Centro agroecológico de pesquisa e extensão. Agro-ecological center for research and extension

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1 Centro agroecológico de pesquisa e extensão Agro-ecological center for research and extension Recibido: diciembre/2015 Publicado: abril/2016 Hebert Teixeira Cândido hebert.candido@gmail.com Discente de Engenharia Agrícola e Ambiental na Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil; José Adolfo Iriam Sturza jasturzaroo@gmail.com Docente de Geografia na Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil João Paulo Araújo Rodrigues joaopauloeaa@gmail.com Discente de Engenharia Agrícola e Ambiental na Universidade federal de Mato Grosso, Brasil Resumo Neste trabalho serão relatadas as experiências desenvolvidas pelo Centro Agroecológico de Pesquisa e Extensão (CENAPE) que está sendo implantado na Universidade Federal de Mato Grosso. Nesse pouco tempo de trabalho, foram realizadas palestras, doação de mudas, corte de hortaliças para doação, pesquisas e a criação de um banco de espécies de hortaliças não-convencionais. Para facilitar a compreensão do trabalho, os termos utilizados no mesmo foram previamente explicados de forma clara e resumidos. Também se discutiu a importância das atividades desenvolvidas pelo Centro, contextualizando-as com a soberania alimentar e a importância de se realizar pesquisas voltadas para a agricultura familiar. revistacongreso@mes.gob.cu 1

2 Palavras-chave: Agricultura Familiar; Etnobotânica; Hortaliças não-convencionais; Soberania Alimentar. Summary This work will share the experiments developed by Agro-Ecological Center for Research and Extension (CENAPE) wich is being deployed at the Federal University of Mato Grosso. In this short time of working, lectures were held, donation of seedlings, cutting vegetables for donation, research and creation of a bank of species of non-conventional vegetables. To facilitate the understanding of the work, the terms used were previously explained clearly and briefly. Also discussed the importance of the activities developed by the Centre, contextualizing them with food sovereignty and the importance of conducting research aimed at family farming. Keywords: Ethnobotany, family farming, food sovereignty, non-conventional vegetables. INTRODUÇÃO Iniciou-se no dia 23 de junho de 2015 na Universidade Federal de Mato grosso, a implantação de um Centro Agroecológico, o CENAPE. O centro nasceu com a missão de "Ajudar a melhorar a vida de pessoas mais sensíveis economicamente através da atividade de extensão e produzir para a distribuição gratuita, mudas e pesquisas de hortaliças não convencionais e plantas de interesse agroecológico" Cândido e Rodrigues (2015, p. 5441). Nesse contexto, outros assuntos como Etnoconhecimento e Soberania Alimentar que estão diretamente ligados a Agricultura Familiar, acabaram ganhando forças e hoje fazem parte de nossos estudos. O CENAPE está ligado ao Grupo de Estudos da Paisagem e Agricultura Familiar (GEPAF) da Universidade Federal de Mato Grosso- Campus Universitário de Rondonópolis. DESENVOLVIMENTO Como o trabalho demonstra as experiências vividas, os temas envolvidos foram explicados previamente para facilitar a leitura e ajudar a compreender a importância do mesmo. revistacongreso@mes.gob.cu 2

3 As definições dos temas envolvidos Agroecologia: "trata-se de uma nova abordagem que integra os princípios agronômicos, ecológicos e socioeconômicos à compressão e avaliação do efeito das tecnologias sobre os sistemas agrícolas e a sociedade [...] utiliza os agrossistemas como unidade de estudo, ultrapassando a visão unidimensional" (Altieri, 2004, p. 23). Etnobotânica: é um estudo multidisciplinar que relaciona o conhecimento das plantar por uma comunidade, esse saber é transmitido de geração em geração, por conseguinte, fazendo parte da cultura relacionando-se com a história de vida (Pasa, 2007). Grupo de Estudos da Paisagem e Agricultura Familiar (GEPAF): se caracteriza por ser um grupo que através de pesquisas busca auxiliar no desenvolvimento rural. Possui duas linhas: investigações da pequena agricultura e percepção ambiental quanto aos recursos socioambientais, paisagísticos naturais e culturais. Hortaliças não-convencionais: são plantas com distribuição limitada a certas regiões, que possuem grande influência sobre a culinária e cultura de populações tradicionais. Além disso, muito utilizadas no passado, hoje são plantas fora da cadeia produtiva (sementes, fertilizantes ou agroquímicos), cultivadas predominantemente nos quintas de pequenos agricultores para o consumo da família (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento [MAPA], 2010). Plantas alimentícias Não convencionais (PANC): segundo Kinupp e Lorenzi (2014), o termo PANC surgiu e foi divulgado em 2008, através de um documentário. Refere-se a um grupo de plantas que podem ser utilizadas direta ou indiretamente na alimentação humana: diretamente (raiz, rizoma, tubérculos, bulbos, talos, folhas, etc.) e indiretamente (corantes alimentícios, amaciantes de carnes, bebidas, substitutas ao sal, etc.). Vale ressaltar que uma planta não convencional em uma determinada região, pode ser muito conhecida em outra, dessa maneira, uma interessante definição é demonstrada por Kinupp e Lorenzi (2014, p. 16) da seguinte maneira "todos os alimentos que demandam grandes explicações do que é, seus nomes, formas de consumo e preparo e ainda ter de mostrar fotos para as pessoas [...] com certeza é uma PANC". revistacongreso@mes.gob.cu 3

