ANÁLISE SOBRE O REMANEJAMENTO DE MATERIAIS NA REDE DE SAÚDE

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1 ANÁLISE SOBRE O REMANEJAMENTO DE MATERIAIS NA REDE DE SAÚDE Tatiane Cristina de Campos¹, Paulo André de Oliveira² 1 Discente do Curso em Tecnologia em Logística pela FATEC-Botucatu. tatybtu@gmail.com. 2 Docente da FATEC-Botucatu. poliveira@fatecbt.edu.br 1 INTRODUÇÃO Em um almoxarifado hospitalar existem produtos que são imprescindíveis para o atendimento ao cliente (paciente), o grau de disponibilidade deve ser imediato, tendo a necessidade da existência de um estoque mesmo que não exista a movimentação do material; por esse motivo paga-se um preço pela disponibilidade do produto que não é consumido e essas particularidades dificultam, assim, o bom gerenciamento do estoque com relação a custos (SILVA; LIMA, 2016). A realização de previsão de demanda é uma atividade de extrema importância em qualquer empresa, na administração de uma instituição de saúde torna-se vital a sua aplicação, já que a falta de acurácia pode vir a causar prejuízo à saúde do paciente (SILVA; OLIVEIRA, 2012). Silva e Lima (2016) afirmam que, a falta do controle de estoque gera muitos problemas relacionados à compra de materiais, resultando em excesso quando comprado a mais e a falta quando comprado a menos, lembrando que excesso de material é aumento de despesa e falta de material é perda de lucro e ruptura no atendimento ao cliente. Segundo Dias (2005), controle de estoque seriam todas as formas de registro que objetivam controlar a quantidade de materiais em estoque, tanto o volume físico, quanto financeiro. Esse controle pode ser realizado com a utilização de meios eletrônicos ou manuais. A classificação ABC ou Curva de Pareto, segundo Slack, Chambers e Johnston (2009) e Mayer et al. (2013) é utilizada quando o estoque é constituído por diferentes itens, visa separar os produtos em grupos com características semelhantes onde alguns serão mais importantes do que outros. Quando por um equívoco perde-se esse controle, o remanejamento pode ser considerado como uma ferramenta no auxílio para o controle de estoque, tendo em vista que, uma rede ampla de departamentos pode entre si remanejar itens para que sejam consumidos antes do seu vencimento ou mesmo pelo fato de obter um atendimento mais rápido ao cliente, assim eliminando perdas previstas a instituição.

2 Este trabalho tem por objetivo analisar o processo de remanejamento de materiais dentre as unidades básicas de saúde e o almoxarifado, podendo assim, apontar soluções de melhorias para obter excelência no controle de estoque e assim diminuir perdas dos insumos, buscando alcançar 100% da utilização dos produtos antes do seu vencimento. Tem como justificativa a obtenção do atendimento imediato aos pacientes, utilizando materiais parados, assim diminuindo a quantidade de itens que provavelmente estariam perdidos pela não utilização dos mesmos, ajudando assim, a diminuir novos gastos para a instituição. 2 MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi realizado em um Almoxarifado da Saúde em Botucatu/SP. Para a concretização do mesmo foi necessário a coleta de informações quantitativas e financeiras sobre os materiais remanejados, através da utilização do software da empresa, em um período de cinco meses, sendo ele de maio a setembro de Por meio de vistorias efetuadas as unidades de saúde, foram constatadas falhas nos pedidos que eram solicitados ao almoxarifado para o abastecimento das mesmas. O almoxarifado ficou responsável pela contabilização do fluxo de remanejamento das 19 unidades de saúde envolvidas. Com isso, obteve-se informações que geraram dados estatísticos dos 167 itens remanejados. Num segundo momento utilizou-se da classificação ABC dos itens remanejados para verificar o peso de cada item no remanejamento total. Para uma análise gerencial do processo de remanejamento optou-se pela utilização do item A da classificação. Para preservar a instituição analisada, o nome das 19 unidades não pôde ser citado, então foram criados nomes fictícios para as mesmas. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Com a presente analise, foi possível verificar e quantificar o número de itens e o valor de economia que resultou o processo de remanejamento entre as 19 unidades de saúde com a supervisão do almoxarifado. A ferramenta de classificação ABC foi de grande utilidade para chegar aos resultados, utilizando a forma 80%, 15% e 5%, respectivamente. Na Tabela 1 pode-se observar que a classificação dos itens segundo a curva ABC, proposta, permitiu que se classificassem os medicamentos segundo sua importância

