Aula 99 BENS PÚBLICOS: DESESTATIZAÇÃO. O art. 6.º, da Lei 9.491, dispõe sobre a forma para fazer a desestatização.

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1 Página1 Curso/Disciplina: Direito Administrativo Aula: Bens públicos: desestatização 99 Professor (a): Luiz O. Jungstedt Monitor (a): Luis Renato Ribeiro Pereira de Almeida Aula 99 BENS PÚBLICOS: DESESTATIZAÇÃO O art. 6.º, da Lei 9.491, dispõe sobre a forma para fazer a desestatização. Art. 6º Compete ao Conselho Nacional de Desestatização: I - recomendar, para aprovação do Presidente da República, meios de pagamento e inclusão ou exclusão de empresas, inclusive instituições financeiras, serviços públicos e participações minoritárias, bem como a inclusão de bens móveis e imóveis da União no Programa Nacional de Desestatização. O Conselho Nacional de Desestatização (CND) é um órgão político, cuja composição tem previsão no art. 5.º. O Conselho propõe a desestatização ao Presidente, que através de Decreto presidencial inclui o bem no programa de desestatização, permitindo a alienação de bem público sem autorização legislativa, feita através de leilão, nos termos do art. 4.º, 3.º c/c VII, da Lei 9.491, de forma contrária ao que dispõe o art. 17, I, da Lei 8.666/93. Lei Art. 4.º. As desestatizações serão executadas mediante as seguintes modalidades operacionais: VII - aforamento, remição de foro, permuta, cessão, concessão de direito real de uso resolúvel e alienação mediante venda de bens imóveis de domínio da União. 3.º. Nas desestatizações executadas mediante as modalidades operacionais previstas nos incisos I, IV, V, VI e VII deste artigo, a licitação poderá ser realizada na modalidade de leilão. Lei Art. 17. A alienação de bens da Administração Pública, subordinada à existência de interesse público devidamente justificado, será precedida de avaliação e obedecerá às seguintes normas: I - quando imóveis, dependerá de autorização legislativa para órgãos da administração direta e entidades autárquicas e fundacionais, e, para todos, inclusive as entidades paraestatais, dependerá de avaliação prévia e de licitação na modalidade de concorrência, dispensada esta nos seguintes casos: O art. 49, XVII, da CRFB/88, prevê a necessidade de autorização legislativa para alienação de terra públicas superiores a hectares. Neste caso é necessária a lei autorizativa, como dispõe a Lei Para as áreas inferiores a hectares são possíveis os três caminhos para alienar bem público. Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: XVII - aprovar, previamente, a alienação ou concessão de terras públicas com área superior a dois mil e quinhentos hectares.

2 Página2 O art. 71, da Lei /17 (antigo art. 58, da MP 759), afasta a aplicação do art. 17, I, da Lei 8.666/93. Art. 71. Para fins da Reurb, ficam dispensadas a desafetação e as exigências previstas no inciso I do caput do art. 17 da Lei no 8.666, de 21 de junho de Assim, para fins de regularização fundiária urbana (Reurb, que se subdivide em Reurb-S e Reurb-E, nos termos do art. 13, I e II) ficam dispensadas a desafetação e as exigências do art. 17, I, da Lei 8.666, entre as quais a autorização legislativa. O art. 17, I, in fine, traz a licitação dispensada, que não se confunde com licitação dispensável ou dispensa de licitação (art. 24, I ao XXIV). A licitação dispensada guarda relação com a alienação de bem público (móvel e imóvel). As quatro últimas alíneas do art 17, I (f a i) tratam de regularização fundiária. O próprio art. 17 já abre mão da licitação nessas hipóteses. Isso porque o ocupante tem preferência na aquisição do bem. A novidade no caso da Reurb foi a dispensa da autorização legislativa e da desafetação. Art. 17. A alienação de bens da Administração Pública, subordinada à existência de interesse público devidamente justificado, será precedida de avaliação e obedecerá às seguintes normas: I - quando imóveis, dependerá de autorização legislativa para órgãos da administração direta e entidades autárquicas e fundacionais, e, para todos, inclusive as entidades paraestatais, dependerá de avaliação prévia e de licitação na modalidade de concorrência, dispensada esta nos seguintes casos: f) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso, locação ou permissão de uso de bens imóveis residenciais construídos, destinados ou efetivamente utilizados no

