Proposta de Alteração da Lei de Bases do Sistema Educativo
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- Elisa Furtado Branco
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1 Proposta de Alteração da Lei de Bases do Sistema Educativo Parecer da Federação Académica do Porto A participação de Portugal na subscrição da Declaração de Bolonha em Junho de 1999 gerou para o Estado Português o dever de uma reformulação do sistema de educação que se encontra em óbvio e franco atraso em relação aos demais modelos europeus. A assunção das obrigações geradas pela participação no Processo de Bolonha tem sido sucessivamente descurada e adiada e a Assembleia da República vê-se agora na contingência de ter que proceder com urgência à discussão de um assunto que se revela estruturante para o desenvolvimento do Ensino Superior nacional. Esse carácter urgente pode obstar a que a reflexão seja feita com a atenção e o cuidado merecido pelo que é extremamente importante que todos os parceiros de discussão nas questões de Política Educativa apresentem os seus contributos com celeridade para que as alterações legislativas a serem aprovadas encerrem em si a mais alargada e construtiva discussão possível. Nesse âmbito, e consciente da relevância do documento legal agora em apreço, a Federação Académica do Porto apresenta o seu parecer sobre a proposta de Lei de Bases do Sistema Educativo apresentada pelo Governo com o objectivo de expôr o seu entendimento esta questão e colaborar com o Parlamento na aprovação de uma Lei que possa contrariar o atraso estrutural do Ensino Superior e dirigir o mesmo no sentido de atingir os parâmetros internacionais de qualidade há tanto tempo almejados. A Federação Académica do Porto Porto, 31 de Maio de 2005
2 Financiamento dos Ciclos de Estudo A criação do enquadramento legal necessário à aplicação da Declaração de Bolonha no nosso modelo de Ensino Superior obriga a que seja adoptado um sistema de graus académicos comparável e facilmente inteligível, baseado em três ciclos de estudos sendo que esse modelo conduz à obtenção dos graus de licenciado, mestre e doutor e deixando de existir o grau de bacharel. A reformulação da duração dos ciclos foi entendida por alguns sectores do Ensino Superior como uma agenda escondida da Declaração que teria em vista apenas e só fazer diminuir o investimento do Estado no Ensino Superior mas esse receio foi parcialmente afastado pelo Programa do Governo. Pode-se ler quer nesse documento, quer na presente proposta de alteração da Lei de Bases, que a passagem para uma estrutura em dois ciclos de estudos não representará, por si só, diminuição do financiamento público disponível mas ao mesmo tempo se afirma que o valor das propinas a pagar pelos estudantes do segundo ciclo será regulado e adequado à nova natureza deste ciclo. Considerando que existe a intenção de implementar valores diferenciados de propinas entre os dois primeiros ciclos de estudos, a posição da Federação Académica do Porto é de exigir que o Estado tenha a mesma compartipação no segundo ciclo de estudos como no primeiro, não permitindo a existência de um valor de propina diferenciado entre estas duas fases,de modo a promover maior qualificação e impedir o aprofundar do fosso de qualificações entre os estudantes portugueses e os restantes colegas da Europa Comunitária; Com efeito, esta falta de financiamento limita o acesso dos alunos ao segundo ciclo e a uma formação mais longa e completa, o que criará uma discriminação entre os profissionais portugueses e os europeus, pois é previsível que a maior parte dos Estados europeus promovam o financiamento necessário ao segundo ciclo, de modo a que sejam apenas critérios de mérito que estejam na base do acesso a uma formação de 5 anos. Teremos assim, na generalidade,
3 os técnicos portugueses com formações médias de 3 anos e os europeus com 5 anos de estudo, o que determinará a sobrevivência dos portugueses na segunda metade da tabela do mercado europeu, por falta de qualificação. Relativamente à intenção expressa no ponto 15, b) da Exposição de Motivos da Proposta de Alteração da Lei de Bases, em que se refere que se fixarão as propinas dos ciclos de estudos conducentes ao grau de mestre em valor igual aos dos ciclos de estudos conducentes à licenciatura nos casos de mestrados integrados, a posição da Federação Académica do Porto é também contra a mesma pois esta medida fomenta a descriminação dos alunos que não frequentem cursos de Medicina e Arquitectura pois, à partida, só aqueles cursos é que terão mestrados integrados, por força das normas legais da União Europeia. Com a aplicação desta norma refira-se, a título de exemplo, que os alunos de Medicina terão os seus dois ciclos de formação totalmente financiados enquanto que os alunos de Letras ou de outro curso que subsista sem mestrado integrado serão claramente menos financiados o que lhes provocará óbvias limitações ao prosseguimento dos estudos superiores. Assim, a Federação Académica do Porto afirma-se contra a existência de valores de propinas diferenciados quer entre o primeiro e segundo ciclo de estudos, quer entre os vários cursos existentes pois considera que o Estado tem as mesmas obrigações de financiamento a todos os estudantes, independentemente da àrea científica em que se incluam.
4 Atribuição de Graus Académicos No Programa do XVII Governo Constitucional referia-se a dada altura que a possibilidade de concessão de graus deixará de estar fixada por critérios unicamente administrativos, para passar a depender da satisfação de requisitos, exigentes e comuns, de qualidade. Foi com agrado que a FAP viu esta intenção plasmada naquele documento pois há longo tempo que esta estrutura vem defendendo que a possibilidade de atribuição de graus académicos deve ser concedida em função do mérito e qualidade das instituições e não do subsistema de onde provêm. Contudo, foi com desilusão que foi constatado que a proposta de alteração da Lei de Bases continua a permitir apenas ao Ensino Universitário a concessão de grau de Doutor, o que configura até uma clara incoerência com aquilo que é referido na Exposição de Motivos: esta preocupação pela qualidade é reforçada em relação ao grau de Doutor, que só deve ser atribuído pelos estabelecimentos de Ensino Superior que demonstrem possuir os recursos humanos e organizativos necessários à realização de investigação e uma experiência acumulada nesse domínio sujeita a avaliação e concretizada numa produção científica e académica relevantes na àrea em que o pretendem conferir. Considerando que existem estabelecimentos de Ensino Politécnico com elevada produção científica e com comprovada qualidade, a Federação Académica do Porto reitera a sua posição e exige que, para além da possibilidade de atribuição do grau de Mestre, seja concedido ao Ensino Superior Politécnico, mediante o cumprimento de parâmetros de qualidade, a possibilidade de atribuição do grau de Doutor.
5 Com a presente proposta governativa, a universidades que não cumpram especiais requisitos pedagógicos e científicos será permitida a atribuição do grau de Doutor ao passo que Institutos Politécnicos de reconhecida qualidade e dinamismo científico, como é o caso do Instituto Politécnico do Porto, continuarão a não poder leccionar doutoramentos apenas por ostentarem a denominação Politécnico. Assim, a presente proposta não resolve a descriminição existente entre estes dois subsistemas de ensino, continuando a permitir que a denominação e não a qualidade constituam factores de diferenciação na atribuição de graus académicos.
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