abstrato (TAVARES, 2003). O processo de controle abstrato de constitucionalidade tem o poder de retirar do mundo jurídico a norma contestada, e a legitimidade para promover a ação é reservada a um número restrito de entidades ou autoridades. (VAZ, 2007, p. 103). Por outro lado, os Atos Normativos caracterizados como formais quais sejam, os que apresentam objeto e destinatário específicos, independentemente da origem de sua instância de competência, somente poderão passar pelo crivo do reconhecimento de uma possível inconstitucionalidade revestida pelo aspecto concreto, ou seja, difuso (TAVARES, 2003). Portanto, o controle de constitucionalidade judicial do tipo concreto se aplica aos Atos Normativos considerados em sentido formal (AUAD, 2011; MENDES, 2011; MEDEIROS, 2013). Partindo do pressuposto de que se exige a generalidade e a abstração de uma norma para que ela possa ser apreciada pela Corte Suprema, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem elidido do controle de constitucionalidade todo e qualquer ato administrativo que possuam objeto e destinatário específicos, não obstante ter sido elaborado sob o aspecto de Lei formal (MENDES, 2011). O objeto da ADI consiste na Lei ou no Ato Normativo Federal ou Estadual contestado, contanto que tenham sido editados após à promulgação da Constituição Federal. Ressalta-se: Federal ou Estadual. Assim sendo, questões municipais como, por exemplo, Leis Orgânicas e demais Leis e/ou Atos Normativos Municipais não podem ser questionados em contexto de ADI, diante do STF. Normatizações e outras realidades de cunho municipal apenas poderão ser declaradas inconstitucionais pelo STF na esfera do controle difuso, a partir do momento em que uma contestação concreta chega ao Tribunal através de Recurso Extraordinário, ou, excepcionalmente, através de ADPF, ou seja, Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (MEDEIROS, 2013). O número daqueles que podem propor a Ação Declaratória de Constitucionalidade e/ou a Ação Direta de Inconstitucionalidade foi ampliado pela Constituição Federal. Antes, somente o Procurador- Geral da República tinha essa incumbência (MEDEIROS, 2013; VIEIRA, 2017), atualmente os legitimados são representados pelos: I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional conforme prevê o artigo 103 (BRASIL, 1988). Diversas são as ações que potencialmente podem questionar indiretamente a constitucionalidade das Leis (MENDES, 2011), como por exemplo: o habeas corpus, o Mandado de Segurança (coletivo), 3

4 a Ação Popular, o Mandado de Injunção (coletivo), o habeas data e a Ação Civil Pública (BRASIL, 1988). Com a Emenda Constitucional nº 45/2004, o modelo brasileiro de constatação da Constitucionalidade ou da Inconstitucionalidade favoreceu a possibilidade de harmonização entre o controle difuso e o controle concentrado (AUAD, 2011; MENDES, 2011; VIEIRA, 2017). Diante disso, a análise e averiguação da compatibilidade ou da incompatibilidade de uma Lei ou Ato Normativo frente ao que está previsto na Constituição Federal, passou a ser considerada por uma investigação de cunho híbrido (BRASIL, 2004). O controle difuso é também reconhecido como controle concreto por via de exceção ou incidental (TAVARES, 2003). O controle incidental ou difuso pode incidir sobre os exames de matérias controvérsias atinentes ao direito tributário, eleitoral, penal, cível, previdenciário, administrativo, trabalhista e não induz ao reconhecimento da admissão da tese da declaração de inconstitucionalidade, por exemplo, à totalidade dos órgãos do Poder Judiciário e da Administração Pública (MEDEIROS, 2013). Quanto ao controle concentrado, abstrato este possui força vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública, de forma que o reconhecimento da inconstitucionalidade define a eficácia de sua decisão na totalidade do ordenamento jurídico e público (MENDES, 2011; VIEIRA, 2017). A Carta Magna de 1988 evidencia a relevância do controle concentrado, abstrato assim como o faz com o controle difuso, concreto o qual igualmente se encontra consolidado na jurisdição delegada ao Supremo Tribunal Federal para pronunciamentos atinentes às Ações Diretas de Inconstitucionalidade no sentido de proceder à contestação de leis ou atos normativos federais ou estaduais que potencialmente poderão a vir ou que concretamente já se apresentaram como ofensivos à Constituição Federal (AUAD, 2011; MENDES, 2011; MEDEIROS, 2013; VIEIRA, 2017). Outro mecanismo de controle abstrato da constitucionalidade, positivado na Carta Magna de 1988, é a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), também reconhecida como Ação (REMÉDIO, 2005). A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), enquanto instrumental característico do modelo concentrado de controle de constitucionalidade, tanto pode motivar a impugnação ou o questionamento direto da Lei ou do