A contabilização do ICMS sob a ótica do CPC 30 e seus reflexos na demonstração de resultado
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- Davi Carrilho Pinhal
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2 REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 23 A contabilização do ICMS sob a ótica do CPC 30 e seus reflexos na demonstração de resultado A apresentação das contas nas demonstrações deve ser feita de forma mais objetiva e clara possível, principalmente a conta estoque, que tem grande representatividade no balanço e na DRE quando esta forma o CMV. Nesse sentido, esta pesquisa tem por finalidade responder à seguinte questão: Como a Contabilidade moderna pode auxiliar a apresentação de informações mais claras, objetivas e fidedignas quanto ao ICMS da compra de mercadorias nos registros contábeis? Com base nesse pressuposto, este estudo tem como objetivo geral analisar a contabilização do ICMS sob a ótica do CPC 30 e seus reflexos na demonstração de resultado. Para obtenção das respostas, utilizou-se como método a pesquisa bibliográfica. Nos resultados foi possível analisar que o registro da Contabilidade moderna é bastante apreciável; primeiro, informa-se o valor do ICMS a pagar, em seguida, verifica-se quantas unidades foram vendidas e faz baixa do passivo da conta ICMS diferido. As despesas com o referido imposto passam a ficar com o mesmo valor que foi desembolsado, diferentemente no método tradicional, que desconsidera o valor abatido pelo crédito da compra. O método alternativo apontado pelo CPC 30 torna a DRE mais apresentável. Genisleide Santana Santos Bacharel em ciências contábeis pela Faculdade de Negócios de Sergipe (Fanese). Contadora atuante na área fiscal e palestrante em temas atuais ligados às áreas tributária e contábil. lssantanaleide@gmail.com Orientador: Edgard Dantas Santos Junior Especialista em Gestão Fiscal e Planejamento Tributário, especialista em Finanças Empresariais e Controladoria. Graduado em Ciências Contábeis pela Universidade Tiradentes. Profissional atuante com larga experiência nas áreas de Custos e Contabilidade Tributária. Professor de graduação e pós-graduação Faculdade Fanese e sócio do escritório de Contabilidade Soluções Contabilidade. professoredgardjr@gmail.com 1485 Recebido em 5/4/2017. Distribuído 5/4/ /8/2017. Pedido de revisão em 26/10/2017. Resubmetido pelo autor em 5/11/2017. Aprovado em 29/11/2017, na quarta rodada, por três membros do Conselho Editorial. Publicado na edição março-abril de Organização responsável pelo periódico: Conselho Federal de Contabilidade. RBC n.º 230. Ano XLVII. Março/abril de 2018
3 24 A contabilização do ICMS sob a ótica do CPC 30 e seus reflexos na demonstração de resultado 1. Introdução 1.1 Tema da pesquisa No Brasil, a prática das demonstrações contábeis tem sido alterada com frequência, com o propósito de adequação aos padrões internacionais de contabilidade. A Lei n.º 6.404/1976, em seu Art. 187, estabelece que as empresas devem, na demonstração de resultado, discriminar a receita bruta das vendas e serviços, as deduções das vendas, dos abatimentos e dos impostos. Já nos pronunciamentos emitidos pelo CPC 30, nota-se que não há menção da dedução do custo das mercadorias vendidas e dos tributos, como parcelas deduzidas da receita bruta. Os pronunciamentos emitidos pelo CPC sugerem que a DRE seja demonstrada a partir da Receita Líquida, uma vez que os tributos sobre vendas não representam riqueza para empresa e, sim, numerários de terceiros. Dessa forma, estes não deveriam ser reconhecidos na receita. Nesse sentido, o ICMS aparece como o tributo de maior relevância e impacto sobre o faturamento; seria ele o maior causador de nebulosidades contábeis. Contudo, independentemente de informar a receita bruta, ou não, na DRE, existe uma mudança significativa no valor a ser distribuído entre o custo das mercadorias e o valor informado como tributos sobre vendas. Assim sendo, este artigo científico se propõem a mostrar o método convencional de demonstração conhecido por todos os acadêmicos e profissionais da contabilidade e o método alternativo e moderno sugerido pelo CPC 30. Nota-se, com isso, que a Contabilidade enquanto ciência da informação continua a avançar cada vez mais no quesito qualitativo, demonstrando que, para ela, nada é absolutamente estático e que todos os quesitos por ela propostos podem, a cada dia que passa, ser mais transparente e de melhor compreensão. 1.2 Hipóteses - Os contribuintes devem contabilizar o ICMS com base no entendimento da Lei societária ou com base no CPC 30. -Existiriam na DRE influenciada pelo CPC 30 modificações que comprometeriam essa demonstração. 