APRESENTAÇÃO DO CANAL RETALHO ALIMENTAR
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- Maria de Begonha Neto
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1 APRESENTAÇÃO DO CANAL RETALHO ALIMENTAR As Pequenas e Médias Empresas (PME) estão reiteradamente associadas à falta de capacidade para responderem, por si só, a todas as necessidades requeridas por um Grande Comprador Internacional. O que será necessário para abordarem este tipo de clientes? A exímia competição internacional coloca a capacitação das PME no centro das prioridades de qualquer estratégia de abordagem ao mercado internacional. Assim, com o objetivo de possibilitar a superação dos desafios envolvidos nas relações comerciais com Grandes Compradores Internacionais e potenciar a internacionalização da economia nacional, nomeadamente das PME, a AEP - Associação Empresarial de Portugal desenvolve o projeto Global Contractors Channel (GCC) que, do lado da oferta, visa desenvolver uma estratégia de colaboração multissetorial e tem como foco a resposta à procura dos Grandes Compradores Internacionais. A aposta no que de melhor se faz em Portugal tem de ser um dos fios condutores das estratégias económicas e um dos principais motores da nossa desejada aproximação em relação às economias mais avançadas do Mundo. Deste modo, no âmbito do projeto GCC, e para ser exequível o cumprimento do objetivo que lhe é inerente, foram selecionados os setores que têm vindo a demonstrar uma dinâmica assinalável no processo de internacionalização e que são uma referência para a economia nacional, mas onde a marca Portugal deverá ser explorada mais afincadamente enquanto fator de competitividade internacional. /// CANAL RETALHO ALIMENTAR 01 08
2 Os setores selecionados foram agrupados em três Canais de Compra Internacionais o Canal Contract, Canal Grandes Obras e o Canal Retalho Alimentar. Por forma a apurar quais as estratégias de clusterização com maior impacto no nosso tecido empresarial, foi desenvolvido um estudo relativo ao potencial das PME de cada um dos Canais Estudo do Potencial de Internacionalização de Canais de Compra, que poderá ser consultado no site do projeto GCC. Esta avaliação, no que respeita às tendências e maturidade internacional, conduzirá à clusterização das PME portuguesas por dimensão e grau de internacionalização. Em particular, o Canal Retalho Alimentar foi abordado como o conjunto de 10 setores do ramo agroalimentar que já pontilham pontualmente os seus processos com uma abordagem arrojada aos mercados internacionais, mas que ainda carecem de uma estratégia integrada que capitalize a qualidade dos produtos oferecidos. A título exemplificativo, os setores do Canal requerem uma estratégia que aposte nas técnicas inovadoras de cultivo e criação de animais, nos atributos únicos do nosso azeite, no reconhecimento internacional dos nossos vinhos e no aproveitamento da nossa extensa faixa costeira (solos e clima). Acreditamos numa estratégia que reúna todos estes fatores de competitividade setorial, transformando a soma dos mesmos numa oferta nacional superior, quer em termos de valor acrescentado, quer em termos de competitividade no mercado internacional. Nesta abordagem será possível direcionar esforços para que um grupo de PME explorem uma rede focada em Supermercados Gourmet, outro uma rede para fornecimento de grandes superfícies e outro uma rede orientada para importadores grossistas, aumentando assim a sua escala e diversidade geográfica, numa lógica de dinamização dos produtos e marcas portuguesas. Por forma a encontrar o perfil típico das empresas do Canal Retalho Alimentar, foi recolhida informação estatística em Bases de Dados Nacionais e foram estabelecidos contactos, via inquérito, com um número relevante de empresas. /// CANAL RETALHO ALIMENTAR 02 08
