A VARIAÇÃO FO ÉTICA DAS VOGAIS MÉDIAS PRÉ E POSTÔ ICAS A VARIEDADE LI GUÍSTICA DE MO TES CLAROS/MG PO TIFÍCIA U IVERSIDADE CATÓLICA DE MI AS GERAIS

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1 PO TIFÍCIA U IVERSIDADE CATÓLICA DE MI AS GERAIS Programa de Pós Graduação em Letras A VARIAÇÃO FO ÉTICA DAS VOGAIS MÉDIAS PRÉ E POSTÔ ICAS A VARIEDADE LI GUÍSTICA DE MO TES CLAROS/MG PATRÍCIA GOULART TO DI ELI Belo Horizonte 2010

2 PATRÍCIA GOULART TO DI ELI A VARIAÇÃO FO ÉTICA DAS VOGAIS MÉDIAS PRÉ E POSTÔ ICAS A VARIEDADE LI GUÍSTICA DE MO TES CLAROS/MG Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Linguística e Língua Portuguesa. Orientador: Marco Antônio de Oliveira Belo Horizonte 2010

3 FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais T663v Tondineli, Patricia Goulart A variação fonética das vogais médias pré e postônicas na variedade linguística de Montes Claros/MG / Patrícia Goulart Tondineli. Belo Horizonte, f.: il. Orientador: Marco Antônio de Oliveira Dissertação (Mestrado) Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Programa de Pós-Graduação em Letras. Bibliografia. 1. Mudanças linguísticas. 2. Línguas e linguagem - Variação. 3. Vogais. I. Oliveira, Marco Antônio de. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós- Graduação em Letras. III. Título. CDU:

4 Patrícia Goulart Tondineli A variação fonética das vogais médias pré e postônicas na variedade linguística de Montes Claros/MG Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Linguística e Língua Portuguesa. Dr. Marco Antônio de Oliveira (orientador) PUC Minas Dr. Seung Hwa Lee UFMG Dr a. Arabie Bezri Hermont PUC Minas Belo Horizonte 24 de setembro de 2010.

5 Dedico este trabalho a minha família, sem a qual eu nada seria, e a Telma, a grande culpada de tudo.

6 Ao professor Marco Antônio de Oliveira, por ter me indicado, sempre, o caminho certo e por ter partilhado comigo, de forma tão generosa, o seu saber. Shalom.

7 AGRADECIME TOS Agradeço, antes de tudo, a Deus, que me deu tantos motivos para perseverar. Aos meus pais, Ana Lúcia e Henrique, porto seguro da minha vida, obrigada por me fazerem o que sou, pelo esforço, pela compreensão, pelo estímulo. Aos meus filhos, Michelle e Marcellus, agradeço por terem aguentado tantas ausências com tanto amor. Obrigada, Déa, minha querida irmã, por sempre ter me incitado a querer mais e a acreditar em mim. A minha guerreira, Vovó Aurora, pelo companheirismo, pela acolhida, pelo amor. A minha irmã de vida, Telma Borges, por ter me feito ver que as coisas podem ser questionadas e revertidas a nosso favor. A Althiere, meu amigo-irmão, pela companhia e pelas discussões maravilhosas. A Fábio, querido amigo de infância, por tantos momentos especiais. Ao meu professor e orientador Marco Antônio de Oliveira, pela extrema atenção, paciência e competência, meus eternos agradecimentos. Aos professores Hugo Mari, Paulo Henrique Aguiar, Milton do Nascimento, por sempre me fazerem buscar cada vez mais e por terem feito da PUC/Minas a minha casa. A Vera, Berenice e Rosária, por toda a atenção e desprendimento. A todos os entrevistados, obrigada pela valorosa contribuição. À Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG), pelo apoio financeiro durante a realização desta pesquisa.

8 [...] Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães... O sertão está em toda a parte. (ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 19. ed. Rio de Janeiro: ova Fronteira, 2001, p. 24)

9 RESUMO Investigou-se, nesta dissertação, o alçamento e o rebaixamento das vogais médias pretônicas e postônicas não finais de itens lexicais no dialeto do município de Montes Claros Minas Gerais. Os fenômenos enfocados foram aqueles em que se eleva o traço de altura da vogal média alta anterior /e/, em posição pretônica, para a alta anterior /i/, ou se rebaixa o traço de altura para a baixa anterior / / (de b[e]zerro para b[i]zerro e de cat[e]quese para cat[ ]quese) e da vogal média alta posterior pretônica /o/ para a vogal alta posterior /u/ ou baixa posterior /ø/ (de c[o]mércio para c[u]mércio e de fl[o]resta para fl[ø]resta). Também se investigou o fenômeno em que se eleva o traço da altura da vogal média alta anterior /e/, em posição postônica não final, para a vogal alta anterior /i/ (de cóc[e]ga para cóc[i]ga) e da vogal média posterior postônica /o/, não final, para a vogal alta posterior /u/ (de Pitág[o]ras para Pitág[u]ras). Esses fenômenos, medidos de acordo com técnicas sociolinguísticas, foram investigados pela ótica da concepção de mudança linguística do modelo da difusão lexical. Os resultados indicam a viabilidade da proposição. Palavras-chave: Difusão Lexical. Alçamento. Rebaixamento. Vogais Pretônicas. Vogais Postônicas não finais.

10 ABSTRACT This dissertation is an investigation of the raising and the lowering of the pretonic and postonic mid non-final vowels of lexical items in the Montes Claros - Minas Gerais dialect. The focused phenomena were those in which the height trace of the previous mid-front vowel /e/ is raised in pretonic position to high-front /i/ or lowers to low-front / / (as in b[e]zerro to b[i]zerro and cat[e]quese to cat[ ]quese) and of the mid-back pretonic /o/ to the high-back vowel /u/ or to mid-back /ø/ (as in c[o]mércio to c[u]mércio of fl[o]resta to fl[ø]resta). Another investigated phenomenon was the one where the trace of the height of the mid-high front vowel /e/ is raised in non-final postonic position to front-high /i/ (as in cóc[e]ga to cóc[i]ga), and of the non-final mid-back postonic /o/, to high-back /u/ (as in Pitág[o]ras to Pitág[u]ras). These phenomena, measured in accordance with sociolinguistic techniques, were investigated through the conception of linguistic change optics from the Lexical Diffusion model. The results indicate the viability of the proposal. Key-words: Lexical Diffusion. Raising. Lowering. Pretonic vowels. Non-final postonic vowels.

11 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Microrregião de Montes Claros FIGURA 2 Casa da sede da Fazenda dos Montes Claros FIGURA 3 Ligações rodoviárias no Norte de Minas FIGURA 4 Subcentros de Montes Claros FIGURA 5 Isófona de [ ] e de [ø] em Minas Gerais... 73

12 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 Percentual de ocorrência das variantes da variável (e) GRÁFICO 2 Percentual de ocorrência das variantes da variável (o) GRÁFICO 3 O alçamento da variável (e) em posição postônica não final GRÁFICO 4 O alçamento da variável (o) em posição postônica não final

13 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 Comparativo de estudos: Bisol, Silva e Viegas QUADRO 2 Comparativo de estudos: Silva, Mota e venecianos QUADRO 3 Comportamento das pretônicas no PB QUADRO 4 Vogais postônicas mediais QUADRO 5 Novo quadro de vogais postônicas mediais QUADRO 6 Contextos específicos e variação linguística QUADRO 7 Grupos de fatores sociais QUADRO 8 Resumo dos fatores favorecedores do alçamento e rebaixamento das médias (e, o) em posição pré e postônica não final

14 LISTA DE TABELAS TABELA 1 O comportamento da vogal média em posição pretônica no Pará TABELA 2 O alçamento em Breves/PA TABELA 3 O comportamento das vogais médias pretônicas na fala de Formosa/GO TABELA 4 Distribuição das médias pretônicas no falar culto carioca TABELA 5 Ocorrência das variantes [u, ô, ò, i, ê, è] em Salvador/BA TABELA 6 Valores totais de ocorrência em Pará de Minas TABELA 7 Estatística do alçamento das vogais médias postônicas não finais em Belo Horizonte/MG TABELA 8 Renda mensal do chefe de família de Montes Claros TABELA 9 População residente no bairro Centro (Região Administrativa) TABELA 10 População residente por faixa etária - Centro TABELA 11 Pessoas residentes alfabetizadas por faixa etária - Centro TABELA 12 População residente no bairro Amazonas (Região Administrativa) TABELA 13 População residente por faixa etária - Amazonas TABELA 14 Pessoas residentes alfabetizadas por faixa etária - Amazonas TABELA 15 População residente no bairro Maracanã (Região Administrativa) TABELA 16 População residente por faixa etária - Maracanã TABELA 17 Pessoas residentes alfabetizadas por faixa etária - Maracanã TABELA 18 Vogal da sílaba seguinte no alçamento da variável (e) TABELA 19 Vogal da sílaba precedente no alçamento da variável (e) TABELA 20 Contexto fonológico seguinte no alçamento da variável (e) TABELA 21 Contexto fonológico precedente no alçamento da variável (e) TABELA 22 Status da tonicidade no alçamento da variável (e) TABELA 23 Distância da sílaba tônica no alçamento da variável (e) TABELA 24 Nasalidade no alçamento da variável (e) TABELA 25 Classe morfológica no alçamento da variável (e) TABELA 26 Grau de formalidade no alçamento da variável (e) TABELA 27 Indivíduo no alçamento da variável (e) TABELA 28 Faixa etária no alçamento da variável (e) TABELA 29 Classe social no alçamento da variável (e) TABELA 30 Vogal da sílaba seguinte no rebaixamento da variável (e) TABELA 31 Vogal da sílaba precedente no rebaixamento da variável (e) TABELA 32 Contexto fonológico precedente no rebaixamento da variável (e) TABELA 33 Contexto fonológico seguinte no rebaixamento da variável (e) TABELA 34 Classe morfológica no rebaixamento da variável (e)

15 TABELA 35 Grau de escolaridade no rebaixamento da variável (e) TABELA 36 Vogal da sílaba seguinte no alçamento da variável (o) TABELA 37 Contexto fonológico precedente no alçamento da variável (o) TABELA 38 Contexto fonológico seguinte no alçamento da variável (o) TABELA 39 Status da tonicidade no alçamento da variável (o) TABELA 40 Distância da sílaba tônica no alçamento da variável (o) TABELA 41 Classe morfológica no alçamento da variável (o) TABELA 42 Posição da pretônica no alçamento da variável (o) TABELA 43 Indivíduo no alçamento da variável (o) TABELA 44 Grau de escolaridade no alçamento da variável (o) TABELA 45 Vogal da sílaba seguinte no rebaixamento da variável (o) TABELA 46 Contexto fonológico precedente no rebaixamento da variável (o) TABELA 47 Contexto fonológico seguinte no rebaixamento da variável (o) TABELA 48 Status da tonicidade no rebaixamento da variável (o) TABELA 49 Posição da pretônica no rebaixamento da variável (o) TABELA 50 Faixa etária no rebaixamento da variável (o) TABELA 51 Vogal da sílaba seguinte no alçamento da variável postônica (e) TABELA 52 Vogal da sílaba precedente no alçamento da variável postônica (e) TABELA 53 Contexto fonológico precedente no alçamento da variável postônica (e) TABELA 54 Contexto fonológico seguinte no alçamento da variável postônica (e) TABELA 55 Vogal da sílaba seguinte no alçamento da variável postônica (o) TABELA 56 Vogal da sílaba precedente no alçamento da variável postônica (o) TABELA 57 Contexto fonológico precedente no alçamento da variável postônica (o) TABELA 58 Contexto fonológico seguinte no alçamento da variável postônica (o) TABELA 59 Indivíduo no alçamento da variável postônica (o) TABELA 60 Itens lexicais da variável (o) em posição postônica não final TABELA 61 Itens lexicais da variável (e) em posição postônica não final

16 LISTA DE ABREVIATURAS DL. Difusão Lexical EX Eemplo F2 Formante 2 PB Português Brasileiro

17 LISTA DE SIGLAS APFB Atlas prévio dos falares baianos DNIT Departamento Nacional de infraestrutura de transportes EALMG Esboço de um Atlas Linguístico de Minas Gerais IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH Índice de desenvolvimento humano PIB Produto Interno Bruto RCE Regra Categórica de Elevação RVE Regra Variável de Elevação SUDENE Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste

18 SUMÁRIO 1 I TRODUÇÃO O COMPORTAME TO DAS VOGAIS MÉDIAS (E, O) O PORTUGUÊS DO BRASIL As vogais médias pretônicas As vogais médias postônicas MODELOS DE MUDA ÇA SO ORA O Modelo eogramático O Modelo de Difusão Lexical Evidências de Difusão Lexical CO TEXTO SOCIAL E METODOLOGIA Montes Claros de ontem Montes Claros de hoje Um perfil econômico de Montes Claros e do orte de Minas A linguagem em Montes Claros A pesquisa: procedimentos metodológicos Caracterização dos bairros variável classe social Bairro Centro Bairro Todos os Santos Bairro Amazonas Bairro Maracanã PROCESSAME TO DOS DADOS Variáveis dependentes Variáveis independentes Vogal da sílaba seguinte e vogal da sílaba precedente Status da tonicidade Contexto fonológico precedente Contexto fonológico seguinte Distância da sílaba tônica asalidade... 87

19 5.2.7 Classe morfológica Grau de formalidade Posição da pretônica Item léxico Indivíduo Sexo Faixa etária Grau de escolaridade Classe social Aspectos da quantificação dos dados A ÁLISE DOS DADOS O comportamento da variável pretônica (e) Alçamento do (e) pretônico Rebaixamento do (e) pretônico O comportamento da variável pretônica (o) Alçamento do (o) pretônico Rebaixamento do (o) pretônico O comportamento da variável postônica (e) em posição não final O comportamento da variável postônica (o) em posição não final Os itens lexicais CO CLUSÃO REFERÊ CIAS APÊ DICES A EXOS

20 18 1 I TRODUÇÃO Diversos fenômenos fonológicos do Português do Brasil (doravante PB) têm suscitado grande número de indagações e, por conseguinte, uma produção científica crescente. Um destes fenômenos, objeto deste estudo, é o comportamento das vogais médias (e) e (o) em posição pretônica e postônica (não final). Tendo em vista que, no Brasil, o quadro dessas vogais não é fixo, dependendo da região geográfica em que estão inseridas, este trabalho objetivou investigar os aspectos que envolvem a variação nas vogais médias (o) e (e), em posição pretônica e postônica (não final) no português falado em Montes Claros/MG. Para tanto, verificar-se-á o papel dos contextos fonológicos no comportamento das mesmas, bem como os aspectos extralinguísticos que influem, ou não, na variação dessas vogais, além da sua repercussão no nível lexical, quando em posição postônica não final. A cidade de Montes Claros, situada na região Norte do estado de Minas Gerais, a 417 km de Belo Horizonte, possui habitantes 1 e, diante de seus 173 anos de história 2, destaca-se como polo cultural na região norte mineira e regional na rede de ensino, pois, além de uma Universidade Federal e uma Estadual, comporta mais de 9 instituições de ensino superior particulares 3. Além disso, é polo regional econômico e de saúde, sendo referência às demais cidades da região e, até mesmo, ao extremo sul da Bahia. Para Antenor Nascentes, em seu Bases para a elaboração de um Atlas linguístico do Brasil, Montes Claros encontra-se na zona do subfalar baiano, o qual teria como uma de suas características a predominância das vogais pretônicas baixas, como [ɔh vaʎu], [sεrẽnu] (MARTINS, 2006, p. 03-4). Conforme nossa amostra, o que encontramos, entretanto, em Montes Claros, é um sistema complexo no que diz respeito ao comportamento das vogais médias (e, o) em posição pretônica e postônica não final, o que nos dá, pois, um quadro diferente daquele postulado por Antenor Nascentes. Além disso, encontramos, em nossa pesquisa, realizações indicativas de um fenômeno de natureza difusionista, sendo que a variação das vogais médias, seja em posição pretônica 1 Fonte IBGE, Considerando-se a emancipação da cidade e do município de Montes Claros através da Lei n o 802, de 03 de julho de Conforme dados do IBGE e da Prefeitura de Montes Claros, existiam 03 (três) instituições de ensino superior no ano de 1997, sendo que, este número, em 2006, é 11 (onze), o que indica um crescimento de 183,34%.

21 19 ou postônica não final, é, pois, um processo controverso, afinal, ocorre em determinados contextos em um item lexical e, em outro item, sob os mesmos contextos, não ocorre, ou seja, a variação não é uniforme (conf. CRISTÓFARO-SILVA, 2001; OLIVEIRA, 1992; LEE & OLIVEIRA, 2003, 2006; RIBEIRO, 2007; VIEGAS, 2001; entre outros). Assim sendo, utilizou-se, neste trabalho, a pesquisa variacionista como base metodológica e, como suporte teórico, o modelo difusionista. Assim, tomaremos a variação como um processo heterogêneo que possui o léxico como o seu lócus, estando, também, intimamente relacionada ao status social de um determinado item (VIEGAS, 2001). O trabalho que ora se apresenta pretendeu, portanto, além de estudar o comportamento das vogais médias pretônicas e postônicas, em posição não final, em Montes Claros, norte do estado de Minas Gerais, investigar o uso dos itens lexicais com o intuito de contribuir para os projetos que buscam entender as escolhas léxico-fonológicas dos falantes. Para que possamos realizar essa discussão, tomaremos como base os resultados das pesquisas de Campos (2008), em Mocajuba/PA; Castro (1990), em Juiz de Fora/MG; Célia (2004), em Nova Venécia/ES; Dias, Cassique e Cruz (2007), em Breves/PA; Freitas (2001), em Belém/PA; Guimarães (2006), na região norte de Minas Gerais; Graebin (2008), em Formosa/GO; Ribeiro (2007), em Belo Horizonte/MG; Rodrigues (2005), em Cametá/PA; Silva (1989), em Salvador/BA; Viana (2008), em Pará de Minas/MG e Viegas (2001), em Belo Horizonte/MG. Além disso, nos utilizamos, para investigar o caráter difusionista em relação ao comportamento das vogais médias (e, o) em posição pretônica e postônica não final, dos trabalhos de Bisol (1981), Bybee (2002), Chen & Wang (1975), Cristófaro-Silva (2001, 2006), Fidelholtz (1975), Khrishnamurti (1976), Labov (1981, 2008), Oliveira (1991, 1995, 2008), Lee & Oliveira (2003) Oliveira & Lee (2006) e Wang (1969). Os capítulos que compõem esta dissertação apresentam-se, quanto a sua distribuição, da seguinte maneira: o primeiro capítulo - O comportamento das vogais médias (e, o) no português do Brasil - se dedica à apresentação das vogais médias (e, o) em posição pretônica e postônica não final, de acordo com a caracterização das mesmas dentro do português brasileiro realizada por diferentes pesquisadores. Ainda nesse capítulo, apresentamos alguns resultados, principalmente aqueles concernentes aos estudos de localidades que façam parte do subfalar baiano, sobre o comportamento dessas vogais. No segundo capítulo - Modelos de mudança sonora -, promovemos uma discussão sobre a visão neogramática de mudança linguística e a difusionista, base desta dissertação.

22 20 Além disso, apresentamos algumas pesquisas sobre o comportamento das médias (e, o) que possuem, em suas análises, evidências de difusão lexical. É no terceiro capítulo - Contexto social e metodologia - que realizamos a apresentação da nossa comunidade de fala, Montes Claros, através de dados históricos e atuais em relação à mesma, além de discorrer, também, sobre os procedimentos metodológicos da pesquisa. O quarto capítulo - Processamento dos dados - é dedicado à descrição do processamento dos dados colhidos e, no quinto capítulo Análise dos dados -, trato, com base nos índices percentuais e probabilísticos, do comportamento das vogais médias (e, o) em posição pretônica e postônica não final na cidade de Montes Claros/MG. Ainda no quinto capítulo, é feita uma retomada dos pontos mais salientes discutidos anteriormente, correlacionando-os com os pressupostos teóricos pertinentes. A seguir, apresentamos a Conclusão do trabalho, as referências bibliográficas, os apêndices e os anexos.

23 21 2 O COMPORTAME TO DAS VOGAIS MÉDIAS (E, O) O PORTUGUÊS DO BRASIL A questão da variação e mudança linguística sempre foi alvo de grande controvérsia e, portanto, de grandes discussões. Dentre as unidades de uma língua que estão sujeitas à variação, temos o componente sonoro, o qual é objeto desta pesquisa. Conforme Aquino (1997, p. 33), uma língua tem ambientes potencialmente hipoarticuláveis que se definem desde o léxico [...], fazendo com que a força dos gestos articulatórios associados às estruturas silábica e acentual varie sistematicamente. Para a autora, é justamente por este motivo que as vogais são extremamente afetadas pela prosódia, diferentemente das consoantes, das quais apenas algumas são afetadas drasticamente: as vogais não se alteram apenas dependendo da estrutura silábica, mas, também, dependendo da estrutura acentual (stress, acento lexical e accent, acento frasal). A acentuação sempre afeta a vogal e varia conforme a posição na palavra, no sintagma e no enunciado [...], assim como do registro e estilo usados pelo falante. (AQUINO, 1997, p. 35). Para o Português do Brasil (doravante PB), conforme nos diz Câmara Jr. (2007, p. 40), é essa intensidade sonora (tonicidade) que constitui a posição ótima para a caracterização das vogais. Tomando, então, a questão da tonicidade como parâmetro, conforme Mattoso Câmara Jr. (2007, p. 44), podemos verificar, no PB, três quadros de vogais átonas: 1º quadro (vogais pretônicas): altas /u/ /i/ médias /o/ /e/ baixa /a/ 2º quadro (primeiras vogais postônicas dos proparoxítonos, ou vogais penúltimas átonas): altas /u/ /i/ médias /../ /e/ baixa /a/

24 22 3º quadro (vogais átonas finais, diante ou não de /s/ no mesmo vocábulo): altas /u/ /i/ baixa /a/ Entretanto, para este estudo, interessa-nos apenas os dois primeiros quadros - vogais pretônicas, e postônicas dos proparoxítonos -, sobre os quais discorremos a seguir, tendo como enfoque principal o comportamento das vogais médias (e) e (o). 2.1 As vogais médias pretônicas As vogais médias pretônicas são responsáveis por situações de variação em todos os dialetos do PB. No Brasil, diferentemente de Portugal 4, a posição pretônica apenas neutraliza, ou suprime, a oposição de dois graus nas vogais médias 5. (CÂMARA JR, 2002, p. 24). A oposição entre /e, i/ e /o, u/ pretônicos, no Brasil, é, comparativamente com o português europeu, funcionalmente pobre, porque a vogal alta se substituiu à vogal média correspondente, na pronúncia usual, para a maior parte dos vocábulos que têm vogal alta na sílaba tônica (CÂMARA JR, 2002, p. 24), como em comprido, homófono de cumprido, ou c[u]ruja, m[i]nino. Entretanto, nos alerta que há certa flutuação dentro do sistema, que atrofia ou hipertrofia elementos dele (CÂMARA JR, 2007, p.45). O quadro das pretônicas proposto pelo autor nos dá conta, então, da redução do sistema vocálico de 7 para 5 vogais em posição pretônica, onde o traço distintivo que separa em duas unidades /e/ e /ε/, assim como /o/ e /ɔ/, é perdido; sendo assim, chama este processo de neutralização e nos diz, em relação ao quadro das vogais médias pretônicas no Brasil, que é relativamente fácil fazer uma descrição rigorosa dessa situação, levando-se em conta as diversidades de registros e as partes do vocabulário de uso frequente ou de uso restritivamente culto [...]. (CÂMARA JR, 2007, p.45). 4 Em Portugal, /e/ e /o/ são decorrentes de processos diacrônicos (crase entre /e/ e /o/ contíguos no período arcaico ou entre /e/ e/ou /o/ que eram, inicialmente, seguidos por uma consoante oclusiva na mesma sílaba) e, portanto, só ocorrem em uma parcela muito pequena do vocabulário tornando-se, assim, um quadro extremamente complexo (CÂMARA JR, 2002). 5 Vide o 1º quadro (vogais pretônicas) da página 21 deste Capítulo.

25 23 Thaís Cristófaro Silva (2005) nos fala que a ocorrência das vogais pretônicas [, ø] é sujeita a certas categorias específicas, que ocasiona marca de variação dialetal, em termos geográficos, ou mesmo de idioleto, e nos lista as particularidades dialetais ou de idioleto concernentes à ocorrência, no PB, das pretônicas [, ø]: (1) em formas derivadas com os sufixos: -mente, -inh, -zinh ou íssim quando o radical do substantivo/adjetivo apresenta /ε, ɔ/ em posição tônica (CRISTÓFARO-SILVA, 2005, p.82), como as palavras derivadas de séria e mole (s[ε]riamente, s[ε]rinha, s[ε]riazinha, s[ε]riíssima; m[ɔ]lemente, m[ɔ]linho, m[ɔ]lezinho, m[ɔ]líssimo), parecendo, tal comportamento, ser uniforme para o português de um modo geral; (2) quando a vogal tônica da palavra é uma vogal média-baixa: perereca [pεɾε ɾεkə], pororoca [pɔɾɔ ɾɔkə], precoce [pɾε kɔsi], colega [kɔ lεgə], sendo que, para os falantes que possuem essa pronúncia, a vogal pretônica será média baixa quando a vogal tônica for também uma vogal média-baixa (CRISTÓFARO-SILVA, 2005, p. 83); (3) sem a presença de qualquer outra média baixa na palavra, como em [gøs toz ]; (4) quando em posição tônica ocorrer uma vogal nasal em/en ou om/on, tal como em s[ε]tembro, r[ε]dondo, n[ɔ]venta, c[ɔ]lombo; (5) quando seguida por consoante que ocorre na mesma sílaba : (a) s: d[ε]stino, c[ɔ]stume; (b) r: v[ε]rtical, c[ɔ]rdeiro; (c) l: s[ε]lvagem, s[ɔ]ldado (CRISTÓFARO-SILVA, 2005, p. 84). Assim sendo, em relação ao comportamento das vogais médias em posição pretônica, podemos dizer que há quatro fenômenos fonológicos que dizem respeito às mesmas: manutenção da vogal média fechada, neutralização, rebaixamento e alçamento. Diz-nos Lee (2009) que, em posição pretônica e postônica não final, as vogais médias podem flutuar em relação ao traço [ATR] e ao traço [High] na sua produção {a, ~e~i, i, o~ø~u, u}. (LEE, 2009, p. 30). Já para Yacovenco (1993), as pretônicas se neutralizam quando advindas de crase e, nas regiões Centro e Sul do Brasil, há preferência para a realização das pretônicas com timbre fechado, fato adverso do português de Portugal, o qual tende a pronunciá-las abertas. Para Mattoso Câmara Jr., basta a ausência de tonicidade para anular as oposições distintivas entre /è/ e /e/, de um lado, e, de outro lado, entre /ò/ e /o/, com a fixação do segundo elemento de cada par na pronúncia do Rio de Janeiro. O fechamento de um /è/ ou um /ò/ é a consequência mecânica da perda da sua tonicidade por motivo de derivação vocabular ou próclise sintática [...] Em condições átonas particulares, a neutralização é (sic) em toda a série (seja a anterior, seja a posterior), e temos,

26 24 então, a série anterior representada pelo arquifonema /i/ e a serie posterior pelo arquifonema /u/. (CÂMARA JR, 2008, p. 58). Por outro lado, o autor nos diz que, pela tendência de harmonização da altura da vogal média em posição pretônica com a vogal tônica, as oposições /e/ e /i/ e /o/ e /u/ sofrem prejuízos, havendo, então, o que se denomina fenômeno da harmonização vocálica. Entretanto, esse fenômeno não resulta no funcionamento do triângulo reduzido de três vogais, a saber: altas /u/ /i/ baixa /a/ devido ao fato de que /e/ e /o/, diante de /a/ tônico, possuem contrastes significativos com /i/ e /u/, respectivamente, como em pesar-pisar, corar-curar. Podemos falar antes num debordamento do /i/ sobre o /e/ e do /u/ sobre o /o/ nessas condições (CÂMARA JR, 2008, p. 60). Para o autor, na pronúncia coloquial tensa, /e/ e /o/ conservam uma autonomia fonêmica em relação a /i/ e /u/, havendo, pois, uma resistência à harmonização e, consequentemente, um resgate de /e/ e /o/ em muitos vocábulos nos quais o fenômeno em questão os reduziria a [i] e [u], como no caso de menino e feliz, por exemplo. Não é só neste autor que há uma tendência a caracterizar o alçamento das vogais médias (e) e (o) como um processo de harmonização vocálica. Tomando a harmonização vocálica como sua variável dependente, Bisol (1981) nos fala que há dois tipos de harmonização: um que diz respeito ao modo e outro ao ponto de articulação, sendo este o que ocorre no PB, estando, o mesmo, em constante interação com a regra de acentuação. Para a autora, a atonicidade terciária condiciona a aplicação da regra de harmonização vocálica, e ainda: Parece que é a preservação do acento secundário que intercepta a regra que torna [- bx] as vogais baixas, ou seja, usando termos da fonologia clássica, a neutralização [...] É também a preservação do acento secundário que intercepta a regra da harmonização vocálica em casos como os seguintes: lento, lentíssimo, mas não lintíssimo; bobo, bobinho, mas não bubinho. Ao que tudo indica, a classe dos formadores de grau e a terminação mente têm características sintáticas e fonológicas que tendem a interceptar o enfraquecimento do acento e consequentemente a redução vocálica. Por conseguinte, é a átona permanente, a que nunca recebe o acento principal, a vogal que se supõe como ambiente por excelência da regra de harmonização [...]. (BISOL, 1981, p ).

27 25 Além disso, diz que a regra de harmonização vocálica que age na esfera da estrutura do vocábulo (menino ~ minino) e extrapola, às vezes, junturas morfêmicas (sofria ~ sufria), não atinge prefixos (predizer ~ *pridizer) ou qualquer formação vocabular que se assente no processo de composição (sempre-viva ~ *simpri-viva), isto é, não funciona por cima do limite /#/ nem ultrapassa o limite de derivado especial /=/. (BISOL, 1981, p. 108). Klunck (2007, p. 77), em seus estudos sobre o alçamento das vogais médias pretônicas em Porto Alegre/RS, nos diz que, devido aos índices extremamente baixos de alçamento da pretônica sem motivação aparente, não existe a regra de elevação no sistema linguístico do sul, diferentemente do que ocorre com a regra de harmonização vocálica. Gianni F. Célia (2004), baseando-se na caracterização feita por S. R. Anderson (1980) para o processo de harmonização vocálica 6, verifica que o processo que ocorre com as vogais médias no PB não é condizente com a visão categórica que caracterizaria a harmonização, sendo, pois, variável. Assim, opta por desconsiderar a variação das médias pretônicas como harmonização vocálica e por nomear este processo como assimilação regressiva, tendo em vista que a altura da vogal que segue a pretônica é o traço que desencadeia o processo de assimilação e, consequentemente, o alçamento de /e/ e /o/. Entretanto, observa que nem todos os casos por ela registrados se encaixam nessa descrição, tendo em vista que as vogais pretônicas também sofrem assimilações decorrentes das consoantes a elas subjacentes e nos relata que, por vezes, os fatores que favorecem o alteamento de E não favorecem o de O, e vice-versa. É possível que realmente haja algum tipo de condicionamento lexical, mas isso não foi averiguado neste trabalho. (CÉLIA, 2004, p. 84). De acordo com Célia (2004, p. 40-1), podem-se sintetizar os fatores favorecedores de alçamento da vogal pretônica, de acordo com as pesquisas por ela consultadas, através de quadros comparativos, a saber: 6 Segundo a autora, há duas características para a harmonização: (1) o caráter categórico do processo; (2) a necessidade de se aplicar a todas as vogais do vocábulo. (CELIA, 2004, p. 83).