Ato Normativo Federal, Estadual ou Municipal, como pode ocasionar um estímulo a partir de situações concretas, que levem à contestação de Lei ou Ato Normativo. Essa ação somente será aceita mediante inexistência de outra estratégia capaz de reparar o malefício (MENDES, 2011). Nos casos em que é factível a possibilidade de promover a ADI ou a ADC, não será admissível a Arguição de Descumprimento. Em sentido oposto, não se adotando o emprego de ADIs ou de ADCs ou seja, uma vez averiguando a inexistência de medidas adequadas para resolução da controvérsia constitucional relevante de maneira ampla, geral e imediata há de se fazer uso da ADPF (MENDES, 2011). Portanto, a ADPF foi instaurada para completar o sistema de controle de constitucionalidade concentrado no Brasil (MEDEIROS, 2013). Admite-se a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental para reprimir ou recompor agravo a preceito fundamental, consequência de ato do Poder Público. Concebe-se também a ADPF nas situações em que o fundamento da controvérsia constitucional a respeito de Lei ou Ato Normativo Federal, Estadual ou Municipal, for deveras relevante, inclusive quando anteriores à Constituição, como por exemplo, Leis Pré-constitucionais (MENDES, 2011). Esta ação, prevista no artigo 102, parágrafo 1º da Constituição de 1988 (BRASIL, 1988), foi regulamentada pela Lei no 9.882, de 3 de dezembro de 1999 (BRASIL, 1999b). A ADPF veio ocupar um vácuo até então não contemplado pelas ADIs. Os exemplos mais relevantes são a viabilidade de impugnação de Atos Normativos Municipais em face da Constituição Federal e a efetivação da ação nas situações passíveis de geração de conflitos abarcados por direito préconstitucional. Igualmente através dessa Ação Direta, pode ser contestado qualquer ato do Poder Público que potencialmente pode ocasionar lesão ou ameaça de lesão a preceito fundamental decorrente da Constituição Federal (REMÉDIO, 2005). Esse novo instituto se apresentou como uma relevante e notória alteração no sistema de controle de constitucionalidade do Brasil. E isso porque antes da instituição da ADPF, o Direito Municipal e o Direito Pré-constitucional não podiam ter a sua validade em abstrato impugnada pelo STF, em razão das ADIs e ADCs somente assumir como objeto de indagação as Leis e os Atos Normativos praticados na vigência da Constituição Federal de 1988 (MEDEIROS, 2013). 4

5 Questão de outra ordem, igualmente relevante para o debate em tela neste artigo se refere as considerações sobre os tipos de inconstitucionalidade. E, um primeiro tipo de inconstitucionalidade se caracteriza pela inconstitucionalidade por ação. Neste caso, mediante atuação positiva do Poder Público, tem-se a elaboração de uma Lei ou Resolução, por exemplo, que ofendam a ordenação constitucional (MENDES, 2011; VIEIRA, 2017). Um segundo tipo de inconstitucionalidade se define pela inconstitucionalidade por omissão. Neste contexto, a inconstitucionalidade é consequência de uma abstenção ocorrida também por parte do Poder Púbico, quando no momento em que deveria tomar uma atitude, se omite (MENDES, 2011; VIEIRA, 2017). O terceiro tipo de inconstitucionalidade diz respeito à inconstitucionalidade material. Neste enquadramento cita-se a violação ao conteúdo da Constituição propriamente dito. Uma norma brasileira que, a título de exemplo, defende-se a pena de morte para toda e qualquer pessoa que cometesse um homicídio seria materialmente inconstitucional por ofender o conteúdo de um dos direitos fundamentais da Constituição, qual seja o direito à vida. Tal inconstitucionalidade prosseguiria, não obstante a norma seguisse todas as demais etapas formais do processo legislativo (VIEIRA, 2017). Um quarto tipo de inconstitucionalidade está afeto à inconstitucionalidade formal. Nesta situação tem-se um flagrante desrespeito a uma ou mais cláusulas procedimentais da elaboração normativa (VIEIRA, 2017). O quinto tipo de inconstitucionalidade se refere à inconstitucionalidade total. Como o próprio nome elucida, neste caso a norma na íntegra é considerada inconstitucional (MEDEIROS, 2013). Outro tipo de inconstitucionalidade é a inconstitucionalidade parcial. Essa ocorre quando uma parcela, ou seja, um trecho, um artigo, uma sentença ou vocábulo enfim mal colocados enodando a norma (MEDEIROS, 2013). Existe também a inconstitucionalidade direta. Essa se caracteriza por atingir diretamente as normas primárias. E ainda, fala-se igualmente na inconstitucionalidade indireta também reconhecida como reflexa. Neste cenário tem-se, por exemplo, um decreto do Poder Executivo que demasiadamente ultrapasse as fronteiras legais tornando-se indiretamente inconstitucional (MEDEIROS, 2013). Um nono tipo de inconstitucionalidade é atinente à inconstitucionalidade originária. Neste âmbito as considerações são realizadas pautadas em duas normas: uma de cunho constitucional, denominada