3 Página3 âmbito de programas habitacionais ou de regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por órgãos ou entidades da administração pública; g) procedimentos de legitimação de posse de que trata o art. 29 da Lei no 6.383, de 7 de dezembro de 1976, mediante iniciativa e deliberação dos órgãos da Administração Pública em cuja competência legal inclua-se tal atribuição; h) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso, locação ou permissão de uso de bens imóveis de uso comercial de âmbito local com área de até 250 m² (duzentos e cinqüenta metros quadrados) e inseridos no âmbito de programas de regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por órgãos ou entidades da administração pública; i) alienação e concessão de direito real de uso, gratuita ou onerosa, de terras públicas rurais da União e do Incra, onde incidam ocupações até o limite de que trata o 1o do art. 6o da Lei no , de 25 de junho de 2009, para fins de regularização fundiária, atendidos os requisitos legais. A alínea g refere-se à legitimação de posse. A Lei 601, de 1850, primeira lei que procurou regularizar a ocupação de terra dos Brasil, utilizou a legitimação de posse como um instrumento para tanto. Atualmente, a regularização é trabalhada na Lei 6.383/76. Há 4 casos em que se identifica a licitação dispensada: a) Investidura (art. 17, I, d, Lei 8.666/93): A investidura é conceituada no art. 17, 3.º, I. Só o proprietário do imóvel lindeiro (vizinho) tem condições de aproveitar a área. Logo, não há que se falar em licitação. Art º. Entende-se por investidura, para os fins desta lei: I - a alienação aos proprietários de imóveis lindeiros de área remanescente ou resultante de obra pública, área esta que se tornar inaproveitável isoladamente, por preço nunca inferior ao da avaliação e desde que esse não ultrapasse a 50% (cinqüenta por cento) do valor constante da alínea "a" do inciso II do art. 23 desta lei. A investidura somente pode ser usada para incorporar bem público ao imóvel vizinho se o valor não ultrapassar 40 mil reais. A ideia da investidura é o contrário do recuo estudado no Direito Urbanístico (ou desapropriação parcial, no Direito Administrativo). Exemplo: o Poder Público deseja duplicar uma avenida, e para isso invade a propriedade do particular, incorporando parte dela ao patrimônio público, e mudando o alinhamento da rua. Neste caso, ocorre o chamado recuo, proveniente da mudança do alinhamento, que nada mais é do que uma desapropriação parcial logo, indenizável.

4 Página4 Na investidura, terminada uma obra pública, a pequena área remanescente (no valor máximo de 40 mil reais) não tem como ser aproveitada isoladamente, somente se incorporada ao imóvel lindeiro. Somente este imóvel tem condições de adquirir e dar destinação a área, e por isso se fala em licitação dispensada. b) Incorporação: A incorporação guarda relação com a formação da Administração Indireta. Ao criar uma entidade autárquica, empresa estatal ou fundação, além dos recursos financeiros (dinheiro), o Governo também se vale de bens imóveis para formar o capital/patrimônio da entidade, especialmente para que a entidade venha a nascer com uma sede. O prédio em que antes funcionava um órgão da Administração direta continua sendo bem público. Porém, em vez de ser de domínio da União, Estado ou Município, passa a ser de domínio da pessoa jurídica criada. Portanto, o bem sai do Governo Federal, por exemplo, e passa a uma entidade autárquica. Como o bem continua na Administração Pública (ainda que Administração indireta), não há que se falar em licitação. Embora seja uma alienação, o bem não foi alienado para terceiros, mas para outra estrutura governamental. Pelo fato de o bem permanecer na Administração Pública, fala-se em licitação dispensada. c) Retrocessão: A retrocessão é a devolução do bem expropriado ao antigo proprietário. Trata-se de uma alienação de bem público, pois o Poder Público aliena o bem do particular e incorpora ao patrimônio público. Neste contexto, na hipótese em que o Poder Público deseja alienar o bem, deve dar preferência ao anterior ocupante. O art. 519 do CC/02 trabalha a retrocessão. Art Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriado direito de preferência, pelo preço atual da coisa. Logo, se a alienação ocorre via retrocessão, trata-se de uma exceção a licitação, pois o antigo proprietário terá no mínimo a preferência, e em alguns casos terá inclusive o direito a aquisição. d) Regularização fundiária: A legitimação de posse é forma de regularização fundiária que sempre existiu; está prevista na Lei 6.383/76 (art. 29) e refere-se apenas ao imóvel público rural.