28 26 BISOL SILVA VIEGAS Fatores E O E O E O Nasalidade nasal oral Tônica i i, u I i, u i, u i, u Pretônica seguinte i i, u I i, u i, u i, u Distância Atonicidade Átona permanente e variável Átona permanente e casual variável Casual média e variável Átona permanente e casual Casual com Alternância Consoante precedente Consoante seguinte velar velar e labial Labial, velar e alveolar não lateral Velar e palatal Palatal e labial Palatal e velar variável Velar, palatal labial Palatal, labial e Alveolar e - Sonorante Átona permanente e casual s/ alternância Obstruinte Nasal e Obstruinte (modo) Palatal (ponto) CVC e CV Sílaba Travada por fricativa Faixa etária + velhos + velhos + velhos + velhos - - Sexo - - homens homens - - Grupo social Baixo - Etnia Metropolitanos e italianos Metropolitanos e italianos Quadro 1: Comparativo de estudos: Bisol, Silva e Viegas Fonte: CÉLIA, SILVA MOTA VE ECIA OS Fatores E O E O E O Nasalidade i,u i nasal - Tônica i, i~, u, u~ i, i~, u, u~ i i,u Pretônica seguinte i, i~, u, u~, e~ i, i~, u, u~ i U Distância Atonicidade Átona Atona permanente permanente Átona Permanente e formas verbais Átona permanente e casual variável Atona permanent e e casual baixa Átona permanente Consoante palatal Velar Velar, labial Palatal e Palatal precedente Bilabial Velar Consoante labial velar Velar labial velar Palatal, seguinte bilabial e Labiodental Sílaba aberta Aberta Faixa etária Quadro 2: Comparativo de estudos: Silva, Mota e venecianos Fonte: CÉLIA, velhos e Gianni Fontes Célia (2004, p. 61), em suas observações a partir da fala de moradores do município de Nova Venécia, localizado na região noroeste do estado do Espírito Santo, nos

29 27 diz que o comportamento da vogal média anterior (e) é diferente da vogal média posterior (o), sendo esta mais suscetível à variação. Em relação ao rebaixamento das médias pretônicas, diz a autora que o mesmo parece ser também um fenômeno de assimilação regressiva. Entretanto, este parece ser, em Nova Venécia, mais regular do que o alçamento. Sendo, pois, o processo de rebaixamento em Nova Venécia não tão escasso como no Rio de Janeiro, e menos frequente do que o da Bahia, a autora conclui que o Espírito Santo é uma região de transição, no que diz respeito à realização das vogais médias em posição pretônica. (CÉLIA, 2004, p.106). Em estudos sobre o falar capixaba, Célia (2004, p. 61) observa que a vogal média posterior (o) é mais suscetível à variação do que a média anterior (e), além da predominância das médias [e, o] sobre as altas [i, u] e baixas [ε, ɔ]. Entretanto, apesar dos percentuais de rebaixamento serem baixos (4,7%) em Nova Venécia, município da pesquisa, são mais elevados que o do alçamento da vogal média pretônica, parecendo, assim, que este é menos regular do que aquele, apesar de ser, na opinião da autora, dissemelhante ao registrado na Bahia e em outros estados do Norte e Nordeste do Brasil. Por outro lado, de acordo com os dados coletados, o rebaixamento e o alçamento das médias seguem os mesmos padrões e possuem a presença de uma vogal baixa na sílaba seguinte como principal favorecedor. Para a autora, de acordo com os argumentos apresentados, pode-se dizer que o processo de alteamento das vogais médias pretônicas é variável e se dá por meio de uma assimilação regressiva desencadeada por uma vogal alta imediatamente seguinte à pretônica. No entanto, nem todos os casos de alteamento registrados encaixam-se nessa descrição e as vogais pretônicas também sofrem assimilações desencadeadas pelas consoantes a elas adjacentes. Por vezes, os fatores que favorecem o alteamento de E não favorecem o de O, e vice-versa. É possível que realmente haja algum tipo de condicionamento lexical, mas isso não foi averiguado neste trabalho. (CÉLIA, 2004, p. 84). Benedita Campos (2008, p. 95), em Alteamento vocálico em posição pretônica no português falado no Município de Mocajuba-Pará, nos fornece um Mapa representativo da realização das médias em alguns estados brasileiros, formulado através dos estudos de diversos autores 7, e nos diz que, no português falado do Pará, o alçamento da vogal pretônica é recorrente, entretanto, divide espaço com o rebaixamento. 7 Mota (1979); Bisol (1981); Callou & Leite (1986); Callou, Leite & Coutinho (1991); Maia (1986); Viegas (1987); Barbosa da Silva (1991); Bortoni-Ricardo et al (1991); Yacovenko (1993); Pereira (2000); Célia (2004); Schwindt (2002); Guimarães (2007); Kailer (2006); Silveira & Tenani (2007); Nina (1991); Freitas (2001); Rodrigues (2005); Dias, Cassique & Cruz (2007); Oliveira (2007) e Araújo & Rodrigues (2007).

30 28 Para Campos (2008), o efeito da vogal alta na sílaba tônica parece caracterizar harmonização vocálica, tanto em (e) quanto em (o). A autora, em sua pesquisa, constata que: além da existência de um fenômeno de harmonização vocálica, o peso relativo representando as correlações com outros fatores - encaminha para o que caracterizamos neste trabalho como levantamento sem motivação aparente, uma vez que não temos vogal alta tônica que exerça efeito sobre a pretônica, mas vogais médias de 1º grau. É interessante observar que o efeito exercido pelas vogais médias de 2º grau apresentou pesos menos relevantes e, no processo de articulação estas estão mais próximas das altas do que aquelas (1º grau), o que poderia possibilitar maior distanciamento. (CAMPOS, 2008, p.135, grifo nosso). Ainda em Campos (2008, p. 130), em sua análise do alçamento da vogal pretônica no dialeto de Mocajuba/PA, verifica-se a presença da manutenção da vogal média em posição pretônica; entretanto, a ausência do fenômeno é superior à sua presença em apenas dois pontos percentuais. Por outro lado, em relação ao peso relativo, tanto para o alçamento quanto para a manutenção da vogal média pretônica, há uma equivalência (.5) que, assim, atesta uma situação de variação neutra no português falado no município de Mocajuba (PA). Com isto, tendo como base os estudos de Dias et al (2007), Oliveira (2007) e Araújo & Rodrigues (2007), nos municípios de Breves e Cametá/PA, reformula o mapa dialetológico do estado, no qual o alçamento divide espaço com o rebaixamento, conforme dado a seguir: TABELA 1 O comportamento da vogal média em posição pretônica no Pará 8 Municípios Presença alçamento Peso relativo Presença de alçamento Percentual Belém.29 /o/ e.22 /e/ - Breves - 81% (urbana) Bragança - 14% para /e/; 26% para /o/ Cametá.29 29% para /e/; 40% para /o/ Mocajuba.50 49% Fonte: CAMPOS, 2008 Conforme Dias, Cassique e Cruz (2007), em sua pesquisa sobre o alçamento das vogais pretônicas em Breves/PA, 8 Conforme Campos (2008, p. 131). a vogal contígua à sílaba tônica /u/ ou /i/ elevam (sic) as possibilidades de ocorrência de alteamento, assim como a distância mais próxima da vogal pré-tônica em relação à tônica (no caso a distância 1), em contrapartida, quanto maior a distância da tônica em relação à pré-tônica, menor a possibilidade de ocorrência do

31 29 fenômeno estudado, o que comprova a existência do fenômeno da harmonização vocálica, no qual a pré-tônica favorece o alçamento pré-tônico. (DIAS, CASSIQUE & CRUZ, 2007, p. 16). Tal fato encontra eco nas palavras de Silva (1989, p. 146), que nos diz que o contexto mais favorável para o alçamento das pretônicas é o das vogais altas. Para a autora, tal fato se trata, evidentemente, de um processo de assimilação regressiva da altura da vogal da sílaba subsequente, de uma regra de harmonização vocálica. Conforme nos mostram Dias, Cassique e Cruz (2007, p. 07), em estudo realizado em Breves/PA, após a primeira análise quantitativa, há a predominância do não alçamento da pretônica, a saber: TABELA 2 O alçamento em Breves/PA Variável Dependente Valores de Aplicação Percentual Ausência de alteamento 1498/ % Presença de alteamento 1126/ % Fonte: DIAS, 2007 Nos estudos desses autores, observa-se que as médias baixas [ε] e [ɔ] (184 e 216 ocorrências, respectivamente) realizam-se menos do que as médias altas [e], [o] (1086 e 976 ocorrências, respectivamente). Tal fato, na opinião dos autores, conflitua com a divisão dialetal de Antenor Nascentes, na qual os dialetos do Norte do Brasil se caracterizariam pela realização de vogais baixas; mas, por outro lado, reforça as suposições de Silva Neto (1957, p. 75) 9, que caracteriza o Pará como uma ilha dialetal em relação aos demais dialetos circunvizinhos. (DIAS, CASSIQUE & CRUZ, 2007, p. 08). Também dizem que a questão do alçamento das vogais médias em posição pretônica é um fenômeno que está em um gradual processo de extinção (DIAS, CASSIQUE & CRUZ, 2007, p. 15), sendo a sua ocorrência proporcional à faixa etária na qual o falante encontra-se inserido. 9 Para Silva Neto, no Pará, em 1759, prevalecia a língua geral: fala-a toda a nação indígena que se relaciona nas povoações. Nas cidades, fala-se da porta da sala para dentro; e nas vilas e demais povoações, excetuada Pauxis no Baixo Amazonas, é a única, não por se ignorar a portuguesa, mas porque, constrangidos os indígenas, os Mamelucos, em falá-la pela dificuldade de formarem os tempos dos verbos, do que as dispensa a geral, respondem por esta se se lhes pergunta por aquela. (NEIVA (1940) apud SILVA NETO, 1950, p. 76-7, grifo nosso).

32 30 Graebin (2008), baseando-se nos estudos de Silva Neto 10, nos diz que essa regra de harmonização vocálica é variável, pois ocorre, também, em palavras cujo ambiente fonético seria desfavorável à aplicação da mesma, como f[u]gueira, b[u]neca e s[u]taque. A autora, em sua pesquisa sobre a pronúncia das vogais médias pretônicas em Formosa/GO, ainda nos diz que os pesos relativos referentes à elevação, na fala de Formosa, não apontam as vogais altas como as principais condicionadoras e, portanto, não se pode falar de uma regra gramatical de harmonização vocálica nesta pesquisa. (GRAEBIN, 2008, p.161). Conforme Bisol (1981), Cavaliere (2005), Cristófaro-Silva (2005) e Oliveira (1991), tal processo é um caso de variação linguística, tendo em vista que não provoca alteração no sistema. Nas palavras de Cavaliere (2005): Em outros termos, quando temos /i/ e /u/ tônicos, as pretônicas médias /e/ e /o/ se elevam em linguagem distensa até nivelarem-se às altas: menino [mi ninu], bonito [bu nitu], não obstante, por motivos variados, sobretudo os que visam estabelecer distinção ou ênfase no discurso, o falante sempre tenha a possibilidade de manter a pronúncia da vogal média de segundo grau [me ninu], [bo nitu]. (CAVALIERE, 2005, p. 76). Entretanto, para Bisol (1981), a questão da variação da pretônica está sujeita à própria natureza de um fenômeno probabilístico: a) a maior probabilidade de aplicação da regra e seu maior uso estão diretamente relacionados com a multiplicidade de fatores concorrentes. b) No entanto a regra pode deixar de funcionar em contextos que satisfaçam todas as suas condições de operabilidade. c) Por outro lado, a regra pode operar em contextos inesperados, embora o faça com raridade. (BISOL, 1981, p ). A autora nos diz ainda que, em consonância com o observado por Dias, Cassique e Cruz (2007), a regra do alçamento da vogal média pretônica 11 parece estar em equilíbrio no que concerne aos quatro grupos estudados no dialeto gaúcho: ela não apresenta indícios de tendência de expansão por alargamento de abrangência contextual. (BISOL, 1981, p. 262). Por outro lado, a população mais jovem a utiliza menos e, portanto, essa regra, assim como em Breves/PA, parece estar em processo de regressão. Graebin (2008, p. 128) toma como uma variável independente, em seus estudos sobre a vogal média pretônica na fala de Formosa/GO, o controle lexical, tendo em vista que 10 Para o referido autor, a harmonização ocorre entre vogais homorgânicas anteriores e posteriores e as não homorgânicas. (GRAEBIN, 2008). 11 Que a autora toma como o fenômeno da harmonização vocálica.

33 31 observou, no momento da codificação dos dados, itens lexicais como você, pessual, semana, minino, purque com grande frequência, além de serem produzidos de modo categórico com uma variante. Tendo colhido e codificado os dados da fala de Formosa, a autora nos dá a seguinte tabela sobre o comportamento das vogais médias em posição pretônica: TABELA 3 O comportamento das vogais médias pretônicas na fala de Formosa/GO Variante média fechada [e, o] Vogal /e/ 2265/ ,5% Vogal /o/ 1780/ ,2% Total 4045/ ,8% Fonte: GRAEBIN, 2008 Variante média aberta [ε, ɔ] 446/ ,1% 420/ ,7% 866/ ,2% Variante alta [i, u] 972/ ,4% 663/ ,2% 1635/ % A partir desses valores, pode-se verificar que, na fala de Formosa/GO, as vogais médias (e, o) apresentam índices semelhantes de variação, sendo que na variante média aberta houve uma dissemelhança no comportamento das mesmas: a vogal (o) se sobressai levemente (14,7% contra 12,1% da vogal (e)); fato contrário ocorre na variante alta, onde (e) (26,4%) se sobressai a (o) (23,2%). A partir de comparações com estudo da fala de Brasília/DF, Jeremoabo/BA, Salvador/BA e Recife/PE, conclui que a fala de Formosa ocupa, de fato, um lugar intermediário entre a fala de Brasília e a fala de cidades nordestinas. (GRAEBIN, 2008, p. 150). A autora conclui, tendo por base o trabalho dialetológico de Nascentes, que a presença da variação ternária das vogais médias /e/ e /o/ em posição pretônica (média-fechada ~ média-aberta ~ alta) liga a variedade falada em Formosa às variedades linguísticas da Bahia e do norte de Minas Gerais, ao mesmo tempo que a separa das variedades faladas ao sul de Goiás, região onde predomina a variação binária (média-fechada ~ alta). A comparação dos resultados percentuais do corpus de Formosa com o de outras pesquisas dialetológicas (Rossi, 1963; Zágari, 1998) e sociolinguísticas (Silva, 1989; Soares, 2004; Corrêa, 1998), referentes ao subfalar baiano, confirmou a classificação feita por Nascentes (1953). Por outro lado, a comparação evidenciou também que o nível de abaixamento na fala de Formosa (13,2%) é bem menor que o encontrado em Salvador (59%) e em Jeremoabo (50,5%), mas maior que o verificado em Brasília (3,5%), ficando, assim, num nível intermediário. (GRAEBIN, 2008, p. 208).

34 32 Diferentemente desta marca dialetal comprovada no falar dos formosenses, Rodrigues (2005, p. 113) constata, em Cametá/PA, uma perda de identidade dialetal, tendo em vista que a ausência de alteamento /o/ > [u] é 16% maior que a sua presença. Ainda em relação à ausência de alçamento da vogal pretônica, o autor nos diz que, na sua variável classe gramatical do vocábulo, o falante evita o fenômeno quando se trata de nomes (37%), enquanto que a ocorrência do alçamento nos verbos é bem maior, 49%. O alçamento, no Português do Brasil, é caracterizado pela modificação do traço [-alto] para o [+alto] das vogais médias (e) e (o), que se realizam como vogais altas [i] e [u] (coruja ~ c[u]ruja; bebida ~ b[i]bida) de forma variável. Muitos trabalhos têm discutido esse fenômeno e, segundo Cristófaro-Silva (2005, p. 84), o estudo da variação dialetal das vogais pretônicas no português brasileiro ainda merece uma investigação detalhada. Para Viegas (2001), hoje, em relação ao processo de alçamento, temos: a) a maioria dos itens alçados pode ser caracterizada como constituindo um processo de harmonização vocálica ambiente favorecedor: vogal alta seguinte, pelo menos no caso de e; b) nem todos os itens que têm ambiente caracterizando um processo de harmonização vocálica alçam; c) existem itens que alçam apesar de não terem ambiente caracterizador de harmonização vocálica. O item (a) indica que houve um sentido mecânico, como diziam os NG, mas a atuação desse sentido mecânico foi selecionada pelos itens lexicais, como indicam (b) e (c). Ou seja, existe um sentido, uma direção, mas ela não é automática. (VIEGAS, 2001, p. 36). Ainda para a autora, considerando-se a constituição de regras, o alçamento das médias pretônicas no dialeto de Belo Horizonte parece possuir exceções (como murango e simestre), além de serem sensíveis à fronteira de morfema 12 (renascimento, coautor) e serem cíclicas (cunhicia, piquinininho); ou seja, têm características das regras lexicais. (VIEGAS, 2001, p. 41). Sobre o aspecto difusionista, Viegas (2001), ao estudar o processo de alçamento das vogais médias pretônicas em Belo Horizonte/MG, observou que, apesar de ser bastante regular em suas fases iniciais, ainda há uma seleção lexical a qual, para a autora, atua em nível de familiaridade do item no dialeto. Para comprovar a sua tese, a autora faz uma análise histórica de alguns itens lexicais e a compara com a pronúncia de informantes atuais. Conclui que o processo de alçamento difere no que diz respeito às vogais médias pretônicas posteriores e anteriores, sendo, nestas, 12 Nominais prefixados.

35 33 menos regular que naquelas, apesar de, em ambos os casos, não se aplicar a alguns itens, mesmo que os mesmos possuam ambiente favorecedor para a aplicação da regra. E nos diz: Parece-me que há aqui também a questão da formalidade e/ou valoração social e semântico-pragmática do item. Mais uma vez temos evidências de que estamos diante de um processo de difusão lexical, pois a regra atinge alguns itens e não atinge outros. Mesmo com todo o esforço para encaixarmos todos os itens em uma regra, fica um resíduo (itens que têm ambiente mas não alçam), característico do processo de difusão lexical a seletividade lexical. (VIEGAS, 2001, p. 114). Silva (1989, p. 60), em um estudo diacrônico do alçamento das pretônicas, nos diz que, em relação aos estudos dos gramáticos do passado, não há conclusões que possam ser consideradas definitivas sobre o vocalismo do português antigo, principalmente no que concerne à alternância entre médias e baixas. Em suas palavras, a preocupação com a difusão das normas de prestígio e, consequentemente, a falta de interesse pelos dialetos, juntamente com a discussão da reforma ortográfica que perpassava as descrições, são provavelmente as causas de não terem sido registrados outros detalhes sobre a pronúncia das pretônicas. (SILVA, 1989, p. 60). Para esta autora, a regra de alçamento 13 possui formulação binária nos diversos dialetos em que é aplicada e/ou conhecida, regulando, assim, a variação entre vogal [-alta] e vogal [+alta]. Em seus estudos sobre o alçamento das vogais médias (e) e (o) no dialeto de Salvador, a autora nos propõe algumas regras, sendo elas: Regra 1 Regra Variável de Elevação (5ª versão) RVE-1 14 V <+alt.> / X C 1 C 1 V -ac +alt <+alt.cas/alt> +ant +alt +rec +rec -cor -nas +ant -cor Condição: X não pode conter acento 1 +alt +nas Uma vogal pretônica recuada, ou seja, O, tem maior probabilidade de se tornar alta (u) quando: é uma átona casual que varia na família lexical com uma vogal acentuada alta; está precedida, na ordem de importância, de uma consoante velar (alta recuada) ou de uma labial (anterior não-coronal); e/ou está seguida de, pelo menos, uma consoante, preferencialmente labial, que a separa de uma vogal, principalmente alta não-nasal e, secundariamente, alta-nasal. Exemplos: descubrir / descubro (sic). (SILVA, 1989, p. 188). 13 Ao que a autora nomeou Regra Variável de Elevação. 14 Transcrito conforme apresentado em Silva (1989).

36 34 RVE-2 V <+alt> / C C 1 V -ac + ant <+alt.cas/alt> +alt - rec -cor -nas +ant +cor -lat +alt +nas Condição: X não pode conter acento 1 Uma vogal pretônica não recuada, ou seja, E, tem maior probabilidade de se tornar alta (i) quando: é uma átona casual que varia na família lexical com uma vogal acentuada alta; está precedida na ordem de importância de uma consoante labial (anterior não-coronal) ou dento-alveolar, exceto X e X (anterior coronal nãolateral); e/ou está seguida de, pelo menos, uma consoante que a separa de uma vogal não-nasal e, secundariamente, de uma vogal alta nasal. Exemplos: sirviço / sirvo. (SILVA, 1989, p. 188). Regra 2: Regra Categórica de elevação (RCE) V <+alt> / # C $ -ac +cor -rec -soa +cont -son Uma vogal pretônica não-recuada se torna alta em posição inical absoluta, se é seguida na mesma sílaba por uma consoante sibilante ou chiante surda [+coronal soante +contínua sonora]. Ex.: iscuro, iscola, ispécie, istado. (SILVA, 1989, p. 230).

37 35 Regra 3: Regra Variável de Elevação e (RVE-3) versão provisória V <+alt> / # $ C V -ac -soa <+alt> -rec +cont -cor +ant +son Uma vogal pretônica não recuada E, tem maior probabilidade de se tornar alta em posição inicial absoluta, se é seguida de uma consoante sibilante sonora [-soante +contínua coronal +anterior +sonora], pertencente à sílaba vizinha e uma vogal alta. Ex.: ixibida, ixata, ixame (SILVA, 1989, p. 237). A autora considera que essas regras podem sofrer interferências morfológicas, como em letrinha e sobreposta, por exemplo, que deveriam se realizar como l[i]trinha ou l[ε]trinha e s[u]breposta ou s[ɔ]breposta, respectivamente. Entretanto, nos diz que essa interferência nem sempre acontece. Quando essas barreiras se afrouxam e o significado do vocábulo perde seu vínculo semântico original, as regras descritas passam a atuar sobre a pretônica. Veja-se, por exemplo, o u de direturia (diretôr+ia), o ô de farôlete (faròl+ete), e o ò de astròlugia (astru+logia), podendo, portanto, caracterizar condicionamento lexical. (SILVA, 1989, p. 317, grifo nosso). Fala-nos a autora que, em uma visão diacrônica do processo de rebaixamento, pode-se dizer que as pretônicas com o traço [-alto] já existiam em grande número no século XVIII e, como no caso do alçamento, eram condicionadas fonológica e morfologicamente. Assim sendo, o rebaixamento da média pretônica não é uma tendência exclusiva dos dialetos brasileiros, estando, também, no Português Europeu, no de Goa e no crioulo de Cabo Verde (SILVA, 1989, 75-6). O rebaixamento, na visão da autora, mesmo sendo considerado uma característica dialetal do norte do Brasil, principalmente após a divisão dialetal de Antenor Nascentes, e de acordo com outros estudos (vide Célia (2004), por exemplo), é, pois, traço definidor importante dos falares brasileiros, tendo em vista que o mesmo é realizado em outras regiões do país além daquela do subfalar baiano. E conclui que não só a vogal acentuada é determinante da altura da vogal pretônica, mas, também, a vogal não acentuada, sendo ambas, a tônica e a átona, da sílaba subsequente, afinal, a vogal da sílaba acentuada não contígua,

38 36 sozinha, não torna alta uma pretônica, qualquer que seja o dialeto em foco. (SILVA, 1989, p. 97). Em seus resultados, pôde constatar que é possível encontrar as variantes [u, o, ɔ] e [i, e, ε] no mesmo vocábulo (prop[u]rção, prop[o]rção, prop[ɔ]rção e n[i]c[i]ssita, n[e]c[e]ssitam, n[ε]c[ε]ssita, respectivamente), além de verificar que as vogais médias e as baixas não se encontram em uma distribuição complementar perfeita, tal qual apregoava em sua dissertação O ensino da leitura segundo perspectivas de uma análise ortográficofonológica (1974). Prova disto nos dá Yacovenco (1993, p. 80) ao demonstrar a distribuição das médias pretônicas de acordo com seu tipo e em função das regras variáveis: TABELA 4 Distribuição das médias pretônicas no falar culto carioca Tipo de Pretônica Manutenção Alçamento Abaixamento Total N o de ocorrências % N o de ocorrências % N o de ocorrências % N o de ocorrências Anterior , ,0 58 3, Posterior , ,8 35 3, Anterior nasal , ,5 1 0,4 276 Posterior nasal , ,9 1 0,4 264 Ditongo ,1 13 9,8 4 3,0 132 Total , ,9 99 2, Fonte: YACOVENCO, 1993 Tais dados comprovam que o rebaixamento, mesmo em número inferior ao alçamento e à manutenção da pretônica, ocorre no falar culto carioca, tendo como contexto favorecedor os segmentos orais anterior e posterior, respectivamente. Divergentemente dos resultados da Tabela 4 são os encontrados em Silva (1989, p. 106). A autora nos fornece a seguinte tabela de ocorrência das variantes em contextos orais e nasais 15 : 15 Observando-se apenas os totais de ocorrências das variantes.

39 37 TABELA 5 Ocorrência das variantes [u, ô, ò, i, ê, è] em Salvador/BA Recuada O ão recuada E u Ô ò i ê è Contexto não nasal 247/969 25,5% 190/969 19,6% 532/969 54,9% 374/ ,1% 386/ ,8% 860/ ,1% Contexto nasal 46/208 22,1% 14/208 6,7% 148/208 71,1% 51/472 10,8% 20/472 4,2% 401/472 84,9% Total 293/ ,9% 204/ ,3% 680/ ,8% 425/ ,9% 406/ ,0% 1261/ ,0% Fonte: SILVA, 1989 Através dos resultados podemos, então, comprovar que, no dialeto de Salvador, diferentemente do falar culto carioca, o rebaixamento da vogal é superior ao seu alçamento e à sua manutenção, sendo [ô] e [ê] as variantes em menor percentual. Se no falar culto carioca o contexto nasal era desfavorecedor ao rebaixamento da média pretônica apenas 0,4% -, em Salvador é significativamente favorecedor: 71,1% e 84,9% contra 54,9% e 53,1% do contexto oral. Tendo, assim, verificado a baixa ocorrência das vogais médias [ô] e [ê], justifica seus números através do que intitulou Regra Variável de Timbre e conclui que as pretônicas no dialeto estudado se tornam obrigatoriamente baixas se a vogal da sílaba seguinte é nasal e podem tornar-se altas por uma regra variável que atinge igualmente as que se encontram em contextos orais 16. (SILVA, 1989, p. 128). Viana (2008, p. 29) nos fornece o seguinte quadro 17 de tendência de realização das vogais pretônicas no PB: 16 Vide p. 33 desta Dissertação. 17 Conforme Cardoso (1999).

40 38 Região Estados Vogais Baixas Vogais Médias NORTE Amazonas ε / ɔ Pará ε / ɔ e / o Acre ε / ɔ NORDESTE Ceará ε / ɔ Rio Grande do Norte ε / ɔ Paraíba ε / ɔ Pernambuco ε / ɔ Alagoas ε / ɔ Sergipe ε / ɔ Bahia ε / ɔ SUDESTE Minas Gerais ε / ɔ e / o Rio de Janeiro e / o São Paulo e / o SUL Paraná e / o CENTRO OESTE Rio Grande do Sul Mato Grosso do Sul Quadro 3: Comportamento das pretônicas no PB Fonte: VIANA, e / o e / o Freitas (2001), em seus estudos sobre o dialeto de Bragança/PA, nos diz que, no dialeto do município, o que predomina é a variável média da pretônica, em detrimento da baixa e da alta, sendo esta a que menos se realiza, permitindo, assim, levantar a hipótese de que o Pará constitui uma ilha dialetal no falar do Norte do Brasil. (FREITAS, 2001, p. 24). Para a autora, o contexto de vogais baixas favorece exclusivamente o rebaixamento, com probabilidade de ocorrência maior do que o alçamento (favorecido pelos contextos de vogais altas) e da manutenção (favorecida pelos contextos de vogais médias). A autora, tomando como variável a classe morfológica, verifica que o comportamento da vogal difere conforme a classe: os verbos não favorecem a manutenção das vogais médias pretônicas e favorecem o alçamento, diferentemente dos nomes, que favorecem a manutenção e desfavorecem o alçamento e o rebaixamento. Comportamento diverso têm os advérbios, que favorecem o alçamento e desfavorecem a manutenção; já os pronomes favorecem o rebaixamento com índices elevados de ocorrência. Tais fatos nos mostram, então, que a variação da vogal média pretônica possui um condicionamento morfológico, o qual supõe, por sua vez, um condicionamento lexical em um nível mais abrangente. Em Minas Gerais, no município de Pará de Minas, Viana (2008) constata a presença de rebaixamento, alçamento e manutenção para as vogais médias (e) e (o) em posição pretônica, a saber: p[ε]reba, m[i]nino, s[e]cr[e]taria; c[ɔ]légio, c[u]nversa, [o]itenta. A

41 39 autora, baseando-se em seus dados selecionados do corpus de Pará de Minas, nos dá a seguinte tabela: TABELA 6 Valores totais de ocorrência em Pará de Minas 18 Pretônicas Realizações úmero de Percentual Total dados Anteriores /e/ (i) ,57% (e) ,24% (ε) 20 0,19% Posteriores /o/ (u) ,92% (o) ,42% (ø) 173 2,66% Fonte: VIANA, 2008 O que podemos observar, a partir da Tabela 6, é que há a presença das variáveis [i, e, ε] e [u, o, ɔ] no dialeto paraminense. A manutenção das vogais médias prevalece no dialeto estudado, seguida pelo alçamento das mesmas, sendo que a vogal (e) alça mais do que a vogal (o). Para a autora, os índices de alçamento das vogais médias pretônicas mostram que este processo está se cristalizando em Pará de Minas, tanto no nível da oralidade quanto no da escrita, conforme figuras que mostram ocorrências como p[i]ru e c[i]rzido (VIANA, 2008, p. 114). No que concerne ao rebaixamento das vogais em posição pretônica, este ocorre em números pouco significativos em relação aos outros fenômenos, entretanto, a vogal média (o) torna-se baixa mais frequentemente do que a vogal (e) - 2,66% e 0,19%, respectivamente. A autora também observa que o comportamento das vogais médias em posição pretônica difere de item lexical para item lexical, o que a faz concluir que há, neste processo de variação, um condicionamento lexical. Em suas palavras: Percebe-se que a mudança ocorre e propaga-se em palavras com estrutura sonora semelhante, porém, em alguns casos deixa algumas palavras permanentemente sem alteração sonora e, em outros casos, atinge a todas as palavras da língua que potencialmente poderiam sofrer a mudança sonora. Diante desses exemplos, concluí que há um condicionamento lexical. (VIANA, 2008, p.98). 18 Adaptado.

42 40 Além disso, a autora conclui que o processo de variação das médias pretônicas varia de indivíduo para indivíduo, sendo, pois, intraindividual. Tal fato pode ser explicado pelo que nos propõe Oliveira (2006): A montagem da forma fonética do léxico é individual, muito embora os mecanismos acionados sejam os mesmos. É evidente que os falantes de um mesmo dialeto apresentarão mais semelhanças do que diferenças entre si. Afinal todos eles desfrutarão de um mesmo contexto social no seu desenvolvimento da linguagem. E é evidente, também, que as diferenças irão crescer quando falantes de dialetos diferentes são comparados. (OLIVEIRA, 2006, p.18). Tal quadro de pretônicas [i, e, ε, u, o, ɔ] também é verificado em Juiz de Fora/MG onde, apesar da tendência ser a manutenção das médias pretônicas, há tanto o alçamento quanto o rebaixamento. Esses fenômenos, em relação ao comportamento das médias pretônicas no dialeto juizforense, não são casuais, visto que tendem a ocorrer em certos ambientes (CASTRO, 1990, p. 246). O autor também nos diz que os dados apontam para variação através de difusão lexical, pois algumas palavras com frequência excessivamente alta (retiradas da análise), ou seja, as mais frequentes, segundo Viegas, ocorrem com a pretônica alteada em ambientes que tendem a propiciar o seu alteamento, como em siguinte, pulítico, em que o alteamento ocorre diante de vogal alta imediata, ao passo que as menos frequentes tendem a não ocorrer, no mesmo contexto, com a pretônica alteada, como em alêrgia, eufôria. Entretanto, palavras com frequências semelhantes tiveram, no mesmo contexto, comportamentos diversos. Por exemplo, minino e dumingo são frequentes e ocorreram com a pretônica alteada; pêríodo e prôfissão são frequentes e não ocorrem com a pretônica alteada; amaduricido e cuchila não são frequentes e ocorrem com pretônica alteada; amadurêci e categôria não são frequentes e não ocorrem com pretônica alteada. (CASTRO, 1990, p. 248). 2.2 As vogais médias postônicas Conforme dito no início deste capítulo, em relação às postônicas, teríamos dois quadros distintos: 1º quadro (primeiras vogais postônicas dos proparoxítonos, ou vogais penúltimas átonas): altas /u/ /i/ médias /../ /e/ baixa /a/

43 41 2º quadro (vogais átonas finais, diante ou não de /s/ no mesmo vocábulo): altas /u/ /i/ baixa /a/ Nesta dissertação, interessa-nos apenas o quadro 1 19, sobre o qual passaremos, a seguir, a tecer alguns comentários. As vogais postônicas não finais, ou mediais, ocorrem entre a vogal tônica e a vogal átona final em vocábulos proparoxítonos. De acordo com Cristófaro-Silva (2005, p. 87), a pronúncia das vogais postônicas mediais no PB possui grande variação, que, na opinião da autora, está intimamente relacionada ao estilo de fala, formal e informal, sendo que no estilo formal teríamos duas possibilidades: [i, e, a, o, u] e [i, e, ε, a, ɔ, o, u]. Para a autora, são as vogais baixas [ε, ɔ] que dotam alguns dialetos de especificidade; além disto, a ocorrência das vogais [e, o] e [ε, ɔ] em posição postônica medial depende sobretudo da vogal tônica que a precede (CRISTÓFARO-SILVA, 2005, p. 87). Ainda para a autora, no estilo informal, as postônicas mediais [i, a, u] seriam reduzidas a [ˆ, ə, ], respectivamente. Em sua pesquisa, André Pedro da Silva (2006) utiliza os estilos formal e informal para acompanhar o comportamento das postônicas médias em posição não final e nos diz que, na maioria dos dialetos do PB, tem-se, em estilo formal, as vogais [i, e, a, o, u] ocorrendo em posição postônica não-final. Já em alguns outros dialetos, como o da região Nordeste, por exemplo, as vogais [ε, ø] ocorrem em posição postônica medial em estilo formal. (SILVA, 2006, p. 53). O autor, de acordo com os estudos realizados em Sapé/PB, especificamente em relação ao comportamento das vogais médias [e, ε, o, ɔ] em posição postônica não final -, observa que, na maioria dos dialetos do PB, [o, ɔ] são reduzidas a [ ], como em pér[o]la (estilo formal do dialeto carioca), pér[ɔ]la (estilo formal do dialeto sapeense) e pér[ ]la (estilo informal dos dialetos carioca e sapeense). Isto posto, conclui que o grupo [e, ε] apresenta a maior variação fonética dentre as vogais postônicas mediais. (SILVA, 2006, p. 54). Em sua pesquisa, nos mostra que há uma pequena variação (elevação da vogal postônica não-final e/ou abertura dessas vogais) apesar da grande influência de neutralização, tendo em vista a análise ser feita em falar coloquial de uma cidade nordestina. Assim, temos mais árv[u]ri e/ou árv[ɔ]ri que árv[o]ri; núm[i]rus e/ou núm[ε]rus que núm[e]rus; abób[u]ra e/ou abób[ɔ]ra que abób[o]ra. (SILVA, 2006, p.55). 19 Devido ao fato de que (e) e (o) em posição postônica final é, categoricamente, realizado como [i] e [u], respectivamente. Somente em alguns poucos dialetos as vogais [e] e [o] ocorrem em posição atóna final.

