B o l e t i m. P e r f i l d o F e s t i v a l d o R i o R E S U M O

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1 Foto: Toninho Tavares / Agência Brasília P e r f i l d o F e s t i v a l d o R i o Marcia Rangel Candido Cleissa Regina Martins R E S U M O João Feres Júnior Este boletim dá continuidade aos levantamentos do GEMAA sobre o Festival do Rio realizados em 2015 e Analisamos o perfil de raça, gênero e procedência geográfica dos diretores dos longas-metragens selecionados para exibição no evento. Além de dados sobre participação dos distintos grupos sociais na edição de 2017, apresentamos uma comparação com os anos anteriores a fim de identificar possíveis incrementos em diversidade. Os resultados mostram um tímido aumento da participação de mulheres brancas. Os filmes dirigidos por pessoas não-brancas, por sua vez, são escassos. No que toca à questão geográfica, o festival privilegia produções da América do Norte e da Europa ao passo que países da América Latina são pouco representados. n

2 E X P E D I E N T E Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ Instituto de Estudos Sociais e Políticos IESP G r u p o d e E s t u d o s M u l t i d i s c i p l i n a r e s d a A ç ã o A f i r m a t i v a gemaa@iesp.uerj.br C O O R D E N A D O R E S João Feres Júnior Luiz Augusto Campos P E S Q U I S A D O R E S A S S O C I A D O S Anna Carolina Venturini Marcia Rangel Candido T R A B A L H O T É C N I C O André Félix A S S I S T E N T E S D E P E S Q U I S A Cleissa Regina de Oliveira Martins Luna Sassara Marcell Machado dos Santos Poema Eurístines Raissa Rodrigues C A P A, L A Y O U T E D I A G R A M A Ç Ã O Marcia Rangel Candido

3 I N T R O D U Ç Ã O "O cinema, como a arte da urgência, segue retratando o estado do mundo nas telas" Revista da programação do Festival do Rio, 2017 O Festival do Rio é um dos principais eventos de exibição e premiação de filmes no Brasil. Representar a realidade, fomentar a diversidade de olhares, técnicas e narrativas são alguns dos objetivos comunicados no material de divulgação da programação. No que toca às questões políticas de minorias, a causa LGBTQ é a que conquista maior atenção dos organizadores do evento, seja pela realização de mostras específicas ou por premiações exclusivas. Por outro lado, mulheres e negros( as) que dirigem longas- metragens são grupos sociais com reduzida participação nas diversas edições do evento. Este boletim tem como objetivo apresentar a diversidade de raça, gênero e localização geográfica na função de direção dos filmes selecionados para exibição em 2017, 2016 e 2015, comparativamente. O festival afirma dar aos espectadores a possibilidade de ver o mundo, mas quem produz esse mundo? Qual perspectiva é privilegiada? Gênero dos diretores Pouca coisa mudou ao longo dos três últimos anos em relação à exibição de tramas dirigidas por mulheres. Em 2017 a participação feminina teve um leve acréscimo: de 22% nos anos anteriores ela subiu para 27%. Entretanto, a edição desse ano conta com mais mulheres indicadas ao principal prêmio do festival ( Troféu Redentor) do que homens. De um total de 12 concorrentes, 7 são do gênero feminino e 5 são gênero masculino. Embora essa dado seja digno de nota, vale ressaltar que alguns longas- metragens obtêm direção mista (de homens e mulheres). Além disso, todas as/os aspirantes ao prêmio são brancos. 78% 78% 73% 22% 22% 27% H O M E N S M U L H E R E S

4 R aça dos diretores 83% 89% 88% 10% 7% 5% 0% 2% 4% 0% 7% 5% B R A N C O S N Ã O - B R A N C O S A S I Á T I C O S S E M I N F O R M A Ç Ã O O exame dos dados referentes à raça dos diretores com filmes selecionados para o festival dá a entender que não houve qualquer esforço da organização para promover maior diversidade racial nesse quesito. As variações das proporções das quatro categorias ao longo dos anos são bastante pequenas e não seguem qualquer tendência de aumento ou queda. Em média os brancos têm quase 90% de participação, enquanto asiáticos obtêm scores um pouco acima de 5% e não-brancos em torno de 5%. Em suma, brancos são bastante superrepresentados no evento.

5 R aça e localização geográfica P R O P O R Ç Ã O D E D I R E T O R E S ( A S ) D E C O R B R A N C A E M C A D A C O N T I N E N T E AMÉRICA DO NORTE 96% EUROPA 96% 36% ÁSIA AMÉRICA CENTRAL E DO SUL 97% 43% 100% OCEANI A ÁFRI CA C O M P A R A Ç Ã O B R A S I L X E S T A D O S U N I D O S O índice de representação é calculado pela razão entre a porcentagem de diretores negros(as) (5% brasileiros e 4% estadunidenses) e a proporção de negros em cada país (54% no Brasil e 13% nos Estados Unidos). Índice de Representação dos Negros BRAS IL ESTADOS UNIDOS 9% 31%

6 Localização geográfica O R I G E M D O S D I R E T O R E S ( A S ) : Na edição de 2017, o Brasil é a origem do maior percentual de diretores com filmes em exibição no Festival do Rio (30%), algo natural, uma vez que o evento ocorre no país. Os estrangeiros, por sua vez, totalizam 70%. Os principais continentes com representação no festival são a EUROPA (27%) e a AMÉRICA DO NORTE (19%). As produções originadas em outros países da AMÉRICA LATINA é muito baixa: apenas 9% dos filmes selecionados são dirigidos por pessoas de outros países das américas Central e do Sul. A ÁSIA, por exemplo, tem mais diretores (11%) com filmes em exibição do que os países latinoamericanos ( excluído o Brasil). A ÁFRICA e a OCEANIA são os lugares que obtêm menor percentual de participação, respectivamente 3% e 1%. C O N S I D E R A Ç Õ E S F I N A I S Embora os últimos anos representem um avanço de organização e visibilidade das pautas de mulheres e negros(as) por maior participação no campo cinematográfico*, o Festival do Rio expressa a continuidade de um processo seletivo que privilegia a homenagem a grupos sociais tradicionalmente privilegiados: homens, brancos, europeus ou estadunidenses. Nosso objetivo não é pleitear que festivais de cinema como este devam ter a igualdade de representação racial e de gênero como único critério. É preciso, contudo, que os vários fatores que produzem um estado de coisas profundamente desigual nas artes cinematográficas seja pesado e contrabalançado afim de não reproduzirmos cegamente assimetrias. *Ver, por exemplo: "Associação vai exigir ações afirmativas para negros/as no audiovisual". Carta Capital, 02/12/2016. Disponível em: a articulação do grupo "Mulheres do Audiovisual Brasil" e o website Mulheres Audiovisual(