MAPEAMENTO BIORREGIONAL COMO FERRAMENTA PARA EDUCAÇÃO POPULAR E AMBIENTAL

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1 MAPEAMENTO BIORREGIONAL COMO FERRAMENTA PARA EDUCAÇÃO POPULAR E AMBIENTAL Yuri Costa 1 ; Isabela Fernandes 2 ; Maurício Rebouças 1 ; Rendel Porto Morais 5 ; Daniele Matos França 6 ; Laura Rodrigues 1 ; Ramilla Vieira 1 ; Taís Queiroz 7 ; Antônio Carlos Dórea 1 ; Flávia Gomes 3 ; Júlia Abdias; Carla Hage 1 ; Marcos Barros 3 ; Maurício Rebouças 1 ; George Diniz 3 ; Amália Patrícia 4. i INTRODUÇÃO O conhecimento científico, sistemático e aproximadamente exato, vigorou durante muito tempo como superior ao conhecimento popular, valorativo e inexato. As diferenças entre essas duas formas talvez tenha afastado a academia, berço do conhecimento científico, de setores da população que não se ligam a essa ideia. A universidade apresenta-se, então, como mantenedora de uma estrutura que exclui moradores periféricos, indígenas, comunidades quilombolas. Felizmente, essa exclusão aos poucos vem sendo vencida, ora por políticas públicas de inclusão, ora por um questionamento crescente sobre essa produção de conhecimento. Afinal, para quem e como devemos produzir esse conhecimento? A Extensão Universitária baseia-se 1

2 nessa pergunta, e constitui hoje o tripé de sustentação da universidade, juntamente com o ensino e a pesquisa. O Marsol, enquanto programa de extensão da UFBA, vem desenvolvendo uma técnica conhecida como Mapeamento Biorregional. Essa técnica foi elaborada no Canadá, trabalhando com comunidades indígenas norte americanas. Aqui no Brasil trabalhamos com comunidades quilombolas do Recôncavo e do Baixo Sul. O objetivo dessa técnica é buscar uma união entre as características biofísicas e culturais da região, unindo-as em um mesmo mapa. Esse mapa diferencia-se por inserir histórias, figuras das regiões, cultura. Com o objetivo de unir o saber científico e popular, os mapas são uma forma de sistematização do conhecimento tradicional, que é expresso, na maioria das vezes, pela cultura griô, isto é, pela cultura oral. METODOLOGIA A construção dos Mapas Biorregionais se deu ao longo de um semestre, através da disciplina ACC (Atividade Curricular em Comunidades). A mesma consiste em promover a aproximação entre a universidade e a sociedade. Usando a técnica do Mapeamento Biorregional como ferramenta para educação ambiental e promovendo treinamento de novas habilidades tanto para os alunos (e.g. educação popular) quanto para a comunidade (técnicas de cartografia) permitindo a troca de conhecimentos entre os estudantes e os membros das comunidades. A disciplina foi dividida em dois momentos, o primeiro teórico onde os alunos leram e debateram sobre os seguintes textos: Educação e Mudança, Pedagogia da Autonomia, Extensão ou Comunicação, ambos de Pulo Freire; Uma escala da Participação Cidadã de Sherry R. Arstein; Educação ambiental e gestão participativa na explicitação e resolução de conflitos. Gestão em Ação, de Frederico Loureiro; dentre outros. No segundo momento a disciplina teve um caráter prático, onde o contato com a comunidade se fez presente. Foram realizadas cinco viagens a campo, onde foram ministradas oficinas de construção do mapeamento pelos estudantes. Nessas oficinas ocorreram em um primeiro momento o contato com a comunidade, apresentação de mapas construídos por outras comunidades, construção de mapas mentais da localidade onde a comunidade vive (figura 1a). Essas informações foram escritas em tiras feitas com folhas de cartolina dos lugares e histórias citados (figura 1b). Em 2

3 um segundo momento foi realizado uma sistematização dos temas, saída de campo (visita aos lugares mencionados, com o GPS para marcar como ponto). Na terceira etapa do trabalho foi realizado em forma de oficinas, um treinamento em técnicas de cartografia e reconhecimento de elementos cartográficos (figura 1c), como escala, coordenadas, pontos cardeais, uso do GPS, apresentação de como funciona o Google Earth (trabalho de reconhecimento da comunidade no espaço), escolha dos temas a serem mapeados, escolha da base cartográfica (figura 1d e 1e) e construção do mapa base a partir da base cartográfica e construção do mapa biorregional (figura 1 f) dando vida aos mapas. RESULTADOS Nas cinco oficinas foram produzidos quatro mapas, são eles: Água Fonte da Vida, Abre-te Campo Formoso cheio de Tanta Alegria (histórias antigas), Sustentabilidade das comunidades Quilombolas Konge, Dendê, Kalembá, Eng. da Praia e Eng. da Ponte (sustentabilidade), Cultura, Identidade e Resistencia das Comunidades Quilombolas Konge, Dendê, Kalembá, Eng. da Praia e Eng. da Ponte (cultura). Para escolha dos temas foi usada 3

4 uma metodologia da educação popular defendida por Paulo Freire, que permite a visualização e sistematização em targetas de lugares, histórias, festividades, elementos culturais importantes para a comunidade, em seguida foram agrupadas as targetas por temas, por fim a comunidade escolheu quais temas naquela ocasião a comunidade estava interessada em construir os Mapas Biorregionais. A partir da afinidade de cada um da comunidade com os temas o grupo foi dividido para dar início à confecção dos mapas adicionando fotos, histórias, desenhando, colorindo, dando vida ao mapa. Figura 2. mapas biorregionais gerados nas cinco oficinas em cinco comunidades. Os mapas contem elementos cartográficos como escala, coordenadas, pontos cardeais, título, legenda, autoria, o que faz deles um documento reconhecido em qualquer lugar do mundo como mapa. Esses elementos técnicos se unem ao conhecimento do território e das histórias das comunidades para transformar os mapas em mapas vivos. O objetivo é que após a confecção dos mapas, além do reconhecimento cultural e territorial, as comunidades sejam autônomas para usá-los da forma como desejar. A comunidade do Kaonge tem utilizado seus mapas no diálogo com organizações do governo como SENAI, incra, entre outros. Atualmente os membros da comunidade do Kaonge estão sendo capacitados nas técnicas de mapeamento Biorregional, para tornarem-se 4

5 multiplicadores dessa ferramenta, facilitando oficinas de construção de mapas biorregionais na comunidade do Engenho da Cruz. COMUNIDADE: Ananias Viana, Andreza Viana, Ângela Viana, Anderson Viana, Alex, Crispiniano de Assis, Deise Santana, Daniela Nogueira, Edna Silva, Fernanda santos, Gabriel Costa, Iraíldes de Assis, Jorlane Cabral, Juvani Viana, Jucilene Viana, Lúcio da Hora, Maria das Dores, Pedro da Conceição, Rosangela Viana, Vanderson Sales, Valdelice Mota. COORDENAÇÃO Miguel Accioly, Daniele França, Natalia Ferraz. APOIO: i Universidade Federal da Bahia: Oceanografia1, Biologia2, Geografia3, Gênero e Diversidade4, Ciências Sociais 5, Teatro6, Nutrição7. yuricost@gmail.com 5