PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA Gabinete do Desembargador Joás de Brito Pereira Filho

Transcrição

1 r PODER JUDICIÁRIO APELAÇÃO CRIMINAL N / 001 CAPITAL Relator : Desembargador Joás de Brito Pereira Filho Apelante : Francicleide Nóbrega Pereira (Adv. Edmilson Siqueira Paiva) Apelada : A Justiça Pública PENAL E PROCESSO PENAL Denúncia Tráfico de entorpecentes Materialidade e autoria comprovadas Condenação Inconformismo Pretendida absolvição por insuficiência de provas Inadmissibilidade Acervo probatório concludente Presença dos elementos caracterizadores do crime de tráfico de drogas Manutenção da sentença Desprovimento do recurso. Se as circunstâncias da prisão, a apreensão de considerável quantidade de entorpecente, a conduta do sujeito ativo e os depoimentos das testemunhas denotam a comercialização clandestina, correta a condenação pelo crime de tráfico ilícito de entorpecente, não havendo que se falar em insuficiência de provas. Provadas, quantum satis, a autoria e materialidade da conduta delituosa, não há cogitar-se de pretensa absolvição. Apelo desprovido. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de apelação criminal, acima identificados: ACORDA a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, em negar provimento ao apelo. RELATÓRIO Cuida-se de recurso de apelação criminal interposto por FRANCI- CLEIDE NÓBREGA PEREIRA, atacando os termos da sentença de fls. 143/161, proferida pela MM. Juíza de Direito da 8 Vara Criminal da comarca da Capital, que a condenou, pela prática do crime descrito no art. 33, 4 da Lei /2006, à pena definitiva de 4 (quatro) anos de reclusão, a ser cumprida no regime inicial fechado e mais 346 (trezentos e quarenta e seis) dias-multa, à base de 1/30 (um 704

2 trigésimo) do salário mínimo vigente à época do crime, em razão dos fatos assim narrados na denúncia: "No dia , às 21:30 horas, por trás do Restaurante Bahamas, na Praia de nimbai], nesta Capital, Policiais Militares efetuaram as prisões de Laércio Ribeiro Muniz e Francicleide Nábrega Pereira, por tráfico de drogas. A Policia Militar do serviço de inteligência da 4 CIA recebeu a informação de que havia um casal vendendo drogas por trás do Bahamas, na Praia de Tambaú. Os Policiais foram até o local e ficaram observando o movimento. Várias pessoas entravam e saiam do local indicado. Resolveram, então, abordar o casal. Lciercio estava com doze papelotes de maconha e Francicleide com vinte pedras de 'cmck'. O auto de apreensão de fls. 13 contém a descrição do material apreendido, referente a 14 (quatorze) papelotes de maconha, 20 (vinte) pedras de 'crack', a quantia de R$ 52,00 (cinqüenta e dois reais) em espécie e um celular. O Laudo de Constatação n , às fls. 15, contém a quantidade de 3,38g (três gramas e trinta e oito centigramas), da substância entorpecente periciada como cocaína, de uso proscrito no Brasil, conforme a legislação complementar à Lei de Drogas. O Laudo de Constatação n , às fls. 16, contém a quantidade de 8,68g (oito gramas e sessenta e oito centigramas), da substância entorpecente periciada como cannabis sativa linneu, a maconha." (fls. 03/04). ' A sentença transitou em julgado para o réu Laércio Ribeiro Muniz, consoante certidão de fls Em suas razões recursais (fls. 170/176), aduz a apelante, em suma, que "não existem provas que apontem a ora recorrente como autora do delito em tela" (fl. 175). Postula, ao final, o provimento do recurso, com a consequente reforma da sentença, para o fim de ser absolvida das imputações que lhes são dirigidas. Contra-razões pela parte adversa às fls. 179/180, pugnando pela subsistência da sentença censurada. A douta Procuradoria de Justiça, em parecer de fls. 193/196, manifestou-se peto desprovimento do recurso. 2