44 42 Cavaliere (2005, p. 81) nos dá o seguinte quadro das vogais postônicas mediais: Altas /i/ / / Médias /e/ /a/ Anteriores central posteriores Quadro 4: Vogais postônicas mediais Fonte: CAVALIERE, Para o autor, entretanto, há quatro fatos que devem ser observados em relação ao comportamento das postônicas mediais: (1) as altas manifestam-se predominantemente pelos alofones [ˆ] e [ ], o que se verifica na pronúncia de vocábulos como hábito [ abˆt ] e cédula [sεd lå]; (2) a vogal baixa (...) manifesta-se pelo alofone [å], como em [ kalåm ] 20 ; (3) as vogais médias de 2º grau (/e/ e /o/) entram em neutralização respectivamente com as altas /i/ e /u/, como em palavras como número e pérola, que podem ser pronunciadas [ numiɾ, numeɾ ] e [ pεɾ la, pεɾola], respectivamente; (4) não há registro no português do Brasil de vogais médias de primeiro grau (/ε/ e /ɔ/) nesta posição, não sendo, portanto, aceitas as pronúncias [ numεɾ ] ou [ pεɾɔla] no PB (CAVALIERE, 2005, p. 80-1). Tem-se, então, um novo quadro de postônicas mediais: Altas /i/ / / Médias /e/ /a/ Anteriores central posteriores Quadro 5: Novo quadro de vogais postônicas mediais Fonte: CAVALIERE, Pode-se notar, a partir daí, que o quadro proposto por Cavaliere (2005) é divergente daquele proposto por Mattoso, para o qual, em posição postônica não-final, há a neutralização entre /o/ e /u/, mas não entre /e/ e /i/ (CÂMARA JR, 2007, p. 44), o que 20 Em geral, não é característica do PB.

45 43 podemos observar na rima de vocábulos tais como pérola e cérula. Divergentemente deste, há uma distinção entre /e/ e /i/, embora seja difícil encontrar pares opositivos mínimos (mas uma pronúncia */nu miru/, em vez de /nu meru/, para número, ou */tè pedu/, em vez de /tè pidu/, para tépido, é logo rechaçada). (CÂMARA JR, 2007, p. 44). Também divergentemente do quadro proposto por Mattoso Câmara Jr., e também do proposto por Cavaliere (2005), os resultados da pesquisa realizada por Vieira (1994, p. 104) no dialeto gaúcho demonstra a existência de um sistema vocálico postônico diferente [...] e definem (sic) contextos nos quais este sistema é preservado ou diminuído variavelmente em função da neutralização das vogais médias. Diferentemente das vogais médias em posição pretônica, o quadro das postônicas, assim como os fenômenos fonológicos a ele inerentes, ainda é pouco explorado no PB. Na visão de Ribeiro (2007, p. 27), um trabalho que se dedique às palavras proparoxítonas deve lidar, grosso modo, com pelo menos cinco possibilidades de realização fonético-fonológica, de causas e naturezas diferenciadas ; são eles: (1) Alçamento: diz respeito, no PB à modificação do traço [-alto] para o [+alto] das vogais médias /e/ e /o/, que se realizam como vogais altas [i] e [u] (período ~ perí[u]do; termômetro ~ termô[i]tro) de forma variável. (2) Rebaixamento: é o caminho inverso do alçamento, ou seja, palavras que possuam a vogal alta são pronunciadas com a vogal média alta, tal como em nód[u]lu ~ nód[o]lo. (3) Hipercorreção: tentativa de corrigir algo que não estava errado, redundando, assim em novo erro como em frigorifico ~ frigorif[e]co. (4) Síncope: supressão de um ou mais segmentos na(s) sílaba(s) átona(s) postônica(s) de um vocábulo como em árvore ~ árvre. (5) Outras alterações 21 : em casos em que não houve síncope como, por exemplo, véspera, pronunciada por [ vεspara] ~ [ vεspura]. Ribeiro (2007), em seu estudo sobre a vogal média postônica não final no falar de Belo Horizonte/MG, conclui: Neste trabalho, encontraram-se realizações indicativas de DL. [...] Outras indicações de que as vogais da posição aqui investigadas são passíveis aos processos difusionistas podem ser expressas pelo comportamento peculiar de algumas palavras aqui pesquisadas. A palavra véspera, por exemplo, uma palavra pouco frequente, foi pronunciada como véspura por muitos falantes com menor escolaridade e pertencentes à classe social mais baixa; a palavra próspero, contudo, 21 Conforme Amaral (2001, p. 103).

46 44 que possui o mesmo contexto não vira próspuro em nenhuma das ocorrências. A mesma diferença de comportamento acontece com as palavras cômoda e cômodo, porém, com outros processos fonológicos envolvidos. O mesmo falante que pronuncia cômbada para cômoda, fala que construiu um [»komudu] na frente de casa, e não um cômbadu ou mesmo cômbudu. Diferenças dessa espécie apontam para a hipótese da DL e acabam por situar a investigação dos fenômenos fonológicos no par item léxico indivíduo. (RIBEIRO, 2007, p. 163). Além de indicativos de difusão lexical, também nota um comportamento linguístico que difere de falante para falante, entretanto, nos diz que essa variação intraindividual pode ser considerada uma situação marcada na língua (RIBEIRO, 2007, p. 163). A autora nos dá um quadro do alçamento das vogais médias postônicas não finais, a saber: TABELA 7 Estatística do alçamento das vogais médias postônicas não finais em Belo Horizonte/MG 22 Alçamento Dados obtidos % Vogal alçada /i/ 327/ Vogal não-alçada /e/ 543/ Vogal alçada /u/ 756/ Vogal não-alçada /o/ 197/ Fonte: RIBEIRO, 2007 O que podemos depreender dos dados é que se comprova, também em posição postônica não final, o comportamento diferenciado das vogais (e) e (o), sendo esta a de maior ocorrência em proparoxítonas e a que mais alça; o que pode, então, para a autora, comprovar que, no dialeto de Belo Horizonte, além da maior difusão do alçamento de (o) ~ [u] do que de (e) ~ [i], há menor controle do falante por parte desse processo, ambas (/o/ e /u/) são reflexos do estreito espaço fonológico que divide as vogais /o/ e /u/. (RIBEIRO, 2007, p. 151, grifo nosso). Antes de passarmos aos resultados da pesquisa de Guimarães (2006), cabe aqui um pequeno parêntese sobre o Bases para a elaboração de um Atlas linguístico do Brasil. Antenor Nascentes inscreve o norte, o nordeste e o noroeste de Minas Gerais, assim como a Bahia e o Sergipe, no subfalar baiano, que difere dos outros subfalares pela presença das vogais médias baixas [ε, ɔ]. 22 Adaptado.

47 45 Suzana Cardoso 23, em seu trabalho Tinha ascentes razão?, em um exame do Atlas prévio dos falares baianos (APFB) e d O esboço de um atlas linguístico de Minas Gerais, nos diz que há indicações nos dois atlas que confirmam a divisão proposta por Nascentes. Entretanto, realizações de [o, u] e [e, i] também foram documentadas no APFB, sempre em número menor que as variantes baixas. Para [o] e [e] Cardoso (1986) propôs dois tipos de explicação analógica e fonológica, de harmonização vocálica (apud SILVA, 1989, 70). Pode-se, portanto, daí, tirar duas conclusões: primeiro, pelas indicações fornecidas por esses trabalhos, parecem gerais os fenômenos que ocorrem na área baiana ; segundo, que a elevação das vogais, documentada nos falares do Sul, também ocorre nessa região (SILVA, 1989, p. 70). Essa divisão, para Rubens Guimarães (2006), é ainda mais marcada no que concerne ao Estado de Minas Gerais, no qual, ao sul, temos a realização de vogais médias fechadas (hip[o]pótamo, r[e]lógio) e, ao norte do estado, de médias abertas (hip[ɔ]pótamo, r[ε]lógio). Entretanto, para o autor, no norte de Minas, o sistema vocálico encontra-se em variação, podendo ora ocorrer como alta [i, u], ora como baixa [ε, ɔ], ora como média [e, o]. Teríamos, então, duas possibilidades de sistema vocálico em posição pretônica 24 : 1º quadro: Sistema Vocálico I em posição pretônica no norte de Minas. Anterior Central Posterior altas i u médias e o baixa a 2º quadro: Sistema Vocálico II em posição pretônica no norte de Minas Anterior Central Posterior altas i u médias ε ɔ baixa a 23 Conforme nos diz Silva (1989, p. 70). 24 Conforme Guimarães (2007, p. 19).

48 46 Neste trabalho, focaremos somente duas das cinco possibilidades citadas por Ribeiro (2007) 25 : o alçamento e o rebaixamento, sendo estes tanto para as vogais médias em posição pretônica quanto em posição postônica não final. Rubens Guimarães (2006), em sua pesquisa sobre a vogal média pretônica, colheu dados das seguintes cidades do norte de Minas: Bocaiúva, Montes Claros e Mirabela. Acerca da ocorrência das médias baixas [ε, ɔ], nos diz que os seguintes contextos se mostraram favoráveis: (a) a sílaba tônica ser também da mesma altura (hip[ɔ]pótamo, r[ε]lógio); (b) a vogal da sílaba seguinte ser baixa (r[ε]alidade, c[ɔ]ração); (c) o fato da sílaba pretônica ser fechada pelo arquifonema /R/ (j[ɔ]rnal, gov[ε]rnador); (d) sílaba tônica constituída com /en/, /on/ (pr[ε]sentes, m[ɔ]mento). Conforme o autor, verificou-se pela observação dos dados que, naquilo que tange às vogais médias em posição pretônica, o sistema é um pouco mais complexo [...] Embora haja a neutralização, processo fonológico através do qual as vogais médias perdem o contraste em sílabas átonas, observa-se a presença tanto de vogal média-baixa, quanto de vogal média-alta e, ainda, de redução vocálica na pauta pretônica. [...] Entretanto, a presença de [ε, ɔ], embora ainda constatada, parece já não se fazer tão marcante quanto à época da confecção do EALMG 26. Por conseguinte, existem contextos que favorecem a presença dessa variante na sílaba átona em questão, mas não garantem uma produção uniforme dessas vogais pelos falantes. Um fator que chancela tal produção, sem qualquer sombra de dúvida é a presença de vogal média-baixa em posição tônica. Nessa circunstância, há uma produção maior de [ε, ɔ] em sílaba pretônica do que de [e, o]. (GUIMARÃES, 2007: 85-6). E ainda: O falante da região Norte opta pela utilização da vogal média-alta, ou seja, pela manutenção da estrutura nos contextos em que não se aplica nenhum processo fonológico, como é o caso do item cebola. Já em itens como coruja, ou coelho, nos quais é possível observar a presença também de vogal alta, haveria uma inversão no ordenamento das restrições para demonstrar esse o processo de redução vocálica. (GUIMARÃES, 2007, p. 102) Por tudo o que foi aqui discutido, o que podemos verificar, em relação ao comportamento de (e, o), em posição pretônica, é que há certa discordância quanto à motivação, ou não, do alçamento das vogais médias. Se, por um lado, Bisol (1981); Campos (2008); Silva (1989) e Dias, Cassique e Cruz (2007); entre outros, explicam o fenômeno do alçamento como processo de harmonização vocálica, Yacovenco (1993) e Graebin (2008), entre outros, dizem que a regra de harmonização é variável. 25 Vide p. 43 desta Dissertação. 26 Esboço de um Atlas Linguístico de Minas Gerais.

49 47 Tal fato é consonante ao que supomos, afinal, se esse processo alçamento não for variável, como explicar ocorrências como b[i]zerro, J[i]sus, alg[u]dão, Ge[u]grafia? Tais considerações são válidas também para o rebaixamento, onde vemos s[ε]rviço, além de s[e]rviço, e s[i]nhora, mas não s[ε]nhora. Além, como explicar o alçamento em c[u]nhecia, c[u]nheci, c[u]nhecido, e a manutenção categórica em c[o]nhecimento, a não ser se pensarmos em condicionamento lexical? Já em relação às médias (e, o) em posição postônica não final, cremos que possui um quadro formado por cinco vogais - /i, e, a, o, u/ - sendo que, conforme nos disse Cristófaro- Silva (2005), as vogais baixas [ε, ø] ocorrem somente em situações dialetais bem específicas dependendo, principalmente, da vogal tônica que as precede, como em br[ø]c[ø]lis e x[ε]r[ø]x. Como pudemos verificar neste Capítulo, a variação das vogais médias, seja em posição pretônica ou postônica não final, é, pois, um processo controverso, sendo que ocorre em determinados contextos em um item lexical e, em outro item, sob os mesmos contextos, não ocorre. Assim sendo, cremos que a questão da variação deste sistema vocálico complexo do norte de Minas deva ser feita sob a luz de uma teoria que dê conta de explicar a relação trinária entre [i, e, ε] e [u, o, ɔ]. Antes de passarmos à análise e discussão dos dados, faz-se necessário, pois, discutir sobre a Teoria da Difusão Lexical, a qual tomamos, neste trabalho, como base de interpretação.

50 48 3 MODELOS DE MUDA ÇA SO ORA Diversos foram os modelos propostos para dar conta da variação e do processo de mudança linguística pelo qual passa as línguas. Trata-se de um confronto que já dura mais de um século entre teorias linguísticas que analisam, sob óticas diferentes, a questão: a hipótese sobre a regularidade da mudança sonora, levantada pelos neogramáticos e a crença de que cada palavra tem sua história, defendida por dialetólogos. Em meados da segunda metade do século XX, uma nova polêmica que favorecia o posicionamento do segundo grupo se instalou no debate. Trata-se da teoria da Difusão Lexical, iniciada por William Wang (1969). Desde o início da década de 1980, William Labov tem utilizado seus conhecimentos sobre a natureza da mudança linguística e desenvolvido análises empíricas em busca de evidências que possam solucionar essas controvérsias. Não obstante, Paul Kiparsky (1982), à luz da Fonologia Lexical, propõe olhar para o léxico como um domínio de regras fonológicas que interagem com regras morfológicas. Neste capítulo, propomos a discussão de duas propostas teóricas que postulam explicações para a implementação da mudança sonora: o Modelo Neogramático e o Modelo da Difusão Lexical ambos considerados, também, em uma perspectiva variacionista. 3.1 O Modelo eogramático Consolidando uma teoria de mudança linguística posteriormente adotada como método de investigação comparativista e histórico, os membros da Universidade de Leipzig um grupo de linguistas indo europeístas - formulou a Tese Neogramática sobre a evolução fonética, na segunda metade do século XIX. Os Junggrammatiker (novos gramáticos) advogavam que as leis fonéticas eram operadas sem exceção, isto é, dentro de certos limites geográficos, uma mudança de um som para outro, em determinada língua, atingiria uniformemente todo o léxico que contivesse esse mesmo som, em iguais condições fonéticas. Diziam que as mudanças eram foneticamente graduais e lexicalmente abruptas, concebendo os estudos científicos da linguagem como de

51 49 natureza exclusivamente histórica, restringindo-se, pois, à criação de uma teoria geral acerca da mudança. Para eles, é no nível diacrônico que há de se buscar uma protoforma fonética que dê conta de todos os sons resultantes, isto é, a fonologia da protolíngua em conjunto com as regras ordenadas, de onde os sistemas linguísticos das línguas descendentes são derivados, formam um todo integrado, assim como a descrição sincrônica da língua (BYNON, 1977). Nas palavras de Theodora Bynon: A posição geral a partir da qual os neogramáticos abordaram seu tema foi a suposição de que a mudança linguística deve ter ordem e, assim, ser passível de investigação sistemática. Basearam-se na perspectiva de que o desenvolvimento da linguagem é regido por regras relativas a certos aspectos universais da própria linguagem [...] que a língua é essencialmente uma atividade humana [...] os princípios de base para o estudo de sua evolução devem ser procurados dentro das regras gerais que governam o comportamento humano 27. (BYNON, 1977, p. 24, tradução nossa). Assim sendo, na opinião de alguns neogramáticos, a mudança sonora seria mecânica, não envolvendo a consciência do falante, isto é, fisiológica. Em seu nível fonológico, então, a mudança seria governada por princípios de regularidade. Theodora Bynon (1977), em seus estudos dos verbos irregulares do Inglês, nos esclarece que essa normatização é produtiva, afinal, o que é irregular hoje era regular. Torna-se irregular, por sua vez, passando por um processo regular. Sobre a questão, diz a autora que: Aplicado a mudanças específicas em línguas particulares, isto significa que (a) a direção na qual um som muda é o mesma para todos os membros da comunidade de fala em questão (a menos que uma divisão em dois dialetos esteja em progresso), e (b) que todas as palavras em que há mudança sonora, a mudança ocorre no mesmo ambiente fonético e irão refletir a mudança da mesma forma 28. (BYNON, 1977, p. 25, tradução nossa). O modelo Neogramático tem, então, a sua proposta maior baseada nas leis fonéticas, as quais, para esses estudiosos, pressupõem ação imediata nas formas da língua. Em outras 27 The general position from wich the neogrammarians approached their subject was the assumption that language change must have order and thus be amenable to systematic investigation. They based their expectation that language development is rule-governed on certain universal aspects of language itself [ ] Since language is essentially a human activity [ ] guiding principles for the study of its evolution should be sought within the general rules that govern human behaviour. 28 Applied to specific changes in particular languages this mean that (a) the direction in which a sound changes is the same for all the members of the speech community in question (unless a division into two dialects is in progress), and (b) that all the words in which the sound undergoing the change occurs in the same phonetic enviromment are reflect by the change in the same way.

52 50 palavras, todos os itens léxicos que contêm o som em mudança são afetados simultânea e uniformemente. Para esses pesquisadores, na reconstrução lexical é, também, a forma fonológica que tem o papel principal, porque, aqui, mais uma vez, tem-se a regularidade da mudança do som como um critério sistemático e, no que diz respeito às diferenças semânticas, as mesmas podem ser explicadas por uma conexão etimológica - se duas palavras em línguas diferentes mostrarem correspondência sonora regular, as diferenças semânticas existentes poderão ser explicadas postulando mudanças semânticas plausíveis de um significado subjacente anterior (BYNON, 1977, p. 62). Para explicar os casos de não atuação da mudança, os neogramáticos concordavam que as leis fonéticas só admitiam exceções quando não eram anuladas por outra lei ou por fatores que exercessem ação reguladora no sistema. Dessa maneira, existiam dois princípios fundamentais para dar conta da regularidade da mudança: a mudança sonora e a analogia 29, ambos operando interdependentemente. O primeiro princípio mudança sonora opera independentemente da estrutura semântica e gramatical da palavra e cobre todos os níveis de desenvolvimento fonológico. Já o segundo analogia -, é concebido através da relação entre estrutura fonológica e gramatical. Assim, a mudança sonora seria regular, pois opera automaticamente. Por outro lado, a analogia seria totalmente dependente da estrutura gramatical, opaca pela mudança sonora e reparada pela analogia. Se, como vimos anteriormente, a mudança sonora era mecânica, não envolvendo a consciência do falante, isto é, fisiológica, a analogia, por sua vez, era considerada, conforme Bynon (1977), matéria psicológica. Emprestando dos gregos o conceito de analogia, os neogramáticos utilizaram esse expediente para dar conta das anomalias (ou resíduos) causadas pelas mudanças sonoras. Para eles, a analogia atua como uma espécie de regularidade proporcional, tornando normais paradigmas tidos por anormais. Bynon (1977, p. 44) nos explica que as mudanças analógicas são totalmente dependentes da estrutura gramatical e, mesmo quando a regra é claramente enunciável, não poderá ser predito se ela irá ou não ser aplicada em qualquer caso particular. Entretanto, é preciso esclarecer que devemos recorrer à analogia, conforme a teoria neogramática, somente quando a regra de mudança sonora não se aplicar. Ainda em relação à analogia, ela pode ocorrer no nível paradigmático (mudança analógica - em categorias 29 Na teoria neogramática, a analogia e a mudança sonora são os dois componentes básicos da mudança linguística (BYNON, 1977, p.34).

53 51 gramaticais ou semânticas) ou sintagmático (criação analógica - produz novas formas através da extensão da correlação existente entre forma/função, além do seu domínio original). Assim sendo, teríamos duas faces da mudança analógica: (1) efeito de regularização no nível gramatical para eliminar alternâncias irregulares e (2) reduzir o número total de itens irregulares na língua. Outro recurso adotado como explicação para as irregularidades de determinadas mudanças foi o empréstimo. Sendo que cada idioma só toma de outro idioma itens que sejam compatíveis com sua própria natureza estrutural, os empréstimos, para os Junggrammatiker, são, então, concebidos como fator de pouca importância, pois apenas idiomas estruturalmente compatíveis entre si sofrem empréstimos. Entretanto, esses idiomas são capazes de interferir no desenvolvimento natural dos sons da fala, contrariando a esmagadora força das leis fonéticas. Em resumo, o ideário neogramático pode ser esquematizado da seguinte maneira: /X/ /Y/ W, regularmente, através de condicionamentos fonéticos. /X/ /X/ W, através de analogia ou empréstimo linguístico. Como vimos, os neogramáticos tiveram o mérito de aliar uma perspectiva históricocientífica da linguagem aos resultados do método histórico-comparatista então vigente. Seus princípios inauguraram, dessa maneira, uma nova visão aos estudos indo europeístas, pois aplicaram seus achados a muitos ramos dessa protolíngua encadeando os fatos históricos numa ordem natural e confirmando determinadas correspondências entre idiomas aparentados. Entretanto, tal teoria não dá conta de fatos linguísticos divergentes que coexistem num mesmo período de tempo como, por exemplo, bibia e bebê (do verbo beber); avenida, avinida; almoçar, almuçar; sinhora, senhor; sigundu, sεgundo (=número ordinal), segundo (=conforme) 30. Afinal, como conclui Bynon (1977): [...] a descrição do modelo neogramático dada nas páginas precedentes contém necessariamente um determinado elemento da interpretação pessoal. Isto seria difícil evitar, desde que, na literatura neogramática, os critérios são mais implícitos, frequentemente, na solução de problemas específicos do que indicados explicitamente. Além disso, a apresentação sistemática da gramática comparativa era em geral dedutiva, partindo da estrutura hipotética da protolingua e, então, 30 Exemplos extraídos do corpus da pesquisa Um olhar semiolinguistico sob o manto da Princesa do orte: história oral e dialetologia (TONDINELI, 2009).

54 52 estabelecendo as regras pelas quais as formas das línguas históricas poderiam ter sido derivadas. Tal apresentação resultou, naturalmente, no escamoteamento de muitas perguntas 31. (BYNON, 1977, p. 74-5, tradução nossa). Tal conclusão vem ao encontro do comentário de Labov (2008) sobre o modelo neogramático. O autor nos diz que os herdeiros da tradição neogramática, que deveriam se interessar sobremaneira pelo estudo empírico da mudança regular em progresso, abandonaram a arena da pesquisa significativa em favor de argumentos abstratos e especulativos. (LABOV, 2008, p. 195). Já Weinreich, Labov e Herzog (2006, p. 66) nos dizem que um dos problemas que surgiu pela inserção da teoria fonêmica na teoria neogramática da mudança sonora foi a tentação de identificar a nova distinção analítica, subfonêmico/fonêmico, com as distinções históricas (reciprocamente coextensivas) infinitesimal/discreto, flutuante/estável, irregular/regular e inconsciente/consciente. E concluem, através de diversas evidências empíricas, que o coloquialismo, na variação, é o produto de um processo regular e racional de evolução linguística. Aparentemente, existem forças motivadoras na mudança linguística que podem passar por cima de qualquer tendência de preservar distinções cognitivas. (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 2006, p. 70). É mister lembrar que a alternância entre variantes distintas não é negada pelo modelo neogramático; o que o difere do modelo de Difusão Lexical, do qual falaremos a seguir, é a explicação para essa alternância. 3.2 O Modelo de DifusãoLexical Quando, em 1969, William Wang publicava seu texto Competing changes as a cause of residue, que mais tarde tornou-se clássico na Linguística Histórica, estava colocando em choque o ideário neogramático com uma teoria conhecida na literatura por Difusão Lexical (doravante DL). 31 [...] the description of the neogrammarian model which we have given in the preceding pages necessarily contains a certain element of personal interpretation. This it would be difficult to avoid since in the neogrammarian literature criteria are more often implicit in the solution of specifc problems than explicity stated. Moreover, the systematic presentation of comparative grammar was on the whole deductive, starting from the hypothetical structure of protolanguage and then stating the rules by which the forms of the historical languages could be derived from it. Such a presentation naturally resulted in the begging of many questions.

55 53 Baseando-se em Sapir (1921), que dizia que a tendência de isolar a fonética e a gramática é irrelevante e desastrosa para os limites (provinciais) linguísticos, Wang (1969) nos diz que: Nos últimos anos, acumulou-se um impressionante conjunto de provas de que há regras diacrônicas que dependem de condições que são totalmente não-fonéticas, e. g., fatores que são morfológicos e sintáticos. Isso não deveria ser surpreendente: na fonologia, regras diacrônicas frequentemente deixam resquícios na forma de regras sincrônicas, e existem inúmeros casos em que as regras sincrônicas são, obviamente, dependentes de 'pré-requisitos gramaticais' 32. (WANG, 1969, p. 236, tradução nossa). Chen e Wang (1975) nos dizem que a origem da mudança tem como causa a anatomia, o aparelho fonador. A questão maior, e que aqui a discutimos ao expor os modelos neogramático e difusionista, diz respeito à implementação da mudança. Wang (1969) estuda a implementação da mudança linguística em três dimensões: fonética, lexical e cronológica. A dimensão cronológica pode ser estudada em cada um dos três parâmetros relativamente independentes: (1) foneticamente (som X > som Y); lexicalmente (morfema > morfemas nas partes relevantes de um vocabulário individual); (3) socialmente (falante > falante em um dialeto). A questão maior, então, se refere ao parâmetro (1) nível fonológico. De que forma ocorreria a mudança? De modo gradual ou abrupto? Wang (1969) nos responde a essa questão dizendo que mudanças podem operar no nível fonológico mais abstrato do que o fonético -; assim, foneticamente graduais. Logicamente, as mudanças não-fonéticas lexicais, morfológicas e sintáticas não podem ser incluídas dentro do que se chama gradual. Ainda conforme Wang (1969, p. 241), existem quatro possibilidades lógicas de como as mudanças operam em um vocabulário individual 33, a saber: 1. fonética e lexicamente abrupta; 2. foneticamente abrupta e lexicalmente gradual; 3. foneticamente gradual e lexicalmente abrupta; 4. fonética e lexicalmente gradual. 32 In recent years, an impressive body of evidence has accumulated that there are diacronic rules which depend on conditions that are altogether non-phonetic, e. g., factors which are morphological and syntatic. That this is so should not be surprising: in phonology, diacronic rules frequently leave counterparts in the form os synchronic rules, and there are numerous instances where synchronic rules are obviously dependent on grammatical prerequisites. 33 Devido ao fato de um falante poder, de modo fácil e consistente, distinguir o som X do som Y sem um treinamento especial para isto.

56 54 esclarece: O autor nos diz que o modelo da difusão lexical estipula as possibilidades 2 e 4, e Destes dois, (2) é o mais atraente: uma vez que a realização fonética é abrupta, e que o vocabulário individual não muda de maneira repentina, a conclusão óbvia é que o que realmente ocorre é uma espécie de difusão de morfema para morfema em seu vocabulário. Esta difusão dentro de um léxico é basicamente o mesmo mecanismo que aquele mais comum, de difusão de um dialeto para outro dialeto de uma língua, e se difunde apenas no seu âmbito de funcionamento; a difusão lexical é mais local, as outras formas são mais globais 34. (WANG, 1969, p.241-2, tradução nossa). Esclarece-nos, ainda, que a hipótese da DL é somente um meio pelo qual a pronúncia de morfemas muda, sendo um dos primeiros meios através do qual um som é implementado. Exemplo disto podemos ver no quadro abaixo: [u] fogão (eletrodoméstico) botão (peça de vestuário; de flor) Porção (quantidade/muito(a)s) folhinha (calendário) [o] fogão (aumentativo de fogo) botão (aumentativo de bota/calçado) porção (uma certa quantidade) folhinha (folha pequena) peru (ave) Preciso (verbo) Sentido (adjetivo) [i] [e] Peru (país) preciso (adjetivo) sentido (ordem militar) Quadro 6: Contextos específicos e variação linguística Fonte: LEE & OLIVEIRA, Conforme os exemplos, podemos verificar que a pronúncia de morfemas muda de palavra para palavra ou, dito de outra forma, de contexto lexical para contexto lexical. A DL, então, possui uma perspectiva temporal e uma dimensão lexical do processo fonológico. A regularidade é, pois, obtida a longo prazo: uma regra fonológica amplia progressivamente o seu campo de operação para uma porção cada vez maior do léxico, até que todos os itens relevantes tenham sido transformados pelo processo 35. (CHEN & WANG, 1975, p. 256, tradução nossa). Oliveira (1992) apresenta evidências de que o contexto fonético não seria a melhor explicação para a aplicação das variantes altas ou não, como seria de se esperar pelo modelo 34 Of these two, (2) is the more compelling: for given that the phonetic implementation is abrupt, and that an individual s vocabulary does not change all that suddenly, the obvious conclusion is that what actually takes place is a kind of diffusion from morpheme to morpheme in his vocabulary. This diffusion within a lexicon is basically the same mechanism as the more observed forms of diffusion across dialects of language, and diffuses only in its scope of operation; lexical diffusion is more local, the other forms are more global. 35 A phonological rule gradually extends its scope of operation to a larger and larger portion of the lexicon, untill all relevant items have been transformed by the process.

57 55 neogramático. O autor lista palavras (algumas delas encontram-se no Quadro 6 deste trabalho) que, mesmo tendo sido configurado o ambiente fonético propício à aplicação da regra de alçamento, não foram atingidas. Assim, evidenciou-se que a mudança sonora é lexicalmente gradual, conforme postulado pelos difusionistas. O autor postula, então, que, no seu estágio inicial, todas as mudanças sonoras são de caráter difusionista. A regularidade neogramática viria nos estágios seguintes da mudança. Para Oliveira (1991), o mecanismo da mudança difusionista se daria através de três condições (não necessariamente na ordem proposta), a saber: (a) X ocorre num nome comum ; (b) Z oferece um contexto fonético natural para Y ; (c) X é parte de uma palavra que ocorre em contextos informais de fala. E nos esclarece que enquanto o disparo de uma mudança deve ser concebido em termos abstratos, que justifiquem sua razão de ser, sua implementação não pode ser removida das condições de uso. (OLIVEIRA, 1991). A difusão lexical descartaria, pois, a regularidade, pautando-se pela existência de irregularidades, isto é, mesmo que haja condicionamentos fonéticos há, por outro lado, a possibilidade de mudanças sonoras que não sejam foneticamente condicionadas 36 (OLIVEIRA, 1991). Tal assertiva pode ser vista nas sete variáveis interdependentes associadas à mudança sonora, a saber: 1. tempo, 2. espaço, 3. falantes e ouvintes, 4. sons ou sequências sonoras substituídas ou em substituição, 5. condições estruturais (fonológicas e gramaticais) para a substituição; 6. fatores sociais que governam a substituição, e 7. itens lexicais que satisfaçam as condições estruturais e sociais de substituição 37. (KHRISHNAMURTI, 1976, p. 01, tradução nossa) Na interpretação deste autor, a linguística tradicional considera apenas os itens de 1, 2, 4 e 5 na questão da mudança sonora. Porém, como descartar a questão dos falantes, da comunidade de fala e do item lexical resultante dessa influência intradialetal? Afinal, 36 O ambiente fonético pode ser visto como um assimilador a posteriori, e não como um condicionador a priori de uma inovação. (OLIVEIRA, 1992, p. 35). 37 Adaptado de: [ ] (1) time, (2) space, (3) speakers and hearers, (4) replaced and replacing sounds or sound seuqences, (5) structural (phonological and grammatical) conditions for replacement, (6) social factors governing replacement, and (7) lexical items that fulfill the structural and social conditions of replacement.

