Homenagem a Ana Maria Rodrigues. Cidália Lopes 28 de abril de 2018
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1 Homenagem a Ana Maria Rodrigues Cidália Lopes 28 de abril de 2018
2 O regime especial dos ativos por impostos diferidos em Portugal: algumas reflexões
3 SUMÁRIO I Impostos diferidos: conceito II Impostos diferidos e o setor da banca III Impostos diferidos e as novas regras de capital regulamentar na banca IV Regime especial dos ativos por impostos diferidos: que balanço e que futuro da fiscalidade diferida?
4 I Impostos diferidos: considerações gerais Contabilidade e Fiscalidade têm OBJETIVOS DIFERENTES A contabilidade é um sistema de informação financeira que se destina a um conjunto diverso de utilizadores (Estado, investidores, fornecedores, clientes, público em geral) A fiscalidade procura, antes de mais, a obtenção de receitas fiscais (art.º 103.º CRP e art.º 5.º LGT) Divergências entre o resultado contabilístico e fiscal DIFERIDOS IMPOSTOS
5 I Impostos diferidos: considerações gerais Na determinação do lucro tributável existem diferentes modelos: Modelo da dependência (One System Book) Modelo de independência ou autonomia (Two System Book) Modelo de dependência parcial Sampaio, 2000; Tavares, 1999; Schanz et. Al. 2010
6 I Impostos diferidos Na determinação do lucro tributável Portugal adotou: Modelo de dependência parcial cf. art.º 17.º do CIRC Art.º 17.º do CIRC estipula ainda que: A contabilidade deve estar organizada de acordo com o SNC e outras disposições específicas de cada setor de atividade
7 I Impostos diferidos A contabilização dos impostos diferidos encontra-se na IAS 12/NCRF 25 e evidencia: Diferenças temporárias operações que se originam num determinado período e revertem noutro mais adiante, originando uma antecipação ou um diferimento de imposto (ativo e passivo por imposto diferido); Diferenças permanentes operações que originam diferenças irreconciliáveis entre a contabilidade e a fiscalidade, não revertem em períodos futuros, não originando impostos diferidos. Exemplo: multas, coimas, majoração donativos, entre outros.
8 I Impostos diferidos A IAS 12/ NCRF 25 evidencia: Ativos por impostos diferidos operações que originam tributação no período corrente e são dedutíveis em lucros de períodos futuros; Passivos por impostos diferidos exigências fiscais, a tributação seja diferida para períodos futuros. operações que, por
9 I Impostos diferidos: alguns exemplos de diferenças temporárias Ativos por impostos diferidos Reportes de prejuízos fiscais Perdas por imparidade não aceites fiscalmente Passivos por impostos diferidos Revalorização dos ativos Ajustamentos do MEP Depreciações do período não aceites fiscalmente
10 I Impostos diferidos e diferenças temporárias dedutíveis Diferenças temporárias dedutíveis Segundo a IAS 12/NCFR 25 é reconhecido um ativo por imposto diferido na percentagem do imposto pelo valor não aceite na fiscalidade. Taxa de imposto de IR (Taxa Nominal (21%) + Derrama (1,5% + 7%) Ativo por imposto diferido NÃO GARANTIDO- a diferença temporária origina-se num período e reverte-se em períodos seguintes
11 I Impostos diferidos e reportes de prejuízos fiscais Regimes de reportes de prejuízos fiscais Segundo a IAS 12/NCRF 25 é teoricamente mais correto considerar no período em que ocorra o prejuízo fiscal o ativo por imposto diferido correspondente ao direito à sua compensação. Ativo por imposto diferido NÃO GARANTIDO (depende de rendibilidade futura, ié, de lucros tributáveis futuros)
12 II Impostos diferidos no setor da banca: ranking de ativos no balanço Ativo BCP BPI Santander CGD NOVO BANCO Crédito clientes Aplicações financeiras Disponibilidades , Ativos por impostos diferidos (em milhões de Euros) , Total Ativo , Crédito clientes/ativo 69% 59,6% 63,8% 66,7% 55% Fonte: Relatórios Contas, 2015
13 II Ativos por impostos diferidos no setor da banca Ativo BCP BPI Santander CGD NOVO BANCO Ativos por impostos diferidos (em milhões de Euros) , Total Ativo , AID/Ativo 3,4% 1,0% 0,8% 1,64% 4,5% Fonte: Relatórios Contas, 2016 Determinantes dos ativos por impostos diferidos
14 II Impostos diferidos no setor da banca e as imparidades Regime das perdas por imparidade de acordo com a natureza dos ativos ATIVOS NÃO FINANCEIROS ATIVOS FINANCEIROS Normativo aplicável IAS 36/NCRF 12 Perdas por imparidade IAS 39/IFRS 9/NCRF 27 Instrumentos financeiros
15 II Impostos diferidos e imparidades em ativos financeiros Conceito de imparidade aplica-se a todas as categorias de ativos A forma como é encarada a presença de imparidade depende da natureza do ativo em causa; Nos ativos financeiros, há que atender às especificidades de cada ativo; No caso do CRÉDITO A CLIENTES, se um banco tiver indícios de que não vai pagar um cliente deve reconhecer uma PERDA POR IMPARIDADE (IAS 39 Perda incorrida); A partir de janeiro de 2018, com a introdução de IFRS 9 Perdas por imparidade altera-se o paradigma de perda incorrida para perda esperada.