1.3 Delimitação do Tema e Problemática Este artigo limita-se a pesquisar a contabilização do ICMS nas compras de mercadorias e seus efeitos na conta de Estoques e na Demonstração de Resultado. Sabe-se que o ICMS é um imposto que causa efeitos sobremaneira nas empresas devido à elevada representatividade de sua alíquota em comparação a outros tributos também indiretos. Nesse sentido, a DRE seria a grande responsável por evidenciar o confronto de três grupos de contas: de um lado tem-se o custo das mercadorias juntamente com as despesas, e do outro lado têm-se as receitas. O encontro dessas contas no resultado obtém-se a mais desejada de todas as informações: o lucro. Por esse motivo, a perfeita evidenciação desses valores na DRE é de grande importância. Assim sendo, esta pesquisa pretende estudar a contabilização do ICMS sob a ótica de duas normas existentes no Brasil, sabendo que a maneira como serão escriturados esses valores provocará evidenciações diferentes da Demonstração de Resultado. Este fato é mais uma indicação de que a Ciência Contábil, nos últimos anos, aponta para uma profunda evolução. Com isso, tem-se o seguinte questionamento: Como a Contabilidade moderna pode auxiliar de forma positiva a apresentar informações mais claras, objetivas e fidedignas quanto ao ICMS da compra nos registros contábeis? Os pronunciamentos emitidos pelo CPC sugerem que a DRE seja demonstrada a partir da Receita Líquida, uma vez que os tributos sobre vendas não representam riqueza para empresa e, sim, numerários de terceiros. Dessa forma, estes não deveriam ser reconhecidos na receita.
4 REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE Objetivo geral Para responder ao questionamento acima referido, traçou-se o seguinte objetivo geral: analisar a contabilização do ICMS sob a ótica do CPC 30 e seus reflexos na demonstração de resultado. 1.5 Objetivos Específicos Para alcançar o referido objetivo, tomaram-se como base os seguintes objetivos específicos: verificar como é contabilizado o ICMS sobre compras, sob a ótica da Lei societária n.º 6.404/1976; identificar os reflexos da contabilização do ICMS, sob a ótica da Lei n.º 6.404/1976, no custo das mercadorias vendidas; analisar os reflexos causados pela contabilização proposta pelo CPC 30 nas contas de estoque de mercadorias e ICMS sobre vendas; analisar, por meio de caso prático, os efeitos causados na DRE pelo modelo da Lei societária e pelo modelo do CPC Justificativa Do ponto de vista do acadêmico O que impulsionou a realização do trabalho foi o enriquecimento e a contribuição proposta pela temática, com a possibilidade de estudantes acadêmicos poderem ter acesso a outra forma de tratamento contábil das contas de custos das mercadorias e de despesas com ICMS por meio de conceitos específicos e atualizados procurando aproxima-lo do CPC Do ponto de vista do pesquisador Por se tratar de um tema pouco explorado, e com enfoque na contabilização do ICMS voltado à área de atuação profissional do pesquisador, surgiu então o interesse para a realização deste, almejandose conhecer os efeitos na Demonstração de Resultado causados pelas duas normas existentes Do ponto de vista da empresa Para as empresas, esta temática torna-se relevante, pois apresenta informações contábeis de maneira mais bem evidenciada, organizada e moderna, fornecendo melhor visualização da despesa com ICMS e do custo com mercadorias, nas demonstrações financeiras. 1.7 Metodologia A metodologia utilizada, neste estudo, é de caráter descritivo, em que serão realizados os estudos, a análise, o registro e a interpretação dos fatos. Foram utilizados na pesquisa bibliográfica artigos publicados na internet, sites de referência, normas que regulamentam a temática abordada e os procedimentos técnicos, o que possibilitou que este trabalho tomasse forma. 2. Referencial Teórico 2.1 Estoques Para Iudícibus (2009), o termo estoque é utilizado para designar o agregado de itens de propriedade tangível que são estocados para venda no curso dos negócios e que estão em processo de produção ou que estejam para ser consumidos na produção de bens ou serviços. Segundo Marion (2013, p.131) Os estoques são bens adquiridos ou produzidos pela empresa com o objetivo de venda ou utilização própria no curso normal de suas atividades. Também compreendem produtos acabados e produtos em processo de produção pela empresa e incluem matérias-primas e materiais aguardando utilização no processo de produção, tais como componentes, embalagens e material de consumo. Iudícibus et al. (2010) acrescentam que os estoques estão representados também por itens de propriedade da empresa que estão em poder de terceiros para armazenagem, beneficiamento, embarque, etc. Pode-se perceber, então, que os estoques são materiais ou produtos de qualquer espécie, que ficam fisicamente disponíveis pela empresa até o momento em que ingressam no processo para comercialização ao consumidor final e estão intimamente ligados às principais áreas de operação das empresas Mensuração e a Resolução CFC n.