58 56 conforme já dito anteriormente, falantes possuem papel relevante na construção fonética do léxico, sendo, pois, um processo individual. Mesmo que em uma mesma comunidade de fala as diferenças existentes entre os falantes forem menores do que as semelhanças, quando comparamos dialetos diferentes, essas diferenças crescem, mesmo que os mecanismos acionados para a montagem fonética-lexical sejam os mesmos (2008). Labov (1981) chega à conclusão de que as condições nas quais cada ponto de vista repousa são válidas. Defende a ideia de que há alguns casos de mudança explicáveis pelo modelo neogramático e outros pelo modelo difusionista, pois se questiona: se Wang e seus seguidores estão certos sobre Difusão Lexical e os neogramáticos ainda mais certos sobre a regularidade da mudança, como ambos podem estar certos? Labov (1981), apesar de, em muitos casos, confirmar a proposta neogramática, ao investigar o caso da alternância entre [æ] frouxo e [æ] tenso na Filadélfia, reconhece que nem todo fenômeno de mudança é neogramaticamente explicável. Há casos em que as evidentes exceções, conforme nos mostra o autor, não podem ser resolvidas no âmbito da ação conjunta analogia-empréstimo, pois há inúmeros outros mecanismos que podem interferir na propagação da mudança. Como conciliar esse paradoxo? Labov (1981) afirma que um grupo diz que fonemas mudam, outro diz que palavras mudam. Essas formulações são slogans abstratos que perdem o contato com a realidade. Enfim, para o autor, os dois modelos não são rivais: são mutuamente complementares na explicação da mudança. Revisitando a controvérsia neogramática, Oliveira (1991) prediz que todos os casos de mudança fonética são lexicalmente implementados. Como enquadrar, nessa afirmativa, os casos que Labov (1981) exemplifica como de mudança neogramática? Oliveira (1991) argumenta em sua assertiva dizendo que os exemplos que Labov (1981) chama de regulares não dão mostras de que, em estágios anteriores, não tenham sofrido espalhamento pelo léxico (daí a importância da variável tempo em trabalhos de orientação léxico-difusionista). De fato, como garantir que determinadas mudanças, hoje regulares, não tenham sido, num recorte histórico, lexicalmente implementadas? Por isso, Oliveira (1991 e 1992) afirma que não há casos de mudança neogramática. A hipótese neogramática passa a ser vista apenas como efeito neogramático, isto é, como resultado final do processo de mudança. A DL, portanto, que tem como expoentes Cheng e Wang (1975), Phillips (1984) e Shen (1990), entre outros, tenta dar conta das irregularidades, predizendo que as mudanças sonoras não são foneticamente graduais e lexicalmente abruptas, mas exatamente o contrário.

59 57 Para os difusionistas, as mudanças são foneticamente abruptas e gradualmente implementadas no léxico das línguas. Dessa maneira, os difusionistas deslocam o foco da mudança da unidade sonora para a unidade morfo-lexical. A tese difusionista é fortemente reforçada por três argumentos, fundamentalmente: (a) inúmeras exceções a determinadas mudanças fonéticas não podem ser explicadas unicamente por analogia e/ou por empréstimo; (b) muitos processos fonológicos não são explicados somente por condicionamentos sonoros, mas por uma gama variada de fatores, incluindo os de natureza discursivo-pragmática e sócio-geográfico-social; e (c) nem todos os vocábulos que contêm o som em mudança são afetados simultaneamente e da mesma maneira. Longe de se aplicar a todas as palavras ao mesmo tempo, as mudanças fônicas reconhecem limites temporais, quer por razões socioculturais, quer por razões pragmáticas, sendo, pois, contínuas. Retomando Oliveira (1991, 1992), verifica-se, então, que o contexto fonológico não seria a melhor explicação para a variação/mudança linguística, sendo, pois, lexicalmente gradual. Em 2006, o autor mantém a sua posição incorporando o indivíduo à questão da variação/mudança linguística. Concordamos, pois, com Oliveira (2006), em relação ao seu posicionamento sobre a variação, quando nos diz que: Do ponto de vista da compreensão ela é regida por princípios gerais da língua, e do ponto de vista da produção ela é regida por princípios menores (que são, na realidade, funções de alguns princípios maiores), sendo sua aplicação determinada individualmente e lexicalmente. (OLIVEIRA, 2006) Evidências de Difusão Lexical Cristófaro-Silva (2001, p. 10), em seus estudos sobre Difusão Lexical, nos diz que, ao seguir a proposta difusionista, assume-se que a mudança sonora ocorre no nível da palavra, que pode ou não ser afetada, afinal, o falante faz escolhas lexicais específicas em situações específicas. A variabilidade sonora de um falante expressa a variação linguística. Para exemplificar seu argumento, nos fornece como exemplo a palavra precisa através de duas orações onde tal vocábulo é utilizado como verbo, em uma, e como adjetivo, em outra. Verifica que na forma verbal é corriqueiro haver o cancelamento do tepe [p]ecisa ; já no emprego do adjetivo, é quase impossível que o tepe não se manifeste e tem-se quase sempre

60 58 [pr]ecisa. Embora precisa possa ocorrer tanto como [pr]ecisa ou como [p]ecisa [...] há claramente uma preferência por usos específicos. (CRISTÓFARO-SILVA, 2001, p. 11) Viegas (2001) nos diz que o modelo difusionista explica melhor a realidade do que o modelo neogramático, pois admite a postulação de regras com um efeito neogramático para alguns tipos de mudanças (para as que os fundadores do modelo neogramático chamavam de mudança sonora, aquelas bem regulares) e além disso abrange outros tipos de mudanças (aquelas que os neogramáticos chamavam de mudanças esporádicas, não favorecidas por fatos fonéticos apenas). As exceções não são exceções no modelo difusionista, pois, sendo lexical a implementação da mudança, espera-se que os itens todos não tenham exatamente o mesmo comportamento. O modelo difusionista descreve melhor o processo porque permite-nos fazer uma análise condizente com as realidades históricas e sociais das comunidades de fala, ou seja, de acordo com a produção e o uso do item e sua valoração social. (VIEGAS, 2001, p. 210). A autora postula, portanto, que o alçamento das vogais médias pretônicas na oralidade da região metropolitana de Belo Horizonte/MG é lexical e está intimamente relacionada ao status social que é dado a um determinado item. Para Ribeiro (2007), não se pode dizer que o ambiente fonético é desconsiderado pela DL, ele pode ser visto como um assimilador a posteriori, e não como um condicionador a priori de uma inovação (OLIVEIRA, 1992, p.35). Ou seja, não é que o contexto não tenha nenhuma interferência, prova disso é o fato de o caminho natural da mudança de [e] é o alçamento para [i] e não a oclusiva [k], por exemplo, mas, para difusionistas, não é o contexto que vai licenciar a mudança, sendo esse papel exercido pelo léxico. O fato de o programa GOLDVARB ter apontado o contexto precedente e o contexto seguinte como desfavorecedores, e também os outros fatores estruturais, parece corroborar com essa hipótese. O que deve ficar claro é que o fato de a língua apresentar variação no mesmo contexto não implica necessariamente DL. A explicação para essa variação é que vai diferenciar uma proposta difusionista de uma proposta neogramática. Difusionistas não enxergam as realizações do tipo cócuras para cócoras ou mesmo variações do tipo âncura ~ cócoras como exceções a uma regra já implementada na língua, mas sim como uma propagação lexical dessa regra. Já neogramáticos, guiando-se pelo princípio da exceptioness, explicariam as exceções (não existentes na teoria difusionistas) por empréstimo ou analogia. (RIBEIRO, 2007, p. 162). E ainda: Outras indicações de que as vogais da posição aqui investigadas são passíveis aos processos difusionistas podem ser expressas pelo comportamento peculiar de algumas palavras aqui pesquisadas. A palavra véspera, por exemplo, uma palavra pouco frequente, foi pronunciada como véspura por muitos falantes com menor escolaridade e pertencentes à classe social mais baixa; a palavra próspero, contudo, que possui o mesmo contexto não vira próspuro em nenhuma das ocorrências. A mesma diferença de comportamento acontece com as palavras cômoda e cômodo, porém, com outros processos fonológicos envolvidos. O mesmo falante que

61 59 pronuncia cômbada para cômoda, fala que construiu um [»komudu] na frente de casa, e não um cômbadu ou mesmo cômbudu. Diferenças dessa espécie apontam para a hipótese da DL e acabam por situar a investigação dos fenômenos fonológicos no par item léxico indivíduo. (RIBEIRO, 2007, p. 163). O mesmo caminho nos indica Célia (2004, p. 83), ao comprovar que alguns vocábulos alçaram mesmo sem que houvesse um ambiente vocálico favorecedor como em p[i]queno, s[i]mestre, fut[i]bol, d[i]s[i]spero, s[i]nhor, c[u]meçar, alm[u]çar, c[u]meu, b[u]neca, c[u]légio. A autora nos diz que, pelos resultados obtidos, mesmo não sendo o objetivo do trabalho, é possível que realmente haja algum tipo de condicionamento lexical (CÉLIA, 2004, p. 84). Klunk (2007) comprova o que nos diz Célia (2004) ao nos dizer que a elevação de /e/ no contexto em questão ocorreu sempre com as palavras pequena(s), pequeno(s), o que nos permite dizer que a regularidade está tendenciada, pois o número de ocorrências deste item é relativamente grande, fato que tem a aparência de uma variação que está ocorrendo no léxico. (KLUNK, 2007, p.65). Valendo-se da noção de frequência proposta por Leslau (1969) 38, Klunk (2007) conclui, em sua pesquisa sobre o alçamento das vogais médias pretônicas em Porto Alegre/RS, que é um processo de difusão lexical, pois as palavras que mais alçam são aquelas consideradas mais familiares, mais comuns e de uso frequente, como, por exemplo: cumpadre, cumadre, sinhora, piquena, futibol. (KLUNK, 2007, p. 81). Separando vocábulos em grupos de palavras e palavras isoladas, a autora conclui que os dados revelam que o alçamento de /e/ só ocorre esporadicamente, enquanto /o/ mostra um indício de difusão lexical ao envolver palavras do mesmo paradigma derivacional (KLUNK, 2007, p. 89). Vianna (2008) nos apresenta três situações que evidenciam a atuação lexical no processo de variação das vogais médias pretônicas: A primeira postula que dada uma regra A B/C D, há no mesmo item lexical, estruturas CBD coexistindo com estruturas CAD. A segunda envolve os itens lexicais que possuem contexto fonológico para que alcem, mas não alçam e assim apresentam estruturas CAD. A terceira refere-se aos itens lexicais que não 38 Nas palavras de Oliveira (1995), Leslau utiliza uma noção de frequência relativa, e não de frequência absoluta, o que me parece ser uma atitude acertada, muito embora Leslau reconheça que sua análise falha por tentar determinar esta frequência relativa de ouvido. Ainda conforme Oliveira, citando Leslau (1969, p. 181), there is, of course, the question of the method of determining the relative frequency of use of a particular Ethiopian word. No such statistical data are at our disposal for the Ethiopian languages as are avaible for other languages. In view of this fact I admit that I relied on intuition in estimating relative frequency, rather than on statistical information. (OLIVEIRA, 1995, p.81).

62 60 apresentam contexto para que sofram o processo de alteamento, mas alçam mesmo assim. (VIANNA, 2008, p. 94). Yacovenco (1993) já percebia a existência desses fatores ao estudar o comportamento das vogais médias pretônicas no falar culto carioca. Tendo a palavra base como um dos fatores da variação, nos diz: A palavra base apresenta uma influência indefinida quanto à aplicação das regras variáveis. Ora a palavra base parece contribuir para a aplicação da regra de manutenção, como é o caso da anterior oral, da posterior nasal e dos ditongos; ora parece favorecer a realização alta da posterior oral e da anterior nasal e, por outras vezes, a palavra base parece atingir a realização da regra de abaixamento sobre a anterior oral e sobre os ditongos. (YACOVENCO, 1993, p. 118). Essa indefinição e esse comportamento variável nos leva a pensar em difusão lexical, afinal, nas suas conclusões sobre a influência da palavra base, a autora nos dá uma visão de plasticidade lexical 39. Para Viegas (2001, p. 94), a variação nas vogais médias pretônicas é um caso de difusão lexical, afinal, mesmo com todo o esforço para encaixarmos todos os itens em uma regra, fica um resíduo (principalmente aqueles itens que têm ambiente mas não alçam) característico do processo de difusão lexical temos a seletividade lexical. Quanto a essa seletividade lexical, nos diz Lee e Oliveira (2003): Os casos de fogão, folhinha, preciso e porção são mais interessantes ainda pois mostram a migração associada a uma especialização semântica, o que se configura como uma das maneiras de se resolver um caso de variação. Em última análise, para casos como estes teríamos que ter um tableau para cada palavra ou conjunto de palavras (que formariam uma classe), o que certamente nos remeteria a uma posição difusionista para o tratamento da variação e mudança (LEE & OLIVEIRA, 2003, p.13). Neste Capítulo, situamos a questão da variação e da mudança linguística de acordo com a visão neogramática e a difusionista. Assim, pudemos verificar que o processo de variação e mudança linguística não é homogêneo, regular, como postulavam os neogramáticos, e, sim, sujeito a diversos fatores que extrapolam o nível fonético/fonológico. Estão, além disso, condicionados a contextos semânticos e lexicais; em outras palavras, as variantes que compõem uma variável linguística são armazenadas no léxico estabelecendo relações sonoras e semânticas. 39 Para maiores detalhes sobre a questão da plasticidade lexical, ver Oliveira (1995, p. 88).

63 61 4 CO TEXTO SOCIAL E METODOLOGIA Neste capítulo, faço uma breve descrição do contexto histórico, socioeconômico e geográfico do município de Montes Claros. A apresentação desse contexto é importante para que se possa caracterizar a comunidade de fala onde esta pesquisa se realizou e, consequentemente, apontar os fatores não estruturais (ou sociais) que se mostraram relevantes para essa comunidade e, também, o quão recente é a formação de um dialeto genuinamente montesclarense, o qual perde as características do subfalar baiano (conf. GUIMARÃES, 2006) e assume uma nova configuração. Além disso, comento, também, sobre os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa. A microrregião de Montes Claros pertence à mesorregião Norte de Minas. Sua população foi estimada, em 2006, pelo IBGE 40, em habitantes; possui uma área total de ,177 Km 2 e está dividida em 22 municípios: Brasília de Minas, Campo Azul, Capitão Enéas, Claro dos Poções, Coração de Jesus, Francisco Sá, Glaucilândia, Ibiracatu, Japonvar, Juramento, Lontra, Luislândia, Mirabela, Patis, Ponto Chique, São João da Lagoa, São João da Ponte, São João do Pacuí, Ubaí, Varzelândia, Verdelândia e Montes Claros, cidade alvo deste estudo. Figura 1: Microrregião de Montes Claros Fonte: < Acesso em: 20 ago BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em < Acesso em: 25 ago

64 Montes Claros de ontem As primeiras notícias que se têm dos montes claros nos é dada pelo Padre Navarro, em sua carta, para os seus irmãos na Bahia, na qual conta sobre a expedição de Bruzza Spinoza 41. Conta-nos o historiador Hermes de Paula (1979) que Spinoza, procurando localizar um ponto de referência para o prosseguimento da jornada, avistou, não muito aquém da linha do horizonte, um agrupamento de montes esbranquiçados e despidos de vegetação. Virou-se então, para seus companheiros e teria sentenciado: nosso próximo objetivo são aqueles montes claros. (PAULA, 1979, p. 03). Em 1674, Fernão Dias Pais Leme 42, em busca das lendárias esmeraldas que existiriam na região, organizou a maior bandeira já feita em território brasileiro. Faziam parte dessa bandeira o mestre de campo Matias Cardoso de Almeida, lugar-tenente de Fernão Dias, e seu cunhado, o jovem Antônio Gonçalves Figueira 43. Matias Cardoso e Figueira, convencidos de não passar de sonho irrealizável a velha lenda esmeraldina, voltaram a São Paulo. No ano de 1691, o Alferes Antônio Gonçalves Figueira volta à região, como guia da tropa do coronel João Amaro Maciel Parente, para se encontrar com Matias Cardoso a fim de fazer guerras aos índios e fazê-los prisioneiros. Ao final de sete anos de combates, Gonçalves Figueira resolve ficar e funda, na bacia do Rio Pardo, a fazenda Brejo Grande, onde instalou o primeiro engenho de cana do sertão. Fundou, ainda, as fazendas de Jaíba, Olhos D água e 41 A primeira expedição que se embrenha pelo sertão parte de Porto Seguro, em Compõem-na portugueses, mamelucos, mazambos e índios tupiniquins sob a chefia do espanhol Francisco Bruzza Spinoza. A bandeira Spinoza-Navarro, da qual o jesuíta Aspilcueta Navarro fazia parte, percorreu desde o Jequitinhonha até São Mateus, no Espírito Santo. 42 A importância desta célebre bandeira deve-se aos pousos que foi deixando pelo caminho, criando a ligação entre São Vicente e a bacia do rio das Velhas, uma espécie de caminho que passou a ser seguido por muitos, além do estabelecimento de bases relativamente sólidas para a posterior ocupação. Estes pousos eram pequenas roças e criações de animais, onde se produziam suprimentos para as necessidades da bandeira e uma possível retirada. A imprecisa localização destes pousos é motivo de debates ainda hoje, quando se discute quais cidades tiveram neles as suas origens, quais desapareceram e quais permanecem ainda hoje. 43 Gonçalves Figueira e seu cunhado Mathias Cardoso (este era casado com Inês Gonçalves, irmã de Figueira), após deixarem a guerra no sertão nordestino encaminharam-se para o norte de Minas, onde junto com muitos parentes e pessoas próximas fundaram as grandes fazendas de gado que nos primeiros anos dos setecentos se tornariam essenciais para o abastecimento das minas. Mathias, antes mesmo de sua entrada na guerra, já havia estabelecido o seu arraial na beira do São Francisco, e os seus parentes acabaram concentrando-se nas margens do dito rio, enquanto os Figueiras fixaram-se junto ao Verde Grande. É de 1690 a concessão de 80 léguas quadradas ao tenente-general e outras dezenove pessoas. (FAGUNDES e MARTINS, 2002, p.65).

65 63 obteve, por alvará de 12 de abril de 1707, uma sesmaria de légua e meia de largo por três de comprimento sob as condições do Foral, não podendo alhear terras e nem se apoderar de aldeias e terras dos índios, situada nas cabeceiras do rio Verde pela margem esquerda, tendo ao sul os montes de xistos calcáreos (esbranquiçados), estabelecendo aí a Fazenda dos Montes Claros. (PAULA, 1979, p. 05). Figueira constrói a sede de sua fazenda dos Montes Claros no vale do Rio Vieira, afluente do rio Verde, onde se construíram, além de casas, os currais e uma capela. Ao final se sua vida, Gonçalves Figueira retorna à sua terra natal, Santos/SP, ficando a Fazenda dos Montes Claros entregue aos agregados e, posteriormente, ao seu primogênito, o Sargento-Mor Manoel Ângelo Figueira. Entretanto, Manoel Ângelo, mostrando não ter gosto pela vida rural, resolveu se mudar para São Paulo e, em 1768, vendeu a fazenda para o Alferes José Lopes de Carvalho, o qual mandou construir uma nova capela, ao redor da qual fazendeiros da vizinhança construíram casas para passar o fim de semana. Assim sendo, esse arraialzinho embrionário passou a se denominar Formigas. (PAULA, 1979, p. 12). Figura 2: Casa da sede da Fazenda dos Montes Claros Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE MONTES CLAROS. Secretaria de Cultura de Montes Claros Em fins do século XVIII, as fazendas se desdobram em três arraiais: Tabua, Formigas e Cruzeiro, sendo este o que mais se destacava na época. Entretanto, em 1808, uma epidemia de varíola força os seus moradores a se mudarem para Formigas, enquanto Cruzeiro era incendiado para conter a doença. Auguste de Sainte-Hilaire 44, naturalista francês, passando por Formigas, em 1817, assim o descreve: 44 O sábio francês Auguste Saint-Hilaire ( ) foi um dos primeiros cientistas vindos da Europa a poderem percorrer livremente territórios do Brasil Colônia. Isso foi possível graças à mudança da disposição da

66 64 A povoação de Formigas está situada à entrada de uma planície, a quatro jornadas de Vila do Fanado (Minas Novas), a cinquenta léguas do Tijuco, e a mais duzentas da Bahia e do Rio de Janeiro. Um dos ramais da estrada do Tijuco e da Bahia passa por Formigas. Essa povoação que pode compreender atualmente duzentas casas e mais de oitocentas almas é certamente uma das mais belas que vi na Província de Minas. [...] A Maioria das casas é construída ao redor de uma praça irregular [...] que forma um quadrilátero alongado, e, por sua extensão, seria digna das maiores cidades. [...] A Igreja está situada no fundo da praça [...] há ainda em Formigas ruas paralelas a dois dos lados da própria praça. As casas são quase todas pequenas, mais ou menos quadradas, baixas e cobertas de telhas. Três ou quatro têm sobrado; algumas são construídas de adobes, as outras de barro e varas cruzadas. As janelas são pequenas, quadradas, pouco numerosas, fechadas por um simples postigo. Veem-se na povoação uma hospedaria, várias vendas, e, enfim, algumas lojas em que se vendem fazendas e quinquilharias. (PAULA, 1979, p. 13) Em 13 de outubro de 1831, o arraial de Nossa Senhora da Conceição e São José foi elevado a Vila de Montes Claros de Formigas e, em 3 de julho de 1857, pela Lei nº 802, a Vila de Formigas foi elevada à cidade de Montes Claros, nome que veio ao encontro de uma velha aspiração dos formiguenses, conforme se lê no livro de atas das sessões da Câmara em 26/7/1844. (PAULA, 1979, p. 18). Ainda segundo o autor, em 1885, Montes Claros possuía habitantes, sendo mulheres e homens. A cidade teve como sua primeira atividade econômica a pecuária extensiva de corte, destinada ao abastecimento dos centros mineradores do Estado. Com o declínio da atividade mineradora no Estado, há um enfraquecimento da economia regional e um distanciamento da cidade de Montes Claros, a qual volta as suas relações de comércio para a Bahia. Nesse mesmo período são introduzidas algumas culturas agrícolas na região, principalmente o algodão e a mamona. Essas culturas propiciaram o aparecimento de uma incipiente industrialização com a fundação de pequenas unidades fabris, sendo a primeira a fundada em 1880 pela sociedade Rodrigues, Soares, Bittencourt, Veloso & Cia, localizada no Cedro. Com a ligação da cidade à malha ferroviária da Central do Brasil (01/09/1926), intensifica-se o comércio de gado e do algodão pelas novas facilidades de transporte, fortalecendo o vínculo da região com o sul do Estado e do País e, consequentemente, Corte portuguesa, instalada no Rio de Janeiro desde 1808, e que resolveu abrir-se às nações amigas. Durante seis anos, de 1816 a 1822, ele, infatigável, visitou as províncias do centro e do centro-sul do Brasil, recolhendo pelo caminho um proveitoso acervo botânico, registrando cada passo das suas andanças num saboroso diário de viagem, publicado mais tarde na França em diversos volumes que até hoje encantam os seus leitores como um retrato fiel e objetivo da paisagem e dos costumes do Brasil daqueles inícios do século XIX. O que Jean-Baptiste Debret, seu contemporâneo e conterrâneo, fez com o pincel, Auguste Saint-Hilarie fez com a pena. Falecido em 30 de setembro de 1853, celebra-se em 2003 os 150 anos da sua morte. (SCHILLING, Voltaire. Lembrando Saint-Hilaire, Disponível em: < Acesso em 22 ago

67 65 expandindo e abrindo o mercado para produtos industrializados, o que determinou uma crescente especialização da economia regional em termos da pecuária e da cotonicultura. A cidade se expande consideravelmente a partir desse período, com um aumento significativo de sua população, principalmente pelo crescimento econômico da década de 40 e pela migração consequente da seca e do desemprego na região e no Nordeste do país. A partir de 1964, quando da aprovação do primeiro projeto industrial na região mineira da SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste), iniciou-se uma transformação no processo de desenvolvimento regional. A cidade de Montes Claros constitui-se, então, a partir daí, como polo industrial regional. 4.2 Montes Claros de hoje Montes Claros é o principal centro urbano do norte de Minas e, por esse motivo, apresenta características de uma metrópole regional, pois seu raio de influência atinge todo o norte de Minas Gerais e sul da Bahia.O município de Montes Claros localiza-se na Bacia do Alto Médio São Francisco, ao Norte do Estado de Minas Gerais, estando integrado na área do Polígono da Seca, Região Mineira do Nordeste. É servido pelas rodovias BR-122, BR- 135, BR- 251 e BR- 365, tornando o município um dos maiores entroncamentos rodoviários nacionais, interligando-o com o Norte, Sul, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil.

68 66 Figura 3: Ligações rodoviárias no Norte de Minas Fonte: DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Montes Claros/MG Possui aeroporto com voos domésticos, de transporte de cargas e passageiros. Seu Sistema Ferroviário liga aos principais terminais portuários do Sudeste (Porto de Vitória, Rio de Janeiro, Santos e Sepetiba). Possui duas universidades públicas (Federal e Estadual), além de cerca de 10 particulares. É sede de duas emissoras de televisão locais. Atravessou, nas últimas décadas, um grande desenvolvimento econômico, promovido graças à atuação direta do Estado, dotando a região de infraestrutura e estimulando a industrialização através de incentivos fiscais. O município torna-se, então, polo de desenvolvimento regional. Conforme nos diz Fernanda Gomes (2007), Montes Claros foi o principal ponto de convergência do fluxo migratório da região, absorvendo camponeses e migrantes do Norte e Noroeste de Minas e de parte do Sul da Bahia. Com base em Pereira (2003), os fatores que contribuíram para isso foram: concentração fundiária; longos períodos de seca; transformações na estrutura produtiva; expansão industrial; e desenvolvimento de um complexo e diversificado setor de serviços, comércio e administração na cidade. Esses fatores, em conjunto, motivaram um rápido crescimento populacional em Montes Claros, gerando um descompasso entre infraestrutura e serviços disponíveis e a crescente demanda. Além disso, a indústria e os outros setores da economia não conseguiram absorver toda a mão de obra disponível, ocorrendo assim um aumento das atividades informais e do desemprego na cidade. (GOMES, 2007, p. 67).

69 67 Por outro lado, a concentração de serviços especializados (educação, saúde, entretenimento, comércio, indústria) fez com que Montes Claros adquirisse vantagem em relação às outras cidades da região, contribuindo, assim, para fortalecer ainda mais a sua centralidade e posição hierárquica no Norte de Minas. Entretanto, tal posição exigiu uma reformulação da dinâmica do município, que, segundo Gomes (2007), se deu em termos de: Industrialização: formação de centros industriais nas cidades de Montes Claros, Pirapora, Várzea da Palma e Bocaiúva, alterando a divisão do trabalho pré-existente; Urbanização: aumento da população urbana, sobretudo nas cidades mais industrializadas da região, acompanhado de processos migratórios intra-regionais; Estratificação social: ampliação da classe média e a difusão gradativa de um modo de vida urbano (ainda que para um grande número de cidades do Norte de Minas este fato é questionável, visto que grande parte da população que vive na região adota um estilo de vida rural e está ocupada em atividades ligadas à agropecuária), implicando em mudanças no comportamento da sociedade e nas formas de consumo; Melhoria da circulação dos meios de transporte e comunicação: viabilização de interações espaciais mais eficientes de mercadorias, pessoas, informação e capital com a substituição do sistema ferroviário por uma densa rede rodoviária. Industrialização do campo: modernização da agricultura e reestruturação fundiária, que alteraram as relações sociais de produção e foram acompanhadas de um êxodo rural. Diversificação da economia e reorganização do setor empresarial: alterações dos padrões de compra e consumo da população regional com a entrada do capital financeiro e investimentos empresariais, envolvendo não apenas o setor industrial e comercial, mas também a expansão do setor de serviços. (GOMES, 2007, p. 84-5). Hoje, segundo a autora, Montes Claros pode ser considerada uma cidade policêntrica, pois o incremento das atividades econômicas da cidade tem permitido uma maior dinâmica na sua estrutura através da renovação das formas de uso e ocupação, como se pode ver na Figura 4.

70 68 Figura 4: Subcentros de Montes Claros Fonte: GOMES, Um perfil econômico de Montes Claros e do orte de Minas A região do Norte de Minas é heterogênea em relação à sua economia e população. A base econômica da região esteve, até a década de 70, calcada na agropecuária (com destaque para a bovinocultura de corte) e, em menor proporção, nas atividades comerciais. Apesar da importância da agropecuária para a região do Norte de Minas, é preciso considerar que, de acordo com Oliveira (2000), ela esteve associada aos seguintes fatores:

71 69 forma de ocupação e prática extensiva com alta concentração de terra; distribuição de renda afetada pela posse da terra; rigidez das relações sociais patriarcais com a submissão do empregado em relação ao patrão; características geoclimáticas desfavoráveis, marcadas por longos períodos de seca; e uso de técnicas agrícolas rudimentares. Além da agropecuária, outras atividades do setor primário são importantes para a economia do Norte de Minas, como o reflorestamento e o carvoejamento. A partir da década de 1970, com o advento da SUDENE, deu-se início, no Norte de Minas, à chamada era da industrialização, quando se verificou um incremento das atividades industriais em detrimento das atividades do setor agropecuário. Apesar do incremento da atividade industrial no Norte de Minas, o processo de industrialização da região não foi comum a todos os municípios da região. A maior parte das indústrias se concentra apenas em quatro municípios: Montes Claros, Pirapora, Bocaiúva e Várzea da Palma (este pertencente à microrregião de Pirapora). Apesar de Montes Claros apresentar uma maior diversidade produtiva e o maior PIB da região do Norte de Minas, sua distribuição de renda é bastante desigual. Os 50% mais pobres da cidade possuem uma renda total de 12,20%; já os 10% mais ricos possuem 45,45% da renda (IBGE, 2000). Além disso, 76% dos chefes de domicílios da cidade possuem rendimento de até 3 salários mínimos, o que demonstra o baixo poder aquisitivo e de consumo da população. TABELA 8 Renda mensal do chefe de família de Montes Claros SALÁRIO % Até 1 salário mínimo 42,52 De 1 a 3 salários mínimos 33,22 De 3 a 5 salários mínimos 8,22 De 5 a 10 salários mínimos 7,68 Mais de 10 salários mínimos 4,92 Sem rendimento 3,44 l % Fonte: IBGE, 2000 O PIB do setor de serviços de Monte Claros passou de 44%, em 2000, para 54%, em 2003, o que reforça a tendência de expansão do setor terciário da cidade. Mas é preciso destacar que o setor secundário também teve uma participação significativa (42% do PIB, em

72 ). Já o setor primário (agricultura e pecuária) teve uma baixa participação no PIB municipal. Ainda em 2003, verificou-se que 69% da população do município estavam ocupados em atividades de comércio e serviços: 23% na indústria e 8% na agropecuária. É preciso considerar que o setor industrial e a administração pública também absorvem parte considerável da população ocupada do município de Montes Claros. O setor terciário da cidade tem se ampliado e se diversificado cada vez mais, devido à crescente demanda do parque industrial e à presença de um mercado regional em expansão. De acordo com dados do escritório da SUDENE (localizado em Montes Claros), a maior parte dos indicadores sociais da região do Norte de Minas registrou uma significativa melhoria. De 1960 a 1999, a taxa de analfabetismo caiu 50,4%; a expectativa de vida ao nascer apresentou um incremento de 48,9%, a taxa de mortalidade infantil reduziu-se em 50,2% e o IDH apresentou variação de 103,2% (enquanto que o IDH do país cresceu 68% no mesmo período). Houve, em Montes Claros, um aumento também dos serviços pessoais (especialmente das atividades de lazer e entretenimento) que está associado à própria ideia do urbano, da globalização e da diversificação dos padrões de consumo requerida pela sociedade urbana. Esses fatores implicaram o surgimento de novas edificações na cidade, como shoppings, cinemas, supermercados, loja de departamentos e outros. Percebe-se, então, que Montes Claros tem se consolidado nos últimos anos como uma Cidade Polo-Regional de Serviços. A segregação socioespacial e o processo de periferização, características das médias e grandes cidades brasileiras, foram determinantes no processo de expansão urbana de Montes Claros. Segundo Pereira (2004), após a década de 70, verificou-se, em Montes Claros, um crescimento urbano, num padrão urbanístico disperso, mas com alto grau de concentração espacial dos equipamentos e da infraestrutura nos bairros de alta renda. No caso de Montes Claros, um fator específico contribuiu para acentuar o processo de favelização e de periferização da cidade: os movimentos migratórios e o êxodo rural, mais notáveis na década de Os movimentos migratórios em direção a Montes Claros, intensificados pelo processo de industrialização e maior articulação rodoviária de Montes Claros com outros centros urbanos do país, provocaram modificações na estrutura urbana da cidade e contribuíram para acentuar os problemas urbanos, tais como: aumento do favelamento e da pobreza urbana, maior periferização, rápida expansão do tecido urbano, aumento do déficit habitacional, proliferação de assentamentos subnormais, insuficiência dos

73 71 serviços que não suprem a demanda, marginalização da população do processo econômico (grande número de pessoas desocupadas e subocupadas), entre outros. De acordo com o Programa de Aplicações em Desenvolvimento Urbano de Montes Claros (1974), a cidade, enquanto capital regional atraía, além da população do Norte de Minas, a população flutuante (móvel) da região Nordeste do país, sendo que, na década de 1970, muitos imigrantes já estavam na cidade pela quarta vez. De acordo com esse programa, o aumento da pobreza urbana em Montes Claros esteve diretamente relacionado com o intenso fluxo de pessoas que se dirigiram à cidade. Se considerarmos Montes Claros, na década de 60, com uma população urbana estimada em 50 mil habitantes, vamos encontrar, em 1978, uma população com 172 mil habitantes, o que equivale a um aumento de 244% da população montesclarense em 19 anos. Com esta explosão demográfica a cidade começou a ser sufocada por uma série de graves questões de ordem social: falta de habitação, carência de um eficiente sistema de abastecimento d água, inexistência de uma política agressiva de saneamento básico, surgimento das favelas, aumento do índice de marginalidade e criminalidade, delinquência juvenil, menor abandonado, falta de um planejamento urbano e uma série de problemas congêneres. A tudo isso se soma o agravamento de que a densidade populacional alcançava índices de crescimento na ordem de 7% ao ano, enquanto que a oferta de emprego não crescia em proporções suficientes para dar conta da demanda da mão de obra existente. Isso criou uma lacuna social quase incontrolável, levando uma boa parte da população a viver de subempregos para garantir a sua sobrevivência. Houve uma nítida ocupação pelas classes mais altas de Montes Claros nas regiões oeste e sudoeste da cidade. Os bairros localizados nessas regiões possuem, em geral, boa infraestrutura, ruas largas, sistema viário bem articulado, facilidade de acesso e são mais arborizados. Segundo nos diz Gomes (2007): A mercantilização do espaço urbano de Montes Claros conduz à formação de uma cidade dividida em diferentes zonas homogêneas (em termos de renda, aspectos culturais, qualidade da residência e outros). Um exemplo de área homogênea é o Bairro Ibituruna, localizado na zona oeste, que é ocupado por uma população de classe alta, sendo formado por edificações de um padrão alto ou luxuoso, além de possuir cinco parcelamentos residenciais horizontais fechados (condomínios fechados) no seu interior, formando uma espécie de um enclave dentro de outro enclave. (GOMES, 2007, p ).