3 financeira. Neste trabalho a mais relevante é a classe A com 79,94% do valor total que resulta em R$17502,47, totalizando 38 itens. Tabela 1 - Classificação da Curva ABC CLASSES N ITENS % ITENS % VALOR ITENS A 38 22,75% 79,94% ITENS B 55 32,93% 14,94% ITENS C 74 44,31% 5,12% TOTAL ,00% Os 38 itens estão apresentados na Tabela 2. Pode-se verificar que com apenas 8 itens supera-se 50% do total. Nos 30 itens restantes percebe-se que a participação dos mesmos é menor que 2% do total da classificação. O item de maior participação é o Vildagliptina empregado no tratamento de diabetes tipo 2, seguido pela Insulina NPH empregada na diabetes do tipo 1, totalizando nestes dois itens 28,33% dos remanejamentos entre postos de saúde. Tabela 2 - Medicamentos da classe A segundo a classificação de Pareto ITEM VALOR TOTAL (R$) % % ACUMULADA Vildagliptina 50 mg 4.509,96 20,60% 20,60% Insulina NPH 1.692,14 7,73% 28,33% Amoxicilina 500 mg 1.320,00 6,03% 34,36% Nimesulida 100 mg 1.071,00 4,89% 39,25% Fitas de HGT 944,00 4,31% 43,56% Ácido Valpróico 500 mg 686,00 3,13% 46,69% Omeprazol 20mg 614,75 2,81% 49,50% Beclometasona 50 mcg 459,80 2,10% 51,60% Beclometasona 200 mcg 395,34 1,81% 53,41% Metildopa 250 mg 376,20 1,72% 55,12% Estrogênos conjugados 370,50 1,69% 56,82% Cromoglicato de sódio 339,35 1,55% 58,37% Dexa+ associações. 333,20 1,52% 59,89% Insulina Regular 312,39 1,43% 61,31% Gliclazida 30 mg 258,00 1,18% 62,49% Clorpromazina 25mg 234,00 1,07% 63,56% Hioscina composta 224,36 1,02% 64,59% Levomepromazina 4% gotas 218,40 1,00% 65,58% Cloranfenicol sol. oftálmica 209,28 0,96% 66,54% Isossorbida 10 mg 205,80 0,94% 67,48% Bromoprida 1 mg/ ml 203,68 0,93% 68,41% Hioscina simples 10 mg 198,00 0,90% 69,31% Beclometasona 250 mcg 195,00 0,89% 70,20%

4 Isoconazol creme 190,00 0,87% 71,07% Carbamazepina 20 mg/ml 177,00 0,81% 71,88% Domperidona 1 mg/ml 172,92 0,79% 72,67% Medroxiprogesterona 172,90 0,79% 73,46% Salbutamol spray oral 171,43 0,78% 74,24% Tobramicina 3mg/ml 153,30 0,70% 74,94% Loratadina 1 mg/ ml 148,50 0,68% 75,62% Cloranfenicol 500 mg 128,28 0,59% 76,21% Albendazol 400 mg 128,02 0,58% 76,79% Amiodarona 100 mg 126,42 0,58% 77,37% Benzilpenicilina UI 121,80 0,56% 77,93% Cinarizina 25mg 117,71 0,54% 78,46% Enalapril 20 mg 113,50 0,52% 78,98% Tiocolchicosídeo 2 mg/ml 104,83 0,48% 79,46% Polivitamínico 104,50 0,48% 79,94% TOTAL 17502,47 79,94% Dentre o processo de remanejamento que envolveu as 19 unidades, conseguiu-se destacar entre elas, quem mais remanejou e quem mais recebeu os itens remanejados. A Tabela 3 demonstra as unidades que realizaram o remanejamento em ordem decrescente, descrevendo do valor maior para o menor. Vale observar que 4 postos totalizaram 52,71% do processo de remanejamento atingindo o valor de R$ 9.225,64. Portanto, destacam-se os postos 9, 16, 18 e 6 que necessitam empregar melhor a previsão de demanda, tendo em vista a entrada de medicamentos acima da necessidade. Tabela 3 - Classificação da Saída do Remanejamento UNIDADE VALOR TOTAL (R$) % % ACUMULADA Posto ,70 16,54% 16,54% Posto ,68 13,19% 29,74% Posto ,70 12,61% 42,35% Posto ,56 10,36% 52,71% Posto ,23 7,83% 60,54% Posto ,13 6,89% 67,42% Posta ,29 5,40% 72,82% Posto ,00 4,54% 77,36% Posto 4 628,27 3,59% 80,95% Posto 1 574,99 3,29% 84,23% Posto ,75 3,24% 87,48% Posto 2 481,47 2,75% 90,23% Posto ,39 1,90% 92,13% Posto ,31 1,86% 94,00% Posto ,90 1,58% 95,57% Posto 7 262,62 1,50% 97,07%