3 É o relatório. V O T O: O EXMO. DESEMBARGADOR JOÁS DE BRITO PEREIRA FILHO 50. Preenchidos os pressupostos de admissibilidade, conheço do recur- A apelante foi condenada pela prática da infração penal descrita no art. 33, 5 4 da Lei /2006, à pena definitiva de 4 (quatro) anos de reclusão, a ser cumprida inicialmente em regime fechado, e mais 346 (trezentos e quarenta e seis) dias-multa. Aduz que a prova é frágil, e "que o Juiz não pode fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos colhidos na investigação" (fl. 174). A despeito do que afirma a defesa, na minha ótica, restou fartamente comprovada a materialidade do delito descrito no art. 33, 5 4 da Lei /2006 ex vi do auto de aresentação e apreensão de fls. 17 e dos laudos de constatação de fls. 19 e 20 e definitivos de fls. 99/101 e 102/105, cuja autoria aponta, estreme de dúvidas, para a apelante. A princípio, diga-se que a ré e seu comparsa foram capturados em situação ftagranciat, de posse de 14 (catorze) papetotes de maconha, 20 (vinte) pedras de crack e mais R$ 52,00 (cinqüenta e dois reais), o que, por si só, é suficiente para comprovar a autoria do delito cometido. Não bastasse isso, a prova oral colhida em juízo, somada aos demais indícios constantes do caderno processual, constitui elemento suficiente para comprovar que a acusada traficava drogas no local do flagrante, bem como que as substâncias apreendidas em seu poder se destinavam, efetivamente, à comercialização. Vejamos os trechos de alguns dos depoimentos colhidos no curso da instrução processual: "(...) Que, doze papelotes de maconha foram encontrados nas vestes do acusado Laércio; Que, as vinte pedras de crack foram encontradas na mão da acusada; Que, durante a campana, eles não foram vistos fumando maconha ou crack; Que eles foram vistos comercializando e não fumando; (...)." (testemunha João dos Santos Barbosa - fl. 117). "(...) Que, não recorda de ter encontrado papelotes de maconha em poder da acusada, porém encontrou em poder dela cerca de vinte pedras de crack; (...)." (testemunha Ednilson 3

4 Pereira Macial - fl. 118). Os depoimentos acima transcritos são coerentes, precisos e suficientes para comprovar que a apelante cometeu o delito que lhe é imputado. E, como se sabe, no crime de tráfico, a palavra dos policiais condutores do flagrante assumem especial relevância, mormente pelo fato de não haver justificativas para se admitir que estes tenham incriminado injustamente o réu. Nesse sentido, é a jurisprudência pátria. Litteris: "(...) Confere-se credibilidade ao depoimento dos policiais condutores do flagrante em que foram apreendidos quase quatro quilogramas de maconha e "merla". Embora negando a autoria do tráfico de entorpecentes, os réus não apresentaram motivos que pudessem levar os agentes do Estado à deliberada e injustificada incriminação. (... )." (TJDFT A- PR, Rel. GEORGE LOPES LEITE, 1' T. Crim, DJ 16/06/2008 p. 130). "(...) Os depoimentos dos milicianos, se revestidos de idoneidade, merecem ser acolhidos, pois a mera condição funcional deles não macula, nem mesmo desabona seus relatos. (...)". (TJMG. ApCrim /001(1). Ret. FERNANDO STARLING. Publ. 14/10/2008). A propósito, veja-se como tem decidido o Colendo STJ: "(...) O depoimento de policiais pode servir de referência ao juiz na verificação da materialidade e autoria delitivas, podendo funcionar como meio probatório válido para fundamentar a condenação, mormente quando colhido em juizo, com a observância do contraditório. (...)". (HC /SP. Rel. Min. ARNALDO ESTEVES LIMA. QUINTA TURMA. DJe 03/11/2008). Aliás, a prudência recomenda que, em casos análogos, priorize-se a versão dos policiais que conduziram o flagrante, já que a versão do réu, naturalmente, com raras exceções, é sempre no sentido de negar a prática do delito. Entendo, pois, que a prova constante dos autos, tanto a indiciária quanto aquela colhida em juizo, basta para ensejar a condenação, até porque a apelante foi capturada em flagrante, de posse da droga apreendida, e em situação de comprovada mercancia. Em casos semelhantes, têm decido os nossos tribunais, verbis: 4

