A Exoneração do Passivo Restante: Alguns Problemas (e outras tantas soluções) Alexandre de Soveral Martins FDUC

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1 A Exoneração do Passivo Restante: Alguns Problemas (e outras tantas soluções) Alexandre de Soveral Martins FDUC

2 1. Indeferimento liminar O art. 238.º, 1, d) O pedido de exoneração é liminarmente indeferido se «O devedor tiver incumprido o dever de apresentação à insolvência ou, não estando obrigado a se apresentar, se tiver abstido dessa apresentação nos seis meses seguintes à verificação da situação de insolvência, com prejuízo em qualquer dos casos para os credores, e sabendo, ou não podendo ignorar sem culpa grave, não existir qualquer perspetiva séria de melhoria da sua situação económica» Ac. STJ de (Conselheira Maria dos Prazeres Pizarro Beleza) - o prejuízo «não resulta automaticamente do atraso na apresentação à insolvência, mas abrange qualquer hipótese de redução da possibilidade de pagamento dos créditos, provocada por esse atraso, desde que concretamente apurada, em cada caso» (v. tb., p. ex., Ac. STJ de , Conselheiro Orlando Afonso). Não basta a contagem de juros (v. tb. Ac. RG (Desembargador António Sobrinho) - «A ausência de culpa do devedor na criação ou no agravamento da situação de insolvência pode coexistir com o indeferimento do pedido de exoneração»

3 2. Ónus da prova STJ (Conselheiro Oliveira Vasconcelos), (Conselheiro Fernandes do Vale), (Conselheira Maria dos Prazeres Pizarro Beleza), (Conselheiro Fernandes do Vale) Os fundamentos de indeferimento liminar previstos no art. 238.º, 1, têm natureza impeditiva do direito à exoneração do requerente insolvente (este não tem que alegar e provar a inexistência de tais fundamentos) Ac. RG de (Desembargador António Sobrinho) Administrador da insolvência e credores deveriam provar acréscimo concreto do passivo (para além dos juros)» ou que os devedores inviabilizaram ou dificultaram a cobrança efetiva dos créditos.

4 3. A questão do valor do rendimento «indisponível» (art. 239.º) O valor do SMN (RMMG)? O valor do Indexante de Apoios Sociais? O necessário para o «sustento minimamente digno do devedor e do seu agregado familiar, não devendo exceder, salvo decisão fundamentada do juiz em contrário, três vezes o salário mínimo nacional» (3, b, i)). Não indica valor mínimo. Não tem de coincidir com as regras da impenhorabilidade do CPC - Ac. RC de (Desembargadora Maria João Areias) Não tem de ser salvaguarda sistemática de um SMN e, designadamente, por cabeça do agregado familiar (Ac. RL de , Desembargador Ezaguy Martins) Valor mínimo de um SMN: p. ex., Ac. RC de (Desembargador Falcão de Magalhães)

5 Um SMN por cabeça? Ac. RL de (Desembargadora Carla Câmara): 1 SMN para o primeiro adulto, 0,7 para o segundo, 0,5 para cada criança (Escala de Oxford para a determinação da capitação de rendimentos de agregado familiar) Ac. STJ (Conselheiro Salreta Pereira) I - A inexistência de património e de qualquer rendimento da recorrente, quando se apresentou à insolvência e posteriormente, não constitui impedimento para o deferimento liminar do pedido de exoneração do passivo restante, apesar da designação escolhida para o incidente.

6 4. As ajudas de custo 5. Os subsídios de Natal e de férias Ac. RG de (Desembargadora Alexandra Rolim Mendes) As ajudas de custo «devem ser excluídas do rendimento a ceder ao fiduciário desde que se destinem efetivamente a compensá-lo por despesas efetuadas em benefício da sua entidade patronal, devendo essa verificação ser efetuada pelo fiduciário, mediante a apresentação dos respetivos comprovativos pelo insolvente». Se decisão é no sentido de considerar indisponível rendimento equivalente a 1,5 SMN mensais, o subsídio de Natal e de férias devem ser integralmente cedidos: Ac. RG de (Desembargadora Francisca Micaela Vieira)

7 6. Necessidade de controlar as despesas 7. Despesas supervenientes 6. Ac. RL (Ondina Alves), Ac. RL (Maria Teresa Pardal), Ac. RC de (Desembargador Falcão de Magalhães) 7. A questão dos factos que já eram conhecidos antes do despacho inicial. O Ac. RE de (Desembargador Jaime Pestana): o arrendamento posterior de casa para satisfazer necessidade anterior ao despacho inicial (a necessidade da casa para receber filhos no âmbito do cumprimento de regulação do poder paternal) Tribunal entendeu que seria necessária «alegação tendente a demonstrar impossibilidade, ou pelo menos, a extrema dificuldade em obter habitação a preços mais baixos» (350 euros).

