A fauna ameaçada de extinção do Estado do Rio de Janeiro
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- Isadora Martini das Neves
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1 A fauna ameaçada de extinção do Estado do Rio de Janeiro Organizadores Helena de Godoy Bergallo, Carlos Frederico Duarte da Rocha, Maria Alice dos Santos Alves & Monique Van Sluys Rio de Janeiro 2000
2 Capítulo 3 o status de conservação da fauna do Estado do Rio de Janeiro: metodologia de avaliação Monique Van Sluys, Maria Alice dos Santos Alves, Helena de Godoy Bergallo & Carlos Frederico Duarte da Rocha a elaboração de listas de fauna ameaçada é necessário que um grande número de especialistas de cada um dos grupos temáticos esteja envolvido para que a situação dos mesmos seja avaliada de maneira ampla. Além disso, os critérios utilizados na definição do status das diferentes espécies devem ser bem estabelecidos, de modo a atenderem às particularidades de cada Estado, mas também devem ser gerais o suficiente para que possam ser aplicáveis em outras regiões, permitindo que os resultados da elaboração de listas de fauna ameaçada sejam comparáveis. A elaboração da Lista da Fauna Ameaçada do Estado do Rio de Janeiro OCOrreu em três etapas: uma etapa preparatória, uma etapa de análise e uma etapa final, seguindo a metodologia para elaboração de listas de espécies ameaçadas de extinção proposta pela Fundação Biodiversitas (Lins et al., 1997). Na etapa preparatória, nós definimos os critérios e as categorias de ameaça baseados naqueles propostos pela União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN, 1994) e utilizados durante o Workshop "Lista da Fauna Ameaçada do Estado de São Paulo" realizado em São Carlos, em 1996.As espécies ameaçadas foram definidas dentro de uma das cinco categorias - provavelmente extinta, criticamente em perigo, em perigo, vulnerávele presumivelmente ameaçada. Como, para diversas espécies,o fato de não haver informação disponível implicava em que elas eram categorizadas como presumivelmente ameaçadas, seguindo os critérios da IUCN, ao longo do proces- 37
3 so de elaboração da lista os especialistas dos diferentes grupos temáticos sentiram a necessidade de criar uma nova categoria - status desconhecido. Esta nova categoria incluiria aquelas espécies para as quais não há informação disponível, e separa-as das espécies que, por meio de pontuação, entraram na categoria "presumivelmente ameaçada". Essa necessidade surgiu do fato de que a total ausência de conhecimento sobre essas espécies não seria motivo suficiente para considerá-ias como presumivelmente ameaçadas. A inclusão de espécies dentro de uma dada categoria seguiu uma pontuação de critérios que levaram em consideração o tamanho da área de distribuição da espécie, as alterações ambientais ocorridas em seu hábitat, a capacidade adaptativa da espécie e o tamanho e a variação populacional. A adoção das categorias e critérios da IUCN visou alcançar uma padronização mínima das várias listas de espécies ameaçadas de extinção, uma vez que elas são utilizadas em diversos países. As categorias aqui utilizadas - transcritas dos critérios para definição do status de espécies ameaçadas adotados para o Workshop "Lista da Fauna Ameaçada do Estado de São Paulo" - com a nova categoria que adotamos no Workshop sobre a fauna ameaçada do Estado do Rio de Janeiro, foram: Ameaçada - Provavelmente extinta (EX) Essa categoria refere-se àquelas espécies para as quais não há registro confiável de sua ocorrência no Estado nos últimos 30 anos, mas cuja ocorrência era conhecida no Estado do Rio de Janeiro. Ameaçada - Criticamente em perigo (CP) Essa categoria (e as duas subseqüentes) é a mesma adotada pela IUCN e refere-se a um dos três níveis de ameaça. Essa divisão facilita a determinação do. status das espécies pois torna mais precisa a margem de acerto. Como "criticamente em perigo" enquadram-se aquelas espécies que apresentam um alto risco de extinção em um futuro mais próximo. Essa situação é decorrente de profundas alterações ambientais ou de uma alta redução populacional, ou ainda da intensa diminuição da área de distribuição do táxon em questão, em um intervalo pequeno de tempo (dez anos ou três gerações). Ameaçada - Em perigo (EP) Como "em perigo" enquadram-se aquelas espécies que apresentam um risco de extinção em um futuro próximo. Essa situação é decorrente de grandes alterações ambientais ou de uma significativa redução populacional, ou ainda, da 38