16 II Impostos diferidos, imparidades em ativos financeiros e regime fiscal Regime fiscal das perdas por imparidade (CIRC e Avisos do Banco de Portugal) Gasto fiscal art.º 23.º n.º 2 h) do CIRC e do arts. 28.º A e C do CIRC FASE 1: Art. 33.º d) CIRC: receção automática das regras e dos limites das entidades de supervisão Aviso n.º 3/95. Despacho SEAF FASE 2: Excluiu-se as provisões para riscos gerais de crédito; Aviso n.º 3/95
17 II Impostos diferidos, imparidades em ativos financeiros e regime fiscal FASE 3: A introdução das NCA determinou a revisão do Aviso 3/95, feita através do Aviso 3/2005, passando o conceito de provisões a abranger imparidades e correções de valor, e a incluir imparidades em títulos em outras instituições de crédito, participações financeiras e em ativos não não financeiros. Aditamento de um novo artigo 35.º A Provisões específicas do setor bancário e segurador. FASE 4: 2015 e ss. Na sequência do Reg. Europeu 575/2013, as entidades bancárias sujeitas a supervisão do BdP passam a ser obrigadas a calcular as imparidades de acordo com as IAS/IFRS; revogação do Aviso 3/95 e Aviso 3/2005, os quais eram a base do art.º 28.º C n.º 2 do CIRC.
18 II Impostos diferidos, imparidades em ativos financeiros e regime fiscal Regime fiscal das perdas por imparidade (CIRC e Avisos do Banco de Portugal) O DR 5/2016 visa aplicar o regime fiscal das perdas por imparidade para risco de crédito aplicável em Desta forma é prorrogado para efeitos fiscais o enquadramento que decorre do Aviso 3/95 e consagra-se igualmente um regime transitório sobre a anulação ou redução de perdas por imparidade no ano 2016.
19 II Impostos diferidos e reportes de prejuízos fiscais Regime de reporte de prejuízos fiscais em Portugal evolução histórica ANO PRAZO DE REPORTE LIMITE FISCAL Certificação ROC % Lucro tributável % Lucro tributável % Lucro tributável
20 I Impostos diferidos e reportes de prejuízos fiscais Chludek (2011) Vários Regimes de reportes de prejuízos fiscais em Portugal (6 regimes diferentes) Complexidade legislativa Diferentes stocks de ativos por impostos diferidos (6 regimes diferentes de stocks ativos)
21 III Impostos diferidos e novas regras de cálculo do capital regulamentar no setor bancário Comité de Basileia III e Regulamento 575/2013 Capital regulamentar (CRR CRD IV) e fundos próprios Capital regulamentar = Tier 1 (Common equity + additional going capital (AT1)) + Tier 2 Rácios de liquidez e alavancagem Buffers de capital
22 III Definição de Fundos Próprios (capital regulamentar) Fundos próprios principais de nível 1 Common equity Tier 1 + Instrumentos elegíveis como CET 1 -Ajustamentos prudenciais a CET 1 (generalidade dos ajustamentos Fundos próprios adicionais de nível 1 Additional Tier 1 capital + Instrumentos elegíveis como AT 1 -Ajustamentos prudenciais a AT1 Fundos próprios de nível 2 Tier 2 capital + Instrumentos elegíveis como T2 -Ajustamentos prudenciais a T2
23 III Deduções aos fundos próprios (aplicáveis de modo gradual de 2014 a 2018) Perdas para o exercício em curso; Ativos intangíveis; Ativos por impostos diferidos que dependem de rentabilidade futura (limite de isenção); Ativos associados a benefícios de fundos de pensões das instituições; Diferença entre EL e imparidade (método IRB); Participações diretas e indiretas nos seus instrumentos CET 1; Participações em instrumentos CET 1 de entidades relevantes que constituam um investimento significativo (> 10%) nessas entidades (limite de isenção) ou com a qual detém participações cruzadas; Participações qualificadas fora do domínio financeiro (que não ponderadas a 1250%); Imposto relativo a capitais acionistas previsível no momento do respetivo cálculo.