4 Soberania Alimentar: definida como "o direito de cada nação e de seus habitantes a controlar e desenvolver sua própria capacidade de produzir alimentação básica para seus povos, respeitando a diversidade produtiva e cultural" (Reider, 2006, p. 77). As atividades desenvolvidas pelo CENAPE Os pilares do centro são: agroecologia, pesquisa e extensão. Sendo assim, as atividades desenvolvidas nesse início de trabalho, variaram desde a manutenção dos cultivos implantados na área do centro, até palestras e oficinas (Fig. 01) em escolas ou outras instituições. A seguir, explica-se resumidamente o que já foi desenvolvido. Agroecologia: utiliza-se no Centro, restos de matéria orgânica da universidade: podas e folhas (Fig. 02) recolhidas pelo pessoal da limpeza. Esse material é utilizado como proteção do solo nos canteiros. Sendo assim, cria-se uma serapilheira artificial, que segundo Lepsch (2010) simula o horizonte O (orgânico) presente em florestas ou solos não revolvidos pela agricultura. Essa matéria orgânica quando decomposta libera nutrientes para o solo, e os ácidos oriundos dessa decomposição servem como agentes cimentantes, contribuindo com a formação de aglomerados, por conseguinte, melhorando a estrutura do solo. Busca-se no Centro, utilizar controle alternativo de pragas e doenças através de defensivos orgânicos e interação de espécies (inclusive as espontâneas). Relata-se em um "diário de campo" todas as observações e atividades desenvolvidas. Sendo assim, já se observou intensa atividade noturna de formigas e cupins, entretanto, não apresentaram prejuízos às plantas de interesse. Extensão: a área utilizada para as atividades do CENAPE, foi cedida pelo Núcleo de Estudos e Atividades da Terceira Idade (NEATI): um centro que mantêm atividades na mesma universidade. Como contribuição, o Centro foi inserido no grupo de palestrantes (Fig. 03) para apresentações voltadas para os participantes das atividades desenvolvidas pelo NEATI. Recuperou-se no local uma horta mandala (Fig. 04) eum canteiro convencional com plantas nas quais realiza-se retiradas periodicamente para doação (Fig. 05) ao NEATI, que se responsabiliza pela distribuição aos seus frequentadores, entre eles, residentes de instituições beneficentes, como por exemplo, a casa: Lar dos Idosos. Também está sendo implantado no local um banco de espécies de hortaliças não-convencionais (Fig. 06) para a propagação de mudas para doação. revistacongreso@mes.gob.cu 4

5 Pesquisa: já se desenvolvem pesquisas pelo CENAPE: bibliográficas, entrevistas e experimentos em campo (Fig. 07). A ideia do centro é desenvolver tecnologias voltadas para aplicação por pequenos agricultores de acordo com as necessidades desses. Em uma dessas entrevistas estudou-se o saber etnobotânico da população local, na qual receitas tradicionais e pouco corriqueiras foram aprendidas como a salada de mamão verde e o "café" de taro (Fig. 08). Importância do trabalho desenvolvido contextualizado com Soberania Alimentar Considerando os conceitos de Soberania Alimentar e o cenário das hortaliças nãoconvencionais, o trabalho realizado é de suma importância, pois, ajuda a recuperar espécies que foram muito importantes no passado mas que devido a mudança nos hábitos alimentares perderam importância. Sendo assim, esse resgate de plantas nãoconvencionais, auxilia no resgate da cultura. Importante destacar também, o desenvolvimento de pesquisas e manutenção de espécies, pois, segundo o MAPA (2010) algumas dessas hortaliças já correm o risco de extinção, de mesma forma os conhecimentos, pois, estão praticamente restritos aos quintais dos pequenos agricultores. Com relação à importância das hortaliças não convencionais para a produção de alimentos, tem-se que nossa alimentação se baseia numa pequena variedade de plantas, no qual, a nível mundial, retira-se de apenas 04 espécies de plantas, 50 % das calorias que ingerimos, assim como, 90 % dos alimentos que consumidos se restringem a somente 20 tipos de plantas. Cenário igual ocorre com as hortaliças, na qual, as hortaliças mais consumidas são originárias do comércio de sementes de poucas empresas, sendo assim, mantem-se uma servidão alimentar, portanto, escravos dos insumos comercializados por este oligopólio, cuja conduta não se baseia nas reais necessidades alimentares da população. Dessa forma, constrói-se um círculo vicioso que reproduz vulnerabilidade nos sistemas vivos (Silva, Nouhuys, Kehl, Kelen, & Brack,n.d.). CONCLUSÃO Levando-se em consideração a fragilidade socioeconômica dos pequenos agricultores e a falta de pesquisas tecnológicas voltada para agricultura familiar, criou-se na Universidade Federal de Mato Grosso, um Centro Agroecológico de Pesquisa e Extensão, que tem como pilares a Extensão e a Pesquisa. Mostrou-se que uma linha inicial de pesquisas do Centro, aborda o resgate e estudos referentes às Plantas revistacongreso@mes.gob.cu 5