74 72 Esse crescimento urbano desordenado deixou sequelas até hoje percebíveis na cidade, como os grandes espaços vazios no interior da cidade e áreas ocupadas em regiões susceptíveis a desmoronamento e inundação. 4.4 A linguagem em Montes Claros A presença das bandeiras na região Norte de Minas pode ser comprovada através da linguagem dos seus habitantes. Fenômenos como a epêntese, verificada no vocábulo despois, de uso culto nos séculos XV e XVI; a redução de ditongo nos vocábulos premero e tercero; e arcaísmos como arreceber e amontava são variantes comuns na região 45. Constata-se, também, a ocorrência de um repertório verbal composto de vocábulos como muntcho (uso de africadas, características do século XVII), preguntou (que, alternadamente à forma perguntar, era utilizado no século XVII), dereitos, fruito, faiá, entre inúmeros outros, os quais constituem, sem dúvida alguma, marcas da presença da linguagem bandeirante. Para Antenor Nascentes, em seu Bases para a elaboração de um Atlas linguístico do Brasil, Montes Claros encontra-se na zona do subfalar baiano 46, o qual teria como uma de suas características a predominância das vogais pretônicas baixas, como [ɔh vaʎu], [sεrẽnu] (MARTINS, 2006, p. 03-4). Entretanto, conforme observações empíricas e baseando-nos no trabalho de Guimarães (2006), o que encontramos, em Montes Claros, é um sistema complexo no que diz respeito ao comportamento das vogais médias (e) e (o) em posição pretônica, o que nos dá, pois, um quadro diferente daquele postulado por Nascentes. De acordo com as observações do autor, na região norte de Minas 47, verificou-se pela observação dos dados que, naquilo que tange às vogais médias em posição pretônica, o sistema é um pouco mais complexo [...] Embora haja a neutralização, processo fonológico através do qual as vogais médias perdem o contraste em sílabas átonas, observa-se a presença tanto de vogal média-baixa, quanto de vogal média-alta e, ainda, de redução vocálica na pauta pretônica. [...] Entretanto, a presença de [ε, ɔ], embora ainda constatada, parece já não se fazer tão marcante quanto à época da confecção do EALMG 48. Por conseguinte, existem contextos que favorecem a presença dessa variante na sílaba átona em questão, mas não garantem uma produção uniforme dessas vogais pelos falantes. Um fator que chancela tal produção, sem qualquer sombra de dúvida, é a presença de vogal 45 Corpus linguístico da pesquisa Mitos e ritos da cultura popular: a folia de reis em cena (TONDINELI, 2009). 46 Ver figura 5: Isófona de [ε] e de [ɔ] em Minas Gerais. 47 Bocaiúva, Mirabela e Montes Claros. 48 Esboço de um Atlas Linguístico de Minas Gerais.

75 73 média-baixa em posição tônica. Nessa circunstância, há uma produção maior de [ε, ɔ] em sílaba pretônica do que de [e, o]. (GUIMARÃES, 2006, p. 85-6). Figura 5: Isófona de [ε] e de [ɔ] em Minas Gerais Fonte: GUIMARÂES, 2006.

76 74 Tal fato pode ser consequência do processo intenso de migração ocorrido nos últimos tempos (vide item 4.3). Tendo como base o falar vernacular, podemos observar que a caracterização linguística reflete a cultura de um povo e que fatores externos a influenciam diretamente, provocando mudanças (sejam elas linguísticas ou culturais). Verificou-se, portanto, que o convívio com pessoas de outras regiões fez com que a linguagem do visitante fosse absorvida pelo morador nativo, caracterizando o fenômeno da transculturação ou entrelaçamento cultural (ORTIZ, 1983, apud TONDINELI, 2009) e/ou de homogenização linguística (CHAMBERS, 1995, apud TONDINELI, 2009). Consequentemente, características dialetológicas, antes percebidas em uma grande escala da população, são, agora, fato-histórico. Paralelamente, a inserção cultural propõe, além de uma (re)formulação da sociocultura, um novo modelo linguístico, o qual distancia-se, na mesma proporção do crescimento educacional e populacional, cada vez mais do dialetoraiz. 4.5 A pesquisa: procedimentos metodológicos O material de análise desta pesquisa é composto de gravações 49 de 13 informantes 50 da região urbana de Montes Claros, sendo 07 do sexo feminino e 06 do sexo masculino. Esses informantes encontram-se distribuídos em três faixas etárias: 15 a 30 anos, 31 a 50 anos e acima de cinquenta anos. Dentre os fatores extralinguísticos considerados para esta pesquisa, encontra-se, também, a variável grau de escolaridade. Neste sentido, selecionamos informantes que se encaixassem em um dos três níveis: informantes sem estudo ou que cursam ou que concluíram somente o 1º grau, informantes que cursam ou que concluíram seus estudos até o 2º grau, informantes que cursam ou que concluíram o 3º grau. Além das variáveis extralinguísticas sexo, faixa etária e escolaridade, levamos em consideração, para esta pesquisa, a classe social a que pertence o informante média ou baixa. As classes sociais terão, como base de investigação e subdivisão, os bairros mais 49 Entrevistas realizadas entre os meses fevereiro e julho de 2009 com a ajuda de duas jornalistas. 50 A escolha dos informantes para esta pesquisa segue, além das variáveis extralinguísticas dadas no Quadro 7, o critério de ser a pessoa nascida na cidade de Montes Claros seja em sua zona urbana ou rural e aí residir -, e que não tenha se ausentado da cidade por período máximo de seis meses.

77 75 característicos das mesmas, tendo em vista que a questão do rendimento não nos parece relevante na realidade de Montes Claros, pois, na grande maioria das vezes, as famílias mais tradicionais mantêm um nível de status social que não condiz com a sua situação financeira. No Quadro 7 mostramos a distribuição do número de informantes nos grupos de fatores sociais. SEXO IDADE ESCOLARIDADE CLASSE SOCIAL Feminino - 07 Masculino a 30 anos ,1 a 50 anos -04 Acima de 50 anos º grau º grau º grau - 06 Quadro 7: Grupos de fatores sociais Fonte: Dados da pesquisa Baixa - 06 Média - 07 Em relação à classe social dos informantes, e devido ao tratamento que demos a esta variável, cabe-nos, aqui, um esclarecimento sobre os bairros que compuseram a amostra 51 : Todos os Santos e Centro, para a classe média; Maracanã e Amazonas, para a classe baixa. Antes disso, entretanto, é mister esclarecer que a amostra compõe-se, na sua maioria, de informantes dos bairros Todos os Santos e Maracanã pela maior afinidade das entrevistadoras com seus moradores e, consequentemente, um acesso mais facilitado às variáveis extralinguísticas propostas neste trabalho. 4.6 Caracterização dos bairros variável classe social 52 Nesta seção, exporemos cada um dos bairros que compuseram a amostra dos informantes desta pesquisa, a saber: Centro, Todos os Santos, Amazonas e Maracanã. 51 De acordo com dados levantados pela Prefeitura no ano de Vide mapas dos bairros em anexo.

78 Bairro Centro A Região Central de Montes Claros é muito antiga e possui toda infraestrutura necessária, como: água, luz, esgoto, asfalto etc. De acordo com dados históricos, as primeiras habitações deste bairro não foram aprovadas. O centro foi aprovado por partes, devido ao fato de que a maioria das habitações/edificações 53 foi feita através de usucapião ou de invasões e desmembramentos das fazendas então existentes no século XIX. A área central funciona como principal ponto de articulação dos diversos fluxos viários, provenientes das áreas periféricas. Com ruas estreitas de perfis irregulares, apresenta uma estrutura viária relativamente hierarquizada. A área do centro de Montes Claros é de ,00 m². TABELA 9 População residente no bairro Centro (Região Administrativa) População Total % em relação à Montes Claros Homens Mulheres ,39% Fonte: MONTES CLAROS, 2003 TABELA 10 População Residente por faixa etária Centro IDADE PESSOAS HOME S MULHERES 0 A 5 ANOS A 10 ANOS A 15 ANOS A 20 ANOS A 24 ANOS A 29 ANOS A 34 ANOS A 39 ANOS A 44 ANOS A 49 ANOS A 54 ANOS A 59 ANOS A 64 ANOS (Continua) 53 De acordo com dados da Prefeitura Municipal, o número de edificações na região central de Montes Claros é 9.551, até o mês julho/2009.

79 77 (Conclusão) IDADE PESSOAS HOME S MULHERES 65 A 69 ANOS A 74 ANOS A 79 ANOS ANOS A MAIS TOTAL Fonte: MONTES CLAROS, 2003 TABELA 11 Pessoas Residentes Alfabetizadas por faixa etária Centro Faixa etária/ anos Pessoas % Homens Mulheres 05 a 14 anos , a 24 anos , a 34 anos , a 44 anos , a 54 anos , a 64 anos 592 9, a 74 anos 499 7, a 80 anos ou mais 425 6, Total Fonte: MONTES CLAROS, 2003 Pela importância do comércio e serviços existentes na região central, observa-se que o mesmo oferece praticamente todos os produtos nos diversos ramos de atividades. Conforme indicadores econômicos da Região do Norte de Minas, Montes Claros classifica-se nas categorias A, B, C, D e E, que vai de menos de ½ salário mínimo a mais de 20 salários mínimos. A Região Central é, ainda, dotada de uma rede de ensino básico, eficiente, garantida pela atuação das redes estadual, particular, escolas de ensino profissionalizante (Escola Técnica de Saúde do Centro de Ensino Médio e Fundamental da Unimontes), escolas de ensino livre, escolas de ensino especiais e diversos cursinhos preparatórios para o vestibular.

80 Bairro Todos os Santos. O Bairro Todos os Santos teve a sua aprovação em janeiro de De acordo com os dados históricos, quem criou o Todos os Santos foi Simeão Ribeiro Pires ao definir, inicialmente, um ponto de apoio através de dois eixos definidores: Rua Santa Maria e Rua São José, ao lado do Orfanato, centro nevrálgico do bairro. A sua região administrativa é composta por duas unidades: Todos os Santos/Vila Santo Antônio e Todos os Santos/Mauriceia. De acordo com o censo do IBGE de 2000, possui habitantes. Limita-se com os bairros: Centro, Melo, Vila Mauriceia, Jardim Panorama, Barcelona Park e Vila Brasília, além de um prolongamento Todos os Santos II. De acordo com Leite (2003), A região centro-oeste de Montes Claros, em 70, era uma zona de classe média alta, e continua sendo, onde residiam os fazendeiros, médicos, advogados, engenheiros e chefes políticos. A região abrangia os bairros: Todos os Santos, São Luiz, Melo e Santa Maria. Todos bem dotados de infraestrutura. Talvez tenha sido essa região a que menos mudou ao longo destas quatro décadas, a classe de pessoas que habitam a região continua sendo praticamente a mesma, com exceção da população da Vila Brasília e da Vila Três Irmãs, na parte de urbanização pouco tinha para ser feito a não ser um problema muito antigo da região que é a drenagem da água pluvial e continua sem solução, isso é apenas mais um reflexo da falta de planejamento urbano de Montes Claros. A área ocupada da região aumentou muito pouco, apenas foi ocupado o espaço vazio da margem esquerda do Rio Vieira surgiram apenas três novos bairros neste local: Vila Brasília, Vila Três Irmãs e Vila Santo Antônio. (LEITE, 2003, p. 04) O Bairro Todos os Santos é ocupado praticamente por residências. Por ser o bairro que comporta a Universidade Estadual de Montes Claros, possui pontos comerciais, barzinhos, restaurantes e xerocadoras. Além destes, há 03 padarias, 02 locadoras de vídeo, 01 mercearia, 01 sorveteria, 02 açougues, 01 sacolão e 01 lojinha de variedades. Possui, também, lojas de aluguel de roupas, agência de viagens, 02 produtoras de vídeos e eventos, 01 farmácia, 01 laboratório de análises clínicas, 01 banca de revistas e jornais e 01 posto de gasolina. No Bairro Todos os Santos encontramos, também, o Estádio José Maria Melo, de propriedade da Associação Atlética Cassimiro de Abreu, com capacidade para pessoas. E, além da Universidade, temos duas escolas: uma particular e uma pública para crianças especiais.

81 Bairro Amazonas A Região Administrativa do Amazonas é composta pelos bairros: Amazonas, Jardim Brasil e Vila Santa Cruz. Limita-se com os bairros (Região Administrativa): Edgar Pereira, Brasília, Santos Reis, Distrito Industrial e Renascença. Aprovado em 1998, possui ainda partes não legalizadas, devido às construções por ocupação. A parte legalizada denomina-se Jardim Brasil. A sua Região Administrativa conta com uma área de: ,00 m². TABELA 12 População Residente no bairro Amazonas (Região Administrativa) População Total % em relação à Homens Mulheres Montes Claros ,75% Fonte: MONTES CLAROS, 2003 TABELA 13 População Residente por faixa etária - Amazonas IDADE PESSOAS HOME S MULHERES 0 A 5 ANOS A 10 ANOS A 15 ANOS A 20 ANOS A 24 ANOS A 29 ANOS A 34 ANOS A 39 ANOS A 44 ANOS A 49 ANOS A 54 ANOS A 59 ANOS A 64 ANOS A 69 ANOS A 74 ANOS A 79 ANOS ANOS A MAIS Total Fonte: MONTES CLAROS, 2003

82 80 TABELA 14 Pessoas Residentes Alfabetizadas por faixa etária Amazonas Faixa etária/ anos Pessoas % Homens Mulheres 05 a 14 anos , a 24 anos , a 34 anos , a 44 anos , a 54 anos 134 7, a 64 anos 78 4, a 74 anos 18 1, a 80 anos ou mais 5 0, Total Fonte: MONTES CLAROS, 2003 O bairro Amazonas possui bares, restaurantes, sorveteria, mercearia, comércio de aviamentos e confecções, posto de gasolina, comércio de plástico e embalagens, comércio de materiais de construção, farmácia, representações comerciais em geral e de prestação de serviços, agência de turismo, laboratório de análises clínicas e de radiografia e serralheria. O bairro Amazonas é dotado, também, de uma rede de ensino estadual. Considerado um bairro de classe C e D (conforme indicadores econômicos da Região do Norte de Minas), o bairro Amazonas (Região Administrativa) desenvolve diversas atividades econômicas, atendendo sua população e a de bairros adjacentes Bairro Maracanã O Bairro Maracanã se formou a partir de um loteamento cujos proprietários eram os Srs. José Alves Vieira, Hermínio de Souza Pinto, Air Lélis Vieira e Antônio Gomes da Mota. Sua aprovação se deu em O bairro apresenta inúmeras alternativas de investimentos de acordo com sua localização geográfica, apresentando uma economia bastante diversificada, com um comércio vibrante, gerando negócios a cada dia. O bairro Maracanã está localizado na Região Sul da cidade de Montes Claros, limitando-se com os bairros: São Judas Tadeu, Santo Inácio, Jardim São Geraldo e Santo Amaro. Sua região administrativa conta com uma área de ,00 m².

83 81 TABELA 15 População Residente no bairro Maracanã (Região Administrativa) População Total % em relação à Homens Mulheres Montes Claros ,22% Fonte: MONTES CLAROS, 2003 TABELA 16 População Residente por faixa etária Maracanã IDADE PESSOAS HOME S MULHERES 0 A 5 ANOS A 10 ANOS A 15 ANOS A 20 ANOS A 24 ANOS A 29 ANOS A 34 ANOS A 39 ANOS A 44 ANOS A 49 ANOS A 54 ANOS A 59 ANOS A 64 ANOS A 69 ANOS A 74 ANOS A 79 ANOS ANOS A MAIS TOTAL Fonte: MONTES CLAROS, 2003 TABELA 17 Pessoas Residentes Alfabetizadas por faixa etária Maracanã (Continua) Faixa etária/ anos Pessoas % Homens Mulheres 05 a 14 anos , a 24 anos , a 34 anos , a 44 anos , a 54 anos 134 7, a 64 anos 78 4,

84 82 (Conclusão) Faixa etária/ anos Pessoas % Homens Mulheres 65 a 74 anos 18 1, a 80 anos ou mais 5 0, Total Fonte: MONTES CLAROS, 2003 Pela sua localização geográfica, o bairro Maracanã, e áreas adjacentes, possui um Centro Comercial bastante diversificado, oferecendo praticamente todos os produtos nos diversos ramos de atividades. Conforme indicadores econômicos da Região do Norte de Minas, o bairro Maracanã classifica-se nas categorias C, D e E. Possui comércio de aviamentos, açougue, abatedouro de frangos, sacolão, farmácia, papelaria, banca de revistas e jornais, mercearias, bares, restaurantes, sorveteria, lanchonetes, sapataria, loja de artigos de cama e mesa, comércio de materiais de construção, comércio de som e instrumentos musicais, locadoras de vídeo, casa de peças, escolas, creches, centro de saúde, posto policial, posto de gasolina, casa lotérica e serviços em geral. O bairro Maracanã é dotado de uma rede de ensino básico, garantida pela atuação das Redes Estadual, Municipal, e Particular (Caic Antonio Alves dos Santos, Escola Municipal Dominguinhos Pereira, Escola Estadual Carlos Albuquerque, escolas infantis: Pequena Fada, Mundo Mágico, Alegria de Viver, Creches e outras). O bairro Maracanã desenvolve atividades nos diversos setores socioeconômicos, atendendo sua população e a de bairros adjacentes. Verifica-se o funcionamento pleno do comércio nos dias úteis e aos sábados. Conforme apresentado, o bairro é atendido em diversos segmentos, cuja demanda parcial é absorvida pelos serviços terceirizados. Neste Capítulo, apresentamos a cidade de Montes Claros/MG, local onde foi realizada a nossa pesquisa, assim como discorremos sobre os aspectos que englobam os bairros Centro, Todos os Santos, Amazonas e Maracanã, que constituem a classe social do falante, como explicitamos no Capítulo IV. Assim, no próximo Capítulo, explicitaremos os grupos de fatores linguísticos e extralinguísticos que compuseram o nosso corpus, além de discorrermos sobre como foi realizada a pesquisa em si.

85 83 5 PROCESSAME TO DOS DADOS Juntamente com as entrevistas (gravações), iniciou-se a fase de transcrição ortográfica das mesmas, tendo em vista o próximo objetivo: seleção das ocorrências das vogais médias (o) e (e) em posição pré e postônica (não final) em todas as suas variantes: [e, ε, i] e [o, ɔ, u]. As entrevistas 54 se deram em duas fases: num primeiro momento, mais informal, no qual se falou sobre o bairro onde mora o informante e sobre aspectos gerais da vida de cada um; e, num segundo momento, mais formal, mostrou-se aos entrevistados uma série de figuras para a coleta das vogais médias postônicas não finais, tendo em vista que as mesmas ocorrem em palavras proparoxítonas, de pouco uso na nossa língua. Neste teste mostramos 53 figuras para que os informantes pudessem identificar cada uma delas, a saber: abóbora, alienígena, almôndegas, âncora, apóstolos, árvore, astrônomo, átomo, auréola, autódromo, bafômetro, brócolis, bússola, câmera, catálogo, centímetro, cérebro, cócegas, cômoda, córrego, crisântemo, cronômetro, época, fenômeno, fósforo, gêmeos, gôndola, helicóptero, horóscopo, hóspedes, mármore, números, óleo, ópera, orquídea, pálpebra, parêntesis, páscoa, pérola, pêssego, petróleo, pólvora, prótese, psicólogo, quilômetro, semáforo, símbolo, taxímetro, termômetro, útero, velocímetro, velocípede e xerox (em anexo). Esta fase das entrevistas foi codificada como linguagem formal, tendo em vista que os informantes ficavam tensos ao se depararem com o desafio de identificar cada uma das figuras. Além disso, em alguns momentos, foi necessário dizer o nome correspondente à figura para que o informante pudesse repeti-lo, tendo em vista que o mesmo não conseguia identificá-la. As figuras alienígena, brócolis, crisântemo, símbolo e velocípede se mostraram as mais complexas. Na primeira alienígena -, a identificação, muitas vezes, se dava como etê ou extraterrestre; a segunda, brócolis, foi também identificada como couve-flor por alguns entrevistados; crisântemo foi ora suprimido pelos informantes, ora identificado como margarida; símbolo, na sua grande maioria, foi identificado como seleção brasileira; já velocípede foi identificado, também, como velotrol. 54 Para a realização das entrevistas e maior fidelidade nas transcrições, utilizou-se gravador digital Panasonic modelo RR-US450 e microfone de lapela Omni.

86 84 Realizadas as transcrições, separamos as ocorrências das vogais médias (e) e (o) em posição pretônica 55 e postônica não final. Essas ocorrências foram codificadas de acordo com os grupos de fatores estabelecidos e transpostos para o programa VARBRUL. Apresentamos, a seguir, as variáveis estruturais e não estruturais que compõem os grupos de fatores utilizados na pesquisa. 5.1 Variáveis dependentes 1. Alçamento de (e, o) em posição pretônica ac[i]ndia, alm[u]çar e em posição postônica não final pêss[i]go, gônd[u]la. 2. Manutenção de (e, o) em posição pretônica m[e]nor, f[o]rmados e em posição postônica não final prót[e]se, autôn[o]ma. 3. Rebaixamento de (e, o) em posição pretônica 56 am[ ]ricano, c[ø]mércio. 5.2 Variáveis independentes Vogal da sílaba seguinte e vogal da sílaba precedente Os contextos vogal da sílaba seguinte e vogal da sílaba precedente têm em vista analisar se os processos de alçamento e rebaixamento das vogais médias pretônicas (e, o) ocorrem devido à harmonização vocálica, como nos dizem os estudos de autores como Câmara Jr. (2008); Bisol (1981); Yacovenco (1993); Klunck (2007); Campos (2008); Dias, Cassique e Cruz (2007); Silva (1989), entre outros 57. Para tanto, utilizamos os fatores: (E) vogal baixa anterior, (e) vogal média anterior, (i) vogal alta anterior, (a) vogal central, (O) vogal baixa posterior, (o) vogal média posterior, (u) 55 Na seleção das pretônicas foram consideradas, também, as palavras do teste com figuras. 56 Não ocorreram rebaixamentos de (e) em posição postônica não final; somente as palavras brócolis e xerox rebaixaram quando a vogal em posição postônica não final era a média (o). 57 Para esclarecimentos sobre esses estudos, vide Capítulo 2 O comportamento das vogais médias (e, o ) no Português do Brasil - deste trabalho.

87 85 vogal alta posterior, tanto para a análise das vogais médias (e,o) em posição pretônica quanto para a posição postônica não final. Ainda utilizamos, para as pretônicas, no que se refere à vogal da sílaba precedente, (X) não há vogal no contexto precedente Status da tonicidade Neste grupo, baseando-nos em Câmara Jr. (2007, p ), analisaremos a pauta acentual de cada vocábulo que compõe o nosso corpus. De acordo com Mattoso Câmara Jr., podemos analisar os vocábulos fonológicos com (como em /abilidade/, ser hábil) e sem pausas (como em /abilidade/, hábil idade). Consideraremos, aqui, somente os vocábulos fonológicos com pausas. Assim, este grupo de fatores analisa a importância de, no processo derivacional, a vogal média permanecer átona ou adquirir atonicidade. Dessa forma, foram criados os seguintes fatores: (P) Átona permanente (como em verdade~verdadeiramente e locar~locadora) (S) Átona casual (como em caderno~caderninho e foco~desfocar) Assim objetivamos, com este grupo de fatores, verificar que tipo de vogal está mais propensa a variar, a átona permanente, ou seja, aquela que é sempre produzida de forma átona, seja qual for o processo derivacional, como em doença adoecer, ou se é a átona casual, aquela que se torna átona durante o processo derivacional, como em cabelo cabeludo Contexto fonológico precedente Na visão neogramática, os segmentos adjacentes ao fenômeno observado são prementes de investigação para que, assim, possamos verificar a possibilidade de participação de cada um deles, bem como as possíveis interferências. Conforme mostrado em estudos anteriores - Célia (2004), Graebin (2008), Cristófaro-Silva (2005), Viegas (2001), entre

88 86 outros, a atuação das consoantes precedentes é relevante, uma vez que criam condições diferenciadas no comportamento das vogais médias pretônicas. Para tanto, utilizamos os fatores: (V) vogal, (O) oclusiva, (F) fricativa/africada, (L) lateral, (N) nasal, (T) tepe, (S) semivogal, tanto para a investigação do comportamento das variáveis (e) e (o) em posição postônica não final quanto em posição pretônica. Nesta, incluímos, ainda, (X) não há contexto fonológico precedente Contexto fonológico seguinte Em qualquer investigação linguística que focaliza um objeto fonológico, considerações quanto ao tipo de consoante que ocorre, tanto anterior quanto posteriormente a um fonema, é indispensável. Seguindo, ainda, Graebin (2008, p. 119), as possibilidades de configuração silábica para os contextos fonológicos seguintes são: (1) Vogal seguida de vogal (ditongos e hiatos) passear, doença, oitenta, soldado [...]; (2) consoante da sílaba seguinte: comida pequeno; (3) sílabas do tipo CVC com coda em /R/, /S/ e /N/: perguntar, estudar, contei. Neste trabalho, as consoantes que se seguem às vogais médias pretônicas foram caracterizadas com os mesmos fatores estabelecidos para a consoante antecedente, excetuando-se (X) Distância da sílaba tônica Sendo que este trabalho inclui o estudo das vogais pretônicas e postônicas não finais, isto é, anteriores/posteriores à sílaba tônica, esta se apresenta como elemento relevante, uma vez que é a sua determinação que nos dirá qual a vogal a ser examinada. Com este grupo pretendemos, portanto, observar a influência da contiguidade das vogais (e, o) em posição átona em relação à tônica. Assim sendo, determinamos três níveis de distância, a saber: 1) Distância 1: imediatamente anterior/posterior à sílaba tônica, como em específica.

89 87 2) Distância 2: duas sílabas antes/após a sílaba tônica, como em depender. 3) Distância 3: três ou mais sílabas antes/após a sílaba tônica, como em democratizar asalidade Sabemos que as vogais possuem comportamentos diferentes conforme a sua nasalidade. Verifica-se, por exemplo, que a vogal (e) nasalisada, em posição inicial, tende a alçar. Daí, portanto, a relevância dos fatores oral (O) e nasal (~) Classe morfológica Dividimos as palavras colhidas nesta pesquisa em três tipos nome, verbo e palavras compostas para que possamos, assim, examinar de forma ampla o efeito do componente morfológico no que se refere ao comportamento das vogais médias (e, o) em posição pretônica e postônica não final. Assim, temos os fatores: N nominal, como em professor. V verbal, como em conseguia. C palavras compostas, como em desordenado Grau de formalidade Tendo em vista que nenhum falante utiliza a língua da mesma forma em todas as ocasiões, a escolha entre várias possibilidades linguísticas poderá ser diferente em um estilo mais casual e um mais formal. Assim, utilizamos, neste trabalho, conforme Labov (2008), um estilo mais simples durante a entrevista (fala monitorada) e, buscando um estilo mais formal (estilo de leitura), o

90 88 uso de figuras para identificação (as quais, pela sua complexidade de identificação, às vezes vieram acompanhadas de palavras veja as figuras em anexo). O autor ainda diz: Se existe comparação entre estilos casuais e monitorados, e se as variáveis que estamos usando desempenham um papel importante nesse contraste, elas não parecem operar com sinais de tudo-ou-nada. O uso de uma única variante mesmo uma altamente estigmatizada [...] não produz em geral uma reação social marcada; apenas cria a expectativa de que tais formas podem ocorrer, de modo que o ouvinte começa a perceber um padrão socialmente significativo. [...] Contudo, a fala prestigiada, a raridade com que essas formas ocorrem as torna irrelevantes. Qualquer padrão de expectativa estabelecido por elas desaparece, até que a próxima seja ouvida. (LABOV, 2008, p ). Sabemos que medir o estilo de fala é algo altamente complexo. Entretanto, neste trabalho, optamos por acrescentar este grupo de fatores na esperança de verificarmos a presença das médias baixas [, ø], às quais associamos a um grau de formalidade maior. Assim sendo, neste grupo de fatores, temos: (F) estilo formal e (I) estilo informal, os quais nos fornecerão subsídios para que possamos verificar na língua de prestígio contexto formal indícios de mudança no fenômeno em estudo Posição da pretônica Tendo em vista as inúmeras discussões a respeito de ser a pretônica, em posição inicial, em determinados contextos fonológicos, favorável ao alçamento, decidimos nos valer da posição da mesma para compreendermos melhor os resultados de estudos anteriores através da nossa própria pesquisa. Verificamos, então, se as vogais médias (e, o) encontravam-se em posição inicial da palavra I (como em educação, morando), ou em posição medial da palavra M (como em professora, namorar).

91 Item léxico 58 (só na análise das postônicas) Para que possamos ilustrar este grupo de fatores, lembramos que a tese difusionista é fortemente reforçada por três argumentos, fundamentalmente: (a) inúmeras exceções a determinadas mudanças fonéticas não podem ser explicadas unicamente por analogia e/ou por empréstimo; (b) muitos processos fonológicos não são explicados somente por condicionamentos sonoros, mas por uma gama variada de fatores, incluindo os de natureza discursivo-pragmática e sócio-geográfico-social; e (c) nem todos os vocábulos que contêm o som em mudança são afetados simultaneamente e da mesma maneira. Isto é, longe de se aplicar a todas as palavras ao mesmo tempo, as mudanças fônicas reconhecem limites temporais, quer por razões socioculturais, quer por razões pragmáticas, sendo, pois, contínuas. Assim, para que possamos confirmar uma das hipóteses iniciais da nossa pesquisa que a mudança é difusionista, acrescentamos, na análise das variáveis (e) e (o) em posição postônica não final, este grupo de fatores Indivíduo 59 Além do já exposto no grupo de fatores item léxico, Ribeiro (2007), em sua pesquisa, confirma que os itens lexicais podem variar em uma comunidade de fala, havendo, além da variação no nível da comunidade de fala, uma variação intraindividual, determinante na escolha léxico-fonológica de cada falante. Nas palavras de Marques (2006, p. 44), há estudiosos que argumentam que a mudança linguística se encontra no indivíduo (MILROY, 1992; CROFT, 2000), pois, se uma inovação não passar de um falante para o outro, não há mudança. Diz-nos Oliveira (2005) que o falante, de posse de seu conhecimento da estrutura fonológica da língua, domina, de fato, uma série de princípios gerais. Alguns desses princípios [...] são refratários à ação de outros princípios, enquanto outros [...] estão sujeitos a princípios 58 Vide relação de figuras/palavras no 3º parágrafo deste Capítulo. 59 Esclarecemos que os treze falantes que compuseram a amostra preenchem todas as células propostas para a pesquisa, conforme exposto no Capítulo 4 Contexto social e metodologia -, Quadro 7, p. 75.

92 90 secundários [...]. Alguns princípios (que ainda precisam ser determinados) definem nós, ou pontos, sujeitos, ou não, à ação de princípios menores. (OLIVEIRA, 2005, p. 16). E ainda: no que se refere à produção, os princípios menores [...] definem a forma fonética adotada pelo falante (OLIVEIRA, 2005, p. 17). Assim, em nossa pesquisa, levaremos em consideração o falante, a saber: N hinhinha anos 3º grau Classe média (Todos os Santos) S Sá-Maria 80 anos 1º grau Classe média (Todos os Santos) B Badu 22 anos 3º grau Classe Média (Todos os Santos) L Livíria 22 anos 3º grau Classe Baixa (Maracanã) D Dionora 41 anos 1º grau Classe Baixa (Amazonas) F Flausina 21 anos 3º grau Classe Média (Todos os Santos) R Rolandina 40 anos 2º grau Classe Média (Todos os Santos) A Lalino 45 anos 3º grau Classe média (Centro) I Rudimira 57 anos 3º grau Classe Baixa (Maracanã) P Apolinário 59 anos 2º grau Classe Média (Centro) C Anacleto 34 anos 1º grau Classe Baixa (Maracanã) J Jó Joaquim 26 anos 2º grau Classe Baixa (Maracanã) M Francolim 56 anos 1º grau Classe Baixa (Maracanã) Sexo Faz parte do conhecimento geral o fato de que homens e mulheres não falam da mesma maneira. Além das diferenças em relação ao tom, há preferências por certas estruturas, sejam elas semânticas, sintáticas, morfológicas ou fonológicas. Para Labov (2008, p. 282), as mulheres são mais sensíveis do que os homens aos valores sociolinguísticos explícitos, sendo que, mesmo em contextos menos formais, as mulheres são mais ponderadas linguisticamente do que os homens em contextos formais. Além disso, como nos mostram estudos diversos, as mulheres utilizam formas linguísticas mais avançadas ; o que é comprovado por Labov, Yaeger & Steiner (1972) em estudo realizado sobre a evolução do inglês da cidade de Nova York. Os autores, na análise dos resultados, verificam que as mulheres se encontram quase uma geração inteira à frente dos homens no alçamento de (eh). (apud LABOV, 2008, p. 346). 60 Os nomes dos falantes são pseudônimos retirados das obras de Guimarães Rosa.