de parâmetro, e outra, reconhecida como infraconstitucional é nominada de objeto. Assim sendo, busca-se refletir sobre a constitucionalidade da norma denominada objeto em conformidade com a norma hodierna chamada parâmetro. Diante disso, infere-se que a inconstitucionalidade originária advém de o fato da norma nascer inconstitucional em relação ao parâmetro vigorante (VIEIRA, 2017). Outro tipo de inconstitucionalidade é definido como inconstitucionalidade superveniente. Esse tipo se apresenta quando uma nova ordem constitucional emerge, fazendo com que a norma infraconstitucional pretérita se torne inconstitucional (VIEIRA, 2017). Por fim, tem-se a inconstitucionalidade preventiva sendo o poder Executivo ou Legislativo responsável por tal ação. A operacionalização por parte do Executivo ocorre por meio da instituição do veto e por parte do poder Legislativo ocorre por meio da instauração das Comissões de Constituição e Justiça (CCJ) no interior das quais se faz o controle constitucional preventivo (VIEIRA, 2017). Conclusão Conclui-se que a retomada contínua dos estudos sobre as conceituações dos aspectos que compõem o sistema de controle de constitucionalidade adotado pelo Brasil é pertinente na medida em que traz luz e amplia a compreensão da importância de adensar a literatura sobre a questão num Estado Democrático de Direito, como é o caso do Brasil. Como se pode verificar, por controle de constitucionalidade entende-se o instrumental jurídico cujo escopo é possibilitar que Leis e Atos Normativos instituidores de direitos e obrigações apresentem-se em consonância com a Constituição Federal, ou seja, com as regras e princípios constitucionais, podendo ser realizado de forma preventiva ou repressiva. Diante disso, ações como a inconstitucionalidade por ação; por omissão; a inconstitucionalidade material; formal; total; parcial; direta; indireta; originária e superveniente se configuram como importantes mecanismos de defesa da Constituição. E a defesa da Constituição se faz necessária tendo em vista que nela estão assentes as normas e princípios que regem a vida em sociedade pautada na diginidade da pessoa humana. 5

6 Por tudo isso, entende-se o quanto o controle judicial de constitucionalidade das Leis e/ou Atos Normativos se constitui como relevante procedimento no âmbito do direito constitucional e da ciência política hodierna Referências: AUAD, D. O controle de constitucionalidade difuso caminha para a extinção? Jornal Carta Forense, São Paulo/SP, v. -, n. -, p. -, 02 dez Disponível em: < Acesso em: 16 jul BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Emenda Constituição nº 03, de 17 de março de Dispõe sobre a alteração dos artigos 40, 42, 102, 103, 155, 156, 160, 167 da Constituição Federal. Brasília, DF, BRASIL. Câmara dos Deputados. Centro de Documentação e Informação. Lei nº 9.868, de 11 de novembro de Dispõe sobre o processo e julgamento da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal. Brasília, DF, 1999a. BRASIL. Câmara dos Deputados. Centro de Documentação e Informação. Lei nº 9.882, de 03 de dezembro de Dispõe sobre o processo e julgamento da arguição de descumprimento de preceito fundamental, nos termos do 1º do artigo 102 da Constituição Federal. Brasília, DF, 1999b. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Emenda Constituição nº 04, de 30 de dezembro de Dispõe sobre a alteração dos dispositivos dos artigos 5º, 36, 52, 92, 93, 95, 98, 99, 102, 103, 104, 105, 107, 109, 111, 112, 114, 115, 125, 126, 127, 128, 129, 134 e 168 da Constituição Federal, e acrescenta os artigos 103-A, 103B, 111-A e 130-A, e dá outras providências. Brasília, DF, MENDES, G. F. O Controle da constitucionalidade no Brasil Disponível em:< Acesso em: 16 jul MEDEIROS, O. D. de. O controle de constitucionalidade na Constituição brasileira de 1988: Do modelo híbrido à tentativa de alteração para um sistema misto complexo. Revista de Informação Legislativa, Brasília/DF, v. 50, n. 200, p , out./dez PASSOS, A. S. dos. A modulação de efeitos nas decisões de inconstitucionalidade: A produção de efeitos jurídicos de normas inconstitucionais e o sistema de controle de constitucionalidade brasileiro. Revista Âmbito Jurídico, Rio Grande/RS, v. 13, n. 74, p. 1-27, mar REMÉDIO, J. A. Os efeitos da Decisão Judicial no Controle Concentrado de Constitucionalidade das Normas. Cadernos de Direito, Piracicaba, v. 5, n. 8-9, p , jan./dez TAVARES, A. R. Controle Difuso de Constitucionalidade nas Ações Coletivas. Revista Brasileira de Direito Constitucional, São Paulo/SP: Escola Superior de Direito Constitucional, v. 1, n.1, p , jan./jun VAZ, G. A Declaração de inconstitucionalidade e seus efeitos para os atos administrativos. Revista de Informação Legislativa, Brasília/DF, v. 44, n. 173, p , jan./mar VIEIRA, L. P. Controle de constitucionalidade. Roteiro de Aula Disponível em:< Acesso em: 16 jul