4 grande diminuição da área de distribuição do táxon em questão, em um intervalo pequeno de tempo (dez anos ou aproximadamente três gerações). Ameaçada - Vulnerável (VU) Como "vulnerável" enquadram-se aquelas espécies que apresentam um alto risco de extinção a médio prazo. Esta situação é decorrente de alterações ambientais preocupantes ou da redução populacional, ou ainda, da redução da área de distribuição do táxon em questão, em um intervalo pequeno de tempo (dez anos ou aproximadamente três gerações). Presumivelmente ameaçada (PA - Lista 2) Nessa categoria foram colocados todos aqueles táxons para os quais existem fortes suspeitas de que sua situação merece maiores atenções conservacionistas. Status desconhecido (SD) Nos casos nos quais não foi possível determinar, com base nos parâmetros adotados, o status exato de um táxon, em função dos dados disponíveis acerca de sua biologia serem insuficientes para se chegar a uma conclusão, foi criada a categoria de "status desconhecido". Os critérios adotados que se seguem foram semelhantes àqueles utilizados para o Estado de São Paulo, mas com modificações em relação à área de distribuição de organismos terrestres e aquáticos: A. Distribuição Refere-se ao tamanho e tipo de distribuição que um táxon apresenta. Uma vez que o Estado do Rio de Janeiro é formado basicamente pelo bioma da Mata Atlântica e que este, por sua vez, é constituído por um mosaico de formações vegetais, resolveu-se considerar, para as espécies terrestres, as seguintes formações vegetais: restinga, manguezal, matas de baixada, matas de encosta, matas de altitude, campos de altitude, campos de baixada, campos de vale, lagoas e áreas alagadas, matas decíduas ou semidecíduas e ambientes alterados. Já para as espécies aquáticas, a distribuição foi avaliada segundo a bacia hidrográfica e o ambiente costeiro do Estado, a saber: cabeceira, áreas de baixada fluvial, brejos de nascente e de baixada, lagos, lagunas (incluindo lagoas), infralitoral consolidado (com substrato duro) e não-consolidado (com substrato arenoso ou sedimentar), litoral consolidado e não-consolidado, manguezal, e domínio pelágico. 39
5 Na categoria "ampla distribuição" enquadram-se aqueles táxons que ocupam grande variedade de formações vegetais e de ambientes aquáticos do Estado, segundo a classificação acima. Uma segunda categoria inclui as espécies cuja distribuição é do tipo disjunta, ou seja, o táxon é observado em pontos isolados, aspecto este que pode estar ligado à exigênciade hábitats específicos.outro tipo de distribuiçãocorresponde às espéciesendêmicas. Nesse caso, consideram-se"endêmicos" aqueles táxons que possuem a distribuiçãototalmente incluída nos limites políticos do Estado do Rio de Janeiro. B. Alterações ambientais Nesse tópico tenta-se avaliar o nível de alteração provocado nos hábitats naturais onde o táxon ocorre. Pode ser utilizado como um parâmetro de ingerência sobre a situação dos táxons num dado ambiente. Esse tipo de abordagem não está presente nos critérios da IUCN. C. Plasticidade Refere-se ao tipo de resposta que um táxon possui frente às alterações e impactos ambientais advindos da degradação ambienta 1 (poluição, fragmentação de hábitat, extração de madeiras ou outros recursos) ou da destruição ambiental (grandes projetos de pecuária, agricultura ou reflorestamentos, desmatamentos em geral, urbanização). Esse tipo de abordagem não está presente nos critérios da IUCN. D. Tamanho populacional Em virtude da falta de dados sobre estimativas populacionais para a maioria dos táxons em estudo, sugere-se que seja utilizada a abundância relativa de um táxon para estimar-se a situação populacional do mesmo. Assim, esse parâmetro é subdividido em níveis decrescentes de freqüência em campo ou coleções seriadas ou mesmo em artigos científicos, variando desde táxons muito freqüentes até aqueles