A oeste deste céu João de Mancelos. Referência: Mancelos, João de. A oeste deste céu. Aveiro: Estante, DL: 62330/93. Índice
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- Gilberto Felgueiras Marroquim
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1 A oeste deste céu João de Mancelos Referência: Mancelos, João de. A oeste deste céu. Aveiro: Estante, DL: 62330/93. Índice Zero decibéis A lírica mínima do amor Laços Lábios Adolescentes Op. VI: As escadas, o sótão, o céu A queda Op. I: Princípio do mundo 8:30 Paixão Aula um (introdução à geografia do olhar) Quem tem medo do lobo mau? O melhor outubro deste céu Ausência mais-que-perfeita Ausência presente O resto Ab initio Ícaro O zoo dos heróis Mãos A sul Aritmética Impressão Acentuado esquecimento noturno Op. V: Amanhã Pássaros de vidro Metrópolis Op. VII: Em estado de chuva
2 Scriptografia Equinócio Fusão Rapariguinha de sonhos leves Maio amor 13 anos Oníris No sótão da nossa árvore Made in Coketown Poisando As revoluções do amor Sobre o autor João de Mancelos, nome profissional de Joaquim João Cunha Braamcamp de Mancelos, nasceu em Coimbra, em É doutorado em Literatura Norte-Americana, pós-doutorado em Literaturas Comparadas e possui uma agregação em Estudos Culturais. Lecionou na Universidade Católica Portuguesa (Viseu), e na Universidade de Aveiro. Atualmente, é professor na Universidade da Beira Interior. É autor de vários livros de poesia, conto e ensaio. Principais obras As fadas não usam batom (1.ª ed. 1998; 2.ª ed. 2004) Foi amanhã (1999) Línguas de fogo (2001) O que sentes quando a chuva cai? (2006) O marulhar de versos antigos: A intertextualidade em Eugénio de Andrade (2009) Introdução à escrita criativa (1.ª ed. 2009; 5.ª ed. 2017) Manual de escrita criativa (1.ª ed. 2012; 2.ª ed. 2015) Uma canção no vento: A poesia de Eugénio de Andrade (2013) Manual de guionismo (1.ª ed. 2013; 2.ª ed. 2016) Magia negra: A obra de Toni Morrison (2014) O pó da sombra (2014) Mulheres fatais, detetives solitários e criminosos loucos: Estudos sobre cinema (2015) 2
3 Todas as cores da América: A literatura multicultural (2015) O teu nome incendiado de azul (2016) Introdução à narrativa cinematográfica (2017) Alguns poemas do livro Zero decibéis Um punhado de silêncio nada acaricia mais a nudez do verão: nem verbos, nem poemas. Quietude é um sorriso ou a erva, quando a chuva despe a terra, e tu desistes dos sapatos e corres. Corres para melhor escutar o silêncio que pulsa em ti. A lírica mínima do amor É raro, o amor, como pirilampos ou chuvas em céus de verão. É a secura última no gosto das amoras, é um tremente olhar à sombra de outro olhar. E mais insustentável será, um lago que se agita nas mãos, e sabe a lume de criança. 3
4 E o amor és tu. E tu és breve. E há quem rumo à noite de ti se baste e sonhe, até à fundura da solidão. É raro, o amor. É apenas esse nome teu que em meus lábios floresce. Lábios Duas flores esmagadas no íntimo do silêncio, Um gomo de asas contempladas em si mesmas, Solitárias ilhas debruçadas nas marés de uma Palavra. 8:30 Hoje entraste na minha aula de Inglês, sem sílabas, nem rosas, nem sorrisos, nem nada que ditasse do programa. Hoje tinhas olhos de noite e um medo de bicho ferido poisado entre as mãos. Serias o lar espancado, Serias a boneca fuzilada, 4
5 Hoje trouxeste contigo o melhor outubro deste céu. Mãos Há mãos que amam, feridamente, como quem molda a nudez à luz, Há mãos que vestem de outubro a noite, e nos deixam o verão. Há mãos gritantes, mãos de sol, há mãos que fendem cercos e plantam rosas sobre os muros. Tuas mãos serão assim: frágeis, breves, incuráveis, Ilhas gémeas sobre mim. Acentuado esquecimento noturno Amor, não sei quem és, nunca te vi, mas meu coração hibernará para que o teu o escute, e nos gomos destes lábios não hão de poisar palavras até os teus beberem da sua sede. E batalharei pelo que só em teus olhos haverá, E não te deixarei ceifar o riso às aves clandestinas que finges antes de adormeceres. 5
6 E se não vieres nem tarde, e se por um lunário qualquer eu medir a vida e houver um acentuado esquecimento noturno, amor, não sei quem és, jamais te vi, mas não me libertarei nem da química lágrima nem da chuva ácida nem do teu olhar. Op. V: Amanhã E quando as palavras de amantes lábios mais não forem do que ilhas de solidão, eu te colherei, anjo meu, pena a pena, nas clareiras do silêncio. Made in Coketown Têm alma de fera, as grandes fábricas, pela noite. É a industrial solidão das chaminés e fogos-fátuos e outros ínfimos luares. No tão tóxico céu, os elefantes de aço e trovão marcham, E sob as patas só o humano suor é a mais mística chuva. 6
7 As revoluções do amor Benditas sejam as caves do coração, onde se conspiram as revoluções do amor. Benditas sejam as crianças da chuva, expulsas para o paraíso, que uma lâmina abraçou para além da dor. E abençoadas sejam as palavras, o riso e os poetas que colhem as aves despenhadas, porque só eles guardam no olhar o fruto último do amor. 7
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