º 1170/1909 A partir da norma internacional (IAS), surge o Pronunciamento Técnico CPC 16, que estabelece o tratamento contábil para a mensuração dos estoques. Sua aprovação foi dada por meio da 35º Reunião Ordinária do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, realizada no dia 8 de maio de Esse regulamento alcança todos os tipos de estoques, com exceção dos itens de contrato de construção civil, de instrumentos financeiros e ativos
5 26 A contabilização do ICMS sob a ótica do CPC 30 e seus reflexos na demonstração de resultado Seguindo a norma internacional de contabilidade, em que nenhum ativo deve configurar em seu balanço valor superior ao de sua possível realização, determina o Pronunciamento Técnico CPC 16 que os estoques, para fins de mensuração, sejam avaliados pelo seu valor de custo ou seu valor realizável líquido, dos dois, o menor. biológicos. Esses itens são excluídos da norma porque estão cobertos por outras resoluções específicas do CFC. Quanto à definição de estoques, o pronunciamento técnico define: Estoques são ativos: a) mantidos para venda no curso normal dos negócios b) em processo de produção para venda c) na forma de materiais ou suprimentos a serem consumidos ou transformados no processo de produção ou na prestação de serviços. A questão fundamental na contabilização dos estoques é quanto ao valor do custo a ser reconhecido como ativo e mantido nos registros até que suas receitas sejam reconhecidas. Seguindo a norma internacional de contabilidade, em que nenhum ativo deve configurar em seu balanço valor superior ao de sua possível realização, determina o Pronunciamento Técnico CPC 16 que os estoques, para fins de mensuração, sejam avaliados pelo seu valor de custo ou seu valor realizável líquido, dos dois, o menor. De acordo com a Resolução n.º 1.170/2009, item 7, entende-se por valor realizável líquido a quantia que a entidade espera realizar com a venda do estoque no curso normal dos negócios deduzidos dos gastos necessários para a respectiva venda. Não podendo ser semelhante ao valor realizável líquido, o valor justo é conceituado pela mesma resolução como a quantia pela qual o mesmo estoque pode ser trocado entre compradores e vendedores conhecedores e dispostos a isso. Iudícibus apud Marion (p. 133) esclarece que: As finalidades ou objetivos da mensuração e da avaliação dos estoques são de várias ordens, entre as quais a indicação do total de recursos que esperamos receber com sua venda. Entretanto, o objetivo mais comum refere-se ao esforço de correlacionar a receita com as despesas respectivas no processo de mensuração do lucro, o que poderia levar a uma preferência por um preço de entrada (ou uma avaliação a valores de entrada) e em certas situações, todavia, a avaliação a preço de saída é razoável. Portanto, sua mensuração deve ser feita pelo valor de custo ou valor realizável líquido Custos dos estoques Segundo o CPC 16, o valor de custo do estoque deve incluir todos os custos de aquisição e de transformação, e outros custos incorridos para trazer os estoques à sua condição e localização atual. Sobrinho (2010, p.48) define: O custo de aquisição dos estoques como aquele que nasce dos sacrifícios dispensados para se colocar em condições de uso dentro da entidade. Alguns impostos, como IPI, ICMS, PIS, COFINS que a entidade possa se creditar e compensar com os mesmos impostos devidos nas saídas de produtos, mercadorias ou serviços, não devem fazer parte do custo de aquisição. Considera-se custo de aquisição o preço de compra, os impostos de importação e outros tributos, desde que não sejam recuperáveis no Fisco, como também os custos com transportes, seguros e outras despesas destinadas à compra de materiais, de produtos acabados ou de serviços. Também serão deduzidos dos custos de aquisição os descontos comerciais e os abatimentos. Em relação aos estoques, os créditos referentes aos tributos recuperáveis não compõem o custo de aquisição, conforme tratado no item 11 do CPC 16, aprovada pela Resolução n.º 1.170/2009. O CPC 16, item 13, aborda os custos de transformação dos esto-