93 91 Desse modo, verificam que a questão do sexo é relevante no que se refere à mudança linguística concluindo: a diferenciação sexual da fala frequentemente desempenha um papel importante no mecanismo da evolução linguística. (apud LABOV, 2008, p. 348). Assim sendo, este grupo de fatores busca refletir sobre as diferenças fonéticas e fonológicas que podem ocorrer ligadas, de modo mais frequente, a um determinado sexo; assim, temos: (F) feminino e (M) masculino Faixa etária Se atentarmos para o processo de aquisição de linguagem de uma criança, podemos verificar que existem diferenças linguísticas devidas à idade do falante, afinal, uma criança não consegue articular sons que os adultos produzem eficientemente. Weinreich, Labov e Herzog (2006) apresentam alguns problemas empíricos para uma teoria da mudança linguística, a saber: o problema dos fatores condicionantes; o problema do encaixamento; o problema da implementação e o problema da transição da mudança. A respeito da transição, dizem: A mudança se dá (1) à medida que um falante aprende uma forma alternativa, (2) durante o tempo em que as duas formas existem em contato dentro de sua competência, e (3) quando uma das formas se torna obsoleta. A transferência parece ocorrer entre grupos de pares de faixas etárias levemente diferentes; todas as evidências empíricas reunidas até agora indicam que as crianças não preservam as características dialetais de seus pais, mas sim as do grupo de pares que domina seus anos pré-adolescentes. (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 2006, p. 122). Assim, é possível realizar um estudo da mudança mediante a observação do comportamento linguístico dos falantes em diferentes faixas etárias. Para tanto, temos três fatores: 1 15 a 30 anos. 2 30,1 a 50 anos. 3 mais de 50 anos.

94 Grau de escolaridade Estudos de cunho sociolinguista verificam a tendência de falantes com terceiro grau de escolaridade produzirem mais as formas padrão do que aqueles de outros níveis de escolaridade. Tal fato é condizente com o que apregoa o senso comum, afinal, pressupõe-se que, quanto mais estudo, maior será a elaboração discursiva do falante. Além disso, a questão do grau de escolaridade está intimamente ligada à estigmatização linguística, tendo em vista que os falantes que não possuem grau de instrução, ou que o possuem em pouca quantidade, estão mais propensos a cometer erros e, para evitálos, espelham-se naqueles que possuem grau de escolaridade elevado. Assim, os falantes que possuem 3º grau, por exemplo, seriam considerados exemplos linguísticos e detentores do prestígio. Vale ressaltar que, na nossa divisão, são considerados falantes cursando determinado grau ou que concluíram aquele grau específico, a saber: A 3º grau. B 2º grau. C 1º grau Classe social A questão da língua de prestígio e da estratificação linguística está estreitamente relacionada a este grupo. A língua é o reflexo da sociedade e, portanto, a classe social de maior status deterá a língua de prestígio, enquanto que a classe social mais baixa, assim como acontece em grande parte das relações sociais, poderá ser linguisticamente estigmatizada. Labov (2008), em seus estudos na cidade de Nova York, expõe que: Um grande volume de dados mostra que os falantes da classe média baixa têm a maior propensão à insegurança linguística e, por conseguinte, tendem a adotar, mesmo na idade madura, as formas de prestígio usadas pelos membros mais jovens da classe de status mais elevado. A insegurança linguística é mostrada pelo intervalo bastante amplo de variação estilística usado pelos falantes da classe média baixa; por sua grande variação dentro de um dado contexto estilístico; por seu esforço consciente de correção; e por suas atitudes fortemente negativas para com seu padrão de fala nativo. (LABOV, 2008, p. 146).

95 93 É válido lembrar que a mostra teve por base os bairros de Montes Claros/MG, conforme discutido anteriormente, no Capítulo Contexto social e metodologia, item 4.6, deste trabalho. 5.3 Aspectos da quantificação dos dados Após a seleção das ocorrências, codificou-se cada uma delas de acordo com as variáveis estruturais e não estruturais. Foram criados 6 arquivos de tokens, a saber: alçamento das pretônicas (e); rebaixamento das pretônicas (e); alçamento das pretônicas (o); rebaixamento das pretônicas (o); postônicas não finais (e); postônicas não finais (o). Nesta pesquisa, como instrumento para análise quantitativa, utilizou-se o programa estatístico GOLVARB Esse programa fornece frequências e probabilidades sobre os fenômenos estudados, permitindo o tratamento estatístico de dados variáveis, realizado através de modelos matemáticos. O programa VARBRUL foi desenvolvido por Sankoff e Rousseau (1974, 1978) e utiliza um algoritmo baseado no procedimento de máxima verossimilhança para estimar os efeitos dos fatores. O diagnóstico dado pelo programa difere de alguns outros tipos de análise multivariada pelo fato de pressupor que os vários grupos de fatores têm efeitos independentes. O modelo, condizentemente com a nossa concepção, incorpora a ideia de que os processos linguísticos são influenciados por diversas variáveis independentes, tanto linguísticas quanto sociais, prevendo a necessidade de uma análise multivariada, em que cada efeito de um fator na análise é calculado enquanto são controlados, até o máximo possível, os outros fatores. De acordo com Guy e Zilles (2007), a preparação de materiais para a realização de uma análise com o VARBRUL envolve vários aspectos, a saber: 1. Constituição da amostra através de critérios coerentes com a pesquisa. 2. Cuidados relacionados com a validade e a confiabilidade. A confiabilidade seria basicamente equivalente à possibilidade de reproduzir ou replicar o resultado: se repetirmos o estudo usando os mesmos critérios, ou se outro pesquisador fizer estudo equivalente, os resultados seriam iguais? Se não forem, não haverá confiabilidade, mas, se forem, é possível confiar neles. (GUY & ZILLES, 2007, p. 116).

96 94 Em relação à validade, dizem os autores que [...] é uma questão mais sutil, ou mais teórica: o objeto estudado (a variável dependente) está ligado ao fenômeno que queremos investigar [...] pelo próprio exame daquele objeto. (GUY & ZILLES, 2007, p. 116). 3. Planejamento do sistema analítico mediante a definição das variáveis, o que inclui a definição do grupo de fatores. 4. Seleção dos dados. 5. Eliminação dos casos que não se enquadram nos critérios estabelecidos (casos duvidosos da variável dependente). 6. Preparação do arquivo de ocorrências. Tendo sido todos os aspectos cumpridos e tendo em mãos os dados quantitativos, refletiremos, qualitativamente, no próximo capítulo, acerca das situações encontradas no comportamento das vogais médias (e) e (o), em posição pretônica e postônica (não final), na busca da comprovação de uma das principais hipóteses que guiam este trabalho: a mudança é difusionista, além de apresentar respostas pertinentes aos questionamentos suscitados pela pesquisa.

97 95 6 A ÁLISE DOS DADOS Neste capítulo, tratamos, com base nos índices percentuais e pesos relativos, das relações existentes entre as variantes [ε, e, i, u, o, ø] e as variáveis independentes, sejam elas linguísticas ou extralinguísticas. Para tanto, dividimos este capítulo em quatro subseções, cada uma verificando uma posição específica das variáveis (e) e (o): pretônica (e), pretônica (o), postônica não final (e) e postônica não final (o). Nelas, realizaremos os cálculos probabilísticos 61 das variáveis para que pudéssemos, então, observar o comportamento de cada uma, vislumbrando, assim, os ambientes favorecedores e desfavorecedores. No presente estudo, foram selecionados dados da amostra, os quais foram submetidos ao programa GOLDVARB No corpus, dados referem-se à variável (e) em posição pretônica e 392 em posição postônica não final -, e referem-se à variável (o) em posição pretônica e 380 em posição postônica não final. Conforme já havíamos dito, o comportamento das pretônicas forma, na cidade de Montes Claros/MG, um quadro complexo. Já em relação às postônicas não finais, além de se comportarem de modo diferenciado das pretônicas, verificamos, ainda, comportamento diferenciado em relação às variáveis (e) e (o): na variável (o), em posição postônica não final, o alçamento (53,2%) é predominante. Já em relação à variável (e), a manutenção da variável predomina, tanto em posição pretônica (71%) quanto em posição postônica não final (78%). 6.1 O comportamento da variável pretônica (e) De acordo com os dados coletados da fala dos montesclarenses, verificamos a seguinte distribuição na realização da variável (e) em posição pretônica: 61 Os dados percentuais encontram-se em anexo.

98 96 Pretônica (e) Rebaixamento 1% Alçamento 28% Manutenção 71% Gráfico 1: Percentual de ocorrência das variantes da variável (e) Fonte: Dados da pesquisa Como podemos observar pelo Gráfico 1, a manutenção da variável (e), em posição pretônica, prevalece entre os falantes montesclarenses. O percentual de 1% de rebaixamento aponta para uma das hipóteses iniciais deste trabalho: que o falar de Montes Claros não é mais caracterizado pela realização da vogal baixa [ε], tal como nos indicava Antenor Nascentes ao colocar esta cidade dentro do subfalar baiano em sua divisão dialetal. Para que possamos realizar o estudo da variável (e) em posição pretônica, falaremos, separadamente, sobre os fenômenos de alçamento e de rebaixamento. As tabelas a seguir, tomando cada um dos grupos selecionados pelas rodadas stepping up e stepping down 62 isoladamente, demonstrarão o comportamento da variável (e) em relação às diversas variáveis independentes selecionadas na análise. 62 Para maiores esclarecimentos, vide Guy e Zilles (2007).

99 Alçamento do (e) pretônico Dos dados coletados, referem-se ao alçamento de (e) em posição pretônica e 3597 à sua realização como [e] 63. Dentre os grupos de fatores, as rodadas stepping up e stepping down excluíram posição da pretônica 64, sexo do falante e grau de escolaridade. Apesar de não selecionado pela stepping up, o grupo indivíduo não foi eliminado pela rodada stepping down. Já os grupos faixa etária e classe social foram eliminados pela stepping down, mas selecionados pela rodada stepping up. Apresentamos, a seguir, os valores atribuídos a cada um dos fatores nos grupos selecionados nas rodadas stepping up e stepping down. Os pesos relativos apresentados resultam da melhor rodada stepping up do programa. TABELA 18 Vogal da sílaba seguinte no alçamento da variável (e) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo u 159/ /1413 0,735 o 448/ /1413 0,594 ø 106/ /1413 0,621 a 1076/ /1413 0,266 23/ /1413 0,458 e 911/ /1413 0,445 i 874/ /1413 0,664 Fonte: Dados da pesquisa De acordo com os pesos, mostram-se favorecedoras as vogais [u], [i], [ɔ] e [o] no contexto da sílaba seguinte, na mesma ordem de favorecimento do fenômeno, como em ass[i]g[u]rar, acont[i]c[i]a, m[i]lh[ɔ]re, m[i]lh[o]rou dados coletados referem-se ao rebaixamento de (e) em posição pretônica analisados no item deste capítulo. 64 Tendo em vista que as variáveis (e, o), em posição pretônica, podem ocorrer em sílaba inicial ou medial, utilizamos, pois, da variável independente posição da pretônica em nossa análise (para maiores esclarecimentos, vide item deste trabalho).

100 98 Já as vogais [a, e, ], no contexto da sílaba seguinte, não são favorecedoras do processo de alçamento da variável (e) em posição pretônica, embora ele ocorra, como em t[i]atro, san[i]amento, d[i]z[ ]nove, s[i]m[ ]stre, b[i]zerro, apar[i]ceram. A presença das altas [u, i] como favorecedoras do processo de alçamento de (e) é condizente com a questão da harmonização vocálica. Por outro lado, [o, ɔ], em contexto de sílaba seguinte, como favorecedores do alçamento de (e), mostram que a regra da harmonização vocálica pode, sim, ser uma causa de realização do fenômeno, mas a sua aplicação não é generalizada. Se assim o fosse, a presença da baixa [ɔ] não poderia ocasionar em alçamento da pretônica (e), e sim o seu rebaixamento, assim como [o] deveria favorecer a manutenção da variável. Assim, temos, por exemplo, m[i]lh[ɔ], m[ ]lh[ø]res, e não m[ ]lh[ɔ]; s[i]nh[ɔ]ra, e não s[ ]nh[ɔ]ra; camp[i][o]nato, e não camp[e][o]nato; sobr[i]n[o]me, e não sobr[e]n[o]me. Antes de partirmos para a análise do grupo de fatores vogal da sílaba precedente, é mister esclarecer que as variantes baixas [, ø] foram agrupadas com as variantes fechadas [e, o], respectivamente, para a eliminação de nocautes, tendo em vista que não ocorreu alçamento da pretônica (e) quando as baixas [, ø] encontravam-se na sílaba precedente. Os dados de manutenção referentes a [, ø], como vogal da sílaba precedente, também foram mínimos: 02 para cada caso. TABELA 19 Vogal da sílaba precedente no alçamento da variável (e) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo u 143/ /1413 0,461 o 260/ /1413 0,297 a 293/ /1413 0,330 e 275/3597 6/1413 0,067 i 522/ /1413 0,248 Não há vogal na sílaba precedente 2104/ /1413 0,635 Fonte: Dados da pesquisa Na análise da vogal da sílaba precedente, de acordo com os pesos relativos dados na Tabela 19, verificamos que o alçamento da variável (e) só é favorecido quando há ausência de vogal na sílaba precedente, como em b[i]zerro, p[i]rigo, s[i]guro, [i]xistia e t[i]atro.

101 99 Os demais fatores (vogal [e], como em dep[e]ndendo; vogal [i], como em int[e]ressante; vogal [o], como em prof[e]ssor; vogal [a], como em apr[e]ndizado; vogal [u], como em sup[e]rvisora) não são favorecedores do processo de alçamento da variável (e) em posição pretônica. Ou seja, não há diferenciação de efeito entre eles, o que nos permite supor que não estejam envolvidos no processo. A consideração quanto ao tipo de contexto que ocorre posteriormente a um fonema, assim como a análise do contexto precedente, é indispensável, não só no presente caso, mas em qualquer investigação linguística que focaliza um objeto fonológico. Assim, vejamos, na Tabela 20, os contextos fonológicos seguintes que favorecem ou desfavorecem o alçamento da variável (e) em posição pretônica. TABELA 20 Contexto fonológico seguinte no alçamento da variável (e) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Fricativa 993/ /1413 0,655 Oclusiva 685/ /1413 0,492 Nasal 721/ /1413 0,549 Tepe 744/ /1413 0,231 Lateral 260/ /1413 0,441 Vogal 77/ /1413 0,887 Semivogal 117/3597 1/1413 0,019 Fonte: Dados da pesquisa No grupo de fatores contexto fonológico seguinte temos as vogais (como em san[i]amento e t[i]atro), as fricativas (como em b[i]xiga e J[i]sus) e as nasais (como em m[i]nino e s[i]mestre) como fatores favorecedores do processo de alçamento da variável (e) em posição pretônica (0,887; 0,655 e 0,549, respectivamente). As semivogais (l[e][y]tura), os tepes (int[e][ ]essante), as laterais (p[e][l]ejar) e as oclusivas ([e][d]ucação) são fatores que desfavorecem o processo de alçamento da variável (e) em posição pretônica. É mister esclarecer que a única ocorrência de semivogal, em d[i][y]xá, foi um caso isolado da falante Flausina que, em outras ocorrências deste contexto, manteve a vogal média [e] em posição pretônica (como em l[e][y]tura, aprov[e][y]tar, r[e][w]niram e past[e][w]rização).

102 100 Passemos, agora, à análise dos contextos fonológicos precedentes que favorecem ou desfavorecem o alçamento da variável (e) em posição pretônica. TABELA 21 Contexto fonológico precedente no alçamento da variável (e) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Fricativa 985/ /1413 0,395 Oclusiva 1362/ /1413 0,464 Nasal 380/ /1413 0,527 Tepe 374/3597 6/1413 0,031 Lateral 128/ /1413 0,434 Vogal 8/3597 1/1413 0,700 Semivogal 39/3597 1/1413 0,160 Não há contexto fonológico precedente 321/ /1413 0,873 Fonte: Dados da pesquisa De acordo com o nosso corpus, a ausência de contexto fonológico precedente foi o fator que mais favoreceu o alçamento da variável (e) em posição pretônica. Tal fato vai ao encontro do que encontrou Viana 65 (2008) em seus estudos sobre a média pretônica em Pará de Minas. Diz a autora que observa-se, também, no processo de alteamento da pretônica (e), que fronteira morfológica é percentualmente muito mais alta que a presença de qualquer consoante (VIANA, 2008, p. 83). Os outros ambientes favorecedores do alçamento seriam os fatores: vogal (Paca[i]mbu) e nasal (m[i]ntindo; m[i]lhorar; m[i]dida), sendo este moderadamente favorecedor. A ocorrência de oclusivas e de laterais, em contexto fonológico precedente à variável (e) em posição pretônica, são moderadamente desfavorecedoras do processo de alçamento (como em p[e]rgunta). As fricativas (v[e]rdade), os tepes (apr[e]ndizado) e as semivogais (c[y][e]ntista) são também desfavorecedoras do alçamento do (e) pretônico. É mister esclarecer que a única ocorrência de semivogal (p[y][i]dade) foi um caso isolado do falante Jó Joaquim que, em outras ocorrências deste vocábulo, manteve a vogal média [e] em posição pretônica (como em p[y][e]dade). Aqui, verificamos variação individual. 65 Utilizamos este autora como base comparativa dos dados relativos às pretônicas (e, o) pelo fato de a mesma, além de estudar o alçamento e rebaixamento das médias em posição pretônica, ter realizado sua pesquisa em uma cidade de Minas Gerais Pará de Minas.

103 101 A seguir, verificaremos o grupo de fatores status da tonicidade. TABELA 22 Status da tonicidade no alçamento da variável (e) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Átona permanente 1335/ /1413 0,625 Átona casual 2262/ /1413 0,418 Fonte: Dados da pesquisa Considerando-se o peso relativo dos fatores, verificamos que a átona permanente 0,625 - favorece o processo de alçamento (como em m[i]nino e s[i]nhora), e a átona casual 0,418 desfavorece fracamente o processo de alçamento (como em [e]rrado). Outro grupo de fatores escolhido pelas rodadas do VARBRUL foi distância da sílaba tônica, a saber: TABELA 23 Distância da sílaba tônica no alçamento da variável (e) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Distância / /1413 0,525 Distância / /1413 0,591 Distância 3 323/ /1413 0,364 Fonte: Dados da pesquisa Verificamos que as distâncias 2 (0,591) e 1 (0,525) são as que favorecem o processo de alçamento da variável pretônica (e), sendo a distância 2 a que possui maior peso. Viana (2008, p. 87) verifica, em relação à oralidade de Pará de Minas, que a distância 2 é a mais favorecedora do processo de alçamento da variável (e), considerando-se o peso relativo 0,62. Em nossos dados, verificamos que a distância 2 é favorecedora (como em pr[i]cisava) do processo de alçamento da variável (e) em posição pretônica. Entretanto, sem dúvida, o peso encontrado por Viana (2008) é maior do que o que encontramos em Montes Claros, o qual pode ser considerado moderadamente favorecedor. A seguir, mostraremos os pesos relativos referentes à nasalidade da variável pretônica (e).

104 102 TABELA 24 asalidade no alçamento da variável (e) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Oral 2935/ /1413 0,473 Nasal 662/ /1413 0,599 Fonte: Dados da pesquisa Quanto ao alçamento da variável (e), verifica-se que o fator nasal (como em ac[i]ndia) é mais favorável do que o oral (como em qu[i]ria), embora ambos sejam favorecedores, ou não, em um nível moderado. Tais valores são condizentes com o que nos mostra Viana (2008) sobre o falar de Pará de Minas, cujo fator nasal é moderadamente favorável e o oral moderadamente desfavorável ao alçamento da pretônica (e). A Tabela 25 nos fornece os pesos relativos do grupo de fatores classe morfológica. TABELA 25 Classe morfológica no alçamento da variável (e) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Nome 2238/ /1413 0,441 Verbo 1190/ /1413 0,526 Palavras compostas 169/ /1413 0,876 Fonte: Dados da pesquisa Em relação à classe morfológica, de acordo com resultados de outros estudos, as palavras compostas são favorecedoras do processo de alçamento da variável (e) em posição pretônica. Conforme diz Viana (2008, p. 90): diferentemente do que diz Bisol (1981), a respeito de os prefixos não alçarem, no dialeto da região urbana de Pará de Minas, os prefixos de/des alçam frequentemente, (disvalorizados, dismiricia), assim como outros prefixos (impimentada, sobrinome). Podemos observar, em relação aos dados apontados por Viana (2008), que o que encontramos no dialeto de Montes Claros é a mesma situação que vista em Pará de Minas. No falar montesclarense, somente os nomes não são favorecedores do processo de alçamento da

105 103 variável (e) em posição pretônica (como em [e]x[e]cutivos e univ[e]rsitário), e os verbos favorecem moderadamente o fenômeno (como em ass[i]gurar). Quanto ao grau de formalidade, temos: TABELA 26 Grau de formalidade no alçamento da variável (e) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Informal 3352/ /1413 0,527 Formal 245/ /1413 0,129 Fonte: Dados da pesquisa Conforme os valores obtidos, verifica-se que o nível informal de fala é fator favorecedor do alçamento da variável (e) em posição pretônica, mesmo que moderadamente. Essa insensibilidade ao estilo de fala sugere, segundo proposta de Labov (1981), que estamos diante de um processo de natureza difusionista. O favorecimento da variante média alta [i] é, pois, o resultado esperado para a fala informal, a qual exige menor grau de monitoração. Antes de iniciarmos a nossa análise do grupo de fatores indivíduo, lembramos que este grupo foi selecionado apenas pela rodada stepping down. Assim, utilizamos, na Tabela 27, os pesos relativos da melhor rodada stepping down. TABELA 27 Indivíduo no alçamento da variável (e) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Anacleto 209/ /1413 0,550 Apolinário 240/ /1413 0,539 Badu 259/ /1413 0,550 Dionora 293/ /1413 0,552 Flausina 160/ /1413 0,511 Francolim 249/ /1413 0,687 Jó Joaquim 371/ /1413 0,328 Lalino 728/ /1413 0,393 Livíria 294/ /1413 0,502 Nhinhinha 205/ /1413 0,523 Rolandina 168/ /1413 0,600

106 104 Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Rudimira 327/ /1413 0,430 Sá-Maria 94/ /1413 0,655 Fonte: Dados da pesquisa (Conclusão) Verificam-se, pela análise dos dados da Tabela 27, que Francolim, (0.687), Sá-Maria (0,655), Rolandina (0,600) e Dionora (0,552) são os sujeitos que mais favorecem o alçamento da variável (e) em posição pretônica. Apolinário (0,539), Nhinhinha (0,523), Badu (0,550), Anacleto (0,550) e Livíria (0,502) favorecem fracamente o alçamento. Já Jó Joaquim, Lalino e Rudmira desfavorecem o alçamento de (e) em posição pretônica. Se atentarmos para as características sociais de cada um dos sujeitos, temos: a) Nhinhinha 22 anos 3º grau Classe média b) Sa-Maria 80 anos 1º grau Classe média c) Badu 22 anos 3º grau Classe Média d) Livíria 22 anos 3º grau Classe Baixa e) Dionora 41 anos 1º grau Classe Baixa f) Flausina 21 anos 3º grau Classe Média g) Rolandina 40 anos 2º grau Classe Média h) Lalino 45 anos 3º grau Classe média i) Rudimira 57 anos 3º grau Classe Baixa j) Apolinário 59 anos 2º grau Classe Média k) Anacleto 34 anos 1º grau Classe Baixa l) Jó Joaquim 26 anos 2º grau Classe Baixa m) Francolim 56 anos 1º grau Classe Baixa Assim, podemos verificar que os três grupos de fatores resultantes de nossa análise favorecedores, fracamente favorecedores e desfavorecedores são compostos de sujeitos diversificados pela faixa etária, pelo grau de escolaridade e pela classe social. Esta heterogeneidade, aliada à seleção do grupo de fatores indivíduo, pode ser vista como um forte indício de que tratamos, aqui, de um processo de natureza difusionista, insensível a fatores sociais (cf. LABOV, 1981). Vejamos, então, os pesos relativos atribuídos aos dois grupos de

107 105 fatores extralinguísticos, faixa etária e classe social, excluídos pela stepping down e selecionados pela rodada stepping up. TABELA 28 Faixa etária no alçamento da variável (e) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo 15 a 30 anos 1289/ /1413 0, a 50 anos 1398/ /1413 0,444 Acima de 50 anos 910/ /1413 0,544 Fonte: Dados da pesquisa TABELA 29 Classe social no alçamento da variável (e) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Média 1854/ /1413 0,548 Baixa 1743/ /1413 0,450 Fonte: Dados da pesquisa De acordo com a Tabela 28, verificamos que os informantes que favoreceram o processo de alçamento da variável pretônica (e) estão nas faixas etárias de 15 a 30 anos 0,523 e acima de 50 anos 0,544. Entretanto, as diferenças entre os pesos relativos de todos os fatores que compõem este grupo não são tão acentuadas, ficando todos eles próximos de 0,50. Confirma-se, aqui, a insensibilidade do alçamento de (e) aos fatores sociais. Tal fato também pode ser verificado no grupo de fatores classe social, Tabela 29, onde vemos que a classe baixa é moderadamente desfavorecedora do processo de alçamento e a média é, por sua vez, moderadamente favorável ao alçamento da variável (e) em posição pretônica. Mesmo tendo sido selecionados pela rodada stepping up, a exclusão dos grupos de fatores extralinguísticos pela stepping down, além da pouca diferença entre os pesos relativos (conforme se verifica nas Tabelas 28 e 29), sugere um processo de natureza difusionista. Afinal, como nos diz Labov (1981, p. 296), os fatores não estruturais não condicionam processos fonológicos sujeitos à difusão lexical.

108 106 Vimos, aqui, que o comportamento da variável (e), em posição pretônica, no dialeto de Montes Claros, possui vários pontos em comum com o falar pará-minense. Pudemos verificar que a regra de harmonização vocálica, proposta em vários estudos como justificativa para o alçamento da pretônica (e), não se sustenta confortavelmente, pois vemos [o, ø] como favorecedores do processo quando em contexto de sílaba seguinte (como em m[i]lh[ø]re e m[i]lh[o]rou). Além disso, a insensibilidade ao estilo de fala, a heterogeneidade idioletal e a exclusão dos grupos de fatores sociais pelo VARBRUL nos indicam que o processo de alçamento da variável (e), em posição pretônica, possui natureza difusionista Rebaixamento do (e) pretônico Dos dados coletados, 68 referem-se ao rebaixamento da variável (e) em posição pretônica e 3597 à manutenção da variável pretônica (e) 66. Em relação ao rebaixamento da variável (e) em posição pretônica, foram selecionados, pelas rodadas stepping up e stepping down, os grupos de fatores vogal da sílaba seguinte, vogal da sílaba precedente, contexto fonológico seguinte, contexto fonológico precedente e classe morfológica. O grupo grau de escolaridade, apesar de ser eliminado pela rodada stepping down, foi selecionado na stepping up. A seguir, passaremos à análise de cada um dos grupos selecionados. TABELA 30 Vogal da sílaba seguinte no rebaixamento da variável (e) Manutenção Rebaixamento N/Total N/Total Peso relativo Recuadas [ø, o, u] 714/ /68 0,407 Central [a] 1075/3597 9/68 0,309 Anteriores [, e, i] 1808/ /68 0,649 Fonte: Dados da pesquisa dados coletados referem-se ao alçamento da variável (e) em posição pretônica analisados no item deste capítulo.

109 107 Ao analisarmos os pesos relativos da Tabela 30, verificamos que, dos três fatores, somente as anteriores [, e, i] são favorecedoras do processo de rebaixamento da pretônica (e) como em r[ ]c[ ]be, s[ ]t[e]mbro e am[ ]r[i]cano. As recuadas [ø, o, u] (como em r[e]n[ø]va, ass[e]ss[o]ria e cob[e]rt[u]ra) e a central [a] (como em consid[e]r[a]da) não são favorecedoras do rebaixamento da variável (e), em posição pretônica, no falar de Montes Claros. Aqui, assim como aconteceu com os valores relativos ao alçamento de (e), temos a alta [i] e a média [e] como favorecedoras do processo de rebaixamento da variável (e), o que não é condizente com uma análise em termos de harmonização vocálica. Por outro lado, [ ], em contexto de sílaba seguinte, como favorecedor, é condizente com a regra da harmonização vocálica. Entretanto, a sua aplicação não é categórica; afinal, temos dez[e]ss[ ]ti, e não dez[ ]ss[ ]ti; [e]x[ ]rcício, e não [ ]x[ ]rcício. Se assim o fosse, a presença da baixa [ɔ] não poderia ocasionar o alçamento da pretônica (e), e sim o seu rebaixamento, assim como [o] deveria favorecer a manutenção da variável. Assim, temos, por exemplo, m[i]lh[ɔ], e não m[ ]lh[ɔ]; s[i]nh[ɔ]ra, e não s[ ]nh[ɔ]ra; camp[i][o]nato, e não camp[e][o]nato; sobr[i]n[o]me, e não sobr[e]n[o]me. A seguir, discorreremos sobre os fatores que compõem o grupo vogal da sílaba precedente. TABELA 31 Vogal da sílaba precedente no rebaixamento da variável (e) Manutenção Rebaixamento N/Total N/Total Peso relativo Recuadas [ø, o, u] 402/3597 8/68 0,591 Central [a] 294/ /68 0,739 Anteriores [, e, i] 800/3597 7/68 0,281 Não há vogal na sílaba precedente 2101/ /68 0,533 Fonte: Dados da pesquisa Neste grupo de fatores vogal da silaba precedente -, a vogal central [a] (como em c[a]t[ ]quese), as recuadas [ø, o, u] (como em pr[ø]j[ ]to, [o]f[ ]reci e m[u]lh[ ]rão) e a ausência de vogal na sílaba precedente (como em s[ ]rviço) são os fatores que favorecem o rebaixamento da variável (e) em posição pretônica.

110 108 Somente as anteriores [, e, i] não são consideradas favorecedoras do rebaixamento da pretônica (e) quando em sílaba precedente (como em B[ ]r[e]nice, ind[e]p[e]ndentes e [i]nt[e]ndeu). Outra vez, assim como ocorreu com o grupo de fatores vogal da sílaba seguinte, os itens lexicais dados como exemplo aplicam-se às categorias específicas expostas por Cristófaro-Silva (2005), a saber: 1. Rebaixam quando em formas derivadas por sufixação (-mente, -inho(a), -zinho(a), - íssimo(a)); 2. Rebaixam quando, no radical, há as baixas [, ø] em posição tônica; 3. Rebaixam sem a presença de qualquer outra média baixa na palavra; 4. Rebaixam quando ocorrer uma vogal nasal em/en ou om/on em posição tônica; 5. Rebaixam quando seguida por consoante que ocorra na mesma sílaba. Entretanto, ocorrências como am[ ]ricano não se encaixam em nenhuma dessas categorias específicas dadas por Cristófaro-Silva (2005), o que nos indica que o processo de rebaixamento da variável (e), em posição pretônica, pode se tratar de um caso de difusão lexical. Além disso, mostra que falantes específicos fazem escolhas específicas, tendo em vista que am[ ]ricano foi pronunciado somente por Lalino. A seguir, falaremos sobre o contexto fonológico precedente no rebaixamento da variável (e), no falar montesclarense. TABELA 32 Contexto fonológico precedente no rebaixamento da variável (e) Manutenção Rebaixamento N/Total N/Total Peso relativo Fricativa 985/ /68 0,630 Oclusiva 1409/ /68 0,407 Nasal 380/ /68 0,630 Tepe 374/3597 4/68 0,360 Lateral 128/3597 7/68 0,823 Não há contexto fonológico precedente 321/3597 3/68 0,353 Fonte: Dados da pesquisa Como não houve ocorrências cujo contexto fonológico precedente fosse vogal ou semivogal, esses fatores foram excluídos.