5 Página5 Art. 29. O ocupante de terras públicas, que as tenha tornado produtivas com o seu trabalho e o de sua família, fará jus à legitimação da posse de área contínua até 100 (cem) hectares, desde que preencha os seguintes requisitos: (...) 1.º. A legitimação da posse de que trata o presente artigo consistirá no fornecimento de uma Licença de Ocupação, pelo prazo mínimo de mais 4 (quatro) anos, findo o qual o ocupante terá a preferência para aquisição do lote, pelo valor histórico da terra nua, satisfeitos os requisitos de morada permanente e cultura efetiva e comprovada a sua capacidade para desenvolver a área ocupada. Legitimação de posse não se confunde com usucapião de bem público. Na legitimação de posse não há o direito de o ocupante adquirir o imóvel; não gera a perda forçada da propriedade, o ocupante tem direito apenas a receber uma licença de ocupação por no mínimo mais 4 anos. Trata-se de um ato administrativo vinculado, que renderá ao ocupante licença de ocupação se cumpridos os requisitos do art. 29. Terminada a licença de ocupação, o Governo pode recuperar a área, pois a legitimação de posse não dá ao ocupante o direito de adquirir o imóvel. Porém, nada impede que o Governo resolva regularizar a ocupação, dando ao ocupante a titulação do imóvel. O ocupante terá a preferência (não o direito) de aquisição da área pelo valor da terra nua (preço público subsidiado). Se o ocupante tivesse direito de adquirir o imóvel, estarse-ia diante de uma usucapião. A alienação é uma faculdade do Governo. Logo, trata-se de um ato administrativo discricionário. O Governo vende por um valor abaixo do preço de mercado e oferece uma linha de crédito para o ocupante adquirir. Portanto, a legitimação de posse tem dois momentos: Vinculado: em que o Governo é obrigado a dar a licença de ocupação por no mínimo mais 4 anos, cumpridos os requisitos do art. 29 pelo ocupante, que tem direito à licença de ocupação. Discricionário: a transferência do domínio (alienação) não é um direito do ocupante, que terá apenas a preferência caso o Governo queira vender (mas o Governo não é obrigado a vender). Nesse contexto, identifica-se a licitação dispensada.

6 Página6 O Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), da Lei /09, alterada pela Lei /17 (arts. 25/27), traz uma nova regularização fundiária urbana. A lei criou uma legitimação de posse de imóvel privado. Passados 5 anos sem resistência, a legitimação de posse de imóvel privado se torna usucapião. Art. 25. A legitimação de posse, instrumento de uso exclusivo para fins de regularização fundiária, constitui ato do poder público destinado a conferir título, por meio do qual fica reconhecida a posse de imóvel objeto da Reurb, com a identificação de seus ocupantes, do tempo da ocupação e da natureza da posse, o qual é conversível em direito real de propriedade, na forma desta Lei. Art. 26. Sem prejuízo dos direitos decorrentes do exercício da posse mansa e pacífica no tempo, aquele em cujo favor for expedido título de legitimação de posse, decorrido o prazo de cinco anos de seu registro, terá a conversão automática dele em título de propriedade, desde que atendidos os termos e as condições do art. 183 da Constituição Federal, independentemente de prévia provocação ou prática de ato registral. Contudo, de acordo com o art. 25, 2.º, da Lei /17, a legitimação de posse não se aplica a imóveis urbanos. Portanto, só há legitimação de posse na área urbana em imóvel privado, e depois de 5 anos fica convertida em usucapião. A legitimação de posse em bem público continua a existir apenas na área rural (Lei 6.383/76, art. 29). Lei /17. Art º. A legitimação de posse não se aplica aos imóveis urbanos situados em área de titularidade do poder público. Lei 6.383/76. Art. 29. O ocupante de terras públicas, que as tenha tornado produtivas com o seu trabalho e o de sua família, fará jus à legitimação da posse de área contínua até 100 (cem) hectares, desde que preencha os seguintes requisitos: Não há que se falar em inconstitucionalidade da previsão legal, pois a transformação em usucapião somente ocorre em área privada. O imóvel público urbano não é atingido. Não existe legitimação de bem público urbano, apenas na área rural.

7 Página7 Deve-se atentar para que o fato de que o princípio da despublicização, que vigora no Direito Agrário, não está em contradição com o princípio da inalienabilidade do bem público.