6 27 ques, aqueles custos diretamente relacionados com as unidades produzidas ou com as linhas de produção, como pode ser o caso da mão de obra direta. Custos de transformação, para Sobrinho (2010, p. 52), são sacrifícios em termos monetários que são necessários para que se possa desenvolver um determinado processo produtivo. São custos que tornam possível a transformação da matéria-prima em produtos acabados Impostos recuperáveis O Art.3 do Código Tributário Nacional (CTN) define tributo como toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção por ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Fabretti (2014, p.107) chama de impostos as espécies de tributos que são instituídos por lei, e devido, independentemente de qualquer atividade estatal em relação ao contribuinte. Portanto, não estão vinculados a nenhuma prestação específica do Estado ao sujeito passivo. Podem-se chamar impostos recuperáveis aqueles cujo valor do mesmo que foi pago em uma operação é deduzido em outra operação subsequente. Portanto, o imposto deverá incidir tanto na entrada de mercadorias ou matéria -prima, quanto na saída da mercadoria ou do produto. Sendo ele não recuperável, deverá integrar no custo de aquisição Programa de Integração Social (PIS) É um tributo classificado como contribuição, pois sua utilização está prevista em lei. Por ser o quarto tributo que mais arrecada no Brasil, foi criado com o intuito de integrar os trabalhadores na vida e no desenvolvimento das empresas. Seu valor arrecadado destina-se ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAF). O inciso I do Art. 154 da Contituição Federal (CF) prevê a União para instituir outros impostos, além dos já discriminados no texto constitucional. Instituído pela Lei Complementar n.º 7, de 7/9/2009, e recepcionado por meio do Art. 239 da CF, o Programa de Integração Social incide sobre o faturamento de forma cumulativa, na alíquota de 0,65%, quando as pessoas jurídicas estão equiparadas pela legislação do Imposto de Renda e apuram IRPJ com base no lucro presumido e, de forma não cumulativa, na alíquota de 1,65% para aquelas que apuram IRPJ com base no Lucro Real. Sua incidência dá-se pelos regimes cumulativos, não cumulativos, de substituição tributária, monofásico, alíquota zero. Tendo como contribuintes as pessoas jurídicas de direito privado, inclusive aquelas que são prestadoras de serviços, empresas públicas e as sociedades de economia mista, excluindo as microempresas e as empresas de pequeno porte submetidas ao Simples Nacional (FA- BRETTI, 2014) Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) Assim como o PIS/Pasep, a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) é também apurada pelos regimes cumulativos e monofásicos quando Lucro Presumido, não cumulativo; misto ou substituição tributária quando enquadrados pelo Lucro Real. Tornou-se não cumulativo por meio da Lei n.º /2003, causando efeitos em suas alíquotas e deixando de ser 3% para 7,6%. Por serem duas contribuições federais, as normas foram praticamente unificadas, apesar de serem contribuições com destinações diferentes e criadas em épocas diversas Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) O ICMS é um tributo indireto que sucede o Imposto sobre Circulação de Mercadoria (IMC), havendo uma dilatação com relação ao campo de sua incidência, sendo incorporadas outras atividades, como a prestação de serviços de transportes interestaduais e intermunicipais e também aqueles serviços onerosos de comunicação, ganhando o S na última Carta Magna. Tal fato se deu em virtude da retirada da esfera de competência tributária da União, passando a ser dos estados e do Distrito Federal. Na concepção de Fabretti (2014, p.165), são considerados tributos indiretos aqueles em que o ônus tributário é transferido para o consumidor final, embutindo-o no preço da venda ou do serviço em cada etapa econômica, não tendo a quem repassá-lo. Sua base legal é o Art. 155, II e 2 CF e a Lei Complementar n.º 87, de 1996, também conhecida como Lei Kandir, em que determina suas características e o discrimina. Ainda no Art. 155, II e 2º CF, é previsto que o ICMS poderá ser seletivo em função da essencialidade das mercadorias e dos serviços, isto é, quanto mais de primeira necessidade a mer-
