GT1: LAZER, ESPORTE E SOCIEDADE
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- Moisés Beltrão Gameiro
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1 GT1: LAZER, ESPORTE E SOCIEDADE O PERFIL SÓCIO-PROFISSIONAL DOS PRESIDENTES DOS CLUBES ALOCADOS NA SÉRIE A DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE FUTEBOL ( ) Gustavo Miguel Soares de Freitas (UEPG); gumiguel98@hotmail.com Alexsandro Junior Machado (UEPG); alemarx18@gmail.com Bruno José Gabriel (UEPG); brunogabriel_uepg@hotmail.com Miguel Archanjo de Freitas Junior (UEPG); mfreitasjr@uepg.br TEMÁTICA: FUTEBOL E SOCIEDADE RESUMO: O objetivo deste estudo foi identificar o perfil socioprofissional dos presidentes dos clubes alocados na série A do Campeonato Brasileiro de Futebol masculino, entre os anos de 1987 e Para tanto, optou-se pela utilização dos desígnios da frequência de aparição e dos seus respectivos percentuais na tabulação dos nomes, dos gêneros e das profissões dos presidentes levantados. Diante da análise dos resultados, concluiu-se que tal cargo tem predominância masculina (99,1%), no qual a maioria dos agentes estão ligados a empresas (mais de 50%). Palavras chave: Futebol; presidentes; tipologia; perfil socioprofissional; administração. 1. INTRODUÇÃO É inegável a elevada significância cultural que o futebol adquiriu no Brasil no decorrer do século XX. Apesar de caracterizar-se inicialmente como uma modalidade elitizada, a partir de meados da década de 1920, esta se popularizou de tal forma tornando-se o esporte nacional. (RIBEIRO, 2003; DAOLIO, 2006). Por conseguinte a este status, também adquiriu, progressivamente, significância econômica. (RINALDI, 2000). As significâncias supracitadas podem ser comprovadas pelas movimentações financeiras vultuosas 1 relacionadas ao campo futebolístico brasileiro, pela presença significativa do futebol nas diversas plataformas dos veículos comunicacionais - canais televisivos, jornais, revistas e sites de internet. Mesmo apresentando estas características, este esporte e as suas interfaces tornaram-se objeto de estudos teóricos e aplicados nos campos acadêmicos/científicos das Ciências Humanas e Sociais (o antropológico, o histórico e o sociológico, entre outros) subsequente a outras temáticas consideradas clássicas. A título de exemplificação, o trabalho. (DUNNING, 1992). 1 Para aprofundamentos acerca das relações entre os campos futebolístico e econômico. Cf. PRONI, M. W. A metamorfose do futebol. Campinas: UNICAMP, 2000.
2 No Brasil a análise sistemática do futebol data da década de 1980, tendo como um de seus marcos fundadores a coletânea designada nominalmente de Universo do futebol: esporte e sociedade brasileira, organizada por Roberto DaMatta. (HELAL, 2012). Esta obra apresentou a possibilidade de se pensar o futebol de maneira transcendente aos processos alienantes da teoria marxista. A partir de então a bibliografia científica desta temática aumentou quanti/qualitativamente, entretanto, ainda hoje, são poucos os trabalhos voltados para a gestão, principalmente análises relacionadas a figura dos presidentes clubísticos. Destacam-se deste modo as pesquisas produzidas por Azevêdo (2004) e Marques; Guiterrez e Almeida (2013) na qual, assemelham-se em alguns pontos da pesquisa presente ao passo que buscam a caracterização dos presidentes entretanto, trabalham em lócus diferentes sendo que analisam clubes do Campeonato Brasiliense e alguns clubes estaduais e da série A e B do Campeonato Brasileiro, respectivamente. Objetiva-se, deste modo, analisar o perfil socioprofissional dos presidentes dos clubes alocados na série A do Campeonato Brasileiro de Futebol masculino, tendo como recorte inicial o ano de 1987 no qual ocorrem grandes intervenções estatais dentro do futebol, com a promulgação da lei 8.672/93 ( Lei Zico ) substituída posteriormente pela lei 9.615/98 ( Lei Pelé ), junto com a demanda dos clubes para defender seus interesses políticos com a criação do Clube dos Treze em Tendo como recorte final o ano de 2016, momento em que já ocorre o assentamento destas legislações, possibilitando a análise de como os clubes responderam tais modificações. A presente pesquisa justifica-se por dois motivos, entretanto interdependentes. O primeiro devido à escassez teórica referente ao tema nas diversas instâncias do conhecimento, dentre elas o das Ciências Sociais. E o segundo refere-se ao fato de os presidentes dos clubes poderem atuar, individualmente, na modificação das suas estruturas, e, coletivamente, na modificação da estrutura do campo futebolístico. 2. METODOLOGIA A classificação deste estudo foi estruturada pela disposição pura quanto a sua natureza, pois buscou o desenvolver da ciência não tendo como principal finalidade aplicações práticas. Qualitativa quanto a abordagem do seu problema, uma vez que a compreensão de algumas informações apresentadas pelo material empírico foi essencial. Exploratória quanto ao seu objetivo, pois analisou um objeto pouco explorado no campo acadêmico/científico das Ciências Humanas e Sociais. Por fim, documental quanto aos procedimentos técnicos, uma vez que as informações objetivadas foram coletadas por intermédio de documentos de primeira mão, mais especificamente sites, jornais e revistas- incialmente pelo Google e na sequência em base de dados especializadas como Scielo, Scopus, Nuteses e Portal Capes. (GIL, 1989). A partir das coletas dos materiais empíricos, três tarefas metodológicas foram realizadas. Primeira, foram constatados os nomes dos clubes alocados na série A do Campeonato Brasileiro masculino entre 1987 e Segunda, os nomes dos