5 "(...) É suficiente e apto a gerar condenação um conjunto probatório em que concorrem o auto de prisão em flagrante, a apreensão de razoável quantidade de droga, bem como os depoimentos dos policiais que participaram da diligência. (TJDFT APR, Rel. EDSON ALFREDO SMANIOT- TO, i a T. Criminal, DJ 03/03/2009 p. 89). "(...) Quando suficientemente demonstradas tanto a propriedade quanto a destinação que seria dada à droga apreendida, fica comprovado o delito de TRÁFICO de drogas. (...)." (TJMG. ApCrim /001(1). Rel. DELMIVAL DE ALMEI- DA CAMPOS. Publ. 19/12/2008). Inobstante as alegações da defesa, é evidente que não se pode negar a condição de traficante a quem tem apreendida em seu poder expressiva quantidade de droga (14 papelotes de maconha e 20 pedras de crack, segundo o auto de apreensão de fls. 17), como in casu, sem que seja capaz de apresentar qualquer justificativa plausível para o fato, limitando-se a narrar versão falaciosa, que não foi capaz de provar. Não fosse o bastante, é de se dizer que a própria apelante, quando ouvida perante a autoridade policial (fl. 11), admitiu que comercializava drogas. Vejamos: "É viciada em 'crack' e 'maconha' há aproximadamente 01 (um) ano, sendo que quando precisa de dinheiro vende as (sic) algumas pedras de 'crack'; (...); QUE diz a interrogada que compras as referidas drogas de um indivíduo conhecido por 'CAR- LOS', morador da cidade de Natal-RN; QUE diz a interrogada que as drogas são recebidas em uma praia de Natal, não sabendo informar o nome nem o endereço de 'CARLOS"; QUE diz a interrogada que compra a pedra de crack na cidade de Natal-RN porque lá é mais barato, saindo para a interrogada no valor de RS 4,00 (quatro) reais enquanto que na cidade de João Pessoa é adquirida pelo valor de R$ 10,00 (dez) reais; QUE diz a interrogada que no dia de hoje (24/04/2009), afirma a interrogada que foi até a Praia de Tambaú e lá vendeu 03 (três) pedras de 'crack'; QUE diz a interrogada que levou para a praia de Tambaú 23 (vinte e três) pedras de 'crack' e 04 (quatro) papelotes de 'maconha'; (...)." Portanto, não vejo como admitir a tese de insuficiência de provas suscitada pela defesa. Sobretudo, pelo fato de que a condenação teve como fundamento o farto conjunto probatório colhido na esfera judicial. Assim, e por tudo que fora exposto, não vejo razões para reformar 9"/Pg 5

6 a decisão hostilizada, razão pela qual NEGO PROVIMENTO ao apelo, em harmonia como parecer ministerial. É como voto. Presidiu o julgamento o Excelentíssimo Senhor Desembargador Leôncio Teixeira Câmara, sem voto, e dele participaram os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Joás de Brito Pereira Filho (Relator), Arnóbio Alves Teodósio e João Benedito da Silva. SALA DE SESSÕES "DES. M. TAIGY DE QUEIROZ MELO FILHO" DA CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA PARAÍBA, em João Pessoa, Capital, ao 1 (primeiro) dia do mês de março do ano de Desembargador Joá - RELA O R - Feira Filho 6

7 TRIBUNAL DE JUSTIÇA Coordenadorp, Judiciária) Registrado em 0i