7 28 A contabilização do ICMS sob a ótica do CPC 30 e seus reflexos na demonstração de resultado cadoria for, poderá ser tributada com alíquotas inferiores aos demais produtos. Para que não haja bitributação ao preço final da mercadoria com incidência em cascata, ou seja, a possibilidade da incidência de um tributo sobre tributo, é aplicado o princípio da não cumulatividade, principal característica do ICMS. Nas palavras de Pegas (2012, p.168) Teoricamente, a partir da Carta Magna, todo imposto que foi pago nas etapas anteriores seria passível de compensação com os débitos existentes por ocasião da venda ou revenda futura. Todavia, o crédito não poderá ser utilizado nos casos em que a saída não seja tributada. São contribuintes do ICMS, na expressa dicção do Art. 4º da Lei n.º 87 Qualquer pessoa, física ou jurídica, que realize, com habitualidade ou em volume que caracterize intuito comercial, operações de circulação de mercadoria ou prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior. Suas alíquotas podem ser internas, destinadas para aquelas operações que ocorrem dentro do Estado e interestaduais quando as mesmas ocorrerem em operações fora do Estado. Como mencionam Oliveira et al. (2013, p.73) A alíquota interna é determinada individualmente em cada Estado pela legislação estadual, já as interestaduais são definidas pelo Senado Federal, assim, sempre que o destinatário da mercadoria ou do serviço for o contribuinte, o remetente ou prestador de serviços utilizará a alíquota interestadual, independentemente de a mercadoria ser destinada a revenda, industrialização, ativo ou consumo. Todavia, quando se tratar de mercadorias adquiridas em outras unidades da federação e destinadas a uso, consumo ou a integrar o ativo permanente do adquirente, e na utilização de serviços com prestações iniciadas em outro Estado que não estejam vinculados a operações ou prestações subsequentes, o contribuinte destinatário deverá recolher ICMS, a título de diferencial de alíquotas entre a interestadual praticada na origem e a interna praticada no destino. Via de regra, nas empresas que adquirem mercadorias para revender ou industrializar, o ICMS pago nas compras é recuperável, devendo ser excluído do custo de aquisição, tendo como consequência a escrituração contábil em conta própria do grupo Ativo Circulante - Impostos a Recuperar. Por outro lado, no caso das vendas, o Art. 280 do RIR/1999 determina que, para a obtenção da receita líquida de vendas deverá ser diminuído da receita bruta o ICMS incidente sobre as vendas, assim contabilizado em conta redutora de receita bruta de vendas em contrapartida na conta do Passivo Circulante de Impostos a recolher ICMS e a receita bruta segundo o CPC 30 Como já mencionado acima, pode-se observar que o ICMS tem um diferencial quanto ao seu valor de recolhimento, sendo calculado pela diferença de preços pagos entre as compras e as vendas dos itens. Diante do exposto, sabe-se também que a base para avaliação e mensuração dos estoques são os custos, em que enfatiza que os impostos recuperáveis no Fisco não devem ser incluídos ao valor do estoque. Pelo fato de as práticas atuais de contabilização dos tributos no Brasil não estarem convergentes com as normas internacionais e visando uma aproximação da contabilidade brasileira a esses padrões, surgem os diversos pronunciamentos técnicos, entre os quais, destaca-se o CPC 30 de receitas. Contudo, tal pronunciamento estabelece, em seu item 8, que: Para fins de divulgação na demonstração do resultado, a receita inclui somente os ingressos brutos de benefícios econômicos recebidos e a receber pela entidade quando originários de suas próprias atividades. As quantias cobradas por conta de terceiros tais como tributos sobre vendas, tributos sobre bens e serviços e tributos sobre valor adicionado não são benefícios econômicos que fluam para a entidade e não resultam em aumento do patrimônio líquido. Portanto, são excluídos da receita. Analisando esse item, entende-se que os tributos não são benefícios que possam aumentar o patrimônio da empresa, ficando facultado, pelo pronunciamento técnico, uma forma convencional quanto ao tratamento da contabilização do ICMS. Iudícibus et al. (2010) explicam que isso poderia gerar uma certa confusão em relação às práticas contábeis atuais por haver algumas mudanças relevantes no valor a ser distribuído entre o custo das mercadorias ou dos produtos vendidos e o valor informado como tributos sobre vendas. Porém, para efeitos fiscais, a inclusão dos tributos sobre venda na receita bruta permaneceria. Para um melhor entendimento desse assunto, serão apresentados dois comparativos: um ilustrando o momento da contabilização do ICMS pelo método tradicional e outro pelo método optativo do CPC 30.