3 presidentes, os gêneros e as profissões deles foram identificados e tabulados, embasados nos desígnios da frequência de aparição e nos seus respectivos percentuais. Terceira, buscou-se compreender alguns conceitos bourdeusianos, referencial teórico escolhido para auxiliar na análise das informações empíricas. 3. CAMPO E HABITUS Todos os campos se apresentam à apreensão sincrônica como espaços estruturados de posições (ou de postos) cujas propriedades dependem das suas distintas posições nessas estruturas, podendo ser analisadas independentemente das características de seus ocupantes (em parte determinadas por elas). Os campos possuem leis designadas como gerais, pois estas não apresentam variabilidade, independentemente das especificidades espaciais daqueles. Entretanto, vale ressaltar que tais mecanismos universais se especificam em função de variáveis secundárias. (BOURDIEU, 1983). Não obstante, os campos se caracterizam, entre outros aspectos, por intermédio da definição dos objetos de disputas e dos interesses específicos que são irredutíveis as concorrências e aos intentos próprios dos seus homólogos, sendo percebidas apenas por quem foi formado para adentrar em tais particularidades. Por conseguinte, em complemento, Bourdieu (1983, p. 89) salienta que para o funcionamento dos campos, é preciso que haja objetos de disputas e pessoas prontas para disputar o jogo, dotadas de habitus que impliquem no conhecimento de no reconhecimento das leis imanentes do jogo, dos objetos de disputas, etc. Mas, o que é habitus? Segundo Bourdieu (1983, p. 94), habitus é o sistema de disposições adquiridas pelas aprendizagens implícitas ou explícitas que funciona como um sistema de esquemas geradores, é gerador de estratégias que podem ser objetivamente afins aos interesses objetivos de seus autores sem terem sido expressamente concebidas para este fim. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com base nos desígnios metodológicos e teóricos, constatou-se que, entre os clubes estruturados no campo futebolístico nacional, 55 clubes estiveram alocados na série A do Campeonato Brasileiro masculino entre 1987 e Compreenderam à esta análise 216 indivíduos com média de 46 anos, alguns não possuíam nenhuma descrição mínima na internet, impossibilitando de incluí-los nos resultados, portanto trabalhamos com 189 presidentes, correspondendo a 87,5% do total levantado. Destes indivíduos, duzentos e quatorze (214) homens e duas (2) mulheres, dentre elas Marlene Matheus, que presidiu o Corinthians ( ), e Patrícia Amorim, no Flamengo ( ). No caso de Marlene sua jornada no clube deu continuidade à de seu antecessor e marido Vicente Matheus, que estava na função por muito tempo e não poderia renovar a candidatura, mesmo assim arranjou uma forma de se manter no poder, então indicou sua esposa que trabalhava na parte social do clube, a qual foi eleita. Tal constatação reforça a caracterização masculina histórica deste espaço social, no qual o gênero feminino ainda possui pouca
4 expressão, disputando constantemente a sua inserção e manutenção. Tal constatação reforça a caracterização masculina histórica deste espaço social, no qual o gênero feminino disputa constantemente a sua inserção e manutenção. Dos dados em relação ao perfil socioprofissional, dos 216 presidentes foram tabuladas informações acerca de 189, ou seja, 87,5% do total, pois não foram localizadas descrições mínimas de 27 agentes nas fontes coletadas. (TABELA 1). TABELA 1 As profissões dos presidentes dos clubes alocados na séria A do Campeonato Brasileiro masculino entre 1987 e 2016 Profissões Frequência Porcentagem Advogado 50 26,4% Arquiteto 3 1,5% Economista 4 2,1% Empresário 96 50,7% Engenheiro 6 3,1% Escritor 3 1,5% Ex-atleta 4 2,1% Médico 7 3,7% Político 31 16,4% Professor 12 6,3% Secretário no Estado 5 2,64% Outras profissões que não 26 13,7% chegaram a 1% 2 Fonte: Os autores Foi notória a predominância da internalização das disposições de empresário nos habitus dos presidentes. Entretanto, com a evolução da mentalidade empresarial do futebol, principalmente em 1998 quando entrou em vigor a Lei nº 9.615, conhecida como Lei Pelé, que reiterava a migração dos clubes de associação para sociedade esportiva, esperava-se que aumentassem o número de administradores no perfil gestor, rompendo com o amadorismo administrativo. Porém, a tentativa de tornar os clubes sociedades esportivas foi frustrada por afrontar a valores constitucionais como a liberdade de associação (art. 5º, XVII) e a autonomia desportiva (art. 217, I). Em vista disso, através da Lei nº e, posteriormente, pelo 9º do art. 27, incluído pela Lei nº , de 2003, tira-se a obrigatoriedade do clube em tornar-se sociedade, e, consequentemente, o perfil presidencial continua sendo o mesmo. Acrescenta-se a constatação feita por Marques, Guiterrez e Almeida (2013, p.201) de que em muitos clubes existe uma transição de poder quase que hereditária entre agentes ou grupos sociais com habitus semelhantes, o que dificulta a entrada de novos agentes externos a tais classes. Ou seja, os clubes já possuem um estereótipo pré-definido para seu próximo presidente. 2 Administrador; Arquiteto, Banqueiro; Cardiologista; Conselheiro do Estado; Contabilista; Corretor; Delegado; Dentista; Diretor de Banco; Diretor de Operações; Diretor Financeiro; Economista; Fisioterapeuta; Investigador; Jornalista; Juiz; Pecuarista; Presidente de Órgão Estatal; Procurador; Pró-Reitor; Radialista; Representante Comercial; Reumenatologista; Tabelião; Trader.
