CURSO DE ECOLOGIA DE PAISAGEM PARA OBSERVADORES DE AVES CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
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- Ana Luiza de Carvalho Bergler
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1 CURSO DE ECOLOGIA DE PAISAGEM PARA OBSERVADORES DE AVES CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Apresentação Como escolher uma área para observar aves? Como saber se a área escolhida trará os resultados esperados? Quais fatores estariam contribuindo para que a(s) espécie(s) alvo(s) esteja(m) ou não presente(s) na área selecionada? Esta e tantas outras dúvidas podem ser respondidas pela Ecologia de Paisagem. A ecologia da paisagem é uma nova área de conhecimento dentro da ecologia, marcada pela existência de duas principais abordagens: uma geográfica, que privilegia o estudo da influência do homem sobre a paisagem e a gestão do território; e outra ecológica, que enfatiza a importância do contexto espacial sobre os processos ecológicos, e a importância destas relações em termos de conservação biológica. Apresentar aos observadores de aves os principais conceitos e ferramentas desta ciência para um melhor entendimento da dinâmica ambiental e ocorrência das espécies, é o objetivo desta proposta. Metodologia O conteúdo teórico será ministrado a partir de aula expositiva, com uso de slides / projetor datashow. Uma apostila com todo o conteúdo ministrado será disponibilizado a todos os participantes em formato de livro digital de nossa autoria, com 96 páginas de conteúdo, imagens e referências bibliográficas (Download). Carga Horária O curso terá a duração de 4 horas (em datas e horários a critério da comissão organizadora) Conteúdo a ser ministrado 1. Introdução. Abordaremos a paisagem como uma unidade heterogênea composta por um complexo de unidades interativas, cuja estrutura pode ser definida pela área, forma e disposição destas unidades. Esse mosaico heterogêneo, composto por ecossistemas, unidades de vegetação ou de uso e ocupação de paisagem é visto pelos olhos do observador de aves, a partir de
2 seus anseios e necessidades. Entretanto esta mesma paisagem, também pode ser vista em sua abordagem ecológica, pelo olhar diferenciado das espécies de aves ou comunidades que nela habita ou a freqüenta, seja pelas suas características biológicas, de suas necessidades em termos de área de vida, alimentação, abrigo e reprodução. A escala e o nível biológico da análise do ambiente dependem do acumulo de informações e da experiência do observador e do objeto de estudo. 2. Feições da paisagem. Na análise da paisagem serão consideradas suas características de estrutura, funcionalidade e dinâmica. Neste contexto, os três elementos espaciais que estruturam uma paisagem são a matriz, os fragmentos (manchas) e corredores. a) Matriz - Serão abordados os componentes de uma matriz: a porosidade, conectividade e a borda. Mostraremos que em locais em que o processo de fragmentação foi significativo, ou seja, onde os ambientes estão alterados, a matriz em geral dificulta os deslocamentos das aves entre as manchas em função de sua permeabilidade e da capacidade de movimentação das espécies. Abordaremos como a travessia de uma área não florestal depende da habilidade de dispersão e do comportamento migratório da espécie em questão, bem como a qualidade da matriz e da distância a ser percorrida para alcançar fragmento adjacente. b) Fragmentos (Manchas) - abordaremos os fragmentos de uma paisagem como aquelas representadas por comunidades vegetais, de superfície não linear, inseridas na matriz e que difere em aparência do seu entorno. Mostraremos que estas manchas podem variar em tamanho, forma, tipo, heterogeneidade e limites (fronteiras). Normalmente estão imersas em uma matriz com estrutura e composição de espécies diferente. São considerados como os menores elementos individuais observáveis na paisagem, de acordo com a escala de detecção e observação. Discutiremos suas origens (antrópicas ou naturais) e seus efeitos com os processos naturais existentes no habitat original. Explicaremos como suas dinâmicas e composição podem influenciar na ocorrência e sobrevivência de espécies que nestas habitam. c) Corredores - Explicaremos como os corredores podem variar de acordo com sua origem, comprimento, largura, grau de conectividade, quantidade de curvas, presença ou não de curso d'água e se está interconectado, formando um mosaico de corredores. Discutiremos as funções presumíveis dos corredores, com destaque: a) Facilitar fluxos hídricos e biológicos na paisagem; b) Reduzir os riscos de extinção local e favorecer as recolonizações (ou o efeito de resgate), aumentando assim a sobrevivência das metapopulações; c) Suplemento de habitat na paisagem; d) Refúgio para a fauna quando ocorrem perturbações; e) Facilitar a propagação de algumas perturbações, tais como o fogo ou certas doenças. Abordaremos os principais tipos de corredores. Apresentaremos os três tipos básicos de corredores: Corredores em Linha, Corredores em Faixa e, Corredores Hídricos.