111 109 Os fatores lateral, nasal e fricativa são os favorecedores do processo, com pesos de 0,823; 0,630 e 0,630, respectivamente (como em col[ ]guinha, m[ ]ntindo, s[ ]vera). A ausência de contexto fonológico precedente, o tepe e as oclusivas não favorecem o fenômeno de rebaixamento da pretônica (e), como em [e]ducação, dir[e]tamente e at[e]nção. Já em relação ao contexto fonológico seguinte, conforme exposto na Tabela 33, as oclusivas (0,760) e os tepes (0,686) são os fatores que mais favorecem o rebaixamento da variável (e), em posição pretônica (como em s[ ]tembro e int[ ]ressa). Os demais fatores (fricativas, nasais, e laterais) não favorecem o fenômeno. TABELA 33 Contexto fonológico seguinte no rebaixamento da variável (e) Manutenção Rebaixamento N/Total N/Total Peso relativo Fricativa 992/3597 5/68 0,259 Oclusiva 879/ /68 0,760 Nasal 722/3597 4/68 0,319 Tepe 744/ /68 0,686 Lateral 260/3597 4/68 0,450 Fonte: Dados da pesquisa A seguir, apresentamos os pesos relativos referentes ao grupo de fatores classe morfológica (Tabela 34). TABELA 34 Classe morfológica no rebaixamento da variável (e) Manutenção Rebaixamento N/Total N/Total Peso relativo Nome 2237/ /68 0,561 Verbo 1191/ /68 0,337 Palavras compostas 169/3597 7/68 0,808 Fonte: Dados da pesquisa Assim como verificamos em relação ao alçamento de (e), no rebaixamento, é também o fator palavras compostas o que mais favorece o fenômeno de rebaixamento da variável (e),

112 110 em posição pretônica (como em el[ ]troeletrônico), seguida pelos nomes (como em s[ ]questro). Somente os verbos não favorecem o rebaixamento de (e) como em s[e]ntava, [e]xistia e [e]ntraria o que condiz com o que encontrou Viana (2008, p. 74) em seus estudos do dialeto de Pará de Minas. A seguir, apresentamos os pesos relativos para grau de escolaridade dos falantes, grupo que foi excluído pela rodada stepping down, mas selecionado pela stepping up. TABELA 35 Grau de escolaridade no rebaixamento da variável (e) Manutenção Rebaixamento N/Total N/Total Peso relativo 1º grau 845/ /68 0,664 2º grau 779/ /68 0,511 3º grau 1973/ /68 0,422 Fonte: Dados da pesquisa De acordo com os valores da Tabela 35, vemos que são os falantes com o 1º grau de escolaridade os que mais favorecem o processo de rebaixamento da variável pretônica (e), seguidos pelos falantes com grau de escolaridade média, fracamente favorecedores do fenômeno. Aqui, verificamos que há uma razão inversamente proporcional entre o grau de escolaridade do falante e o favorecimento do rebaixamento; assim, quanto menor for o grau de escolaridade do falante, maior será a probabilidade de rebaixamento da variável pretônica (e). Por outro lado, quanto maior a escolaridade, menor será a possibilidade de aplicar a regra variável de rebaixamento. Se compararmos os pesos relativos da Tabela 35 com os valores de Viana (2008), verificamos que os falantes com o menor grau de escolaridade são os que mais favorecem o fenômeno de rebaixamento de (e), tanto em Pará de Minas quanto em Montes Claros. Entretanto, enquanto que no falar paraminense os falantes com ensino superior possuem peso neutro, no dialeto montesclarense eles são moderadamente desfavorecedores do fenômeno; já os falantes com o 2º grau de escolaridade são moderadamente favorecedores. Assim como ocorreu em relação ao alçamento da variável (e), a insensibilidade aos grupos de fatores extralinguísticos, no rebaixamento da pretônica (e), pode ser indicativo de um processo de natureza difusionista.

113 111 Nesta sessão, vimos que as variantes [i, e], em vogal da sílaba seguinte, são favorecedoras do processo de rebaixamento da variável pretônica (e), o que não condiz com uma análise em termos de harmonização vocálica (como em s[ ]rv[i]co e am[ ]r[i]cano). Podemos verificar, também, que os casos expostos encaixam-se, em sua quase totalidade, nas categorias propostas por Cristófaro-Silva (2005). Entretanto, ocorrências como am[ ]ricano indicam processo difusionista, pelo fato de não se encaixar em nenhuma das grupos específicos para o alçamento das variáveis (e, o) indicados pela autora. Também como indicativo de difusão lexical tem-se a insensibilidade do fenômeno aos grupos de fatores extralinguísticos. 6.2 O comportamento da variável pretônica (o) Gráfico 2: Percentual de ocorrência das variantes da variável (o) Fonte: Dados da pesquisa Assim como vimos em relação à variável (e), a manutenção da variável pretônica (o) também se sobressai no falar de Montes Claros, em detrimento do alçamento 14% - e do rebaixamento 4%. Ainda em comparação com a variável (e) em posição pretônica, verificamos que o rebaixamento de (o) é maior do que o de (e); por outro lado, o alçamento de (o) é inferior ao da variável pretônica (e).

114 112 Para que possamos realizar o estudo da variável (o) em posição pretônica, mostraremos, a seguir, o seu comportamento, tendo por base os fenômenos de alçamento e de rebaixamento. As tabelas a seguir, dos grupos selecionados pelas rodadas stepping up e stepping down, demonstrarão o comportamento da variável (o) perante as diversas variáveis independentes às quais a nossa análise foi submetida Alçamento do (o) pretônico Dos dados coletados, 462 referem-se ao alçamento da variável (o) em posição pretônica e à manutenção da variável (o) 67. Dentre os grupos de fatores, as rodadas stepping up e stepping down excluíram vogal da sílaba precedente, nasalidade, grau de formalidade, sexo do falante, faixa etária e classe social. Apesar de eliminado por stepping down, o grupo escolaridade foi selecionado pela rodada stepping up. A seguir, apresentaremos os dados referentes a cada um dos grupos selecionados nas rodadas stepping up e stepping down. Os pesos relativos apresentados constituem aqueles da melhor rodada stepping up do programa. TABELA 36 Vogal da sílaba seguinte no alçamento da variável (o) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo u 271/ /462 0,566 o 260/2704 1/462 0, / /462 0,596 a 829/ /462 0,267 e 616/ /462 0,689 i 565/ /462 0,806 Fonte: Dados da pesquisa dados coletados referem-se ao rebaixamento da variável (o) em posição pretônica analisados na seção deste capítulo.

115 113 Antes de iniciarmos a nossa análise, esclarecemos que não houve ocorrências da vogal baixa [ø] na sílaba seguinte à variável (o) em posição pretônica. A partir da Tabela 36, podemos verificar que as vogais anteriores [ε, e, i] e a posterior alta [u], no contexto da sílaba seguinte, são favorecedoras do processo de alçamento da variável (o) em posição pretônica (como em c[u]m[ ]ça, b[u]n[i]to, g[u]v[e]rno e c[u]st[u]ma). Aqui, vale lembrar que a média [o], como fator do grupo vogal da sílaba seguinte, foi responsável por somente um alçamento realizado pela falante Rudimira que, em outras ocorrências deste contexto, manteve a variável (o) em posição pretônica (como em c[o]mpr[o]misso, c[o]l[o]cando, c[o]ntou, c[o]ntrole). Já as vogais [a, o], no contexto da sílaba seguinte, não são favorecedoras do processo de alçamento da variável (o) em posição pretônica., como em l[o]c[a]dora e m[o]n[o]grafia. A presença das vogais altas [u, i] como favorecedoras do processo de alçamento de (o) é condizente com uma explicação em termos de harmonização vocálica. Entretanto, verificamos que a regra da harmonização vocálica nem sempre se manifesta, pois temos p[o]pulação, dev[o]lução, c[o]nsiderada, aut[o]rizarem, v[o]luntária, pr[o]dutivo, c[o]mplicado, esc[o]tismo, l[o]binhos, P[o]rtugal, assess[o]ria, H[o]rizonte, pr[o]dutos, entre outros contextos onde a vogal da sílaba seguinte é alta e não há alçamento da variável pretônica (o). Assim, podemos concluir que o alçamento não teria, no contexto fonético, a sua melhor explicação (OLIVEIRA, ). Afinal, mesmo tendo sido configurado o ambiente fonético propício à aplicação da regra de alçamento, os exemplos acima não apresentam alçamento. Antes de partirmos para a análise do grupo de fatores contexto fonológico precedente, esclarecemos que não houve alçamento com ocorrência do fator tepe, que foi excluído deste grupo. 68 Para maiores esclarecimentos, vide Capítulo 3 Modelos de mudança sonora -, p. 48 deste trabalho.

116 114 TABELA 37 Contexto fonológico precedente no alçamento da variável (o) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Fricativa 331/ /462 0,523 Oclusiva 1542/ /462 0,609 Nasal 290/ /462 0,290 Lateral 208/2704 5/462 0,266 Vogal 22/ /462 0,981 Semivogal 99/2704 8/462 0,769 Não há contexto fonológico precedente 212/2704 2/462 0,041 Fonte: Dados da pesquisa Em relação aos pesos relativos gerados pelo VARBRUL, conforme exposto na Tabela 37, a ausência de contexto fonológico precedente é o fator que menos favorece o alçamento da variável (o), como em [o]bjetivo, seguido pelas laterais (como em l[o]binhos) e pelas nasais (como em mam[o]rado). Já as fricativas (como em f[u]rtuna), as oclusivas (como em b[u]cado), as semivogais (como em ma[y][u]ria) e as vogais (como em pr[e][u]cupa) são fatores favorecedores do alçamento da variável (o) em posição pretônica. Para Bisol (1981), as velares e as labiais (p, b, m, f, v) possuem pesos relativamente altos para o favorecimento do alçamento de (o), sendo que as labiais são preponderantes, assim como ocorreu nesta pesquisa (Vide Tabelas 21 e 37), e nos explica: Do que ficou dito se poderia depreender que se a labial exercesse alguma influência sobre a vogal frontal (alta ou média) esta seria a de baixar F2 69, tornando-a levemente centralizada. Deve estar aí a razão pela qual ela se revelou na análise estatística como um dos contextos que protege a vogal e do efeito da harmonização vocálica. Por outro lado, se a lábia exercesse alguma influência sobre [o], supor-se-ia que fosse a de baixar F2, aproximando-o da área das vogais altas. Tudo indica que assim seja. É a similaridade acústica que existe entre vogal alta posterior e consoante labial (F2 de frequência aproximada), a causa motivadora, ou seja, o principal condutor do processo de assimilação tão frequente neste contexto. Eis aí, a nosso ver, uma explicação plausível para a frequente elevação de /o/ e a escassa de /e/ no contexto da labial que o dado estatístico revelou. (BISOL, 1981, p ). Segundo nos diz VIANA (2008, p. 74), as oclusivas e as fricativas também são favorecedoras do alçamento de (o) em Pará de Minas, assim como a ausência de contexto 69 Formante 2.

117 115 fonológico precedente, e as nasais são desfavorecedoras do processo. Entretanto, divergentemente do que ocorre no falar paraminense, em Montes Claros, as semivogais e as vogais, quando em contexto fonológico precedente são, também, favorecedoras do alçamento da pretônica (o). Passemos, agora, à análise dos fatores que compõem o grupo contexto fonológico seguinte. TABELA 38 Contexto fonológico seguinte no alçamento da variável (o) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Fricativa 345/ /462 0,662 Oclusiva 584/ /462 0,397 Nasal 847/ /462 0,585 Tepe 600/ /462 0,332 Lateral 247/ /462 0,481 Vogal/semivogais 70 81/ /462 0,683 Fonte: Dados da pesquisa De acordo com a Tabela 38, verificamos que os tepes são os que menos favorecem o alçamento da pretônica (o) quando em contexto fonológico seguinte (como em m[o]rando), seguidos pelas oclusivas (como em p[o]pulação) e pelas laterais (como em v[o]luntário). As nasais (como em v[u]mitando), as fricativas (como em J[u]sé, apr[u]veitar) e as vogais (como em d[u]ação, raz[u]áveis) são fatores favorecedores do alçamento da variável (o) em posição pretônica. Na tabela 39, a seguir, analisamos os pesos relativos dos fatores do grupo status da tonicidade. 70 As semivogais estão inclusas somente nos dados referentes à manutenção da variável (o).

118 116 TABELA 39 Status da tonicidade no alçamento da variável (o) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Átona permanente 667/ /462 0,638 Átona casual 2037/ /462 0,452 Fonte: Dados da pesquisa Aqui, verifica-se que a átona casual é fator moderadamente desfavorecedor do alçamento da variável pretônica (o), como em assess[o]ria, g[o]rducho, sendo que a átona permanente é favorecedora do fenômeno, como em c[u]nversar, c[u]sturava. Os valores da Tabela 39 são, portanto, condizentes com o que encontramos no alçamento da variável pretônica (e), conforme podemos verificar na Tabela 22 deste trabalho. Consideremos, a seguir, os pesos relativos referentes ao grupo distância da sílaba tônica. TABELA 40 Distância da sílaba tônica no alçamento da variável (o) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Distância / /462 0,574 Distância 2 902/ /462 0,433 Distância 3 308/ /462 0,325 Fonte: Dados da pesquisa Aqui, em relação ao alçamento da pretônica (o), verificam-se duas distâncias como desfavorecedoras do processo distância 2 (como em c[o]mplicado) e distância 3 (como em respo[o]nsabilidade), sendo esta a que mais desfavorece o alçamento da variável (o) em posição pretônica. Tal fato não condiz com o encontrado no alçamento de (e) em posição pretônica (vide Tabela 23 deste trabalho), onde as distâncias 1 e 2 são as favorecedoras do processo; aqui, somente a distância 1 figura como fator favorecedor do alçamento da pretônica (o) - como em b[u]cado.

119 117 A Tabela 41, a seguir, nos fornece os pesos relativos referentes ao grupo de fatores classe morfológica. TABELA 41 Classe morfológica no alçamento da variável (o) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Nome 1700/ /462 0,387 Verbo 921/ /462 0,687 Palavras compostas 83/2704 7/462 0,402 Fonte: Dados da pesquisa Pelos resultados da Tabela 41, podemos verificar que os fatores nome (como em pr[o]grama) e palavras compostas (como em desf[o]car) são desfavorecedores do alçamento da variável pretônica (o), sendo que, dos fatores presentes no grupo classe morfológica, somente os verbos são considerados favorecedores (como em c[u]nsertar). Enquanto que em (e) somente o fator nome é desfavorecedor do alçamento, temos, em (o), também o fator palavras compostas. Os resultados da Tabela 41 condizem com os resultados de Pará de Minas (VIANA, 2008, p. 74), onde os verbos foram o fator que mais favoreceu o alçamento da pretônica (o), em detrimento dos nomes, embora em níveis mais moderados do que os encontrados no dialeto montesclarense. Expomos, na Tabela 42, os pesos relativos encontrados para posição da pretônica. TABELA 42 Posição da pretônica no alçamento da variável (o) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Inicial 1805/ /462 0,589 Medial 899/ /462 0,306 Fonte: Dados da pesquisa

120 118 De acordo com os resultados da Tabela 42, verificamos que a posição medial (como em assess[o]ria) é desfavorecedora do processo; já a posição inicial (como em c[u]chilo) é moderadamente favorável ao alçamento de (o) em posição pretônica. Em relação ao grupo de fatores indivíduo, verifica-se, pela análise dos valores da Tabela 43, que os falantes Badu e Sá-Maria são os que mais favorecem o alçamento da pretônica (o), seguidos por Francolim, Rolandina, Jó Joaquim e Dionora. Todos os outros indivíduos da comunidade de fala em estudo têm preferência pela manutenção da variável. TABELA 43 Indivíduo no alçamento da variável (o) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Anacleto 137/ /462 0,435 Apolinário 225/ /462 0,371 Badu 178/ /462 0,691 Dionora 200/ /462 0,561 Flausina 114/2704 8/462 0,318 Francolim 167/ /462 0,672 Jó Joaquim 201/ /462 0,582 Lalino 603/ /462 0,472 Livíria 245/ /462 0,299 Nhinhinha 178/ /462 0,416 Rolandina 140/ /462 0,625 Rudimira 232/ /462 0,477 Sá-Maria 84/ /462 0,690 Fonte: Dados da pesquisa Pela análise comparativa dos dados referentes às variáveis (e, o) em posição pretônica, e tendo por base as tabelas 27 e 43, verificamos que o alçamento de (e) é mais comum na comunidade de fala montesclarense do que o de (o). Enquanto em (o) 6 informantes foram considerados como favorecedores do alçamento, são 10 os informantes que favorecem o alçamento de (e). Ainda, que dos falantes favoráveis ao processo de alçamento de (e, o) somente Lalino e Rudimira não favorecem o fenômeno em ambas as variáveis, o que nos indica o caráter individual na variação/mudança linguística. Mais uma vez, a seleção do grupo de fatores indivíduo pode ser vista como um forte indício de que tratamos, aqui, de um fenômeno de natureza difusionista.

121 119 Passaremos, agora, à análise dos dados referentes ao grupo de fator extralinguístico grau de escolaridade, excluído pela rodada stepping down e selecionado pela stepping up. TABELA 44 Grau de escolaridade no alçamento da variável (o) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo 1º grau 451/ /462 0,518 2º grau 566/ /462 0,502 3º grau 1687/ /462 0,494 Fonte: Dados da pesquisa O que verificamos no grupo de fatores grau de escolaridade é que o 1º e 2º graus são moderadamente favorecedores do fenômeno, sendo que o 3º grau é o único fator considerado desfavorecedor do processo de alçamento da variável pretônica (o), mesmo que seja, também, em nível moderado. A ausência de diferenças significativas entre os três fatores que compõem o grupo grau de escolaridade, bem como a eliminação deste grupo pela rodada stepping down e a exclusão dos grupos faixa etária e classe social, nos mostra que os fatores extralinguísticos não são relevantes para o alçamento da variável (o) em posição pretônica, o que reforça a visão de que o fenômeno é difusionista (conf. LABOV, 1981, p. 296) Rebaixamento do (o) pretônico Dos dados coletados, 133 referem-se ao rebaixamento da variável (o) em posição pretônica e à manutenção da variável (o) 71. Dentre os grupos de fatores, as rodadas stepping up e stepping down excluíram distância da sílaba tônica, nasalidade, classe morfológica, grau de formalidade, indivíduo, dados coletados referem-se ao alçamento da vogal média [o] em posição pretônica analisados no item deste capítulo.

122 120 sexo do falante, escolaridade e classe social. Apesar de eliminado pela stepping down, o grupo faixa etária foi selecionado pela rodada stepping up. É mister esclarecer, ainda, que, pela quase ausência de dados, e para que o VARBRUL pudesse realizar as rodadas, foi necessário excluir o grupo de fatores vogal da sílaba precedente. A seguir, apresentamos os valores referentes a cada um dos grupos selecionados nas rodadas stepping up e stepping down. Os pesos relativos apresentados constituem a da melhor rodada stepping up do programa. TABELA 45 Vogal da sílaba seguinte no rebaixamento da variável (o) Manutenção Rebaixamento N/Total N/Total Peso relativo o 259/2704 8/133 0,636 ø 42/ /133 0,989 a 829/2704 3/133 0, / /133 0,917 e 616/ /133 0,526 Médias altas [i, u] 836/ /133 0,635 Fonte: Dados da pesquisa Verificamos que as baixas [ø, ] (como em g[ø]st[ø]sas, n[ø]v[ ]la) se mostram bastante significativas no que diz respeito ao rebaixamento da variável (o) no contexto da sílaba seguinte (0,989 e 0,917, respectivamente). Tal fato, apesar de ser uma possível evidência de harmonização vocálica, não é condizente com a presença das médias altas [i, u], nem da média [o] como favorecedoras do fenômeno (como em f[ø]t[o]grafia e gl[ø]r[i]osa). Além disso, temos c[o]l[ ]gio e c[ø]l[ ]gio; n[o]v[ ]la e n[ø]v[ ]la, mas não temos p[ø][ ]ta ou h[ø]r[ø]scopo. De acordo com a Tabela 45, verificamos que o único fator desfavorecedor do processo é a vogal central [a], como em ac[o]rdar, fato convergente com o encontrado em relação ao rebaixamento da variável (e) em posição pretônica (Tabela 30). Na Tabela 46, analisamos os fatores que compõem o grupo contexto fonológico precedente.

123 121 TABELA 46 Contexto fonológico precedente no rebaixamento da variável (o) Manutenção Rebaixamento N/Total N/Total Peso relativo Fricativa 331/ /133 0,723 Oclusiva 1663/ /133 0,397 Nasal 290/ /133 0,801 Tepe 62/2704 1/133 0,493 Lateral 146/2704 3/133 0,647 Não há contexto fonológico precedente 212/2704 4/133 0,311 Fonte: Dados da pesquisa Antes de iniciarmos a análise, cabe esclarecer que as vogais e as semivogais (22 e 99 ocorrências, respectivamente, em manutenção da variável (o) em posição pretônica), como contexto fonológico precedente, não apresentaram nenhum caso de rebaixamento. Assim, para a eliminação de nocautes, as ocorrências das vogais e semivogais em manutenção foram acrescidas ao fator oclusivas. No rebaixamento, três contextos fonológicos precedentes são desfavorecedores: ausência de contexto fonológico (como em [o]pinião e [o]rfanato), oclusivas (como em c[o]nforto) e tepe (como em pr[o]porcionam). Já as fricativas (como em f[ø]tografia), as nasais (como em n[ø]vela) e as laterais (como em fl[ø]resta) favorecem o rebaixamento da pretônica (o) quando em contexto fonológico precedente. De acordo com a Tabela 47, no contexto fonológico seguinte, são as fricativas (como em vel[ø]cípede), as oclusivas (como em C[ø]pacabana) e as laterais (como em c[ø]lega) as que mais favorecem o processo de rebaixamento da variável (o), em posição pretônica. Já as vogais/semivogais (como em b[o][y]ola) e as nasais (como em c[o]mportar e c[o]ndição) desfavorecem o processo; o tepe também é fator desfavorecedor do rebaixamento, embora mais moderadamente (como em m[o]rando). Gostaríamos de salientar que a única ocorrência de rebaixamento no fator vogal/semivogal (chab[ø]itinha 72 ) pode ser explicado pelo fato da média baixa [ø] estar em ditongo decrescente, ou mesmo pelo fato de ser palavra diminutiva, o que encaixa esta ocorrência nas categorias expostas por Thais Cristófaro-Silva (2005), que nos diz que as 72 Assanhadinha.

124 122 vogais [, ø] ocorrem em posição pretônica em formas derivadas com os sufixos: -mente, -inh, -zinh ou íssim quando o radical do substantivo/adjetivo apresenta /ε, ɔ/ em posição tônica (CRISTÓFARO-SILVA, 2005, p. 82), Comparando os dados referentes aos contextos fonológicos seguinte e precedente referentes ao rebaixamento da variável (e) em posição pretônica, verificamos que os fatores favorecedores no contexto fonológico precedente são os mesmos para a variável (o) fricativas (como em ac[i]ndia e f[u]rtuna), nasais (como em n[i]nhum e n[u]tícia) e laterais (como em al[i]gria e expl[u]dindo). Entretanto, no contexto fonológico seguinte, enquanto as fricativas (g[ø]stosa), as oclusivas (C[ø]pacabana) e as laterais (c[ø]lega) favorecem o rebaixamento da pretônica (o), são as oclusivas (B[ ]Beto) e o tepe (int[ ]ressa) os favorecedores do processo em (e). As oclusivas, em contexto fonológico seguinte, no rebaixamento de (o), constituem o fator diferencial do fenômeno em Montes Claros e em Pará de Minas, enquanto que, em relação ao contexto fonológico precedente, em ambas as comunidades de fala os fatores favorecedores foram os mesmos: fricativas, nasais e laterais, divergindo quanto ao peso relativo somente no que diz respeito às laterais (no falar paraminense são mais propensas ao rebaixamento de (o) - 0,75 do que no dialeto montesclarense 0,647). TABELA 47 Contexto fonológico seguinte no rebaixamento da variável (o) Manutenção Rebaixamento 345/2704 N/Total Peso relativo Fricativa 584/ /133 0,841 Oclusiva 847/ /133 0,709 Nasal 600/2704 4/133 0,173 Tepe 247/ /133 0,470 Lateral 81/ /133 0,817 Vogal/Semivogal 345/2704 1/133 0,054 Fonte: Dados da pesquisa Passemos, agora, à análise do grupo de fatores status da tonicidade.

125 123 TABELA 48 Status da tonicidade no rebaixamento da variável (o) Manutenção Rebaixamento N/Total N/Total Peso relativo Átona permanente 667/ /133 0,891 Átona casual 2037/ /133 0,308 Fonte: Dados da pesquisa Mais uma vez, condizente com o que encontramos anteriormente, é a átona permanente o fator favorecedor do processo de rebaixamento da variável (o) em posição pretônica, como em g[ø]stosa e c[ø]leguinha. Na Tabela 49, a seguir, expomos os dados referentes ao grupo posição da pretônica. TABELA 49 Posição da pretônica no rebaixamento da variável (o) Manutenção Rebaixamento N/Total N/Total Peso relativo Inicial 1805/ /133 0,669 Medial 899/2704 4/133 0,182 Fonte: Dados da pesquisa Assim como encontrado em relação ao alçamento da variável (o), é a posição inicial que favorece o processo de rebaixamento, como em pr[ø]jeto e pr[ø]cesso. Mais uma vez, temos indicativo de difusão lexical devido à exclusão dos grupos de fatores extralinguísticos pela rodada stepping down e da seleção, pela stepping up, de um único grupo faixa etária -, como mostramos na Tabela 50.

126 124 TABELA 50 Faixa etária no rebaixamento da variável (o) Manutenção Rebaixamento N/Total N/Total Peso relativo 15 a 30 anos 916/ /133 0, a 50 anos 1080/ /133 0,534 Acima de 50 anos 708/ /133 0,357 Fonte: Dados da pesquisa De acordo com os pesos relativos expostos na Tabela 50, somente o fator acima de 50 anos é considerado desfavorecedor. Observamos, através da análise dos dados, que a probabilidade de ocorrência de rebaixamento da pretônica (o) no dialeto montesclarense é inversamente proporcional à faixa etária, isto é, quanto menor a faixa etária, maior a aplicação da regra variável de rebaixamento. Tais dados apontam para uma mudança em tempo real, na qual a possibilidade de rebaixamento aumenta à medida que a idade diminui, pressupondo ser o rebaixamento um fenômeno em vias de progressão. Além disso, a pouca probabilidade de ocorrência do fenômeno nos falantes acima de 50 anos pode vir a ser indicativo de uma das hipóteses deste trabalho: a ocorrência de vogais médias baixas, que caracteriza a região no subfalar baiano, não é, até então, característica do dialeto montesclarense. Afinal, pressupõe-se que os falantes mais velhos se encaixariam na pesquisa que resultou o Bases para a elaboração de um Atlas linguístico do Brasil, de Antenor Nascentes, cujas edições datam de 1958 e Em relação ao rebaixamento da variável (o), em posição pretônica, verificamos que, assim como em relação ao alçamento, o comportamento do fenômeno em (e) e em (o) é variável, tendo em vista que em cada uma das variáveis há peculiaridades. A seleção de apenas um dos grupos de variáveis não estruturais nos mostra que o fenômeno em estudo não é sensível a fatores extralinguísticos, o que é indicativo de difusão lexical (conforme já dito anteriormente).

127 O comportamento da variável postônica (e) em posição não final Antes de darmos início à análise das postônicas, é preciso esclarecer que, aqui, diferentemente das pretônicas, não utilizamos os seguintes grupos de fatores: status da tonicidade, distância da sílaba tônica, classe morfológica e grau de formalidade pela insuficiência de dados para compô-los. Não utilizamos, também, o grupo posição da vogal postônica por, neste estudo, as vogais serem sempre mediais. Esclarecemos, também, que, em um primeiro momento, incluímos o grupo de fatores item lexical (sobre o qual falaremos no item 6.5 deste Capítulo). Entretanto, para que o VARBRUL realizasse as rodadas stepping up e down, foi necessário retirá-lo para a análise que apresentaremos agora devido ao grande número de nocautes apresentado (vide item 6.5 para maiores explicações). O gráfico abaixo nos mostra o comportamento da variável (e), em posição postônica não final, na cidade de Montes Claros/MG: Gráfico 3: O alçamento da variável (e) em posição postônica não final Fonte: Dados da pesquisa

128 126 Parece-nos, em comparação com a realização das pretônicas, que a manutenção também prepondera entre os falantes montesclarenses 78% - em detrimento do alçamento 22%. Das 392 ocorrências da média (e) em posição postônica não final, 87 são relativas ao alçamento e 305 à manutenção da vogal. Os grupos selecionados pelas rodadas stepping up e stepping down foram: vogal da sílaba seguinte, vogal da sílaba precedente, contexto fonológico precedente e contexto fonológico seguinte. TABELA 51 Vogal da sílaba seguinte no alçamento da variável postônica (e) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Recuadas [ø, o, u] 190/305 45/87 0,239 Central [a] 60/305 40/87 0,947 Anteriores [, e, i] 55/305 2/87 0,427 Fonte: Dados da pesquisa No que se refere ao alçamento da postônica (e), em posição não final, verificamos que a vogal que favorece o processo, no contexto sílaba seguinte, é a central [a] (como em ár[i]a, áur[i]a, almônd[i]ga). As demais são desfavorecedoras do processo de alçamento da vogal variável postônica (e) em posição não final. Já no contexto da sílaba precedente, de acordo com os pesos relativos da Tabela 52, verificamos que são três os contextos favorecedores do alçamento da variável (e) em posição postônica não final: a alta [i] (como em alieníg[i]na, orquíd[i]a e velocím[i]tro), a média [e] (como em gêm[i]os, pêss[i]go) e a média [o] (como em almônd[i]ga).

129 127 TABELA 52 Vogal da sílaba precedente no alçamento da variável postônica (e) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo u 51/305 2/87 0,001 o 69/305 5/87 0,900 Abertas [ø, ] 76/305 32/87 0,414 a 26/305 19/87 0,036 e 26/305 17/87 0,952 i 57/305 12/87 0,986 Fonte: Dados da pesquisa precedente. A seguir, apresentamos os valores referentes ao grupo de fatores contexto fonológico TABELA 53 Contexto fonológico precedente no alçamento da variável postônica (e) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Fricativa 27/305 4/87 0,789 Oclusiva 115/305 18/87 0,394 Nasal 133/305 16/87 0,139 Tepe 28/305 22/87 0,979 Lateral 2/305 27/87 0,966 Fonte: Dados da pesquisa Verificamos que o contexto fonológico precedente que mais favorece o fenômeno do alçamento da postônica (e) são os tepes (como em ár[i]a, áur[i]a), juntamente com as laterais (como em petról[i]o) e as fricativas (como em cóc[i]ga). Ribeiro (2007, p. 159) 73 nos mostra, em relação ao dialeto da capital mineira, que os segmentos nasal (bilabial e alveolar) e oclusivas (aqui, englobando os três tipos propostos pela autora: velar e palatal; labial; alveolar) são os que mais favorecem a ocorrência do alçamento da média (e). 73 Utilizaremos os dados desta autora como referência, nos itens 6.3 e 6.4, por se tratar de um estudo das médias (e, o) em posição postônica não final no estado de Minas Gerais.

130 128 Isso diverge do que encontramos em Montes Claros, onde os fatores favorecedores dados por Ribeiro (2007) são os que menos favorecem o alçamento da postônica não final (e) no dialeto montesclarense. Antes de passarmos à análise do contexto fonológico seguinte, é necessário esclarecer que, em relação à Tabela 54, os fatores fricativa, oclusiva, lateral e tepe foram agrupados em não-nasal para a eliminação de nocautes. Os valores da Tabela 54 mostram que os contextos fonológicos seguintes favorecedores do alçamento da postônica (e), em posição não final são as vogais/semivogais (como em ár[i]a e Timót[i][w]), com peso relativo de 0.999, isto é, podem ser consideradas 100% favoráveis ao alçamento da variável média (e) em posição postônica não final. Isto é exemplificado claramente na Tabela 61 deste trabalho, onde verificamos que dos 8 itens lexicais (núcleo, óleo, gêmeos, área, petróleo, orquídea, Timóteo e áurea) que possuem vogal/semivogal como contexto fonológico seguinte, 5 possuem alçamento categórico (ár[i]a, petról[i][u], orquíd[i]a, áur[i]a, Timót[i][w]). TABELA 54 Contexto fonológico seguinte no alçamento da variável postônica (e) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Não-nasal 284/305 21/87 0,199 Nasal 18/305 2/87 0,062 Vogal/Semivogal 3/305 64/87 0,999 Fonte: Dados da pesquisa Assim como ocorreu em relação ao alçamento da variável (e) em posição pretônica, em posição postônica verificamos que nenhum dos grupos de fatores não estruturais foi selecionado, sendo tal fato, portanto, sugestivo de difusão lexical. Em relação ao dialeto montesclarense, comparando-o com os dados referentes ao dialeto da capital mineira (RIBEIRO, 2007), verificamos que o comportamento da postônica (e) é diferenciado, apesar de ambos favorecerem a manutenção da variável. Tal fato condiz com o que nos afirma Oliveira (2008): É evidente que os falantes de um mesmo dialeto apresentarão mais semelhanças do que diferenças entre si. (...) E é evidente, também, que as diferenças irão crescer quando falantes de dialetos diferentes são comparados.

