PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA RARAIBA Gabinete do Desembargador Joás de Brito Pereira Filho

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA RARAIBA Gabinete do Desembargador Joás de Brito Pereira Filho ApCrim APELAÇÃO CRIMINAL N / 001 SOUSA Relator : Desembargador Joás de Brito Pereira Filho Apelante : José Francisco de Sousa (Adv. João Marques Estrela e Silva) Apelada : Justiça Pública VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Autoria e materialidade comprovadas 'Condenação 4:- Apelação Preliminar Nulidade Inobservância do procedimento previsto no art. 16 da Lei /2006 Acolhimento Declarada a nulidade do feito a pktir do recebimento da denúncia Mérito Insuficiência de provas para a condenação Prejudicialidadê da análise, em vista çlo acolhimento da preliminar. Prevendo a lei /06 rito próprio para os procedimentos em que se apura &crime de lesão corporal descrito no art. 129, 9 do CP, resulta em nulidade o recebimento da denúncia sem que, anteriormente, tenha sido designada audiência para os fins do art. 16 da citada norma. Acolhida a preliminar de nulidade do processo a partir do recebimento da denúncia, deixando-se de analisar o mérito do recurso. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de apelação criminal acima identificados: ACORDA a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, em acolher a preliminar de nulidade do processo a partir do r'ecebimento da denúncia. RELATÓRIO Cuida-se de recurso de apelação crimipal interposto por JOSÉ FRANCISCO DE SOUSA, atacando os termos da sentença de fls. 61/64, proferi-. 4

2 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA Gabinete do Desembargador Joás de Brito Pereira Filho ÁpCrim /001 da pela MM. Juíza de Direito da 5 Vara da comarca de Sousa, que o condenou, pela prática da infração Penal descrita no art. 129, 9 0, do CP, à pena definitiva de 2 (dois) anos de detenção, a ser cumprida em regime aberto pena corporal substituída por duas restritivas de direito, em razão da conduta assim narrada na denúncia (fls. 02/04): "Consta nos autos que, na dia 3 de dezembro de 2006, por volta das 11 horas, na Iresidência localizada Rua Dep. Lindolfo Pires, 15, Estação, Sousa/PB, o acusado acima qualificado ofendeu a integrigade corporal de sua própria esposa Rita Gonçalves Pordlus de Sousa, provocandolhe as lesões descritas no laudo acostado às fls. 08 e 09 do Inquérito Policial. Apurou-se que no dia, hordie local citados, o acusado chegou em sua residência em estado de embriaguez, sendo que, após a sua própria esposa!ter pedido dinheiro referente a um coador de café que o acusado tinha levado para vender, este passou a proferir palavras de baixo calão e a dizer que não tinha dinheiro. Irresignada com o gasto c14 dinheiro com bebidas alcoólicas, a senhora Rita Gonçalves Pordeus de Sousa mandou que o increpado deixasse a residência, sendo que este pegou uma caçarola cheia de água quente e jogou em cima daquela, causando- lhe queimaduras em seu lado direito. A vitima foi, em seguida,!levada ao Hospital, onde foi constatada a queimadura em primeiro grau." r, Nas suas razões recursais (fls. 70/76), 9 apelante suscitou, em preliminar, a nulidade do feito, a partir do recebimento da denúncia, em razão de não ter o magistrado a quo designado a audiência preliminar a que refere o art. 16 da Lei /2006. No mérito, aduzjem síntese, que não há provas suficientes para embasar a condenação, razáb pela qual requer seja acothida a preliminar suscitada, "para fins de declare nulo o processo a partir do recebimento da denúncia" (fl. 76), ou, alternativamente, o provimento do recurso "para fins de absolvição por ausência de krovas hábeis a embasar o édito condenatário" (f 1. 76). A parte adversa apresentou contra-razões às fls. 79/82, pugnando pelo provimento do recurso, "a fim de que seja iilecretada a nulidade do processo, a partir do recebimento da denúncia" (fl. 82). Ouvida, manifestou-se a douta Procuradoria de Justiça, em parecer de fls. 86/87, pelo acolhimento da preliminar suscitada. No mérito, opinou pelo desprovimento do recurso. PoP(.

3 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA Gabinete do Desémbargador Joás de Brito Pereira Filho Aptrim É o relatório. V O T O: O EXMO. DESEMBARGADOR JOÁS DE BRITO PEREIRA FILHO curso. Preenchidos os pressupostos de admissibilidade, conheço do re- O réu foi denunciado e condenado à pena definitiva de 2 (dois) anos de detenção, a ser cumprida em regime aberto 4 pena corporal substituída por duas restritivas de direito, pela prática dó delito descrito no art. 129, 9 do CPB, por haver provocado, em sua companheira, as lesões corporais descritas no laudo de fl. 12. Insatisfeito com o teor do decisum cononatório apelou, suscitando, nas suas razões recursais (fls. 70/76) uma preliminar de nulidade absoluta do processo, a partir do recebimento da denúncia, por não ter sido designada a audiência preliminar mencionada no art. 16 da' Lei /2006. No mérito, menciona que não há provaskuficientes para ensejar a condenação, razão pela qual postula a absolvição.. A preliminar deve ser acolhida. É que o crime praticado pelo apelante violência doméstica (art. 129, 9 do Código Penal) foi acrescido ao estatuto penal pela Lei /2006 (Lei Maria da Penha), que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. A referida norma estabelece rito óróprio, para as ações que visem à apuração dos delitos nela descritos, devendo o julgador, ao dirigir o feito; observar atentamente o procedimento previsto, sob pena de nulidade. Tal procedimento, in casu, não foi obse0' ado. ris: O art. 16 do reportado diploma dispõe dá seguinte forma, litte- Ari. 16. Nas ações penais públifas condicionadas à representação da ofendida de que tráta esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada coip tal finalidade, antes do 3