3 As empresas participantes no estudo concentram-se maioritariamente no litoral e nas proximidades dos dois maiores centros urbanos do país, com destaque para o distrito do Porto, Aveiro, Vila Real e Lisboa. Por oposição, os distritos de Castelo Branco e Guarda não apresentam qualquer representatividade. Em termos de oferta, os distritos do Porto e de Aveiro mostraram-se mais dedicados ao setor dos Vinhos, enquanto no distrito de Vila Real sobressaiu a conservação de frutos e legumes, sendo que foi em Lisboa e Beja que imperou o foco nas atividades agrícolas. De um modo geral, as PME participantes no estudo empregam entre 10 a 25 trabalhadores e cerca de 75% iniciou a atividade internacional após o ano de 1986, isto é, depois da adesão de Portugal à União Europeia, um acontecimento com extrema preponderância no arranque da economia nacional. Na atualidade, a maioria destas PME já estabelece relações comerciais com grandes empresas, quer no mercado nacional quer internacional, apresentado uma forte dinâmica no mercado internacional, pelo que em conjunto, no ano de 2016, geraram um volume de negócios próximo dos 396 milhões de euros, dos quais cerca de 64% destina-se ao comércio internacional. Notavelmente, apesar de o setores dos Vinhos, o da Agricultura e o da Conservação de Frutos e Legumes ser os que apresentam maior volume de negócios internacional, foram os setores da Transformação de Cereais e Leguminosas e o dos Óleos e Gorduras Animais aqueles onde os índices de produtividade internacional sobressaiu, ou seja, onde com menos recursos produtivos se obteve mais volume de negócios internacional. /// CANAL RETALHO ALIMENTAR 03 08
4 Traçando um perfil mais qualitativo, o qual não é permitido com base numa análise aos tradicionais indicadores de desempenho económico-financeiros, mas que é praticável mediante a auscultação das PME do Canal, é notório que as principais motivações para a internacionalização são as características do produto, um aspeto especialmente valorizado pelos setores dos Vinhos e da Agricultura, o que não surpreende dada a sobrevalorização da qualidade destes produtos por parte do consumidor e a consequente impossibilidade de sobrevivência no mercado externo sem um produto de elevado valor acrescentado. Por oposição, a motivação com menor relevância para estas PME é o mercado interno esgotado, algo antecipável pela maturidade e volume de negócios internacional que estas empresas já evidenciam. No que respeita aos principais obstáculos à internacionalização, as empresas referem que os maiores constrangimentos se prendem com a burocracia e os aspetos legais/políticos e a concorrência no mercado de destino, o que não é surpreendente se tivermos em conta que estes aspetos tendem a ganhar relevância à medida que as empresas avançam no seu processo de internacionalização e abordam novos mercados. Por outro lado, as barreiras linguísticas e culturais são as menos preponderantes, sendo assumido que esta subvalorização é explicada pelo ganho de experiência internacional por parte das PME do Canal. /// CANAL RETALHO ALIMENTAR 04 08
5 Em termos de mercados de destino, verificou-se que as PME efetuam as suas escolhas baseadas sobretudo no potencial antecipado do produto, na dimensão e potencial do mercado de destino e em contactos comerciais já existentes, enquanto a proximidade física, linguística e cultural foi o critério com menor peso na respetiva escolha. Assim, as empresas do Canal tendem a comercializar maioritariamente com o Reino Unido, a Alemanha, a Espanha e a França, o que revela que apesar da proximidade não ser um aspeto determinante para a escolha, os países da União Europeia, pela sua dimensão e abertura comercial são os mais apetecíveis. Ainda ao nível dos mercados de destino, sectorialmente, verifica-se a predominância de forma geral do mercado espanhol, tendência largamente contraposta no setor dos Vinhos, onde o destaque foi claramente para os Estados Unidos. Por fim, estabelecendo a ponte entre os critérios de escolha de mercados e a respetiva seleção, nota-se que quando a proximidade física é muito relevante para a empresa, o mercado de eleição é Espanha e, seguindo a mesma lógica, mas em relação ao potencial antecipado do produto, o destaque é dado aos Estados Unidos, o que reflete a sua dimensão e poder de compra. Alemanha Espanha França Reino Unido /// CANAL RETALHO ALIMENTAR 05 08