131 O comportamento da variável postônica (o) em posição não final Gráfico 4: O alçamento da variável (o) em posição postônica não final 74 Fonte: Dados da pesquisa Em relação à variável (o), em posição postônica não final, vemos um comportamento diferente do de todas as outras variáveis aqui analisadas, sejam elas em posição pretônica ou postônica. Aqui, o alçamento prevalece em relação à manutenção 53% e 47%, respectivamente. Entretanto, se levarmos em consideração a margem de 4 pontos percentuais de erro estatístico, podemos dizer que, em relação às postônicas (o), o comportamento dos falantes da cidade de Montes Claros é equivalente para os dois processos manutenção e alçamento. Tal fato é confirmado pelo que nos mostra Ribeiro (2007) em relação ao falar de Belo Horizonte/MG (vide Tabela 7, Capítulo 2, p. 44). Assim como no dialeto montesclarense, na capital mineira há a tendência de se elevar a média postônica (o), em posição não final. Analisemos, agora, os fatores que mais favorecem o alçamento. Antes, porém, é mister esclarecer que os grupos selecionados pelas duas rodadas do VARBRUL (stepping up e stepping down) foram: vogal da sílaba seguinte, vogal da sílaba precedente, contexto fonológico seguinte, contexto fonológico precedente e indivíduo. 74 Das 380 ocorrências, 202 foram [u] e 178 [o].

132 130 Ainda é necessário dizer que, para que as rodadas pudessem ser efetuadas, tivemos que retirar as 17 ocorrências da palavra páscoa, sendo que a mesma é o único item lexical que consta de vogal na sílaba seguinte; além disso, o alçamento da variável (o) foi categórico: pásc[u]a. Também excluímos a única ocorrência de alçamento com ausência de contexto seguinte aure[w], variação de auréola. TABELA 55 Vogal da sílaba seguinte no alçamento da variável postônica (o) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo u 66/178 59/184 0,676 o 6/178 5/184 0,900 a 73/ /184 0,432 i 33/178 5/184 0,156 Fonte: Dados da pesquisa Em relação à postônica (o), em posição não final, conforme Tabela 55, verifica-se que as recuadas [o, u] são favorecedoras do processo de alçamento no contexto da sílaba seguinte (como em catál[u]g[o] e autódr[u]m[u]). A anterior [i] e a central [a] não são favoráveis à aplicação da regra variável de alçamento de (o) em posição postônica não final (como em bróc[o]l[i]s e gônd[o]l[a]). Tal situação é inversa da encontrada em (e), cujo ambiente favorecedor é a vogal central [a], quando em contexto seguinte. As recuadas [o, u] e a anterior [i] possuem pesos relativos abaixo de 0,50, sendo, portando, desfavorecedoras do alçamento da variável (e) em posição postônica não final. Em relação à vogal da sílaba precedente, os fatores favoráveis ao alçamento de (e) são desfavorecedores em relação a (o). As variáveis (e, o) têm, em comum, somente a vogal central [a] como ambiente desfavorecedor. Conforme a Tabela 56, são favorecedores do processo de alçamento da variável (o), em posição postônica não final, o fator [ ] (0,967; como em pér[u]la) e a média alta [u] (0,9838; como em búss[u]la). Entretanto, não obstante os pesos relativos atribuídos pelo VARBRUL, as realizações são categóricas quando se olha o item lexical, aonde verificamos realizações como autódr[u]m[u], mas não sambódr[u]m[u]; côm[u]da, mas não côm[u]do.

133 131 TABELA 56 Vogal da sílaba precedente no alçamento da variável postônica (o) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo u 2/178 13/184 0,838 o 29/178 6/184 0,217 ø 64/178 39/184 0,234 a 66/178 28/184 0,216 11/178 76/184 0,967 i 6/178 22/184 0,247 Fonte: Dados da pesquisa É necessário esclarecer que, no grupo de fatores vogal da sílaba precedente, foi retirado o fator [e], tendo em vista que não houve ocorrência do mesmo. Passemos, a seguir, à análise dos fatores que compõem o grupo contexto fonológico precedente (Tabela 57) e contexto fonológico seguinte (Tabela 58). TABELA 57 Contexto fonológico precedente no alçamento da variável postônica (o) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Oclusiva 83/178 93/184 0,481 Fricativa 38/178 39/184 0,580 Nasal 34/178 6/184 0,410 Lateral 16/178 7/184 0,417 Tepe 6/178 22/184 0,097 Vogal/semivogal 1/178 17/184 0,983 Fonte: Dados da pesquisa TABELA 58 Contexto fonológico seguinte no alçamento da variável postônica (o) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Oclusiva 45/178 83/184 0,424 Nasal 37/178 10/184 0,152 Lateral 34/178 53/184 0,349 Tepe 62/178 38/184 0,637 Fonte: Dados da pesquisa

134 132 Verificam-se, pelos dados da Tabela 57, que, quando em contexto fonológico precedente, os sons vocálicos (como em per[y][u]do e aur[ ][u]la) são os que mais favorecem o processo de alçamento da postônica (o), em posição não final. Também as fricativas são favorecedoras do fenômeno (como em pólv[u]ra e fósf[u]ro), único fator coincidente com a variável postônica não final (e). Tepes (como em árv[u]re), quando em contexto fonológico seguinte, favorecem o processo, fato divergente do que encontramos em relação às postônicas (e), tendo em vista que estão inclusos no fator não nasal, o qual é desfavorecedor do alçamento de (e) em posição postônica não final (vide Tabela 54). Enquanto que em Belo Horizonte (RIBEIRO, 2007, p ), todos os segmentos, sejam eles precedentes ou seguintes, mostraram-se favorecedores no processo de alçamento da média (o), em Montes Claros, conforme podemos verificar pelos dados das Tabelas 57 e 58, dos 10 fatores, apenas 3 deles são favoráveis à aplicação da regra variável de alçamento na postônica (o) em posição não final. Na Tabela 59, mostramos as ocorrências de alçamento da postônica (o), em posição não final, pelos entrevistados neste trabalho. TABELA 59 Indivíduo no alçamento da variável postônica (o) Manutenção Alçamento N/Total N/Total Peso relativo Anacleto 17/178 6/184 0,253 Apolinário 13/178 14/184 0,599 Badu 18/178 14/184 0,357 Dionora 10/178 19/184 0,684 Flausina 16/178 4/184 0,111 Francolim 16/178 11/184 0,380 Jó Joaquim 14/178 16/184 0,726 Lalino 10/178 33/184 0,775 Livíria 12/178 17/184 0,465 Nhinhinha 17/178 12/184 0,387 Rolandina 12/178 12/184 0,475 Rudimira 17/178 11/184 0,276 Sá-Maria 6/178 15/184 0,804 Fonte: Dados da pesquisa

135 133 Verificamos, aqui, que o processo de alçamento da variável postônica (o), em posição não final, é favorecido por apenas 38,5% dos sujeitos entrevistados. Ainda, em relação aos pesos relativos, dos 5 que favorecem a aplicação da regra variável de alçamento de (o), apenas 1 falante Dionora - pertence ao sexo feminino. O falante Sá-Maria (sexo masculino), conforme verificamos nas Tabelas 37, 43 e 59, é propenso a alçar as variáveis (e, o) em qualquer que seja a posição das mesmas: pretônica ou postônica não final 75. Verifica-se, então, que o alcance do alçamento da postônica (o) é diferenciado dentro da comunidade de fala montesclarense. Além disso, a seleção do grupo de fatores indivíduo pode ser vista como um forte indício de que o alçamento da postônica (o) se trata de um fenômeno típico de difusão lexical (além da exclusão dos grupos de fatores extralinguísticos). Comparando os dados da Tabela 59 com os dados da pesquisa de Ribeiro (2007), verificamos comportamentos diferenciados em relação ao alçamento da postônica (o) nas comunidades de fala de Montes Claros e de Belo Horizonte. Em uma análise comparativa das variáveis (e, o) em posição postônica não final, verificamos que a regra de alçamento é variável, pois cada uma delas possui ambientes favorecedores característicos e, consequentemente, comportamento diferenciado: (e) favorece a manutenção e (o) o alçamento. 6.5 Os itens lexicais Conforme dissemos, esclarecemos que, num primeiro momento, incluímos o grupo de fatores item lexical, referente às postônicas (e) e (o). Entretanto, para que o VARBRUL realizasse as rodadas stepping up e down referentes ao alçamento de (e, o) em posição postônica não final, foi necessário retirar este grupo devido à ocorrência categórica de 38 dos 69 itens lexicais que compõem o nosso corpus, o que ocasionou inúmeros nocautes. Assim, para evitar a eliminação dos vocábulos encontrados, somente constarão as ocorrências e os valores percentuais em relação aos itens lexicais referentes às postônicas (e, o), em posição não final. Quanto aos itens lexicais referentes às pretônicas, optamos, neste estudo, por não explorá-los, tendo em vista que os vocábulos aqui considerados na análise foram, na sua 75 Em relação à variável postônica (e), das 30 realizações de Sá-Maria, 19 (36%) foram relativas ao alçamento. De acordo com a 7ª rodada stepping up, possui peso relativo de.680.

136 134 grande maioria, resultantes de uma série de figuras que foram mostradas a todos os informantes (exceto autônoma, cômodo, Jâmbore, diáconos, monótona, ídolo, parábola, Pitágoras, Timóteo e presbítero). Dos 69 diferentes itens lexicais encontrados no nosso corpus com as vogais médias (e, o), em posição postônica não final, relativos ao fenômeno do alçamento, 34 dizem respeito à postônica (e) e 35 à postônica (o) conforme se vê nas Tabelas 60 e 61. Além disso, em relação ao rebaixamento das postônicas (e, o), houve, nos dados colhidos, ausência quase categórica do fenômeno, sendo apenas encontrado em xér[ɔ]x e bróc[ɔ]lis; este último, com apenas uma ocorrência. Isso nos faz crer, assim como dito anteriormente por Vieira (1994) e Ribeiro (2007), que o dialeto montesclarense, no que se refere às médias postônicas em posição não final, é composto por um quadro com as vogais /e, i, a, u, o/, diferentemente do que postulou Câmara Jr. (2007, p. 44), que nos apresentou o seguinte quadro das primeiras vogais postônicas dos proparoxítonos, ou vogais penúltimas átonas: altas /u/ /i/ médias /../ /e/ baixa /a/ Vejamos, a seguir, os itens lexicais das variáveis (e, o), em posição postônica não final, colhidos nas entrevistas realizadas. TABELA 60 Itens lexicais da variável (o) em posição postônica não final Item lexical Manutenção Alçamento Total Época 5 (8,62%) 54 (91,38%) 58 Páscoa 0 (0%) 17 (100%) 17 Período 0 (0%) 17 (100%) 17 Auréola 0 (0%) 15 (100%) 15 Pérola 5 (31,25%) 11 (68,75%) 16 Apóstolos 6 (37,5%) 10 (62,5%) 16 Árvore 11 (52,38%) 10 (47,62%) 21 Abóbora 5 (35,71%) 9 (64,29) 14 Bússola 0 (0%) 9 (100%) 9 Fósforo 4 (30,76%) 9 (69,24%) 13 Pólvora 8 (53,34%) 7 (46,66%) 15 Catálogo 6 (50%) 6 (50%) 12 Semáforo 6 (50%) 6 (50%) 12 (Continua)

137 135 Item lexical Manutenção Alçamento Total Astrônomo 9 (69,23%) 4 (30,77%) 13 Mármore 11 (78, 57) 3 (21,43%) 14 Símbolo 5 (62,5%) 3 (37,5%) 8 Átomo 11 (78,57%) 3 (21,43%) 14 Autódromo 7 (77,78%) 2 (22,22%) 9 Ídolo 1 (33,34%) 2 (66,66%) 3 Parábola 1 (33,34%) 2 (66,66%) 3 Pitágoras 2 (50%) 2 (50%) 4 Cômoda 11 (91,66%) 1 (8,34%) 12 Crisântomo (variação de Crisântemo) 4 (80%) 1 (20%) 5 Gôndola 8 (88,89%) 1 (11,11%) 9 Horóscopo 10 (90,9%) 1 (9,1%) 11 Psicólogo 11 (91,66%) 1 (8,34%) 12 Âncora 13 (100%) 0 (0%) 13 Autônoma 2 (100%) 0 (0%) 2 Brócolis 8 (100%) 0 (0%) 8 Cômodo 1 (100%) 0 (0%) 1 Diáconos 1 (100%) 0 (0%) 1 Jâmbore 2 (100%) 0 (0%) 2 Monótona 1 (100%) 0 (0%) 1 Sambódromo 2 (100%) 0 (0%) 2 X[ ]r[o]x 1 (100%) 0 (0%) 1 Fonte: Dados da pesquisa (Conclusão) Itens como Jâmbore, âncora, cômodo, sambódromo, autônomas, monótona, diácono(s), brócolis e Xérox tiveram manutenção categórica, sendo que nos dois últimos (brócolis e Xérox) houve casos de realização da média (o) em posição postônica não final como média aberta [ɔ]. Já os itens auréola, bússola, páscoa e período tiveram alçamento categórico. De acordo com os dados da Tabela 60, verificamos que, em relação ao comportamento da postônica não final (o), o alçamento é superior à manutenção da variável (53,52% de alçamento e 46,48% de manutenção), diferentemente do que verificamos em relação à postônica não final (e), cuja manutenção é a preferência dos falantes de Montes Claros (80,35% de manutenção e 19,65% de alçamento).

138 136 TABELA 61 Itens lexicais da variável (e) em posição postônica não final Item lexical Manutenção Alçamento Total Área 0 (0%) 19 (100%) 19 Gêmeos 2 (11,76%) 15 (88,24%) 17 Petróleo 0 (0%) 15 (100%) 15 Orquídea 0 (0%) 13 (100%) 13 Óleo 1 (7,69%) 12 (92,31%) 13 Alienígena 2 (50%) 2 (50%) 4 Áurea (variação de auréola) 0 (0%) 2 (100%) 2 Cócegas 15 (88,23%) 2 (11,77%) 17 Pêssego 12 (85,71%) 2 (14,29%) 14 Almôndega 11 (91,66%) 1 (8,34%) 12 Córrego 14 (93,33%) 1 (6,67%) 15 Hóspedes 11 (91,66%) 1 (8,34%) 12 Timóteo 0 (0%) 1 (100%) 1 Velocímetro 12 (92,3%) 1 (7,7%) 13 Bafômetro 13 (100%) 0 (0%) 13 Câmera 9 (100%) 0 (0%) 9 Centímetro 13 (100%) 0 (0%) 13 Cérebro 14 (100%) 0 (0%) 14 Crisântemo 2 (100%) 0 (0%) 2 Cronômetro 13 (100%) 0 (0%) 13 Fenômeno 13 (100%) 0 (0%) 13 Helicóptero 12 (100%) 0 (0%) 12 úcleo 1 (100%) 0 (0%) 1 úmero 16 (100%) 0 (0%) 16 Ópera 16 (100%) 0 (0%) 16 Pálpebra 12 (100%) 0 (0%) 12 Parêntesis 13 (100%) 0 (0%) 13 Presbítero 2 (100%) 0 (0%) 2 Prótese 14 (100%) 0 (0%) 14 Quilômetro 14 (100%) 0 (0%) 14 Taxímetro 13 (100%) 0 (0%) 13 Termômetro 15 (100%) 0 (0%) 15 Útero 12 (100%) 0 (0%) 12 Velocípede 8 (100%) 0 (0%) 8 Fonte: Dados da pesquisa Dos 34 itens dados na Tabela 61, referentes à variável postônica (e), verificamos que a maioria deles (25 itens) possui manutenção ou alçamento categórico (bafômetro, câmera, centímetro, cérebro, crisântemo, cronômetro, fenômeno, helicóptero, núcleo, números, ópera, pálpebra, parênteses, presbítero, prótese, quilômetro, taxímetro, termômetro, útero e

139 137 velocípede tiveram manutenção categórica. Já área, áurea - variação de auréola -, orquídea, petróleo e Timóteo tiveram alçamento categórico). Ainda, verificamos variação intraindividual, a saber: (1) Badu, ép[o]ca e ép[u]ca, Pitág[o]ras e Pitág[u]ras; (2) Livíria, ép[o]ca e ép[u]ca, catál[o]go e catál[u]go; (3) Dionora, ép[o]ca e ép[u]ca, psicól[o]go e psicól[u]go; (4) Flausina, ép[o]ca e ép[u]ca; (5) Francolim, ép[o]ca e ép[u]ca, íd[o]lo e íd[u]lo; (6) Jó Joaquim, paráb[o]la e paráb[u]la; (7) Sá-Maria, cóc[e]gas e cóc[i]gas. Por outro lado, vemos que determinados indivíduos mantêm a variável enquanto que outros a alçam categoricamente, como é o caso, por exemplo, de apóstolos (8 informantes alçam e 5 mantêm de forma categórica). Assim, através dos nossos dados, podemos confirmar as duas hipóteses levantadas por Ribeiro (2007): (1) itens lexicais, que podem se apresentar variáveis quando olhamos para toda a comunidade de fala, possuem pronúncias categóricas para cada indivíduo (a variação intra-indivdual existente é mínima); e, em decorrência disso, (2) não se pode computar como variáveis os itens que possuem pronúncias categóricas dentro da mesma comunidade de fala. (RIBEIRO, 2007, p. 161). Através da nossa análise sobre o comportamento das vogais médias (e, o), em posição pretônica e postônica não final, no falar de Montes Claros, pudemos verificar que as mesmas formam um sistema complexo, principalmente em posição pretônica, onde encontramos variação entre [, e, i] e [ø, o, u]. O comportamento das vogais médias excetuando-se (o) em posição postônica não final tem a manutenção como preferência de realização. Quanto ao comportamento individual, verifica-se que é variável, seja em relação à posição das variáveis (e, o), pretônicas ou postônicas não finais, seja em relação ao indivíduo; entretanto, conforme nos aponta Ribeiro (2007, p. 164), apesar de os falantes terem apresentado variação intra-individual, (...) essa variação pode ser considerada uma situação marcada na língua, conforme postulou Oliveira (2006). A exclusão das variáveis extralinguísticas (sexo, faixa etária, grau de escolaridade e classe social) em todas as posições das vogais médias (e, o) aqui investigadas, confirma a hipótese maior deste trabalho: que a variação é lexical.

140 138 Além disso, há vocábulos que alçaram mesmo sem ambiente vocálico favorecedor 76, como apar[i]ceram, b[i]zerro, cr[i]sceu, m[i]lhor, r[i]ais, r[i]lação, s[i]mestre, ac[u]mpanha, alg[u]dão, b[u]cado, c[u]meça, c[u]mer, v[u]ando, v[u]mitando, entre outros. Corroborando a hipótese da difusão lexical temos, ainda, casos categóricos como Jâmb[o]re, ânc[o]ra, com[o]do, sambódr[o]mo, autôn[o]mas, monót[o]na, diác[o]no(s), bróc[o]lis, Xér[o]x, auré[u]la, búss[u]la, pásc[u]a, perí[u]do, bafôm[e]tro, câm[e]ra, centím[e]tro, cér[e]bro, crisânt[e]mo, cronôm[e]tro, fenôm[e]no, helicópt[e]ro, núcl[e]o, núm[]eros, óp[e]ra, pálp[e]bra, parênt[e]ses, presbít[e]ro, prót[e]se, quilôm[e]tro, taxím[e]tro, termôm[e]tro, ut[e]ro e velocíp[e]de, ar[i]a, áur[i]a - variação de auréola -, orquíd[i]a, petról[i]o e Timót[i]o, (como visto nas Tabelas 60 e 61), além de pess[u]al, [i]ntão, d[i]mais, d[e]pois, [e]xemplo, v[o]cê e p[u]rque. Em outras palavras, ambientes fonológicos semelhantes favorecem ora o alçamento, ora a manutenção de forma categórica. Podemos, então, sintetizar os elementos favorecedores do rebaixamento e do alçamento das vogais médias (e, o) em posição pré e postônica não final: Pretônica (e) Alçamento [ø, o, u, i] como vogais da sílaba seguinte. Ausência de vogal na sílaba precedente. Vogal, fricativa e nasal em contexto fonológico seguinte. Vogal, nasal e ausência de contexto fonológico precedente. Átona permanente. Distância 1 e 2 da sílaba tônica. Variável nasal. Verbos e palavras compostas. Fala informal. Indivíduos: Anacleto, Apolinário, Badu, Dionora, Flausina, Francolim, Livíria, nhinhinha, Rolandina e Sá- Maria (Continua) Rebaixamento [, e, i] como vogais da sílaba seguinte. [ø, o, u], [a] e ausência de vogal na sílaba precedente. Lateral, fricativa e nasal em contexto fonológico precedente. Oclusiva e tepe em contexto fonológico seguinte. Nomes e palavras compostas. 1º e 2º graus de escolaridade. 76 Levando-se em consideração os resultados de diversos estudos expostos no 2º Capitulo desta Dissertação.

141 139 Pretônica (e) Alçamento Faixa etária: de 15 a 30 anos e mais de 50 anos. Classe média. Rebaixamento (Continua) Pretônica (o) [, e, i, u] como vogais da sílaba seguinte. Vogal, semivogal, oclusiva e fricativa em contexto fonológico precedente. Vogal/semivogal, fricativa e nasal em contexto fonológico seguinte. Átona permanente 1. Distância 1 da sílaba tônica. Verbos. Variável em posição inicial. Indivíduos: Badu, Dionora, Francolim, Jó Joaquim, Rolandina, Sá-Maria. 1º e 2º graus de escolaridade. [ø, o, u, i, e, ] como vogal da sílaba seguinte. Fricativa, nasal e lateral em contexto fonológico precedente. Fricativa, lateral e oclusiva em contexto fonológico seguinte. Átona permanente. Variável em posição inicial. Até 50 anos. Postônica (e) ão final [a] como vogal da sílaba seguinte. [o, e, i] como vogal da sílaba precedente. Tepe, lateral e fricativa em contexto fonológico precedente. Vogal/semivogal em contexto fonológico seguinte. Não há rebaixamento. Postônica (o) ão final [o, u] como vogal da sílaba seguinte. [ ], [u] como vogal da sílaba precedente. Sons vocálicos e fricativa em contexto fonológico precedente. Tepe em contexto fonológico seguinte. Indivíduos: Apolinário, Dionora, Jó Joaquim, Lalino, Sá-Maria. Não há rebaixamento.

142 140 Itens lexicais com (e) em posição postônica não final Alçamento Área, petróleo, orquídea, áurea (variação de auréola) e Timóteo tiveram alçamento categórico. (Conclusão) Bafômetro, câmera, centímetro, cérebro, crisântemo, cronômetro, fenômeno, helicóptero, núcleo, número, ópera, pálpebra, parêntesis, presbítero, prótese, quilômetro, taxímetro, termômetro, útero e velocípede tiveram manutenção categórica. Itens lexicais com (o) em posição postônica não final Páscoa, período, auréola e bússola tiveram alçamento categórico. Cômoda, âncora, autônoma, brócolis, cômodo, diáconos, Jâmbore, monótona, sambódromo e xérox tiveram manutenção categórica. Quadro 8: Resumo dos fatores favorecedores do alçamento e rebaixamento das médias (e, o) em posição pré e postônica não final Fonte: Dados da pesquisa Como dito no Capítulo 2 O comportamento das vogais médias (e, o) no Português do Brasil -, verificamos que tanto o fenômeno do alçamento quanto do rebaixamento das médias pretônicas (e, o) é um processo variável. Ainda mais em relação ao alçamento, onde verificamos a ocorrência de [ø, o] como favorecedores do fenômeno da variável (e), e de [, e] para a variável (o), o que desmitifica a questão da harmonização vocálica. Quanto ao rebaixamento de (e, o), pudemos constatar que as categorias específicas propostas por Cristófaro-Silva (2005) 77 dão conta de quase todos os casos encontrados neste trabalho. Já em relação às vogais (e, o), em posição postônica medial, verificamos um quadro formado por 5 vogais: /i, e, a, o, u/; entretanto, assim como postulou Silva (2006), vemos que no dialeto montesclarense há, ainda, em alguns casos, a redução de (o) a [ ] - paráb[ ]la e pér[ ]la -, assim como a redução de (e) a [I] córr[i]go, almônd[i]ga. 77 Vide p. 23, 2º Capítulo deste trabalho.

143 141 Das cinco possibilidades de realização das médias postônicas em posição não final, propostas por Ribeiro (2007) 78, verificamos três delas: (1) alçamento pitág[u]ras; (2) síncope fósfru; (3) outras alterações crisânt[o]mo. Como nos diz Guimarães (2006), no Norte de Minas, pudemos verificar um sistema vocálico variável, podendo, as médias pretônicas (e, o), ora se manterem, ora se realizarem como altas [i, u], ora como baixas [, ø]. Há, assim, duas possibilidades de sistemas, como dado anteriormente 79 : 1º quadro: Sistema Vocálico I em posição pretônica no norte de Minas. Anterior Central Posterior altas i u médias e o baixa a 2º quadro: Sistema Vocálico II em posição pretônica no norte de Minas Anterior Central Posterior altas i u médias ε ɔ baixa a Já em relação às postônicas não finais, vemos um quadro semelhante ao proposto por Câmara Jr. (2007), excetuando-se a inclusão da média /o/, como vemos a seguir: átonas): 2º quadro (primeiras vogais postônicas dos proparoxítonos, ou vogais penúltimas altas /u/ /i/ médias /o/ /e/ baixa /a/ 78 Vide item 2.2, p. 43, 2º Capítulo deste trabalho. 79 Vide página 45 deste trabalho.

144 142 7 CO CLUSÃO Ao longo deste trabalho, analisamos o comportamento das vogais medias (e, o) em posição pretônica e postônica não final no português falado em Montes Claros/MG. O que pudemos verificar, através dos dados estatísticos, é que a vogal média (o), em posição pretônica é mais propensa, tanto ao fenômeno do alçamento quanto do rebaixamento, do que a variável (e). Em relação ao quadro das pretônicas, verifica-se que o mesmo é composto por 7 vogais [ε, e, i, a, u, o, ɔ], isto é, apresenta três possibilidades de realização no que concerne às médias (e, o): manutenção, alçamento e rebaixamento. A ausência de significância estatística em relação aos fatores extralinguísticos sexo, faixa etária, grau de escolaridade e classe social são indícios de que o fenômeno estudado é de cunho difusionista, apesar de que, para o alçamento, há variação em relação ao fator faixa etária, para a pretônica (e), e grau de escolaridade, para a pretônica (o). Mesmo sendo excluído por rodadas do VARBRUL, o grupo de fatores Individuo se mostra significativo a partir do momento em que podemos verificar que o comportamento diversificado dos indivíduos, em relação aos processos de alçamento e rebaixamento, compõe uma mostra variável em relação à idade, sexo, grau de escolaridade e classe social, sendo, portanto, condizente com a nossa hipótese sobre a variação ser de caráter difusionista. Prova disso é que, na região Norte, a variação entre as produções dos falantes é maior. Para uma palavra como serviço, por exemplo, poderemos ter até três realizações possíveis, ou seja, s[ε]rviço, s[e]rviço e s[i]rviço inclusive, sendo todas, neste caso, proferidas por um só sujeito, Dionora. Quanto ao fenômeno do alçamento, tão caracterizado na literatura como harmonização vocálica, verificou-se que, na região de Montes Claros/MG, a presença das vogais altas em posição tônica não foi o fator que mais favoreceu o alçamento; ao contrário, foram as baixas [ε, ɔ] as que mais favoreceram sua realização do alçamento. Com relação ao rebaixamento, pode-se dizer que há, sim, uma assimilação do traço [- alto] da vogal da sílaba seguinte. Quanto à realização das postônicas não finais (o, e), verificamos um comportamento diversificado em relação às duas. Enquanto que a primeira se realiza de três maneiras manutenção, alçamento e rebaixamento -, a segunda só possui duas maneiras de realização manutenção e alçamento.

145 143 A ocorrência de rebaixamento, seja em pretônicas ou postônicas mediais, em fala formal, nos faz acreditar que há, assim, uma tentativa dos falantes de evitarem o alçamento das mesmas e, portanto, uma hipercorreção fonética das médias (e, o). Tal fato corrobora as palavras de Cristófaro-Silva (2005, p. 87-9), que nos diz que a pronúncia das vogais postônicas mediais no PB possui grande variação, a qual, em sua opinião, está intimamente relacionada ao estilo de fala formal e informal. Entretanto, o que encontramos em relação ao rebaixamento das postônicas mediais contraria o que nos diz a autora sobre o comportamento das mesmas, a saber: na grande maioria dos dialetos do português brasileiro as vogais médias nasais ou nasalizadas são auditivamente perceptíveis como vogais baixas [, ø]: pêndulo, têmporas, côncavo, gôndola, cênico, tônico, trêmula, Rômulo. Em dialetos que não apresentam a nasalidade de vogais como algumas variantes paulistas, temos uma vogal baixa em posição tônica seguida de consoante nasal: c[ε]nico, t[ɔ]nico, tr[ε]mula, R[ɔ]mulo (CRISTÓFARO-SILVA, 2005, p. 87-9). Neste trabalho, apesar de verificarmos a possibilidade de existir uma vogal baixa em posição tônica seguida de consoante nasal, como em g[ ]meos, ou médias nasais ou nasalizadas auditivamente perceptíveis como vogais baixas [, ø], como em m[ ]ntira, também verificam-se contextos, tais como os dados por Cristófaro-Silva (2005), nos quais não se verifica a percepção das vogais como [, ø] (como em alm[o]ndega, com som semelhante ao de m[o]ntes; cron[o]metro e fen[o]meno, com som semelhante ao de sobren[o]me; par[e]nteses, com som semelhante ao de apar[e]nte), e, sim, apenas nasalização, sem afetar o traço de altura das médias (e, o). Além, no dialeto montesclarense, há uma predominância das vogais e das semivogais como favorecedoras do rebaixamento das postônicas (e, o), em posição não final. Neste trabalho, encontraram-se, portanto, realizações indicativas de difusão lexical, sendo que a variação nas vogais médias (seja em posição pretônica quanto postônica não final) é, pois, um processo controverso, pois ocorre em determinados contextos em um item lexical e, em outro item, sob as mesmas condições, não ocorre, como é o caso de m[i]lhoris e m[e]lhor, int[ε]r[ε]ssa, int[e]r[ε]sse, c[u]nserta, c[o]nserva, entre outros. Observa-se que as palavras que possuem configurações semelhantes às chamadas proparoxítonas eventuais, como ár[i]as, gêm[i]os, ól[i]o, petról[i]o, áur[i]a, pásc[u]a realizam-se sempre com vogais altas, para todos os informantes, em todos os itens lexicais pronunciados. Assim sendo, mesmo descrevendo contextos fonéticos favorecedores ou não da

146 144 variação, veem-se itens, em ambientes favorecedores, que raramente alçam, e itens, em ambientes considerados desfavorecedores, alçados. A difusão lexical descartaria, pois, a regularidade, pautando-se pela existência de irregularidades, isto é, mesmo que haja condicionamentos fonéticos há, por outro lado, a possibilidade de mudanças sonoras que não sejam foneticamente condicionadas (OLIVEIRA, 1991). Assim, o ambiente fonético seria visto como um assimilador a posteriori, e não como um condicionador a priori de uma inovação (OLIVEIRA, 1992, p. 35). Em função disso, conclui-se ser a mudança sonora lenta e gradual, pois afeta primeiramente algumas palavras especificas e, só então, estende-se, paulatinamente, para outras formas, o que propõe o modelo da difusão lexical. Concluindo, tendo em vista a análise quantitativa apresentada neste trabalho, podemos corroborar a hipótese de que a tese difusionista é fortemente reforçada por três argumentos, a saber: (a) Inúmeras exceções a determinadas mudanças fonéticas não podem ser explicadas unicamente por analogia e/ou por empréstimo (como em c[u]nhecia, c[u]nheci, c[u]nhecido, e c[o]nhecimento). (b) Muitos processos fonológicos não são explicados somente por condicionamentos sonoros, mas por uma gama variada de fatores, incluindo os de natureza discursivopragmática e sócio-geográfico-social. Exemplo disto é o que ocorreu, por exemplo, na elaboração, por Antenor Nascentes, de seu Bases para a elaboração de um Atlas linguístico do Brasil, que tomou como base a ocorrência de [i, e, ] e [u, o ø] pretônicos ou, em nossa pesquisa, ao constatarmos, através dos dados probabilísticos 80, a preferência pela manutenção da média (e) em contextos formais de fala. (c) Nem todos os vocábulos que contêm o som em pauta são afetados simultaneamente e da mesma maneira. Longe de se aplicar a todas as palavras ao mesmo tempo, as mudanças fônicas reconhecem limites temporais, quer por razões socioculturais, quer por razões pragmáticas, sendo, pois, contínuas (como em s[ε]rviço, além de s[e]rviço, e s[i]nhora, mas não s[ε]nhora). 80 Cálculos em Anexo.

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152 150 APÊ DICE A Lista de figuras referentes às vogais postônicas (e, o) ABÓBORA ALIE ÍGE A ALMÔ DEGA Â CORA APÓSTOLOS ÁRVORE

153 151 ASTRÔ OMO ÁTOMO AURÉOLA AUTÓDROMO BAFÔMETRO BRÓCOLIS

154 152 BÚSSOLA CÂMERA CATÁLOGO CE TÍMETRO CÉREBRO CÓCEGAS

155 153 CÔMODA CÓRREGO CRISÂ TEMO CRO ÔMETRO ÉPOCA Ronaldinho, FE ÔME O

156 154 FÓSFORO GÊMEOS GÔ DOLA HELICÓPTERO HORÓSCOPO HÓSPEDES

157 155 MÁRMORE ÚMEROS ÓLEO ÓPERA ORQUÍDEA PÁLPEBRA

158 156 ( ) ( ) ( ) PARÊ TESIS PÁSCOA PÉROLA PÊSSEGO PETRÓLEO PÓLVORA

159 157 PRÓTESE PSICÓLOGO QUILÔMETRO SEMÁFORO SÍMBOLO TAXÍMETRO

160 158 TERMÔMETRO ÚTERO VELOCÍMETRO VELOCÍPEDE XEROX

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