4 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA Gabinete do Desembargador Joãs de Brito P64"eira Filho Ap'Çrim /001 recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público. Exige-se, pois, que, antes de recebida a 1 denúncia, seja designada audiência para fins de oportunizar a renúncia à rekesentação pela ofendida. Referida audiência, traduz, pois, verdadeira condição de procedibilidade, requisito para o desenvolvimento válido da persecutio criminis, como bem alertou o Procurador de Justiça subscritor do parecer de fls. 86/87, litteris: "Com efeito, com a ausênqo da audiência preliminar a peça inaugural não podia ser apreciada, por falta de procedibilidade." (ft. 87). No caso dos autos, vê-se que a inicial acusatória foi recebida em , consoante decisão de fl. 29, sem que terha sido designado o ato solene, o que, inexoravelmente, gera a nulidade do Rrocesso desde o recebimento da denúncia, consoante entendimentos jurisprudenciais adiante transcritos: "(...) 1. O Magistrado poderá designar audiência, ocasião em que será facultada a manifestação da vítima. A solenidade é exigência da novel legislsão e devem estar presentes o Juiz e o Ministério Público para perceber e - coibir eventual vício de vontade. 2. Coóstitui cerceamento de defesa o recebimento da denúncia em a oitiva da vítima presente em audiência marcada especialmente para confirmar o interesse no prosseguimento dó feito. 3. Ordem concedida para reconhecer a nulidade dó recebimento da denúncia e determinar seja designada nov;á audiência para oitiva da ofendida."(tjdft HBC, Rel. SANDRA DE SANTIS, 1' T. Crim., DJ 08/04/2008 p. 111). "(...) A Lei Maria da'penha não etirou a faculdade de representação da ofendida, nem transformou a ação penal em incondicionada uma vez que o artigo 16 da Lei /06 faculta a renúncia à representação da vítima. - Nas ações penais públicas condicionadas à representação o juiz deve designar audiência específica com a finalidade de que a vítima ratifique ou retifique a retratação da representação que oferecera na fase; de inquérito policial sob pena de nulidade do feito." (TJMG. ApCrim (1). Rei: PEDRO VERGARA. Publ. 21/07/2010). 4

5 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAiBA Gabinete do Desembargador Joãs de Brito Pekira Filho ApGrim /001 "(...) A Lei Maria da Penha não retirou a faculdade de representação da ofendida, nem transformou a ação penal em incondicionada, uma vez que o artigo 16 da Lei /06 faculta a renúncia à. 1! representação da vitima desde que na presença do Magistrado em audiência designada para tal finalidade. (...)." (TJRS. ApCrim , 3 3 C. Crim., Rel.: Elba Aparecida Nicotli Bastos, Julgado em 11/03/2010). "(...) Nos termos do art. 16 da. Lei Maria da Penha, nas ações penais públicas condicioáadas à representação da ofendida, em que eventual renúrkia somente poderá se dar previamente ao recebimento da tienúncia, a designação de' AUDIÊNCIA para oitiva da vítima,pantes do inicio do processo criminal, constitui condição sitie qua non de procedibilidade, porquanto é nesta oportunklade em que o magistrado poderá aferir a verdadeira intenção da ofendida, advertindo-a das eventuais consequênci0 decorrentes da instauração da 'ação PENAL." (TJSC. Aptrim , Rel. Salete Silva Sommariva. 22/06/2009). Eis o entendimento consolidado pelo STJ: "(...) 3. Admitida a representaçãp, é indispensável a designação da audiência do art. 16 dá Lei /06, porquanto eventual retratação somente pock ocorrer perante o Juiz. 4. Ordem parcialmente concedi a para anular o processo desde o recebimento da denúnci:, para que seja designada a audiência prevista no art. 16 ca? Lei /06." (STJ. HC /ES. Rel. Min. NAPOLEÃOit i J NUNES MAIA FILHO. 5a T. Publ. DJe 28/06/2010). Assim, ACOLHO A PRELIMINAR suscitada para decretar a nulidade do processo desde o recebimento da denuncia, por iripbservância da regra cogente inserta no art. 16 da Lei /06, deixando, por conseguinte, de apreciar o mérito do recurso interposto. É como voto. Presidiu o julgamento o Excelentissim - Senho'r. Desembargador Leôncio Teixeira Câmara, e dele participaram os xcelentíssimos Senhores Desembargadores Joás de Brito Pereira Filho (Relator), Arnábio Alves Teodásio e João Benedito da Silva. 5

6 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAIBA Gabinete do Desembargador Joás de Brito Peiteira Filho Aptrim /001 SALA DE SESSÕES "DES. M. TAIGY DE 'QUEIROZ MELO FILHO" DA CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DAI PARAÍBA, em João Pessoa, Capital, aos 25 (vinte e cinco) dias do mês de janeiro do ano de Desembargador Joits Brito Pereira Filho - RE TOR'- 6

7 FR2UNAL DE JUST:C;" Coordenador -ia judiciária Registrado