Análise do Desmatamento na Amazônia Mato-grossense (Prodes 2018)

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1 Análise do Desmatamento na Amazônia Mato-grossense (Prodes 2018) Mato Grosso segue como um dos estados que mais desmatam a Amazônia brasileira. De agosto de 2017 a julho de 2018, foram mapeados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) 7,9 mil km² de áreas desmatadas em todo o bioma. Mato Grosso foi o segundo estado que mais desmatou nesse período, com km² de florestas derrubadas, foi responsável por 22% de todo o desmatamento detectado. Essa foi a maior taxa divulgada nos últimos 10 anos. Neste documento apresentamos os resultados das análises sobre o desmatamento detectado em 2018 em Mato Grosso pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), conduzido pelo Inpe, além das principais medidas implementadas no período para reduzi-lo. Também formulamos recomendações para atingir uma redução significativa e duradoura do desmatamento na área florestal do Estado. Características do desmatamento na Amazônia Mato-grossense em 2018 De 2009 a 2014, o desmatamento na área florestal de Mato Grosso oscilou em torno de km² por ano. Nos últimos 4 anos, essa taxa teve um aumento significativo, passando para uma média de km² por ano (Figura 1). Entre 2009 e 2018, o aumento da taxa de desmatamento foi de 67%. Esse incremento na última década e a permanência de um desmatamento anual com taxas médias acima de km² demonstram que, apesar dos esforços, as ações implementadas não foram efetivas para reverter o cenário de destruição das florestas no Estado. Desmatamento (km²) Figura 1 Taxa de desmatamento (km²) no bioma Amazônia em Mato Grosso, de agosto de 2012 a julho de 2018 (Prodes/Inpe). 01

2 A área desmatada ilegalmente se mantém alta e se destaca como uma das principais características do desmatamento que ocorre no estado (Figura 2). Em 2018, 85% de toda a área desmatada foi convertida sem autorização de desmatamento ou supressão de vegetação¹. Foram mais de 3,8 mil km² de florestas derrubadas ilegalmente desde agosto 2015, ano em que o Estado se comprometeu a eliminar o desmatamento ilegal até 2020, durante a COP 21 em Paris. A concentração do desmatamento detectado em 10 dos 141 municípios de Mato Grosso tem caracterizado fronteiras ativas de desmatamento, sobretudo nas regiões Noroeste e Médio Norte. Em 2018, 55% de toda a área desmatada no estado se concentrou em 10 municípios (Figura 2). Nesse contexto, destacam-se Colniza e Aripuanã, localizados no Noroeste, que foram responsáveis por um quarto do desmatamento mapeado. Colniza 237 Desmatamento (km²) Aripuanã Rondolândia Feliz Natal Querência Nova Bandeirantes Cláudia Paranaíta Nova Maringá Sinop 34 Figura 2 Dez municípios com maiores áreas desmatadas de agosto de 2017 a julho de 2018 (Prodes/Inpe, 2018). ¹ Dados de autorização de desmatamento da Secretaria de Estado de Meio Ambiente. Disponível em: Acesso em: 25/11/

3 Figura 3 Regiões de concentração do desmatamento detectado entre agosto de 2017 e julho de 2018 na área florestal Mato-grossense (Prodes/Inpe, 2018). A análise por categoria fundiária demonstrou que a maior parte do desmatamento ocorreu em imóveis rurais privados cadastrados no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar), seguido dos imóveis rurais não cadastrados (Figura 4). Essas duas categorias representam 83% do total desmatado em Os projetos de assentamentos da reforma agrária concentraram 12% da área desmatada. As Terras Indígenas (TIs) responderam por 5% do desmatamento detectado, sendo que a maior parte disso ocorreu na TI Zoró, no Noroeste do estado. A TI Zoró, assim como Marãiwatsédé e Menku, que também figuram entre as mais desmatadas em 2018, têm sofrido grande pressão por diferentes atividades e práticas ilegais (ICV, 2018²; MPF, 2018³ ). Além dessas categorias fundiárias, a implantação de reservatórios para Usinas Hidrelétricas foram responsáveis por 4% do desmatamento de As UHEs Sinop e Colíder tiverem uma participação significativa nas áreas desmatadas na região médio norte do estado, respondendo por 43% do desmatamento dos municípios localizados nessa região. ² Silgueiro at al. Mapeamento da ilegalidade na exploração madeireira em Mato Grosso entre agosto de 2013 a julho de ICV, Cuiabá, ³ na-trf1-determina-ampliacao -da-terra-indigena-menku-em-mato-grosso 03

4 12% 52% 31% 5% 0% Área não cadastrada Imóvel rural cadastrado no SICAR Unidade de Conservação Assentamento rural Terra indígena Figura 4 Áreas desmatadas por categoria fundiária, de agosto de 2017 a julho de 2018 (Prodes/Inpe, 2018) Ao longo dos anos, o Prodes tem apontado um aumento dos grandes polígonos de desmatamentos. Em 2018, os polígonos com mais de 100 hectares representaram 51% de toda área desmatada (Figura 5). No município de Querência foi detectado um polígono de desmate ilegal com mais de 5 mil hectares⁴ (Figura 6). Tamanho das áreas desmatadas Acima de 200 hectares De 100 a 200 hectares De 50 a 100 hectares De 20 a 50 hectares Até 20 hectares Figura 5 Áreas desmatadas (km²) por tamanho de polígono, de agosto de 2017 a julho de 2018 (Prodes/Inpe, 2018). ⁴ -familia-sao-autuados-por-fraude-em-autorizacoes-de-desmatamento.ghtml 04