8 8. O encerramento do processo e o início do período da cessão Se na data de proferir despacho inicial já se verificou que massa insolvente é insuficiente (art. 232.º), o encerramento é declarado naquele despacho e inicia-se a contagem; Se na data de proferir despacho inicial há bens para liquidar, o encerramento terá lugar após rateio final (230.º, 1, a)). Só então o período da cessão começa a contar. V. RP de (Desembargador Oliveira Abreu) e RP de (Desembargadora Márcia Portela), citando boa doutrina. V. tb. RG (Desembargador António Sobrinho), RE de (Desembargadora Canelas Brás), RC de (Desembargador Arlindo Oliveira), RC (Desembargadora Catarina Gonçalves) Contra: Ac. RC de (Desembargador Fonte Ramos) Se despacho inicial proferido antes do encerramento, período da cessão pode ocorrer antes do encerramento e depois daquele despacho inicial.

9 Contra: Ac. RC de (Desembargador Fonte Ramos) Se despacho inicial proferido antes do encerramento, período da cessão pode ocorrer antes do encerramento e depois daquele despacho inicial. O art. 182.º, 1 «o encerramento da liquidação não é prejudicado pela circunstância de a atividade do devedor gerar rendimentos que acresceriam à massa». Logo, não há o risco de o processo de insolvência se prolongar para todo o sempre. Ao contrário do que diz alguma jurisprudência.

10 9. Os salários/vencimentos auferidos na pendência do processo de insolvência integram a massa insolvente? Sim, na parte suscetível de penhora: p. ex., Ac. STJ (Conselheiro Bettencourt de Faria), STJ (Conselheiro Tavares de Paiva), Ac. RL (Desembargador António Martins) Não: Ac. RL de (Desembargadora Maria João Areias), RP (Desembargadora Maria do Carmo Domingues), Ac. RC (Desembargador Fontes Ramos) Há que distinguir: os montantes de salários/vencimentos apreendidos para a massa/a cessão ao fiduciário. V. Ac. RG de (Desembargador António Sobrinho)

11 10. Efeitos da exoneração Crédito de Fundo de Garantia Automóvel Acidente de viação negligente, condutor proprietário sem seguro. RP : a falta de seguro é comportamento considerado doloso, reclamação nessa qualidade Ac. RP «I A exclusão da exoneração do passivo restante, prevista no art. 245.º, n.º 2, al. b) do CIRe, abrange apenas as indemnizações devidas por factos ilícitos dolosos praticados pelo devedor, que hajam sido reclamadas nessa qualidade. II Essa exclusão não abarca o caso de um crédito reclamado pelo Fundo de Garantia Automóvel referente a uma indemnização paga por este em virtude de um acidente de viação em que foi responsável o devedor, que conduzia o veículo, mas não era seu proprietário, e em que o Fundo foi accionado por inexistir à data do acidente seguro válido e eficaz. III Com efeito, a obrigação de efectuar o seguro recaía sobre o proprietário e, por isso, o crédito reclamado pelo Fundo de Garantia Automóvel não se funda em facto ilícito doloso praticado pelo devedor»

12 11. Despacho inicial revogado/novo despacho inicial/rendimentos cedidos Ac. RG de (Desembargadora Maria João Matos) Processo de insolvência encerrado por insuficiência da massa (232.º). Despacho inicial de exoneração do passivo/revogado/novo despacho inicial. Entre um despacho e outro, o insolvente marido morre. Insolvente mulher queria que valores cedidos ao abrigo do despacho revogado fossem usados para cumprir obrigação de cessão de rendimentos fixada no novo despacho.

13 12. Recusa de exoneração Ac. RG de (Desembargador José Cravo) Insolvente não cedeu qualquer quantia durante o período da cessão, sem justificação cabal e apesar de ter condições económicas para o fazer (negligência grave na violação da obrigação imposta pelo art. 239.º, 4, c)) Insolvente mudou três vezes de entidade patronal e esteve desempregado, mas não comunicou (negligência grave na violação da obrigação imposta pelo art. 239.º, 4, d)) Despacho a admitir liminarmente pedido de exoneração não fixou rendimento indisponível.

14 13. Remuneração do fiduciário se a cessão de rendimentos não existe ou não chega para tal Ac. RP de (Desembargadora Inês Moura): «II. O fiduciário pode ver a sua remuneração e despesas suportadas pelo Cofre Geral dos Tribunais, que corresponde atualmente ao Instituto de Gestão Financeira e Patrimonial da Justiça, no valor devido pelo trabalho realizado e despesas suportadas, quando não existam quantias cedidas pelo devedor que permitam tal pagamento. III. Do regime do art. 241.º do CIRE, que manda afetar os montantes recebidos no final de cada ano em que dure a cessão, à remuneração ao fiduciário, retira-se que a fixação e o pagamento da remuneração deverá ocorrer no fim de cada ano, pois só nesse momento será possível saber se foram entregues valores pelo devedor que o permitam, bem como avaliar o trabalho desenvolvido»