24 III Definição de Capital Regulamentar e Buffers transitórios (em percentagem) Rácios de capital Mínimo Common Equity Capital Ratio 4,5 4,5 4,5 4,5 4,5 Capital Conservation Buffer - 0,625 1,25 1,875 2,5 Mínimo Common Equity + capital conservation buffer Phase-in das deduções ao Common equity Tier 1 4,5 5,125 5,75 6,375 7, Mínimo Tier 1 ratio 6,0 6,0 6,0 6,9 6,0 Mínimo total capital ratio 8,0 8,0 8,0 8,0 8,0 Mínimo total capital ratio + capital conservation buffer Instrumentos de capital que deixam de ser elegíveis para additional going concern capital (Tier 1) e para Tier 2 8,0 8,625 9,25 9,875 10,5 Phased out por um período de 10 anos com inicio em 1 de Janeiro de 2013
25 III Rácios de capital regulamentar Tier 1 (CIV/CRR) do setor bancário em Portugal em 2016 Bancos BCP BPI Santander CGD Novo Banco CET 1 phased - in 12,4 11,1 15,1 10,8 9,5% CET 1 fully - implemented 9,7 10,0 13,3 9,6 Relatórios de contas, 2016
26 IV Impostos diferidos ativos, o setor da banca e as necessidades de capital regulamentar: algumas evidências empíricas País Ano Autor Principais resultados Japão 2008 Skinner AID foram essenciais para cumprirem com rácios capital Tier 1 Brasil 2012 Junqueira e Nakao AID foram cruciais para atingir o nível capital exigido acordo Basileia Portugal 2015 Durabile A desconsideração dos AID afeta o cumprimento das exigências mínimas dos rácios capital Tier 1 Portugal 2015 Rodrigues Os investidores atribuem valor relevante aos AID
27 IV Impostos diferidos, o setor da banca e o regime especial O regime especial dos ativos por impostos diferidos foi introduzido pela Lei n.º 61/2014, de 26 de agosto e alterado pela Lei n.º 23/2016, de 19 de agosto; Com o objetivo de reduzir as necessidades de capitalização das instituições financeiras, à semelhança dos existentes em Itália, Espanha e Grécia; O regime especial dos ativos por impostos diferidos era um REGIME DE OPÇÃO; Aplicava-se à generalidade das sociedades financeiras e não financeiras, sob pena de ser considerado um auxilio de estado art. 107.º do TFUE;
28 IV O Regime especial dos impostos diferidos no setor bancário Lei n.º 61/2014, de 2 de agosto Este regime apenas é aplicável a gastos e variações patrimoniais negativas que se verifiquem após 1 de Janeiro de 2015, bem como aos ativos que se encontrem nas contas anuais relativas ao último período de tributação de 2014; Este regime é aplicável a AID que tenham resultado da não dedução de gastos e variações patrimoniais negativas com perdas por imparidade em créditos e com benefícios pós emprego ou a longo prazo de empregados; A recuperação dos AID abrangidos pelo regime especial não estão dependentes de lucros futuros (AID GARANTIDOS)
29 II Composição dos ativos por impostos diferidos no setor bancário em Portugal (em milhões de Euros) Ativo por imposto diferido BCP BPI Santander CGD NOVO BANCO NÃO DEPENDENTES DE RENDIBILIDADE FUTURA * (protegidos pelo regime especial AID Lei 61/2014) Provisões e imparidades 940,45 307, ,4 Benefícios a empregados 767, ,7 DEPENDENTES DE RENDIBILIDADE FUTURA Prejuízos fiscais 318,49 103,6-206, Perdas por imparidade 928,64 Benefícios a empregados 60,08 (...) (...) Total AID , Fonte: Relatórios Contas, 2016
30 IV O Regime especial dos ativos impostos diferidos no setor bancário Os AID podem ser convertidos em crédito tributário, no caso do sujeito passivo registar um resultado líquido negativo nas contas individuais (% RLP/CPP); Conversão dos AID em créditos tributários, podendo compensar dividas fiscais futuras; Ao atribuir direitos de conversão ao Estado, torna possível este último tornar-se acionista; Os supervisores (BCE) apenas aceitam a conversão dos AID com a cobertura do Estado e este cobre a sua responsabilidade com a possibilidade de conversão dos créditos em capital.