8 REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 29 Uma empresa comercial fez compra de 10 unidades de uma mercadoria por R$100,00 cada, com ICMS de 10%. Posteriormente, a empresa vende todo o estoque por R$1.200,00. (Quadro 1) No primeiro momento, pode ser observado que os estoques foram registrados pelo seu valor líquido sem a inclusão dos tributos embutidos, sendo destacados em conta própria de ativo. Já com relação à receita de vendas, foram registradas pelo seu valor total. Iudícibus et al. (2010) completam que o valor do ICMS apresentado não corresponde ao real encargo tributário, uma vez que esse encargo é determinado pelo líquido entre ICMS a pagar e ICMS a compensar. Desse modo, seguindo as premissas anteriores e atendendo à recomendação do pronunciamento Técnico CPC 30, o registro feito pelo valor da compra é sem nenhum destaque de ICMS, sendo informado no ativo (a recuperar) pelo valor total, em contrapartida à conta de passivo a principal mudança, como pode ser visto. Com relação à receita de vendas, é registrada pelo seu valor total, observe: (Quadro 2) Para Pêgas (2014, p.98) O registro da contabilidade moderna é bem interessante. Primeiro informa o valor do ICMS a pagar. Em seguida, verifica-se quantas unidades foram vendidas e dá a baixa do passivo, na conta ICMS diferido. No caso, como vendeu tudo, baixou o valor de R$100. A despesa será a diferença entre o ICMS cobrado na venda menos o ICMS destacado na compra em relação à mesma quantidade de mercadorias vendidas. Portanto, nesse novo método, o ICMS é registrado em conta de despesa com o encargo efetivo que a empresa tem com as vendas de suas mercadorias. O custo das mercadorias vendidas corresponde ao custo efetivo assumido pela empresa sem destaque de imposto ICMS Diferido Impostos diferidos, segundo a IAS 12, são as quantias de impostos sobre os rendimentos recuperáveis ou pagáveis no futuro. A importância da determinação dos impostos diferidos nas demonstrações financeiras das empresas surge porque o resultado contábil, em certas situações, não é igual ao resultado fiscal. Assim, o diferimento de impostos pode ocorrer por divergências na legislação tributária ou nos critérios contábeis adotados para o reconhecimento e mensuração dos ativos ou passivos da empresa, os quais serão consumidos ou liquidados no futuro e farão parte do resultado em outros exercícios, provocando diferenças nas receitas e despesas, tributáveis ou dedutíveis, que possam ser atribuídas a este ou àquele exercício. Na conta patrimonial de natureza credora, cuja finalidade é uma obrigação diferida, utiliza-se a conta de ICMS diferido a compensar com o intuito de controlar o que pode ser compensado pela empresa, conforme suas vendas de mercadorias sejam realizadas, sendo retificada pela conta de impostos a recuperar (ICMS). Modificando o primeiro exemplo, admite-se que a empresa comprou as mesmas dez unidades por R$100 cada, com ICMS de 10% e, posteriormente, revendeu apenas 8 unidades por R$150 cada, permanecendo com Quadro 1 Contabilização aquisição e venda de mercadorias Lei n.º 6.404/1976 Contas Débito Crédito Mercadorias (estoque) 900,00 Impostos a recuperar ICMS 100,00 Fornecedores 1.000,00 Clientes 1.200,00 Receita de vendas 1.200,00 Impostos sobre vendas- ICMS 120,00 Impostos a recolher ICMS 120,00 Impostos a recolher ICMS 100,00 Impostos a recuperar- ICMS 100,00 Custo da mercadoria vendida 900,00 Mercadorias (estoques) 900,00 Fonte: Pêgas (2014, p.96) Quadro 2 Contabilização aquisição e venda de mercadorias CPC 30 Contas Débito Crédito Mercadorias (estoque) 1.000,00 Fornecedores 1.000,00 ICMS a recuperar 100,00 ICMS diferido 100,00 Clientes 1.200,00 Receita de vendas 1.200,00 Impostos sobre vendas- ICMS 20,00 ICMS diferido a compensar 100,00 Impostos a recolher ICMS 120,00 Custo da mercadoria vendida 1.000,00 Mercadorias (estoques) 1.000,00 Fonte: Pêgas (2014, p.96)