mais raros. E. Variação populacional Da mesma forma que o parâmetro anterior, poucos são os dados disponíveis que permitem uma avaliação segura sobre as variações populacionais de um táxon em um intervalo de tempo. Assim, sugere-se a adoção do critério de níveis crescentes de alterações (de estáveis a declinantes) para esse parâmetro, na falta de dados mais precisos sobre as alterações populacionais dos táxons. Nesse caso, a escolha de uma ou outra subcategoria deverá ser feita com base em experiências pessoais ou o bom senso. Para auxiliar a determinação do status das espécies, a partir dos critérios acima, foram atribuídos pontos para cada uma das espécies, segundo a tabela ao lado. 40
6 CRITÉRIOS PONTOS I) Animais sem coletas e/ou registros datados dos últimos 30 anos: Provavelmente Extinta (EX) 11)Animais com coletas e/ou registros datados dos últimos 30 anos: A) TAMANHO DA ÁREA DE DISTRIBUIÇÃO Ampla distribuição em mais de uma formação vegetal ou bacia no RJ O Distribuição ampla em uma formação vegetal ou bacia no RJ. Distribuição restrita em uma formação vegetal ou bacia no RJ 2 Espécie de distribuição restrita e endêmica no RJ 3 Informação não disponível. + B) ALTERAÇÕES AMBIENTAIS Hábitat natural com nenhuma ou pouca pressão antrópica no RJ O Hábitat natural com moderada pressão antrópica no RJ. Hábitat natural com grande pressão antrôpica no RJ 2 Hábitat natural quase totalmente destruido ou descarac!erizado no RJ 3 Informação não disponível... + C) PLASTIODADE (CAPACIDADE ADAPTATIVA) Grande capacidade de adaptação a ambientes secundários no RJ O Táxon sobrevive em ambientes muito alterados no RJ. Táxon ocorre em ambientes alterados mas depende de áreas mais conservadas no RJ 2 Táxon totalmente dependente de ambientes conservados no RJ 3 Informação não disponível + D) TAMANHO POPULACIONAL DO TÁXON Táxon é muito freqüente na sua área de distribuição no RJ O Táxon freqüente na sua área de distribuição no RJ. Táxon pouco freqüente na sua área de distribuição no RJ 2 Táxon raro na sua área de distribuição no RJ 3 Informação não disponível. + E) VARIAÇÃO POPULACIONAL Populações estáveis ou crescentes no RJ,... O Populações declinando a um ritmo lento no RJ 1 Populações declinando a um ritmo moderado no RJ 2 Populações com acentuada redução ao longo de sua distribuição no RJ 3 Informação não disponível + 41
7 A determinação do status foi, então, baseada no total da pontuação (somatório dos parâmetros de A a E) da seguinte maneira: Total de pontos Abaixo de 3 pontos Entre 4 e 6 pontos Entre 7 e 9 pontos Entre 10 e 12 pontos Entre 13 e 15 pontos 2 ou mais cruzes (+) Status Não Ameaçada (NA) Presumivelmente Ameaçada (PA) Vulnerável (VU) Em Perigo (EP) Criticamente em Perigo (CP) Status Desconhecido (SD) Como resultado da etapa inicial, a comissão de elaboração da lista preparou uma lista de espécies, separadamente, para cada grupo temático, a saber: mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes, invertebrados aquáticos e invertebrados terrestres. As listas das espécies candidatas foram elaboradas com base na lista atual das espécies ameaçadas de extinção (Bernardes et al., 1990), com adições quando pertinente. No caso das listas de mamíferos, aves, répteis e anfíbios, as coordenações desses grupos temáticos elaboraram uma lista completa das espécies ocorrentes no Estado do Rio de Janeiro, com base em trabalhos publicados, depósitos em museus e informações de campo, pessoais e de colegas especialistas dos respectivos grupos, independente de seu status. Estas listas foram então enviadas para diversos pesquisadores do Brasil com experiência na fauna do Estado, para que estes pudessem participar deste processo, indicando a categoria de. ameaça que as espécies deveriam constar, baseados em literatura, mas principalmente na sua experiência e em observações pessoais. Nesta etapa, 53 pesquisadores de diversas instituições do Brasil (dos Estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Distrito Federal e Rio de Janeiro) foram consultados. Concomitantemente, formamos um banco de dados, baseado na literatura científica disponível, com a distribuição de diversas espécies no Estado do Rio de Janeiro. Na etapa de análise do processo de conhecimento do status de conservação das espécies do nosso Estado realizamos o Workshop sobre a fauna ameaçada do Estado do Rio de Janeiro para definir as espécies que integrariam a lista das espécies ameaçadas do Estado do Rio de Janeiro. Participaram desta etapa 60 pesquisadores de 18 instituições, não apenas do Rio de Janeiro, mas também de outros Estados como São Paulo, Paraná e Distrito Federal. Durante o Workshop, para subsidiar as decisões, os grupos temáticos receberam informações sobre as espécies candidatas com base nas listas 42
