TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO COMARCA DE LIMEIRA FORO DE LIMEIRA 2ª VARA CÍVEL RUA BOA MORTE, 661, Limeira - SP - CEP SENTENÇA

Transcrição

1 fls. 1 SENTENÇA Processo Físico nº: Classe - Assunto Procedimento Ordinário - Indenização por Dano Moral Requerente: Trw Automotive Ltda Requerido: Industria Metalurgica Tremag Ltda e outros VISTOS. Trata-se de ação movida por TRW AUTOMOTIVE LTDA. em desfavor de INDÚSTRIA METALÚRGICA TREMAG LTDA. e BANCO FIBRA S/A, postulando pela declaração de inexistência de obrigação cambial e consequente inexigibilidade do título, bem como pelo recebimento de uma indenização por danos morais decorrentes do protesto indevido. Para tanto, alega que apesar de ter relação jurídica com a corré TREMAG, que fornece alguns componentes automotivos, foi surpreendida com a notificação de protesto referente à duplicata mercantil nº. 7769/1 com vencimento em 15/09/2012 no valor de R$ ,75 (doze mil, oitocentos e sessenta e sete reais e setenta e cinco centavos), pois desconhece a origem de tal título, não existindo negócio jurídico que lhe de lastro. sustação dos efeitos do protesto. A inicial está acompanhada dos documentos de fls. 62/90. Às fls. 93 foram antecipados os efeitos da tutela e determinado imediata Os Réus foram citados, mas apenas o BANCO FRIBRA apresentou sua resposta às fls. 129/145 alegando, em síntese, preliminar de ilegitimidade passiva, sob o argumento de que recebeu o título na qualidade de mandatário, não sendo responsável pela sua idoneidade. No mérito, pugna pela improcedência dos pedidos, alegando que agiu apenas como mandatário e o protesto foi realizado nessas condições, tanto que há cláusula contratual entre ele o mandante que estipula sua obrigação automática de cobrar os títulos vencidos e não pagos. Por fim, opôs-se ao pedido de danos morais. Sua resposta esteve acompanhada dos documentos de fls. 163/187. A TRW replicou às fls. 231/ lauda 1

2 fls. 2 O corréu BANCO FIBRA denunciou a lide à BANPAR FOMENTO COMERCIAL E SERVIÇOS LTDA., o que foi admitido às fls. 241, sendo ela citada e respondendo às fls. 249/264. Em suas razões defensivas, BANPAR alega, em resumo, que adquiriu o título da corré TREMAG e recebeu a nota fiscal e o respectivo comprovante de recebimento da mercadoria, o que comprova o lastro da duplicata. Ainda, revela ter notificado a TRW sobre a cessão de crédito havida, não havendo qualquer objeção. Opôsse ao pedido de danos morais e alegou existir outras restrições em nome da TRW. Sua resposta esteve acompanhada dos documentos de fls. 275/ /308. será analisado. Sobrea a contestação da BANPAR manifestou-se somente a TRW às fls. É o relatório. FUNDAMENTO E DECIDO. A ilegitimidade do BANCO FIBRA se confunde com o mérito e com ele Os pedidos são improcedentes. Em que pesem as argumentações da TRW impugnando o documento de fls. 288, resta nele demonstrado que houve o aceite das mercadorias descritas na nota fiscal nº. 7769, da qual foi tirada a duplicata levada a protesto. Por consequência disso, o título é hígido, possui lastro e foi devidamente protestado por falta de pagamento, o que se constitui legítimo exercício do direito. Embora a corré TREMAG seja revel, os efeitos do art. 319 do CPC não se aplicam ao caso em tela, pois há pluralidade de Réus e todos os outros contestaram os pedidos, como registra o inciso I, do art. 320, da lei processual. No caso dos autos, a relação jurídica havida entre a TRW e a TREMAG foi registrada pela nota fiscal nº da qual foi tirada a duplicata que posteriormente foi negociada entre esta e a BANPAR, como aponta o documento de fls. 276/286. Por seu turno, BANPAR firmou contrato com o BANCO FIBRA e cedeu a duplicata em questão como garantia pelo crédito tomado, nos termos dos documentos de fls. 163/187. Quanto a esta última operação, embora a cláusula contratual 6.2 estipule lauda 2