5 Figura 6 Área desmatada ilegalmente no município de Querência detectada pelo Prodes Do desmatamento que foi detectado em imóveis rurais cadastrados no Sicar, 68% se concentrou em grandes imóveis, com mais de hectares, sendo que 49% foi em áreas abertas com mais de 100 hectares. Assim, quase metade de todo o desmatamento detectado em imóveis rurais privados são grandes polígonos facilmente identificados por ferramentas e análises geoespaciais e concentrados em grandes propriedades (Tabela 1). Classe de tamanho dos polígonos de desmatamento Até 400 hectares Classe de tamanho dos imóveis rurais De 400 a hectares Maior de hectares Total Geral Até 20 hectares De 20 a 50 hectares De 50 a 100 hectares De 100 a 200 hectares Acima de 200 hectares Total Geral Tabela 1 Áreas desmatadas (km²) em imóveis rurais inscritos no Sicar e/ou Sigef, de acordo com o tamanho dos imóveis e dos polígonos de desmatamento, de agosto de 2017 a julho de 2018 (Prodes/Inpe). 05

6 Ações implementadas para controlar o desmatamento Os dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apontam uma redução no número dos autos de infração lavrados relacionados a desmatamento. Segundo o Ibama, a redução de 23% no número de multas aplicadas por danos a flora foi motivada pelo redirecionamento das ações do órgão, voltando-se prioritariamente à fiscalização das empresas que adquirem os produtos oriundos de desmatamento ilegal com o intuito de coibir seu escoamento (Figura 7). Número de autos de infração Figura 7 Número de Autos de Infração lavrados pelo Ibama por infração de flora, com e sem julgamentos, de janeiro de 2008 a outubro de 2018 (Portal de Dados Abertos do Ibama, 2018). Os dados disponibilizados pela Secretaria do Estado de Meio Ambiente (Sema), por sua vez, mostram que houve um aumento do esforço de fiscalização que resultou em um aumento de 21% na área embargada por desmatamento ilegal entre os anos de 2014 e 2018 (Figura 8). 06

7 Área embargada por desmatamento (km²) Figura 8 Área embargada por desmatamento ilegal pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso, entre janeiro de 2014 e novembro de 2018 (Portal de Transparência da Sema, 2018). Além das ações de fiscalização, em maio de 2018 foi instituída a terceira fase do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e Incêndios Florestais no Estado de Mato Grosso (PPCDIF/MT), após um longo processo de construção. Ainda que o Comitê Executivo do PPCDIF, colegiado coordenado pela Sema e responsável pelo acompanhamento e apoio à implementação do Plano, não tenha se reunido em 2018, a ação de garantir a transparência de informações ambientais chave para o controle ambiental foi implementada pela Sema. O recém lançado Portal de Transparência do órgão disponibiliza a base completa de dados do Cadastro Ambiental Rural, assim como as autorizações de desmatamento e embargos. Com isso, amplia-se a capacidade de controle entre os diferentes órgãos públicos e a possibilidade de empresas desenvolverem mecanismos de restrição de mercado. Outra ação de destaque refere-se às parcerias firmadas para o fortalecimento das ações de redução de desmatamento e produção sustentável, como a participação do estado no Programa REDD+ para Pioneiros (REM). Coordenado pelos governos alemão e inglês, o Programa REM investirá até R$ 178 milhões nos próximos 5 anos em ações e iniciativas que visem a conservação das florestas e fomento a práticas sustentáveis. Contudo, as elevadas taxas de desmatamento colocam em risco o recebimento desse montante, já que o repasse de recursos está condicionado à manutenção de taxas de desmatamento abaixo km². 07

8 Recomendações O desmatamento detectado em Mato Grosso demonstra que as ações implementadas pelo Estado para conciliar produção com conservação não estão sendo efetivas. As altas taxas de desmatamento podem comprometer inclusive os avanços e parcerias estabelecidas até o momento. Para reverter essa situação e garantir que as ferramentas de controle do desmatamento cumpram plenamente seu papel, recomendamos as seguintes ações: 1. Implementar políticas públicas perenes e efetivas, direcionando esforços para a execução da 3 fase do PPCDIF que prevê a utilização de ferramentas de sensoriamento remoto para autuação do desmatamento ilegal e a implantação de bases avançadas de fiscalização em regiões críticas, dentre outras ações; 2. Publicar uma Lista de Desmatamentos Ilegais que expõe publicamente a identificação e localização das propriedades rurais que cometeram desmatamentos sem autorização, a exemplo do Estado do Pará. Além de identificar os infratores e puní-los, essa lista também deve servir como uma ferramenta fundamental para empresas que se comprometeram em excluir desmatamentos ilegais de sua cadeia de fornecimento; 3. Avançar na Implementação do Código Florestal com ampliação do número de cadastros, análise dos cadastros inscritos e regularização ambiental dos imóveis rurais de forma célere e transparente, promovendo incentivos para a recuperação das áreas degradadas e manutenção das florestas e responsabilizando aqueles que desmataram ilegalmente; 4. Fortalecer a Estratégia Produzir, Conservar e Incluir (PCI) para atrair novos investimentos e efetivar ações em parceria com o setor privado e sociedade civil no intuito de eliminar o desmatamento ilegal nas cadeias de commodities e alcançar as demais metas estabelecidas pela Estratégia; 5. Divulgar o Portal de Transparência da SEMA e melhorar a qualidade das bases de dados disponibilizadas, bem como mobilizar os compradores de commodities para que eles verifiquem a regularidade ambiental de seus fornecedores. Dezembro de Autores Ana Valdiones Vinicius Silgueiro Paula Bernasconi Alice Thuault Bruno Cardoso 08