9 30 A contabilização do ICMS sob a ótica do CPC 30 e seus reflexos na demonstração de resultado duas unidades no estoque. Observa-se, no quadro 3, como os registros contábeis ficariam. Nesse caso, foram baixados o valor referente às oito unidades vendidas, ou seja, 80% de 100,00 destacado na nota fiscal. Para efeitos de apresentação da demonstração do resultado, sofreriam algumas modificações devido à nova contabilização. O Art. 187 da Lei n.º 6.404/1976, com suas alterações, instituiu que as empresas devam, na demonstração do resultado do exercício, discriminar a receita bruta das vendas e serviços, as deduções das vendas, os abatimentos e os impostos, chegando, em seguida, à receita líquida. Dessa maneira, a norma sugere que, para efeitos da divulgação na DRE, seja a partir da receita líquida e que os impostos sobre as vendas que representam recursos de terceiros não sejam reconhecidos na receita. Contudo, independente de informar a receita bruta, ou não, na DRE, existe de fato uma mudança relevante quanto ao valor a ser destinado ao custo das mercadorias vendidas, ou dos produtos vendidos, e ao valor informado como tributos sobre vendas. É possível visualizar os impactos ocasionados pelo ICMS na DRE construída com base na Lei n.º 6.404/1976, em confronto com o CPC 30, observando os exemplos abaixo: Ex. 1: Foi efetuada uma compra no valor de e vendida 100% por com ICMS de 10% (Quadro 4). Ex. 2: Foi efetuada uma compra no valor de e vendida 80% por com ICMS de 10% (Quadro 5). Como se pode observar, no que diz respeito ao valor do lucro bruto, não há alterações. É o mesmo nos dois casos, mudando, apenas, a forma de contabilização. 3. Considerações Finais Mesmo depois de quase 10 anos da primeira publicação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, ainda existem algumas divergências entre as práticas da Contabilidade brasileira e as ditadas pelas normas internacionais. Por isso, o intuito dos diversos pronunciamentos seria alinhar a Contabilidade do Brasil aos requisitos internacionais. É possível perceber que Ciência Contábil avança a cada dia para maior transparência e clareza das informações, portanto, as demonstrações contábeis representam a situação econômica em palavras e números, tanto para entidades como para os diversos investidores, credores, bancos e, principalmente, para a tomada de decisões gerenciais. Nesse sentido, a escrituração contábil é a base para a boa e correta demonstração contábil, principalmente quando esta envolve contas relevantes, que são os casos das contas: Estoque de Mercadorias, Despesa com ICMS e ICMS a Recuperar. Portanto, este trabalho está pautado na problemática: Como a Contabilidade moderna pode auxiliar de forma positiva a apresentar informações mais claras, objetivas e fidedignas quanto ao ICMS da compra nos registros contábeis? Por meio do CPC 30, observou-se que o método convencional retira o ICMS Quadro 3 contabilização de vendas de 80% estoque CPC 30 Contas Débito Crédito Mercadorias (estoque) 1.000,00 Fornecedores 1.000,00 ICMS a recuperar 100,00 ICMS diferido 100,00 Clientes 1.200,00 Receita de vendas 1.200,00 Impostos sobre vendas- ICMS 40,00 ICMS diferido a compensar 80,00 Impostos a recolher ICMS 120,00 Custo da mercadoria vendida 1.000,00 Mercadorias (estoques) 1.000,00 Fonte: Pêgas (2014, p.98) Quadro 4 Demonstração de resultado com base na Lei em comparação com o CPC DRE Lei n.º 6.404/1976 CPC 30 Receita Bruta (-) ICMS (120) (20) Receita líquida (-) CMV (900) (1.000) Lucro Bruto Fonte: Pêgas (2014, p.100). Quadro 5 Demonstração de resultado com base na Lei em comparação com o CPC DRE Lei n.º 6.404/1976 CPC 30 Receita bruta (-) ICMS (120) (40) Receita líquida (-) CMV (720) (800) Lucro bruto Fonte: Pêgas (2014, p.100)