31 IV O Regime especial dos ativos por impostos diferidos no setor bancário Caraterização do Regime Especial AID (art. 6.º Lei 61/2014) AID Créditos tributários Reserva, majorada em 10% Enquadramento legal: Portaria n.º 259/2016, 4/10; Portaria 293-A/2016, 18/11; Portaria 272/2017, 13/09 DR n.º 11/2017, 29/12 Incorporada em Capital Social
32 IV O Regime especial dos ativos por impostos diferidos no setor bancário Caraterização do Regime Especial AID (art.º. 6.º Lei 61/2014) A constituição da reserva especial implica a emissão simultânea de valores mobiliários (DIREITOS DE CONVERSÃO) a favor do Estado, em numero correspondente que conferem ao seu titular o direito de exigir ao sujeito passivo o respetivo AUMENTO DE CAPITAL através da incorporação do montante de reserva especial e consequente entrega e emissão de ações representativas do capital da entidade.
33 IV O Regime especial dos ativos por impostos diferidos no setor bancário Caraterização do Regime Especial AID (art.º. 6.º Lei 61/2014) Os acionistas à data da constituição dos direitos de conversão atribuídos ao Estado têm o direito potestativo de adquirir os direitos de conversão ao Estado na proporção das respetivas participações no capital do sujeito passivo; O montante de AID convertidos em crédito tributário, a constituição de reserva e a emissão ao Estado dos direitos de conversão devem ser certificados por um ROC;
34 IV O Regime especial dos ativos por impostos diferidos no setor bancário: vantagens e desvantagens Vantagens e desvantagens Regime Especial Fiscal AID (art.º. 6.º Lei 61/2014) O regime AID resolve o cumprimento dos requisitos de capital, porém dado que é o Estado que segura os créditos tributários pode afetar a sustentabilidade orçamental do Estado; IFRS 9 Perdas por imparidade passa a apurar as perdas por imparidade de acordo com o modelo de perdas esperadas e não perdas incorridas, o que pode originar um aumento da fiscalidade diferida;
35 IV O Regime especial dos ativos por impostos diferidos no setor bancário: vantagens e desvantagens Este regime era suscetível de aumentar as ligações entre o Estado e o setor privado, o que pode dificultar a entrada de novos investidores e de possíveis aumentos de capital; Porém, não podemos deixar de referir que este regime constituiu uma forma de assegurar a competitividade dos bancos portugueses em relação aos bancos do norte da europa, onde as normas contabilísticas e fiscais convergem level playing field entre entidades do setor bancário europeu; Foram introduzidos regimes semelhantes a este em Espanha, Grécia e Itália;
36 Regimes especiais dos AID: Portugal, Espanha e Itália Espanha (2013) Conversão AID em obrigações do Estado Lei OE2016 altera REAID e introduz regime transitório fee ao Estado AID gerados a partir 2016 são elegíveis apenas até concorrência do IR pago nesse ano. Caso o valor dos AID seja superior, a diferença pode ser usada para tornar elegíveis os AID gerados no ano anterior ou nos anos seguintes; período de 18 anos para converter os AID em obrigações Estado; AID gerados antes 2016 os AID gerados antes continuam a ser garantidos mas os bancos têm de pagar um fee de 1,5% ao Estado (AID-IR pago) para os AID ; para os AID antes de 2008, não têm de pagar fee. Itália (2013) Conversão AID em obrigações do Estado Lei OE2016 altera REAID e introduz regime transitório fee ao Estado DL 83/2015 são elegíveis apenas até 75% do write-offs/write-downs, sendo os restantes 25% deduzidos em 10 anos; DL 83/2015 AID 2015 resultantes de intangíveis e goodwill não podem ser convertidos em créditos fiscais; DL 59/2016 os AID gerados a partir de 2015 continuam a ser elegiveis mas os bancos têm de pagar um fee de 1,5% ao Estado (AID-IR pago).
37 V Os ativos por impostos diferidos no setor bancário: necessidade de regime especial ou regime geral? 1. Em Portugal, a partir de 1 de janeiro de 2016, o regime especial dos AID deixou de aplicar-se; 2. Anteprojeto proposta lei Regime fiscal das perdas por imparidade para o setor bancário: i) dotações anuais de imparidade crédito da análise individual são dedutíveis a 100%; ii) dotações anuais de imparidade crédito da análise coletiva são dedutíveis a 75%; iii) Saldo das perdas por imparidade a 31 dezembro de 2016 é aceite fiscalmente 15 anos; 4. AID: futuro? Necessidade de regime especial ou regime geral?
38 Tributo a Ana Maria Rodrigues O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis. Fernando Pessoa
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