3 fls. 3 que o BANCO FIBRA poderá cobrar as duplicatas vencidas e não pagas e o fará na qualidade de mandatário, eximindo-se de qualquer responsabilidade, tal não subsiste. O BANCO FIBRA recebeu a duplicata em questão como endosso caução, como garantia do crédito tomado pela BANPAR. Logo, tem ele a incumbência de se certificar de que a duplicata tinha lastro e foi sacada de forma idônea, pelo que é parte legítima para responder aos pedidos ajuizados pela TRW. Nesse sentido: AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO CUMULADA COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DUPLICATAS IRREGULARMENTE EMITIDAS. Sentença de procedência em relação a apenas um dos réus. Pretensão da apelante de que seja afastada a indenização por dano moral ou que o banco réu seja condenado apenas em indenização pelos danos morais ou ainda que seja reduzido seu valor. ADMISSIBILIDADE EM PARTE: Diante do conjunto probatório, existem fortes indícios que as duplicatas objeto da ação foram negociadas com o Banco Daycoval S.A. Os títulos foram por ele recebidos mediante endosso caução e não mediante endosso mandato, daí sua obrigação de verificar a origem das duplicatas. Cabível a condenação do banco que não se incumbiu do ônus de verificar a existência e a validade dos títulos a ele transferidos. Cabível a condenação da empresa que sacou as duplicatas sem causa válida. O apontamento do protesto de duplicatas indevidamente sacadas, por si só constitui dano moral a ser indenizado. Cabível a manutenção da indenização por danos morais fixada na r. sentença em R$ ,00. O valor fixado mostra-se razoável para compensar o dano suportado, além de atender aos princípios da proporcionalidade e o da razoabilidade. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO PARA AFASTAR A EXTINÇÃO DO PROCESSO POR ILEGITIMIDADE PASSIVA DO BANCO DAYCOVAL S.A. 1 Como resta demonstrado que houve o aceite das mercadorias relacionadas na nota fiscal da qual a duplicata foi tirada, de rigor a improcedência da ação, com a consequente revogação da liminar. Por fim, de outro vértice, demonstrado a existência do negócio jurídico e comprovado o recebimento das mercadorias, além de reconhecido a legitimidade do protesto, tem-se que a duplicata é devida, sendo exigível o valor nela apontado. O débito é líquido, certo e exigível, não havendo razões para não se reconhecer, neste momento, o crédito do BANCO FIBRA e a possibilidade de, se assim Israel Góes dos Anjos, j. em 14/10/ TJSP Ap. nº ª C. de Direito Privado, Rel. Des lauda 3

4 fls. 4 entender, executá-lo nesses mesmos autos, nos termos do art. 475-N e seguintes do CPC. O fato de não haver pedido reconvencional ou mesmo discussão acerca disso, nada impede que, por consequência lógico-jurídica da improcedência dos pedidos da TRW, reste reconhecido tal crédito e destacada a possibilidade de execução. Na verdade, está se prestigiando a celeridade e a economia processual. E não é novidade tal situação, pois parte considerável da doutrina processualista moderna e a jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça entendem pela possibilidade de execução das sentenças declaratórias. Não há razão de ser da necessidade de propositura de nova ação pelo BANCO FIBRA, de natureza condenatória, porque sequer a parte adversa vai poder se defender efetivamente, mormente se houver a sentença declaratória transitado em julgado. Sobre a matéria, assim decidiu o C. Superior Tribunal de Justiça, quando do julgamento do REsp. nº /PR, que teve como relator o Ministro Teori Zavascki, in verbis: PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. VALORES INDEVIDAMENTE PAGOS A TÍTULO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. SENTENÇA DECLARATÓRIA DO DIREITO DE CRÉDITO CONTRA A FAZENDA PARA FINS DE COMPENSAÇÃO. SUPERVENIENTE IMPOSSIBILIDADE DE COMPENSAR. EFICÁCIA EXECUTIVA DA SENTENÇA DECLARATÓRIA, PARA HAVER A REPETIÇÃO DO INDÉBITO POR MEIO DE PRECATÓRIO. 1. No atual estágio do sistema do processo civil brasileiro não há como insistir no dogma de que as sentenças declaratórias jamais têm eficácia executiva. O art. 4º, parágrafo único, do CPC considera "admissível a ação declaratória ainda que tenha ocorrido a violação do direito", modificando, assim, o padrão clássico da tutela puramente declaratória, que a tinha como tipicamente preventiva. Atualmente, portanto, o Código dá ensejo a que a sentença declaratória possa fazer juízo completo a respeito da existência e do modo de ser da relação jurídica concreta. 2. Tem eficácia executiva a sentença declaratória que traz definição integral da norma jurídica individualizada. Não há razão alguma, lógica ou jurídica, para submetê-la, antes da execução, a um segundo juízo de certificação, até porque a nova sentença não poderia chegar a resultado diferente do da anterior, sob pena de comprometimento da garantia da coisa julgada, assegurada constitucionalmente. E instaurar um processo de cognição sem oferecer às partes e ao juiz outra alternativa de lauda 4