6 Alimentícias Não convencionais. Plantas que fizeram parte da culinária durante muitas gerações, entretanto perderam importância a partir de certo momento, muito provavelmente por não despertarem a atenção da cadeia produtiva de insumos agrícolas. Dessa forma, quando se dissemina o conhecimento e mudas dessas plantas não convencionais, trabalha-se no resgate da cultura e diversidade de produção, por conseguinte, auxiliando no processo de Segurança e Soberania Alimentar. Outro aspecto importante desse resgate dá-se pelo fato de que devido o cenário atual, algumas espécies dessas hortaliças correm o risco de extinção. Apresentaram-se também as atividades desenvolvidas que apesar do pouco tempo de existência foram numerosas e diversificadas: palestras, oficinas, pesquisas, doação de mudas e os vegetais para o consumo. Assim, espera-se que o CENAPE contribua com a agricultura familiar, agricultura urbana, alimentação saudável e biodiversidade. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS Altieri, M. (2004): Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável (4a ed.), Porto Alegre: Editora da UFRGS. Cândido, H. T. & J. P. A. Rodrigues (2015, outubro): As Plantas Não Convencionais e a Agricultura Familiar. Anais do Simpósio Internacional de Geografia Agraria, Goiânia, GO, Brasil. Pasa, M. C. (2007): Um Olhar Etnobotânico sobre as comunidades do Bambá, Cuiabá: Entrelinhas:EdUFMT. Kinupp, V. F. & H. Lorenzi (2014): Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil, São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora. Lepsch, I. F. (2010): Formação e conservação dos solos (2a ed), São Paulo: Oficina de Textos. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: Manual de Hortaliças Não- Convencionais. Recuperado em 8 de outubro, 2015, de http: // Alimentos/manual%20hortali%C3%A7as_WEB_F.pdf, revistacongreso@mes.gob.cu 6

7 Reider, R. (2006): Seguridad Alimentaria y Soberanía Alimentaria: produción, desarrollo y comercio. In A. Cohn, J. Cook, M. Fernández, R. Reider & C. Steward (eds.): Agroecología y la lucha por la Soberanía Alimenticia en las Américas (p. 77), Nottingham: Russell Press. Silva, D. B.; I. S. V. Nouhuys; L. C. Kehl; M. E. B. Kelen & P. Brack (n.d.): Plantas Alimenticias Não Convencionais (PANC): hortaliças espontâneas e nativas, Porto Alegre: UFRGS. Anexos Figura 01: Oficina para funcionários da Escola Elizabeth. Produção de mudas de ora-pro-nóbis e vinagreira. revistacongreso@mes.gob.cu 7

8 Figura 02: À esquerda restos de folhas e podas da universidade. À direita simulação de serapilheira (horizonte O). Figura 03: Palestrando para o pessoal da terceira idade (NEATI). Fonte: Autoria Própria. revistacongreso@mes.gob.cu 8

9 Figura 04: Recuperação da manda. Figura 05: Cebolinhas retiradas para doação (Cortes periódicos). Figura 06: No sentido horário a partir da primeira imagem superior a esquerda: Caxi, Ora-pro-nóbis, Taro, Vinagreira e Taioba. Banco de espécies de hortaliças não-convencionais para retirada de mudas e revistacongreso@mes.gob.cu 9

10 sementes para doação. Figura 07: construção do experimento para avaliar os impactos da serapilheira sobre o solo. Fonte: Autoria Própria. Figura 08: Preparação do café de taro. revistacongreso@mes.gob.cu 10