5 Além das profissões relacionadas, o envolvimento político de alguns indivíduos é significativo 3. Marques, Gutierrez e Almeida (2013) argumentaram que a presença política está vinculada principalmente em clubes do interior, que recebem ajuda da prefeitura e de políticos que são próximos de empresas da cidade. Todavia, a matéria Dirigentes usam esporte para eleição da Folha de São Paulo, publicada em 06 de agosto de 1998, apresentou algumas indicações desse envolvimento em relação a dirigentes de grandes clubes do futebol brasileiro. Estes agentes utilizavam as campanhas de caráter clubístico para alavancar sua candidatura, apostando que os torcedores dos seus respectivos clubes seriam potenciais eleitores, os quais poderiam elegê-los. Por meio de nossos resultados, constatou-se que os presidentes que possuíam papel político ocupavam a estrutura de grandes clubes, em que o envolvimento político manifestou- se antes, durante e depois dos exercícios dos mandatos. Então pode-se dizer que há uma via de mão dupla entre a política e a gestão futebolística. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se concluir que o campo do futebol, mais especificamente as estruturas administrativas clubísticas futebolísticas brasileira, possuem uma representação presidencial basicamente formada por homens, com duas exceções femininas. Referente ao perfil sócioprofissional dos presidentes, diversas atividades foram apresentadas. Em torno de 50% possuem ensino superior, e as profissões sejam estas relacionadas com uma formação acadêmica ou não, são de caráter liberal e valorizadas socialmente. Por conseguinte, enriquecem os seus habtus e permitem conciliar as atividades presidenciais com outras que lhes garantem retorno financeiro. Não obstante, devido à maioria dos clubes brasileiros serem classificados como sócio-esportivos, estes não possuem uma gestão profissionalizada, ou seja, supostamente não proporcionam retorno salarial direto aos seus principais gestores. Além disso, percebeu-se o envolvimento político em alguns agentes, onde a candidatura se deu nos três momentos da passagem pelo clube. Ou seja, antes, durante e depois o exercício do mantado presidencial. Esses dados permitem a percepção da força e da relação direta entre o futebol e a sociedade, a ligação de diferentes campos, em determinado período histórico, mostrando sua representatividade no contexto nacional. 5. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. A. B.; GUITERREZ, D. M.; MARQUES, R. F. R. O sub-campo do futebol: presidentes de clubes em foco, Revista da Faculdade de Educação Física da UNICAMP, Campinas, v. 11, n. 1, p , jan./mar Tal profissão começa a aparecer em 1999, sendo que em 17 anos aparecem vinte e duas (22) vezes cerca de 12%
6 AZEVÊDO, P. H.; BARROS, J. F.; SUAIDEN S. Caracterização do perfil do gestor esportivo dos clubes da primeira divisão de futebol do Distrito Federal e suas relações com a legislação esportiva brasileira. Revista de Educação Física/UEM, Maringá, v. 15, n. 1, p BOURDIEU, P. Algumas propriedades dos campos. In: de Janeiro: Marco Zero, 1983, p Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983, p BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de ed. São Paulo: Saraiva, p. (Série Legislação Brasileira). DAMATTA, R. Universo do futebol: Esporte e sociedade brasileira. Pinakotheke: Rio de Janeiro, DAOLIO, J. O drama do futebol brasileiro: uma análise socioantropológica. In:. (Org.). Cultura: educação física e futebol. 3. ed. Campinas: Editora da UNICAMP, p FOLHA S. PAULO. Dirigentes usam esporte para eleição: Pelo menos nove candidatos usam clubes ou entidades para tentar vaga de deputado federal ou estadual. São Paulo, quinta, 6 de agosto de Acesso em: 17/09/2017. Disponível em: GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas; RIBEIRO, L. C. Brasil: futebol e identidade nacional. EFDeportes, Buenos Aires, Ano. 8, n. 56, p RINALDI, W. Futebol. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 11, n. 1, p , 2000.
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