3 3. Estrutura da paisagem, fragmentação e conectividade. Explicaremos como a estrutura da paisagem interfere na dinâmica de populações de aves e as possibilidades de seus deslocamentos pela paisagem. Mostraremos como a fragmentação da paisagem ocasiona ruptura dos fluxos gênicos entre populações presentes nos habitats, reduzindo e isolando as áreas propícias à sobrevivência das populações, dando origem a extinções, cujos riscos aumentam à medida que o tamanho da população é reduzido. Abordaremos como alguns parâmetros, como o tamanho da área e o isolamento dos fragmentos influenciam a dinâmica de populações de aves. 4. Permeabilidade da matriz e percolação da paisagem. Mostraremos como a permeabilidade da matriz pode influenciar sobre os deslocamentos de algumas espécies de aves na paisagem e como pode influenciar, também, os processos de extinção de populações fragmentadas. Abordaremos como a permeabilidade da matriz pode ser estimada pela densidade de pontos de ligação e pelo grau de resistência das unidades da paisagem aos fluxos biológicos. Para esta compreensão apresentaremos a chamada "Teoria da Percolação" e como ela tem sido aplicada aos estudos da paisagem, possibilitando análises de correlações do tamanho, forma e conectividade dos habitats como percentual de paisagem ocupado por cada tipo de habitat. Mostraremos como a teoria da percolação pode ser muito útil, por exemplo, para avaliação da eficiência de corredores ecológicos. 5. Corredores de Biodiversidade. Abordaremos os corredores de biodiversidade como "corredores ecológicos" - estruturas lineares da paisagem que ligam pelo menos dois fragmentos que originalmente eram conectados. Explicaremos como o aumento da conectividade, por meio dos corredores ecológicos, constitui uma estratégia para reverter o quadro de fragmentação e isolamento de populações de aves e outros grupos. Neste tópico, mostraremos a importância de proteger corredores que unam habitats naturais, que garanta o fluxo gênico entre populações, para restaurar a conectividade entre fragmentos e sua importância para o controle de fluxos hídricos e biológicos na paisagem. Bibliografia consultada ANDREN, H. (1994). Effects of habitat fragmentation on birds and mammals in landscapes with different proportions of suitable habitat - a review. OIKOS 71: BAGUETTE, B. & DYCK, H. V Landscape connectivity and animal behavior: functional grain as a key determinant for dispersal. Landscape Ecology 22:1117:1129.
4 BIERREGAARD, R. O.; JR. LOVEJOY, T. E.: KAPOS, V.; DOS SANTOS, A. A.; HUTCHINGS, R. W. The biological dinamics of tropical rainforest fragments. BioScience, n. 42, p , BRETT, J. G. AND L. FAHRIG (2002). "How does landscape structure influence landscape connectivity?" OIKOS 99: BROOKS, C. P. (2003). "A scalar analysis of landscape connectivity." OIKOS 102:2. CULLEN JR., L.; SCHMNIK, M.; VALLADARES-PADUA, C.; MORATO, I. Agroforesty Benefit zones: a tool for the conservation and management of Atlantic Forest Fragments, São Paulo, Brazil. Natural Areas Journal, Bend, v. 21, n. 4, p , DIAMOND, J. M.; MAY, M. Island Biogeography and the design of natural reserves. In: MAY, R. M. (Ed.). Theoretical ecology: principles and applications. Oxford: Blackwell, 1976, p FAHRIG, L Effects of habitat fragmentation on biodiversity. Annual Review of Ecology and Systematics 34: FONSECA, G. A. B. et. al. Corredores de Biodiversidade: o Corredor da Mata Atlântica. In: SEMINÁRIO SOBRE CORREDORES ECOLÓGICOS NO BRASIL. Brasília, FORMAN, R. T. T. Land Mosaics: the ecology of landscapes and regions. Cambridge: Cambridge Uiniversity Press, FORMAN, R. T. T.; GODRON, M. Landscape ecology. New York: J. Wiley & Sons, p. GASCON, C.; LOVEJOY, T. E.; BIERREGAARD, R. O. JR.; MALCOLM, J. R; STOUFFER, P. C.; VASCONCELOS, H. L.; LAURANCE, W. F.; ZIMMERMAN, B.; TOCHER, M.; BORGES, S. Matrix habitat and species richness in tropical forest remnants. Biological Conservation, n. 91, p , GUSTAFSON, E. J. AND R. H. GARDNER (1996). "The effect of landscape heterogeneity on the probability of patch colonization'." Ecology 77(1): HADDAD, N. M. Corridor and distance effects on interpatch movements: a landscape experiment with butterflies. Ecological Applications, Tempe, v. 9, MACARTHUR, R. H.; WILSON, E. O. The Teory of Island Biogeography. New Jersey: Princenton University Press, 1967.
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