6 No Canal Retalho Alimentar foi observado que as PME pertencem maioritariamente a um Grau avançado de Internacionalização (grau 3, de 4, na metodologia adotada), seguindo-se alguma representatividade no Grau 2. Para a maioria das PME do Canal, a atividade internacional já faz parte do quotidiano, pelo que estão presentes em vários mercados e apresentam uma intensidade exportadora superior a 40%. A PME típica do Canal caracteriza-se por uma sobrevalorização do produto oferecido e cujos maiores constrangimentos à internacionalização são a burocracia e a concorrência no mercado internacional. Além disso, são empresas que já apresentam uma certa dinâmica no mercado internacional e que tendem a eleger os mercados com base na sua dimensão e na potencial competitividade do produto. Outro aspeto que fora estudado foi a capacidade de as PME do Canal fornecerem os Grandes Compradores Internacionais. Desde logo, atualmente, cerca de 79% das empresas já estabelecem relações comerciais com este tipo de clientes e 92% acredita estar preparada para o fazer, denotando haver empresas que ainda não o fazem, mas que estão dispostas a abordar este tipo de clientes. Nota-se que, independentemente de estarem ou não preparadas, cerca de 62% das empresas acredita que uma estratégia multissetorial tem um impacto positivo na sua competitividade. No entanto, apesar do consenso de que a congregação de esforços e a aplicação de uma estratégia multissetorial é proveitosa para as PME, quando convidadas a selecionar quais os setores mais complementares, as empresas acabam por apontar os setores mais óbvios e próximos, pelo que este será um dos desafios que o Projeto GCC necessita abordar nas atividades a desenvolver. Ainda assim, nos setores do Canal veio destacada uma clara complementaridade entre o setor do Vinho e o das Outras Bebidas. Entre o setor da Produção de Óleos e Gorduras e o da Fabricação de Outros Produtos Alimentares também foi indicada a existência de muita complementaridade, bem como entre o setor das Outras Bebidas e o da Preparação de Peixe, e entre a Indústria de Laticínios e a Fabricação de outros Produtos Alimentares. /// CANAL RETALHO ALIMENTAR 06 08
7 Deste modo, estudo permitiu auscultar um grupo de PME com características relevantes, tal como se pode verificar pela variedade de setores, a dispersão territorial e o facto de grande parte delas já ter relações comerciais com Grandes Compradores, nacionais e internacionais. Adicionalmente, a estratégia de colaboração interempresarial e multissetorial do projeto GCC, além de funcionar como dinamizador da competitividade das PME nacionais, é bem recebida por parte das empresas e materializa uma resposta perfeitamente completa à procura internacional. Contudo, apesar da informação recolhida permitir obter o perfil típico de uma empresa do Canal Retalho Alimentar, o desafio intrínseco ao projeto passa por adaptar esta oferta multissetorial às necessidades dos Grandes Compradores Internacionais, a qual implica que simultaneamente se combine a coerência interna das empresas, se interligue as suas competências e se adapte a oferta à constante evolução dos mercados. A solução passa por definir concretamente o foco, ou seja, se a organização e a colaboração multissetorial da oferta leva ao aumento da complexidade, torna-se necessário simplificar do lado da procura, pelo que o foco concreto do Canal Retalho Alimentar é a procura internacional. Tal permitiu atribuir um fio condutor ao complexo processo de harmonização das características internas das empresas. Assim, se do lado da oferta, o Canal de Compra reúne vários setores numa estratégia comum, por outro lado, os Grandes Compradores Internacionais vão estabelecer as guidelines para a formação dos perfis das empresas que deverão desenvolver uma estratégia cooperativa através do Canal Retalho Alimentar, sendo que o match entre a procura e as PME portuguesas será alcançável através de um sistema de matching que terá por base a ponderação entre a dimensão e capacidade económica e financeira e a maturidade nos mercados externos. Tendo sido traçado como objetivo a aferição do potencial de uma estratégia de Clusterização através de um Canal de Compra, o Canal Retalho Alimentar, baseado na procura de Grandes Compradores Internacionais, revelou resultados animadores. Obtivemos uma amostra de empresas com características ideais para a aplicação desta estratégia inovadora de Clusterização, sendo possível a resposta às necessidades de Grandes Compradores Internacionais mediante uma oferta nacional de qualidade, única e com grande valor acrescentado. /// CANAL RETALHO ALIMENTAR 07 08
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