8 resultantes da etapa inicial para cada grupo temático, referências bibliográficas, e listagens dos pontos de distribuição. Os grupos temáticos, após análise detalhada espécie a espécie, registraram suas decisões, segundo os critérios previamente mencionados, em uma ficha técnica, modificada daquela preparada pelo Workshop sobre a fauna ameaçada de extinção do Estado de São Paulo, na Universidade Federal de São Carlos - UFSCar -, conforme o modelo a seguir: WORKSHOPSOBRE A FAUNA AMEAÇADA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO IG~VPOTEMÁnçº NOME ClEmíFIco NOMEVULGA~ POSiÇÃO FlNAL 00 GRUPO TEMÁTICO Ameaçada (Lista Oficial do RJ) I----j Presumivelmente Ameaçada (Lista 2) Não Ameaçada CRITÉRIOS UTILIZADOS PARA INCLUSÃO NA LISTA OPICIAL '-- ---'Destruição do Hábitat r----, Exploração Predatória Caça Coleta Perseguição Comércio Área de Distribuição I------j Populações Pequenas Populações em Declínío Restrita I------j Populações Isoladas I------j Distribuição Marginal no Estado Presença na Lista Oficial do IBAMA Dados Insuficientes CATEGORIAS DE AMEAÇA Provavelmente Extinta I----j Criticamente em Perigo Em Perigo Vulnerável MEDIDAS PJ:{OPOST AS PARA A PROTEÇÃO DA ESp~çlE I----j Proteção de Hábitat I----j Criação de Unidades de Conservação I----j Fiscalização Programas de Educação Ambiental Pesquisa Básica em Biologia da Conservação (especificar) Criação em Cativeiro e Reintrodução I------l Transposição de Fauna Localização e Proteção de Populações Remanescentes Outros (especificar) I Observações: Aprovado 43
9 Os dados, considerações gerais e a categorização final de cada especle, foram individualmente registrados em fichas deste modelo que, ao final, foram assinadas pelos coordenadores dos grupos temáticos. Nos itens "critérios utilizados para a inclusão na Lista Oficial" e "medidas propostas para a proteção da espécie", sempre que necessário, mais de uma opção pôde ser assinalada para uma dada espécie. Na sessão final do Workshop, as conclusões dos grupos temáticos foram relatadas numa sessão plenária para serem homologadas por todos os participantes. O objetivo da sessão plenária foi dar acesso às informações dos diferentes grupos para todos os especialistas participantes e também promover uma discussão geral sobre as espécies indicadas para inclusão na lista final e sobre problemas relacionados à conservação destas espécies. A lista final foi então constituída com base nas informações registradas nas fichas técnicas sobre as espécies consideradas ameaçadas pelos especialistas e, encaminhada aos coordenadores dos grupos temáticos para uma revisão final. A lista final contém, para todas as espécies agrupadas segundo a categoria taxonômica, o nome.científico,o nome vulgar, o nível de ameaça segundo as categorias definidas pela IUCN, e os critérios utilizados para o enquadramento da espécie na categoria. Na etapa final, a lista gerada foi encaminhada para o órgão responsável, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro, para sua homologação (SEMA, 1998). Nos capítulos que se seguem apresentamos,para cada um dos grupos temáticos considerados, os resultados, conclusões e sugestões apresentados pelo corpo de especialistas de cada um, bem como a lista da fauna ameaçada e a lista 2 (espécies presumivelmente ameaçadas) elaboradas para cada grupo temático. A análise dos grupos temáticos e a redação dos capítulos foi relativamente particular para cada grupo e, em alguns casos, os critérios adotados foram adequados à realidade de cada um (por exemplo, peixes). 44
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