5 Posto 3 206,00 1,18% 98,25% Posto 8 199,75 1,14% 99,39% Posto ,73 0,61% 100,00% TOTAL 17502,47 100,00% Já na Tabela 4 nota-se as unidades que receberam os itens remanejados, também em ordem decrescente do valor total recebido. Observa-se que as unidades que mais receberam itens remanejados foram os postos 7, 9, 17 e 1, totalizando 54,54% com a somatória do valor de R$ 9.545,47. Como observado os respectivos postos também necessitam melhorar a previsão de demanda e o controle de estoque de suas unidades, neste caso, para que não haja falta de medicamento para o atendimento ao paciente. Tabela 4 - Classificação do Destino do Remanejamento UNIDADE VALOR TOTAL (R$) % % ACUMULADA Posto ,63 15,18% 15,18% Posto ,19 14,95% 30,13% Posto ,47 14,42% 44,55% Posto ,18 9,99% 54,54% Posto ,68 6,67% 61,21% Posto 6 854,88 4,88% 66,09% Posto 8 799,96 4,57% 70,66% Posto 5 685,66 3,92% 74,58% Posto 4 682,00 3,90% 78,48% Posto 3 626,54 3,58% 82,06% Posto ,21 3,26% 85,32% Posto 2 488,65 2,79% 88,11% Posto ,92 2,64% 90,75% Posto ,01 2,12% 92,87% Posto ,50 2,07% 94,93% Posto ,31 1,86% 96,80% Posto ,77 1,17% 97,97% Posto ,81 1,12% 99,09% Posto ,11 0,91% 100,00% TOTAL 17502,47 100,00% Considerando-se as tabelas 3 e 4 destaca-se o posto 9 que teve saída de R$ 2895,70 e entrada de R$ 2616,19, nesta situação o que se observa é o erro de previsão, pois o saldo entre entradas e saídas é de apenas R$ 279,51. O posto 7 foi o que teve maior saldo de entrada com R$ 2394,01 e o posto 18 foi o que teve maior saldo de saída com R$ 2002,93. Pode-se desta forma perceber que saldos de entrada subestimam a demanda, ou seja, os pedidos foram

6 inferiores a necessidade e saldos de saída superestimam a demanda com pedidos superiores a demanda. 4 CONCLUSÃO O remanejamento de materiais neste estudo encaixou-se como uma solução para a problemática envolvida, porém, não poderá ser utilizado sempre, já que também pode ser visto como um retrabalho. Contudo, a análise identificou falhas no processo de pedido das unidades de saúde para o almoxarifado, ressaltando assim, que há necessidade de avaliar a previsão de demanda, com o intuito de ajustar corretamente o pedido solicitado e melhorar o controle de estoque com a meta de consumir 100% dos produtos antes do seu vencimento. O auxílio das ferramentas de controle de estoque e, sobretudo de modelos de previsão de demanda se fazem necessários para reduzir os remanejamentos com redução de gastos logísticos e possíveis perdas de medicamentos. 5 REFERÊNCIAS DIAS, M. P. Administrações de Materiais: Princípios, conceitos e gestão.5. ed. São Paulo: Atlas, MAYER, N. L. et al. Proposta do uso de ferramentas de controle de estoque no Hospital Thomé de Medeiros Raposo na Região Metropolitana de Manaus f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) Universidade Federal do Amazonas, Manaus, Disponível em: < Acesso em: 21 ago SILVA, D. R. M; OLIVEIRA, P. A. Comparação entre métodos de previsão de demanda aplicados a fios cirúrgicos utilizados em um hospital escola do município de Botucatu. Tekhne ε Logos, Botucatu, v. 3, n. 3, p , nov Disponível em: < Acesso em: 20 set SILVA, J. N. A.; LIMA, J. C.S. Gestão de materiais: Almoxarifado hospitalar. Cadernos UNISUAM de Pesquisa e Extensão, v. 5, n. 4, p , Disponível em: < Acesso em: 20 jul SLACK, N., STURAT, C., JOHNSTON, R. Administração da Produção. São Paulo: Atlas, 2009.