5 fls. 5 resultado que não um, já prefixado, representaria atividade meramente burocrática e desnecessária, que poderia receber qualquer outro qualificativo, menos o de jurisdicional. 3. A sentença declaratória que, para fins de compensação tributária, certifica o direito de crédito do contribuinte que recolheu indevidamente o tributo, contém juízo de certeza e de definição exaustiva a respeito de todos os elementos da relação jurídica questionada e, como tal, é título executivo para a ação visando à satisfação, em dinheiro, do valor devido. 4. Recurso Especial a que se nega provimento. (grifei e negritei) Neste sentido, também, o E. Tribunal de Justiça de São Paulo, in verbis: EXECUÇÃO POR TÍTULO JUDICIAL. Ação declaratória de inexigibilidade de débito Decreto de procedência parcial. Pretensão de execução da parte cuja exigibilidade foi reconhecida. Possibilidade. Atribuição de executividade pela reforma processual empreendida pela Lei /05, que revogou o artigo 584 e reformulou a matéria dos títulos executivos no artigo 475-N. Desnecessidade do ajuizamento de novo feito. Recurso provido para permitir a execução do julgado declaratório pelo credor. 2 (grifei e negritei) EXECUÇÃO POR TÍTULO JUDICIAL. Ação declaratória de nulidade de título. Decreto de improcedência. Irrelevância. Reconhecimento da higidez e exigibilidade das cambiais. Atribuição de executividade pela reforma processual empreendida pela Lei /05, que revogou o artigo 584 e reformulou a matéria dos títulos executivos no artigo 475-N. Desnecessidade do ajuizamento de novo feito. Recurso provido para permitir a execução do julgado declaratório pelo credor. 3 (grifei e negritei) Portanto, pode o BANCO FIBRA, se assim entender, executar a presente sentença após o seu trânsito em julgado, como forma de perseguir a satisfação de seu crédito decorrente da falta imotivada de pagamento da duplicata. Ante o exposto e por tudo o quanto mais dos autos consta, JULGO IMPROCEDENTES os pedidos ajuizados por TRW AUTOMOTIVE LTDA. em desfavor de INDÚSTRIA METALÚRGICA TREMAG LTDA. e BANCO FIBRA S/A, o que faço com fulcro no art. 269, inciso I, do CPC. Por consequência, REVOGO a liminar de fls TJSP - AI nº , Rel. Des. Melo Colombi, j. em 08/02/ TJSP AI , Rel. Des. Melo Colombi lauda 5

6 fls. 6 Sucumbente, CONDENO a TRW ao pagamento de custas, de despesas processuais e de honorários advocatícios em favor dos Patronos dos Réus, arbitrados em R$ 1.200,00 (um mil e duzentos reais) para cada um, nos termos do 4º, do art. 20, do CPC. Em relação à lide secundária, JULGO IMPROCEDENTE a denunciação da lide requerida por BANCO FIBRA S/A em desfavor de BANPAR FOMENTO COMERCIAL E SERVIÇOS LTDA., o que faço com fulcro no art. 269, inciso I, do CPC. Sucumbente, condeno o BANCO FIBRA ao pagamento de custas, de despesas processuais e de honorários advocatícios em favor do Patrono da denunciada, arbitrados em R$ 1.200,00 (um mil e duzentos reais), nos termos do 4º, do art. 20, do CPC. P.R.I.C. Limeira, 02 de dezembro de Henrique Alves Corrêa Iatarola Juiz de Direito DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI /2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA lauda 6