10 REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE 31 do custo da mercadoria, reduz o valor do estoque e produz uma despesa diferente do valor desembolsado pelo caixa da empresa, sendo que este poderia ser substituído pelo método alternativo, que considera o ICMS um valor retido na empresa pela compra da mercadoria, devendo então, ficar no estoque. Este fato produz uma redução significativa no valor da despesa com ICMS, pois esse método alternativo entende que a despesa é a diferença entre o débito e o crédito este último seria o verdadeiro valor pago pela empresa. Nesse sentido, o método apresentado pelo CPC 30 é mais interessante, uma vez que repassa, de forma organizada e fidedigna, aquilo que a DRE se propõe a demonstrar, permitindo assim uma avaliação mais precisa, principalmente para os empresários que têm dificuldades para entender por qual razão a empresa paga um valor menor de ICMS em relação àquele apresentado nas deduções da Demonstração de Resultado. Procurando atingir os objetivos propostos, verificou-se que no Brasil o ICMS sobre compras é contabilizado sob a ótica da Lei Societária n.º 6.404/1976 e os tributos ditos recuperáveis são escriturados de forma bruta, ou seja, no momento da aquisição da mercadoria, os valores referentes aos impostos recuperáveis são reconhecidos pelo seu valor líquido em uma conta de Ativo. Embora no momento de suas vendas seja reconhecida como conta redutora da receita pelo valor total do imposto, dessa forma, tal fato apresentaria uma falsa impressão de que o valor devido é muito superior ao real, pois destacaria os valores repassados ao Governo de maneira camuflada. Observou-se também, que no tocante à contabilização do ICMS sob a ótica do CPC 30, os estoques são escriturados por seu valor total sem dedução dos impostos recuperáveis, em confronto com a Lei Societária, que determina que esses impostos não façam parte do custo de aquisição das mercadorias. O método alternativo também indica que o referido tributo seja escriturado em conta patrimonial com o nome ICMS diferido, sendo controlado de acordo com suas vendas, trazendo de forma mais clara as verdadeiras despesas efetivas com os impostos. Vale salientar ainda que a diferença entre os dois métodos apresentados na DRE não é tão visível, uma vez que, em relação ao lucro da empresa, tanto o método adotado pelo CPC 30 quanto pela norma societária brasileira, informa o mesmo resultado. Porém, no que tange ao custo das mercadorias e aos impostos, estes, sim, sofrem alterações significativas na Demonstração de Resultado, deixando esta moderna e voltada às práticas internacionais. 4. Referências. CPC-30: Comitê de Pronunciamentos Contábeis Pronunciamento Técnico-Receitas. Brasília, CFC CPC-16: Comitê de Pronunciamentos Contábeis Pronunciamento Técnico-Estoque. Brasília, CFC BRASIL. Lei nº de 15 de dezembro de Lei das Sociedades Anônimas: Princípios e práticas. 5 ed. São Paulo:1999. p FABRETTI, Láudio C. Contabilidade Tributária. 14. Ed. São Paulo: Atlas, IUDÍCIBUS, Sérgio et. al. Manual de Contabilidade Societária. São Paulo: Atlas, MARION, José C. Normas e Práticas Contábeis Uma introdução. 2ed. Atlas,2013. OLIVEIRA, Luís M. et al Manual de Contabilidade Tributaria. 12. ed. São Paulo: Atlas,2013. PEGAS, Paulo H. Manual de Contabilidade Tributária. 7 ed. Rio de Janeiro, Freitas Bastos, PEGAS, Paulo H. Manual de Contabilidade Tributaria.8 ed. Rio de Janeiro, Freitas Bastos, SOBRINHO, Paulo A. Estoques Normas Internacionais de Contabilidade IAS 2 CPC 16. São Paulo: IOB,2010. ZANLUNCA, Júlio C. ICMS Teoria e Prática. Curitiba, Portal Tributário, [2009?]
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